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NERGAL E ERESHKIGAL

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Nergal viu-se então num amplo pátio ajardinado de um templo de proporções grandiosas, todo do mais puro<br />

lápis lázuli e cristal, situado as margens de um rio ou lago, qual dos dois, ele não saberia dizer. Mas Namtar<br />

não lhe deu muito tempo, para analisar as redondezas, sempre seguindo com passos largos, rumo à sala de<br />

audiências de Ereshkigal. Lá chegando, Nergal colocou o trono que havia esculpido no chão e ergueu os<br />

olhos para contemplar Ereshkigal.<br />

Mais uma vez, no entanto, a voz de Namtar fez-se ouvir:<br />

- Meu deus, a ninguém é dado o direito de prosseguir ou levantar os olhos para encontrar os de minha<br />

rainha, sem que deixe antes de tudo seus preconceitos e idéias falsas de lado. Portanto, olhe primeiro para<br />

dentro de si mesmo com a os olhos de sua mente, corpo, coração e espirito, pois esta é a Visão que darlhe-á<br />

a Verdade Além das Aparências. Lembre-se de que o Mundo Subterrâneo é a Esfera da Essência de<br />

Tudo que foi, é e será. Para aqueles que vem às Grandes Profundezas com medo, medo será o que terão<br />

antes de aqui encontrar cura e compleitude. Cura e Compleitude é a meta de todas as jornadas da alma às<br />

Grandes Profundezas, a Grande Aventura daqueles que buscam a auto-transcendência, antes, agora e<br />

sempre!<br />

A voz de Namtar ressoou profunda e cheia de autoridade na câmara de audiências, na mente, corpo e alma<br />

de Nergal. Sem pestanejar, Nergal curvou-se aos desígnios do conselheiro de Ereshkigal, para então erguer<br />

os olhos para encontrar Ereshkigal face a face.<br />

Nergal prendeu a respiração ante àquela que estava à sua frente. De fato, a grande deusa e rainha estava<br />

sentada, como seria de se esperar, em seu trono, vestida com extrema sobriedade, mas exalando força e<br />

magia como nem uma outra deusa ou deus que Nergal tinha conhecido. Onde estava a velhota que ele<br />

esperava encontrar? Onde estava a rabugenta soberana das Grandes Profundezas, que permitia aos<br />

mortos viverem sem luz, que oferecia poeira como alimento, argila como pão e penas como vestimentas?<br />

" Estes eram os preconceitos", Nergal finalmente entendeu," não a Verdade."<br />

Pois quem o fitava do trono era uma linda e séria mulher, toda vestida de preto com longas madeixas<br />

negras onduladas e uma aura de poder que deixou Nergal sem fala.<br />

Ereshkigal não parecia velha. De fato, ela parecia não ter idade definida, ao mesmo tempo jovem e<br />

experiente, com a Sabedoria daqueles que muito viram e tudo aprenderam. A filha de Namu, as Águas do<br />

Oceano, e do deus do firmamento Anu, a querida irmã gêmea de Enki era linda, mas sua beleza vinha mais<br />

de uma força interior e Poder-Que-Vem-de-Dentro que Nergal não sabia definir. Ele sabia, porém, sem<br />

sombra de dúvida, que desde aquele primeiro instante Ereshkigal havia capturado a sua mente, seu corpo,<br />

coração e alma.<br />

"A severidade de Ereshkigal não me causa desconforto", ele pensou. " De fato, eu entendo por que ela é e<br />

tem de ser tão severa. E’ pura e simplesmente o distanciamento e equilíbrio de uma Grande Juíza de Seres<br />

e Atos, imparcial e sábia.".<br />

Ato continuo, com perfeita cortesia, Nergal fez exatamente o que havia negado à Ereshkigal anteriormente:<br />

ele se ajoelhou e beijou o chão ante a soberana do Mundo Subterrâneo. Ele o fez com toda naturalidade,<br />

pois a visão de Ereshkigal tinha comandado tal ato do fundo de seu bravo coração de guerreiro.<br />

A rainha do Mundo Subterrâneo contemplou com atenção o jovem deus Anunaki das Alturas ajoelhado com<br />

perfeita cortesia frente a ela. Nergal era alto, com longos cabelos negros. Os trajes de deus-guerreiro<br />

deixavam à mostra pernas musculosas e um físico escultural. Nergal também tinha a arrogância e<br />

impulsividade dos jovens, a um tempo uma qualidade e grande defeito. Ereshkigal manteve o silêncio, mas<br />

um sorriso misterioso quase brincou nos seus lábios.<br />

" Finalmente encontro o filho de Enlil e Ninlil," ela pensou, "concebido às portas do Mundo Subterrâneo,<br />

como parte das jornadas de iniciação de Enlil e Ninlil para crescer como um Casal Divino e formar uma<br />

Parceria Indissolúvel e Sagrada. Agora Nergal desceu ele mesmo, tendo deixado qualquer símbolo de<br />

autoridade exterior de lado, pois não vejo o cetro de cabeça de leão ou a cimitarra em suas mãos. Fico<br />

imaginando que tipo de lição o deus dos Conflitos e Doenças irá aprender desta experiências nas Grandes<br />

Profundezas? É’ cedo demais para que se diga alguma coisa. Como todos que aqui vêm, Nergal terá<br />

primeiro de mostrar o seu valor e provar em atos e pensamentos o que realmente aqui aprendeu."

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