A inserção da travesti no quotidiano social - Seminário Internacional ...
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Anais do VII <strong>Seminário</strong> Fazendo Gênero<br />
28, 29 e 30 de 2006<br />
Considerações finais: em qual dos banheiros ela entrou?<br />
Na contemporanei<strong>da</strong>de, há ca<strong>da</strong> vez mais práticas que concorrem para constituir sujeitos<br />
híbridos, diaspóricos, que estão afetados e a afetar – <strong>no</strong> sentido de resistir – forças que insistem em<br />
tentar excluí-los do convívio pacífico com outros ci<strong>da</strong>dãos e que teimam a assujeitá-los a suas<br />
próprias identi<strong>da</strong>des, como se essas ain<strong>da</strong> fossem fixas, homogêneas. Às vezes, conseguem, mas<br />
não o fazem sem que sintam o exercício de poder por parte desses que podem parecer excluídos. A<br />
resistência deles cooperam para percebermo-<strong>no</strong>s como inventados, como produtos de regimes de<br />
ver<strong>da</strong>de e de poder, como objetos de práticas discursivas. Travestis, drags queens, metrossexuais…<br />
homens e mulheres que seguiram piamente os modelos identitários disponibilizados pela matriz do<br />
heterossexismo e do falocentrismo vêm-se mostrando dispostos a desconstruir certos modos de<br />
exercer a masculini<strong>da</strong>de e a feminili<strong>da</strong>de, a fim de construir e experimentar outros possíveis.<br />
Infelizmente, acontecimentos que buscam aprisionar-<strong>no</strong>s a modos de ser homem e mulher a<br />
partir do <strong>no</strong>sso aparelho sexual exter<strong>no</strong> não são práticas discursivas esqueci<strong>da</strong>s nas memórias.<br />
Ressurgem <strong>no</strong> dia-a-dia de todos nós, mas, em especial, <strong>da</strong>queles sujeitos cujas marcas corporais<br />
põem à prova as identi<strong>da</strong>des mo<strong>no</strong>líticas que alguns tanto <strong>no</strong>s querem obrigar a absorver pela<br />
garganta, pela pele, pelo fio do cabelo, pelas genitálias. Pensar a identi<strong>da</strong>de de gênero hoje não <strong>no</strong>s<br />
permite pensar que femini<strong>no</strong> é só aquilo atribuído à mulher e masculi<strong>no</strong>, aquilo atribuído ao<br />
homem. Atualmente, em início do século XXI, inúmeros sujeitos ain<strong>da</strong> se encontram silenciados<br />
pela História. São muitos os registros que escamoteiam a existência de indivíduos que insistem em<br />
questionar a <strong>no</strong>rma, pondo-se em movimento constante entre lugares, espaços, identi<strong>da</strong>des. Em<br />
termos de sexo e de gênero, são bastantes aqueles cujas identi<strong>da</strong>des se encontram em trânsito:<br />
<strong>travesti</strong>s, drag queens, metrossexuais etc. Todos eles esperam pelo <strong>no</strong>sso olhar e pelo <strong>no</strong>sso fazer, a<br />
fim de que possam, pelo me<strong>no</strong>s, usar um banheiro em paz.<br />
Quem não ficou ansioso para saber em qual dos banheiros a <strong>travesti</strong> cita<strong>da</strong> <strong>no</strong> início do texto<br />
entrou e até se entrou em algum deles? Acredito que muitos de nós. Corajosamente, ela argumentou<br />
que era feminina e que se encontrava na mesma situação <strong>da</strong>quelas <strong>travesti</strong>s menciona<strong>da</strong>s pelo<br />
segurança. Até perguntou ao rapaz se ele está vendo alguém mais feminina que ela por ali. Entrou,<br />
sim. Quando saiu, deparou-se com outro constrangimento: a ameaça de ser abor<strong>da</strong><strong>da</strong> por polícias.<br />
Mais uma vez de maneira corajosa, ela disse que iria à delegacia de polícia, mas juntamente com o<br />
gerente e com o seu advogado. Ah, mas nessas horas, o gerente sempre está ocupado! Sendo assim,<br />
ela disse que não iria: com o gerente ou na<strong>da</strong> feito. Na<strong>da</strong> feito, para eles! Nenhum representante do<br />
supermercado encarou a possibili<strong>da</strong>de de esclarecer aquele fato numa delegacia. Ao contrário deles,<br />
ela não desistiu de lutar pelo direito de usar um banheiro sem ser constrangi<strong>da</strong> e, por isso, está<br />
movendo uma ação judicial contra aquele estabelecimento comercial.<br />
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