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e obtêm autorização de passar vários anos no campo.<br />
Os agricultores cultivam a terra, criam animais, juntam madeira e transportam os aprovisionamentos para a<br />
cidade vizinha, por água ou por terra. Eles usam de um processo extremamente engenhoso para conseguir<br />
grande quantidade de pintos: não deixam às galinhas a tarefa de chocar os ovos, mas fazem-nos romper a<br />
casca por meio de um calor artificial convenientemente temperado. E, quando o pinto quebra a casca, é o<br />
homem que lhe serve de mãe, que o guia e sabe reconhecê-lo. Criam poucos cavalos, e somente árdegos,<br />
destinados a corridas, e não têm outra aplicação que a de exercitar a juventude na equitação.<br />
Os bois são empregados exclusivamente na lavoura e no transporte. O boi, dizem os utopianos, não tem a<br />
vivacidade do cavalo, mas o sobrepuja em paciência e força; é menos sujeito a moléstias, custa menos para<br />
ser nutrido, e quando não serve mais para o trabalho serve ainda para a mesa.<br />
Os utopianos convertem em pão os cereais; bebem o suco da uva, da maçã, da pêra; bebem também água<br />
pura ou fervida com mel e alcaçuz, que possuem em abundância.<br />
A quantidade de víveres necessária ao consumo de cada cidade e de seus territórios é determinada da<br />
maneira mais precisa. Não obstante, os habitantes não deixam de semear o grão e criar gado, muito além<br />
das necessidades do consumo. O excedente é posto em reserva, para os países vizinhos.<br />
Quanto aos móveis, utensílios domésticos, e outros objetos que não podem ser encontrados no campo, os<br />
agricultores vão procurá-los na cidade. Eles se dirigem aos magistrados urbanos que lhes mandam entregar<br />
sem remuneração nem atraso. Todos os meses se reúnem para celebrar uma festa.<br />
Quando chega o tempo da colheita os filarcas das famílias agrícolas comunicam aos magistrados das<br />
cidades quantos braços auxiliares necessitam; e enxames de ceifadores chegam no momento<br />
convencionado e, se o céu está plácido, a colheita é feita quase num só dia.<br />
DAS CIDADES DA UTOPIA E PARTICULARMENTE DA CIDADE DE AMAUROTA<br />
- Quem conhece uma cidade, conhece todas, porque todas são exatamente semelhantes, tanto<br />
quanto a natureza do lugar o permita. Poderia portanto descrever-vos indiferentemente a primeira que me<br />
ocorresse; mas escolherei de preferência a cidade de Amaurota, porque é a sede do governo e do senado,<br />
fato que lhe dá preeminência sobre as demais. Além disso, é a cidade que melhor conheço, pois habitei-a<br />
cinco anos inteiros.<br />
Amaurota se estende em doce declive sobre a vertente de uma colina. Sua forma é de quase um<br />
quadrado. Começa a estender-se um pouco acima do cume da colina, prolonga-se cerca de dois mil passos<br />
sobre as margens do rio Anidra, alargando-se à medida que vai margeando o rio.<br />
A nascente do Anidra é pouco abundante; está situada a oitenta milhas acima de Amaurota. A fraca<br />
corrente se engrossa na sua marcha com o encontro de numerosos rios, entre os quais se distinguem dois<br />
de grandeza média. Ao chegar diante de Amaurota, o Anidra mede quinhentos passos de largo. A partir daí,<br />
segue se avolumando sempre até desembocar no mar, após ter percorrido uma extensão de sessenta<br />
milhas.<br />
Dentro de todo o espaço compreendido entre a cidade e o mar, e algumas milhas acima da cidade, o<br />
fluxo e o refluxo da maré, que duram seis horas por dia, modificam singularmente o curso do rio. À maré<br />
crescente, o oceano invade o leito do Anidra numa extensão de trinta milhas, rechaçando-o para a<br />
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