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TV e educação: capíTuloS de uma hiSTória - TV Brasil

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<strong>TV</strong> e <strong>educação</strong>:<br />

capíTulos <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

hisTória<br />

Ano XXI Boletim 19 - Novembro / Dezembro 2011<br />

ISSN 1982 - 0283


Sumário<br />

<strong>TV</strong> e <strong>educação</strong>: <strong>capíTuloS</strong> <strong>de</strong> <strong>uma</strong> <strong>hiSTória</strong><br />

Apresentação ......................................................................................................................... 3<br />

Rosa Helena Mendonça<br />

Introdução ............................................................................................................................. 5<br />

Laura Maria Coutinho e Rosa Helena Mendonça<br />

PGM 1/Texto 1: A <strong>TV</strong> educativa entra no ar<br />

História: entrando no ar ....................................................................................................... 19<br />

Márcia Leite<br />

PGM 2/Texto 2: <strong>TV</strong> e público <strong>de</strong> educadores<br />

A <strong>TV</strong> na sala <strong>de</strong> aula: novo cenário, novos <strong>de</strong>safios ..............................................................25<br />

Elicio Pontes<br />

PGM 3/Texto 3: <strong>TV</strong> e temas educativos<br />

Televisão, <strong>educação</strong> e multiculturalismo: ampliando questionamentos .............................34<br />

Azoilda Loretto da Trinda<strong>de</strong><br />

2


<strong>TV</strong> e <strong>educação</strong>: <strong>capíTuloS</strong> <strong>de</strong> <strong>uma</strong> <strong>hiSTória</strong><br />

apreSenTação<br />

A narrativa é o gênero primordial dos seres<br />

h<strong>uma</strong>nos. Des<strong>de</strong> os tempos mais remotos,<br />

contar histórias tem sido a “sina” da espé-<br />

cie. E fazemos isso, cotidianamente, nas<br />

conversas entre amigos, familiares, no tra-<br />

balho, na escola... Até quando estamos so-<br />

zinhos, criamos enredos e dialogamos com<br />

o nosso pensamento. Nos livros, no cinema,<br />

na <strong>TV</strong> – esta ‘máquina <strong>de</strong> contar histórias’<br />

tão presente em nossas vidas – potenciali-<br />

zamos essa capacida<strong>de</strong>, utilizando múltiplas<br />

linguagens.<br />

Cada ser h<strong>uma</strong>no tem as suas histórias e as-<br />

sim é, também, com as coisas, com os luga-<br />

res e com as instituições. E essas histórias<br />

são contadas por pessoas... Contar capítulos<br />

<strong>de</strong> <strong>uma</strong> história requer, então, escolhas: in-<br />

clusões e exclusões.<br />

Sendo assim, são sempre as versões que são<br />

narradas. E para termos <strong>uma</strong> visão crítica,<br />

é importante comparar diferentes fontes,<br />

ouvir ‘testemunhas oculares’, analisar do-<br />

cumentos, buscar nas pesquisas as mais di-<br />

versas abordagens, sem ter a pretensão <strong>de</strong><br />

conhecer <strong>uma</strong> ‘verda<strong>de</strong>’.<br />

A série <strong>TV</strong> e <strong>educação</strong>: capítulos <strong>de</strong> <strong>uma</strong> his-<br />

tória, que a <strong>TV</strong> Escola apresenta, por meio<br />

do programa Salto para o Futuro, com a con-<br />

sultoria <strong>de</strong> Laura Coutinho (UnB) e a cola-<br />

boração da apresentadora <strong>de</strong>sta publicação,<br />

busca recolher, entre tantas iniciativas nos<br />

campos da <strong>educação</strong> e da televisão, <strong>de</strong>poi-<br />

mentos que ajudam a tecer <strong>uma</strong> retrospec-<br />

tiva <strong>de</strong>ssa relação. Busca também mostrar<br />

alg<strong>uma</strong>s experiências em curso na interface<br />

<strong>educação</strong>/comunicação.<br />

Vale registrar que pesquisas sobre <strong>TV</strong> e edu-<br />

cação, em especial sobre a <strong>TV</strong> Escola e o Sal-<br />

to para o Futuro, alg<strong>uma</strong>s das quais mencio-<br />

nadas na página do programa, po<strong>de</strong>m nos<br />

ajudar a ampliar os temas aqui tratados. Es-<br />

ses estudos, com suas críticas e sinalizações,<br />

têm sido, sem dúvida, sugestivos no sentido<br />

<strong>de</strong> possibilitar reflexões a todos aqueles que<br />

se interessam pelo assunto. A bibliografia<br />

sobre esse campo <strong>de</strong> estudos também pos-<br />

sibilita incursões a partir <strong>de</strong> diferentes abor-<br />

dagens teóricas.<br />

O ano <strong>de</strong> 2011 é muito significativo para<br />

a exibição <strong>de</strong>sta série, pois marca os 20<br />

3


anos do Salto para o Futuro, consi<strong>de</strong>ran-<br />

do a fase experimental do programa, e os<br />

15 anos da <strong>TV</strong> Escola que, ao incorporar o<br />

Salto à sua gra<strong>de</strong>, possibilitou a sua con-<br />

tinuida<strong>de</strong> e capilarização nas escolas <strong>de</strong><br />

todo o país.<br />

Os textos <strong>de</strong>sta publicação complementam<br />

os programas televisivos e assim, com pano-<br />

râmicas e zooms sobre o tema, esperamos<br />

sensibilizar professores e professoras para<br />

intensificarem a utilização da <strong>TV</strong> nas escolas<br />

<strong>de</strong> forma crítica e reflexiva.<br />

1 Supervisora pedagógica do programa Salto para o Futuro/<strong>TV</strong> Escola (MEC).<br />

Rosa Helena Mendonça 1<br />

4


<strong>TV</strong> e <strong>educação</strong>: <strong>capíTuloS</strong> <strong>de</strong> <strong>uma</strong> <strong>hiSTória</strong><br />

InTrodução<br />

Capítulos, no caso <strong>de</strong> livros e novelas, são<br />

partes <strong>de</strong> <strong>uma</strong> obra que se inter-relacionam,<br />

compondo o todo. Na maioria das vezes, os<br />

capítulos são sequenciais, mas há também<br />

casos em que po<strong>de</strong>m ser cambiáveis, crian-<br />

do um jogo <strong>de</strong> significados complexos.<br />

Quando o termo é utilizado para <strong>de</strong>signar<br />

episódios históricos, é importante <strong>de</strong>marcar<br />

que a história – ou as histórias – não po<strong>de</strong><br />

ser contada ou entendida por meio <strong>de</strong> fa-<br />

tos isolados, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes uns dos outros.<br />

Também é importante consi<strong>de</strong>rar que entre<br />

um fato e outro, <strong>uma</strong> situação e outra, exis-<br />

te um extenso e não menos importante in-<br />

tervalo <strong>de</strong> significação. Segundo Benjamin,<br />

nada do que aconteceu está perdido para a<br />

história. E também não está perdido para<br />

efeito do nosso propósito com esta série.<br />

Apenas <strong>de</strong>stacaremos alguns episódios para<br />

conduzir a nossa reflexão.<br />

No caso da relação <strong>TV</strong> e <strong>educação</strong>, optamos<br />

Laura Maria Coutinho 1<br />

Rosa Helena Mendonça 2<br />

por contar essa história recuperando alg<strong>uma</strong>s<br />

experiências pioneiras e apresentando algu-<br />

mas iniciativas em curso. O todo, nesses casos,<br />

é sempre inatingível, <strong>uma</strong> vez que as narrativas<br />

se dão por escolhas possíveis, pela tessitura <strong>de</strong><br />

múltiplas vozes que participaram e muitas que<br />

ainda participam das experiências.<br />

Muitas vezes, <strong>de</strong> <strong>uma</strong> experiência, mesmo<br />

interrompida, ficam sementes que po<strong>de</strong>m<br />

frutificar em outros espaços. E são as pesso-<br />

as, mais do que os documentos ou produtos<br />

<strong>de</strong>ssas iniciativas, que carregam consigo os<br />

saberes acumulados ao longo das práticas,<br />

fazendo-os transitar <strong>de</strong> um espaço a outro.<br />

Em meio à profusão narrativa <strong>de</strong> que se<br />

compõe o universo da televisão educativa<br />

como instituição e dos muitos usos que a<br />

<strong>educação</strong> tem feito <strong>de</strong>ssa mídia e dos audio-<br />

visuais, selecionamos alguns momentos e<br />

alguns aspectos para a nossa reflexão.<br />

O cinema, a televisão e outros produtos<br />

1 Professora Associada da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília. Consultora da série.<br />

2 Supervisora pedagógica do programa Salto para o Futuro/<strong>TV</strong> Escola (MEC). Doutoranda no PROPED- UERJ.<br />

Consultora da série.<br />

5


audiovisuais sempre estiveram ligados à<br />

<strong>educação</strong>, <strong>de</strong> certa forma. O audiovisual na<br />

<strong>educação</strong> tem sido pensado, muitas vezes,<br />

apenas como ilustração <strong>de</strong> conteúdos curri-<br />

culares e essa talvez seja a primeira aproxi-<br />

mação do audiovisual com a <strong>educação</strong>. Mas<br />

existem outras. Milton José <strong>de</strong> Almeida, em<br />

seu livro Imagens e sons – a nova cultura oral,<br />

afirma que<br />

(...) a transmissão eletrônica <strong>de</strong> infor-<br />

mações em imagem-som propõe <strong>uma</strong><br />

maneira diferente <strong>de</strong> inteligibilida<strong>de</strong>,<br />

sabedoria e conhecimento, como se <strong>de</strong>-<br />

vêssemos acordar algo adormecido em<br />

nosso cérebro para enten<strong>de</strong>rmos o mun-<br />

do atual, não só pelo conhecimento fo-<br />

nético-silábico das nossas línguas, mas<br />

pelas imagens-sons também.<br />

Se assim avaliamos essa etapa do <strong>de</strong>senvolvi-<br />

mento h<strong>uma</strong>no, vemos que a linguagem au-<br />

diovisual precisa ser compreendida para além<br />

dos produtos audiovisuais construídos a partir<br />

<strong>de</strong>ssa sintaxe, ou seja, <strong>de</strong>ssa justaposição <strong>de</strong><br />

imagens e sons. E também melhor integrada<br />

aos processos e projetos pedagógicos.<br />

Muitas foram as experiências que buscaram<br />

associar a linguagem audiovisual com a edu-<br />

cação. Muitas <strong>de</strong>ssas experiências ocorre-<br />

ram no <strong>Brasil</strong> e outras, como já <strong>de</strong>stacamos,<br />

ainda estão em curso. Alg<strong>uma</strong>s <strong>de</strong>las foram<br />

apenas tentativas, tiveram começo e logo<br />

terminaram, não persistiram.<br />

A <strong>educação</strong> como prática social e a escola<br />

como o lugar on<strong>de</strong> a <strong>educação</strong> acontece <strong>de</strong><br />

maneira sistematizada sempre buscaram<br />

nas tecnologias disponíveis – da lousa ao<br />

computador – recursos que pu<strong>de</strong>ssem ga-<br />

rantir certa qualida<strong>de</strong> e consistência. O uso<br />

<strong>de</strong> audiovisuais – câmeras, projetores, telas,<br />

computadores – configura <strong>uma</strong> hoje extensa<br />

área na <strong>educação</strong>: a tecnologia educacional.<br />

Essa área toma corpo em nosso país, a par-<br />

tir dos anos 1970, quando surgem inúmeras<br />

iniciativas, em diferentes acepções.<br />

Mesmo reconhecendo que o tecnicismo edu-<br />

cacional tangencia o tema abordado neste<br />

texto, não vamos aprofundá-lo aqui, embora<br />

as iniciativas às quais nos referiremos a se-<br />

guir tenham incorporado muito <strong>de</strong>le. Ainda<br />

assim, as experiências que incorporaram os<br />

recursos e as linguagens audiovisuais po-<br />

<strong>de</strong>m revelar, pelas lições que produziram,<br />

situações significativas da pedagogia e da<br />

política educacional brasileira.<br />

os AudIoVIsuAIs e A educAção<br />

A relação entre os audiovisuais e a educa-<br />

ção tem <strong>uma</strong> longa história no <strong>Brasil</strong>. Vamos<br />

aqui lembrar essa história, ainda que <strong>de</strong><br />

forma breve. Na década <strong>de</strong> 1930, iniciativas<br />

como as <strong>de</strong> Canuto Men<strong>de</strong>s, em São Paulo,<br />

e Roquette-Pinto, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, já apon-<br />

tavam para a importância do cinema como<br />

recurso pedagógico. E a televisão, logo após<br />

sua difusão no país nos anos 1950, também<br />

6


se revelou instrumento imprescindível para<br />

a consolidação <strong>de</strong> projetos educativos, inspi-<br />

rada, <strong>de</strong> certo modo, nos resultados da utili-<br />

zação do rádio na <strong>educação</strong>.<br />

No entanto, essas iniciativas não lograram<br />

<strong>uma</strong> mudança significativa nas estruturas<br />

educacionais e, <strong>de</strong> certa forma, reprodu-<br />

ziram o mesmo esquema <strong>de</strong> comunicação<br />

unidirecional, então vigente também nas es-<br />

colas, reforçado pela própria forma <strong>de</strong> pro-<br />

dução da <strong>TV</strong> como veículo <strong>de</strong> comunicação<br />

<strong>de</strong> massa, centrada muito mais no emissor<br />

do que nos possíveis receptores. E com um<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> mídia importado <strong>de</strong> outras cul-<br />

turas, claramente no <strong>Brasil</strong> dominado por<br />

gran<strong>de</strong>s corporações em disputa pelo mer-<br />

cado (FERREIRA, 1991).<br />

O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> comunicação unidirecional vi-<br />

gorou, por mais <strong>de</strong> um século, na <strong>educação</strong><br />

brasileira. Os processos educativos eram<br />

centrados na transmissivida<strong>de</strong>: o professor<br />

“transmitia” os conteúdos que eram “assi-<br />

milados” pelos alunos. Esta concepção foi<br />

<strong>de</strong>nominada por Paulo Freire <strong>de</strong> <strong>educação</strong><br />

bancária. Tal mo<strong>de</strong>lo recebe hoje críticas<br />

em diversas partes do mundo, consi<strong>de</strong>ran-<br />

do que aquilo que po<strong>de</strong> ser transmitido é<br />

a informação apenas. Não se transmite o<br />

conhecimento, pois este pressupõe um<br />

processo dialógico, <strong>uma</strong> interação entre<br />

mestre e aprendiz e <strong>de</strong>sses com seus pa-<br />

res. E, pressupõe, ainda, que conhecimen-<br />

to é apreensão <strong>de</strong> sentido e não somen-<br />

te a aquisição <strong>de</strong> dados e informações. No<br />

processo dialógico, todos apren<strong>de</strong>m, mes-<br />

clando conteúdos, i<strong>de</strong>ias, i<strong>de</strong>ais, visões <strong>de</strong><br />

mundo... Sem essa interação, segundo esse<br />

processo, não há realmente <strong>uma</strong> aprendi-<br />

zagem significativa, por mais interessantes<br />

e diversificados que sejam os recursos uti-<br />

lizados pela escola ou pela <strong>TV</strong>. Nessa pers-<br />

pectiva, importa à escola e à <strong>educação</strong> que,<br />

além dos processos <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> in-<br />

formações em larga escala que a televisão<br />

propicia, existam espaços <strong>de</strong> diálogo que<br />

possam significar o que é visto nas telas,<br />

integrando os mais diversos temas e assun-<br />

tos aos processos educacionais. A sala <strong>de</strong><br />

aula é um espaço privilegiado para que isso<br />

possa ocorrer. É um espaço <strong>de</strong> visionamen-<br />

to e escuta.<br />

Para Jesús Martín-Barbero (2001, p. 28), teó-<br />

rico que se preocupa com a recepção e com<br />

a utilização que as pessoas fazem da <strong>TV</strong>, me-<br />

diação é <strong>uma</strong> palavra-chave:<br />

(...) a comunicação se tornou para nós<br />

questão <strong>de</strong> mediações mais do que <strong>de</strong><br />

meios, questão <strong>de</strong> cultura e, portanto,<br />

não só <strong>de</strong> conhecimentos mas <strong>de</strong> re-<br />

conhecimento. Um reconhecimento que<br />

foi, <strong>de</strong> início, operação <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamen-<br />

to metodológico para re-ver o processo<br />

inteiro da comunicação, a partir <strong>de</strong> seu<br />

outro lado, o da recepção, o das resistên-<br />

cias que aí têm seu lugar, o da apropria-<br />

ção a partir <strong>de</strong> seus usos.<br />

7


A educAção nA PAuTA dA <strong>TV</strong><br />

A escola, quase que diariamente, está presente<br />

na mídia. Atos violentos, analfabetismo funcio-<br />

nal, baixos resultados nos exames <strong>de</strong> avaliação<br />

<strong>de</strong> alunos, falta <strong>de</strong> professores, entre outros<br />

problemas, são os assuntos mostrados na <strong>TV</strong><br />

e nos jornais, com maior frequência. Em geral,<br />

as notícias se revestem <strong>de</strong> um caráter episódi-<br />

co e apontam resultados negativos, <strong>de</strong>stacan-<br />

do aspectos como violência, fracasso escolar,<br />

discriminação. Via <strong>de</strong> regra, as reportagens não<br />

ultrapassam o chamado senso comum, refor-<br />

çando mitos como “antigamente a escola era<br />

boa, os professores eram mais bem formados,<br />

os alunos saíam com mais base”, sem analisar<br />

que um gran<strong>de</strong> contingente <strong>de</strong> crianças sequer<br />

tinha acesso à escola e, ainda, muitas vezes,<br />

sem refletir sobre as causas da “evasão” e do<br />

“fracasso” escolar.<br />

Outras pautas referem-se a projetos do MEC<br />

e, sem problematizar questões significati-<br />

vas, restringem-se a aspectos quantitativos,<br />

tais como o preço <strong>de</strong> <strong>uma</strong> obra, quantos alu-<br />

nos serão beneficiados por um <strong>de</strong>terminado<br />

programa, qual o resultado dos alunos nos<br />

exames nacionais e internacionais, qual o<br />

ranking do país nesses exames etc.<br />

Se as pesquisas apontam que, em média,<br />

50% dos alunos têm resultados insatisfató-<br />

rios em exames como ENEM 3 e PISA 4 , por<br />

exemplo, não é difícil concluir que a outra<br />

meta<strong>de</strong>, a que obtém resultados satisfató-<br />

rios, precisa ter visibilida<strong>de</strong> para que haja<br />

também repercussão em torno <strong>de</strong> ações po-<br />

sitivas nos diferentes contextos escolares e<br />

sociais.<br />

As pautas, nos jornais televisivos, são cons-<br />

truídas segundo “um arsenal <strong>de</strong> operações<br />

semânticas (...). A essas operações somam-<br />

se, ou não, as distorções propositais, as in-<br />

terdições editoriais, as estratégias <strong>de</strong> mar-<br />

keting e <strong>de</strong> censura. A mídia, como todos<br />

percebem, produz um mundo <strong>de</strong> aconteci-<br />

mentos maquiados” (ARNT, 1991, p. 172). E<br />

não é diferente com a <strong>educação</strong>, as escolas,<br />

o sistema educacional.<br />

A <strong>TV</strong> 'fAz' educAção<br />

Na série <strong>TV</strong> e <strong>educação</strong>: capítulos <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

história, o que se busca problematizar é<br />

mais do que a cobertura que a mídia faz do<br />

tema <strong>educação</strong>. A proposta da série ultra-<br />

passa, ainda, os usos educativos que po<strong>de</strong>m<br />

ser feitos da programação da <strong>TV</strong> nas escolas.<br />

A questão é discutir como a mídia em ge-<br />

ral, e mais especificamente a televisão, po<strong>de</strong><br />

produzir <strong>uma</strong> programação educativa.<br />

3 O ENEM - Exame Nacional <strong>de</strong> Ensino Médio é realizado anualmente pelo Governo Fe<strong>de</strong>ral. Este exame<br />

é utilizado como critério classificatório para o ProUni – Programa Universida<strong>de</strong> para Todos e para diversas<br />

universida<strong>de</strong>s, públicas e particulares.<br />

4 O Programa Internacional <strong>de</strong> Avaliação <strong>de</strong> Alunos (PISA, na sigla em inglês) é promovido pela Organização<br />

para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).<br />

8


É essencial – e as <strong>TV</strong>s voltadas para a educa-<br />

ção têm condições <strong>de</strong> fazer isto – trazer para<br />

o <strong>de</strong>bate, <strong>de</strong> forma reflexiva, com embasa-<br />

mento em pesquisas, sobretudo aquelas <strong>de</strong>-<br />

senvolvidas a partir <strong>de</strong> experiências em sala<br />

<strong>de</strong> aula, as características e especificida<strong>de</strong>s<br />

do sistema escolar brasileiro e das muitas<br />

escolas que o compõem 5 . Por exemplo, ao<br />

problematizar aspectos relativos ao baixo<br />

<strong>de</strong>sempenho escolar, à <strong>de</strong>fasagem ida<strong>de</strong> e<br />

série e tantos outros, é necessário correla-<br />

cionar esses fatos com a história social e po-<br />

lítica do país, possibilitando <strong>uma</strong> visão mais<br />

ampla e <strong>de</strong>batendo caminhos para possíveis<br />

ações e soluções. E, mais ainda, é necessário<br />

registrar iniciativas que apontem para a su-<br />

peração <strong>de</strong>sses problemas, tanto no âmbito<br />

dos meios <strong>de</strong> comunicação e dos sistemas<br />

escolares, quanto no das iniciativas <strong>de</strong> esco-<br />

las. E é preciso apren<strong>de</strong>r com elas.<br />

o InsTITuTo nAcIonAl do<br />

cIneMA educATIVo – Ince<br />

Para a pesquisadora Rosana Elisa Catelli,<br />

“<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1910, os anarquistas<br />

<strong>de</strong>senvolveram <strong>uma</strong> intensa reflexão sobre<br />

os usos do cinema, como um instrumento<br />

a serviço da <strong>educação</strong> do homem do povo<br />

e da transformação social, <strong>de</strong>vendo este se<br />

converter em arte revolucionária” 6 . O pensa-<br />

mento católico também se <strong>de</strong>dicou à ques-<br />

tão do cinema educativo, preocupado com a<br />

questão moral dos filmes exibidos. A Igreja<br />

criou os Cineacs, salas <strong>de</strong> cinema nas paró-<br />

quias e associações católicas, que tinham<br />

por objetivo apreciar os filmes segundo as<br />

normas traçadas pela Igreja. Os educadores,<br />

por sua vez, combatiam o que eles chama-<br />

vam <strong>de</strong> “cinema mercantil” e propunham<br />

a criação do cinema educativo que po<strong>de</strong>ria<br />

trazer benefícios pedagógicos aos alunos,<br />

ao mostrar, <strong>de</strong> forma mais real, diversos as-<br />

pectos da natureza e da geografia do <strong>Brasil</strong>.<br />

Para estes, o cinema educativo representa-<br />

va a luta contra o cinema “<strong>de</strong>seducador” e<br />

“portador <strong>de</strong> elementos nocivos e <strong>de</strong>sagre-<br />

gadores da nacionalida<strong>de</strong>”.<br />

Assim, o Instituto Nacional do Cinema Edu-<br />

cativo - INCE, criado em 1936 por Edgard<br />

Roquette-Pinto, surge no momento em que<br />

o <strong>de</strong>bate em torno das relações entre cine-<br />

ma e <strong>educação</strong> emergia e se consolidava em<br />

ações, em diferentes segmentos da socieda-<br />

<strong>de</strong>, no país e fora <strong>de</strong>le.<br />

Edgard Roquette-Pinto é consi<strong>de</strong>rado o pre-<br />

cursor da radiodifusão no <strong>Brasil</strong>. Antes <strong>de</strong><br />

fundar o Instituto Nacional do Cinema Edu-<br />

cativo, já havia criado, em 1923, a primeira<br />

estação <strong>de</strong> rádio brasileira: a Rádio Socieda-<br />

5 São diversas as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino – fe<strong>de</strong>ral, estadual, municipal – e cada <strong>uma</strong> <strong>de</strong>las aten<strong>de</strong> a etapas distintas<br />

<strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>. Para que esse sistema seja efetivo, a integração entre essas re<strong>de</strong>s é necessária e urgente.<br />

6 CATELLI, Rosana Elisa. Cinema e <strong>educação</strong> em John Grierson. http://www.mnemocine.com.br/aruanda/<br />

cineducemgrierson.htm out.2003<br />

9


<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro. As rádios socieda<strong>de</strong> ou<br />

rádios clube eram assim chamadas porque<br />

os ouvintes precisavam se associar e con-<br />

tribuíam com mensalida<strong>de</strong>s para a manu-<br />

tenção da emissora. Havia, portanto, <strong>uma</strong><br />

participação direta dos ouvintes. Isso era<br />

possível também porque o número <strong>de</strong> apa-<br />

relhos <strong>de</strong> recepção não era muito gran<strong>de</strong> e,<br />

por consequência, o <strong>de</strong> ouvintes também. As<br />

publicida<strong>de</strong>s, ou os comerciais, só viriam a<br />

sustentar as emissoras <strong>de</strong> rádio um pouco<br />

mais tar<strong>de</strong>. Em 1933, o governo <strong>de</strong> Getúlio<br />

Vargas autoriza a publicida<strong>de</strong> em rádio. A<br />

partir <strong>de</strong> então, os nomes dos patrocina-<br />

dores ficam <strong>de</strong> tal forma marcados que se<br />

confun<strong>de</strong>m com o próprio programa como,<br />

por exemplo, o Repórter Esso, um dos pro-<br />

gramas <strong>de</strong> radiojornalismo mais famosos do<br />

país.<br />

O INCE funcionava em um edifício na Praça<br />

da República, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong> tam-<br />

bém passou a funcionar a Rádio Ministério<br />

da Educação. Não vimos, até hoje, nenhum<br />

texto sobre o Instituto Nacional do Cinema<br />

Educativo que não falasse também <strong>de</strong> Ro-<br />

quette-Pinto. Mas outros personagens, com<br />

maior ou menor expressão, também partici-<br />

param <strong>de</strong>ssa história. É importante lembrar<br />

que o INCE surgiu em pleno Estado Novo,<br />

criado pelo Ministro da Educação do gover-<br />

no <strong>de</strong> Getúlio Vargas, Gustavo Capanema.<br />

No Catálogo da Mostra Humberto Mauro,<br />

patrocinada pela Embrafilme, Secretaria <strong>de</strong><br />

Cultura, Ministério da Educação e Banco<br />

Nacional, em junho <strong>de</strong> 1984, encontramos<br />

o seguinte texto: “Em 1936, o antropólogo,<br />

cientista e professor Edgard Roquette-Pinto<br />

estava organizando o INCE (...) quando se<br />

aproximou Humberto Mauro, que já o co-<br />

nhecia pessoalmente, do seu tempo <strong>de</strong> dire-<br />

tor do Museu Nacional. Des<strong>de</strong> o início, hou-<br />

ve entre os dois <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntificação quanto à<br />

valorização da cultura brasileira, consi<strong>de</strong>ra-<br />

da por ambos a manifestação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> civili-<br />

zação nova que se auto<strong>de</strong>sconhecia. Hum-<br />

berto tinha i<strong>de</strong>ias sobre filmes educativos e<br />

isso lhe valeu um convite <strong>de</strong> Roquette- Pinto<br />

para que o ajudasse a fazer o cinema no Bra-<br />

sil, ‘a escola dos que não tinham escola’”.<br />

O que vem a ser essa afirmação – ou esse<br />

<strong>de</strong>sejo – <strong>de</strong> que o cinema se transformasse<br />

nessa escola, talvez não possamos saber.<br />

Po<strong>de</strong>mos, no entanto, pensar que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há<br />

muito que o cinema – e <strong>de</strong>pois a televisão<br />

e os computadores em re<strong>de</strong> – estão relacio-<br />

nados com a <strong>educação</strong> e com a escola. No<br />

Estado Novo, o cinema educativo foi utiliza-<br />

do como um meio <strong>de</strong> propaganda política,<br />

com o intuito <strong>de</strong> colaborar na construção<br />

da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional, na legitimação do<br />

governo e na formação do patriotismo. O ci-<br />

nema para Getúlio Vargas era como um livro<br />

<strong>de</strong> imagens luminosas.<br />

Po<strong>de</strong> parecer estranho que um governo<br />

se preocupasse tanto com o cinema para<br />

educar o povo, a ponto <strong>de</strong> criar um órgão<br />

10


governamental para cuidar disso. Mas o<br />

cinema, talvez <strong>de</strong>vido a essa forte relação<br />

com a realida<strong>de</strong>, seja ele ficcional ou do-<br />

cumentário, <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong> forma expressa a<br />

política, a socieda<strong>de</strong>. A produção cinema-<br />

tográfica americana é um exemplo disso.<br />

Além <strong>de</strong> divulgar o american way of life (o<br />

modo americano <strong>de</strong> viver) traz, em quase<br />

todos os seus filmes, <strong>uma</strong> cena em que<br />

tremulam, ainda que por poucos instan-<br />

tes, as listras brancas e vermelhas da ban-<br />

<strong>de</strong>ira americana<br />

Voltando ao nosso cinema educativo dos<br />

anos 1930, nessa época um <strong>de</strong>creto pre-<br />

si<strong>de</strong>ncial criou todas as facilida<strong>de</strong>s para<br />

a produção cinematográfica como, por<br />

exemplo, a importação <strong>de</strong> negativos vir-<br />

gens. Um dos filmes importantes <strong>de</strong>sse<br />

período do Instituto Nacional do Cinema<br />

Educativo é O Descobrimento do <strong>Brasil</strong>, di-<br />

rigido por Humberto Mauro, com música<br />

<strong>de</strong> Heitor Villa-Lobos 7 . A partir <strong>de</strong>sse filme<br />

são criadas as condições que permitiram<br />

a Mauro rodar, nos anos seguintes, cerca<br />

<strong>de</strong> 300 documentários em curta-metragem,<br />

<strong>de</strong> caráter científico, histórico e da poética<br />

popular. Quase todos sob a orientação <strong>de</strong><br />

Roquette-Pinto, que também escreveu o ro-<br />

teiro e narrou muitos <strong>de</strong>les. São inúmeros<br />

os títulos que traduzem <strong>uma</strong> associação<br />

primorosa da linguagem cinematográfica,<br />

dominada com perfeição por Humberto<br />

Mauro, e a intenção <strong>de</strong> educar o povo bra-<br />

sileiro com o que <strong>de</strong> mais mo<strong>de</strong>rno havia<br />

– o cinema.<br />

O cinema educativo do INCE passou a esti-<br />

mular o sentimento <strong>de</strong> amor à pátria atra-<br />

vés <strong>de</strong> filmes biográficos, on<strong>de</strong> os heróis na-<br />

cionais apareciam imbuídos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>s<br />

que o Estado Novo procurava inspirar nos<br />

jovens brasileiros. Estes heróis eram traba-<br />

lhadores, honestos, generosos e, acima <strong>de</strong><br />

tudo, amavam o <strong>Brasil</strong>. Com isto, o gover-<br />

no procurava estabelecer <strong>uma</strong> relação entre<br />

ele e os heróis, apresentando-se como <strong>uma</strong><br />

continuida<strong>de</strong> da obra dos gran<strong>de</strong>s vultos na-<br />

cionais, fazendo assim a propaganda do go-<br />

verno junto ao povo.<br />

As informações disponíveis sobre o trabalho<br />

do Instituto Nacional do Cinema Educativo<br />

sugerem que esse projeto resultou em um<br />

trabalho que ficou mais centrado na produ-<br />

ção, carecendo <strong>de</strong> <strong>uma</strong> estratégia <strong>de</strong> veicu-<br />

lação dos filmes nos espaços culturais e edu-<br />

cacionais do país. Se isso <strong>de</strong> fato ocorreu,<br />

nos leva a pensar na falta <strong>de</strong> sintonia entre<br />

os projetos e a capacida<strong>de</strong> real da socieda<strong>de</strong><br />

brasileira <strong>de</strong> absorvê-los, o que <strong>de</strong> certa for-<br />

ma, ainda persiste. Muitos projetos sequer<br />

saem do papel, ficam apenas na intenção,<br />

não se viabilizam completamente.<br />

7 Descobrimento do <strong>Brasil</strong>, 1936. Longa metragem. Sonoro. Roteiro <strong>de</strong> Humberto Mauro. Argumento:<br />

Humberto Mauro e Affonso <strong>de</strong> Taunay, baseado na carta <strong>de</strong> Pero Vaz <strong>de</strong> Caminha. Fotografia <strong>de</strong> Manoel Ribeiro,<br />

Alberto Botelho.<br />

11


o ProjeTo sAcI<br />

A primeira tentativa <strong>de</strong> integrar o sistema <strong>de</strong><br />

<strong>educação</strong> nacional com o sistema <strong>de</strong> comu-<br />

nicação <strong>de</strong> massa via televisão com o uso <strong>de</strong><br />

satélite foi o Projeto SACI – Sistema Avança-<br />

do <strong>de</strong> Comunicações Interdisciplinares 8 . Um<br />

dos motes do projeto <strong>de</strong> segurança nacional<br />

era a integração, na década <strong>de</strong> 1970. Muitos<br />

projetos <strong>de</strong> integração estavam em curso.<br />

Só para po<strong>de</strong>rmos nos localizar um pouco<br />

melhor, foi nesse período que os militares<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>aram a corrida à Amazônia com o<br />

slogan “integrar para não entregar”.<br />

Antes do SACI, já haviam sido criados o Mi-<br />

nistério das Comunicações e a Empresa Bra-<br />

sileira <strong>de</strong> Telecomunicações, a Embratel. No<br />

âmbito <strong>de</strong> um projeto político grandioso e<br />

bastante conturbado e, ainda, sustentado<br />

pelo regime militar que governava o país, o<br />

Satélite Avançado <strong>de</strong> Comunicações Inter-<br />

disciplinares tinha propósitos igualmente<br />

grandiosos, ou seja, visava integrar em es-<br />

cala nacional o ensino básico. No âmago <strong>de</strong><br />

<strong>uma</strong> ditadura militar, esse projeto foi forja-<br />

do a partir da concepção <strong>de</strong> que começava a<br />

emergir, no sistema educacional brasileiro,<br />

a visão <strong>de</strong> <strong>educação</strong> como <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

em estreita sintonia com a doutrina <strong>de</strong> segu-<br />

rança nacional 9 .<br />

O estudo <strong>de</strong> Laymert Garcia dos Santos, sua<br />

tese <strong>de</strong> doutorado, publicado com o títu-<br />

lo Desregulagens – <strong>educação</strong>, planejamento<br />

e tecnologia como ferramenta social, revela<br />

que, gerado no Instituto Nacional <strong>de</strong> Pes-<br />

quisas Espaciais (INPE), com se<strong>de</strong> em São<br />

José dos Campos, o projeto SACI, que lem-<br />

bra o moleque travesso e esperto da tradi-<br />

ção brasileira, não alcançou os resultados<br />

esperados e o sonho tecnológico <strong>de</strong> alcance<br />

nacional ficou restrito, e ainda assim com<br />

graves problemas, ao Rio Gran<strong>de</strong> do Norte.<br />

Em relação aos objetivos educacionais, os<br />

resultados <strong>de</strong>sse projeto seriam um fracas-<br />

so, não fossem as lições que <strong>de</strong>le pu<strong>de</strong>ram<br />

ser <strong>de</strong>preendidas. O Projeto SACI representa<br />

um exemplo <strong>de</strong> que as políticas públicas, às<br />

vezes, são formuladas sem o conhecimento<br />

profundo da realida<strong>de</strong> e das pessoas que, na<br />

prática, serão as responsáveis diretas pelas<br />

ações: nesse caso os professores das escolas<br />

públicas brasileiras e, mais especificamente,<br />

os professores das escolas públicas do ensi-<br />

no básico do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte.<br />

Coerente com as i<strong>de</strong>ologias que o geraram,<br />

8 Iniciativa conjunta do Ministério da Educação, do Centro Nacional <strong>de</strong> Pesquisas e Desenvolvimento<br />

Tecnológico (CNPq) e do Instituto Nacional <strong>de</strong> Pesquisas Espaciais (Inpe), o projeto Saci utilizava o formato <strong>de</strong><br />

telenovela. Inicialmente, fornecia aulas pré-gravadas, transmitidas via satélite, com suporte em material impresso,<br />

para alunos das séries iniciais e professores leigos, do então ensino primário no estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte -<br />

on<strong>de</strong> foi implantado um projeto piloto. Em 1976, registrou um total <strong>de</strong> 1.241 programas <strong>de</strong> rádio e <strong>TV</strong>.<br />

9 A Doutrina <strong>de</strong> Segurança Nacional e Desenvolvimento tinha como meta criar condições para, através<br />

do fortalecimento do Estado, construir um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico favorável à consolidação do<br />

capitalismo, criando toda <strong>uma</strong> infraestrutura capaz <strong>de</strong> transformar o país em <strong>uma</strong> potência econômica.<br />

12


o projeto SACI trabalhava segundo a lógica<br />

da racionalida<strong>de</strong> e propalava <strong>uma</strong> “mo<strong>de</strong>li-<br />

zação on<strong>de</strong> os meios <strong>de</strong> comunicação ocu-<br />

pavam um lugar <strong>de</strong> honra, na medida em<br />

que o emprego da televisão, do rádio e dos<br />

fascículos elaborados segundo os princípios<br />

da instrução programada 10 será o traço <strong>de</strong>-<br />

terminante para distinguir a tecnologia edu-<br />

cativa do ensino tradicional” (SANTOS, 1981,<br />

p. 216).<br />

A <strong>TV</strong>e enTrA no Ar<br />

No Rio <strong>de</strong> Janeiro, segundo Liana Milanez,<br />

em 1973, após “seis anos <strong>de</strong> operação como<br />

centro <strong>de</strong> produtor <strong>de</strong> programas educati-<br />

vos, o FCB<strong>TV</strong>E, Gilson Amado consegue do<br />

governo Médici a concessão do canal 2. Fi-<br />

nalmente, o sonho <strong>de</strong> Roquette-Pinto se<br />

concretizava com a criação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> emisso-<br />

ra educativa no país.<br />

Depois <strong>de</strong> <strong>uma</strong> fase experimental, o canal<br />

vai ao ar <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>finitiva em 1977. O pro-<br />

grama <strong>de</strong> estreia é a novela João da Silva,<br />

um curso voltado para a <strong>educação</strong> <strong>de</strong> jovens<br />

e adultos que não tinham frequentado a es-<br />

cola regular ou tinham <strong>de</strong>la se ‘evadido’ por<br />

razões várias, ligadas sempre às difíceis con-<br />

dições <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> <strong>uma</strong> parcela significativa<br />

da população, em geral migrantes, em bus-<br />

ca <strong>de</strong> condições mais favoráveis <strong>de</strong> trabalho.<br />

O personagem principal se inspirava justa-<br />

mente em um <strong>de</strong>sses brasileiros; nor<strong>de</strong>sti-<br />

no, trabalhador da construção civil, em um<br />

país que consolidava um mo<strong>de</strong>lo econômico<br />

<strong>de</strong>senvolvimentista em que o chamado êxo-<br />

do rural, já em curso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o governo JK, se<br />

acelerava. A série, que era apresentada em<br />

alg<strong>uma</strong>s emissoras comerciais, contava ain-<br />

da com material impresso complementar e<br />

acompanhamento e avaliação organizados<br />

pela Secretaria <strong>de</strong> Educação do Estado.<br />

Em 1979, o projeto Conquista, ainda na pers-<br />

pectiva do ensino supletivo, visava ao públi-<br />

co das séries finais do então Ensino <strong>de</strong> Pri-<br />

meiro Grau, nomenclatura trazida pela Lei<br />

n° 5.692/71, que unia os antigos cursos pri-<br />

mário e ginasial em oito anos obrigatórios<br />

<strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>. Complementava, assim, o<br />

projeto João da Silva e contava também com<br />

a coor<strong>de</strong>nação pedagógica do professor Ma-<br />

nuel Jairo Bezerra, com programas voltados<br />

para as diferentes áreas do conhecimento e<br />

a mesma estrutura <strong>de</strong> utilização e acompa-<br />

nhamento. O projeto Conquista foi <strong>de</strong>sativa-<br />

do em 1981, ano em que a Fundação Roberto<br />

Marinho coloca no ar o Telecurso 1º grau,<br />

envolvendo diversas parcerias.<br />

10 A instrução programada, um tipo <strong>de</strong> ensino centrado no aluno, estava muito em moda nessa época.<br />

Trata-se da aplicação dos estudos do psicólogo americano Burrhus Fre<strong>de</strong>ric Skinner, que propalava a eficiência do<br />

reforço positivo e <strong>de</strong> máquinas <strong>de</strong> ensinar, suas mais conhecidas aplicações educacionais. São muitas as espécies <strong>de</strong><br />

máquinas <strong>de</strong> ensinar e embora seu custo e sua complexida<strong>de</strong> possam variar muito, a maioria das máquinas executa<br />

funções semelhantes. Skinner pregou a eficiência do reforço positivo, sendo, em princípio, contrário a punições e<br />

esquemas repressivos.<br />

13


A <strong>TV</strong>E continuou <strong>de</strong>senvolvendo outros pro-<br />

jetos educativos, como é o caso do Onda<br />

Viva, com o apoio da OEA, entre outros. E<br />

em 1991 lança o programa <strong>de</strong>stinado à for-<br />

mação <strong>de</strong> professores das séries iniciais do<br />

então Ensino Fundamental, <strong>de</strong>nominado<br />

Jornal da Educação: edição do professor, que<br />

viria a se chamar no ano seguinte Um Salto<br />

para o Futuro.<br />

o sAlTo PArA o fuTuro<br />

Em 1991, foi ao ar pela <strong>TV</strong>E <strong>Brasil</strong> a primeira<br />

edição do “Jornal da Educação - Edição do<br />

Professor” <strong>uma</strong> experiência piloto <strong>de</strong> edu-<br />

cação a distância, com recepção organiza-<br />

da em seis estados do país. Em 1992, já com<br />

abrangência nacional, o programa passou a<br />

se chamar Um Salto para o Futuro. Em 1995,<br />

<strong>de</strong>nominando-se Salto para o Futuro, foi in-<br />

corporado à gra<strong>de</strong> da <strong>TV</strong> Escola (canal do<br />

Ministério da Educação).<br />

O Salto, como se tornou conhecido entre<br />

os professores, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua concepção ini-<br />

cial teve como proposta ser mais do que um<br />

programa <strong>de</strong> televisão, conjugando recursos<br />

como textos <strong>de</strong> apoio (publicação eletrôni-<br />

ca) e canais <strong>de</strong> comunicação direta: caixa<br />

postal, telefone e página do Salto: www.tv-<br />

brasil.org.br/salto, tudo isto visando tornar<br />

possível a interativida<strong>de</strong> com os professores.<br />

Por meio do Salto, propostas pedagógicas<br />

da atualida<strong>de</strong> foram discutidas, em séries<br />

temáticas. O objetivo dos <strong>de</strong>bates sempre<br />

foi trazer diferentes tendências no campo<br />

da <strong>educação</strong> e, assim, contribuir para a re-<br />

flexão da prática em sala <strong>de</strong> aula tanto nas<br />

áreas do conhecimento que integram o cur-<br />

rículo quanto nas questões que expressam a<br />

diversida<strong>de</strong> da socieda<strong>de</strong>.<br />

O programa teve, até 2008, <strong>uma</strong> especifici-<br />

da<strong>de</strong>: sendo diário e ao vivo, sua estrutura<br />

foi pensada para a participação, em tempo<br />

real, dos professores, organizados em teles-<br />

salas, nos mais diversos pontos do país. Tal<br />

estrutura permitia um diálogo permanente<br />

com outros programas do MEC, com a pró-<br />

pria programação do canal e com os mais<br />

variados projetos no campo da Educação<br />

contemporânea.<br />

A característica que mais se <strong>de</strong>stacou no<br />

programa foi a <strong>de</strong> preservar a dimensão do<br />

diálogo como espaço <strong>de</strong> interações tão ricas<br />

quanto imprevisíveis. E foi justamente este<br />

aspecto – a interativida<strong>de</strong> – que tornou o<br />

Salto um programa que, a cada dia, era feito<br />

com a participação dos professores.<br />

Des<strong>de</strong> a sua criação, em 2000, a página do<br />

Salto tem mostrado seu potencial <strong>de</strong> se tor-<br />

nar um gran<strong>de</strong> fórum <strong>de</strong> discussão. Enquan-<br />

to o programa <strong>de</strong> televisão <strong>de</strong>stacou-se pelo<br />

registro <strong>de</strong> experiências em escolas e outras<br />

instituições, pelas entrevistas com renoma-<br />

dos educadores, pela atualida<strong>de</strong> na aborda-<br />

gem <strong>de</strong> temas consi<strong>de</strong>rados imprescindíveis<br />

14


no cenário da <strong>educação</strong> brasileira, em sua<br />

diversida<strong>de</strong> e riqueza, o site firmou-se como<br />

mais um canal <strong>de</strong> diálogo.<br />

Em 2009, o Salto para o Futuro, sem se dis-<br />

tanciar da sua filosofia original, investiu em<br />

um novo conceito, incorporando as possibi-<br />

lida<strong>de</strong>s que as tecnologias digitais interativas<br />

apresentam, assumindo um novo formato 11 .<br />

A <strong>TV</strong> escolA<br />

Nesta série, vamos também <strong>de</strong>stacar um<br />

outro capítulo significativo da relação entre<br />

<strong>educação</strong> e televisão: a criação da <strong>TV</strong> Escola,<br />

um canal <strong>de</strong> <strong>educação</strong> pensado para a for-<br />

mação <strong>de</strong> professores e a difusão <strong>de</strong> progra-<br />

mação a ser utilizada em sala <strong>de</strong> aula, nas<br />

escolas <strong>de</strong> todo o país.<br />

Segundo Sylvia Magaldi (2001, p. 111):<br />

(…) temos presenciado no <strong>Brasil</strong> o cres-<br />

cimento do espaço reservado à televisão<br />

na área da <strong>educação</strong> pública. Levantan-<br />

do a ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> que a <strong>TV</strong> <strong>de</strong>ve ser posta<br />

a serviço da melhoria do ensino básico, o<br />

Ministério da Educação criou um canal<br />

exclusivo para as escolas <strong>de</strong> todo o país.<br />

Em convênio com os órgãos estaduais e<br />

municipais, equipou a re<strong>de</strong> pública com<br />

antenas parabólicas, vi<strong>de</strong>ocassetes e te-<br />

levisores, para assegurar a recepção do<br />

canal, a gravação e o posterior uso dos<br />

programas.<br />

Após 15 anos <strong>de</strong> existência, o site da <strong>TV</strong> Esco-<br />

la apresenta assim o canal:<br />

A <strong>TV</strong> Escola é o canal da <strong>educação</strong>. É a<br />

televisão pública do Ministério da Edu-<br />

cação <strong>de</strong>stinada aos professores e edu-<br />

cadores brasileiros, aos alunos e a todos<br />

interessados em apren<strong>de</strong>r. A <strong>TV</strong> Escola<br />

não é um canal <strong>de</strong> divulgação <strong>de</strong> polí-<br />

ticas públicas da <strong>educação</strong>. Ela é <strong>uma</strong><br />

política pública em si, com o objetivo <strong>de</strong><br />

subsidiar a escola e não <strong>de</strong> substituí-la 12 .<br />

A gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> programação inclui <strong>uma</strong> ampla<br />

diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> temas que contempla todas<br />

as áreas curriculares, em faixas específicas<br />

para a Educação Infantil, Ensino Fundamen-<br />

tal e Ensino Médio, ou seja, toda a <strong>educação</strong><br />

básica. Inclui, ainda, Semanas Temáticas,<br />

além <strong>de</strong> produções nacionais e internacio-<br />

nais.<br />

Outras iniciativas em <strong>TV</strong> e <strong>educação</strong> estão<br />

em curso, como é o caso do Canal Futura,<br />

<strong>uma</strong> das áreas <strong>de</strong> atuação da Fundação Ro-<br />

berto Marinho, e da MultiRio, empresa Mu-<br />

nicipal <strong>de</strong> Multimeios da Prefeitura da Cida-<br />

<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

11 As informações sobre Salto para o Futuro foram extraídas, com alg<strong>uma</strong>s adaptações, da página do programa<br />

www.tvbrasil.org.br/salto<br />

12 Site da <strong>TV</strong> Escola: http://tvescola.mec.gov.br<br />

15


Com essa breve história, fruto <strong>de</strong> nossas<br />

escolhas ao contá-la, baseada já em outras<br />

pesquisas e narrativas, assumimos as lacu-<br />

nas e as possíveis versões aqui apresentadas<br />

nesses capítulos. A intenção foi contextua-<br />

lizar essa trajetória, ainda que <strong>de</strong> forma in-<br />

cipiente, para retomarmos as questões que<br />

priorizamos nessa série: as relações entre<br />

os audiovisuais, em especial a televisão, e a<br />

<strong>educação</strong>.<br />

<strong>TV</strong> e educAção: cAPíTulos <strong>de</strong> uMA HIsTórIA 13<br />

A série <strong>TV</strong> e Educação: capítulos <strong>de</strong> <strong>uma</strong> história tem como proposta abordar a relação entre<br />

os audiovisuais e a <strong>educação</strong>, que tem <strong>uma</strong> longa história no <strong>Brasil</strong>. Ainda na década <strong>de</strong> 1930,<br />

iniciativas já apontavam para a importância do cinema como recurso pedagógico. E a televi-<br />

são, logo após sua difusão no país nos anos 1950, também se revelou instrumento imprescin-<br />

dível para a consolidação <strong>de</strong> projetos educativos (inspirada, <strong>de</strong> certo modo, nos resultados da<br />

utilização do rádio na <strong>educação</strong>). E hoje, com alg<strong>uma</strong>s experiências já consolidadas, e outros<br />

<strong>de</strong>safios em curso com a chegada da <strong>TV</strong> digital, qual é o panorama da relação televisão e edu-<br />

cação no <strong>Brasil</strong>?<br />

PGM 1 /TexTo 1 – A <strong>TV</strong> educATIVA enTrA no Ar<br />

Neste primeiro programa, preten<strong>de</strong>mos refletir sobre <strong>TV</strong> e <strong>educação</strong> no sentido da utilização<br />

da <strong>TV</strong> para a veiculação <strong>de</strong> programas educativos, voltados em especial para o público escolar,<br />

entendido como professores, gestores, alunos e comunida<strong>de</strong> na sua relação com a escola.<br />

As possibilida<strong>de</strong>s da <strong>TV</strong> para a <strong>educação</strong>; os primeiros programas educativos; a <strong>TV</strong> Escola e o<br />

Salto para o Futuro nesse contexto. A relação entre conteúdo educativo e formato televisivo:<br />

profissionais <strong>de</strong> <strong>educação</strong> fazendo <strong>TV</strong> e profissionais <strong>de</strong> <strong>TV</strong> fazendo <strong>educação</strong>. Dos telecursos<br />

aos programas <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores; das teleaulas aos <strong>de</strong>bates e revistas educacionais.<br />

As possibilida<strong>de</strong>s e os limites da <strong>TV</strong> na EAD, objetivando a formação <strong>de</strong> professores.<br />

PGM 2/TexTo 2 – <strong>TV</strong> e PúblIco <strong>de</strong> educAdores<br />

Neste segundo programa, vamos tratar dos usos da <strong>TV</strong> na <strong>educação</strong> e falar <strong>de</strong> recepção e in-<br />

13 Estes textos são complementares à série <strong>TV</strong> e Educação: capítulos <strong>de</strong> <strong>uma</strong> história, com veiculação no<br />

programa Salto para o Futuro/<strong>TV</strong> Escola (MEC) <strong>de</strong> 28/11/2011 a 02/12/2011.<br />

16


terativida<strong>de</strong>. A repercussão da <strong>TV</strong> na formação <strong>de</strong> professores. A <strong>TV</strong> na sala <strong>de</strong> aula. As salas<br />

<strong>de</strong> aula na <strong>TV</strong>. Por meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>poimentos e práticas <strong>de</strong> professores e alunos nas escolas, busca-<br />

remos enten<strong>de</strong>r a noção <strong>de</strong> mediação que, segundo Martín-Barbero (2001, p.28), é <strong>uma</strong> forma<br />

<strong>de</strong> relativizar a tão propalada passivida<strong>de</strong> atribuída aos espectadores, diante <strong>de</strong> <strong>uma</strong> possível<br />

manipulação dos meios.<br />

No contexto das aceleradas mudanças tecnológicas, vamos abordar formas <strong>de</strong> utilização e <strong>de</strong><br />

produção <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> <strong>TV</strong> e <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os, tendo em vista a popularização <strong>de</strong> equipamentos<br />

como câmeras digitais e celulares. Vamos tratar, ainda, da convergência <strong>de</strong> mídias e dos espa-<br />

ços <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong> imagens em sites e nas re<strong>de</strong>s sociais e ouvir integrantes do GT <strong>de</strong> educa-<br />

ção e comunicação da ANPED, a Associação Nacional <strong>de</strong> Pesquisadores em Educação, sobre a<br />

<strong>TV</strong> e outras mídias como objeto <strong>de</strong> estudos educacionais.<br />

PGM 3/TexTo 3 – <strong>TV</strong> e TeMAs educATIVos<br />

A importância da <strong>TV</strong> se consolidando no <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> temas contemporâneos e <strong>de</strong> urgência so-<br />

cial. Questões <strong>de</strong> raça e etnia, <strong>de</strong> gênero, <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> cultural, entre outras, ganham espaço<br />

na programação. Como a <strong>TV</strong> po<strong>de</strong> potencializar as experiências em curso, veiculando imagens<br />

<strong>de</strong> vários pontos <strong>de</strong> país e iniciativas diversas que, em geral, não têm espaço na <strong>TV</strong>? No caso<br />

do Salto para o Futuro, a série Multiculturalismo e <strong>educação</strong> é um dos exemplos, por abordar<br />

a diversida<strong>de</strong> como temática. Muitos projetos que hoje têm repercussão nacional e internacio-<br />

nal foram captados pelas lentes da <strong>TV</strong> ainda em suas primeiras iniciativas. O que é pauta para<br />

<strong>uma</strong> <strong>TV</strong> que se preten<strong>de</strong> educativa? O que é educativo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a intencionalida<strong>de</strong> da produção,<br />

e o que po<strong>de</strong> ser, a partir dos usos?<br />

Os textos <strong>de</strong>sta publicação eletrônica também são referenciais para as entrevistas e <strong>de</strong>bates do<br />

PGM 4: Outros olhares sobre <strong>TV</strong> e <strong>educação</strong> e do PGM 5: <strong>TV</strong> e <strong>educação</strong> em <strong>de</strong>bate.<br />

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17


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1981. p. 216.<br />

18


pGm 1/TexTo 1: a <strong>TV</strong> educaTiVa enTra no ar<br />

<strong>hiSTória</strong>: enTrando no ar...<br />

O <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> trocar a experiência como alfa-<br />

betizadora <strong>de</strong> crianças, jovens e adultos com<br />

professores <strong>de</strong> todo país misturava-se com<br />

o medo <strong>de</strong> ocupar o outro lado da tela da<br />

<strong>TV</strong>, em um diálogo ao vivo, em tempo real.<br />

O apoio da equipe <strong>de</strong> educadores da <strong>TV</strong>E e<br />

dos professores participantes do projeto foi<br />

fundamental para quebrar a tensão <strong>de</strong> quem<br />

<strong>de</strong>positava na <strong>TV</strong> um lugar significativo <strong>de</strong><br />

informação, entretenimento, construção<br />

<strong>de</strong> valores, mitos e ídolos. Ainda se conta-<br />

va com a competência dos profissionais da<br />

<strong>TV</strong>E, diretores, roteiristas, produtores, edi-<br />

tores, enfim, todos apaixonados e compro-<br />

metidos com a utilização <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>roso<br />

meio <strong>de</strong> comunicação a serviço da <strong>educação</strong><br />

brasileira 2 .<br />

A <strong>educação</strong> a distância, entendida como<br />

Márcia Leite 1<br />

utilização <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> comunicação para<br />

transmissão <strong>de</strong> conteúdos didáticos, ultra-<br />

passando distâncias temporais e espaciais,<br />

existe <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a invenção da escrita e das epís-<br />

tolas, mas adquire sistematização alguns<br />

séculos <strong>de</strong>pois, configurando-se como mo-<br />

dalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino durante a Segunda Guer-<br />

ra Mundial, com os treinamentos militares<br />

americanos. Essas iniciativas, alimentadas<br />

pelas concepções epistemológicas compor-<br />

tamentistas, possibilitaram o surgimento <strong>de</strong><br />

projetos em diversos países, com a utilização<br />

dos meios <strong>de</strong> comunicação existentes: cor-<br />

respondências, programas <strong>de</strong> rádio e <strong>de</strong> <strong>TV</strong>.<br />

No <strong>Brasil</strong>, <strong>de</strong>stacam-se na história da EAD<br />

a Rádio Socieda<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, criada<br />

em 1925 por Roquette Pinto, com <strong>uma</strong> pro-<br />

posta educativa <strong>de</strong> radiofusão, e o Instituto<br />

1 Gerente <strong>de</strong> Cultura do Departamento Nacional do SESC. Mestre em Educação pela Universida<strong>de</strong> Estadual<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro (UERJ) e professora da Universida<strong>de</strong> Cândido Men<strong>de</strong>s. Ex-diretora <strong>de</strong> Tecnologia Educacional da <strong>TV</strong><br />

Educativa, Re<strong>de</strong> <strong>Brasil</strong>, e ex-coor<strong>de</strong>nadora do projeto Salto para o Futuro, <strong>TV</strong> Escola.<br />

2 O projeto contava com <strong>uma</strong> equipe <strong>de</strong> professores “conteudistas”,contratados para elaborarem os<br />

textos específicos das Disciplinas escolares, sob a direção da Prof. Terezinha Saraiva e coor<strong>de</strong>nados inicialmente<br />

pelas professoras Regina <strong>de</strong> Assis e Clei<strong>de</strong> Ramos; <strong>uma</strong> equipe <strong>de</strong> teleducadores, professores funcionários da <strong>TV</strong>E,<br />

responsáveis pela formatação <strong>de</strong>sses conteúdos. Lembramos com carinho <strong>de</strong> Virgínia Palermo, Vera Beraldo,<br />

Sonia Brandão, Yonne Polly, Ester Faller, Zilda Lenz, Marinete D´Angelo; do apresentador Milton Fernan<strong>de</strong>s; do<br />

diretor Paulo Pálace; da coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> produção Christina Maluhy; dos produtores Roberto Brandão; roteiristas<br />

Fernando Mozart, Eliezer, Fari<strong>de</strong> Chaiber, João Motta, Karla Hansen; editores Adélia Duarte, Flavio Ferrato, entre<br />

outros.<br />

19


Universal <strong>Brasil</strong>eiro, criado em 1941, em São<br />

Paulo, oferecendo cursos <strong>de</strong> formação pro-<br />

fissional por correspondência e que existe<br />

até hoje. A partir dos anos 1960, são <strong>de</strong>sen-<br />

volvidos projetos em âmbito governamental,<br />

quando é criado o PRONTEL, órgão do MEC<br />

responsável pela coor<strong>de</strong>nação dos projetos<br />

<strong>de</strong> tel<strong>educação</strong> do país, como o Minerva,<br />

para <strong>educação</strong> <strong>de</strong> jovens e adultos, transmi-<br />

tido pela Rádio MEC; o LOGOS, para forma-<br />

ção <strong>de</strong> professores leigos; o projeto SACI,<br />

com transmissão via satélite <strong>de</strong> programas<br />

educativos vol-<br />

tados para o En-<br />

sinoFundamen- tal. Maranhão e<br />

Ceará <strong>de</strong>senvol-<br />

vem programas<br />

<strong>de</strong> televisão com<br />

conteúdos curri-<br />

culares para che-<br />

garem às salas<br />

<strong>de</strong> aula do inte-<br />

rior; São Paulo,<br />

através da Fundação Padre Anchieta, realiza<br />

durante muitos anos programas <strong>de</strong> apoio a<br />

alunos e professores das últimas séries do<br />

Ensino <strong>de</strong> Primeiro Grau.<br />

Destaca-se, neste cenário, a Fundação Ro-<br />

quette-Pinto, antigo Centro <strong>Brasil</strong>eiro <strong>de</strong> Te-<br />

levisão Educativa Gilson Amado, instituição<br />

mantenedora da <strong>TV</strong>E e da Rádio MEC. Apesar<br />

<strong>de</strong> sediada no Rio <strong>de</strong> Janeiro, é “cabeça <strong>de</strong><br />

re<strong>de</strong>” do SINRED, <strong>de</strong>senvolvendo projetos<br />

Apesar da abrangência<br />

do rádio, a televisão foi o<br />

meio <strong>de</strong> comunicação mais<br />

significativo na formação<br />

das gerações a partir da<br />

segunda meta<strong>de</strong> do<br />

século XX.<br />

educativos em âmbito nacional para dife-<br />

rentes segmentos e graus <strong>de</strong> ensino, como<br />

as séries João da Silva e Conquista, que ino-<br />

varam no seu formato, como novelas didá-<br />

ticas, inaugurando um diálogo interessante,<br />

n<strong>uma</strong> relação bastante conflituosa entre<br />

forma e conteúdo, televisão e <strong>educação</strong>.<br />

Apesar da abrangência do rádio, a televisão<br />

foi o meio <strong>de</strong> comunicação mais significati-<br />

vo na formação das gerações a partir da se-<br />

gunda meta<strong>de</strong> do século XX. Ela era o gran<strong>de</strong><br />

instrumento da globa-<br />

lização,proporcionan- do a mundialização<br />

simbólica do po<strong>de</strong>r<br />

econômico do capital.<br />

Assim, era fascinante<br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uti-<br />

lizar este instrumento<br />

para educar a socieda-<br />

<strong>de</strong> brasileira, apesar <strong>de</strong><br />

não existirem, na épo-<br />

ca, profissionais espe-<br />

cializados para este trabalho. Os pedagogos<br />

e professores eram formados na perspectiva<br />

da sala <strong>de</strong> aula, da escola e do ensino for-<br />

mal. Os profissionais <strong>de</strong> comunicação ain-<br />

da estavam apren<strong>de</strong>ndo a fazer, não existia<br />

<strong>uma</strong> formação específica para a atuação em<br />

televisão educativa. Desta forma, todas es-<br />

sas iniciativas serviram também <strong>de</strong> espaço<br />

<strong>de</strong> aprendizagens para seus i<strong>de</strong>alizadores e<br />

realizadores, gerando muitos conhecimen-<br />

tos, mas também dificulda<strong>de</strong>s e equívocos.<br />

20


Inicialmente, acreditava-se que para fazer um<br />

“programa educativo” bastava gravar e trans-<br />

mitir a aula <strong>de</strong> um bom professor. Os alunos,<br />

após assisti-lo, po<strong>de</strong>riam tirar suas dúvidas<br />

e aprofundar seus conhecimentos, seguindo<br />

as orientações e preenchendo as lacunas dos<br />

módulos instrucionais. Esses recursos seriam<br />

suficientes para substituir a presença real dos<br />

professores do Primeiro Grau, especialmente<br />

nas regiões mais carentes, <strong>de</strong> difícil acesso.<br />

Apesar <strong>de</strong> esta concepção ainda existir até<br />

hoje, mesmo nos<br />

suportes digitais,<br />

<strong>de</strong>vido aos resul-<br />

tados negativos<br />

relacionados às<br />

aprendizagens,<br />

ao <strong>de</strong>sinteresse e<br />

à evasão dos alu-<br />

nos, começou-se<br />

a buscar novas<br />

estratégias, a<br />

partir <strong>de</strong> um diá-<br />

logo mais provei-<br />

toso com os profissionais <strong>de</strong> comunicação.<br />

Surgiram, então, os telejornais e as novelas<br />

radiofônicas e televisivas “educativas”. A no-<br />

vela era, e ainda é, o programa <strong>de</strong> maior audi-<br />

ência, por que não usá-la para a transmissão<br />

dos conteúdos escolares?<br />

Foi <strong>de</strong>ssa época a construção do “pré-con-<br />

ceito” sobre a “chatice” dos programas edu-<br />

cativos, pois narravam histórias com textos<br />

e ações impregnados <strong>de</strong> textos didáticos,<br />

termos científicos, completamente distan-<br />

tes do cotidiano <strong>de</strong> <strong>uma</strong> proposta <strong>de</strong> entre-<br />

tenimento.<br />

O diálogo contínuo entre<br />

educadores e comunicadores<br />

propiciou a formação <strong>de</strong><br />

um novo profissional, tanto<br />

no campo da <strong>educação</strong><br />

quanto no da comunicação,<br />

capaz <strong>de</strong> transitar nos dois<br />

mundos<br />

Esse processo gerou aprendizagens funda-<br />

mentais para a televisão educativa e para<br />

os projetos <strong>de</strong> EAD no <strong>Brasil</strong> e do mundo.<br />

O diálogo contínuo entre educadores e co-<br />

municadores propiciou a formação <strong>de</strong> um<br />

novo profissional, tanto no campo da edu-<br />

cação quanto no da comunicação, capaz<br />

<strong>de</strong> transitar nos dois<br />

mundos. Não basta-<br />

va reproduzir a sala <strong>de</strong><br />

aula nem reproduzir a<br />

novela, era necessário<br />

experimentar novos<br />

formatos e a<strong>de</strong>quar os<br />

conteúdos educativos<br />

às características das<br />

mídias.<br />

Por outro lado, consta-<br />

tava-se a importância<br />

da presença do professor na sala <strong>de</strong> aula,<br />

especialmente nos primeiros anos da vida<br />

escolar, quando os apren<strong>de</strong>ntes ainda não<br />

estão familiarizados com os procedimentos<br />

nem com as habilida<strong>de</strong>s acadêmicas. O pa-<br />

pel do professor como mediador entre su-<br />

jeito e objeto <strong>de</strong> conhecimento é condição<br />

primordial nesse segmento <strong>de</strong> ensino. A re-<br />

lação presencial, afetiva, faz parte <strong>de</strong> qual-<br />

quer processo <strong>de</strong> aprendizagem e nos pri-<br />

meiros anos escolares precisa ser real, para<br />

21


aos poucos se transformar em experiências<br />

mediadas e internalizadas.<br />

Mesmo assim, a EAD se fortalece no cenário<br />

educativo, especialmente no âmbito do en-<br />

sino superior, pós-graduação, formação pro-<br />

fissional e corporativa. São vários projetos<br />

bem sucedidos no <strong>Brasil</strong> e no mundo. Cita-<br />

mos alguns exemplos como a Universida<strong>de</strong><br />

Aberta da UnB, o CEDERJ, o SENAC, o SENAI,<br />

e vários sistemas universitários privados que<br />

expan<strong>de</strong>m seus cursos com a modalida<strong>de</strong>. A<br />

Fundação Roberto Marinho contribuiu sig-<br />

nificativamente nessa discussão, tanto em<br />

relação ao formato quanto à recepção dos<br />

produtos, buscando parcerias com as se-<br />

cretarias <strong>de</strong> <strong>educação</strong> para garantir os mo-<br />

nitores (professores) e salas <strong>de</strong> aula. A FRM<br />

continua seu projeto didático com a criação<br />

do Canal Futura, no ano seguinte em que o<br />

MEC cria a <strong>TV</strong> Escola, momento em que a<br />

<strong>educação</strong> passa a ser pauta comum do em-<br />

presariado, como condição <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvi-<br />

mento econômico e social. Também nesta<br />

época foi criada a MultiRio, fundação ligada<br />

à Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação do Mu-<br />

nicípio do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Em 1995, o MEC <strong>de</strong>lega à Fundação Roquette<br />

Pinto, que passa a pertencer à Secretaria <strong>de</strong><br />

Comunicação Social da Presidência da Repú-<br />

blica, a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> colocar no ar a<br />

<strong>TV</strong> Escola, um canal, via satélite, exclusiva-<br />

mente voltado para a <strong>educação</strong>, disponibi-<br />

lizando para todas as escolas <strong>uma</strong> progra-<br />

mação qualificada com ví<strong>de</strong>os educativos e<br />

produções elaboradas para atualização dos<br />

educadores.<br />

Entretanto, é um pouco antes, em 1992, que o<br />

Salto para o Futuro revigora o papel da EAD na<br />

formação e atualização <strong>de</strong> educadores, imple-<br />

mentando um projeto pioneiro que possibilita<br />

um diálogo diário sobre <strong>educação</strong>, entre edu-<br />

cadores <strong>de</strong> todo o país, em canal aberto, no<br />

horário nobre da televisão brasileira 3 .<br />

O trabalho começa em 1991, em caráter ex-<br />

perimental, com o título <strong>de</strong> JORNAL DA EDU-<br />

CAÇÃO – EDIÇÃO DO PROFESSOR, a partir <strong>de</strong><br />

um <strong>de</strong>creto da Presidência da República que<br />

institui um “grupo <strong>de</strong> trabalho interminis-<br />

terial com o objetivo <strong>de</strong> elaborar projeto-<br />

piloto para recepção <strong>de</strong> imagem via satélite<br />

a ser utilizado no processo educacional bra-<br />

sileiro 4 ”. Eram 30 minutos diários, atingindo<br />

em recepção organizada 600 estudantes <strong>de</strong><br />

cursos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores, <strong>de</strong> 6 es-<br />

tados. Ele foi concebido originalmente pelo<br />

jornalista Fernando Barbosa Lima e pela pro-<br />

fessora Terezinha Saraiva. Ele, presi<strong>de</strong>nte da<br />

<strong>TV</strong>E, e ela, diretora <strong>de</strong> tecnologia educacio-<br />

3 De 1992 a 1996 o programa foi transmitido ao vivo pela <strong>TV</strong>E e pela re<strong>de</strong> <strong>de</strong> televisões educativas <strong>de</strong> todo o<br />

país, <strong>de</strong> segunda a sexta-feira, no horário das 19h às 20h.<br />

4 Terezinha Saraiva. Caminhos Trilhados, Reflexões e Fazeres. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed. e Livraria Espaço do Saber. p.<br />

361.<br />

22


nal, conseguiram integrar suas experiências<br />

em <strong>uma</strong> proposta arrojada.<br />

Em 1992, já como Salto para o Futuro, o pro-<br />

grama ganha <strong>uma</strong> hora <strong>de</strong> duração e um<br />

novo formato: o primeiro bloco transmitia<br />

um ví<strong>de</strong>o ilustrando o conteúdo didático,<br />

com a mediação <strong>de</strong> um ator/atriz, e o segun-<br />

do era o “tira-dúvidas”, quando os professo-<br />

res especializados respondiam ao público,<br />

ao vivo. A interativida<strong>de</strong> na época era ape-<br />

nas por telefone e fax.<br />

A partir <strong>de</strong> avaliações constantes, a propos-<br />

ta foi sendo aprimorada junto a <strong>uma</strong> equipe<br />

<strong>de</strong> profissionais tanto <strong>de</strong> <strong>educação</strong> como <strong>de</strong><br />

televisão, que traziam <strong>uma</strong> rica experiência<br />

acumulada pelas ações anteriores da Funda-<br />

ção Roquette-Pinto. Em 1993, os atores do pri-<br />

meiro bloco são substituídos pelos próprios<br />

professores conteudistas, visando dar maior<br />

veracida<strong>de</strong> ao texto educativo transmitido<br />

pela <strong>TV</strong>. Esse dilema, ator ou professor, tam-<br />

bém ocorreu em 1996, quando Walter Avanci-<br />

ni foi convidado para cuidar dos projetos da<br />

<strong>TV</strong> Escola. Com a expectativa <strong>de</strong> “melhorar”<br />

os programas, o renomado diretor <strong>de</strong> novelas<br />

da televisão comercial propôs a contratação<br />

<strong>de</strong> atores famosos, o que foi <strong>de</strong>scartado após<br />

os primeiros testes. Por mais que os atores<br />

fossem famosos e bons, a credibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sua narração é fundamental para o resultado<br />

<strong>de</strong> sua apresentação. E <strong>uma</strong> coisa é falar <strong>de</strong><br />

5 Terezinha Saraiva, op.cit.<br />

fatos e emoções da vida cotidiana, como nas<br />

novelas, outra coisa é falar sobre processos<br />

<strong>de</strong> ensino/aprendizagem. É preciso conhecer,<br />

transmitir segurança e credibilida<strong>de</strong>. Os pro-<br />

fessores continuam até hoje no ar!<br />

Como todo projeto <strong>de</strong> EAD, o produto veicu-<br />

lado, no caso pela televisão, é apenas o que<br />

aparece <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> estratégias e<br />

materiais cuidadosamente elaborados. Para<br />

cada programa existia um texto <strong>de</strong> aprofun-<br />

damento dos conteúdos, com sugestões <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s e referências bibliográficas, elabo-<br />

rado por professores com experiência na sala<br />

<strong>de</strong> aula real. Os textos eram agrupados em<br />

boletins, pelo tema <strong>de</strong> cada série, e enviados<br />

para as Secretarias Estaduais <strong>de</strong> Educação,<br />

responsáveis pela organização e manutenção<br />

dos telepostos e telessalas. Espaços geral-<br />

mente cedidos pelas escolas estaduais, on<strong>de</strong><br />

os cursistas assistiam aos programas sob a<br />

mediação <strong>de</strong> um monitor, professor respon-<br />

sável em promover a participação, integra-<br />

ção, interativida<strong>de</strong> e aprendizagem dos par-<br />

ticipantes. Podiam se inscrever professores<br />

da Educação Infantil e das primeiras séries<br />

do Ensino Fundamental, além <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong><br />

pedagogia e dos cursos <strong>de</strong> Ensino Médio <strong>de</strong><br />

formação <strong>de</strong> professores.<br />

Em 1995, existiam 1.500 telessalas em todo o<br />

país, com 142.261 professores e estudantes<br />

<strong>de</strong> pedagogia inscritos 5 . Após a transmissão<br />

23


do programa, os professores ficavam dia-<br />

riamente, por mais <strong>uma</strong> hora, conversan-<br />

do com essas turmas, por telefone ou fax.<br />

Além <strong>de</strong>ssa recepção organizada, o progra-<br />

ma também atingia a um público espontâ-<br />

neo, conversando com professores e mesmo<br />

mães e pais que buscavam orientações para<br />

educarem seus alunos ou filhos. Neste ano,<br />

ele também passou a ser transmitido pela<br />

Rádio MEC.<br />

Ao longo <strong>de</strong>ssas duas décadas, acompanha-<br />

mos a chegada das novas tecnologias <strong>de</strong><br />

informação, da telefonia móvel à internet,<br />

que causaram, e continuam causando, <strong>uma</strong><br />

verda<strong>de</strong>ira revolução nas relações h<strong>uma</strong>nas,<br />

nos modos <strong>de</strong> ser, <strong>de</strong> fazer e <strong>de</strong> viver dos ha-<br />

bitantes do planeta. Esses, por sua vez, pas-<br />

saram a ter outras preocupações, anterior-<br />

mente inimagináveis, como, por exemplo, a<br />

questão da sustentabilida<strong>de</strong>, a finitu<strong>de</strong> dos<br />

recursos naturais, o atentado terrorista <strong>de</strong><br />

11 <strong>de</strong> setembro, a segurança etc.<br />

Acompanhando a diversida<strong>de</strong> do seu con-<br />

texto histórico, 20 anos <strong>de</strong>pois, o projeto<br />

viveu diferentes formatos, adaptando-se às<br />

<strong>de</strong>mandas das políticas públicas, das esco-<br />

las, dos educadores e da socieda<strong>de</strong>. Hoje, a<br />

<strong>TV</strong> Escola consolida-se como protagonista<br />

<strong>de</strong> <strong>uma</strong> programação voltada para a forma-<br />

ção <strong>de</strong> professores do Ensino Fundamental<br />

e também como mo<strong>de</strong>lo para experiências<br />

similares em outros níveis <strong>de</strong> ensino.<br />

A interativida<strong>de</strong> do projeto foi sempre o seu<br />

gran<strong>de</strong> diferencial e, ao mesmo tempo, sua<br />

gran<strong>de</strong> conquista. Possibilitar que fossem<br />

ouvidas as vozes <strong>de</strong> educadores <strong>de</strong> todo o<br />

país, abordando a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> temas que<br />

frequentam o cotidiano das salas <strong>de</strong> aula, é<br />

o “salto para o futuro” que o projeto se pro-<br />

pôs e conseguiu realizar.<br />

O diálogo continua sendo o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio da<br />

<strong>educação</strong> contemporânea. As tecnologias di-<br />

gitais misturam produtores e consumidores,<br />

palco e plateia, professores e alunos. Os papéis<br />

se confun<strong>de</strong>m. Todos que apren<strong>de</strong>m, ensinam.<br />

Todos sabem! Assim, pensar na parceria televi-<br />

são e <strong>educação</strong> exige, cada vez mais, ampliar<br />

os canais <strong>de</strong> comunicação entre quem faz e<br />

quem assiste, possibilitando a troca e aprendi-<br />

zagem <strong>de</strong> diferentes fazeres e saberes.<br />

24


pGm 2/TexTo 2: <strong>TV</strong> e público <strong>de</strong> educadoreS<br />

a <strong>TV</strong> na Sala <strong>de</strong> aula: noVo cenário, noVoS <strong>de</strong>SafioS<br />

InTrodução<br />

A partir da segunda meta<strong>de</strong> do século XX,<br />

durante muito tempo, a televisão reinou<br />

absoluta na condição <strong>de</strong> meio <strong>de</strong> comunica-<br />

ção audiovisual <strong>de</strong> massa mais importante<br />

e quase onipresente em todo o mundo. Em<br />

consequência <strong>de</strong>sse status alcançado, a <strong>TV</strong><br />

sempre gerou polêmicas sobre os diferentes<br />

papéis que exercia – ou lhe foram atribuídos<br />

– na socieda<strong>de</strong> e no comportamento dos in-<br />

divíduos, particularmente as crianças. Não<br />

é <strong>de</strong> admirar que por sua gran<strong>de</strong> influência<br />

positiva ou negativa, a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do ponto<br />

<strong>de</strong> vista <strong>de</strong> cada um, ela tenha se constitu-<br />

ído sempre <strong>uma</strong> preocupação para os edu-<br />

cadores. Por um lado, como expectativa <strong>de</strong><br />

uso <strong>de</strong> suas possibilida<strong>de</strong>s como importante<br />

meio auxiliar na <strong>educação</strong> e, por outro, pre-<br />

ocupação com o seu incontestável po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

influenciar o comportamento das pessoas,<br />

quase sempre visto por um ângulo negati-<br />

vo. Mesmo ao se adotar a <strong>TV</strong> na <strong>educação</strong>,<br />

inclusive com re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emissoras públicas<br />

com finalida<strong>de</strong> educativa e cultural, perma-<br />

neceram a <strong>de</strong>sconfiança e as polêmicas rela-<br />

cionadas a vários aspectos da programação<br />

Elicio Pontes 1<br />

da <strong>TV</strong> comercial, como a violência, a banali-<br />

zação da sexualida<strong>de</strong>, o consumismo etc. Ou<br />

seja, em torno <strong>de</strong> valores sociais difundidos<br />

pela televisão, muitas vezes consi<strong>de</strong>rados<br />

em <strong>de</strong>sacordo com aqueles que a <strong>educação</strong><br />

escolar procura <strong>de</strong>senvolver.<br />

Atualmente, a televisão não tem mais essa<br />

predominância absoluta. Ela enfrenta a con-<br />

corrência dos meios virtuais, representada<br />

não só por aparelhos menores, portáteis,<br />

multifuncionais e cada vez mais baratos,<br />

mas também pelas novas formas <strong>de</strong> comu-<br />

nicação criadas a partir <strong>de</strong>les. E, não menos<br />

importante, porque esses aparelhos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o que po<strong>de</strong>ríamos chamar <strong>de</strong> um “simples”<br />

celular até as câmeras – cada vez mais sofis-<br />

ticadas, miniaturizadas e <strong>de</strong> manuseio sim-<br />

ples – invadiram o terreno que representa a<br />

própria natureza da <strong>TV</strong> e que se constitui a<br />

sua gran<strong>de</strong> força como meio <strong>de</strong> comunica-<br />

ção e informação: a imagem. Talvez não seja<br />

absurdo que o YouTube é a “televisão” mais<br />

barata e mais universalizada na atualida<strong>de</strong>,<br />

alimentada a toda hora por <strong>uma</strong> infinida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> pessoas que antes não passavam <strong>de</strong> es-<br />

pectadores e consumidores da informação<br />

25


audiovisual, e acabaram se transformando<br />

em virtuais produtores <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o e repórte-<br />

res, com seus produtos registrando milhões<br />

<strong>de</strong> acessos <strong>de</strong> internautas em todo o mundo.<br />

Este cenário, que <strong>de</strong>lineamos <strong>de</strong> forma sin-<br />

tética e simplificada, é <strong>uma</strong> realida<strong>de</strong> que<br />

po<strong>de</strong>mos constatar em nosso país on<strong>de</strong>,<br />

apenas para exemplificar, o número <strong>de</strong> ce-<br />

lulares (quase sempre dotados <strong>de</strong> câmeras)<br />

já é superior ao número <strong>de</strong> habitantes, ao<br />

mesmo tempo em que os computadores se<br />

tornam mais acessíveis a pessoas até pouco<br />

tempo excluídas do mundo digital. Diante<br />

<strong>de</strong>ssa nova realida<strong>de</strong>, que também se reflete<br />

na escola e na vida dos estudantes em geral,<br />

é necessário levantar alg<strong>uma</strong>s indagações<br />

sobre essas novas tecnologias e o papel que<br />

(ainda) cabe à televisão na <strong>educação</strong>, e par-<br />

ticularmente na sala <strong>de</strong> aula. Mais <strong>uma</strong> vez,<br />

o professor <strong>de</strong>ve ser personagem central<br />

nessa reflexão.<br />

InforMAção e conHecIMenTo<br />

Quais os papéis que a televisão veio <strong>de</strong>sem-<br />

penhar na escola, ao conquistar seu espaço<br />

na sala <strong>de</strong> aula? Vale lembrar que ela veio<br />

como “a gran<strong>de</strong> atração” – para usar <strong>uma</strong> lin-<br />

guagem do próprio meio – com a promessa<br />

<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnizar e revolucionar o ensino, tra-<br />

zendo para <strong>de</strong>ntro da escola, antes <strong>de</strong> tudo,<br />

<strong>uma</strong> nova fonte <strong>de</strong> conhecimento, o encanto<br />

e o dinamismo <strong>de</strong> um meio <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início<br />

saudado como <strong>uma</strong> “janela para o mundo”.<br />

As limitações do currículo, a rigi<strong>de</strong>z da or-<br />

ganização dos espaços e dos tempos das es-<br />

colas, a falta <strong>de</strong> bibliotecas, as dificulda<strong>de</strong>s<br />

em se difundir o cinema são obstáculos po-<br />

<strong>de</strong>riam ser superados pelo uso <strong>de</strong> programas<br />

<strong>de</strong> <strong>TV</strong> educativos, ou não educativos stricto<br />

sensu, inclusive gravados <strong>de</strong> emissoras aber-<br />

tas, como fonte <strong>de</strong> conteúdos apresentados<br />

<strong>de</strong> forma atraente etc. A maioria das esco-<br />

las, no entanto, por falta <strong>de</strong> infraestrutura<br />

a<strong>de</strong>quada para concretizar essa inovação, e<br />

consi<strong>de</strong>rando ainda que os professores, em<br />

geral, não têm formação a<strong>de</strong>quada para<br />

utilizar <strong>de</strong> forma intencional e crítica todo<br />

o potencial informativo e <strong>de</strong> conhecimento<br />

veiculado pela <strong>TV</strong>, prescin<strong>de</strong> da contribui-<br />

ção <strong>de</strong>sse importante recurso na <strong>educação</strong>.<br />

Às vezes, havia a dificulda<strong>de</strong> até em operar<br />

o vi<strong>de</strong>ocassete, aparelho hoje praticamente<br />

extinto e substituído pelo DVD, que também<br />

já tem sua morte anunciada para dar lugar a<br />

tecnologias mais sofisticadas, que vão sendo<br />

criadas. Alguns projetos, entre eles o Salto<br />

para o Futuro e a <strong>TV</strong> Escola, buscaram alterar<br />

essa realida<strong>de</strong>, propiciando não só um acer-<br />

vo <strong>de</strong> programas conectados com o currícu-<br />

lo, mas orientação para seu uso didático.<br />

Esse papel da <strong>TV</strong>, como fonte <strong>de</strong> informação e<br />

conhecimento, não <strong>de</strong>ve ser subestimado ou<br />

abandonado, mesmo com o crescimento das<br />

tecnologias digitais e, em especial, a <strong>de</strong>mo-<br />

cratização da Internet, que facilitou a entra-<br />

da em cena dos sites <strong>de</strong> busca, entre eles o<br />

Google, disponíveis ao alcance <strong>de</strong> um clique.<br />

26


o que escolHer<br />

As possibilida<strong>de</strong>s são inúmeras, consi<strong>de</strong>ran-<br />

do-se a programação <strong>de</strong> emissoras educa-<br />

tivas, da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> emissoras comerciais, do<br />

acervo da escola, <strong>de</strong> locadoras (que já estão<br />

em crise, per<strong>de</strong>ndo espaço para os filmes<br />

que po<strong>de</strong>m ser baixados da internet) etc.<br />

Seja utilizando-se <strong>de</strong> acervo disponível na es-<br />

cola – que po<strong>de</strong> ser a opção mais imediata<br />

– ou buscando outros programas ou filmes<br />

tanto nas re<strong>de</strong>s educativas como nas emis-<br />

soras abertas ou<br />

por assinatura,<br />

o professor po<strong>de</strong><br />

fazer da <strong>TV</strong> um<br />

uso diferenciado<br />

em relação aos<br />

outros meios<br />

e tecnologias<br />

que hoje repre-<br />

sentam maior<br />

atrativo para os<br />

alunos. Estes, ao usar os computadores da<br />

escola ou <strong>de</strong> sua casa, ao se comunicar atra-<br />

vés dos recursos técnicos <strong>de</strong> um celular, se<br />

envolvem <strong>de</strong> <strong>uma</strong> forma individualizada e,<br />

para muitos, individualizante, que estimu-<br />

laria o isolamento. Mesmo tal julgamento<br />

sendo questionável, não há dúvida <strong>de</strong> que a<br />

sala <strong>de</strong> aula é um espaço coletivo, e <strong>de</strong>ve ser<br />

um lugar em que se promove e se exercita<br />

a socialização em função das aprendizagens<br />

que constituem a finalida<strong>de</strong> da escola. E a <strong>TV</strong><br />

po<strong>de</strong> ser usada com esse objetivo, ao con-<br />

Um programa <strong>de</strong> <strong>TV</strong> ou um<br />

ví<strong>de</strong>o não são apenas <strong>uma</strong><br />

outra fonte <strong>de</strong> conteúdo,<br />

meros substitutos do livro<br />

ou <strong>de</strong> outros materiais<br />

didáticos.<br />

trário da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que ela impõe, inevitavel-<br />

mente, <strong>uma</strong> atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> passivida<strong>de</strong> do espec-<br />

tador. O professor e os alunos não têm por<br />

que aceitar essa suposta imposição e se com-<br />

portarem como audiência passiva. Qualquer<br />

programa ou filme po<strong>de</strong> ter seus conteúdos<br />

explorados <strong>de</strong> forma a motivar a discussão,<br />

o <strong>de</strong>bate, o diálogo em torno do tema, dos<br />

argumentos apresentados, do seu forma-<br />

to artístico (estética, beleza <strong>de</strong> imagens) e<br />

técnico (linguagem televisiva), entre muitas<br />

vertentes. Isso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, evi<strong>de</strong>ntemente, da<br />

mediação do professor<br />

– e este não fará <strong>uma</strong><br />

mediação produtiva<br />

sem um trabalho pré-<br />

vio <strong>de</strong> conhecimento<br />

do programa ou filme<br />

e da elaboração <strong>de</strong> um<br />

roteiro que mobilize os<br />

alunos e relacione seu<br />

tema com a parte do<br />

currículo em execução.<br />

Um programa <strong>de</strong> <strong>TV</strong> ou um ví<strong>de</strong>o não são<br />

apenas <strong>uma</strong> outra fonte <strong>de</strong> conteúdo, me-<br />

ros substitutos do livro ou <strong>de</strong> outros mate-<br />

riais didáticos. São outros meios que têm<br />

sua própria linguagem e outras possibilida-<br />

<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aproveitamento no processo ensino-<br />

aprendizagem. Assim como seu conteúdo<br />

<strong>de</strong>ve ser problematizado, transformado<br />

n<strong>uma</strong> discussão que não se limita ao que ele<br />

expõe literalmente, a própria natureza <strong>de</strong>s-<br />

se rico material audiovisual <strong>de</strong>ve constituir<br />

27


foco <strong>de</strong> interesse nas ativida<strong>de</strong>s planejadas<br />

pelo professor. A leitura da <strong>TV</strong> (e da imagem,<br />

<strong>de</strong> um modo geral) <strong>de</strong>ve ser também um dos<br />

objetivos, visando ao domínio <strong>de</strong> <strong>uma</strong> lin-<br />

guagem que está presente em praticamente<br />

todos os processos <strong>de</strong> comunicação na atu-<br />

alida<strong>de</strong>. Como toda linguagem, ela tem seus<br />

códigos que precisam ser compreendidos, se<br />

queremos tirar <strong>de</strong>la todo o proveito que pre-<br />

ten<strong>de</strong>mos, no processo educativo.<br />

InTeresses e dIfIculdA<strong>de</strong>s<br />

Usar a <strong>TV</strong> na sala <strong>de</strong> aula, alguns anos atrás,<br />

era praticamente o prolongamento daqui-<br />

lo que as crianças faziam todo dia em suas<br />

próprias casas: permanecer horas diante<br />

da telinha. Atualmente, é mais comum ver<br />

crianças e adolescentes diante <strong>de</strong> um com-<br />

putador ou manuseando um celular durante<br />

horas, que diante <strong>de</strong> um televisor. Não é di-<br />

ferente na escola; às vezes, professores são<br />

obrigados a “confiscar” celulares, que não<br />

são <strong>de</strong>ixados <strong>de</strong> lado pelos alunos mesmo<br />

durante a aula. É claro, no entanto, que a te-<br />

levisão não <strong>de</strong>sapareceu da vida <strong>de</strong> crianças,<br />

adolescentes e adultos.<br />

Há alg<strong>uma</strong>s diferenças nas condições <strong>de</strong><br />

uso da <strong>TV</strong> escolar e da parafernália virtual<br />

que precisam ser compreendidas. Enquanto<br />

esses aparelhinhos pertencem aos alunos,<br />

que os utilizam para seu próprio interesse, a<br />

<strong>TV</strong> é parte do ambiente escolar e é utilizada<br />

para audiência coletiva. No primeiro caso,<br />

a atração é a conectivida<strong>de</strong>, praticamente<br />

sinônimo <strong>de</strong> interativida<strong>de</strong> (estar conec-<br />

tado com tudo e com todos, durante todo<br />

o tempo); na sala <strong>de</strong> aula, o aluno <strong>de</strong>ve se<br />

postar diante da <strong>TV</strong> na condição <strong>de</strong> receptor,<br />

permanecer em silêncio e prestar atenção<br />

compartilhada com os <strong>de</strong>mais, por um tem-<br />

po <strong>de</strong>terminado pela duração do programa.<br />

Essa situação po<strong>de</strong> parecer <strong>de</strong>sestimulante.<br />

Atenção e interesse são dois elementos fun-<br />

damentais em <strong>uma</strong> ativida<strong>de</strong> escolar; por-<br />

tanto, esse é um <strong>de</strong>safio em busca <strong>de</strong> solu-<br />

ções criativas e significativas do professor,<br />

para melhor aproveitar a <strong>TV</strong> num cenário<br />

em que <strong>de</strong>spontam fortes concorrentes ao<br />

seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> atração.<br />

A <strong>TV</strong> é um meio <strong>de</strong> comunicação linear, uni-<br />

lateral (não consi<strong>de</strong>ramos aqui a <strong>TV</strong> digi-<br />

tal, com promessas <strong>de</strong> interativida<strong>de</strong>, pois<br />

ela ainda é <strong>uma</strong> realida<strong>de</strong> muito limitada.)<br />

Mas, num processo educativo, <strong>de</strong>vemos dar<br />

maior atenção à intercomunicação, ao en-<br />

volvimento ativo do receptor. O diálogo, o<br />

<strong>de</strong>bate, o questionamento <strong>de</strong>vem ser exer-<br />

cícios intencionalmente voltados para o <strong>de</strong>-<br />

senvolvimento do espírito crítico. Observar,<br />

comparar, levantar outras perguntas são<br />

ações que <strong>de</strong>vem ser entendidas pelos alu-<br />

nos como exercícios do seu apren<strong>de</strong>r.<br />

O professor, além <strong>de</strong> usar a <strong>TV</strong> para sua própria<br />

formação, <strong>de</strong>ve ser o mediador capaz <strong>de</strong> esta-<br />

belecer um diálogo com o material visto na <strong>TV</strong>,<br />

que ele programou e levou para a sala <strong>de</strong> aula.<br />

28


Não é necessário fazer <strong>uma</strong> lista <strong>de</strong> questões<br />

que cubram todos os aspectos do programa/<br />

filme, mas alguns questionamentos capazes<br />

<strong>de</strong> gerar novas perguntas feitas pelos próprios<br />

alunos. É importante partir do princípio <strong>de</strong> que<br />

é melhor ter <strong>uma</strong> boa pergunta do que receber<br />

<strong>uma</strong> resposta pronta, às vezes antes mesmo <strong>de</strong><br />

saber o que <strong>de</strong>veria perguntar. Nem sempre os<br />

programas, em qualquer formato, privilegiam<br />

os questionamentos. Geralmente são mais<br />

expositivos, narrativos, ilustrativos, na maio-<br />

ria das vezes dão<br />

respostas mais do<br />

que estimulam<br />

a dúvida. Mas<br />

é inegável que<br />

qualquer progra-<br />

ma contém <strong>uma</strong><br />

gran<strong>de</strong> quanti-<br />

da<strong>de</strong> <strong>de</strong> informa-<br />

ções e i<strong>de</strong>ias que<br />

po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>vem<br />

ser exploradas<br />

pela via do ques-<br />

tionamento. O professor po<strong>de</strong> estimular o diá-<br />

logo, on<strong>de</strong> a tendência é o monólogo.<br />

Entre as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exploração da téc-<br />

nica e da linguagem, po<strong>de</strong>-se observar e dis-<br />

cutir a natureza das imagens, i<strong>de</strong>ntificando<br />

e analisando, por exemplo: o que é reprodu-<br />

ção e registro da realida<strong>de</strong>; o que é recons-<br />

tituição histórica <strong>de</strong> cenários e seres; re-<br />

criação dramatizada <strong>de</strong> situações e eventos;<br />

observar e analisar os recursos técnicos <strong>de</strong><br />

criação, ampliação ou redução <strong>de</strong> imagens,<br />

do infinitamente gran<strong>de</strong> ao infinitamente<br />

pequeno (do universo ao átomo). Esses e<br />

muitos outros aspectos po<strong>de</strong>m servir como<br />

elementos para compreensão da linguagem<br />

visual/audiovisual, como <strong>uma</strong> das várias ver-<br />

tentes no uso da <strong>TV</strong> na sala <strong>de</strong> aula.<br />

<strong>TV</strong>, Ví<strong>de</strong>o, fIlMe<br />

O professor, além <strong>de</strong> usar<br />

a <strong>TV</strong> para sua própria<br />

formação, <strong>de</strong>ve ser<br />

o mediador capaz <strong>de</strong><br />

estabelecer um diálogo com<br />

o material visto na <strong>TV</strong>, que<br />

ele programou e levou para<br />

a sala <strong>de</strong> aula.<br />

Em que medida esses meios se diferenciam<br />

ou se confun<strong>de</strong>m, e<br />

que diferença faz ao<br />

serem usados na sala<br />

<strong>de</strong> aula? Em princípio,<br />

televisão é o que foi<br />

produzido especifica-<br />

mente para esse meio,<br />

veiculado segundo<br />

as características <strong>de</strong><br />

emissoras ou re<strong>de</strong>s:<br />

<strong>uma</strong> gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> progra-<br />

mação, varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

gêneros, horários e du-<br />

ração dos programas, estrutura do progra-<br />

ma com intervalos para inserção <strong>de</strong> publici-<br />

da<strong>de</strong> etc. Programas educativos stricto sensu<br />

não estão submetidos a essa lógica da <strong>TV</strong><br />

comercial, e por isso se a<strong>de</strong>quam melhor ao<br />

uso escolar, <strong>uma</strong> vez que já foram elabora-<br />

dos e produzidos com esse finalida<strong>de</strong>. Ví<strong>de</strong>-<br />

os <strong>de</strong> vários tipos, inclusive produzidos fora<br />

da gran<strong>de</strong> indústria cultural – por institui-<br />

ções educativas, vi<strong>de</strong>omakers amadores ou<br />

semiprofissionais, realizados nas próprias<br />

29


escolas ou pelos alunos – oferecem outros<br />

olhares e outras possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aproveita-<br />

mento na sala <strong>de</strong> aula, <strong>de</strong>ntro do currículo<br />

ou como ativida<strong>de</strong> cultural. Filmes, em sua<br />

forma comercial <strong>de</strong> longa metragem, e par-<br />

te do cinema como indústria cultural e <strong>de</strong><br />

entretenimento também têm lugar na sala<br />

<strong>de</strong> aula, sobretudo como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ampliação e diversificação das percepções<br />

culturais dos alunos.<br />

Estes exemplos se referem, evi<strong>de</strong>ntemente, a<br />

três formas <strong>de</strong> comunicação (arte e técnica)<br />

audiovisual, e entre eles há diferenças impor-<br />

tantes em termos <strong>de</strong> linguagem. Mas, inte-<br />

ressam mais aqui os aspectos comuns. Antes<br />

<strong>de</strong> tudo, são linguagens essencialmente ima-<br />

géticas e que po<strong>de</strong>m ser tecnicamente redu-<br />

zidas a <strong>uma</strong> mesma forma <strong>de</strong> apresentação,<br />

através <strong>de</strong> um aparelho <strong>de</strong> <strong>TV</strong> (vi<strong>de</strong>ocassetes,<br />

DVDs, conectados a um computador etc.).<br />

Na tela <strong>de</strong> um televisor, hoje com dimensões<br />

maiores, tela plana, alta <strong>de</strong>finição e outros<br />

aperfeiçoamentos tecnológicos, o que vemos<br />

é televisão. Sem intenção <strong>de</strong> levantar <strong>uma</strong><br />

discussão teórica sobre o tema, po<strong>de</strong>ríamos<br />

dizer que, neste caso, “tudo é televisão”, ou<br />

“tudo vira televisão”, em termos práticos.<br />

Nossa referência é a sala <strong>de</strong> aula e as ativida-<br />

<strong>de</strong>s didáticas que ali se <strong>de</strong>senvolvem e, nesse<br />

caso, as estratégias são semelhantes. O uso<br />

<strong>de</strong> filmes é menos comum, mas merece al-<br />

guns comentários à parte.<br />

Um filme (<strong>uma</strong> história <strong>de</strong> ficção, mesmo<br />

se baseada em fatos reais) é, antes <strong>de</strong> tudo,<br />

<strong>uma</strong> história, <strong>uma</strong> narrativa. Deve ser visto<br />

como um todo, não em fragmentos. A análi-<br />

se <strong>de</strong> partes (cenas, inci<strong>de</strong>ntes) po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve<br />

ser feita, mas fará mais sentido no contexto<br />

da história. O tempo do filme não é o mes-<br />

mo tempo da televisão. A linguagem se dife-<br />

rencia: sequências e planos longos e <strong>de</strong>mo-<br />

rados, ao contrário da <strong>TV</strong>, que geralmente<br />

“corre contra o relógio”, mudando <strong>de</strong> cena,<br />

através <strong>de</strong> cortes, com muita frequência,<br />

em nome do dinamismo e da ação que, num<br />

efeito circular, tornou-se um padrão para<br />

os espectadores. Um filme narrado em ou-<br />

tro ritmo é consi<strong>de</strong>rado, principalmente por<br />

adolescentes, “monótono”, “chato”, “difícil<br />

<strong>de</strong> aguentar” por 90 minutos ou mais. Não<br />

estamos nos referindo a filmes “difíceis”,<br />

“intelectualizados”, mas à reação contra fil-<br />

mes que não sigam o padrão popularizado<br />

através <strong>de</strong> sua exibição na própria televisão:<br />

ação ininterrupta, perseguições em alta ve-<br />

locida<strong>de</strong> nos mais diversos veículos – carros,<br />

lanchas, helicópteros... tiroteios, explosões.<br />

Um filme fora <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo corre o risco <strong>de</strong><br />

ser consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong>sinteressante e esse é um<br />

problema real a enfrentar quando se opta<br />

por exibir um filme em sala <strong>de</strong> aula.<br />

conTexTuAlIzAndo,<br />

crITIcAndo, coMPreen<strong>de</strong>ndo<br />

Vamos dar alguns exemplos (reais) <strong>de</strong> uso<br />

em sala <strong>de</strong> aula. Filme: “Caminho para<br />

30


casa”. A história <strong>de</strong> um jovem professor<br />

que vai lecionar n<strong>uma</strong> pequena comuni-<br />

da<strong>de</strong> rural no interior da China, na década<br />

<strong>de</strong> 1950. Quarenta anos <strong>de</strong>pois, quando <strong>de</strong><br />

sua morte, o filho volta da cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

para provi<strong>de</strong>nciar o enterro, mas a mãe<br />

insiste que seu corpo <strong>de</strong>ve ser conduzido<br />

pelas pessoas do povoado, <strong>uma</strong> tradição e<br />

um reconhecimento da comunida<strong>de</strong> que ele<br />

educou. É <strong>uma</strong> história <strong>de</strong> amor e, ao mes-<br />

mo tempo, <strong>de</strong> reflexão sobre a <strong>educação</strong> e<br />

o respeito à figura do professor. Discussão:<br />

a maioria dos alunos (jovens estudantes <strong>de</strong><br />

Pedagogia) consi<strong>de</strong>rou o filme monótono.<br />

Outra compreensão resultou do <strong>de</strong>bate e da<br />

contextualização da história (época e local),<br />

que não po<strong>de</strong>ria ser contada no mesmo rit-<br />

mo <strong>de</strong> um filme <strong>de</strong> aventuras e ação n<strong>uma</strong><br />

metrópole mo<strong>de</strong>rna. A avaliação posterior<br />

foi radicalmente modificada a partir <strong>de</strong>ssa<br />

compreensão.<br />

Ví<strong>de</strong>o: Desenho animado <strong>de</strong> Tom e Jerry.<br />

Produção antiga, mas continuamente repri-<br />

sada em canais <strong>de</strong> <strong>TV</strong>, abertos ou por assi-<br />

naturas. Um grupo <strong>de</strong> crianças, da geração<br />

que praticamente nasceu com um celular<br />

nas mãos, riu e estranhou aquele aparelho<br />

esquisito, pendurado na pare<strong>de</strong> e que pre-<br />

cisava rodar um disco para fazer a ligação.<br />

Apesar <strong>de</strong> reconhecido como um telefone,<br />

evi<strong>de</strong>nte no seu modo <strong>de</strong> usar, era um apa-<br />

relho estranho às suas experiências. Uma<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem foi <strong>de</strong>senvolvida<br />

sobre os meios <strong>de</strong> comunicação em diferen-<br />

tes épocas, e a forma como eles são usados<br />

e afetam a vida das pessoas. Uma ativida-<br />

<strong>de</strong> lúdica, com potencial <strong>de</strong> aprendizagem<br />

transversal.<br />

Ví<strong>de</strong>o: publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> televisão. Objetivo,<br />

discutir o próprio meio, suas mensagens e<br />

a linguagem audiovisual. Contraste entre a<br />

beleza e a sedução das imagens <strong>de</strong> um anún-<br />

cio <strong>de</strong> cerveja e a mensagem escrita ao final<br />

(obrigatória por lei): “Beba com mo<strong>de</strong>ração.<br />

Se for dirigir, não beba”. A discussão resul-<br />

tou n<strong>uma</strong> conclusão que pareceu óbvia, aos<br />

participantes: a advertência, apenas com<br />

palavras, tem um po<strong>de</strong>r muito menor <strong>de</strong> in-<br />

fluir no comportamento dos telespectadores<br />

do que a mensagem audiovisual. O mesmo<br />

po<strong>de</strong> ser feito com outros filmes publicitá-<br />

rios – <strong>uma</strong> área em que se usa com extrema<br />

competência a comunicação audiovisual.<br />

Estes exemplos preten<strong>de</strong>m mostrar a varie-<br />

da<strong>de</strong> <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s que o meio <strong>TV</strong> ofe-<br />

rece ao seu uso na sala <strong>de</strong> aula. Aqui, en-<br />

fatizamos alguns aspectos, sobretudo a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contextualização e <strong>de</strong> expli-<br />

cações que po<strong>de</strong>m ser acrescentadas, pelo<br />

professor, para orientar a crítica, a análise e<br />

a compreensão, além <strong>de</strong> relacionar o mate-<br />

rial com o tema em estudo, <strong>de</strong>ntro do currí-<br />

culo ou <strong>de</strong> <strong>uma</strong> <strong>de</strong>terminada disciplina.<br />

No entanto, há vários aspectos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />

prática a consi<strong>de</strong>rar. O tempo <strong>de</strong> duração <strong>de</strong><br />

um filme geralmente é maior do que o tempo<br />

31


<strong>de</strong>stinado a <strong>uma</strong> aula. O que fazer? Dividi-lo<br />

em partes, exibidas em dias diferentes, por<br />

exemplo, seria ina<strong>de</strong>quado, <strong>de</strong>sfigurando-o<br />

completamente. Encontrar <strong>uma</strong> solução...<br />

ou <strong>de</strong>sistir? Os programas educativos <strong>de</strong> <strong>TV</strong><br />

geralmente não apresentam esse problema,<br />

pois já foram produzidos consi<strong>de</strong>rando as<br />

características do meio e <strong>de</strong> sua forma <strong>de</strong><br />

programação para o público. Além disso, é<br />

preciso certificar-se do bom funcionamento<br />

dos equipamentos, disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espa-<br />

ços (caso não seja a própria sala <strong>de</strong> aula),<br />

apoio técnico, o eventual uso <strong>de</strong> material<br />

impresso complementar para a ativida<strong>de</strong>,<br />

como roteiros, questionários etc. E, princi-<br />

palmente, que a ativida<strong>de</strong> não se esgote em<br />

si mesma, mas que possa ser relacionada a<br />

outros momentos ou disciplinas do currícu-<br />

lo e da série em que se encontram os alunos.<br />

conclusões<br />

Neste texto, não tivemos o propósito <strong>de</strong><br />

apresentar fórmulas prontas para o uso da<br />

<strong>TV</strong> na sala <strong>de</strong> aula; antes, procuramos suge-<br />

rir alg<strong>uma</strong>s questões para reflexão a partir<br />

da experiência <strong>de</strong> cada docente. Um aspecto<br />

que enfatizamos é a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacio-<br />

nar esse meio com as novas tecnologias que<br />

fazem parte do dia a dia, às vezes mais dos<br />

alunos do que da escola. É um novo cená-<br />

rio, que propõe novos <strong>de</strong>safios, e um <strong>de</strong>les<br />

é transformar esses meios e tecnologias em<br />

aliados do processo educativo, apesar das<br />

dúvidas, críticas e <strong>de</strong>sconfianças que eles<br />

suscitam. Muitas <strong>de</strong>las são justas, outras<br />

são resultantes do <strong>de</strong>sconhecimento e <strong>de</strong><br />

<strong>uma</strong> postura crítica superficial, apenas bem<br />

intencionada. Especialmente em relação à<br />

<strong>TV</strong>, é preciso repensar o seu papel e <strong>de</strong>smiti-<br />

ficar alguns <strong>de</strong> seus po<strong>de</strong>res e <strong>de</strong>feitos.<br />

A escola <strong>de</strong>ve aproveitar todos os recursos<br />

que a tecnologia acrescenta, porque ela cada<br />

vez mais fará parte da vida das pessoas, con-<br />

tinuará criando novos meios e formas <strong>de</strong> co-<br />

municação e informação que precisam ser<br />

apreendidos e incorporados à experiência do<br />

professor e dos estudantes, sejam crianças,<br />

adolescentes ou adultos. Esse processo, no<br />

entanto, <strong>de</strong>ve ser consciente, crítico, criati-<br />

vo e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>uma</strong> visão educativa que con-<br />

temple tanto o indivíduo e seu crescimento<br />

quanto o meio social em que ele se insere.<br />

A escola tem um papel fundamental na <strong>de</strong>-<br />

finição do significado e da atuação <strong>de</strong>sses<br />

meios e tecnologias na socieda<strong>de</strong> atual, e o<br />

<strong>de</strong>sempenhará melhor na medida em que<br />

<strong>de</strong>senvolver e compartilhar as competências<br />

necessárias com sua própria comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

professores e alunos.<br />

referêncIAs<br />

APARICI, Roberto; GARCÍA MATILLA, Agustín;<br />

VALDIVIA SANTIAGO, Manuel. La imagen. 2ª<br />

ed. Madrid: Universidad Nacional <strong>de</strong> Educa-<br />

ción a Distancia, 1998.<br />

APARICI, Roberto (coord.). Comunicación<br />

32


educativa en la sociedad <strong>de</strong> la información.<br />

Madrid: Universidad Nacional <strong>de</strong> Educación<br />

a Distancia, 2003.<br />

FERRÉS, Joan. Televisão e Educação. Trad. Be-<br />

atriz Affonso Neves. Porto Alegre: Artes Mé-<br />

dicas, 1996.<br />

_____________. Ví<strong>de</strong>o e Educação. 2ª ed. Trad.<br />

Juan Acuña Llorens. Porto Alegre: Artes Mé-<br />

dicas, 1996.<br />

NAPOLITANO, Marcos. Como usar a televisão<br />

na sala <strong>de</strong> aula. São Paulo: Contexto, 1999.<br />

PONTES, Elicio; COUTINHO, Laura Maria;<br />

SOUSA, Carlos Alberto Lopes <strong>de</strong>. Linguagem<br />

audiovisual e <strong>educação</strong> a distância. In: Co-<br />

munida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Trabalho e Aprendizagem em<br />

Re<strong>de</strong> (CTAR). Amaralina Miranda <strong>de</strong> Souza,<br />

Leda Maria Rangearo Fiorentini, Maria Ale-<br />

xandra Militão Rodrigues (orgs.). 2ª ed. Bra-<br />

sília: Editora UnB, 2010. p. 117-136.<br />

TORNERO, José Manuel Pérez. El <strong>de</strong>safío<br />

educativo <strong>de</strong> la televisión. Barcelona: Paidós,<br />

1994.<br />

33


pGm 3/TexTo 3: <strong>TV</strong> e TemaS educaTiVoS<br />

TeleViSão, <strong>educação</strong> e mulTiculTuraliSmo: ampliando<br />

queSTionamenToS<br />

Antes <strong>de</strong> iniciarmos nossa conversa, trarei<br />

dois conceitos que po<strong>de</strong>rão nos ajudar a re-<br />

fletir acerca do tema - título.<br />

o conceITo <strong>de</strong> culTurA:<br />

"Em sentido antropológico, não falamos<br />

em Cultura, no singular, mas em cultu-<br />

ras, no plural, pois a lei, os valores, as<br />

crenças, as práticas e instituições va-<br />

riam <strong>de</strong> formação social para formação<br />

social. Além disso, <strong>uma</strong> mesma socieda-<br />

<strong>de</strong>, por ser temporal e histórica, passa<br />

por transformações culturais amplas e,<br />

sob esse aspecto, antropologia e Histó-<br />

ria se completam, ainda que os ritmos<br />

temporais das várias socieda<strong>de</strong>s não se-<br />

jam os mesmos, alg<strong>uma</strong>s mudando mais<br />

lentamente e outras mais rapidamente.<br />

A esse sentido histórico-antropológico<br />

amplo, po<strong>de</strong>mos acrescentar um outro,<br />

restrito, ligado ao antigo sentido <strong>de</strong> cul-<br />

tivo do espírito: a Cultura como criação<br />

<strong>de</strong> obras da sensibilida<strong>de</strong> e da imagina-<br />

Azoilda Loretto da Trinda<strong>de</strong> 1<br />

ção, as obras <strong>de</strong> arte, e como criação<br />

<strong>de</strong> obras da inteligência e da reflexão,<br />

as obras do pensamento. É esse segun-<br />

do sentido que leva o senso comum a<br />

i<strong>de</strong>ntificar cultura e escola (<strong>educação</strong><br />

formal), <strong>de</strong> um lado, e, <strong>de</strong> outro lado, a<br />

i<strong>de</strong>ntificar cultura e belas artes (música,<br />

pintura, escultura, dança, literatura, te-<br />

atro, cinema etc.).<br />

Se, porém, reunirmos o sentido amplo<br />

e o sentido restrito, compreen<strong>de</strong>remos<br />

que a cultura é a maneira pela qual os<br />

h<strong>uma</strong>nos se h<strong>uma</strong>nizam por meio <strong>de</strong><br />

práticas que criam a existência social,<br />

econômica, política, religiosa, intelectu-<br />

al e artística.<br />

1 Professora, pedagoga e psicóloga. Doutora em Comunicação e Cultura -ECO-UFRJ.<br />

A religião, a culinária, o vestuário, o<br />

mobiliário, as formas <strong>de</strong> habitação, os<br />

hábitos à mesa, as cerimônias, o modo<br />

<strong>de</strong> relacionar-se com os mais velhos e os<br />

mais jovens, com os animais e com a ter-<br />

ra, os utensílios, as técnicas, as institui-<br />

ções sociais (como a família) e políticas<br />

34


(como o Estado), os costumes diante da<br />

morte, a guerra, o trabalho, as ciências,<br />

a filosofia, as artes, os jogos, as festas,<br />

os tribunais, as relações amorosas, as<br />

diferenças sexuais e étnicas, tudo isso<br />

constitui a Cultura como invenção da<br />

relação com o Outro" 2 .<br />

o conceITo <strong>de</strong> bIos MIdIáTIco:<br />

(…) mídia não como transmissor <strong>de</strong> informa-<br />

ção mas mídia como ambiência, como <strong>uma</strong><br />

forma <strong>de</strong> vida. Mídia como o que o Aristóte-<br />

les chama <strong>de</strong> bios - isto é, a cida<strong>de</strong> investi-<br />

da politicamente. É a sociabilida<strong>de</strong> da polis.<br />

Não é carne, o que chamamos <strong>de</strong> biológico<br />

hoje. Aristóteles fala <strong>de</strong> três bios: do conhe-<br />

cimento, do prazer e da política. Eu <strong>de</strong>screvo<br />

a mídia como o quarto bios, que é o bios mi-<br />

diático, virtual. Da vida como espectro, da<br />

vida como quase presença das coisas. É real,<br />

tudo que se passa ali é real, mas não da mes-<br />

ma or<strong>de</strong>m da realida<strong>de</strong> das coisas 3 .<br />

São os conceitos <strong>de</strong> base para a nossa reflexão<br />

compartilhada. A cultura, no plural, como<br />

história, logo em movimento e em transfor-<br />

mação e criação <strong>de</strong> existências, e o virtual<br />

como real, como quase presença, como algo<br />

que produz vida e interfere na realida<strong>de</strong>, pois<br />

muitas vezes assume o caráter <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>. O<br />

que é produzido pela televisão é real, embora<br />

um real virtual, um real quase realida<strong>de</strong>, um<br />

real produzido na relação com o(a) Outro (a),<br />

um real que produz existências.<br />

Em outras palavras, as questões das múl-<br />

tiplas culturas, das diferenças, por serem<br />

históricas, políticas, econômicas, religiosas,<br />

artísticas, intelectuais e sociais, ainda terão<br />

vida longa. Se, por um lado, vimos um forte<br />

movimento tirando um grupo h<strong>uma</strong>no do<br />

foco hegemônico, grupo que teve por um<br />

longo período sua imagem reinando abso-<br />

luta como imagem padrão, por outro lado,<br />

vimos alg<strong>uma</strong>s significativas permanências<br />

<strong>de</strong>stas imagens nos cenários hegemônicos<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />

Antes <strong>de</strong> mergulharmos um pouco mais nes-<br />

ta reflexão, como cotidianista que preten<strong>de</strong>-<br />

mos ser, sugiro um pequeno exercício <strong>de</strong> ob-<br />

servação, <strong>de</strong> olhar imagens h<strong>uma</strong>nas:<br />

1) Vá a <strong>uma</strong> banca <strong>de</strong> revistas para obser-<br />

var as imagens nas capas das revistas.<br />

Se possível, faça um pequeno levan-<br />

tamento estatístico. O que você vê?<br />

Quais pessoas estão nestas revistas?<br />

Qual o perfil físico, etário, étnico, <strong>de</strong><br />

gênero etc. <strong>de</strong>ssas pessoas?<br />

2) No seu trajeto – <strong>de</strong> casa para qualquer<br />

local – observe se há um outdoor e<br />

2 CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1995. p.295.<br />

3 http://www2.metodista.br/unesco/PCLA/revista9/entrevista%209-1.htm em 31.7.09<br />

35


faça o mesmo levantamento anterior.<br />

3) Agora, vá a um shopping center e, como<br />

um(a) professor(a) pesquisador(a), se<br />

permita um passeio pelas lojas, pelas<br />

livrarias, e pare n<strong>uma</strong> loja <strong>de</strong> brin-<br />

quedos. Aproveite e observe, com o<br />

mesmo roteiro <strong>de</strong> levantamento esta-<br />

tístico dos outros exercícios. Observe<br />

as caixas dos brinquedos e as imagens<br />

das pessoas nelas representadas. Apro-<br />

veite a viagem e observe as bonecas e<br />

os bonecos à venda.<br />

4) Depois <strong>de</strong> tantas observações, nossa<br />

sugestão é que você, em casa, ligue<br />

seu aparelho <strong>de</strong> televisão e passeie<br />

pelos canais, pelas emissoras, pelos<br />

diversos programas, com o mesmo<br />

olhar observador e fazendo o mesmo<br />

levantamento.<br />

O que você observou? O que você viu? Que<br />

conclusão você tirou <strong>de</strong>stas observações?<br />

Vamos a mais <strong>uma</strong> informação, agora, da-<br />

dos do IBGE acerca do censo <strong>de</strong> 2010:<br />

distribuição da população resi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> acordo com os grupos <strong>de</strong> cor ou raça, brasil,<br />

Gran<strong>de</strong>s regiões, 2010 (em % da população)<br />

branca Preta Parda Preta & parda<br />

<strong>Brasil</strong> 47,7 7,6 43,1 50,7<br />

Norte 23,4 6,6 66,9 73,5<br />

Nor<strong>de</strong>ste 29,4 9,5 59,4 69<br />

Su<strong>de</strong>ste 55,2 7,9 35,7 43,6<br />

Sul 78,5 4,1 16,5 20,6<br />

Centro Oeste 41,8 6,7 49,1 55,8<br />

Fonte: IBGE Microdados Censo Demográfico 4 .<br />

Observe que esta representativida<strong>de</strong> não<br />

se encontra nas revistas, nas imagens, nos<br />

brinquedos, nos programas <strong>de</strong> televisão. Por<br />

quê? Tente respon<strong>de</strong>r.<br />

Apresento outro conceito, na esperança <strong>de</strong><br />

provocar nossa reflexão.<br />

4 http://www.laeser.ie.ufrj.br/pdf/tempoEmCurso/TEC%202011-05.pdf<br />

o conceITo <strong>de</strong> rAcIsMo:<br />

(...) o racismo é geralmente abordado a<br />

partir da raça, <strong>de</strong>ntro da extrema varie-<br />

da<strong>de</strong> das possíveis relações existentes<br />

entre as duas noções. Com efeito, com<br />

base nas relações entre “raça” e “racis-<br />

36


mo”, o racismo seria teoricamente <strong>uma</strong><br />

i<strong>de</strong>ologia essencialista que postula a di-<br />

visão da h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong> em gran<strong>de</strong>s gru-<br />

pos chamados raças contrastadas que<br />

têm características físicas hereditárias<br />

comuns, sendo estas últimas suportes<br />

das características psicológicas, morais,<br />

intelectuais e estéticas e se situam n<strong>uma</strong><br />

escala <strong>de</strong> valores <strong>de</strong>siguais. Visto <strong>de</strong>ste<br />

ponto <strong>de</strong> vista, o racismo é <strong>uma</strong> crença<br />

na existência das raças naturalmente<br />

hierarquizadas pela relação intrínseca<br />

entre o físico e o moral, o físico e o inte-<br />

lecto, o físico e o cultural. (...) o racismo<br />

é essa tendência que consiste em consi-<br />

<strong>de</strong>rar que as características intelectuais<br />

e morais <strong>de</strong> um dado grupo são conse-<br />

quências diretas <strong>de</strong> suas características<br />

físicas ou biológicas 5 .<br />

Racismo é <strong>uma</strong> maneira <strong>de</strong> discriminar as pes-<br />

soas baseada em motivos raciais, cor da pele<br />

ou outras características físicas, <strong>de</strong> tal forma<br />

que <strong>uma</strong>s se consi<strong>de</strong>ram superiores a outras.<br />

Portanto, o racismo tem como finalida<strong>de</strong> in-<br />

tencional (ou como resultado) a diminuição ou<br />

a anulação dos direitos h<strong>uma</strong>nos das pessoas<br />

discriminadas. (...) Os atos, valores e sistemas<br />

racistas estabelecem, velada ou abertamente,<br />

<strong>uma</strong> or<strong>de</strong>m hierárquica entre os grupos étni-<br />

cos para justificar as vantagens ou privilégios<br />

gozados pelo grupo que domina 6 .<br />

5 Uma abordagem conceitual das noções <strong>de</strong> raça, racismo, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e etnia. Prof. Dr. Kabengele Munanga<br />

(USP).In: http://www.acaoeducativa.org.br/downloads/09abordagem.pdf<br />

6 Racismo. Thais Pacievitch. In:http://www.infoescola.com/sociologia/racismo/<br />

37


A imagem mostrada na página 37 é para ser<br />

lida e comentada, por seu caráter atual e<br />

por ter sido veiculada num canal <strong>de</strong> televi-<br />

são, em outubro <strong>de</strong> 2011.<br />

MAIs quesTões...<br />

Felizmente, estamos num momento históri-<br />

co <strong>de</strong> reflexões e tentativas <strong>de</strong> romper hege-<br />

monias e exclusões e dar visibilida<strong>de</strong> à nossa<br />

diversida<strong>de</strong> étnico-racial em todos os espa-<br />

ços sociais. E na mídia, na televisão, não é<br />

diferente. Temos inúmeros exemplos <strong>de</strong> tra-<br />

balhos na televisão, no sentido <strong>de</strong> proble-<br />

matizar a exclusão <strong>de</strong> grupos h<strong>uma</strong>nos <strong>de</strong><br />

<strong>uma</strong> visibilida<strong>de</strong> positiva: séries e especiais<br />

do programa Salto para o Futuro, o Projeto A<br />

Cor da Cultura, do Canal Futura, o Programa<br />

Especial da <strong>TV</strong> <strong>Brasil</strong>... Temos alguns exem-<br />

plos <strong>de</strong> <strong>de</strong>s-hierarquização <strong>de</strong> imagens, <strong>de</strong><br />

culturas <strong>de</strong> pessoas na televisão brasileira.<br />

Mas, lamentavelmente, acho que conectar<br />

nossa televisão com o racismo não é algo<br />

absurdo.<br />

Não é redundância dizer que a televisão é<br />

feita por seres h<strong>uma</strong>nos e para seres h<strong>uma</strong>-<br />

nos e seres h<strong>uma</strong>nos estão imersos num<br />

universo cultural, logo, imersos nas tramas<br />

sociais do seu tempo. Sendo assim, <strong>uma</strong> so-<br />

cieda<strong>de</strong> racista, machista, exclu<strong>de</strong>nte tem<br />

<strong>uma</strong> televisão neste contexto. Felizmente,<br />

o paradoxo, a diversida<strong>de</strong>, a diferença tam-<br />

7 http://www.netmarkt.com.br/frases/nelsonman<strong>de</strong>la.html<br />

bém fazem parte da nossa socieda<strong>de</strong>. E nos-<br />

sa televisão, ainda que muito aquém do ne-<br />

cessário, cria e recria outras possibilida<strong>de</strong>s<br />

além do racismo e da hierarquização das<br />

diferenças h<strong>uma</strong>nas.<br />

E como educadoras e educadores no seu<br />

sentido amplo, como po<strong>de</strong>mos fazer?<br />

Respostas são nossos <strong>de</strong>safios. Além da con-<br />

vicção <strong>de</strong> que apren<strong>de</strong>r a reler o mundo é<br />

<strong>uma</strong> boa pista, temos outras como: apren-<br />

<strong>de</strong>r e praticar a ação <strong>de</strong> ver beleza on<strong>de</strong><br />

antes sequer víamos existência; apren<strong>de</strong>r e<br />

praticar a ação <strong>de</strong> criticar o que é visto e<br />

apresentado na televisão; apren<strong>de</strong>r e pra-<br />

ticar a ação <strong>de</strong> produzir imagens coletiva-<br />

mente; apren<strong>de</strong>r e praticar o ato <strong>de</strong> fazer<br />

excursões <strong>de</strong> olhar o mundo... Deixo outra<br />

pista, anunciada por Nelson Man<strong>de</strong>la:<br />

Ninguém nasce odiando outra pessoa<br />

pela cor <strong>de</strong> sua pele, por sua origem ou<br />

ainda por sua religião. Para odiar, as<br />

pessoas precisam apren<strong>de</strong>r e, se po<strong>de</strong>m<br />

apren<strong>de</strong>r a odiar, po<strong>de</strong>m ser ensinadas<br />

a amar 7 .<br />

Com o olhar <strong>de</strong> professora e, mais amplia-<br />

damente, <strong>de</strong> educadora em constante for-<br />

mação, pois o processo <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r não<br />

para, e ainda com um forte sentimento <strong>de</strong><br />

perplexida<strong>de</strong> diante do trajeto pendular em<br />

38


que po<strong>de</strong> o ser h<strong>uma</strong>no transitar, o que me<br />

aciona é a pouca esperança em relação à<br />

televisão hegemônica, lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> audiência,<br />

e aos que teimam em imitá-la. Filio-me ao<br />

que, como educadora, creio ser fundamen-<br />

tal: A CRENÇA NA CAPACIDADE DE MUDAN-<br />

ÇA, DE APRENDIZAGEM NOSSA E DO OUTRO<br />

SER HUMANO.<br />

Sendo assim,<br />

• se somos manipuláveis e manipuladores,<br />

po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser;<br />

• se somos reprodutores e produtores <strong>de</strong><br />

racismos, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser;<br />

• se somos capazes <strong>de</strong> invisibilizar os seres<br />

h<strong>uma</strong>nos na sua diversida<strong>de</strong> potente, na-<br />

turalizando as injustiças sociais, po<strong>de</strong>mos<br />

reapren<strong>de</strong>r a ver e dar a ver imagens sub-<br />

mersas, que revelam essa rica h<strong>uma</strong>ni-<br />

da<strong>de</strong> com seus direitos sociais, políticos,<br />

h<strong>uma</strong>nos;<br />

• se somos alienados e alienadores, po<strong>de</strong>-<br />

mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser;<br />

• se, por um lado, vivemos num mundo da vir-<br />

tualida<strong>de</strong>, por outro, po<strong>de</strong>mos reapren<strong>de</strong>r a<br />

ver, sentir, tocar, cheirar, perceber com os<br />

nossos sentidos, conhecer, reconhecer, visi-<br />

bilizar h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong>s, h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong>s novas,<br />

diversas, múltiplas e concretas.<br />

Afinal, um outro mundo é possível, outras<br />

imagens são possíveis, a Vida na sua ampli-<br />

tu<strong>de</strong> e riqueza TEM que ser possível. E a tele-<br />

visão, a mídia, a escola e os espaços educati-<br />

vos não po<strong>de</strong>m ficar <strong>de</strong> fora <strong>de</strong>sta revolução!<br />

39


Presidência da república<br />

Ministério da <strong>educação</strong><br />

secretaria <strong>de</strong> <strong>educação</strong> básica<br />

<strong>TV</strong> escolA/ sAlTo PArA o fuTuro<br />

coor<strong>de</strong>nação-geral da <strong>TV</strong> escola<br />

Érico da Silveira<br />

coor<strong>de</strong>nação Pedagógica<br />

Maria Carolina Mello <strong>de</strong> Sousa<br />

supervisão Pedagógica<br />

Rosa Helena Mendonça<br />

Acompanhamento Pedagógico<br />

Ana Maria Miguel<br />

coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> utilização e Avaliação<br />

Mônica Mufarrej<br />

Fernanda Braga<br />

copi<strong>de</strong>sque e revisão<br />

Magda Frediani Martins<br />

diagramação e editoração<br />

Equipe do Núcleo <strong>de</strong> Produção Gráfica <strong>de</strong> Mídia Impressa – <strong>TV</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Gerência <strong>de</strong> Criação e Produção <strong>de</strong> Arte<br />

consultoras<br />

Laura Maria Coutinho e Rosa Helena Mendonça<br />

e-mail: salto@mec.gov.br<br />

Home page: www.tvbrasil.org.br/salto<br />

rua da relação, 18, 4o andar – centro.<br />

ceP: 20231-110 – rio <strong>de</strong> janeiro (rj)<br />

novembro/<strong>de</strong>zembro 2011<br />

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