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Mas voltemos às relações mútuas entre os cidadãos.<br />
O mais idoso, como já o disse, preside a família. As mulheres servem a seus maridos; as crianças, a<br />
seus pais e mães; os mais jovens, aos mais velhos.<br />
A cidade inteira se divide em quatro quarteirões iguais. No centro de cada quarteirão, encontra-se o<br />
mercado das coisas necessárias à vida. São depositados aí os diferentes produtos do trabalho de todas as<br />
famílias. Esses produtos, depositados primeiramente nos entrepostos, são em seguida classificados nas<br />
lojas de acordo com sua espécie.<br />
Cada pai de família vai procurar no mercado aquilo de que tem necessidade para si e os seus. Tira o que<br />
precisa sem que seja exigido dele nem dinheiro nem troca. Jamais se recusa alguma coisa aos pais de<br />
família. A abundância sendo extrema, em todas as coisas, não se teme que alguém tire além de sua<br />
necessidade. De fato, aquele que tem a certeza de que nada faltará jamais, não procurará possuir mais do<br />
que é preciso. O que torna, em geral, os animais cúpidos e rapaces, é o temor das privações no futuro. No<br />
homem em particular, existe uma outra causa de avareza - o orgulho, que o excita a ultrapassar em<br />
opulência os seus iguais e a deslumbrá-los pelo aparato de um luxo supérfluo. Mas as instituições utopianas<br />
tornam este vício impossível.<br />
Os mercados de que acabo de falar estão juntos dos mercados de comestíveis, onde se depositam os<br />
legumes, as frutas, o pão, o peixe, as aves domésticas e as partes de se comer dos animais quadrúpedes.<br />
Fora da cidade, existem os matadouros onde se abatem os animais destinados ao consumo. Esses<br />
matadouros são mantidos sempre limpos graças a correntes de água que arrastam •o sangue e as<br />
imundícies dos animais. É daí que é levada ao mercado a carne limpa e retalhada pelas mãos dos<br />
escravos: pois a lei proíbe aos cidadãos o ofício de carniceiro, temerosa que o hábito da matança destrua<br />
pouco a pouco o sentimento de humanidade, o sentimento mais nobre do coração do homem. Esses<br />
açougues são situados fora da cidade no intuito de evitar também aos cidadãos um espetáculo hediondo, ao<br />
mesmo tempo que desembaraça a cidade das sujeiras e matérias animais cuja putrefação poderia provocar<br />
moléstias.<br />
Em cada rua amplos palácios estão dispostos a igual distância, distinguindo-se uns dos outros por<br />
nomes particulares. É aí que moram os sifograntes; suas trinta famílias estão alojadas nos dois lados,<br />
quinze à direita e quinze à esquerda; é no palácio do sifogrante que elas vão fazer as refeições em comum.<br />
Os provedores se reúnem no mercado a uma hora fixa e requerem uma quantidade de víveres<br />
proporcional ao número de bocas que têm de nutrir. Começa-se sempre por servir os doentes, que são<br />
alojados em enfermarias públicas.<br />
Em torno da cidade e um pouco além de seus muros estão situados quatro hospitais de tal forma<br />
espaçosos, que poderiam ser tomados por quatro burgos consideráveis. Evita-se assim a acumulação e o<br />
atravancamento dos doentes, inconvenientes que retardam a cura; além disto, quando um homem é<br />
atingido por uma moléstia contagiosa, pode-se isolá-lo completamente. Esses hospitais possuem com<br />
abundância todos os remédios e todas as coisas necessárias ao restabelecimento da saúde. Os doentes<br />
são aí tratados com um cuidado afetuoso e assíduo, sob a direção dos mais hábeis médicos. Ninguém é<br />
obrigado a ir para lá; entretanto, não há quem, em caso de doença, não prefira tratar-se no hospital do que<br />
em sua casa.<br />
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