A mistificação das massas: os operadores da indústria cultural na ...
A mistificação das massas: os operadores da indústria cultural na ...
A mistificação das massas: os operadores da indústria cultural na ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
De acordo com Aristóteles, a tragédia grega, ao suscitar terror e pie<strong>da</strong>de, tem por<br />
efeito à purificação dessas emoções. “É a tragédia a representação de uma ação grave, de<br />
alguma extensão e completa, em linguagem exor<strong>na</strong><strong>da</strong>, ca<strong>da</strong> parte com o seu atavio adequado,<br />
com atores agindo, não <strong>na</strong>rrando, a qual, inspirando pe<strong>na</strong> e temor, opera a catarse própria<br />
dessas emoções” (ARISTOTELES, HORÁCIO e LONGINO, 2005, p. 24). Dessa forma, a<br />
catarse produziria uma espécie de purgação – ou purificação – através <strong><strong>da</strong>s</strong> emoções. No<br />
âmbito <strong>da</strong> cultura de massa, a catarse está associa<strong>da</strong> à intensificação do “valor de uso”. Em<br />
outras palavras, esta relacio<strong>na</strong><strong>da</strong> à “capaci<strong>da</strong>de de, mediante estímul<strong>os</strong> ca<strong>da</strong> vez mais feéric<strong>os</strong>,<br />
produzir uma espécie de purgação” (DUARTE, 2010, p. 56).<br />
Para Adorno e Horkheimer, o significado de catarse está ligado ao modo como a<br />
<strong>indústria</strong> cultura enfoca a sexuali<strong>da</strong>de, o prazer e o divertimento. Se <strong>na</strong> tragédia grega a<br />
catarse dependia <strong>da</strong> provocação do “temor e compaixão” no espectador, <strong>na</strong> <strong>indústria</strong> <strong>cultural</strong><br />
ela ocorre como uma espécie de higiene espiritual pura e simples. Se para Aristóteles a<br />
ver<strong>da</strong>deira tragédia autentica conseguia produzir a catarse, para <strong>os</strong> filósof<strong>os</strong> alemães não há<br />
mais individuali<strong>da</strong>des fortes, com <strong>os</strong> quais o espectador se identifica. “A purificação <strong><strong>da</strong>s</strong><br />
paixões agora é realiza<strong>da</strong> pela diversão, perdendo a dimensão libertadora que era marca<br />
registra<strong>da</strong> <strong>da</strong> catarse <strong>na</strong> tragédia grega” (DUARTE, 2002, p. 42). Em suma, se por um lado a<br />
cultura industrializa<strong>da</strong> diverte, por outro lado ela o faz <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que apaga o sofrimento<br />
cobrado para o funcio<strong>na</strong>mento <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />
A fusão atual <strong>da</strong> cultura e do entretenimento não se realiza ape<strong>na</strong>s como<br />
depravação <strong>da</strong>quela, mas sim como espiritualização força<strong>da</strong> deste (...). A<br />
inferiori<strong>da</strong>de, a forma subjetivamente limita<strong>da</strong> <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, sempre foi, mais<br />
do que se imagi<strong>na</strong>, sujeita a<strong>os</strong> padrões extern<strong>os</strong>. A <strong>indústria</strong> cultura reduz a<br />
mentira patente. Escuta-lhe somente como retórica aceita a modo de<br />
acréscimo pen<strong>os</strong>amente agradável, n<strong>os</strong> Best Sellers, religi<strong>os</strong><strong>os</strong>, n<strong>os</strong> filmes<br />
psicológic<strong>os</strong> e n<strong>os</strong> wolmen serials. Tal se dá para que ela p<strong>os</strong>sa domi<strong>na</strong>r,<br />
com maior segurança, <strong>na</strong> vi<strong>da</strong>, <strong>os</strong> própri<strong>os</strong> impuls<strong>os</strong> human<strong>os</strong>. Nesse<br />
sentido, a diversão realiza a purificação <strong><strong>da</strong>s</strong> paixões, a catarse que já<br />
Aristóteles atribuía à tragédia (...). Assim como no estilo, a <strong>indústria</strong> cultura<br />
descobre a ver<strong>da</strong>de mesmo <strong>na</strong> catarse (ADORNO e HORKHEIMER, 2002,<br />
p. 40 e 41).<br />
Outro tema relacio<strong>na</strong>do com o trágico é o do “ser genérico”. Segundo Rodrigo Duarte,<br />
esse termo era usado por Marx para desig<strong>na</strong>r o individuo que representa de modo privilegiado<br />
o gênero ao qual pertence (DUARTE, 2010). Nesse caso, o ser genérico seria o valor<br />
exemplar <strong><strong>da</strong>s</strong> atitudes assumi<strong><strong>da</strong>s</strong> pelo herói, reconciliando assim o individuo com a totali<strong>da</strong>de.<br />
Essa reconciliação passa pelo sacrifício <strong>da</strong> integri<strong>da</strong>de física do herói. Apareceria, assim, o<br />
Ano VII, n. 9 – Setembro/2011<br />
12