18.04.2013 Views

A PRISÃO DE SÃO BENEDITO e outras histórias Luiz ... - O Caixote

A PRISÃO DE SÃO BENEDITO e outras histórias Luiz ... - O Caixote

A PRISÃO DE SÃO BENEDITO e outras histórias Luiz ... - O Caixote

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

enquanto corríamos desembestados pela rua:<br />

− Pompéia é a rapariga de tua mãe, filho de quenga!<br />

Íamos para Pirangi com a certeza de que seríamos mais<br />

felizes ainda quando estivéssemos tomando banho, e que a água<br />

estaria morna de tanto sol.<br />

No fim da rua, começava o arruado da Usina 13 de Maio,<br />

sem calçamento e empoeirado. As casinhas dos operários, iguais<br />

e brancas, faziam uma linha que a gente acompanhava com os<br />

olhos e ficava pensando quão misteriosas eram as últimas<br />

moradas daquela fileira, já distantes e pequenas aos nossos<br />

olhos. A vantagem é que a gente estava indo para lá,<br />

desencantar aquele mistério e aumentar a nossa felicidade.<br />

À direita, o arruado; à esquerda, a usina e sua chaminé.<br />

No meio, íamos nós. Íamos para Pirangi e levantávamos a<br />

cabeça para enxergarmos as matas e os canaviais que<br />

compunham o horizonte. Caçadores de uma expedição sem<br />

surpresas, caminheiros de uma estrada inúmeras vezes batida,<br />

andejos de uma aventura, tão bonita, que lamentávamos ser<br />

curto o dia para gozá−la.<br />

Depois da usina, vinha a casa rica do usineiro, castelo<br />

enfeitado e rodeado de flores. Daríamos tudo para entrarmos ali,<br />

só para vermos se por dentro era do jeito que o povo dizia e a<br />

gente nem conseguia imaginar. Dali para frente, depois do<br />

Engenho Bom Destino, a gente já começava a escutar o barulho<br />

das corredeiras, a doce música das águas. E de olhos pros lados<br />

e pra trás, porque de vez em quando aparecia um boi brabo, e<br />

era uma carreira das pernas baterem na bunda.<br />

A ponte ficava logo depois de uma curva que a linha do<br />

trem da usina fazia. Linda, imponente, gigantesca, pintada de<br />

encarnado. O seu gradeado lateral enchia os nossos olhos de<br />

meninos e nos dava a certeza de que realmente íamos aumentar<br />

a nossa felicidade.<br />

O lajedo ficava repleto de roupas que as lavadeiras<br />

punham para quarar. Era um formigueiro de mulheres e crianças<br />

batendo roupas nas pedras. Que vista mais linda! Que espetáculo<br />

8

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!