18.04.2013 Views

Anais (ISBN 978-85-7192-814-5) - Instituto de Ciências Humanas ...

Anais (ISBN 978-85-7192-814-5) - Instituto de Ciências Humanas ...

Anais (ISBN 978-85-7192-814-5) - Instituto de Ciências Humanas ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

VI Encontro Regional Sul <strong>de</strong> História Oral: Narrativas, Fronteiras e I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<br />

Essa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> captar a fala, <strong>de</strong> tentar manter sua musicalida<strong>de</strong><br />

própria quando transcrita, é também uma das preocupações que perpassa<br />

o trabalho dos historiadores orais, e constitui-se um dos principais<br />

problemas da historia oral, uma história que se diz oral, mas que se faz por<br />

escrito. Ainda que preocupados em transcrever <strong>de</strong> forma a tornar o escrito<br />

o mais próximo possível da fala, o texto transcrito é em muitos casos<br />

“limpo”, ou seja, as repetições e os erros <strong>de</strong> português que não são<br />

consi<strong>de</strong>rados necessários à compreensão da narrativa são corrigidos, bem<br />

como, na maioria dos casos, torna-se necessário adaptar um sistema <strong>de</strong><br />

normas para o melhor entendimento da narrativa, colocando entre<br />

parentes ou colchetes <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> gestos, silêncios, risos, etc. Sobre tais<br />

esquemas adaptativos, Albuquerque Junior (2007, p. 229 e 233),<br />

questiona:<br />

O que vai restar do oral no escrito? Olho para o gravador, on<strong>de</strong> ficam os<br />

gestos que acompanham as falas? Posso, no entanto, colocar entre<br />

parênteses a palavra risos, ou a palavra lágrimas, mas po<strong>de</strong>rei colocar a<br />

palavra gozo? E porque os gestos ficam entre parênteses? Será que na fala<br />

as emoções po<strong>de</strong>m ocupar este lugar à parte?<br />

A preocupação em nada per<strong>de</strong>r na transposição do oral para o<br />

escrito estava presente no trabalho <strong>de</strong> Cascaes, angustiado em registrar “o<br />

modo <strong>de</strong> contar das pessoas”. Contudo, para ele tudo parecia bem mais<br />

simples, ou seja, aquilo que não era anotado e transcrito ficava registrado<br />

em sua memória: “eu tenho vários ca<strong>de</strong>rnos iguais a esse aqui cheio <strong>de</strong><br />

apontamentos, e outros em pedacinhos <strong>de</strong> papel. Não me esqueço do<br />

local, da fisionomia da pessoa, daquela hora, fica aí gravado na minha<br />

memória” (CASCAES apud CARUSO, 2008, p. 37 e 51).<br />

Cascaes, como os historiadores, trabalhava conjuntamente com<br />

seus entrevistados na busca <strong>de</strong> sentidos para o passado. De acordo com o<br />

personagem:<br />

Eu conversava com as pessoas, ficava escutando muito e escrevia tudo em<br />

muitas folhas que eu levava naquelas pastas <strong>de</strong> couro que o senhor po<strong>de</strong><br />

ver em cima do armário. Sempre escrevendo. Ontem mesmo uma moça<br />

esteve aqui e me perguntou como é que eu escrevia aquelas histórias. Eu<br />

não encontrei na Ilha pessoas que tivessem cultura vasta, mas sim pessoas<br />

muito simples que contavam essas histórias. Elas contavam pedacinhos,<br />

coisas truncadas. Eu anotava num ca<strong>de</strong>rno: fulano contou assim, assim,<br />

assim e <strong>de</strong>pois vinha para casa, e aqui <strong>de</strong>ssa mesa aqui eu fazia a montagem<br />

(CASCAES apud CARUSO, 1998, p. 23).<br />

112 [anais]

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!