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Anais (ISBN 978-85-7192-814-5) - Instituto de Ciências Humanas ...

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VI Encontro Regional Sul <strong>de</strong> História Oral: Narrativas, Fronteiras e I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<br />

algumas das inúmeras práticas culturais cotidianas <strong>de</strong>senvolvidas pelo<br />

grupo.<br />

Cabe evi<strong>de</strong>nciar, que estas práticas não po<strong>de</strong>m ser pensadas <strong>de</strong><br />

forma isolada ou como característica apenas <strong>de</strong>ste grupo. A reprodução do<br />

grupo e <strong>de</strong> sua cultura são indissociáveis, portanto, “não se po<strong>de</strong>m isolar<br />

práticas culturais (como a benzedura e a utilização <strong>de</strong> chás, por exemplo) e<br />

analisar o grau <strong>de</strong> difusão como comprovativo da especificida<strong>de</strong> ou não do<br />

grupo” (Anjos, 2008, p.176). Não se comprova a peculiarida<strong>de</strong> do grupo<br />

através da análise do grau <strong>de</strong> difusão <strong>de</strong> suas práticas cotidianas. “É no<br />

modo como as práticas se integram no todo do sistema <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong><br />

territorialmente fundado que a especificida<strong>de</strong> se manifesta”. (Anjos, 2008,<br />

p.176). Assim, o que está em jogo, não é o grau <strong>de</strong> difusão <strong>de</strong> tais práticas,<br />

ou a tentativa que acarretaria no erro <strong>de</strong> enquadrá-las como<br />

características apenas dos quilombolas, mas sim, perceber a singularida<strong>de</strong><br />

da utilização <strong>de</strong>las pelo grupo, a forma diferenciada com que tais práticas<br />

se corporificam em sua cultura.<br />

A matriarca da família Erocilda dos Santos, 78 anos, é oriunda <strong>de</strong><br />

outra comunida<strong>de</strong> negra, o Sítio Novo/Linha Fão localizado em Arroio do<br />

Tigre/ RS. A história da comunida<strong>de</strong> do Sítio Novo/Linha Fão se entrelaça<br />

com a história agrária do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Em um período posterior a<br />

abolição da escravidão, <strong>de</strong> acordo com relatos dos membros das duas<br />

comunida<strong>de</strong>s, Pedro Simão, um gran<strong>de</strong> proprietário da região, cujos<br />

ancestrais <strong>de</strong> Erocilda dos Santos haviam sido escravos, teria doado uma<br />

parcela <strong>de</strong> suas terras para essa família negra. Não po<strong>de</strong>mos precisar a<br />

intenção <strong>de</strong> Pedro Simão no ato da doação, porém cabe lembrar que a<br />

prática <strong>de</strong> conce<strong>de</strong>r pequenos lotes, ou áreas nas extremida<strong>de</strong>s da<br />

proprieda<strong>de</strong> para que agregados estabelecessem “postos”, foi recorrente<br />

durante a escravidão, como também em períodos posteriores. Essa prática<br />

consistia em um mecanismo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa das áreas limítrofes da fazenda,<br />

como também fornecimento <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra barata e alimentos (Zarth,<br />

1997, p. 169).<br />

No Planalto rio-gran<strong>de</strong>nse no qual as duas comunida<strong>de</strong>s fazem<br />

parte, em finais do século XIX a agricultura recebeu um significativo<br />

impulso. A construção da ferrovia possibilitando o acesso a importantes<br />

mercados agrícolas do sul, aliado a extensas áreas <strong>de</strong>volutas, ou postas a<br />

venda por preços irrisórios atraiu para região imigrantes estrangeiros e<br />

agricultores provenientes <strong>de</strong> outras partes do Estado. Com a expansão<br />

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