Aleijadinho - Academia Brasileira de Letras
Aleijadinho - Academia Brasileira de Letras
Aleijadinho - Academia Brasileira de Letras
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Anunciação<br />
Havia uma velha esperando o tempo<br />
e a criança acreditando no amanhã.<br />
Um pássaro espalhava penas pelo ar<br />
pousado no galho sem folhas e longe <strong>de</strong> seu ninho.<br />
Havia pólen e sêmen por todo canto<br />
e uma rosa ao sol<br />
gotejava orvalho, irrigando a terra.<br />
Havia um olho <strong>de</strong>scortinando o mundo<br />
e água solta a inundar sauda<strong>de</strong>s.<br />
A face voltada escondia a tristeza<br />
enquanto a mulher se <strong>de</strong>itava na relva<br />
à espera <strong>de</strong> tudo.<br />
Havia o amplexo <strong>de</strong> renovação<br />
numa procura <strong>de</strong>sesperada:<br />
a natureza abriu-se em todos os recônditos<br />
na soberba anunciação <strong>de</strong> um novo amor.<br />
Uma lembrança<br />
Em 20/9/1973.<br />
Olhos <strong>de</strong> madressilvas selvagens<br />
em noites <strong>de</strong> <strong>de</strong>samor:<br />
soluços em represa <strong>de</strong> lágrimas contidas.<br />
Braços que se erguem na cruz do <strong>de</strong>salento<br />
164<br />
George Tavares