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Prólogo<br />
No seu sonho, Jess estava de pé no caminho à beira da floresta. À sua<br />
frente, os carvalhos antigos e nodosos e os freixos mais altos e imponentes<br />
recortavam-se, maciças silhuetas, na noite de luar. Atrás, a quinta<br />
da irmã, em pedra caiada de branco, jazia adormecida no silêncio cálido<br />
da noite de Verão, banhada pela luz da Lua, a fragrância doce dos vasos<br />
de lavanda e alecrim fundindo-se no ar parado com a do tomilho bravo<br />
da montanha.<br />
– Onde estás? – A voz da criança, nítida no silêncio, vinha do fundo<br />
do arvoredo. – Ainda estamos a jogar?<br />
Em resposta, as folhas das árvores suspiraram na brisa delicada.<br />
– Quem está aí?<br />
Jess deu um passo na direcção da floresta. Do lugar onde se encontrava,<br />
não conseguia ver o trilho que conduzia às suas profundezas.<br />
Ninguém respondeu.<br />
Aproximou-se das árvores.<br />
– Estás aí?<br />
Uma súbita corrente de ar frio beliscou-lhe a pele e ela sentiu o<br />
corpo estremecer.<br />
Atrás de si, a casa permanecia em silêncio. As janelas, sem luz.<br />
Segundos antes, tivera consciência da presença de pessoas ali, a dormir.<br />
A irmã. Os amigos da irmã. Os seus próprios amigos. Agora, na lógica<br />
serena do sonho, sabia que a casa estava deserta. As janelas sem cortinas<br />
eram olhos esbugalhados e vazios, a lareira um fogo extinto.<br />
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