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FACULDADE SETE DE SETEMBRO– FASETE<br />

LICENCIATURA PLENA EM LETRAS<br />

HABILITAÇÃO EM PORTUGUÊS E INGLÊS<br />

ROSIMEIRE NUNES DE SOUZA BARROS<br />

PRECONCEITO E HIPOCRISIA EM O MULATO DE<br />

ALUÍSIO DE AZEVEDO<br />

PAULO AFONSO<br />

DEZEMBRO / 2009


ROSIMEIRE NUNES DE SOUZA BARROS<br />

PRECONCEITO E HIPOCRISIA EM O MULATO DE<br />

ALUÍSIO DE AZEVEDO<br />

PAULO AFONSO<br />

DEZEMBRO /2009.2<br />

Monografia apresentada como prérequisito<br />

para a conclusão do curso<br />

de Licenciatura em Letras com<br />

Habilitação em Português e Inglês,<br />

da Faculdade Sete de Setembro -<br />

FASETE. Sob a orientação da<br />

profª. Ms. Maria do Socorro Pereira<br />

de Almeida.


FASETE - FACULDADE SETE DE SETEMBRO<br />

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM LETRAS<br />

HABILITAÇÃO – PORTUGUÊS / INGLÊS<br />

PARECE DA COMISSÃO EXAMINADORA<br />

DE DEFESA DE MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO DE<br />

ROSIMEIRE NUNES DE SOUZA BARROS<br />

“PRECONCEITO E HIPOCRISIA EM O MULATO DE<br />

ALUÍSIO DE AZEVEDO”<br />

A comissão examinadora, composta pelos professores abaixo, sob a presidência da<br />

primeira, considera a discente ROSIMEIRE NUNES DE SOUZA BARROS<br />

APROVADA.<br />

Paulo Afonso, 02 de dezembro de 2009.<br />

______________________________________________________<br />

Profa. Maria do Socorro Pereira de Almeida, Mestre (Orientadora).<br />

_______________________________________________________<br />

Profa. Isa Ursole Bezerra de Brito, Especialista.<br />

_______________________________________________________<br />

Prof. Sávio Roberto Fonseca de Freitas, Mestre.


DEDICATÓRIA<br />

Dedico este estudo à minha mãe Carmelita; ao meu pai Raimundo; ao meu padrasto<br />

Henrique; aos meus irmãos; Reginaldo e Amilton; às minhas irmãs, Aires, Rosineide<br />

Rosileide e Rosilene; aos meus sobrinhos; sobrinhas e afilhadas; ao meu esposo,<br />

Adriano; à minha cunhada Renata; aos meus amigos, Gilvan e Raquel pelo carinho<br />

e incentivo; às minhas amigas, Luciana e Maria Lúcia pelo companheirismo, parceria<br />

e amizade ao longo desses quatro anos; as minhas amigas, Adriana Nóia e<br />

Alexandra Márcia; aos meus amigos e colegas de classe; aos meus amigos de<br />

trabalho; à minha orientadora Socorro Almeida; aos professores da FASETE; à<br />

minha professora do colegial, Gorete e a todos que contribuíram direta e<br />

indiretamente para a concretização desse objetivo.


AGRADECIMENTO<br />

Agradeço a realização deste trabalho monográfico primeiramente a Deus, nosso<br />

divino criador, que me permitiu, me iluminou e me deu forças para conclusão de<br />

mais uma etapa em minha vida;<br />

Aos meus pais Carmelita e Henrique pelo amor, carinho, dedicação, incentivo que<br />

sempre me deram;<br />

Aos meus irmãos, Aires, Amilton, Reginaldo, Rosineide, Rosileide e Rosilene, bem<br />

como toda a minha família que me amparou com amor e carinho. Destacando minha<br />

irmã, Rosineide e o seu esposo, Claudionor pela hospitalidade em me receberem<br />

em sua residência nos momentos delicados dessa jornada;<br />

Aos meus sobrinhos, Tiago, Cecília e Ayslan, Arthur, Hebert e Daniela que, de certa<br />

forma, me auxiliaram na construção desse trabalho;<br />

Ao meu esposo, Adriano por sua colaboração, compreensão e paciência durante<br />

esses quatro anos em que, de certa forma, estive um pouco ausente.<br />

À minha sogra, Geruzia e a minha cunhada, Renata pela disponibilidade e por me<br />

concederem seus equipamentos eletrônicos nos momentos difíceis em que os meus<br />

não corresponderam..<br />

Aos meus amigos, o casal Gilvan e Raquel pelo incentivo, apoio e carinho;<br />

Às minhas amigas de faculdade Carmilândia, Cleide, Ezilva, Fabrícia, Josimário,<br />

Luana, Luciana, Maria Lúcia, Marivania, Maurício, Valdirene e a todos meus colegas<br />

de classe pela colaboração e pelos bons momentos;


Às minhas amigas Nivaneide, Fábia, Mara, Normélia e Adriana dos Santos e a todos<br />

meus colegas de trabalho; aos Srs. Sebastião e Ronnie Leandro de Morais pela<br />

oportunidade e compreensão.<br />

A todos os professores do curso de letras desde início ao término contribuíram para<br />

o meu crescimento acadêmico, pessoal e profissional.<br />

À professora Sandra Silva, responsável por despertar -me o interesse e gosto pela<br />

literatura; aos professores Kárpio Siqueira e Sandra Marcula pelas palavras de<br />

confiança e estímulo.<br />

Em especial à professora Socorro Almeida, peça fundamental para a conclusão<br />

deste trabalho monográfico, que mesmo assoberbada de compromissos se dispôs a<br />

me orientar, me encorajando e incentivando a alcançar este objetivo;<br />

A todos os colaboradores desta instituição, Senhor Adelmo, Gilson, Virgínia, Camila<br />

e Senhor Domingos por sempre me receberem com carinho e respeito.<br />

À FASETE pelo curso de Letras, que me proporcionou um leque de conhecimentos.<br />

A todos, os meus sinceros agradecimentos!


“Através da concepção artística, a<br />

verdade real deforma-se para se tornar<br />

verdade artística”<br />

(Fidelino de Figueiredo)


RESUMO<br />

O presente trabalho monográfico evidenciará a representação do preconceito e da<br />

hipocrisia social, especialmente a condição do negro no século XIX, no romance “O<br />

mulato”, de Aluísio Azevedo, o autor nos traz a realidade do negro perante a<br />

sociedade maranhense de seu tempo e que se reflete na contemporaneidade. Para<br />

melhor compreensão e realização desta pesquisa fez-se necessário desmembrá-la<br />

em três capítulos: O Romance Realista do Século XIX; A Biografia do Autor; e a<br />

análise do romance O Mulato. Percebemos que o autor denuncia uma cidade<br />

repleta de preconceitos, uma religião corrompida e uma sociedade gananciosa,<br />

assim o romance passa a ser um objeto de combate a esses aspectos repugnantes<br />

da nossa realidade.<br />

Palavra-chave: Preconceito Racial, O Mulato, Hipocrisia, Narrativa, Aluísio<br />

Azevedo.


ABSTRACT<br />

The present monographic work will evidence the representation of the prejudice and<br />

the social hypocrisy, especially the condition of the black people in the XIX century,<br />

in the romance “O Mulato”, written by Aluísio Azevedo, the author shows the reality<br />

of the black people before the maranhense society of that time and that it is reflected<br />

in the contemporaneity. For a better understanding and accomplishment of this<br />

research it was necessary to disband it in three chapters: The Realistic Romance of<br />

the XIX Century; The Biography of the Author; and the analysis of the romance “O<br />

Mulato”. We perceive that the author denounces a city which is replete of prejudice, a<br />

corrupted religion and a greedy society, thus the romance starts to be an object of<br />

combat to these disgusting aspects of our reality.<br />

Keywords: Racial prejudice, “O Mulato”, hypocrisy, Narrative, Aluísio Azevedo.


SUMÁRIO<br />

INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 10<br />

1 - ROMANCE REALISTA DO SÉCULO XIX<br />

1.1 - CONTEXTO HISTÓRICO ............................................................................... 13<br />

1.2 - AS FORÇAS FILOSÓFICAS QUE EMBASARAM O PERÍODO...................... 15<br />

1.3 - O ROMANCE REALISTA BRASILEIRO ......................................................... 19<br />

1.4 - O COMPROMISSO COM A REALIDADE .........................................................23<br />

1.5 - A TRAMA REALISTA........................................................................................ 24<br />

1.6- A REPRESENTAÇÃO DO HOMEM E DA MULHER NO REALISMO DE<br />

SÉCULO XIX ...........................................................................................................27<br />

2 - ALUÍSIO AZEVEDO: ESTILO E ESTÉTICA<br />

2.1 - VIDA ................................................................................................................ 33<br />

2.2 - OBRAS ............................................................................................................. 36<br />

2.3 - ESTILO E ESTÉTICA ....................................................................................... 38<br />

3 - DESVENDANDO O ROMANCE O MULATO<br />

3.1- PRECONCEITO E HIPOCRISIA SOCIAL EM O MULATO ................................. 42<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 51<br />

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 53<br />

ANEXOS .................................................................................................................. 54


INTRODUÇÃO<br />

Pretende-se através da leitura do romance O Mulato, de Aluísio de Azevedo, revelar<br />

como era a sociedade no final do século XIX. Azevedo retrata através da literatura,<br />

uma cidade tradicionalista, hipócrita e preconceituosa. Com base nessa tese<br />

despertou–se o interesse de aliar-se a obra Azevediana para desvendar as<br />

mazelas sociais da época, que trazem o mestiço como figura central. Trata-se de<br />

uma pesquisa bibliográfica feita a partir de livros e sites da internet.<br />

À título de melhor compreensão do tema em questão, esse trabalho monográfico foi<br />

divido em três capítulos. No primeiro, abordaremos como era o romance<br />

realista/naturalista da época, abrangendo vários aspectos como o contexto histórico,<br />

as forças filosóficas que embasaram o período naturalista, o romance Realista<br />

Brasileiro, o compromisso com a realidade, a trama realista e a representação do<br />

homem e da mulher no realismo/naturalismo de século XIX.<br />

No segundo capítulo trataremos da biografia de Aluísio de Azevedo, analisando um<br />

pouco de sua trajetória de vida, conhecendo suas obras, como também o seu estilo,<br />

ou seja, sua estética, seu comportamento enquanto escritor, confrontando suas<br />

experiências de vida com suas obras literárias. Ele introduziu o naturalismo no Brasil<br />

com a publicação do romance O Mulato, que chocou a sociedade Maranhense pela<br />

crítica feita ao Clero e pela denúncia do preconceito racial.<br />

Aluísio de Azevedo faz uso do método da descrição que é muito marcante em<br />

suas obras, a descrição é uma das características do período realista/naturalista<br />

brasileiro, as caricaturas também estão muito presente em seus trabalhos, através<br />

delas Azevedo mostra a verdadeira face das pessoas sem fantasiar.<br />

No terceiro e último capítulo, analisaremos a obra O Mulato, com o intuito de<br />

compreender a crítica social que o escritor maranhense faz através das sátiras ao<br />

inspirar-se nos personagens típicos da sua cidade natal. Desse modo o escritor<br />

despertou a ira dos seus conterrâneos, essa insatisfação ocasionou a sua saída de<br />

São Luís, e com isso o autor chega ao Rio de Janeiro onde atinge o ápice da sua<br />

carreira de escritor, sendo consagrado pelo público e pela crítica carioca.<br />

10


Tais referências serão interessantes para nosso enriquecimento acadêmico e<br />

compreensão de mundo. Nota-se que o objetivo de Aluísio de Azevedo é<br />

desmascarar uma sociedade injusta, mostrando o sistema burguês e clerical,<br />

contrapondo com a miséria e o descaso de uma classe escrava menos favorecida. O<br />

romance é muito rico, ele traz à tona um povo submisso ao Clero e um sistema<br />

capitalista poderoso em que o dinheiro e o preconceito racial contam mais do que a<br />

razão. Pessoas capazes de passar por cima de tudo e de todos, para cumprir com<br />

seu papel social, abrindo mão da felicidade para não ser execrado socialmente.<br />

11


12<br />

Capítulo I<br />

O Romance realista do século XIX<br />

“ O Realismo se tingira de naturalismo, no romance e no conto, sempre que<br />

fizer personagens e enredos submeterem-se ao destino cego das “lei naturais”<br />

que a ciência da época julgava ter codificado”. (BOSI. 1994; P.168).


1.1 CONTEXTO HISTÓRICO<br />

Este trabalho de pesquisa tem como foco principal investigar, através da literatura,<br />

os aspectos sociais do final do século XIX. Para tal intento analisa - se aqui a obra O<br />

Mulato, de Aluisio de Azevedo, no intuito de evidenciar a hipocrisia e o preconceito<br />

dessa sociedade. Dentro desta perspectiva é necessário que saibamos o que<br />

acontecia com a sociedade nessa época.<br />

Durante a segunda metade do século XIX, houve varias mudanças fundamentais<br />

nos campos políticos, sociais e consequentemente na forma de ser e entender a<br />

nova realidade vivida. Essas mudanças ocorreram de forma lenta e não atingiram<br />

nem todas as regiões do país. Conforme Martins, (2004; p. 226).<br />

A economia açucareira encontra-se em decadência e esta situação<br />

agrava-se ainda mais com a extinção do tráfico negreiro em 1850.<br />

Com isso, o eixo econômico desloca-se para o sul e há um ambiente<br />

favorável ao pensamento liberal, abolicionista e republicano [...]<br />

A citação acima deixa claro que muitas mudanças ocorreram, a forma de governo foi<br />

mudada, foi feita a constituição, através do partido republicano, iniciou-se a<br />

substituição do trabalho escravo pelo trabalhão assalariado, as fazendas de café e<br />

outras lavouras brasileiras modernizaram-se, as cidades cresceram e nelas as<br />

primeiras indústrias instalaram-se.<br />

Nesse período houve, tanto no Brasil quanto em outros paises, descobertas,<br />

invenções e inauguração de varias fabricas que produziam chapéus, sabão, tecidos<br />

de algodão e cerveja, artigos que até então vinham do exterior. Surgiram também as<br />

primeiras greves, pois as condições de trabalho do proletariado eram muito<br />

precárias, a jornada de trabalho era muito extensa, podendo chegar às 16 horas, a<br />

mão de obra infantil e feminina era usada de forma deplorável, não havendo<br />

regulamentação salarial. Coelho explana alguns das invenções e descoberta que<br />

hoje fica difícil de viver sem algumas delas, pois usufruirmos e desfrutamos sem<br />

nem mesmo conhecer suas origens, são elas:<br />

13


[...] 1851 – Giffard inventa a aeronave; 1852 – G. Ottis, o elevador;<br />

1855 – H. Bessemer descobre o aço; ; 1859 – Os primeiros poços de<br />

petróleo começaram a jorrar na Pensilvânia; 1863 – Tellier cria o<br />

motor-frigorífico; 1867 – Mounier, o concreto armado, Sholes, a<br />

máquina de escrever; 1876 - Graham Bell inventa o telefone, surge o<br />

primeiro automóvel e o helicóptero; 1877 – Thomas Edison cria o<br />

telegráfo, os Irmãos Lumière, o cinema; 1878 – E.D. Hughes, o<br />

microfone; 1879 – Edison descobre a lâmpada elétrica; 1885 –<br />

Pasteur dá a público a vacina contra a raiva, Karl Benz inventa o<br />

veículo com motor a explosão; 1895 – Roentgen cria o Raio X;<br />

Marconi, o telégrafo sem fio; 1898 – Pierre e Marie Curie descobrem<br />

o “radium”, John Holland, o submarino.[...] (COELHO. 1994;P.2).<br />

Vale salientar que o desenvolvimento da imprensa, a fundação de cursos jurídicos<br />

de nível superior e a divulgação dos ideais do liberalismo pela Maçonaria<br />

contribuíram muito no aprimoramento da produção literária nacional. Para<br />

Cademartori (2002; p. 44) “[...] A burguesia desfrutava plenamente seu poder. O<br />

triunfo desta classe torna-se indiscutível, assim como sua evolução dentro de<br />

capitalismo e para a visão conservadora do mundo [...]". Fica, pois, claro que a<br />

sociedade brasileira sofreu franca e radical transformação. Nessa perspectiva<br />

Coutinho (2001; p. 195) comenta que:<br />

De uma sociedade agrária, latifundiária, escravocrata, aristocrática<br />

passava-se para uma civilização burguesa e urbana, fase<br />

preparatória para industrialização, mas já formadora de um<br />

marginalismo populacional, senão de um pequeno proletariado<br />

urbano[...]<br />

Nesse período, as idéias deterministas de Taine, o positivismo de Augusto Comte e<br />

o evolucionismo de Charles Darwin, conquistaram os intelectuais em todo mundo<br />

inclusive os brasileiros, que incorporaram o espírito científico à literatura todos se<br />

voltam para explicar o universo através da Ciência. Essas teorias serão vistas mais<br />

detalhadamente no próximo tópico.<br />

Na segunda metade do século XIX três grandes questões de caráter político-social-<br />

religioso agitaram o país, a questão servil, a questão religiosa e a questão militar.<br />

Em todas nota-se a influencia do materialismo, racionalismo e anticlericalismo<br />

idéias que constituíam o espírito do tempo, daquela agitação intelectual que<br />

apaixonava os homens de pensamento científico literário. A busca da objetividade,<br />

a fé na razão, preocupação com o social, concepção naturalista do mundo são<br />

14


marcas decisivas que fazem parte da segunda metade do século XIX do período<br />

naturalista e que serão foco na literatura.<br />

“A revolução nas idéias e na vida que levou os homens para o<br />

interesse e a devoção pelas coisas matérias. Essa revolução ocorreu<br />

primeiro no espírito e no pensamento dos homens daí passou à vida,<br />

ao seu mundo e aos seus valores. Intelectualmente, a elite<br />

apaixonou –se do darwinismo e da idéia da evolução, herança do<br />

romantismo e, de filosofia”. (COUTINHO, 2001; p. 181).<br />

O darwinismo tornou-se quase uma religião; o liberalismo cresceu e deu os seus<br />

frutos, nos planos político e econômico. O mundo e o pensamento mecanizaram-se,<br />

a religião tradicional vem a ter pensamento livre. Essas tendências realistas vindas<br />

da Europa, chegando ao Brasil sofreram algumas alterações, inserindo o tempero<br />

brasileiro, nossas tradições e sobretudo pela força das contradições da sociedade. A<br />

curiosidade pela descoberta da origem dos seres humanos cresce, com o avanço da<br />

Ciência e os estudos da Psicologia e da Sociologia demonstrando cientificamente o<br />

comportamento do homem, quando vivem em sociedade.<br />

Todos essas mudanças e acontecimentos entre homem, máquina e mundo firmou-se<br />

a partir da segunda metade do século XIX, desencadeando para novos e novos<br />

estilos até chegar a contemporaneidade, cada período literário com suas expressões<br />

e características próprias ou até mesmo na reutilização de recursos vigentes em<br />

outras épocas .<br />

1.2 AS FORÇAS FILOSÓFICAS QUE EMBASARAM O PERÍODO<br />

Como mencionamos no item anterior, três correntes filosóficas, serviram de alicerce<br />

para ampliar as idéias dos nossos escritores dessa época são elas: O Positivismo, o<br />

Determinismo e Evolucionismo. Dessa forma a literatura como em todas as épocas<br />

vai captar esses aspectos e tematizar as obras. São inúmeros pensadores e<br />

cientista, porém Comte,Taime e Darwin serão os pensadores que abordaremos<br />

nesse capitulo, que influenciaram diretamente no realismo/naturalismo.<br />

15


[...] Augusto Comte, fundador do Positivismo Filosófico, pensamento<br />

que se torna um dos pilares da concepção e do mundo realista/<br />

naturalista, e que procurou reorganizar a moral e a sociedade<br />

segundo os princípios cientificistas, substituindo a religião e a<br />

metafísica pelas respostas obtidas com a experimentação nacional e<br />

científica . (COELHO. 1994; P. 5).<br />

Essa tendência defende que só a ciência pode satisfazer a nossa necessidade de<br />

conhecimento, visto que só ela parte dos fatos e aos fatos se submetem para<br />

confirmar as suas verdades. Ela representa a vida apenas pelo lado prático, ou seja,<br />

apóia-se unicamente nos fatos e que através deles a confirmação das suas<br />

verdades.<br />

O Positivismo teve impulso, graças ao desenvolvimento dos problemas econômicos<br />

e sociais, que dominaram o século, sendo grandemente valorizada a atividade<br />

econômica, produtora de bens matérias. Assim é natural que se procure uma base<br />

filosófica positiva, naturalista, materialista, para as ideologias econômico-sociais.<br />

Para Coutinho, (2001; 182), “Os estudos sociológicos, dirigidos pelo positivismo,<br />

orientaram-se para a coleta de fatos, sintetizando-os e formulando leis e tendências<br />

para explicar a conduta e evolução da sociedade humana” [...].<br />

A filosofia Comtista explica que o espírito humano, em seu esforço, passa<br />

sucessivamente por três estados o teológico, metafísico e o científico que servirá<br />

para explicar o universo humano. Como coloca Coelho (1994; p. 6), o estado<br />

teológico ou fictício corresponderia ao estágio do homem primitivo que vive no<br />

mundo mágico, para quem tudo que ultrapassa a percepção imediata e sensorial é<br />

atribuído a um deus ou poder sobrenatural inexplicável. O metafísico ou abstrato ao<br />

momento de interpretação filosófico-racional transcendente do mistério ou das forças<br />

abstratas que se incorporam à vida do homem vistas como manifestação terrenas de<br />

um mundo ideal extraterreno. O Cientifico ou positivo é aquele momento específico<br />

em que à ciência, através da observação e experimentação, daria a explicação de<br />

todos os aparentes mistérios da vida humana.<br />

Essas características desencadearam o espírito dos grupos literário da época,<br />

formando em torno desse pensamento positivista utilizavam jornais e revistas para<br />

divulgar suas idéias em suas obras literárias.<br />

16


A segunda corrente filosófica é a do filósofo Hipólito Taine, que teve como principio<br />

as idéias positivista de Comte para apresentar a sua teoria determinista que constitui<br />

um princípio da ciência experimental que se fundamenta pela possibilidade da busca<br />

das relações constante entre os fenômenos, isto é, o princípio da causalidade que<br />

une cada acontecimento, essa doutrina garante que todos os acontecimentos<br />

incorporam vontades e escolhas humanas causadas por acontecimentos passados,<br />

ou melhor, o homem é fruto direto do meio.<br />

[...] a raça, variedade humana condicionada por uma série de causas<br />

físicas, filosóficas e psíquicas. As raças são as disposições inatas e<br />

hereditárias que o homem traz consigo a luz. O meio o ambiente<br />

onde o individuo vive; meio geográfico ou paisagismo; meio<br />

amplamente social ou o restrito meio familiar. O momento, época<br />

histórica, o momento resultado da interferência do estágio histórico<br />

[...] Coelho (1994; p. 6).<br />

Esses três fatores, descritos por Coelho, a raça, o meio e o momento são<br />

articulações de normas da crítica sociológica que foi muito importante para o<br />

desenvolvimento da literatura da época, cujo objetivo era descobrir as causas e as<br />

leis da criação literária. O Determinismo é o principio segundo o qual os fenômenos<br />

naturais e as decisões da vontade humana sucederam de certas condições<br />

anteriores, então, o homem é privado de liberdade total de decidir e de influir nos<br />

fenômenos em que toma parte, existe sim liberdade, mas essa liberdade está<br />

condicionada à natureza do evento em um determinado instante. Seguindo a<br />

mesma linha de raciocínio, percebe-se que o meio define o caráter de cada<br />

indivíduo. Nessa perspectiva Martins afirma que:<br />

[...] A determinação é a base principal do conhecimento cientifico da<br />

natureza, por que afirma a existência de relações fixas e necessárias<br />

entre os seres e fenômenos naturais. Os mundos físicos e biológicos<br />

são conduzidos pelo determinismo, no nível mental também fortalece<br />

o mesmo principio, pois os pensamentos têm uma causa, assim<br />

como decorrem as ações do mesmo. Pensamentos atos estão<br />

relacionados aos impulsos, ao os traços de caráter e experiências<br />

que caracterizam a personalidade de cada individuo. [...] Martins<br />

(2004; p. 226).<br />

Entre os defensores do determinismo, alguns aplicam a teoria apenas a uma parte<br />

da realidade e outros que a estendem a todos os acontecimentos, incluindo as<br />

17


ações humanas, os acontecimentos do universo que estão submetidos a um sistema<br />

de causas e efeitos necessários até mesmo aqueles fatos que parecem, de algum<br />

modo ilusório, serem resultado da liberdade e da vontade.<br />

A terceira corrente é o evolucionismo teoria fruto de um conjunto de pesquisas,<br />

ainda em desenvolvimento, iniciadas pelo legado deixado pelo cientista inglês<br />

Charles Robert Darwin.<br />

[...] O evolucionismo é uma teoria fundamentada na idéias de<br />

evolução dos seres vivos. O primeiro a enunciar a noção de evolução<br />

foi Lamarck. Porém foi Charles Darwin quem expôs os processos<br />

pelo quais a evolução das linhagens determina a das populações.<br />

(MARTINS, 2004; p. 226).<br />

Darwin partiu de uma observação segundo a qual, dentro de uma espécie, os<br />

indivíduos diferem uns dos outros, por isso, na luta da existência, uma competição<br />

entre indivíduos de capacidades diversas então os mais bem adaptados são os que<br />

deixam maior número de descendentes.<br />

A revolução biológica efetuado por Darwin, colocou a biologia num<br />

posto de direção do pensamento, mudando as concepções e os<br />

métodos científicos, no sentido naturalista: o homem foi integrado no<br />

ambiente natural com origens e história natural [...]. (COUTINHO;<br />

2001; P.183).<br />

Darwim conclui que as características biológicas dos seres vivos passam por um<br />

processo dinâmico no qual fatores de ordem natural serão responsáveis por<br />

modificar os organismos vivos. Para Cademartori, (2002, p.44) [...] O evolucionismo<br />

postula ser a seleção natural o veículo da transformação das espécies [...].<br />

No entanto, nota-se que a teoria do evolucionismo está relacionada com o meio em<br />

que vivemos, ou seja com a nossa sociedade. A ciência mostra que os organismos<br />

podem se desenvolver e se transformar com o passar do tempo, os pensadores<br />

entendem que a sociedade também pode formalizar e mudar o pensamento social<br />

com linhas científicas no decorrer do tempo.<br />

18


Conforme Coutinho, (2001; p. 183) [...] A sociedade foi encarada, sob o influxo da<br />

biologia, como um organismo composto de células em funcionamento harmônico e<br />

obedecendo as leis biológicas de crescimento e morte [...].<br />

O escritor naturalista examina detalhadamente o real com a postura de pesquisador<br />

ele não se limita a observar a realidade, mas de explicá-la de acordo com as normas<br />

da ciência positivista e determinista da época.<br />

1.3 O ROMANCE REALISTA BRASILEIRO<br />

Convém, no entanto, já que sabemos como era sociedade no século XIX, por<br />

necessidade, adentrarmos no período Literário Realista/Naturalista com suas<br />

características brasileiras para compreendermos melhor o pensamento e as<br />

denúncias, existentes na obra supra citada, de Aluisio de Azevedo.<br />

A segunda metade do século XIX é marcada por uma vasta encruzilhada de<br />

correntes literárias. Nem mesmo termina o movimento Romântico já se percebe<br />

traços do Realismo, que no Brasil, principiou em 1881, com a publicação da obra<br />

Memórias Póstuma de Brás Cubas, de Machado de Assis, um dos fundadores da<br />

Academia Brasileira de Letras, considerado o maior escritor da literatura brasileira,<br />

sua obra estuda a condição humana com muita profundidade. Raul Pompéia autor<br />

crítico, que denunciou as instituições superadas do Império. Sua obra mais<br />

importante é o romance “Ateneu”, de 1888, baseado em sua experiência em colégio<br />

interno, e não poderia ficar de fora Aluísio Azevedo, introdutor, um dos principais<br />

nomes do Naturalismo no Brasil, com a obra “O Mulato”, que é o objetivo dessa<br />

pesquisa, entre outros escritores que fizeram parte desse período.<br />

Os escritores desse período procuravam descrever os costumes e as relações entre<br />

os seres humanos com maior realidade dentro das perspectivas filosóficas citadas<br />

anteriormente. De acordo com COUTINHO (2001; p. 189).<br />

19


[...] O Realismo é a tendência literária que procura representar, acima<br />

de tudo, a verdade, isto é, a vida tal como é, utilizando-se para isso<br />

da técnica da documentação e da observação contrariamente à<br />

invenção romântica interessando na analise de caracteres, encara o<br />

homem e o mundo objetivamente, para interpretar a vida [...].<br />

O próprio nome do período se confessa, o Realismo vem para evidenciar o homem<br />

diante da sociedade, os autores Realistas queriam mostrar através de suas obras<br />

alguns aspectos que o Romantismo fantasiava, escondendo assim as verdades.<br />

Para os realistas a miséria, a crise de produção e a má condição de vida são<br />

aspectos que mereciam ser divulgados e não omitidos.<br />

Novas mudanças no comportamento humano determinam o novo estilo de época, o<br />

homem realista passa a observar e a externar a realidade os realistas eram anti-<br />

românticos e objetivos, exigiam a prioridade da razão sobre o sentimento e uma arte<br />

compromissada. Enxergava a ciência como a solução para todos os problemas do<br />

homem. Faziam de seus romances um laboratório em que objetivam provar a teoria<br />

de que determinados personagens, vivendo num certo meio e em dadas<br />

circunstâncias e com determinada carga genética obrigatoriamente agiriam de uma<br />

determinada forma assim eles reafirmavam a filosofia positivista e determinista sobre<br />

esse contexto Proença Filho afirma:<br />

[...] Predomina uma concepção materialista do mundo, e dissemos<br />

“predomina”, pois é necessário lembrar que na época entrecruzamse<br />

varias ideologias e tendências no panorama da cultura ocidental.<br />

A realidade é interpretada como um todo orgânico em que o<br />

universo, a natureza e o homem estão intimamente associados e<br />

sujeitos, em igualdade de condições. “[...] Para compreender e<br />

explicar a realidade, o homem só pode valer-se do conhecimento<br />

cientifico, através de fatos, é preciso, portanto, observar e analisar a<br />

realidade, para poder conhecê-la com precisão. A verdade o bem e o<br />

belo existem nas coisas, independentemente das razões subjetivas.<br />

Predomina uma visão determinista, antimetafísica e antiespiritualista<br />

da vida [...]” (2001; P. 239).<br />

O próprio Proença, fala que nessa época da história da arte não existe espaço para a<br />

metafísica, pois o conhecimento só poderia ser adquirido através da ciência, ou seja,<br />

a ciência era o único meio de conhecimento. Tais observações nos fazem perceber<br />

que as características do Realismo são o objetivísmo, racionalismo, texto cuidadoso<br />

e objetivo, engajamento, crítica aos valores religiosos e burgueses e ao<br />

20


monarquismo. A abordagem do homem e da sociedade pode ser chamada biológica,<br />

mostrando o ser humano condicionado por patologias e impulsos biológicos, além de<br />

conduzido pelo papel que a sociedade lhe dá. Neste contexto abordaremos um<br />

fragmento da obra O Crime do Padre Amaro, do escrito Português Eça de Queiroz,<br />

como no Brasil, os escritores Naturalista de Portugal também seguem a mesma linha<br />

de pensamento dos nossos escritores brasileiros.<br />

[...] Ah, não tornaria a olhar de lado, com azedume, os cavalheiros<br />

que passeavam na Alameda com as suas mulheres pelo<br />

braço!Também ele agora tinha uma toda sua, alma e carne, linda,<br />

que o adorava, que usava boas roupas brancas, e trazia no peito um<br />

cheirinho de água-de-colônia! Era padre, é verdade... Mas para isso<br />

tinha o eu argumento: é que o comportamento do padre, logo que<br />

não dê escândalo entre os fiéis, em nada prejudicaria a eficácia, a<br />

utilidade da grandeza da religião [...]. Enfim a sua Amélia, a Amélia<br />

dos primeiros dias, o delicioso corpo, que lhe tremia todo nos braços,<br />

em espasmos de paixão. A cada dia a desejava mais, de um desejo<br />

contínuo e tirânico, que àquelas horas escassas não satisfaziam. Ah!<br />

Possivelmente, como mulher não havia outra!... Desafiava a que<br />

houvesse outra, mesmo em Lisboa [...]. O crime do padre Amaro.<br />

(2002; p. 270 e 305).<br />

Esse fragmento representa perfeitamente uma das características do período<br />

realista/naturalista que é a critica aos valores religiosos, o trecho narra o<br />

relacionamento entre um padre e uma jovem solteira, deixando explicitamente<br />

depravação dos costumes, religiosos de uma cidade influenciada pelo clero, não<br />

somente o Padre Amaro cometia esses atos, porém dentro desta mesma obra há<br />

mais exemplos como o Cônego Dias, mestre do Padre Amaro que praticava também<br />

atos sexuais com a mãe da Amélia. Percebemos assim que há muito tempo<br />

mantinham- se relacionamentos entre os representantes religiosos e suas fieis .<br />

Concomitantemente ao Realismo, caminha o Naturalismo que, no Brasil principia por<br />

volta de 1881, com a publicação de “O Mulato”, de Aluisio Azevedo, obra esta que<br />

iremos abordar nos capítulos posteriores, por enquanto falaremos de uma tendência<br />

radicalizada do Realismo, que condiciona o homem ao ambiente que o cerca. Para<br />

um escritor naturalista, o homem submete-se às forças biológicas ou sociais, e age<br />

de acordo com elas. Esse período é considerado com o Realismo levado até as<br />

ultimas conseqüências. Para Coutinho (2001, p. 190).<br />

21


[...] O Naturalismo acentua as qualidades do Realismo, acrescentado<br />

uma concepção da vida que se vê como o intercurso de forças<br />

mecânicas sobre os indivíduos, resultando os atos, o caráter e o<br />

destino destes, da atuação da hereditariedade e do ambiente. O<br />

espírito de objetividade e imparcialidade científica faz com que o<br />

naturalista introduza na literatura todos os assuntos e atividades do<br />

homem, inclusive os aspectos bestiais e repulsivos da vida, dando<br />

preferência às camadas mais baixa da sociedade. [...]<br />

Note-se que para Coutinho na citação acima, o naturalista procura representar toda<br />

a natureza, a vida que está próxima da natureza, ou seja, o homem natural com<br />

todos os atributos de “ser” humano que ele esconde através da racionalidade, mas<br />

as vezes o instinto fala mais alto. É a teoria de que a arte deve conformar-se com a<br />

natureza, utilizando dos métodos científicos de observação e experimentação dos<br />

fatos e das personagens, ratificando assim as tendências evolucionistas positivistas<br />

e deterministas. No trecho abaixo, o autor mostra o poder de transformação que o<br />

meio causa nos indivíduos ele mostra a imagem de bom homem através da<br />

personagem João Romão, que usa essa máscara com o único objetivo, que é<br />

expandir financeiramente sem se importar com os sentimentos dos outros.<br />

[...] Daí em diante, João Romão tornou-se o caixa, o procurador e o<br />

conselheiro da crioula. No fim de pouco tempo era ele quem tomava<br />

conta de tudo que ela produzia, e era também quem punha e<br />

dispunha dos seus pecúlios. Abriu-lhe logo uma conta corrente e a<br />

quitandeira, quando precisava de dinheiro para qualquer coisa, dava<br />

um pulo na venda e recebia-o das mãos do vendeiro. Quando deram<br />

fé estavam amigados [...] João Romão comprou então, com as<br />

economias da amiga, alguns palmos de terreno ao lado esquerdo da<br />

venda, e levantou uma casinha de duas portas [...] O Cortiço ( 2006;<br />

pg. 16).<br />

Os realistas naturalistas procuram a verdade, desdenham do sentimentalismo,<br />

preocupam-se com a época contemporânea, contrário ao Romantismo que sempre<br />

idealizava os fatos, mostrando sempre um final feliz para todas as coisas que<br />

parecessem ameaçadoras.<br />

Diante do que foi dito observa-se que no Naturalismo as palavras traduzem uma<br />

predileção pela miséria, pelo desequilíbrio social. É também análise das condições<br />

da cidade, até mesmo da província. O retrato da sociedade na visão naturalista<br />

pretende ser fiel, e se faz através de impressões sensoriais. Foi de grande<br />

22


intensidade a influência francesa na nossa literatura brasileira do século XIX, que<br />

marcou a vida do país.<br />

O escritor francês Émile Zola, considerado o maior representante da literatura<br />

naturalista mundial, mostra em suas obras os vícios, os instinto e as desigualdades<br />

como se pode ver na obra Germinal. Zola para escrever suas obras vivenciava todo<br />

o momento, para sentir na pele todas as verdadeiras emoções e sensações de cada<br />

personagem. Elaborou uma aplicação de suas teorias á realidade, levantou um<br />

paralelo de ideais, com sua teoria do romance naturalista, assegurando que o<br />

método do cientista deveria torna-se o do escritor. Vejamos a seguir um fragmento<br />

da obra Germinal, em que o autor descreve minuciosamente cada detalhe de um<br />

cansativo e pesado dia dos operários da mina de carvão:<br />

[...] Se não quisesse perder o trem das oito horas devia se apressar,<br />

pois ainda tinha seis quilômetros pela frente. Debaixo de seus pés,<br />

prosseguiam os golpes profundos das picaretas. O mineiros estavam<br />

todos lá, embaixo da terra, ele como se o estivessem seguido. O sol<br />

De abril brilhava em toda a sua glória, aquecendo a terra. Em que<br />

germinavam sementes. A vida desabrochava com toda a força, os<br />

brotos apareciam em folhas verdes, a relva nascia. Em toda parte as<br />

sementes cresciam e brotavam para fora da terra, em busca de luz e<br />

calor. E ainda, cada vez mais distintamente, como se estivessem se<br />

aproximando do sol, os operários cavavam. Aos raios inflamados do<br />

sol, naquela manhã de juventude, o campo estava tomando por<br />

aquele rumor. Os homens brotavam, eram um exercito coberto de<br />

carvão, vingador, que germinava lentamente da terra, para crescer<br />

nas colheitas do século seguinte. A germinação daquele exército<br />

logo faria explodir a terra. [...] Germinal. (2000; p. 237-238).<br />

O trecho acima extraído do romance naturalista Frances, descreve com veracidade<br />

as precárias condições de trabalho da classe operária, o desgaste físico, pois seu<br />

salário depende da produtividade. Ou seja, só recebiam pela quantidade de carvão<br />

que produzissem, má condição de trabalho a miséria a exploração era imensa.<br />

1.4 O COMPROMISSO COM A REALIDADE<br />

O escritor realista busca fazer a descrição minuciosa da realidade que ele observa,<br />

pretendendo modificar a que ele considera injusta essa é atravessada pela<br />

23


preocupação moral de revelar as mazelas da sociedade apontando seus vícios e<br />

hipocrisia minuciosamente como um verdadeiro cientista.<br />

Os autores naturalistas levam os princípios realistas ao extremo. Sua abordagem do<br />

homem e da sociedade pode ser chamada de biológica, mostram o ser humano<br />

condicionado por patologias, taras e impulso biológicos, além de conduzido pelo<br />

papel que a sociedade lhe dá. Conforme Proença Filho, (2001; p.240).<br />

[...] Preocupação com uma verdade não apenas verossímil, mas<br />

exata. A verdade é procurada através da observação e na análise da<br />

realidade, no que esta tem de perene e universal. Não a realidade<br />

idealizada através da razão, ou imaginada através dos sentimentos,<br />

mas a realidade materialmente verdadeira. Preocupação com a<br />

observação e análise da realidade. Trata-se de uma análise em<br />

profundidade, a fim de evitar uma visão grosseira e deformada pela<br />

observação comum; é necessário assinalar os valores morais e<br />

estéticos do real. Busca no perene humano o drama da existência.<br />

No seu exame da realidade, o escritor procura mostra – lá em seus<br />

elementos essências e universais, buscando verdades eternas, mas<br />

sem preocupação de ordem transcendente.[ ...].<br />

No que foi citado acima percebe - se a constituição de uma ação moralizadora<br />

através do veiculo literário meio pelo qual os escritores realista/naturalista tinha por<br />

função revelar as regras, os problemas, os comportamentos e o funcionamento<br />

inadequado da sociedade combatendo as injustiça e as indiferenças sociais da<br />

época.<br />

1.5 A TRAMA REALISTA<br />

Os escritores realistas eram anti-românticos, objetivos e racionalistas, fazem uso da<br />

razão sobre o sentimento, mostrando através de seus personagens, o verdadeiro<br />

retrato da sociedade, representando o ser humano condicionado por patologias<br />

“eu” existente em cada um de nós, e que nos transformamos de acordo com meio<br />

em que somos inseridos, isto é somos frutos do meio em vivemos.<br />

O romance realista era divulgado em folhetins, do mesmo modo que eram<br />

divulgados na época romântica, os autores também podiam contar com as revistas e<br />

24


os jornais para publicarem suas obras. Para Coelho, “a forma literária preocupa-se<br />

em ser o verdadeiro retrato da sociedade, dos segredos de seus bastidores, dos<br />

seus vícios e defeitos”. O preconceito racial é um dos problemas mais polêmicos no<br />

Brasil, e os nossos escritores usavam a literatura com um instrumento de combate e<br />

de denúncias, evidenciando os desequilíbrios sociais da época. Nesse contexto, a<br />

forma escolhida pelos autores realistas propõe em observar e revelar, de forma<br />

verossímil, as mazelas sociais entre essas estaria o adultério. Nessa perspectiva<br />

Coelho observa que a trama realista apresenta:<br />

[...] O esquema narrativo mais vulgarizado pelo romance realista foi o<br />

que se estrutura com o chamado triangulo amoroso, totalmente<br />

inexistente no que o procedera. O enredo envolve sempre questões<br />

de dinheiro e o conflito passional entre três personagens: dois<br />

homens e uma mulher, esta esposa de um e amante de outro. O<br />

triangulo pode ainda ser representado por um padre, uma mulher e a<br />

Igreja. A ação narrativa decorre em ambiente social refinado e se<br />

desenvolve lentamente, revelando o processo do adultério e o<br />

terminando sempre em tragédia, ou seja, a morte da mulher. Notese<br />

que a via de regra a heroína realista acaba morrendo ou destruído<br />

interiormente pelo remorso se eu de seu „erro” . O herói provocador<br />

de sua paixão, queda e destruição, não é atingido pela tragédia, pois<br />

viveu apenas mais uma aventura, sem qualquer conseqüência para<br />

sua consciência ou reputação social . Via de regra não existe “amor”<br />

no romance realista, mas apenas “paixão dos sentidos”. A sua<br />

intenção básica era denunciar a decomposição moral (família e<br />

sociedade) que minava ocultamente uma sociedade alicerçada<br />

numa idealização da vida, que não correspondia a verdade humana,<br />

idealização que acaba forjando um comportamento hipócrita ou<br />

inconsciente, no qual o que contava eram as aparências e não a<br />

verdade do ser [...]. Coelho (1994; p. 03).<br />

Facilmente se presume que na trama realista a rede de intrigas geralmente<br />

predominada pelo triangulo amoroso, que é composto por uma mulher e dois<br />

homens. Porém, o conceito de triangulo amoroso naturalista sofreu alterações, nos<br />

dias atuais já se percebe outras formas de conceituá-lo, não apenas a forma acima<br />

citada. O fragmento abaixo extraído do romance O Cortiço de Aluisio Azevedo,<br />

exemplifica o que Coelho conceitua como triangulo amoroso:<br />

[...] O Botelho, com a sua encanecida experiência do mundo, nunca<br />

transmitia a nenhum dos dois, o que cada qual lhe dizia contra o<br />

outro; tanto assim que, certa ocasião, recolhendo-se à casa<br />

incomodado, em hora que não era do seu costume, ouviu, ao passar<br />

25


pelo quintal, sussurros de vozes abafadas que pareciam vir de um<br />

canto afogado de verduras, onde em geral não ia ninguém .<br />

Encaminhou-se para lá em bicos de pés e, sem ser percebido,<br />

descobriu Estela entalada entre o muro e o Henrique. Deixou-se ficar<br />

espiando, sem tugir, e, só quando os dois se separaram foi que ele<br />

se mostrou. [...]<br />

O exemplo acima narra à descoberta de adultério em que Estela e flagrada pelo<br />

Botelho amigo da família, traindo seu esposo Miranda com seu hospede Henrique.<br />

Nessa perspectiva as intenções básicas dos escritores Realista/Naturalista eram<br />

representar com veracidade o jogo das relações humanas e do mesmo modo atacar<br />

a família burguesa e hipócrita estabelecido por uma a sociedade alienada pelo<br />

poder do dinheiro e da religiosidade como instrumento de ascensão ou depreciação<br />

do ser humano.<br />

Assim também, o romance naturalista apresenta características diferentes das<br />

citadas no Romantismo como o amor verdadeiro idealizado tendo o homem como<br />

herói que enfrenta tudo e todos para união a concretização do seu amor.<br />

[...] não há nele um caso amoroso (ou este não é o verdadeiro<br />

núcleo temático do romance). O interesse da narrativa centra-se em<br />

um anti-herói, um indivíduo cujo comportamento é determinado por<br />

forças incontroláveis: taras, defeitos de educação, ambiente de baixo<br />

nível, miséria etc. Anti-herói, porque sua vontade jamais sai<br />

vencedora na luta contra os impulsos negativos do próprio ser ou<br />

contra as influencias nefasta do meio. A narrativa mostra a tragédia<br />

do cotidiano desencadeado por influencias de um meio social<br />

degradante [...]. Coelho ( 1994; p. 03).<br />

A citação abaixo retirada do romance Azevediano representa e fortalece o que a<br />

autora evidenciou na citação acima. Não existia amor entre as personagens João<br />

Romão português dono do cortiço e Bertoleza escrava fugida, ele ambicioso apenas<br />

a usou, pois queria mesmo era ampliar seus negócios, usa de todos os meios para<br />

ficar rico. Seu interesse pela escava era simplesmente comercial e por ser um<br />

homem ganancioso, queria ao seu lado uma mulher branca pertencente ao seu meio<br />

social no qual ele receberia o dote e aumentaria mais sua fortuna e atingiria um<br />

degrau a mais na escala social, pois diante da sociedade não ficaria bem ter uma<br />

negra como sua companheira e Bertoleza era uma escrava pertencente aos<br />

senhores da fazenda, no exemplo abaixo Bertoleza representa peça financeira , pois<br />

26


João Romão não a amava, apenas serviu –se de sua mão – de - obra e de seus<br />

préstimos sexual até o momento em que era interessante para ele. (AZEVEDO. O<br />

CORTIÇO, 2006; P.224 - 225).<br />

[...] Bertoleza, que havia já feito subir o jantar dos caixeiros, estava<br />

de cócoras no chão, escamando peixe, para a ceia do seu homem,<br />

quando viu parar defronte dela aquele grupo sinistro.Reconheceu<br />

logo o filho mais velho do seu primitivo senhor, e um calafrio<br />

percorreu-lhe o corpo. Num relance de grande perigo compreendeu a<br />

situação; adivinhou que tinha sido enganada; que a sua carta de<br />

alforria era uma mentira, e que o seu amante, não tendo coragem<br />

para matá-la, restituía ao cativeiro. Seu primeiro impulso foi de fugir.<br />

[...] A negra imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma<br />

das mãos espalmada no chão e com a outra segurando a faca de<br />

cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar. [...] Bertoleza<br />

então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto<br />

e, antes que alguém conseguisse alcançá – la, já de um só golpe<br />

certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado. E depois emborcou<br />

para frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de<br />

sangue [...].<br />

Em suma percebe-se que os romancista mostra minuciosamente os aspectos mais<br />

repugnantes da vida cotidiana, indivíduos que enganam-se uns com os outros, e que<br />

para sua ascensão social são capazes de tanta crueldade, usando meios sujos e<br />

desonestos para eliminar os obstáculos que atravessam seus caminhos, ao ponto<br />

de trair, mentir, fingir e de matar. Isto não é fato, mas sim realidade e o autor<br />

naturalista traz para a literatura a vida como ela é, sem idealizações, mas<br />

literalmente verdadeira, para que possamos entender- mos o funcionamento da vida<br />

e o comportamento humano.<br />

1.6 A REPRESENTAÇÃO DO HOMEM E DA MULHER NO REALISMO DO<br />

SÉCULO XIX<br />

A segunda metade do século XIX é marcada pelo processo de transição, momento<br />

em que toda os pensamentos de subjetividade que eram voltado para o romantismo<br />

adormecem e novos pensamentos abrem passagem para um novo ideário,<br />

surgindo assim os temas opostos aquele do Romantismo, ou seja, o avesso da tela<br />

romântica, que vem a ser o período Naturalista, período em que os escritores<br />

acordam e vêem o mundo com um novo olhar como realmente é ao contrário ao<br />

27


que via antes. Dentro desse novo olhar fixaremos o nosso olhar na representação<br />

do homem e da mulher no contexto literário realista/naturalista.<br />

O inicio do século XIX traz a figura do homem idealizado, o homem é considerado o<br />

herói, belo e perfeito, a mulher também aparece nesse contexto com as mesmas<br />

características, vem sempre bela, branca com traços puros, angelical, virgem,<br />

fragilizada e perfeita tendo o homem como seu herói protetor. Esses aspectos são<br />

do Romantismo no período em que os escritores mostram seus sentimentos,<br />

desejos e a vontade de realização do amor. Observemos a descrição romântica que<br />

José Alencar faz do homem.<br />

[...] Encostado a um velho tronco decepado pelo raio, via-se um índio<br />

na flor da idade. Uma simples túnica de algodão, que os indígenas<br />

chamavam aimará, apertada á cintura por uma faixa de penas<br />

escarlates, caía-lhe dos ombros até o meio da perna, e desenhava o<br />

talhe delgado e esbelto como um junco selvagem. Sobre a alvura<br />

diáfana do algodão, a sua pele, cor de cobre, brilhava com reflexos<br />

dourados; os cabelos pretos cortados rentes, a tez lisa, os olhos<br />

grandes com cantos exteriores erguidos para a fronte; a pupila negra,<br />

móbil, cintilante; a boca forte, mas bem modelada e guarnecida de<br />

dentes alvos, davam ao rosto pouco oval e beleza inculta da graça,<br />

da força e da inteligência [...]. O Guarani. (2006. p. 29).<br />

No trecho acima, extraído do romance O Guarani, percebemos o grau de perfeição<br />

que o autor utiliza na descrição do homem e vejamos que é um índio que aos olhos<br />

do escritor torna-se um galã de novela, a mulher da mesma forma é representada,<br />

usaremos outro exemplo da mesma obra Alencariana .<br />

[...] Os grandes olhos azuis, os lábios vermelhos e úmidos pareciam<br />

uma flor da gardênia dos nossos o campos, orvalhada pelo sereno<br />

da noite; o hálito doce e ligeiro exalava-se formando um sorriso. Sua<br />

tez alva e pura como um froco de algodão tingia-se nas faces de uns<br />

longes cor-de-rosa. O seu trajo era do gosto o mais mimoso e o mais<br />

original que é possível conceber: mistura de luxo e de simplicidade.<br />

Tinha sobre o vestido branco de cassa um ligeiro saiote de riço azul<br />

apanhado à cintura por um broche: Os longos cabelos louros,<br />

enrolados negligente em ricas tranças, descobrindo a fronte alva e<br />

caíam em volta do pescoço, presos por uma rendinha finíssima de<br />

fios de palha cor de ouro, a mãozinha afilada brincava com um ramo<br />

de acácias [...]. O Guarani. (2006. p. 34-35)<br />

28


Essa descrição é da personagem Cecília, como vimos, Alencar nos apresenta a<br />

mulher com muita delicadeza, e muita beleza, ele descreve detalhadamente suas<br />

vestimentas e adereços que usavam, seus minuciosos movimentos e gestos que só<br />

os escritores sabem mostrar através dos seus romances. A forma de comportamento<br />

todas as qualidades que possam elevar a auto estima de uma pessoa, com tantos<br />

qualidade, caprichos e com a capacidade de exercer o poder de domínio sobre o<br />

homem.<br />

[...] As mulheres têm isso de particular; reconhecendo-se fracas, a<br />

sua maior ambição é reinar pelo ímã dessa mesma fraqueza, sobre<br />

tudo o que é forte, grande e superior a elas: não ama a inteligência, a<br />

coragem, o gênio, o poder, senão para vencê-los e subjugá-los.<br />

Entretanto a mulher deixa-se bastante vezes dominar, mas é<br />

sempre pelo homem que não lhe excitando a admiração, não irrita a<br />

sua vaidade e não provoca por conseguinte essa luta da fraqueza<br />

contra a força. Cecília era uma menina ingênua e inocente, que nem<br />

sequer tinha consciência do seu poder e do encanto de sua casta<br />

beleza: [...] O Guarani. (2006; p. 116)<br />

O homem romântico preocupava-se com o bem estar da sua amada, Peri<br />

demonstrava muito isso com a sua senhora a Cecília a protegia de tudo e de todos,<br />

era um vassalo, a idolatrava como a uma santa e o seu objetivo maior salva lá, e ele<br />

sempre no papel de herói, oposto do anti-herói, que sua preocupação maior era<br />

consigo mesmo.<br />

Mas com o surgimento do Naturalismo na segunda metade do século XIX como já<br />

citamos, a mascara do homem herói cai e ele deixa de ser idealizado como<br />

homem perfeito e passa a mostrar como realmente ele é , com defeitos e virtudes<br />

que todo ser humano tem, ele passa a ser um homem comum como qualquer<br />

pessoa da sociedade. A mulher também deixa de ser vista como angelical perfeita e<br />

passa a ser uma mulher comum também com virtudes e defeitos.<br />

As idéias realistas e naturalistas já têm tomado todo o espaço de fato, retratando o<br />

que realmente acontecia no contexto social, Para Bosi (1994 p. 169) O escritor<br />

realista tomará a sério as suas personagens e se sentirá no dever de descobrir-lhes<br />

a verdade, no sentido positivista de separar os móveis do seu comportamento. A<br />

literatura realista tem como objetivo expressar fielmente o cotidiano da sociedade,<br />

então o homem não pode ter somente virtudes, ele também tem que ter defeitos.<br />

29


Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-se à<br />

labutação ainda com mais ardor, possuindo-se de tal delírio de<br />

enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia<br />

sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo<br />

travesseiro de um saco de estopa cheio de palha. A comida<br />

arranjava-lha mediante quatrocentos réis por dia, uma quitandeira<br />

sua vizinha a Bertoleza, crioula trintona. O Cortiço. (2006; p. 15)<br />

O homem do naturalismo não prioriza o amor, em primeiro lugar a ascensão social, o<br />

capitalismo fala mais alto, Aluisio Azevedo mostra sempre em suas obras o poder do<br />

capitalismo, O personagem Miranda é um dos seus representantes “Que ficou<br />

furioso e o seu primeiro impulso foi manda - lá ir embora por causa do adultério, mas<br />

o dote que ela trouxe uma casa comercial ele não queria abrir mão e continuou com<br />

o casamento de aparências”. O João Romão também do Cortiço pratica essa<br />

mesma ação. Vejamos:<br />

[...] Mas, só com lembrar-se da sua união com aquela brasileirinha<br />

fina e aristocrática, um largo quadro de vitórias rasgava-se defronte<br />

da desensofrida avidez da sua vaidade. Em primeiro lugar fazia-se<br />

membro de uma família tradicionalmente orgulhosa, como era dito<br />

por todos, à D. Estela, em segundo lugar aumentaria<br />

consideravelmente os seus bens com o dote da noiva, que era rica;<br />

em terceiro, afinal, caber-lhe-ia mais tarde tudo o que o Miranda<br />

possuía, realizando-se deste modo um velho sonho que o vendeiro<br />

afagava desde o nascimento da sua rivalidade com o vizinho [...] O<br />

Cortiço. (2006; p. 205).<br />

Eis aí como aconteciam os casamentos por conveniência, a mulher não tinha o<br />

direito de escolher o seu esposo, o casamento era arranjado pelas famílias, dessa<br />

forma a mulher busca através do adultério expressar suas necessidades e vai à<br />

busca do homem que ela ama e deseja.<br />

[...] Você quer saber? Perguntava ela! Bem percebo quanto aquele<br />

traste do senhor meu marido me detesta, mas isso tanto me dá como<br />

a primeira camisa que vesti! Desgraçadamente para nós mulheres de<br />

sociedade, não podemos viver sem o esposo, quando somos<br />

casadas; de forma que tenho de aturar o que me caiu em sorte, quer<br />

goste dele quer não goste! Juro-lhe, porem, que, se consinto que o<br />

Miranda se chegue as vezes para mim, é porque entendo que paga<br />

mais à pena ceder do que puxar discussão com aquele besta<br />

daquela ordem![...] O Cortiço. (2006; p. 34).<br />

30


Aluisio Azevedo mostra claramente a discriminação social com a figura feminina, a<br />

mulher é obrigada a conviver com um homem mesmo que não o ame só para<br />

cumprir com seu papel social, caso contrário ela será execrada da sociedade. Por<br />

conta disso surgi assim às traições tanto da mulher quanto do homem, antes no<br />

romantismo o homem não traia era fiel a sua amada até o fim, mas ele pode trair,<br />

pois não será punido, por pertencermos a um regime patriarcal onde o homem é o<br />

detentor do poder, só ele pode só ele faz, e como ele é um é um homem comum<br />

logo é comum trair, e ele está no seu papel o oposto da posição feminina.<br />

As mulheres são representadas de diversas formas de acordo com o estilo do autor.<br />

Dentro do realismo a figura feminina é sempre aquela que trai o marido, vem na<br />

maioria das vezes como escrava, prostituas, com algumas patologias e sempre<br />

pagam pelo seu mal comportamento até mesmo com a própria vida , a mulher nesse<br />

momento literário não tem voz e nem espaço par pensamento, possui somente o<br />

corpo objeto de uso do homem. O homem por outro também vive a mercê da<br />

sociedade, vivendo um casamento de aparências, para não ser mal visto e desligado<br />

do seu meio social.<br />

31


32<br />

Capítulo II<br />

Aluisio Azevedo: Perfil e Estética<br />

“A palavra escrita, que antigamente era um instrumento de poetas lamuriosos e<br />

de novelistas piegas e imorais, serve hoje para demonstrar um fato,<br />

desenvolver uma tese, discutir um fenômeno”.<br />

Aluísio Azevedo.


2. ALUISIO AZEVEDO: ESTILO E ESTÉTICA<br />

2.1 VIDA:<br />

De acordo com os dados bibliográficos constantes no livro O Cortiço (2006; p. 228)<br />

vê-se que Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo, importante romancista brasileiro<br />

foi escritor, diplomata, caricaturista e jornalista. Nascido em São Luiz do Maranhão<br />

em 14 de Abril de 1857 e foi batizado na igreja e freguesia de São João Batista, em<br />

São Luiz pelo pároco Joaquim José do Prado em 30 de Maio do mesmo ano, tendo<br />

como padrinhos de batismo Luís Paulino Homem de Loureiro Siqueira e sua esposa<br />

que serviram os Santos Óleos ao recém-nascido.<br />

Seu registro de nascimento, porém só foi assinado quando Aluísio estava com sete<br />

anos de idade, pois seu pai, o Vice-cônsul e viúvo, David Gonçalves de Azevedo<br />

ficou impossibilitado de assiná-lo antes porque a mãe de Azevedo, Emília Amália<br />

Pinto de Magalhães já tinha sido casada antes e separado, mas na época ainda não<br />

tinha legalizado a separação, por isso os filhos advindos do segundo casamento<br />

ficavam sem registro, ou sem o nome do pai, uma vez que só podiam ser registrados<br />

pelo marido legítimo da mãe.<br />

A mãe de Azevedo era mulher de um homem rico e ríspido, comerciante portugês de<br />

temepramento brutal que nem brandou com a gravidez da jovem esposa e o<br />

nascimento da primeira filha, casamento por conveniência obviamente arranjado<br />

pelo seu pai, como vimos nos capítulos anteriores que os casamentos eram por<br />

questão social e não por amor.<br />

Todo esse impencílio foi porque ela era uma mulher separada do marido, coisa que<br />

a sociedade não aceitava, mas com toda essa burocracia anos depois como<br />

citamos é que o pai de Aluísio consegue assinar perante o tabelião José Nunes de<br />

Sousa, a declaração reconhecendo-o como seu filho legítimo. Maria Emília<br />

confessará mais tarde: “O meu gesto foi tido e havido como o maior escândalo até<br />

então rebentado na sociedade maranhnse!”. Faraco in O Mulato (2005; p. 01).<br />

Como era de prache, esse casal logo foi marginalizado, insultado, execrado da<br />

sociedade, mas isso não os impediu de constituirem a sua família, nascendo 03<br />

33


filhos e 02 filhas. Depois de Aluízio vem Arthur Azevedo, que ficará conhecido como<br />

teatrólogo. É claro que a vida de Aluísio não parou, com todas dificuldades e<br />

preconceito ele segui em frente, desde seu nascimento ele já ia de encontro com as<br />

regras sociais, pois ele próprio nascera de uma união fora do padrão exigido pela<br />

sociedade e até sua maturidade foi assim, criticando, denunciando e combatendo a<br />

sociedade provinciana em que nascera. Vejamos o seu roteiro de vida:<br />

Aluísio aos sete anos começa a freqeuntar as aulas do professor<br />

Raimundo Joaquim Cesar, sendo transferido depois para o colégio do<br />

professor Antônio Pires. Aluísio desde muito novo dedicou-se ao<br />

desenho e pela pintura que certamente auxiliou na aquisição da<br />

técnica que empregará mais tarde ao caracterizar os personagens de<br />

seus romances, aos treze ano começa a trabalho como caixeiro no<br />

armazém do despachante David Freire, na praia Grande e como<br />

guarda-livros. Ainda adolescente , já ganhava algum dinheiro pintando<br />

retratos de pessoas até especializar-se na pintura de retratos de<br />

defuntos. Era muito pouco realmente para sonhava com um curso de<br />

Belas-Artes na Itália. Larga o emprego para estudar no Liceu<br />

Maranhense , dirigido pelo professor Francisco Sotero do Reais e<br />

estuda pintura com o artista italiano já idoso o sr. Domingos Tribuzzi.<br />

A chamado do irmão, o teatrologo Arthur Azevedo, Aluísio viaja para o<br />

Rio de Janeiro, já com 17 anos de idade, matriculou-se na Academia<br />

Imperial de Belas- Artes e para manter-se fazia caricaturas<br />

principalmente de políticos, muito usadas na ilustração de jornais da<br />

época. Trabalhou em pelo menos quatro: O Fígaro, O Mequetrefe,<br />

Zig-zag e A Semana Ilustrada, obtendo desde então sua sobrevevia<br />

atraves de seus desenhos. Aluisio fica conhecedo como caricaturista<br />

por causa da charge intitulada “ Os Trinta Botões “ , em que<br />

ridiculariza Bordalo Pinheiro. O Cortiço.( 2006; p. 228).<br />

Com o falecimento de seu pai, David Gonçalves de Azevedo, aos 62 anos de idade,<br />

Aluísio volta para o Maranhão, a fim de resolver os negocios do pai. Começa<br />

escrever com o pseudônimo de Pitibri. Começa a redigir com alguns amigos o jornal<br />

o Pensador que sai três vezes por mês cujo objetivo era justamente atacar o clero.<br />

“O presente joranal tem um fim: Combater esse espírito sacerdotal que tanto sangue<br />

tem custado à humanidade.(...) Pensar é o contrário de crer”. Faraco in O Mulato<br />

(2005; p. 6).<br />

Aluísio funda com Libânio Vale e Vitor Lobato, seus futuros cunhados, A Pacotilha,<br />

o primeiro jornal diario de São Luís. E em 1881, publica O Mulato, que choca a<br />

sociedade pela forma crua do romance, desnudando a questão racial . Nesse<br />

período Aluísio já tinha se filiado aos abolicionistas.<br />

34


Um dia após a abolição da escratura Aluíso escreve: Ontem, assisti, pela primeira<br />

vez, a uma legitima expansão popular; via a multidão rir e chorar de prazer; vi uma<br />

raça, até então amaldiçoada, cantar em plena rua a Marselhesa da alegria(...); em<br />

cada olhar havia um raio de vitória... Faraco in (O Mulato; p. 15). Com o sucesso de<br />

O Mulato Aluísio consegue um bom dinheiro e volta para a Capital do Império, onde<br />

escreve sem parar novos romances, contos, crônicas e até peças teatrais como Flor<br />

de Lis, escrita em parceria com seu irmão teatrólogo Arthur Azevedo. Aluísio<br />

alcançou o prestígio com suas obras O Mulato, Casa e Pensão e O Cortiço,<br />

considerado pela crítica sua melhor obra, mas o prestígio não significava dinheiro,<br />

enquanto ele escrevia se preocupava com as contas a pagar, pois continuava<br />

lutando para viver melhor com o que produzia.<br />

Nesses tumulto da vida Azevedo também perde sua mãe Emília Amália, que falece<br />

em São Luis, do Maranhão. E assim segue sua vida com ganhos e perdas. Aluísio<br />

continua seguindo em frente e tenta de mudar de ofício pois a carreira de escritor<br />

não está lhe correpsondendo como desejava. Nesse contexto, Coelho Neto apud<br />

Faraco p. 20, revela que numa conversa com Azevedo o escritor dissera: “ O meu<br />

ideal é um emprego público (...), com vencimentos certos”. Aluísio continuava a<br />

procura de um a vida melhor , e tenta carreira diplomática. Conforme Faraco:<br />

Azevedo é nomeado oficial da Secretaria de Negócios do Governo<br />

do Estado do Rio um ano depois é exonerado do cargo, Lança seu<br />

último romance o livro de uma Sogra. Faz concurso na Secretaria de<br />

Exterior para Cônsul de carreira obtendo distinção, é nomeado vicecônsul<br />

em Vigor, é eleito para a Academia Brasileira de Letras<br />

ocupando a cadeira número quatro. Depois é removido para o viceconsulado<br />

de Iokoama, desistindo das Letras vende sua propriedade<br />

literária a por dez contos de réis a H. Garnier, recebe ordem do<br />

Ministerios de Relaçoes Exteriores para voltar ao Brasil nem mesmo<br />

chega em São Francisco recebe um novo telegrama ordenado que<br />

volte ao Japão para reassumir o posto há pouco deixado. No japão<br />

se apaixona por Satô, uma delicada oriental. Mas o romance acaba<br />

quando Aluísio é transferido para La Plata. Ela não pode ir por conta<br />

dos pais que são idosos. Após dois anos é tranferido para Nápoles<br />

na Argetina. Num desses trasnfere para lá transfere para cá<br />

Azevedo quase morre afogado no Coptic travessia de São Francisco<br />

e Iokoama. Perde seu irmão Américo que morre aos trinta e sete<br />

anos também em São Luís. Aluísio é promovido a consul de 2ª<br />

classe, sendo designado para servir em Salto, no Uruguai. Em o<br />

Cortiço. (2006; p. 230).<br />

35


Aluísio é removido para Cardiff, na Inglaterra, é nomeado cônsul na cidade de<br />

Nápoles e lá passa a viver com Da. Pastora Luquez de nacionalidade Argentina,<br />

que o acompanhava há dez anos, junto com seus filhos Pastor e Zulema que<br />

Azevedo adotara deixando os três como beneficiário em seu testamento.<br />

Azevedo passou pelo Rio de janeiro , de onde tinha estado afastado por muito<br />

tempo, e encontrou uma cidade muito mudada graças às obras de saneamento e<br />

urbanização. Os amigos o estranharam muito, o escrito ruma para o Uruguai e logo<br />

depois para Buenos Aires seu último posto e cinco anos após a morte do seu irmão<br />

o dramaturgo Arthur de Azevedo que estava com 53 anos. Aluíso encerra sua vida<br />

do romancista , caricatirista e diplomata , falecendo as 11 horas da manhã de 20<br />

de janeiro de 1913, de miocardite.<br />

Foi homenageado com o nome de uma importante rua no bairro de Santana, da<br />

cidade de São Paulo. Seis anos após sua morte por iniciativa dos membros da<br />

academia Brasileira de Letras fazem cerimonia em sua homenagem. Na biografia<br />

constante no livro observa-se esse momento no fragmento a seguir:<br />

Coelho Neto e outros acadêmicos propõem à mesa da Academia, que<br />

oficie ao Ministério das Relações Exteriores, solicitando que sejam<br />

translado para o Brasil os restos mortais do romancista.Chega a 9 de<br />

Setembro ao Rio de Janeiro, vindo do Rio da Prata, o esquife do<br />

Cônsul brasileiro. Em 25 de Outubro desembarca em São Luís, de<br />

bordo do “Bahia”, o corpo. Sessão solene da Academia Maranhense.<br />

Missa pelo Bispo diocesano é enterramento no dia 28. O Cortiço.<br />

(2006; P. 231).<br />

Em suma, a vida de Aluísio de Azevedo, foi um leque de acontecimentos, desde<br />

muito jovem lutava por sua sobrevivência, através de suas pinturas e romances,<br />

transgredindo de um período romântico cheios de subjetividade e ilusões para outro<br />

em que a objetividade era essencial, mostrando através de suas obras o verdadeiro<br />

retrato da vida de uma cidade movida pelo preconceito e desigualdade social.<br />

2. 2 OBRAS:<br />

Aluísio Azevedo é autor de obras românticas e realistas-naturalistas. Escreveu<br />

romances de grande interesse social: O Mulato, obra que lhe provocou escândalo<br />

na época do seu lançamento em 1881, Casa de Pensão, que o consagrou e O<br />

36


Cortiço, conhecido com sua obra mais importante. Nessa perspectiva o fragmento<br />

a seguir escalrece alguns dados sobre o assunto:<br />

Além de O Mulato, os romances que o consagraram perante a<br />

crítica foram Casa de Pensão, e o Cortiço, sonsiderado sua obraprima.<br />

No primeiro inspirado num caso da crônica policial do Rio,<br />

descreve a vida nas pensões chamadas familiares, onde se<br />

ospedavam jovens que vinham do interior para estudar na capital.<br />

Numa daquelas inúmeras casas de penão espalhadas pelo Rio de<br />

Janeiro, tinha acontecido um fato que acabou sendo conhecida pelo<br />

povo como “Questão Capistrano”. O fato não iria escapara ao atento<br />

observador naturalista que inspirou-lhe o romance. Em O Cortiço um<br />

quadro da miséria a que eram submetidos o negro e o mulato<br />

explorados pelo branco português. Ele retrata agrupamentos<br />

humanos, denuciando a miséria, a marginalização, a fome, a<br />

prostituição e a exploraçã. O Cortiço.(2006; p. 228).<br />

O Romance Casa de Pensão foi de grande sucesso de publico, esgotando três<br />

edições no ano do seu lançamento em livro, o autor afirmava no prefácio do folhetim “<br />

Estudar uma das faces mais característica e mais antipática da nossa sociedade – a<br />

vida em casa de pensão”. Faraco in O Mulato. (2005; p. 14) no romance O Cortiço,<br />

obra que é sempre indicada para vestibulares, Aluísio critica ainda os poderosos<br />

proprietários de cubículos, que os alugavam aos menos favorecidos, ela é que<br />

melhor resume os ideais naturalistas, tendo como personagens; lavadeiras,<br />

operários, prostitutas, indivíduos marginalizados que vivem em um ambiente pobre e<br />

promíscuo. Deixou uma obra extensa, de qualidade irregular. Listamos abaixo títulos<br />

e como para o interesse do leitor que queira conhecer melhor as obras de Aluísio de<br />

Azevedo. São elas:<br />

Uma Lágrima de Mulher, novela, 1880 – Seu primeiro romance<br />

publicado , O Mulato, novela, 1881 - que provocou escândalo na<br />

época de seu lançamento, Mistério da Tijuca ou Girândola de<br />

amores, novela, 1882 – Publicado primeiro em folhetim na Folha<br />

Nova; Memórias de Um Condenado ou Condessa Vesper, novela,<br />

1882 – publicado primeiro em rodapé da Gazetinha ;Casa de pensão,<br />

novela, 1884 ; Filomena Borges, novela, 1884 ; O homem, novela;<br />

1887 – Publicado primeiro em rodapé de O País; O cortiço, novela,<br />

1890 ; O coruja, novela, 1890 - Publicado primeiro em rodapé de O<br />

País; A Mortalha de Alzira, novela, 1894 ; Demônios, conto, 1895 ; O<br />

livro de uma sogra, novela, 1895 ; O Bom Negro, crônica ; O<br />

Esqueleto, publicado sob pseudônimo de Victor Leal ; (em<br />

contribuição com Olavo Bilac).; As peças Flor de Lis, em parceria<br />

com seu irmão Arthur Azevedo; As peças : Os Doidos ; Casa de<br />

Orates ; Em Flagrante; Caboclo; Um Caso de Adultério; Venenos que<br />

Curam e República.<br />

37


2.3 ESTILO E ESTÉTICA<br />

Aluísio Azevedo foi o responsável por inaugurar o estilo naturalista no Brasil com o<br />

romance O mulato, obra objeto dessa pesquisa. Seu trabalho é visto como irregular<br />

por diversos críticos, uma vez que oscilava entre obras românticas açucaradas, com<br />

cunho comercial e direcionado ao grande público e outras mais elaboradas em que<br />

deixa sua marca de grande escritor naturalista e de crítico social brasileiro. Azevedo<br />

não escondia seu inconformismo com a sociedade brasileira e com suas regras.<br />

Crítico impiedoso da sociedade brasileira e de suas instituições, o romancista Aluisio<br />

de Azevedo abandonou não totalmente as tendências românticas em que se formara<br />

para torna-se, influenciado por Eça de Queiroz, escritor português que, segundo<br />

Massuad Moisés, (1972, p.235). “Eça adere à teoria realista quando passa a<br />

escrever obras de combate às instituições vigentes, ou seja, a monarquia, o clero e<br />

a burguesia”.<br />

Azevedo foi uma espécie de discipulo dos escritores naturalistas europeus, dentre<br />

eles, o mais importante foi Émile Zola, idealizador e principal expoente do<br />

naturalismo na literatura francesa. Através dos seus mestres acima citados. Azevedo<br />

introduziu o naturalismo no Brasil, devido às mazelas sócias que ele presenciava<br />

com a realidade cotidiana, seus temas prediletos foram o anticlericalismo, a luta<br />

contra o preconceito de cor, adultério, os vícios, o povo humilde. Preocupado com as<br />

injustiças, passa a trabalhar com a Literatura em forma de denúncia, mostrando<br />

todos esses aspectos através de suas obras. Para Bosi (1994; p.187 -189).<br />

[...] Em Aluísio Azevedo a influência de Zola e de Eça é palpável; e ,<br />

quando não se sente, é mau sinal: o romancista virou produtor de<br />

folhetins. Aliás, Se a óptica naturalista, capta a mediocridade da<br />

rotina, os sestros e mesmo as taras do indivíduo, ela não será por<br />

isso menos verossímil que a opção contraria dos românticos ; e, o<br />

que mais importa, é tão siginificativa quanto ela, pois uma e outra<br />

são sitomas dos impasses criados no espírito do ficcinista quando se<br />

abeira da condição humana enleada na vida social. [...]<br />

Aluísio faz análise dos tipos socias maranhenses, através de seus romances,<br />

essa caracterísca o valoriza por sua facilidade de retratar agrupamentos humanos .<br />

e nas linhas desse retrato muito nítido denunciando os aspectos problemáticos da<br />

realidade brasileira. Faraco in O Mulato. (2005; p. 16). Essas características está<br />

38


em visível em o Cortiço, em que ele usa uma diversidade de personagens cada<br />

uma com sua caractestica própria, que habitam em ambiente promiscuo, revelando<br />

as dificuldades enfretadas pelas classes sociais menos privilegiadas que não tem<br />

condição social para viver em um ambiente de nível mais elevado. Vejamos<br />

Magalhães apud Bosi (1994; p. 188) “ Desistindo de montar um enredo em função<br />

de pessoas, ateve-se à sequencia de descrições muito precisas onde cenas<br />

coletivas e tipos psicologicamente primários atuam trata-se de um caso raro e<br />

precoce de profissionalização literária”.<br />

Durante grande parte de sua vida, Aluísio de Azevedo viveu daquilo que ganhava<br />

como escritor, nessa perspectiva Magalhães, afirma que “Aluísio Azevedo é no<br />

Brasil talves o único escritor que ganha o pão exclusivamente à custa da sua pena,<br />

mas note-se que apenas o pão : as letras no Brasil ainda não dão para a manteiga”.<br />

Aluísio de Azevedo dedicou grande parte de sua vida à literatura, sobreviendo do<br />

que produzia como escritor, mas ao entrar para a vida diplomática deixa de atuar na<br />

produção literária. Nesse contexto José Veríssimo apud Bosi (1994;p. 188) fala<br />

sobre as obras Condessa Vespér, Girândola de Amores, A Mortalha de Alzira...” é<br />

talvez a mesma causa se possa atribuir o estranho abandono das letras que se lhe<br />

nota a partir dos quarenta anos, quando entra para a carreira diplomática e se elege<br />

membro da academia recem-fundada. Essa luta com a pena pelo pão certamente<br />

explica o desnível entre seus romances sérios. Ainda nessa perspectiva sobre a<br />

obra Azevediana Bosi realta que:<br />

Em A Normalista, o resentimento do autor, apoucado pela vida de<br />

amanuense no meio hostil de Fortaleza, leva-o a nivelar todas as<br />

personagens no sentido das pequenas vilezas que a hipocrisia do<br />

meio se esforça em vão pot encobri. O nivelamento, borrando os<br />

limites das figuras humanas, acaba compondo o quadro naturalista e<br />

pessimista da vida citadina” esse acervo de mentiras galantes e<br />

torpezas dissimuladas,<br />

sociedade” . E o andamento moroso da narração, os interiores<br />

mornos e a baixa temperatura moral das criaturas traduzem bem a<br />

intuição geral do romancista.(BOSI, 1994;p. 194).<br />

Azevedo como escritor naturalista não hesita em em trazer os aspectos mais<br />

repulsivos da vida, fixando na camada mais baixa da sociedade, para a literatura.<br />

Ele traz o homem apenas como peça da engrenagem do mundo, ou seja, um animal<br />

ou vegetal como outro qualquer, o autor capta os conflitos do homem da época, os<br />

39


seus problemas concretos e os dramas cotidianos de gente simples. Como diria<br />

Cademartori “ No Brasil, Aluísio de Azevedo partilha a maior representatividade da<br />

ficção da segunda metade do século XIX, pois o autor não apenas conhece a<br />

realidade, mas contribui para modificá-la”. Aluísio trabalha focando a vida<br />

preferencialmente dentro da contemporaneidade da época, sua preocupação em<br />

observar e analisar, o autor realista/naturalista retrata distintamente seu tempo. Para<br />

Proença Filha, (2001; p. 242),<br />

Denuncias das desigualdades sociais. Representado, de certa forma<br />

uma rebeldia contra o idealismo romântico, relacionado com a classe<br />

alta, o Realismo logrou impor a pintura verdadeira da vida dos<br />

humildes e obscuros, os homens e mulheres comuns que estão<br />

habitualmente vivendo em tornos de nós [...]<br />

Facilmente se presume que a missão de Aluísio de Azevedo era a um um defensor<br />

dos fracos e oprimidos, como vimos sua intenção era pintar o verdadeiro retrato da<br />

sociedade brasileira, com suas virtudes e defeitos, ou melhor, ele fazia copia fiel dos<br />

fatos politicos, sociais e coriqueiros do dia-a-dia da cidade maranhense,<br />

representado através dos seus personagens.<br />

Diante das pesquisas feitas para este trabalho, encontramos o desejo de Aluísio de<br />

Azevedo desistir de sua carreira literária, devido a má condição de vida, pois<br />

ganhava-se muito pouco, com seu trablho, como todos os outros escritores, mas<br />

Azevedo desiste da literatura e torna-se um diplomata, torna-se também em uma<br />

pessoa desaminada, pessimista e melancólico, percebe-se então que a literatura<br />

não lhe rendia dinheiro, mas era o eixo que movimentava sua vida e a vida<br />

daquelas pessoas das classes menos afavorecida pertencente a uma sociedade<br />

mesquinha e preconceituosa, que ele tanto defendia. Esse sim é o estilo do<br />

romancista Aluísio de Azevedo.<br />

40


41<br />

Capítulo III<br />

Desvendando o romance O Mulato<br />

“Se me disessem : É porque é pobre!” que eu trabalharia! Se me dissessem porque<br />

não tem uma condição social !”, juro-te que a conquistaria, fosse como fosse! “ É<br />

porque é um infame! Um ladrão! Um miserável, eu me comprometeria a fazer de<br />

mim o melhor modelo dos homens de bem! Mas um escravo, um filho de negra, um<br />

mulato! E como hei de transformar todo meu sangue, gota por gota?O Mulato.(2005;<br />

p. 234).


3. PRECONCEITO E HIPOCRISIA SOCIAL EM O MULATO<br />

Aluísio Azevedo publica em 1881, O Mulato obra que o nomeia pioneiro do<br />

Naturalismo no Brasil, O autor para divulgar sua obra faz campanha através de<br />

cartazes de rua e anúncios no jornal A Pacotilha que ele fundará com seus<br />

cunhados, e pouco antes da obra vir a público, ele publica uma notícia no jornal O<br />

Pensador da seguinte forma: “Dr. Raimundo José da Silva, distinto advogado que<br />

partilha de nossas idéias e propõe-se a bater os abusos da Igreja. Consta-nos que<br />

há certo mistério na vida deste cavalheiro”. Faraco in O Mulato. (2005; p. 8).<br />

O autor anunciando a chegada de Raimundo em São Luis e usa essa estratégia<br />

para despertar a curiosidade e confundir dos maranhenses se a nota era um<br />

personagem ou uma pessoa real de carne e osso. A obra foi lançada em uma<br />

época em que todo o país se encontrava em oposição à Igreja, pois os padres<br />

mostravam-se em desacordo com as idéias de abolir a escravatura. Vários Estados<br />

brasileiros lutava-se a favor da abolição, menos a Bahia e o Maranhão.<br />

Focaremos no estado do Maranhão, pois a obra em questão é fruto deste contexto,<br />

dá-se então através da ótica do autor Aluísio de Azevedo uma visão do meio<br />

maranhense da época precisamente no final do século XIX , da cidade provinciana<br />

de São Luís , a narrativa acontece de forma linear, começo, meio e fim . Na citação<br />

a seguir Azevedo nos descreve a cidade Maranhense:<br />

“Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do<br />

Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que se não podia<br />

sair à rua: as pedras escaldavam; as vidraças e os lampiões<br />

faiscavam ao sol como enormes diamantes; as paredes tinham<br />

reverberações de prata polida; as folhas das árvores nem se<br />

mexiam; as carroças de água passavam ruidosamente a todo o<br />

instante, abalando os prédios; e os aguadeiros, em mangas de<br />

camisa e pernas arregaçadas, invadiam sem cerimônia as casas<br />

para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos não se<br />

encontrava viva alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido;<br />

só os pretos faziam as compras para o jantar ou andavam no ganho.<br />

A Praça da Alegria apresentava um ar fúnebre. De um casebre<br />

miserável. De porta e janela, ouviam-se gemer os armadores<br />

enferrujados de uma rede e uma voz tísica e aflautada, de mulher,<br />

canta em falsete a “gentil Carolina era bela”; doutro lado da praça,<br />

uma preta velha, vergada por imenso tabuleiro de madeira, sujo,<br />

seboso, cheio de sangue e coberto por uma nuvem de moscas,<br />

42


apregoava em tom muito arrastado e melancólico: “Fígado, rins e<br />

coração!.”Era um vendedeira de fatos de boi. As crianças nuas com<br />

as perninhas tortas pelo costume de cavalgar as ilhargas maternal,<br />

as cabeças avermelhadas pelo sol, a pele crestada, os ventrezinhos<br />

amarelentos e crescidos, corriam e guinchavam, empinando<br />

papagaios de papel”. O Mulato. (2005;p. 19).<br />

A citação acima representa uma das características do naturalismo, no qual o autor<br />

descreve minuciosamente o cotidiano dos moradores de São Luís. Observamos a<br />

nitidez com que ele nos mostra o ambiente da cidade e seus habitantes , deixando<br />

claro que diante do imenso calor só os pretos faziam suas tarefas, e que única<br />

função deles era a de servir.<br />

“Em todas as direções cruzavam-se homens esbofados e rubros;<br />

cruzavam-se negros no carreto e os caixeiros que estavam em<br />

serviço na rua; avultavam os paletós-sacos, de brim pardo<br />

mosqueados nas espáduas e nos sovacos por grande mancha de<br />

suor . Os corretores de escravos examinavam, à plena luz do sol, os<br />

negros e moleques que ali estavam para ser vendidos ; revistavamlhe<br />

os dentes, os pés e as virilhas; faziam-lhes perguntas sobre<br />

perguntas; batiam-lhes com a biqueira do chapéu nos ombros e nas<br />

coxas, experimentando-lhes o vigor da musculatura, como se<br />

estivessem a comprar cavalos.” O Mulato .(2005;p. 20).<br />

Notamos que os negros eram tratados como animais e mercadorias, os brancos e<br />

português, faziam todo essa análise com negros como foi descrito acima, para<br />

aquisição de sua mão-de-obra. Através das descrições de ambiente como também<br />

das apresentações de situação, o autor faz uma avaliação da sociedade<br />

maranhense da época. Veremos na figura da dona Maria Bárbara, senhora de seus<br />

cinqüenta e tantos anos, que aceitou o convite do genro Manoel Pescada de morar<br />

em sua casa junto com ele e sua neta a Ana Rosa protagonista do romance:<br />

[...] O rosto enrugado e macilento, apesar do seu grande fervor pela<br />

Igreja e apresar das missas que papava por dia, dona Maria Bárbara,<br />

apesar de tudo isso, saíra-lhe “má dona de casa”. Era uma fúria!<br />

Uma víbora! Dava nos escravos por hábito e por gosto só falava a<br />

gritar e, quando se punha a ralhar, Deus nos acuda, incomodava<br />

toda a vizinhança! Insuportável! Maria Bárbara tinha o verdadeiro tipo<br />

das velhas maranhenses criadas na fazenda. Tratava muito dos<br />

avós, quase todos portugueses; muito orgulhosa; muito cheia de<br />

escrúpulos de sangue. Quando falava dos pretos, dizia “os sujos” e,<br />

quando se referia a um mulato, dizia “o cabra”. Sempre fora assim e,<br />

como devota, não havia outra. [...] O Mulato. (2005; p. 23).<br />

43


A personagem é o retrato fiel do preconceito racial e da religiosidade maranhense da<br />

época, notamos que o seu próprio nome Bárbara, representa sua personalidade,<br />

uma pessoa rude, cruel e desumana, que sempre menospreza a classe negra,<br />

temos assim uma das características da sociedade provinciana do Maranhão.<br />

Nessa mesma cidade conservadora, nasce a historia de amor entre Ana Rosa e<br />

Raimundo, Ana Rosa uma jovem bonita de olhos pretos e cabelos castanhos, que<br />

puxara da mãe, e rijezas dos dentes e do corpo que herdará do pai, Manoel Pedro da<br />

Silva, mais conhecido como Manoel Pescada, um português, de cinqüenta anos,<br />

forte, vermelho e trabalhador. Ela sonhava com um casamento romântico, sonhava<br />

com seus filhos. Lembrava sempre o que sua mãe lhe disse no leito de morte.<br />

[...] Minha filha não consinta nunca que te casem, sem que mãe<br />

deveras o homem a ti destinado para marido. Não te cases no ar!<br />

Lembra-te que o casamento deve ser sempre a conseqüência de duas<br />

inclinações irresistíveis. A gente deve casar porque ama, e não ter de<br />

amar porque casou. Se fizeres o que digo serás feliz! [...]. O Mulato;<br />

2005, p. 25).<br />

Assim Ana Rosa ao se tornara completamente mulher, sonhava com um herói<br />

romântico que virá salva–lá da vida melancólica na cidade do Maranhão. E nesse<br />

período é que chega a cidade de São Luis, depois de anos na Europa, Raimundo<br />

um jovem bonito, rico e virtuoso, advogado, tinha os gestos bem educados, sóbrios,<br />

despido de pretensão, falava em voz baixa, vestia-se com serenidade e bom gosto;<br />

amava as artes, as ciências e a literatura. Era sobrinho do Sr. Manoel Pescada, pai<br />

da jovem Ana Rosa. Raimundo é portador de todas as características de herói, pelo<br />

qual a Ana Rosa tanto sonhava.<br />

A família do Manoel Pescada recebe bem o Dr. Raimundo, com exceção da avó de<br />

Ana Rosa, um senhora beata e preconceituosa a dona Maria Bárbara, Raimundo<br />

percebe que as pessoas da cidade o olham com estranhezas , mas imagina que seja<br />

por ser novo na cidade e por ele vir da Europa. Ana Rosa se apaixona pelo primo e<br />

declara seu amor, Raimundo corresponde a paixão da prima, mas o casal terá que<br />

enfrentar três obstáculos: avó Maria Bárbara, mulher racista; o Cônego Diogo,<br />

comensal da casa e adversário natural de Raimundo ele era o mais empenhado em<br />

44


impedir a união do casal, uma vez que fora responsável pela morte do pai do<br />

jovem, e o Manoel Pescada seu tio o pai de Ana Rosa, que queria a filha casada<br />

com Luis Dias, um dos caixeiros da loja. Todos três conheciam as origens negróides<br />

de Raimundo sendo ele filho da escrava Domingas e José Pedro, irmão do Manoel<br />

Pescada.<br />

A dona Maria Bárbara seu primeiro obstáculo como se sabe é o preconceito racial<br />

em pessoa, o segundo obstáculo é o cônego Diogo:<br />

Era um velho bonito, tinha menos de sessenta anos, mas ainda<br />

estava forte e bem conservado; olhar vivo, o corpo teso, mas ungido<br />

de brandura santarrona. Calçava-se com esmero, de polimento;<br />

mandava buscar da Europa, para seu uso, meias e colarinhos<br />

especiais, e , quando ria, mostrava dentes limpos, todos chumbados<br />

de ouro. Tinha movimentos distintos; mãos brancas e cabelos alvos<br />

que fazia gosto. O Mulato. (2005; p.32 e 33).<br />

O Cônego era melhor representante da Igreja, com poder de persuasão sobre seus<br />

fiéis, Mas por trás dessa figura santificada escondia um homem maquiavélico,<br />

manipulador, preconceituoso e assassino, ele era o mais que se empenhava em<br />

impedir essa união, uma vez que fora o responsável pela morte do jovem Raimundo,<br />

motivo que descobriremos na citação a seguir:<br />

[...] Ao chegar lá, sabendo que não o esperavam essa noite e como<br />

visse luz no quarto da esposa, apeou-se em distancia e, para não se<br />

encontrar com ela, guardou o cavalo e entrou silenciosamente na<br />

fazenda [...] Ouviu aí sussurros de vozes que conversavam.<br />

Aproximou-se levado pela curiosidade e encostou o ouvido à porta.<br />

Reconheceu a voz da mulher. [...] Sem esperar mais nada, meteu<br />

ombros à porta e precipitou-se dentro do quarto, atirando-se com<br />

fúria sobre a esposa, que perdera logo os sentidos. O padre Diogo,<br />

pois era dele a outra voz, não tivera tempo de fugir e caíra, tremulo,<br />

aos pés de José. Quando esta largou das mãos a traidora, para se<br />

apossar do outro, reparou que tinha estrangulado. E dando à voz um<br />

exijo em troca o seu para a minha culpa...Aceita? O padre cumpriu a<br />

promessa [...]. O Mulato (2005; p. 53).<br />

Ele um missionário religioso que prega os dogmas da Igreja, sempre tido por homem<br />

de muita santidade e de grande virtudes teologias, flagrado em adultério, não<br />

ficando satisfeito com o pacto de cumplicidade que fizera com José Pedro, então o<br />

45


cônego Diogo planeja friamente matar o pai de Raimundo, e assim acabaria com a<br />

única prova de adultério contra ele, saindo ileso dessa situação.<br />

O terceiro obstáculo é o pai da Ana Rosa, o Manoel Pedro, como ele pertence de<br />

uma cidade tradicionalista, e havia prometido a sua sogra a Maria Bárbara que só<br />

consentia o casamento da filha a um branco de lei, um português ou um<br />

descendente direto de portugueses, e também para dar continuidade ao negócios<br />

do comércio, era costume o patrão casar a filha com o primeiro empregado, assim<br />

prolongaria os negócios comerciais, com sucesso e o felizardo era o caixeiro Luis<br />

Dias, que o patrão o via uma criatura trabalhadora e passiva, homem que faria sua<br />

filha feliz. Queria-o como genro e para sócio. Veremos como Azevedo o descreve<br />

esse rapaz promissor no comércio:<br />

O Dias era um tipo fechado como um ovo, um ovo choco que mal<br />

denunciava na casaca a podridão interior. Todavia, nas cores biliosas<br />

do rosto, no desprezo do próprio corpo, um rapaz magro e macilento,<br />

um tanto baixo um tanto curvado, pouca barba, testa curta e olhos<br />

fundos. O uso constante dos chinelos de trança fizera-lhe os pés<br />

monstruosos e chatos quando ele andava, lançava-os<br />

desairosamente para os lados, como o movimento dos palmípedes<br />

nadando. O Mulato (2005; p.45 e 46).<br />

O autor usa de seus dons de caricaturista e descreve realmente como eram os<br />

moradores da época, diferente do romantismo que não existia o feio, mas somente o<br />

belo. Azevedo traz o contraste entre o Dias e o Raimundo, personagens que<br />

representam verdadeiramente as pessoas como são. O caixeiro não era tão bom<br />

quanto o Manoel Pescada pensava, ele tinha um único objetivo que era enriquecer<br />

e para isso seria capaz de tudo sem examinar, qualquer caminho desde que lhe<br />

parecesse mais curto; tudo servia, tudo era bom, contanto que o levasse mais<br />

rapidamente ao ponto desejado e Ana Rosa seria o caminho certo. Mas os<br />

sentimentos de Ana Rosa já estava comprometido pelo primo Raimundo:<br />

[...] Aquele rosto quente, de olhos sombrios, olhos feitos do azul do<br />

mar em dias de tempestade, aqueles lábios vermelhos e fortes,<br />

aqueles dentes mais brancos que as presas de uma fera<br />

impressionavam-na profundamente. “Que espécie de homem estaria<br />

ali...” ainda mais interessante o tornavam aos olhos dela. “Mas,<br />

afinal, quem seria certo aquele belo moço?...” E Ana Rosa deixava-<br />

46


se invadir lentamente por aquela embriaguês, esquecendo-se,<br />

alheando-se a tudo, sem querer pensar em outra coisa que não fosse<br />

Raimundo. De repente surpreendeu-se a dizer: “Como deve ser bom<br />

o seu amor...” Estremece, porém, vieram-lhe desejos de os apalpar<br />

com os lábios. Como devia ser bom ouvir dizer Eu te amo! Por<br />

aquela boca e por aquela voz!...O Mulato. (2005;p.92 - 93).<br />

Raimundo não se recorda da infância com Ana Rosa, pois foi Mariana mãe da jovem<br />

quem cuidara dele quando criança e Ana Rosa não havia nascido e pouco depois<br />

do seu nascimento Raimundo ainda pequeno já fora estudar fora do Maranhão. Ele<br />

não tem esse ligamento fraterno com a moça, no qual foram criados separados.<br />

Raimundo começa a observar Ana Rosa não mais como irmã , mas com interesse,<br />

contemplando-a e vendo em seu semblante uma moça simples e bem-disposta:<br />

[...]Deve ser, com certeza, uma excelente moça... calcula de si para<br />

sim.” Pelo seu todo está a dizer que é boa de coração e honesta por<br />

natureza. Além do quê é bonita”. Notou-lhe então a frescura da pele,<br />

a pureza da boca, a abundância dos cabelos. Achou-a bem tratada;<br />

as mãos claras, os dentes asseados, a tez muito limpa, fina e<br />

lustrosa, na sua palidez simpática de flor do Norte. O Mulato.<br />

(2005;p.95-96).<br />

Raimundo era filho do José Pedro irmão do Manoel pescado e da escrava<br />

Domingos, até então ele não sabia de sua origem, e só descobriu quando seu tio<br />

recusou a mão de sua filha Ana Rosa em casamento:<br />

É a mão de minha filha que desejas pedir? É ...<br />

Então ... tenha a bondade de desistir do pedido...<br />

Por quê? Para poupar-me o desgosto de uma recusa...<br />

Como?!... Conte-me tudo! Juro-lhe que lhe ficarei reconhecido por<br />

isso! Ou, quem sabe? Serei tão desprezível a seus olhos que nem<br />

sequer lhe mereça tão miserável prova de confiança?...<br />

Não! Não! Ao contrário, meu amigo! Eu até levaria muito em gosto<br />

o seu casamento com a minha filha, no caso de que isso tivesse<br />

lugar!...E só peço a Deus que lhe depare a ela um marido possuidor<br />

das duas boas qualidade e do seu saber; creia, porém, que eu, como<br />

bom pai, não devo, de forma alguma, consentir em semelhante<br />

união. Cometeria um crime de assim procedesse!...<br />

47


-lhe a mão de minha filha, porque o senhor é... é filho de<br />

uma escrava.<br />

sa, mas é<br />

por tudo! A família da minha mulher foi sempre muito escrupulosa a<br />

esse respeito, e com ela é toda a sociedade do Maranhão! O Mulato.<br />

(2005;p.194).<br />

Facilmente se presume que ser um mulato para a sociedade Maranhense era um<br />

crime, com base no que citamos anteriormente vemos que o Manoel Pescada é<br />

influenciado pelo cônego Diogo seu conselheiro, pela família da esposa e pela<br />

sociedade a ser preconceituoso, mas sua razão diz o contrário, mas como nessa<br />

província o preconceito pesa mais que a razão, então ele tem que obedecer as<br />

regras que o meio determina. Mas Ana Rosa ao descobrir o motivo pelo qual<br />

Raimundo a abandonara, o encoraja a não partir do Maranhão;<br />

Não partirás... Que tenho eu com o preconceito dos outros? Que<br />

culpa tenho eu de te amar? Tenho culpa de que minha felicidade só<br />

depende de ti? Ana Rosa caiu de joelho , sem desgarrar do corpo<br />

que precisa de tua compaixão!Sou tua!Aqui me tens, meu senhor,<br />

ama-me! Não me abandones! O Mulato. (2005;p.232).<br />

Notamos os traços românticos, nesse caso percebemos que Aluísio de Azevedo<br />

está indo em direção do naturalismo, mas que não se desligou definitivamente do<br />

romantismo. Mas todos esses acontecimentos fizeram com que o amor dos dois se<br />

fortalecesse cada vez mais e, contra tudo e contra todos, os amantes armam um<br />

plano de fuga, mas o terrível Cônego Diogo usa da sua autoridade religiosa e<br />

através das confissões de Ana Rosa descobre todo o plano e com a colaboração do<br />

caixeiro Dias, que intercepta as cartas do casal. E no exato momento da fuga o<br />

casal foi surpreendido, o Cônego armou um maior escândalo com direito até de<br />

soldados, ao mesmo tempo fingia-se protetor do casal, com isso impediu a fuga do<br />

casal.<br />

48


Raimundo foi obrigado a sair da casa de Ana Rosa, mas prometeu para ela que<br />

seria seu esposo, ela também jurou ser dele. Ao voltar para casa atordoado, e, ao<br />

abrir a porta de casa, é atingido nas costa por tiro. E quem comete esse ato cruel é o<br />

Luis Dias, por incentivo do Cônego Diogo:<br />

[...] Você conquistou a sua posição naquela casa com uma longa<br />

dedicação, com um esforço de todos os dias e de todos os instantes;<br />

você enterrou ali a sua mocidade e empenhou o seu futuro: você deu<br />

tudo, tudo que dispunha, para receber agora o capital e os juros<br />

acumulados! E o outro? Um negro forro à pia não pode aspirar à<br />

mão de uma senhora branca e rica! É um crime! É um crime, que o<br />

facínora quer, a todo transe, perpetrar contra nossa sociedade e<br />

especialemte contra a família dão homem a quem você dedicou,<br />

uma família que, por bem dizer, já é sua, porque o Manoel Pedro tem<br />

sido para você um verdadeiro pai, um amigo sincero, um protetor<br />

que devia merecer –lhe, ao menos, o sacrifício que você agora<br />

duvida fazer por ele! É um a ingratidão! Nada mais nada menos! Mas<br />

a justiça divina. [...]. O Mulato. (2005;p.270).<br />

E o cônego com seu poder de persuasão e por ser um homem religioso, convence o<br />

caixeiro fazendo com que ele elimine o Raimundo, usando uma pistola emprestada<br />

pelo Cônego Diogo, o mesmo que assassinara o pai de Raimundo, também foi<br />

responsável direto pela sua morte. Como segue abaixo:<br />

[...] Raimundo levantou-se e segui pela Rua Grande. “Agora talvez<br />

dormisse um pouco... Estava tão fatigado!...” Quando atravessou o<br />

campo de Ourique, pensou sentir alguém acompanhado-o, olhou<br />

para os lados e não descobriu viva alma. “enganara-se com<br />

certeza...Era talvez o eco dos seus próprios passos...” Continuou a<br />

andar, até chegar a casa. Mas, do vão escuro, em que se formava o<br />

limite da parede, rebentou um tiro, no momento em que ele dava<br />

volta à chave. Este tiro partira de um revolver fornecido ao Dias pelo<br />

Cônego Diogo. Todavia, no instante supremo, faltara ao pobre diabo<br />

coragem [...] Dias fechou os olhos e concentrou toda a energia no<br />

dedo que devia puxar o gatilho. A bala partiu, e Raimundo, com um<br />

gemido, prostrou-se contra a parede [...].O Mulato. (2005;p.274-275).<br />

Com o extermínio de Raimundo, Dias teria o caminho livre para casar-se com Ana<br />

Rosa, pois dessa forma obteria uma posição melhor e tornaria rico. Ana Rosa sofre<br />

muito por ter perdido seu filho e seu único amor, Após seis anos do acontecido Ana<br />

Rosa, para não ser execrada da sociedade, resolve fazer a vontade do seu pai e a<br />

do Cônego Diogo e casa-se com Luís Dias, por quem tinha a repugnância, mas é<br />

49


preciso alinhar-se as regras da sociedade. Em síntese a pressão social revela-se<br />

mais forte que os sentimentos, e assim desfaz o mito do amor romântico; “E foram<br />

felizes para sempre”.<br />

Aluísio Azevedo mostra como esses personagens vivem em função do meio, mas<br />

também podem sofrer alteraçãoes pelo mesmo. No caso de Luis Dias , foi através<br />

do padre, uma figura religiosa que o incentivou a cometer atos cruéis, e assim ele<br />

conseguiria alcançar seu objetivo, casar com Ana Rosa se tornando um menbro da<br />

elite Maranhense. Assim Aluísio de Azevedo retratava com veracidade a<br />

sociedade da época destacando a ambição, o desejo de poder, o indinheiro acima<br />

de tudo e de todos e o preconceito racial que vem dos séculos passados se<br />

perpertuando até os dias de hoje.<br />

50


4. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A obra O Mulato, de Aluísio de Azevedo, como tantas de suas obras, o escritor faz<br />

uma mistura do real com a ficção, revelando fatos e acontecimento da vida<br />

cotidiano das pessoas maranhenses que ele conhecera e observara. Azevedo se<br />

insere em um contexto bastante complexo, abrangendo duas tendências literárias de<br />

um mesmo século, o Romantismo na primeira metade do século XIX e o<br />

Realismo/Naturalismo na segunda metade do mesmo século.<br />

Nesse período o Brasil passava por várias mudanças o campo industrial, com o<br />

surgimento de várias fábricas; de chapéus, sabão, tecidos e outras mais, a<br />

substituição da mão - de - obra escrava pelo trabalho assalariado, a decadência<br />

açucareira, a extinção do tráfico negreiro e o fim da escravidão em 1888, que deu<br />

início a vinda dos imigrantes para o Brasil, como também a época das descobertas<br />

e invenções, todos esses aspectos são reflexos da revolução francesa.<br />

Observou-se no decorrer da pesquisa que o Positivismo de Comte, Determinismo de<br />

Taine e o Evolucionismo de Darwin, são as correntes filosóficas que influenciaram e<br />

serviram de bases para ampliar as idéias dos escritores naturalistas. Os escritores<br />

desse período procuravam representar acima de tudo a verdade, a miséria, a fome e<br />

a má condição de vida de um meio pouco sensível. Para tais denúncias Azevedo<br />

fazia uso de seu dom de caricaturista mostrando os costumes e a cultura<br />

maranhense na forma de seus personagens, em uma época em que se têm uma<br />

sociedade dominada e manipulada pelo clero, focada na personagem do cônego<br />

Diogo , que esconde toda sua crueldade por trás da batina, como podemos vê o<br />

cônego está mais para representante do diabo que para santo, como toda a<br />

população o considerava.<br />

Seja como for, nos seus altos e baixos, Aluísio foi o expoente de nossa ficção<br />

urbana, um transgressor, saiu de um período Romântico idealizado para um período<br />

Naturalista, expondo as mazelas de uma sociedade insensível. O romance O<br />

Mulato veio como arma de combate contra essa elite maranhense, e todas as que se<br />

enquadram nesse mesmo sistema preconceituoso.<br />

51


Tudo que foi dito e exposto tem como úncio vilão, os preconceitos racial e social<br />

capazes de destruir a vida de um indivíduo como consta na obra Azevediana em<br />

questão. Um mulato, filho de uma escrava, mesmo com todos adjetivos que o autor<br />

descreve, Raimundo com o esteriótipo totalmente diferente dos mulatos da época,<br />

ou seja, Advogado, rico, educado e bonito, atraente e elegante, com todas essas<br />

virtudes ainda assim ele não se enquadrava nas normas sociais Maranhense .<br />

Este romance proporcionou um vasto conhecimento contextual desse século, que<br />

não está muito longe, com tanta crueldade e injustiça. O romance O Mulato vem<br />

para externar as mazelas sociais sofridas pelas classes menos favorecidas, é uma<br />

amostra do que era a sociedade de São Luis do Maranhão. Aluísio Azevedo que<br />

também fora vítima de preconceito por ser filho de uma mulher “separada do<br />

marido”, época dos casamentos por conveniência, não cruzou os braços diante de<br />

tantas pervecidade, fazendo da literatura um instrumento de combate social,<br />

questionando e se opondo aos fundamentos da sociedade, contestando a<br />

escravidão e denunciando as condições preconceituosa em que se vivam no seculo<br />

XIX, e que se perdura até os dias de hoje.<br />

Percebemos que a sociedade, indiretamente, continua ainda com essas ações, e o<br />

negro ainda não conseguiu se libertar totalmente da escravidão, ele vem sempre<br />

como representante da classe inferior, são poucos que circulam pelas ruas das<br />

cidades, escolas, faculdades, comércio trabalhista e na televisão e quando<br />

aparacem em anúncios e propaganda é muito raro um papel principal, e quando é<br />

o protagonista, tem como fundo o interesse político e capitalista, até mesmo no<br />

meio literário o negro é apresentado como escravo, como servo, marginal, sem<br />

destaque nenhum, raramente quando consegue ascensão social, já passou por<br />

muitos preconceitos e humilhações, e Azevdo foi uma espécie de defendo dos<br />

injustiçados e traz o personagem Raimundo para quebrar essa ideologia<br />

escravista, mostrando que o mundo é de todos, o respeito deve ser mútuo não se<br />

deve avaliar as pessoas pela sua etenia , mas sim, pela seu caráter e conduta .<br />

52


5. REFERENCIAS<br />

ALENCAR, José. O Guarani. São Paulo: Martin Claret, 2006.<br />

AZEVEDO, Aluisio. O Mulato. São Paulo: Martin Claret, 2005.<br />

_______________. O Mulato. Rio de Janeiro: Àtica , 2005.<br />

_______________. O Cortiço. São Paulo: Martin Claret, 2006<br />

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 38º edição São Paulo:<br />

Cultrix, 1994.<br />

CADERMATORI, Ligia. Períodos Literários, São Paulo, Ática, 2002.<br />

CANDIDO, Antônio. A Formação da Literatura Brasileira. São Paulo: Itatiaia, 8º<br />

edição, 2º volume, 1997.<br />

COELHO, Nelly Novaes. Literatura e Linguagem, Petrópolis, Vozes, 1994.<br />

COUTINHO, Afrânio. Introdução à Literatura no Brasil, 17º Edição. Rio de Janeiro:<br />

berttand Brasil, 2001.<br />

FARACO, Carlos. O povo como personagem in O Mulato,São Paulo: Ática, 2005.<br />

GUILERMINO, César. O Mulato, São Paulo: Ática, 2005.<br />

MARTINS, Patrícia. Manual de Literatura, São Paulo: 2004.<br />

PROENÇA FILHO, Domício, Estilos de Época na Literatura, São Paulo: Àtica,<br />

2001.<br />

QUEIROZ, Eça. O Crime do Padre Amaro, São Paulo: Martin Claret, 2002.<br />

RECANTODASLETRAS. Literatura 08 de setembro de 2009, disponível em<br />

.Acesso em: 15 de<br />

set de 2009, às 17:00 h.<br />

WIKIPÉDIA. Biografia Aluísio de Azevedo 01 de out 2009, disponível em:<br />

.Aacesso em: 15 de out de 2009, às<br />

9:00 hs.<br />

___________. Vida e obra de Aluísio Azevedo 11 de out 2009, disponível em:<br />

. Acesso em: 23 de out. 2009, às<br />

16:40m.<br />

ZOLA, Émile. Germinal. São Paulo: Ática, 2000.<br />

53


54<br />

ANEXOS<br />

“Aluísio Azevedo é no Brasil talvez o único escritor que ganha o pão exclusivamente<br />

à custa da sua pena, mas note-se que apenas o pão : as letras no Brasil ainda não<br />

dão para a manteiga”. Magalhães apud Bosi (1994; p. 188).


Família Azevedo<br />

Aluísio, Emília Amália e Arthur Azevedo<br />

55


Aluísio<br />

Aluísio e Arthur<br />

Caricatura: Revista Frotzmac<br />

56


Capa do Jornal O Fígaro<br />

Apresentando Aluísio Azevedo como novo ilustrador<br />

57


Escola Nacional de Belas Artes<br />

Rio de Janeiro – 1858<br />

Litografia :Victor Frond<br />

58


Damas e Cavalheiros- sc. XIX<br />

Foto: Charles Gibson<br />

Família de operários -1891<br />

Foto: Hubert yon Herkomer<br />

59


Mulato – Fotografado em 1965<br />

O Mulato<br />

Mulato –ótica Azevediana, imagem de 2005.<br />

60

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