Rapid Assessment Program - Conservação Internacional
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Capítulo 3 – Chapter 3<br />
Aqui são apresentados os resultados de inventários<br />
rápidos de mamíferos não-voadores realizados em cinco<br />
diferentes locais do PNMT: três na bacia do rio Araguari,<br />
porção central do Parque (Expedições I, IV e V); um na<br />
bacia do rio Jarí, na divisa com o Suriname (Expedição II);<br />
e um no rio Anotaie, afluente do rio Oiapoque, ao norte do<br />
PNMT. O Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque<br />
possui uma vasta extensão de florestas com grande<br />
diversidade de habitats, e os resultados aqui apresentados<br />
compõem os primeiros registros da fauna de mamíferos desta<br />
área. Pretende-se através dos resultados obtidos contribuir<br />
com o conhecimento de um importante grupo biológico em<br />
uma região amazônica pouco estudada, e fornecer subsídios<br />
para a elaboração do Plano de Manejo do PNMT. As<br />
coletas realizadas também contribuem para o fortalecimento<br />
da Coleção Fauna do Amapá, do Instituto de Pesquisas<br />
Científicas e Tecnológicas do Amapá (IEPA), como coleção<br />
de referência para o Estado.<br />
METODOlOGIA<br />
Para os pequenos mamíferos foram utilizadas armadilhas<br />
tipo Sherman (7,5 × 9,4 × 30 e 7,5 × 9,4 × 15 cm) e tipo<br />
gaiola (9 × 9 × 22 e 11 × 12 × 29,6 cm), além de coletas<br />
ocasionais à mão ou com a utilização de espingarda de<br />
pressão. Em todas as Expedições, foram dispostas 50 estações<br />
de captura em três linhas distanciadas aproximadamente<br />
em 500 m, com espaçamento médio de 20 m entre elas.<br />
As armadilhas foram iscadas com um composto de pasta<br />
de amendoim, sardinha e fubá (Expedições I, II, V), ou<br />
com aveia, bacon e sardinha (Expedições III e IV). Nas<br />
armadilhas tipo gaiola, a isca foi colocada sob uma rodela<br />
de batata-doce. Pitfalls foram dispostas em seis linhas. Em<br />
cada linha foram instalados quatro conjuntos de baldes de<br />
6 litros enterrados e dispostos em “Y”composto de quatro<br />
baldes, um ao centro e um em cada uma das extremidades,<br />
distantes 4 m um do outro. Os espécimes coletados foram<br />
taxidermizados seguindo-se procedimentos padrão, para<br />
posterior identificação e tombamento na Coleção Fauna do<br />
Amapá do Instituto de Pesquisa Científica e Tecnológica do<br />
Estado do Amapá (IEPA) em Macapá.<br />
Mamíferos de médio e grande porte foram<br />
inventariados através de caminhadas aleatórias pelas áreas<br />
amostradas, no final da tarde, noite, durante a madrugada<br />
e pelo amanhecer, quando se procurou registros diretos<br />
das espécies (visualizações e ou vocalizações) e indiretos<br />
(rastros, fezes, ossadas e outros). Procuras durante o dia<br />
também foram realizadas visando o registro de espécies de<br />
hábitos diurnos, principalmente primatas. Como método<br />
complementar foi utilizado câmeras fotográficas de disparo<br />
automático. Foram utilizadas cinco câmeras iscadas dispostas<br />
em carreiros, comedouros ou próximas às tocas das espécies<br />
de interesse, em alguns locais foram iscadas com laranja,<br />
cenoura, mel e bacon.<br />
2 <strong>Rapid</strong> <strong>Assessment</strong> <strong>Program</strong><br />
RESulTADOS E DISCuSSõES<br />
A lista de espécies aqui apresentada constitui o primeiro<br />
registro científico de mamíferos para o PNMT, localizado em<br />
uma região considerada com baixo nível de conhecimento<br />
científico e alta necessidade de inventários para mamíferos<br />
(Lim e Engstrom 2003). Com esforços amostrais de 1500<br />
armadilha/dia, 700 pitfall/dia e superiores a 60 h de procura<br />
ativa foram registradas nas cinco Expedições sete Ordens, 21<br />
famílias e 48 gêneros, totalizando 57 espécies de mamíferos<br />
não voadores para o PNMT (Tab. 3.1). As ordens com<br />
maior número de espécies foram Rodentia e Carnivora. Com<br />
exceção de Speothos venaticus, todas as demais espécies foram<br />
registradas de forma direta, com visualização em pelo menos<br />
uma das cinco Expedições (Tab. 3.1). Embora S. venaticus,<br />
não tenha sido registrado diretamente em nenhuma das<br />
Expedições, a ocorrência desta espécie foi considerada<br />
através de relatos de barqueiros. Muitos destes no passado<br />
exerceram a função de coureiros (caçadores que viviam<br />
da venda do couro de animais silvestres) na região do rio<br />
Amapari. Estes relataram a ocorrência desta espécie para os<br />
locais amostrados pelas Expedições I e V. Embora ressaltem<br />
a raridade da mesma, com apenas três e um registro<br />
respectivamente, todos datando de aproximadamente 10<br />
anos.<br />
A associação de métodos garantiu um maior número de<br />
espécies de pequenos mamíferos (8 marsupiais e 13 roedores)<br />
registrando espécies incomuns em inventários. Foram<br />
coletados sete exemplares de Didelphis marsupialis, nas<br />
Expedições I, IV e V, sendo seis fêmeas e um macho, todos<br />
adultos. Duas espécies de Didelphis são esperadas para o<br />
Estado do Amapá: D. marsupialis (gambá de orelha preta) e<br />
D. imperfecta (gambá de orelha branca), esta última também<br />
referida em algumas fontes como D. albiventris. As espécies<br />
D. marsupialis e D. imperfecta se distinguem principalmente<br />
pelo tamanho e coloração das orelhas. O gênero Didelphis<br />
é comumente retratado para áreas alteradas (Fonseca e<br />
Kierulf 1989), esta pode ser a razão para o baixo resultado<br />
obtido para o PNMT Montanhas do Tumucumaque,<br />
onde a maioria dos ambientes é composta por florestas<br />
primárias. Voss et al. (2001), trabalhando em Paracou, na<br />
Guiana Francesa, capturaram 52 % dos espécimes de D.<br />
albiventris em clareiras, áreas secundárias ou em regeneração,<br />
ou habitats perturbados, e 58 % das capturas em floresta<br />
primária.<br />
Oito espécimes pertencentes ao gênero Marmosops<br />
foram coletados no PNMT, sendo três destes coletados<br />
à mão durante procuras noturnas, dois capturados em<br />
armadilhas de queda e três com uso de espingarda de<br />
pressão. Apenas na Expedição I não ocorreu captura destes<br />
pequenos marsupiais. Até o momento, quatro indivíduos<br />
foram identificados como M. parvidens, os demais estão<br />
em processo de identificação. Este gênero dificilmente é<br />
coletado em armadilhas com uso de iscas, o que implica em<br />
erros sobre sua abundância e distribuição. Duas espécies<br />
de Marmosops são esperadas para o PNMT: M. parvidens e<br />
M. pinheiroi. Estas duas espécies são pequenos marsupiais