Cartas entre amigos
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Só o amor nos autoriza uma aproximação dos calvários do<br />
mundo. Ele é o elemento que impede a banalização, pois resguarda,<br />
envolve e protege o sagrado que por trás da dor se<br />
esconde.<br />
Vez em quando vejo o sofrimento humano sendo usado<br />
como mecanismo. É lamentável. É afrontoso. A lágrima da mãe<br />
que perdeu o filho num soterramento é usada para ganho de<br />
audiência em programa de televisão. Não, não há comprometimento<br />
com o fato. O único desejo é aproveitar o acontecimento<br />
e transformá-lo em pauta para a manutenção de uma programação<br />
fútil. Não importa o quanto o outro sofre. O que importa é<br />
o quanto os índices de audiência subirão no momento em que<br />
a dor for exposta.<br />
Gabriel, sua carta chegou num momento oportuno. Foi<br />
seguindo a trilha que suas palavras me sugeriram que pude adentrar<br />
o contexto de uma reflexão pertinente e necessária. A condição<br />
humana será sempre bem-vinda às nossas reflexões. Será<br />
sempre a base de uma boa prosa, afinal, toda vez que sobre ela<br />
refletimos, de alguma forma estamos alterando o que somos.<br />
Antes de qualquer coisa, eu gostaria de salientar a satisfação<br />
que tenho de novamente estabelecer este vínculo. A carta é<br />
um mecanismo maravilhoso que nos proporciona a experiência<br />
do encontro.<br />
Sua carta me fez recordar da ágora, a praça grega que foi<br />
lugar onde as experiências filosóficas ganharam caráter dialético.<br />
A ágora era um lugar de encontro. A principal atividade<br />
que os gregos exerciam por lá era a troca de mercadorias. Mas,<br />
naquele grande mercado a céu aberto, uma outra troca acontecia<br />
a ponto de prevalecer sobre as outras. Era a troca de ideias.<br />
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