19.04.2013 Views

Discurso de Posse - Academia de Letras da Bahia

Discurso de Posse - Academia de Letras da Bahia

Discurso de Posse - Academia de Letras da Bahia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

suficiente para nos libertar <strong>de</strong> um colonialismo cultural que nos constrange, que<br />

nos limita, que nos insulta. A quali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos autores baianos e a produção<br />

baiana <strong>de</strong> livros, po<strong>de</strong>m ser comprova<strong>da</strong>s nos lançamentos diários que ocorrem<br />

em Salvador, não raras vezes mais <strong>de</strong> um por dia. Apesar disto, ain<strong>da</strong> não<br />

temos as nossas editoras <strong>de</strong> conexão nacional, que editem os livros dos autores<br />

baianos e os distribuam e os divulguem nacionalmente. A luta pela publicação,<br />

pela divulgação, pela distribuição, pela permanência nas prateleiras <strong>da</strong>s<br />

livrarias, pela ven<strong>da</strong> dos livros, pelo ressarcimento dos livros vendidos, só po<strong>de</strong><br />

ser compara<strong>da</strong>, em pertinácia e força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>, à própria vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

escrever, à própria necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> publicar.<br />

A circunstância não ocorre apenas à <strong>Bahia</strong>. Como a injusta distribuição<br />

<strong>de</strong> ren<strong>da</strong> entre as pessoas <strong>de</strong>ste país, tem sido, também, injusta a distribuição<br />

<strong>de</strong> cultura entre os estados, ou seja, a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gerar, promover,<br />

distribuir e divulgar nacionalmente a cultura entre os estados, como se ain<strong>da</strong><br />

fôssemos, culturalmente, um Brasil <strong>de</strong> corte e províncias. A <strong>Bahia</strong>, no particular,<br />

tem comprovado não ser uma mera consumidora, mas geradora importante <strong>de</strong><br />

cultura, capaz <strong>de</strong> enriquecer culturalmente os outros estados, bastando, para<br />

isto, que as barreiras <strong>da</strong> distribuição e <strong>da</strong> divulgação sejam venci<strong>da</strong>s. É esta<br />

uma batalha que se trava no dia-a-dia <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> literária <strong>da</strong> nossa ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, do<br />

nosso estado. Nesta luta, que é <strong>de</strong> todos os que escrevem, incorporam-se as<br />

instituições culturais, incorpora-se sobretudo a Aca<strong>de</strong>mia, justificando o seu<br />

presente, com o mesmo empenho com que cultua o passado e ambiciona o<br />

futuro.<br />

Para finalizar, man<strong>da</strong> o protocolo <strong>da</strong> oração <strong>de</strong> posse que vos diga algo<br />

sobre o meu trabalho <strong>de</strong> escritor. Da poesia na<strong>da</strong> vos digo, que <strong>de</strong>la na<strong>da</strong> sei.<br />

Tem sido, para mim, amante infiel e caprichosa, que me surge <strong>de</strong> repente,<br />

quando menos a espero, e subitamente se vai. Quando chega, curvo-me<br />

submisso aos seus encantos e caprichos, <strong>de</strong>ixo que ela, senhora e soberana,<br />

imponha-me as suas tirânicas vonta<strong>de</strong>s. Quando se vai, na<strong>da</strong> faço para <strong>de</strong>tê-la,<br />

não a persigo, não sigo os seus invisíveis passos, e não me é <strong>da</strong>do saber se<br />

algum dia retorna. Procuro nela uma quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, para vos exibir, e apenas lhe<br />

encontro um grave <strong>de</strong>feito: o <strong>de</strong> ser excessivamente indiscreta, expondo-me<br />

inteiro nos seus versos. Da ficção, esta fiel, que jamais me <strong>de</strong>ixou e que espero<br />

jamais me <strong>de</strong>ixe, apenas vos aponto um mérito: o <strong>de</strong> ter aprendido as lições <strong>de</strong><br />

Xavier Marques, <strong>de</strong> Vasconcelos Maia e <strong>de</strong> Jorge Amado, fazendo <strong>de</strong> Salvador<br />

o cenário <strong>da</strong>s minhas histórias. Os meus personagens vivem nas ruas, la<strong>de</strong>iras<br />

e largos <strong>de</strong>sta ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, an<strong>da</strong>m, falam, riem, amam e se aborrecem como baianos,<br />

comem dos pratos <strong>da</strong> cozinha baiana, são baianos <strong>de</strong> Salvador. Eu os quero<br />

assim, banhados <strong>da</strong> luz intensa <strong>de</strong>sta ci<strong>da</strong><strong>de</strong> morena e risonha, respirando o<br />

cheiro <strong>de</strong> mar <strong>de</strong>sta ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, impregnados do mistério, <strong>da</strong> preguiça, do <strong>de</strong>ngo, <strong>da</strong><br />

poesia e <strong>da</strong> música <strong>de</strong>sta ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas alimentados <strong>da</strong> força <strong>de</strong> quatro séculos e<br />

meio <strong>de</strong>sta ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. É <strong>de</strong>sta forma que uno estes dois amores <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong><br />

inteira, a literatura e a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Salvador. Ao vos agra<strong>de</strong>cer, comovido, a

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!