Discurso de Posse - Academia de Letras da Bahia
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ci<strong>da</strong>dão do mundo, lido e amado em to<strong>da</strong>s as línguas. Como retratar esse<br />
capitão <strong>de</strong> longo curso, que diz fazer apenas uma navegação <strong>de</strong> cabotagem?<br />
Mas Itazil <strong>de</strong>ixa-nos, ao final <strong>da</strong> leitura do seu livro, a admira<strong>da</strong> sensação <strong>de</strong><br />
uma dificílima tarefa bem executa<strong>da</strong>. Num estilo cativante e fluente, que na<strong>da</strong><br />
recor<strong>da</strong> um sisudo cientista <strong>da</strong> radiologia, passeia pela vi<strong>da</strong>, pelos romances,<br />
pelos personagens, pelas entrevistas <strong>de</strong> Jorge Amado, coloca-o inteiro e vivo<br />
nas suas páginas, traçando-lhe, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, num primoroso ensaio biobibliográfico,<br />
um dos mais completos retratos do nosso maior escritor. Itazil<br />
Benício dos Santos, em tudo que fez, em tudo que escreveu, <strong>de</strong>ixou-nos um<br />
legado <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação, integri<strong>da</strong><strong>de</strong> e competência.<br />
Como os autores preferidos <strong>da</strong> minha infância, estes vultos evocados,<br />
patrono, fun<strong>da</strong>dor e ocupantes <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>ira nº12, estão mortos. Entretanto aqui<br />
estão redivivos nesta cerimônia <strong>de</strong> posse, como vivos encontram-se nas<br />
sessões <strong>de</strong> sau<strong>da</strong><strong>de</strong>, nos números <strong>da</strong> Revista on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixaram os seus escritos,<br />
nas palestras, nos cursos, nas publicações, na biblioteca, no arquivo, estão<br />
vivos em ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>sta Casa, e vivos permanecerão para<br />
sempre na memória <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia, <strong>da</strong>s <strong>Letras</strong> e <strong>da</strong> <strong>Bahia</strong>. Vejo, <strong>de</strong>sta forma, a<br />
imortali<strong>da</strong><strong>de</strong> acadêmica, manti<strong>da</strong> nos preceitos estatutário, protocolar e<br />
sobretudo ético, que este palácio <strong>de</strong> cultura abriga e cultua.<br />
Não po<strong>de</strong>ria, aliás, uma instituição como esta, viver sem memória, como<br />
não po<strong>de</strong>ria existir sem fitar longe e largo o futuro. Passado, presente e futuro<br />
visavam os fun<strong>da</strong>dores, naquela noite <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1917, quando, na sala<br />
<strong>de</strong> sessões <strong>da</strong> antiga Câmara dos Deputados, na La<strong>de</strong>ira <strong>da</strong> Praça, Arlindo<br />
Fragoso os reuniu, excluindo-se mo<strong>de</strong>sta e dignamente <strong>da</strong> lista <strong>de</strong> quarenta<br />
nomes que ele próprio elaborara. Ali plantavam-se os fun<strong>da</strong>mentos, ali<br />
estabelecia-se o alicerce sobre o qual seria erguido o sólido edifício. O quadro<br />
dos primeiros quarenta traduzia, inegavelmente, o que havia, na época, <strong>de</strong> mais<br />
representativo na literatura, no saber e no prestígio político <strong>da</strong> <strong>Bahia</strong>. Ruy<br />
Barbosa, Artur <strong>de</strong> Sales, Bernardino <strong>de</strong> Souza, José Joaquim Seabra, Severino<br />
Vieira, Simões Filho, Teodoro Sampaio, Xavier Marques, Octávio Mangabeira,<br />
eram alguns outros <strong>de</strong>sses nomes, além dos aqui citados.<br />
Oitenta e dois anos <strong>de</strong>pois, vejo-vos, Senhores Acadêmicos, como no<br />
tempo dos fun<strong>da</strong>dores, acima <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ologias políticas, acima <strong>da</strong>s escolas,<br />
tendências ou gostos literários, acima <strong>da</strong>s crenças e <strong>de</strong>screnças religiosas,<br />
representantes estelares <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia, <strong>da</strong>s <strong>Letras</strong> e <strong>da</strong> <strong>Bahia</strong>. Na ficção,<br />
encontro Jorge Amado, Wilson Lins, Luís Henrique Dias Tavares, James Amado<br />
e Hélio Pólvora, o mestre baiano do conto, que me honra ao me receber nesta<br />
Casa em vosso nome. Na poesia — esta <strong>de</strong>usa maior <strong>da</strong>s letras baianas —<br />
encontro Ol<strong>de</strong>gar Franco Vieira, Myriam Fraga, Epaminon<strong>da</strong>s Costalima, João<br />
Carlos Teixeira Gomes, Fernando <strong>da</strong> Rocha Peres, Florisvaldo Mattos e Clóvis<br />
Lima, meu gran<strong>de</strong> e querido Clóvis Lima que há tantos anos me <strong>de</strong>seja em<br />
vossa companhia. Na história — sobretudo na pesquisa dos vultos e fatos que,