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Discurso de Posse - Academia de Letras da Bahia

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fun<strong>da</strong>ção aos primeiros anos <strong>da</strong> República. Destacaria ain<strong>da</strong> A Primeira<br />

Revolução Social Brasileira — 1798, uma observação precisa e abrangente do<br />

caráter social e reformador na sedição baiana, em cujo infeliz <strong>de</strong>sfecho se fez<br />

erguer a forca na Pie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ali está a visão hoje aceita e amplamente estu<strong>da</strong><strong>da</strong>,<br />

dos ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros motivos <strong>da</strong> Conspiração dos Búzios, princípios que vinham dos<br />

i<strong>de</strong>ais revolucionários franceses <strong>de</strong> “liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, igual<strong>da</strong><strong>de</strong>, fraterni<strong>da</strong><strong>de</strong>”. Desta<br />

maneira, no palco e nos livros, no teatro e na história, Affonso Ruy mostrou-se<br />

fiel ao compromisso assumido no seu discurso <strong>de</strong> posse na Ca<strong>de</strong>ira nº 12,<br />

quando, ao lembrar o lema <strong>de</strong>sta Casa, “Servir à Pátria honrando as <strong>Letras</strong>”,<br />

comprometeu-se antes <strong>de</strong> tudo em “honrar a <strong>Bahia</strong>, servindo às letras”. Serviu<br />

às <strong>Letras</strong>, honrou a <strong>Bahia</strong>, serviu à Pátria, honrou as <strong>Letras</strong>.<br />

Uma tradição secular <strong>da</strong> <strong>Bahia</strong> é a dos médicos que escrevem, que<br />

amam a literatura, e que divi<strong>de</strong>m o tempo <strong>da</strong>s suas vi<strong>da</strong>s entre a “arte <strong>de</strong> tratar<br />

ciência <strong>de</strong> curar” e a arte <strong>da</strong>s letras. Não vos falo <strong>de</strong> médicos que, exercendo a<br />

profissão, ganharam fama e prestígio por serem escritores, a exemplo <strong>de</strong><br />

Tchekhov, Cronin, Macedo, Guimarães Rosa, Jorge <strong>de</strong> Lima, e, na <strong>Bahia</strong>,<br />

Afrânio Peixoto — embora a fama <strong>de</strong>ste se <strong>de</strong>vesse também à medicina. Falovos<br />

<strong>de</strong> um espírito, <strong>de</strong> uma tendência <strong>da</strong> velha Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>da</strong><br />

<strong>Bahia</strong>, a Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> do Terreiro que hoje felizmente renasce <strong>de</strong> inadmissíveis<br />

escombros. Esse espírito, essa tendência, fez <strong>da</strong> primeira facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

medicina do Brasil, do mais importante núcleo <strong>de</strong> ensino <strong>da</strong>s ciências médicas<br />

do país, um respeitado centro <strong>de</strong> cultura em todo o século passado até meados<br />

<strong>de</strong>ste. Os lentes <strong>da</strong> velha facul<strong>da</strong><strong>de</strong> eram, antes <strong>de</strong> tudo, homens <strong>de</strong> vasta<br />

formação humanística, que não se limitavam à ciência que ensinavam aos<br />

alunos e praticavam nos consultórios e nos hospitais, transitando, com a mesma<br />

<strong>de</strong>senvoltura e o mesmo apaixonado interesse pela filosofia, pela sociologia,<br />

pela história, pela antropologia e, sobretudo, pela literatura. Não foram poucos,<br />

entre eles, os gran<strong>de</strong>s oradores, a transformarem as suas aulas em eloqüentes<br />

exibições <strong>de</strong> oratória, em cujo final eclodiam os aplausos dos discípulos<br />

entusiasmados. Os relatórios médicos, as conferências, os estudos científicos,<br />

os artigos na imprensa <strong>de</strong>sses doutores <strong>da</strong> medicina, não <strong>de</strong>sleixavam <strong>da</strong><br />

linguagem e do estilo, não <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhavam <strong>da</strong>s metáforas, não escondiam o gosto<br />

literário. Pedro Calmon, em sua História <strong>da</strong> Literatura Baiana, <strong>de</strong>dica-lhes todo<br />

um capítulo, on<strong>de</strong> não falta uma extensa relação <strong>de</strong> teses, cujos títulos — vários<br />

<strong>de</strong>les — <strong>de</strong>nunciam temas bem mais literários que médicos ou científicos, e<br />

Jorge Amado os recria ficcionalmente em Ten<strong>da</strong> dos Milagres. Porém a maior<br />

evidência <strong>de</strong>sse espírito literário <strong>da</strong> velha Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>da</strong> <strong>Bahia</strong>,<br />

encontra-se nesta Casa. No quadro dos fun<strong>da</strong>dores, havia um professor e<br />

industrial tipográfico, um presbítero, dois jornalistas, dois professores primários,<br />

quatro engenheiros, quinze juristas e <strong>de</strong>zesseis médicos, entre eles Braz do<br />

Amaral, Carlos Chiacchio, Pirajá <strong>da</strong> Silva, Carneiro Ribeiro, Egas Moniz Barreto<br />

<strong>de</strong> Aragão, o Péthion <strong>de</strong> Villar, Gonçalo Moniz, Clementino Fraga e Afrânio<br />

Peixoto. Daí por diante, não faltaram médicos ilustres entre os acadêmicos,<br />

como Estácio <strong>de</strong> Lima, César <strong>de</strong> Araújo, Adriano Pondé, Alberto Silva,

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