ano 10 • nº 22 • anual • 2009 - Alma Alentejana
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Catarina!”<br />
Dizia o outro: “Éh, não pode sêri! ai não pode<br />
sêri! Então ela vem cantando! alguma vez? Vem<br />
ela sempre de luto! não era ela.”<br />
E ela aproximou-se: “Sou eu! não tão enganadas!<br />
Sou eu, sou! Sou eu própria! Olhem, enquanto eu<br />
havia de cantar, chorei. Agora ao invés de chorar,<br />
canto.”<br />
Ela foi ver o que tinha de fazendas e ainda as recuperou.<br />
Ainda a minha avó herdou e agora aquilo<br />
está tudo ao abandono. as terras ficaram todas<br />
abandonadas lá. Pois. Eles lá viveram com a mãe<br />
e quando ela morreu eles dividiram entre os três<br />
e se não tiveram herdeiros aquilo lá continuará<br />
ao abandono. Hortas, searas, olivais tudo ficou<br />
ao abandono. Hortas, só meus tios que vivem lá<br />
28 Dizia um: “Pois ei! Parece ali a Sra.! aí é a Sra.<br />
A caminho da ceifa - Pintura de Maria da Luz<br />
ao pé vão cultivando. abalaram quase todos já, e<br />
pronto! Minha mãe ainda disse: “Fica um monte<br />
daqueles ao abandono! não deixamos perder o<br />
monte! a gente faz aquilo entre todos, fica uma<br />
casa para irmos passar um Natal, uma festa assim,<br />
ou um casamento. Fazíamos lá, tipo rústico.”<br />
Minha mãe pensou: “ Se você fizer, todos<br />
querem! Entrar ninguém quer, mas se você<br />
fizer todos querem!” E a minha mãe depois olha,<br />
deixa 12 .<br />
não queríamos deixar de fazer referência a<br />
um poema da autoria da neta do Sr. Augusto,<br />
Homem exemplar e a quem convém prestar a<br />
devida homenagem, dando assim voz àqueles<br />
que a maior parte das vezes nunca é ouvida. Sem<br />
mais delongas, aqui fica. »»»<br />
12 Muitos dos montes abandonados que temos observado um pouco por todo o Alentejo, também têm uma estória<br />
de abandono semelhante. Como os herdeiros eram muitos optaram por deixá-los abandonados do que por os<br />
recuperar. O espírito comunitário tão característico desta região tem-se vindo a esbater com o passar dos tempos.