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ano 10 • nº 22 • anual • 2009 - Alma Alentejana

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30<br />

MeMÓRiA<br />

Contrabando no século XX, na raia da<br />

freguesia de Santana de Cambas<br />

Um crime, ou uma luta pela sobrevivência?<br />

Das gerações que viveram dos <strong>ano</strong>s trinta aos<br />

<strong>ano</strong>s sessenta do século passado, não há ninguém<br />

que não se recorde do contrabando para<br />

Espanha. Eram grupos de homens e até mulheres<br />

com 25 kg e mais de café, açúcar, ovos e farinha<br />

às costas. Era tudo aquilo que servia para minimizar<br />

as dificuldades das famílias, a maioria composta<br />

por sete, oito, nove e mais pessoas. A vida<br />

do campo era muito complicada e o trabalho na<br />

mina não dava para todos. E mesmo aqueles que<br />

ali trabalhavam, encontravam no contrabando<br />

um complemento para fazer face às condições<br />

difíceis da vida de então.<br />

Por outro lado, os espanhóis viviam com grandes<br />

dificuldades. o regime franquista tal, como o de<br />

Salazar no nosso país, limitara-lhes o desenvolvimento,<br />

para além de ter envolvido toda a Espanha<br />

numa guerra civil. Essas dificuldades fizeram-se<br />

sentir de uma forma profunda na raia. Tanto com<br />

a escassez de géneros de primeira necessidade,<br />

como as perseguições e os fuzilamentos de todos<br />

aqueles que se opunham ao poder ditatorial.<br />

Foi através do contrabando de sobrevivência, que<br />

José Rodrigues Simão<br />

muitos homens e mulheres, andando duas, três,<br />

quatro noites a palmilhar dezenas e dezenas de<br />

quilómetros, conseguiam trazer mais meia dúzia<br />

de tostões para casa (isto quando não perdiam<br />

a carga, por ser capturada pela guarda fiscal ou<br />

pelos carabineiros) para proporcionar uma vida<br />

melhor aos seus filhos.<br />

Sabemo-lo dos depoimentos orais, de vários contrabandistas<br />

da altura, e que hoje infelizmente se<br />

vão perdendo se nada fizermos. E nós queremos<br />

que esta história seja transmitida aos nossos netos.<br />

Foi com a edição do livro “Memórias do<br />

Contrabando em Santana de Cambas”, de<br />

luís Maçarico, e na perspectiva de construir<br />

a história da freguesia de Santana de Cambas<br />

que criamos o museu do contrabando. Que<br />

queremos sempre aberto a novos relatos,<br />

histórias, depoimentos e outros elementos que<br />

possam vir a engrandecer o já vasto historial<br />

deste museu.<br />

Contamos consigo!

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