ano 10 • nº 22 • anual • 2009 - Alma Alentejana
ano 10 • nº 22 • anual • 2009 - Alma Alentejana
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<strong>ano</strong> <strong>10</strong> <strong>•</strong> <strong>nº</strong> <strong>22</strong> <strong>•</strong> <strong>anual</strong> <strong>•</strong> <strong>2009</strong>
2<br />
índice<br />
FRENTE<br />
RIBEIRINHA<br />
SEIXAL – ARRENTELA<br />
<strong>10</strong> milhões<br />
de euros<br />
em projectos<br />
até 2011<br />
FRENTE<br />
RIBEIRINHA<br />
AMORA<br />
<strong>10</strong> milhões<br />
de euros em projectos<br />
até 2012<br />
Capa e contracapa: concelho do Seixal<br />
Ficha Técnica<br />
www.cm-seixal.pt<br />
BAÍA DO SEIXAL<br />
Valorizar – Investir – Criar Emprego<br />
Desenvolvimento Económico e Social<br />
PLANO<br />
DE PORMENOR<br />
TORRE DA MARINHA/<br />
/FOGUETEIRO<br />
Investimento<br />
no espaço público<br />
de <strong>10</strong> milhões<br />
de euros<br />
Projecto co-financiado pelo FEDER<br />
PROJECTO<br />
ARCO RIBEIRINHO<br />
SUL – PLANO<br />
DE PORMENOR<br />
DA EX-SIDERURGIA<br />
NACIONAL<br />
Investimento público<br />
de cerca de 150<br />
milhões de<br />
euros<br />
a Palavra ao Presidente da associação.........3<br />
Passagem de Testemunho.............................5<br />
À Escala Humana...........................................7<br />
Dar com uma mão e tirar com a<br />
outra - Parte II................................................9<br />
não caminharás sozinho.............................11<br />
um desafio constante.................................13<br />
Psicologia na alma......................................15<br />
Costa Vicentina - um mar de alentejo........17<br />
TuRISMo<br />
alentejo e Turismo......................................19<br />
MEMÓRIa<br />
Contrabando, lobos e vida campesina........20<br />
Contrabando no Séc. XX, na raia da Freguesia<br />
de Santana Cambas.....................................30<br />
a Terra de Elvas...........................................31<br />
alEnTEJo EM FoTo<br />
os Segredos do olhar..................................32<br />
MunICÍPIo Do SEIXal<br />
um concelho com qualidade de vida..........38<br />
Visita guiada ao Seixal.................................39<br />
Festas Populares animam o Seixal...............40<br />
Propriedade: <strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong>, Associação para o Desenvolvimento,<br />
Cooperação e Solidariedade Social<br />
Sede: av. Prof. Ruy luís Gomes, 13 - R/c - laranjeiro - 28<strong>10</strong>-274 almada<br />
Telefone / Fax: 212 551 296 Email: revista@almaalentejana.pt<br />
Redacção: av. Prof. Ruy luís Gomes, 13 - R/c - laranjeiro - 28<strong>10</strong>-274<br />
<strong>Alma</strong>da<br />
a Baía na centralidade do concelho...........41<br />
Seixal é uma referência cultural no País.....42<br />
Pl<strong>ano</strong>s estatégicos para o concelho............43<br />
Pólo de desenvolvimento económico e social<br />
da Península de Setúbal.............................45<br />
Frente ribeirinha Seixal-arrentela..............46<br />
Investimento no valor de <strong>10</strong> milhões de<br />
euros em equipamentos sociais.................47<br />
alargamento e qualificação do Parque<br />
Escolar.........................................................48<br />
aumentar a prática da actividade física com<br />
desporto para todos...................................49<br />
Barbeiros e Barbearias...............................50<br />
SAÚDE<br />
Caril pode prevenir alzheimer....................52<br />
Borba em notícias... na américa.................54<br />
PoESIa<br />
Criaturas do Sobral.....................................56<br />
Espreitando a igualdade.............................58<br />
CulTuRa<br />
Camilo Mortágua “andanças para a<br />
liberdade” - volume II................................60<br />
ARTE<br />
João antónio Paiva.....................................62<br />
Pitéu à sombra de um chaparro.................64<br />
Doce Pecado...............................................65<br />
o alentejo é maior que o alentejo ............66<br />
notícias do alentejo...................................70<br />
Desenvolvimento.......................................74<br />
actividades Desenvolvidas.........................76<br />
actividades a Desenvolver..........................78<br />
Director coordenador: Joaquim Avó<br />
Director editorial: luís Maçarico<br />
Publicidade: Joaquim Avó<br />
Colaborador Técnico: Hélio Heitor<br />
Secretariado e Distribuição: António Oliveira e Hélio Heitor<br />
Tiragem: 2000 exemplares<br />
Fotolito, produção gráfica e paginação: a Triunfadora, artes Gráficas, lda.<br />
A <strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong> Revista Cultural, não se responsabiliza pelas opiniões expressas pelos seus colaboradores
A PALAVRA AO PReSidenTe dA ASSOciAÇÃO<br />
Dar continuidade… apelar à participação<br />
de TODOS<br />
Foi com este lema que nos propusemos<br />
como candidatos aos Órgãos<br />
Sociais da <strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong>,<br />
Associação para o Desenvolvimento, Cooperação<br />
e Solidariedade Social.<br />
Dar continuidade… significa, para nós, o<br />
reconhecimento do esforço e empenhamento<br />
de anteriores Direcções e dos Órgãos Sociais<br />
que ora cessaram funções que generosamente<br />
têm desenvolvido um imenso trabalho, por<br />
vezes com uma enorme sobrecarga para alguns<br />
dos seus elementos, com vista à realização<br />
da ideia sonhada e ambicionada pelos<br />
fundadores desta Associação, estatutariamente<br />
consagrada.<br />
apelar à participação de todos, constitui uma<br />
decisão e um compromisso dos actuais Corpos<br />
Sociais em desenvolver um trabalho de<br />
equipa e partilha para dar uma resposta capaz<br />
às suas tarefas.<br />
Implica também o reconhecimento do quanto<br />
é importante e indispensável para a alma<br />
<strong>Alentejana</strong> aumentar o envolvimento e<br />
empenho dum maior número de sócios nas<br />
suas actividades de carácter social, para a ma-<br />
nutenção, renovação, dinamização<br />
e eventual alargamento a novas<br />
solicitações dos Centros de Dia<br />
do laranjeiro e Pragal, Centros de<br />
Convívio da Cova da Piedade e<br />
Trafaria e o apoio Domiciliário,<br />
este, por enquanto apenas desenvolvido na<br />
Freguesia do laranjeiro, tendo por p<strong>ano</strong> de<br />
fundo o sonho antigo da criação do Monte<br />
Alentej<strong>ano</strong>, com Casa de Repouso, Creche e<br />
Infantário incluindo uma oficina do Idoso e<br />
uma Quinta Pedagógica, bem como nos eventos<br />
de âmbito cultural, desenvolvidas no seio<br />
da <strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong>, das quais se destacam:<br />
- a página da Internet;<br />
- a Feira <strong>anual</strong> da alma alentejana;<br />
- Revista Cultural <strong>anual</strong> “alma alentejana”;<br />
- Boletim Trimestral de contacto e informação<br />
aos sócios;<br />
- Participação em iniciativas das autarquias<br />
quer locais quer do alentejo;<br />
- Jogos Florais;<br />
- os Grupos Culturais, desde o artesanato, às<br />
tradições e, em especial, o cante;<br />
Esperamos também continuar a merecer o<br />
apoio das Instituições, particularmente do Poder<br />
local Democrático do concelho, cuja postura<br />
em relação a esta Associação desde sempre<br />
tem constituído um enorme incentivo<br />
3
dia após dia, tentando conseguir proporcionar<br />
uma vida com maior dignidade a quem nos<br />
procura.<br />
Por último, um agradecimento e o reconhecimento<br />
de que sem a colaboração desinteressada,<br />
o voluntariado e até sacrifício pessoal<br />
de muitos dos trabalhadores da <strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong><br />
e de muitos dos seus sócios e amigos,<br />
mais difícil seria aos órgãos sociais darem à<br />
<strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong> a projecção e dimensão social<br />
e cultural de que hoje desfruta.<br />
4 para os homens e mulheres que aqui lutam,
PASSAGeM de TeSTeMUnHO<br />
Caros Associados e Amigos<br />
É verdade que passados que foram<br />
cinco <strong>ano</strong>s e meio e cumprindo<br />
não só os Estatutos mas também<br />
decisões a que a própria assembleia<br />
Geral foi obrigada, e depois<br />
da Comissão administrativa eleita, conseguimos<br />
eleger os Órgãos Sociais que irão gerir os<br />
destinos da alma alentejana, durante o Biénio<br />
<strong>2009</strong>/20<strong>10</strong>.<br />
Como é do conhecimento de todos a quem<br />
através de comunicados nos Órgãos de Informação,<br />
nas Revistas e Boletins Informativos<br />
que editámos, e em assembleias Gerais, procurámos<br />
a cooperação, participação e até<br />
mesmo apelos aos associados desde Dezembro<br />
de 2007 para que a eleição dos Órgãos<br />
Sociais se processasse, o que só agora se conseguiu<br />
em 30 em Março de <strong>2009</strong>.<br />
não foi fácil, mas acreditamos que os actuais<br />
eleitos conseguirão, em prol da promoção,<br />
preservação e divulgação da identidade cultural<br />
e social desta instituição, preservando<br />
sempre os interesses colectivos antes dos interesses<br />
individuais, responder aos desafios<br />
que lhes vão sendo lançados, promovendo<br />
acções de cooperação com instituições públicas<br />
e privadas interessadas no desenvolvimento<br />
solidário do nosso alentejo e sempre<br />
com o espírito de elevação da imagem desta<br />
associação, e assim cumprir o<br />
mandato para que foram eleitos.<br />
Para o efeito queremos informar<br />
que estamos a cumprir cabalmente<br />
os Acordos de Cooperação que<br />
celebrámos com o Instituto de Segurança<br />
Social, dando apoio no Centro de Dia<br />
do laranjeiro a 43 utentes, no Centro de Dia<br />
do Pragal a 35, no Centro de Convívio da Cova<br />
da Piedade a 34, no Centro de Convívio da Trafaria<br />
a 38 e no Serviço de apoio Domiciliário,<br />
no laranjeiro a 31 utentes.<br />
A situação económica é boa e não devemos<br />
nada a ninguém. Graças ao esforço dos Órgãos<br />
Sociais, dos Empregados, dos Colaboradores,<br />
dos amigos e Voluntários, tornam possíveis<br />
as actividades que desenvolvemos,<br />
designadamente os Fins de Semana Alentej<strong>ano</strong>s,<br />
Feiras da <strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong>, Almoços Temáticos,<br />
jantares de aniversários, fornecimento<br />
de refeições a instituições públicas e<br />
privadas em datas comemorativas, para que<br />
seja possível essa boa situação.<br />
Cá estaremos nós, os que por impedimento<br />
estatutário não podemos continuar com intervenção<br />
directa na gestão da <strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong>,<br />
mas estamos dispostos a ajudar e transmitir<br />
o nosso saber e experiência adquiridos ao<br />
longo destes mais de treze <strong>ano</strong>s, esforçandonos<br />
por cumprir os pl<strong>ano</strong>s de actividades<br />
5
proporcionar a melhor qualidade de vida aos<br />
mais de 180 menos jovens a quem damos<br />
apoio e que connosco coabitam, alguns deles<br />
há mais de <strong>10</strong> <strong>ano</strong>s e com quem criámos grande<br />
empatia e estima e um verdadeiro espírito<br />
de família.<br />
Estamos certos que com o apoio do Instituto<br />
de Segurança Social, das instituições públicas<br />
e privadas, das pessoas singulares, das autarquias<br />
e especialmente da Câmara Municipal<br />
de <strong>Alma</strong>da, com o valoroso apoio de todos os<br />
funcionários, dos membros dos Órgãos Sociais<br />
que terminaram o seu mandato e dos voluntários<br />
conseguiremos a real e merecida valorização<br />
do património cultural alentej<strong>ano</strong> nos<br />
seus diferentes aspectos histórico, social, literário,<br />
artístico, monumental, musical e etnográfico.<br />
Para todos um grande abraço solidário.<br />
o alEnTEJo nÃo TEM FIM<br />
6 aprovados e especialmente no sentido de
os bastidores da elaboração de<br />
uma revista como esta, contêm<br />
pormenores que muitas vezes passam<br />
despercebidos, e contudo têm<br />
uma importância, a meu ver fundamental.<br />
Em primeiro lugar, o conteúdo. o enriquecimento<br />
pessoal que as temáticas trazem aos<br />
leitores e ao prestígio da associação que se<br />
espelha nestas páginas, é vital.<br />
Depois, a forma - a objectividade e clareza<br />
dos temas desenvolvidos.<br />
neste aspecto, as gralhas - por vezes inexplicáveis<br />
- ensombram o intuito de quem idealiza.<br />
E não podem ser entendidas como fatalidade.<br />
Procurar que nenhum erro ou lacuna passem<br />
para a arte final é uma responsabilidade de<br />
todos os que estão envolvidos na paginação, a<br />
começar por aqueles que acompanham este<br />
trabalho com mais acuidade. Ou seja, todos<br />
têm de funcionar - e bem.<br />
neste número, regista-se a activa participação<br />
de vários elementos da “alma alentejana”,<br />
como o novo presidente da direcção António<br />
Oliveira (que saudamos, desejando bom trabalho),<br />
Bárbara Sebastião, José assunção,<br />
José Moutela (cidadão fraterno, que conheci<br />
num estimulante colóquio realizado na Junta<br />
de Freguesia do laranjeiro), José Rabaça Gas-<br />
À eScALA HUMAnA...<br />
par (um entusiasta da causa alentejana,<br />
vindo das terras do frio),<br />
Patricia alves, Paulo Mota e a criativa<br />
Rosa Dias.<br />
além da participação de Rosário<br />
Fernandes, cujo olhar continua a<br />
cativar-nos, pelos pormenores que nos ajuda<br />
a descobrir, chamo a atenção para um olhar<br />
sobre o Contrabando, trazido por um jovem<br />
cidadão de Mafamude (Gaia), arqueólogo de<br />
profissão, que casou com uma bejense e se<br />
detém no melhor património - que são as pessoas<br />
- com um cuidado que merece leitura<br />
atenta, apesar da sua extensão (o artigo, fruto<br />
da audição de uma<br />
testemunha, não se compadecia com meia<br />
dúzia de lugares comuns...)<br />
Mariana Costa, alentejana dum monte mertolense<br />
e mestranda do Curso “Portugal Islâmico<br />
e o Mediterrâneo”, num breve mas lúcido<br />
artigo, apresenta-nos o alentejo com potencialidades<br />
turísticas.<br />
a revelação de uma poetisa de Beja, espontânea<br />
e original, é igualmente motivo de júbilo.<br />
A procura de novos colaboradores deve ser<br />
tarefa de quem assume o compromisso de fazer,<br />
todos os <strong>ano</strong>s, uma revista que valha a<br />
pena ler, que informe e faça reflectir.<br />
nesse sentido, faço agora o devido destaque à<br />
figura ímpar, felizmente de boa saúde e cheio<br />
7
continua a partilhar o seu saber na revista<br />
“Callípole”, da Câmara Municipal de Vila Viçosa<br />
- o professor Joaquim Saial, antecessor entusiasta<br />
destas lidas, homem brilhante e solidário,<br />
discreto, práctico, peça decisiva para o<br />
bom gosto e eficácia de números anteriores<br />
da “alma alentejana”.<br />
Artur Bual, o pintor gestualista que também<br />
pintou o alentejo e utilizava terra alentejana<br />
nas suas telas, costumava dizer que ninguém<br />
nasce sozinho. Daí, ser meu dever para com o<br />
amigo, homem de cultura e ser fraterno que o<br />
professor Joaquim Saial efectivamente é, sublinhar<br />
esta verdade incontornável que convém<br />
lembrar.<br />
Com Joaquim Saial (e já agora, Joaquim avó,<br />
esse sonhador-mor, paladino do associativismo<br />
à escala humana, incansável presidente<br />
8 de energia para muitos decénios mais, que<br />
de uma parte dos <strong>ano</strong>s felizes desta associação)<br />
a revista atingiu um nível, que convém<br />
prosseguir, pois a comunidade de leitores certamente<br />
desejará, como nós, o melhor.
dAR cOM UMA MÃO e TiRAR cOM A OUTRA - PARTe ii<br />
a última edição do nosso Boletim<br />
Informativo - n.º 27, de Março/<br />
Junho de <strong>2009</strong> -, dava à estampa a<br />
aberrante situação de o nosso Estado<br />
entender, que as instituições<br />
particulares de solidariedade social:<br />
Poderiam ser ressarcidas do Imposto Sobre o<br />
Valor acrescentado - IVa - por elas suportado<br />
na aquisição de bens de investimento;<br />
Poderiam ser contempladas com uma percentagem<br />
do Imposto Sobre o Rendimento das<br />
Pessoas Singulares - IRS - desde que essas se<br />
disponibilizassem para o efeito;<br />
Tudo isto porque o “Estado reconhece e valoriza<br />
o importante e insubstituível papel das<br />
IPSS, reconhecimento e valorização que se<br />
traduzem na concessão de tais apoios …“<br />
Só que a aberração a que acima se faz referência<br />
assentava no incrível:<br />
- as duas situações não poderiam coexistir -<br />
ou as instituições se candidatavam a uma daquelas<br />
“benesses“ ou teriam que optar pela<br />
outra;<br />
“Esta era uma solução absurda dado que os<br />
dois impostos têm uma lógica diferente entre<br />
si …“sendo que “o objectivo era, evidentemente,<br />
o de auxiliar as instituições particulares<br />
de solidariedade social”;<br />
“… não fazia muito sentido que, em especial<br />
as IPSS não pudessem beneficiar,<br />
cumulativamente, da possibilidade<br />
de usufruir da restituição do<br />
IVa (facto que está ao abrigo de<br />
legislação própria, já anteriormente<br />
existente) e também da possibilidade<br />
de usufruir das quantias que os sujeitos<br />
passivos, em regime individual, em sede de<br />
IRS, tivessem decidido atribuir-lhes através<br />
das suas declarações anuais de rendimentos”.<br />
Mas … e como muito bem diz o nosso povo …<br />
mais vale tarde que nunca!<br />
Segundo informação veiculada por um matutino<br />
da última semana, terão já sido aprovados<br />
- na generalidade - em sede própria - assembleia<br />
da República - uma proposta de lei<br />
que visa “alargar a possibilidade de benefício<br />
da consignação de 0,5% do Imposto Sobre o<br />
Rendimento de Pessoas Singulares por igrejas<br />
e comunidades religiosas e por instituições<br />
particulares de solidariedade social“ e um<br />
projecto de lei que visa alterar os benefícios<br />
fiscais para as IPSS;<br />
Veremos como saem as mesmas depois de<br />
discutidas na especialidade.<br />
Sabendo, muito embora, que somos demasiado<br />
“ pequeninos “ para ter o dislate de pensar<br />
que tivemos alguma influência na pressa que<br />
agora houve em rectificar decisões erradas há<br />
9
mal que nos sintamos um pouquinho envaidecidos…<br />
De qualquer maneira - e a não ser que a lei<br />
venha também a ser alterada nesse sentido,<br />
permitimo-nos aqui e agora recordar a todas<br />
as IPSS que, para além do facto dos sujeitos<br />
passivos de IRS terem a obrigação - se essa for<br />
a sua vontade - de o declararem na respectiva<br />
declaração <strong>anual</strong>, cumpre às instituições requerer<br />
tal beneficio no <strong>ano</strong> imediatamente<br />
anterior -;<br />
… Mas parece que nem tudo são rosas;<br />
Vem aí o Código Contributivo.<br />
E com ele nova ameaça: ao que consta terá<br />
também já sido aprovada na assembleia da<br />
República essa nova lei que vem reunir num<br />
único tomo diversos diplomas avulsos que<br />
versam sobre a matéria;<br />
Diz-se que o Governo decidiu alterar os descontos<br />
feitos pelas IPSS para a Segurança Social<br />
dos actuais 19,6% para <strong>22</strong>,3%, o que representaria<br />
um aumento da taxa social única<br />
de 2,7%;<br />
Atenção que os Acordos de Cooperação assinados<br />
pelas IPSS com o Estado “prevêem preços<br />
que foram feitos tendo em conta os encargos<br />
financeiros ( … ) que as instituições têm<br />
obrigação de pagar“.<br />
aí estão eles a “sacar“ com a outra mão.<br />
… aguardemos por melhores dias para saber<br />
<strong>10</strong> muito tomadas, farão o favor de não levar a<br />
o que irá acontecer.<br />
Mas vamos estar atentos!
nÃO cAMinHARÁS SOZinHO<br />
Muito se tem falado da “alma” da<br />
nossa Instituição, que é pertença<br />
deste ou daquele. Sabemos que indubitavelmente<br />
ela estará para<br />
sempre ligada aos seus criadores e<br />
sem eles nada do que foi conseguido<br />
até hoje teria sido possível. Porém, não estiveram<br />
sozinhos nesta longa caminhada, que<br />
ainda vai a meio. É sobre os funcionários da<br />
<strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong> que vos pretendo falar.<br />
Estes com o seu trabalho, empenho e dedicação,<br />
dão um importante contributo, sendo o<br />
primeiro cartão de visita desta Associação. Espelham<br />
desse modo a imagem da Instituição<br />
junto dos utentes, seus familiares e amigos.<br />
Utentes do Centro de Dia do Laranjeiro<br />
Sabemos que a necessidade faz a<br />
procura dos nossos serviços e aqui<br />
gostaria de destacar o Serviço de<br />
apoio Domiciliário, que neste momento<br />
integra 28 utentes, sendo<br />
no entanto, insuficiente para fazer<br />
face às carências de uma população cada vez<br />
mais carente. Contudo, temos a esperança de<br />
um amanhã mais risonho e que nos permita<br />
chegar a mais pessoas, que reconhecem na<br />
<strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong> um sinónimo de qualidade.<br />
Hoje, a equipa que compõe esta Resposta Social<br />
é formada por 7 senhoras todas elas com<br />
as suas capacidades e defeitos, apesar de bastante<br />
jovens nalguns casos, mas acima de<br />
11
mo, vão dando mais e melhor conforto, alegria<br />
e qualidade de vida aos nossos utentes.<br />
Porém, não estão sozinhas pois parte do seu<br />
trabalho tem o acompanhamento do pessoal<br />
de cozinha, que confecciona as refeições que<br />
os utentes em casa recebem.<br />
Há também que dar destaque aos motoristas<br />
e às ajudantes de Centro de Dia, que se encontram<br />
sempre prontos para solucionar<br />
qualquer problema, com um sorriso estampado<br />
no rosto, dando uma vez mais uma imagem<br />
de solidariedade para quem mais precisa.<br />
Sem estes contributos diários não teria sido<br />
possível chegar onde chegamos.<br />
Todavia, não queremos apenas ficar por aqui.<br />
Pretendemos no futuro criar as condições necessárias<br />
para o estabelecimento de uma<br />
Quinta Pedagógica, capaz de dar resposta a<br />
jovens e menos jovens. Por outras palavras,<br />
um espaço inter-geracional, que contemple as<br />
12 tudo com bastante empenho e profissionalis-<br />
Funcionários da <strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong><br />
Respostas Sociais de lar, Infantário e Jardimde-infância.<br />
Foi também elaborado, um diagnóstico para<br />
aferir da real necessidade de implementação<br />
de um Serviço de apoio Domiciliário, no nosso<br />
Centro de Dia do Pragal e que comprovou essa<br />
necessidade.<br />
Para darmos continuidade ao trabalho já desenvolvido<br />
e, aquele que esperamos vir a desenvolver,<br />
teremos sempre que contar com o<br />
labor e empenho de todos e de mais alguns.<br />
Para finalizar e para melhor se compreender<br />
toda esta “alma”, poderei efectuar uma analogia<br />
com uma canção entoada em estádios<br />
de futebol, por adeptos de um mítico clube<br />
inglês: “…you’ll never walk alone.”
UM deSAFiO cOnSTAnTe<br />
aprender, adaptar, integrar, inserirse<br />
no meio…no fundo palavras e<br />
expressões que, transmitem ao ser<br />
hum<strong>ano</strong> um sentido contínuo e<br />
processual de experiências desafiantes,<br />
onde os obstáculos são um<br />
princípio determinante que é necessário ultrapassar.<br />
Em resumo, a vida humana carece<br />
de objectivos, os quais são essenciais para podermos<br />
descodificar a nossa razão de ser, de<br />
estar e de nos relacionarmos com os outros.<br />
O ambiente, o espaço envolvente, funciona<br />
como um dos factores determinantes que estrutura<br />
as nossas acções, seja na construção<br />
dos nossos valores, das nossas relações familiares,<br />
económicas e culturais, seja ao nível<br />
comunitário como numa visão mais global.<br />
ao nível comunitário, as Instituições de Solidariedade<br />
Social encontram-se dependentes<br />
na construção dos seus objectivos, articulados<br />
com a necessidade de intervir junto de uma<br />
população alvo que carece de necessidades<br />
específicas e distintas do resto da população.<br />
São determinadas por uma conduta exterior<br />
no seu modo de funcionamento, a organização<br />
torna-se um sistema aberto, entra em interacção<br />
com o meio e necessita da sua energia,<br />
ou seja, torna-se essencial para a sua<br />
sustentabilidade a troca de informação com o<br />
meio exterior.<br />
Pensemos na nossa Instituição, a alma alentejana,<br />
como um Sistema Aberto que permanentemente<br />
troca informação com outras Instituições,<br />
a Segurança Social, os Poderes<br />
locais (ex. Juntas de Freguesia, Câmara Municipal),<br />
unidades de Saúde Familiares, Hospitais<br />
e até os próprios Familiares fazem parte<br />
desta rede de informação. Em síntese, um<br />
todo organizado formado por elementos in-<br />
terdependentes.<br />
Referenciando os cinco meses já<br />
passados desde a minha integração<br />
numa “Casa” que me recebeu<br />
muitíssimo bem, posso descrever<br />
esta nova etapa e experiência da<br />
minha vida como um desafio constante, traçado<br />
por objectivos profissionais que pelo seu<br />
caminho vão encontrando alguns obstáculos<br />
a serem ultrapassados, através de soluções<br />
alternativas ao alcance dos mesmos.<br />
O espaço envolvente é um dos primeiros<br />
factores que determinam o comportamento<br />
organizacional de uma Instituição, no caso do<br />
Centro de Dia do Pragal, esse espaço determina<br />
formas de estar que se enquadram em soluções<br />
alternativas, por exemplo, o facto de<br />
estarmos inseridos num edifício cuja estrutura<br />
interior é caracterizada por andares em escada,<br />
determina quem pode ou não pode subir<br />
as mesmas, já que no piso inferior se<br />
encontra a sala de refeições e no piso superior<br />
a zona de convívio e lazer. a solução a adoptar<br />
implica um esforço constante não só por parte<br />
dos utentes menos habilitados a subir escadas,<br />
como da parte destes, a compreensão de<br />
que não é possível permanecer nas horas pós<br />
refeições na sala indicada para esse efeito.<br />
a solução alternativa, já que se pretende constantemente<br />
alcançar as necessidades e satisfação<br />
dos nossos utentes, o que por vezes pa-<br />
rece uma tarefa quase impossível, passa por<br />
alguns passeios na zona exterior, quando o<br />
tempo o permite, onde existe uma zona de<br />
lazer, mesmo assim pouco espaçosa para o<br />
número de utentes existente.<br />
Entrando em articulação com outras entidades,<br />
designadamente o Poder local, o Instituto<br />
de Segurança Social de Setúbal e sua Exce-<br />
13
14<br />
lência o Secretário de Estado do Ministério do<br />
Trabalho e Solidariedade Social, tentamos encontrar<br />
uma solução válida e estabilizadora<br />
para este problema, através da possível implementação<br />
de uma cadeira elevatória entre<br />
o rés-do-chão e o primeiro piso. Por conseguinte,<br />
é esta troca de informação, já que um<br />
sistema fechado torna inviável o seu funcionamento,<br />
essencial de modo a adoptar uma<br />
via apta a responder às necessidades de grupos<br />
alvo específicos, como é o caso dos nossos<br />
Idosos.<br />
Planeando sempre um futuro melhor, surgem<br />
obstáculos que proporcionam um alongamento<br />
do processo pensado, a demora na obtenção<br />
de subsídios e o facto de estarmos inseridos<br />
num edifício e num espaço que não<br />
facilita a mobilidade dos nossos utentes, são<br />
elementos reactivos que nos forçam a actuar<br />
com persistência no intuito de alcançar as<br />
nossas convicções e cumprirmos o acordo de<br />
Cooperação estabelecido com o Instituto de<br />
Segurança Social de Setúbal. na certeza, de<br />
que com o nosso empenho, dedicação e participação<br />
das entidades às quais solicitámos<br />
apoio, conseguiremos proporcionar a melhor<br />
Festa de Carnaval no Centro de Dia do Pragal<br />
qualidade de vida aos nossos utentes.<br />
num Mundo em constante inter-relação torna-se<br />
premente a cooperação e articulação<br />
com o meio onde nos inserimos, as Instituições<br />
de Solidariedade Social são constantemente<br />
confrontadas com essa necessidade, já<br />
que a sua sustentabilidade advém dessa articulação,<br />
tornando-se um desafio, não apenas<br />
individual mas colectivo e uma responsabilidade<br />
de todos nós cooperar nesta rede de informação<br />
para que o seu resultado seja positivo.
PSicOLOGiA nA ALMA<br />
Encontro-me a exercer a função de<br />
Psicóloga na alMa alEnTEJana<br />
desde Janeiro do corrente <strong>ano</strong>.<br />
Como tal tenho feito o<br />
acompanhamento dos utentes dos<br />
Centros de Dia do laranjeiro e do<br />
Pragal.<br />
a faixa etária com que trabalho é maioritariamente<br />
a idosa. O processo de envelhecimento<br />
é complexo, uma vez que tanto podem existir<br />
idosos bem-sucedidos e activos como idosos<br />
com uma autonomia reduzida devido à situação<br />
de doença ou pelo fraco contexto social<br />
em que vivem.<br />
É necessário promover um envelhecimento<br />
saudável, não só em termos de saúde mas<br />
também do funcionamento físico e mental,<br />
que conduzirão a uma maior autonomia<br />
e independência. o Psicólogo<br />
tem um papel importante, o<br />
de promover o bem-estar psicológico.<br />
Este bem-estar é caracterizado<br />
por sentimentos de competência,<br />
autonomia, estabelecimento de relações<br />
sociais significativas, o estatuto socioeconómico<br />
e a integração na sociedade.<br />
não é fácil para os idosos manter este bemestar<br />
psicológico, no entanto nunca é tarde<br />
para nos reajustarmos e adaptarmos, de<br />
modo a permitir uma vida o mais sã possível!<br />
Com ajuda torna-se mais fácil adquirir este<br />
bem-estar. nesta fase da vida, o que aparece<br />
como obstáculo são uma série de adaptações<br />
que o idoso tem de fazer. Tem de se adaptar<br />
15
perca de vida activa, ter um menor poder económico,<br />
o ser viúvo ou de um modo geral<br />
adaptar-se a uma série de percas, tanto de familiares<br />
como amigos e vizinhos. Tem também<br />
de enfrentar, por vezes, o fraco ou nenhum<br />
amparo familiar. Se juntarmos a isto as questões<br />
inevitáveis relacionadas com a saúde que<br />
lhes diminui a autonomia, tornam a vida do<br />
idoso mais difícil, sendo assim muito importante<br />
a ajuda psicológica. Se tiver satisfação<br />
pela vida, surge consequentemente o bemestar<br />
psicológico.<br />
um dos factores referidos em cima destaca-se<br />
por ser um factor determinante a esta satisfação<br />
pela vida, que são todas as questões relacionadas<br />
com a convivência social.<br />
O relacionamento com os familiares molda o<br />
estado de espírito dos idosos e determina de<br />
modo bastante intenso a sua facilidade e felicidade<br />
em viver o dia-a-dia.<br />
A perca de familiares, amigos e do(a)<br />
companheiro(a) de uma vida, revela-se assim<br />
como o factor chave para uma maior tristeza e<br />
fechamento em si. Desta forma, todo o apoio<br />
dado pelas Instituições como a alMa alEnTE-<br />
JANA vem colmatar estas percas, não porque<br />
se substituem as relações perdidas mas porque<br />
permite ao idoso estar acompanhado e<br />
sentir-se estimado e acarinhado. Muitos deles<br />
vêm a alMa alEnTEJana como uma segunda<br />
casa!<br />
16 ao facto de ser reformado e à consequente<br />
A ajuda psicológica reforça este apoio dando,<br />
na instituição, um espaço exclusivo ao utente,<br />
onde ele e o psicólogo estabelecem uma relação<br />
terapêutica. o psicólogo dá o suporte<br />
emocional, é compreensivo e apoia o utente.<br />
Cria-se um espaço onde o utente pode falar<br />
do que quiser e onde se procura encontrar a<br />
melhor forma para lidar com os problemas. O<br />
apoio é essencial para assegurar a autonomia,<br />
uma imagem positiva de si e um equilíbrio<br />
mental. É sempre necessário ter em conta que<br />
cada individuo tem uma história de vida e de<br />
comportamentos única, por isso, cada caso<br />
tem de ser encarado como único, até porque<br />
não existem duas pessoas iguais. na relação<br />
terapêutica procura-se um sentido para a vida<br />
do indivíduo, tentando sempre ter em conta a<br />
sua história pessoal e as limitações que possam<br />
existir na vida.<br />
O envelhecimento não deve ser encarado<br />
como uma fase sombria mas sim como uma<br />
fase de descoberta de novos aspectos da vida,<br />
vistos de um modo mais sabedor e equilibrado,<br />
onde se retira partido de todas as aprendizagens<br />
que fez ao longo da existência. neste<br />
sentido, o psicólogo surge como um meio facilitador<br />
para ajudar a encarar a fase de<br />
envelhecimento com um maior positivismo.<br />
o apoio psicológico que presto estende-se<br />
também pelos utentes do apoio domiciliário,<br />
aos sócios da alMa alEnTEJana mas também<br />
a toda a comunidade que recorra a esta<br />
ajuda, incluindo qualquer faixa etária.<br />
Ser psicóloga na alMa alEnTEJana constitui<br />
um trabalho muito abrangente e que me permite<br />
desempenhar a função que sempre<br />
quis!
cOSTA VicenTinA - UM MAR de ALenTejO<br />
a Ilha do Pessegueiro desviada cerca<br />
de 200 metros das praias de Porto<br />
Covo, com uma história rica de feitos<br />
na defesa estratégica da costa em tempos<br />
remotos (consta-se que desde os<br />
<strong>ano</strong>s 218-202 a.C., no período dos cartagineses,<br />
parece vigiar Sines, dá-nos a sensação de guardamor<br />
dum futuro que a vista não alcança. Ao largo,<br />
os navios, os grandes petroleiros, vão e vêm num<br />
frenesim imenso, lavrando o mar e alimentando<br />
as fábricas de matéria-prima a transformar, na<br />
produção de bens e riqueza, concretizando, em<br />
parte, o sonho de muita gente quando nas décadas<br />
de 60/70 os mentores do projecto Sines -<br />
um porto para a Europa idealizaram a criação de<br />
milhares de postos de trabalho, e a consequente<br />
valorização social, criando infra-estruturas, acessibilidades,<br />
dando incentivos fiscais para a fixação<br />
de empresas no Concelho de Sines.<br />
Hoje, para além dos petroleiros, dos pesqueiros,<br />
há uma nova realidade que são os barcos de<br />
recreio, os veleiros. Os tempos são outros. As<br />
motivações para “remar” a Sines são também<br />
outras. o turismo está a descobrir a Costa<br />
Vicentina. o Poeta “foi além da Taprobana”, nós,<br />
numas mini-férias, fomos para além da Comporta<br />
e descobrimos um mundo novo. abancámos em<br />
Sines, onde revimos uma terra linda e rica culturalmente,<br />
não nos esquivamos a contar que na noite<br />
de <strong>10</strong> de Junho, fomos obsequiados com um concerto<br />
de música renascentista, sublinhando um<br />
texto histórico, síntese da vida de Vasco da Gama,<br />
onde não faltaram excertos de os lusíadas. Tudo<br />
isto no espaço renovado e acolhedor do Castelo.<br />
Foi bonito comemorar o Dia de Camões, a portugalidade,<br />
desta forma.<br />
Também nestas mini-férias rumámos<br />
a Santo André, passando primeiro<br />
por Santiago do Cacém onde deparámos<br />
com uma vila muito bonita,<br />
muito asseada, cativadora da nossa<br />
simpatia e do nosso orgulho, pois como diz um<br />
amigo meu, “gosto de ver uma casa limpa, podese<br />
comer no chão”. Das ameias do seu castelo<br />
a nossa vista atravessa o arvoredo e alcança as<br />
chaminés altaneiras das fábricas de Sines. Por entre<br />
curvas e contra curvas, chegámos a Vila nova<br />
de Santo André, onde umas sardinhas assadas<br />
fizeram as delícias de estômagos que estavam<br />
mesmo a pedi-las. a barriga cheia e a sonolência<br />
consequente pediam o que se seguiu: o espraiar<br />
a mente e o corpo nas limpas areias da lagoa de<br />
Santo andré. Meu Deus, como está linda aquela<br />
praia, como nos chama aquele murmúrio dum<br />
mar tão azul, onde um mar com ondas tão suaves<br />
e constantes quase nos dizem o que queremos<br />
ouvir... Com a tarde a aproximar-se da noite,<br />
numa pequena esplanada, na nova povoação de<br />
Santo andré, uns caracóis, um “panito” torrado<br />
e umas imperiais selaram um dia magnífico, por<br />
tudo, pela praia, pelo sol, pela paisagem, pela<br />
família, pelos amigos. Por este formidável litoral<br />
alentej<strong>ano</strong>.<br />
E de Vila nova de Mil Fontes a Zambujeira do<br />
Mar, é um descobrir de paisagens e lugares<br />
sedentos duma descrição poética de que assumi-<br />
mos a nossa incapacidade para tal. Mas o que vimos<br />
foi digno de fazer registo e partilhar. Zambujeira<br />
é tão bonita, com as suas falésias rompendo<br />
de cima para baixo um mar sempre revolto. Há<br />
eventos que têm a capacidade de pôr as terras<br />
no mapa. a juventude e a Música criaram um es-<br />
17
um dia visitar Zambujeira do Mar. E sem demora<br />
o devem fazer.<br />
De regresso a Vila nova de Mil Fontes, que desde<br />
sempre foi conhecida pela Princesa do Alentejo,<br />
gozámos a beleza das praias e visitámos o Forte<br />
de São Clemente, cuja história é digna duma visita<br />
mais detalhada e duma leitura atenta, para que<br />
se perceba a importância das fortificações no litoral<br />
alentej<strong>ano</strong> na defesa da nação portuguesa.<br />
Esta incursão pelo Sudoeste Alentej<strong>ano</strong> não<br />
ficaria completa sem uma abordagem à gastronomia<br />
alentejana... aquela massada de peixe<br />
em Porto Covo, estava de comer e (não) chorar<br />
por mais. Seria pecado. A superior qualidade<br />
e frescura do peixe ficou na nossa memória. as<br />
migas com entrecosto na Zambujeira do Mar só<br />
pecaram pelo tempo de espera. um serviço que<br />
esperamos seja melhorado. Já as sardinhas em<br />
Sines eram do tipo “á boca das urnas”. acabadas<br />
de sair da brasa, num instante surgiam na mesa.<br />
E que dizer daquele tinto? Da pipa. De graduação<br />
adequada. E paladar a condizer. Que se “devia<br />
mastigar com cerimónia”, disse o empregado.<br />
18 paço próprio no mapa para que a todos apeteça<br />
Ilha do Pessegueiro<br />
Concluimos, dizendo que um alentej<strong>ano</strong> no<br />
alentejo não faz turismo. anda por ali. Vive e<br />
revive, ora a infância, ora as origens. Com alma.<br />
Com alma de alentej<strong>ano</strong>. Sempre. E como é bom<br />
constatar que visitar o litoral alentej<strong>ano</strong> é de<br />
alguma maneira fazer o regadio de um corpo<br />
sedente de mar.<br />
Castelo de Sines
TURiSMO<br />
Alentejo e Turismo<br />
o alentejo é, actualmente, um destino turístico<br />
em ascensão, alternativo ao chamado turismo<br />
de “mar e sol”. Sabemos também que o vasto e<br />
riquíssimo património cultural e natural, aliado<br />
ao sossego e à qualidade de vida que o Alentejo<br />
proporciona, está na base desta procura. Sem esquecer,<br />
obviamente, a gastronomia!<br />
Quando falo em património cultural não me refiro<br />
apenas ao património construído ou arqueológico,<br />
embora sejam determinantes para a<br />
nossa identidade histórica e para a estratégia de<br />
desenvolvimento turístico. Refiro-me também ao<br />
imaterial. aquele que infelizmente corre o risco<br />
de desaparecer se não agirmos rapidamente<br />
em defesa dos saberes ancestrais, se não revitalizarmos<br />
as nossas aldeias e os nossos centros<br />
históricos; se não devolvermos à agricultura a sua<br />
originalidade; se não preservarmos o cante e as<br />
tradições…<br />
a estratégia para um desenvolvimento turístico<br />
integrado no Alentejo é, primeiro que tudo, não<br />
deixar morrer a nossa identidade. a verdadeira<br />
hospitalidade alentejana implica partilhar com o<br />
visitante o que temos de melhor: dormirem nas<br />
nossas casas, comerem à nossa mesa, contar-lhes<br />
a história da nossa terra. É isso a alma alentejana…<br />
Mas para que isso seja possível é preciso<br />
combater urgentemente a desertificação.<br />
Como escreveu Orlando Ribeiro a emigração<br />
é um facto novo na sociedade alentejana mas<br />
generalizou-se em menos de um decénio. Dela se<br />
pode ter uma imagem nos montes abandonados<br />
e nas fiadas de habitações fechadas nas aldeias,<br />
onde apenas os velhos se juntam nos largos, comentando<br />
casos do passado e a saudade e a fortuna<br />
dos filhos. não é fácil inverter esta tendên-<br />
Mariana Costa<br />
cia. os últimos trinta e cinco <strong>ano</strong>s transformaram<br />
a sociedade e a paisagem agrícola como nunca<br />
sucedera antes. A deslocação em massa da população<br />
activa para o litoral ou para o estrangeiro,<br />
a modernização do país e as políticas agrícolas e<br />
económicas da união Europeia, determinaram o<br />
desaparecimento de modos de vida, profissões e<br />
técnicas ancestrais.<br />
o desenvolvimento turístico pode constituir um<br />
factor de fixação da população mas, em cada<br />
região, e em cada Município, essa estratégia deve<br />
ter em conta a identidade e a realidade local, para<br />
que as populações se possam identificar com os<br />
projectos e o visitante possa realmente viver a experiência<br />
do que é ser alentej<strong>ano</strong>!<br />
19
20<br />
MeMÓRiA<br />
Marco Paulo G. F. Valente<br />
Contrabando, lobos e vida campesina<br />
Memórias da Dona Catarina Conceição Maria Pedro<br />
Catarina da Conceição Maria Pedro, 72 <strong>ano</strong>s, filha<br />
de augusto Pedro e de Conceição Maria. nasceu<br />
na freguesia do Espírito Santo, concelho de Mértola.<br />
Vivia com os pais e dois irmãos na Quinta de<br />
Malpique, próxima da ribeira de Chança 1 . Foi<br />
para lá viver com a sua família por volta dos seus<br />
7 / 9 <strong>ano</strong>s. o seu pai era o “Hortelã” da Quinta, o<br />
caseiro digamos. Esta quinta ficava situada numa<br />
zona elevada e nas proximidades situavam-se<br />
dois outros casais. um que ficava encarregue da<br />
criação das ovelhas, e que estava sob a responsabilidade<br />
do Sr. José Mendes e outro que estava<br />
direccionado para a criação das vacas, do qual era<br />
responsável o Sr. Manuel Horta, natural de Santana<br />
de Cambas. O dono destes terrenos era o<br />
Dr. Emídio. Esta quinta era enorme, de acordo<br />
com as palavras da minha interlocutora.<br />
a mãe da Dona Catarina é que fazia a comida<br />
para este pessoal. os seus pais não faziam discriminação<br />
de ninguém, conviviam com todos:<br />
guardas-fiscais, carabineiros, e como não podia<br />
deixar de ser, os contrabandistas. Do lado<br />
espanhol os contrabandistas vinham cá buscar<br />
mais o café e o açúcar. “os nossos” quando vendiam<br />
os produtos que levavam, compravam sedas,<br />
roupas bonitas na povoação que ficava do<br />
lado de lá, em Espanha, em Cumbres.<br />
os pais da Dona Catarina costumavam fazer fes-<br />
tas nessa Quinta, onde tinham todo o género de<br />
animais: ovelhas, vacas, perus, galinhas, patos. Os<br />
guardas-fiscais caçavam lebres – o que era proibido,<br />
mas faziam-no – e traziam também para a<br />
mãe da Dona Catarina arranjar e fazer grandes<br />
ensopados 2 . os guardas-fiscais eram quase todos<br />
do Norte. Estes eram tão bem tratados aqui que<br />
costumavam dizer: «É a minha mãe e as minhas<br />
foto de D. Catarina Conceição Maria Pedro<br />
1 Nos nossos dias, e de acordo com conversas que a Dona Catarina tem tido com pessoas dos seus conhecimentos,<br />
a dita Quinta encontra-se submersa pela albufeira da Barragem do Chança, concluída em 1986.<br />
2 Os carabineiros já não traziam caça, mas costumavam trazer também prendas: louças e panelas, ou seja,<br />
os próprios carabineiros também faziam contrabando às escondidas. Não era pelo negócio, nem para ganhar<br />
a vida, mas para recompensar aquilo que esta família fazia por eles todos sem distinção. Não eram todos,<br />
só aqueles com quem se tinha mais confiança, quando eram desconhecidos “eles lá e a gente cá.”
foto de Sr. Augusto Pedro<br />
irmãs!». Eles comiam todos juntos também com<br />
os carabineiros, sendo todos muito jovens, quer<br />
os portugueses, como os espanhóis. Assim Dona<br />
Catarina e seus familiares tinham também liberdade<br />
para irem à Espanha quando quisessem e<br />
eles não lhes faziam mal.<br />
Havia alturas que a ribeira estava quase seca de<br />
um dos lados e eram as melhores alturas para<br />
os contrabandistas passarem de um lado para o<br />
outro. andavam a pé, quer guardas-fiscais, quer<br />
contrabandistas. As mulheres quando iam, iam<br />
sempre duas ou três juntas. os pais da Dona<br />
Catarina apiedavam-se dessa gente e quando o<br />
rio enchia de repente ou as comportas abriam e<br />
não tinham estes(as) maneiras de o atravessar em<br />
segurança ficavam a dormir na Quinta. os pais da<br />
Dona Catarina fizeram em segredo uma divisão<br />
na casa que tinha uma entrada camuflada, onde<br />
os contrabandistas repousavam e se escondiam,<br />
quando era caso disso. Esta divisão tinha a particularidade<br />
de ter janelas mais baixas que o resto<br />
da casa, e mais adiante veremos qual o porquê.<br />
Nesta divisão não entravam guardas nem carabineiros,<br />
só se quisessem «rabiscar», mas como<br />
havia uma grande confiança entre estes e a<br />
família da Dona Catarina tal nunca veio a sucederse.<br />
Muitas vezes dava-se o caso de guardas-fiscais<br />
e carabineiros estarem a comer na Quinta e a mãe<br />
da Dona Catarina lhes dizer “Comam! Comam!”<br />
e enquanto estes comiam, ia à pressa à rua abrir<br />
as janelas dessa divisão que era para as contrabandistas<br />
“espanholas” poderem fugir e escapar<br />
à vontade por aqueles cerros. Nessa divisão os<br />
contrabandistas também por vezes deixavam lá<br />
as cargas escondidas. Aquilo era muito perigoso<br />
(o contrabando), porque para além de serem<br />
estes perseguidos, quer por guardas-fiscais como<br />
carabineiros havia muito lobo por ali.<br />
Para os lobos não havia fronteira, quer atacavam<br />
lá como cá. atacavam pessoas e rebanhos. Das<br />
ovelhas comiam tudo e deixavam só a lã, com<br />
que a esposa do Sr. augusto fazia colchões. um<br />
dia o Sr. Augusto, que andava perto da ribeira de<br />
Chança viu qualquer coisa estranha e foi ver do<br />
que se tratava. Encontrou farrapos de roupas e<br />
umas botas com os pés de um homem lá dentro.<br />
Nunca se soube de quem se tratava, quem<br />
é que falava, quem é que dizia alguma coisa com<br />
medo?<br />
uma vez o irmão da Dona Catarina – Manuel<br />
augusto ou Filipe como era mais conhecido – ia<br />
sendo comido pelos lobos. O Homem que guardava<br />
as ovelhas, o pastor, o Sr. José Mendes, muitas<br />
das vezes dizia ao patrão que uma ou duas<br />
ovelhas tinham morrido devido a alguma erva<br />
que tivessem comido, como por exemplo a «alfavaca»,<br />
porque quem comesse daquela erva morria,<br />
homem ou animal. E as mais das vezes era<br />
este Sr. que as matava para poderem ter carne<br />
com que se alimentarem e como moeda de troca<br />
para favores que a família da Dona Catarina lhe<br />
pudesse prestar. Este Sr. também ia dando alguns<br />
borreguinhos de vez em quando ao Filipe e um<br />
dia o Filipe – que teria uns seis ou sete aninhos –<br />
virou-se para a mãe e disse: “Mãe, eu vou ali ver<br />
os meus borreguinhos!” muito entusiasmado.<br />
a mãe virou-se para ele e disse-lhe que levasse<br />
21
Monte Alentej<strong>ano</strong> - Pintura de Maria da Luz<br />
se alimentar. E assim foi. O moço pegou no tarro<br />
e lá foi ver os borreguinhos. Porém já começava<br />
a entardecer e o moço não havia modos de<br />
aparecer. Ele já estava de regresso a casa e os pais<br />
interrogando-se que seria feito dele. o Sr. augusto<br />
sobressaltou-se e disse logo “ai os lobos!” e<br />
assomaram à janela mais baixa da casa gritando<br />
pelo nome dele. E o Filipe gritava, quase já sem<br />
forças “os lobos! os lobos”. o seu pai solta logo<br />
três ou quatro rafeiros, com coleiras com pontas<br />
metálicas à volta do pescoço, secundados por<br />
outros tantos ainda mais pequenos que estes três<br />
ou quatro mas superiores em valentia.<br />
Acorrem as pessoas das quintas assim que ouvem<br />
a gritaria gritando eles também. os guardas-fiscais<br />
<strong>22</strong> o «tarro»3 , onde estava a comida para o pastor<br />
que iam entrar ao serviço de noite apercebem-se<br />
da comoção e reboliço e da situação em si e vá de<br />
dar tiros para o ar. ainda viram os primeiros a chegar<br />
ao local os lobos que arrancavam os sargaços<br />
e as estevas com os dentes para cima do miúdo<br />
que entretanto desmaiara 4 , como que preparando<br />
a lauta refeição que se avizinhava. os lobos tal<br />
foi a quantidade de pessoas que se aproximavam<br />
do local, os cães rafeiros e os tiros da guarda-fiscal<br />
puseram-se logo em fuga, em busca de presa<br />
mais fácil.<br />
Por vezes, também quando os cães iam dar as<br />
suas voltas os lobos aproveitavam e começavam<br />
a rodear a casa e aproximavam-se,<br />
arranhando as janelas – as que ficavam mais baixas e<br />
uivando continuamente. E as pessoas de dentro<br />
da casa assomavam às janelas de cima e gritava o<br />
Sr. augusto – para dar confiança à esposa e<br />
filhos – “Venham cá!!! Venham cá se as querem<br />
ver!!!” ao que a esposa retorquia também tendo<br />
os lobos como destinatários: “Querias comer-me,<br />
mas aqui não chegas tu!!!”. E os lobos pulavam,<br />
mas nada conseguiam, pois as janelas eram muito<br />
altas.<br />
Não havia dia em que não aparecesse uma<br />
ovelha morta. Muitos eram aqueles que morriam<br />
às mãos destes animais, que escolhiam o entardecer<br />
ou o breu da noite para atacar. De dia só<br />
ousavam atacar em algum sítio mais ermo. Também<br />
numa outra altura, e perto do sítio onde o<br />
irmão da Dona Catarina tinha sido atacado, em<br />
Malpique, ia a passar uma senhora já de uma<br />
certa idade de visita a uma filha que vivia lá para<br />
os lados de Espanha. Mas a hora já era tardia e<br />
começava a escurecer. Subiu por uma árvore acima<br />
e ali passou a noite entre aquelas ramagens.<br />
Os lobos saltando para a apanhar e ela a tremer<br />
de medo lá em cima. De manhãzinha, com o raiar<br />
3 Ou a marmita, para quem não saiba o seu significado.<br />
4 O rapaz, algum tempo mais tarde, após se ver a salvo, dizia que ao regressar tinha começado a sentir<br />
frio, muito frio – era o medo que lhe tolhia os membros – e quando olhou em volta começou a ver os lobos.<br />
As pessoas terão chegado na altura precisa em que estes se estavam preparando para o tolher.<br />
Foi quando ele desmaiou. O irmão da Dona Catarina ficou com um trauma tão grande que nos <strong>ano</strong>s<br />
que se seguiram acordava sobressaltado em sua cama gritando em alta voz: “Os Lobos! Os Lobos!”
do sol e o afastar dos lobos é que a dita senhora<br />
abalou para ir à da filha em Espanha. Só se soube<br />
desta história porque a dita senhora sobreviveu<br />
para a contar.<br />
um tio da Dona Catarina, o Sr. antónio Filipe –<br />
irmão da Dona Conceição –, também era contrabandista.<br />
Vivia este Sr. no Espírito Santo. E quando<br />
tinha algum tempo, pois também subsistia pela<br />
agricultura ia a Espanha fazer o seu contrabando.<br />
uma certa noite, já nas cercanias da Quinta de<br />
Malpique este Sr. teve de se esconder numa<br />
toca de uma árvore sob chuva torrencial, pois os<br />
carabineiros, guardas-fiscais e cães andavam por<br />
perto. Chegando completamente enregelado<br />
pela manhã e dizendo que depois ia com tempo<br />
buscar as mercadorias onde as tinha escondido,<br />
embrulhadas em sacos de serapilheira, que carregava<br />
às costas com umas cordas a fazer de mochila.<br />
uma vez, o filho deste senhor, rapaz dos<br />
seus 16/17 <strong>ano</strong>s e de seu nome Manuel antónio<br />
Filipe, virou-se para o pai dizendo-lhe: “Eu gos-<br />
Mértola - Pintura de Maria da Luz<br />
tava de ir contigo pai! leva-me!” ao que o pai<br />
lhe respondia: Cala-te, tu não sabes onde te vais<br />
meter.” e ele retorquia “Eu não tenho medo!!”. E<br />
o pai lá lhe fez a vontade “Então vem lá. Que é<br />
para saberes. Vem lá buscar aquilo que queres.”<br />
Ele foi. Quando vinham de regresso estavam os<br />
carabineiros a patrulhar perto do sítio onde eles<br />
andavam, e os guardas-fiscais do lado de cá. assim<br />
que o pai vê os carabineiros por perto estes<br />
também se apercebem da sua presença, mas não<br />
tinham visto ainda o filho que vinha mais abaixo<br />
cá atrás na encosta. Este joga a carga ao filho<br />
dizendo que se escondesse e vai de correr para<br />
outro lado para atrair os carabineiros atrás de<br />
si. Galgou muros e sebes pelo meio das quintas<br />
e conseguiu escapar-se aos seus perseguidores,<br />
regressando então para trás, a buscar o filho. o<br />
filho tremia de medo escondido. Quando ouviu<br />
o pai chamando pelo seu nome disse “Óstia! Estava<br />
a ver que eles o tinham matado! Vossemecê<br />
nunca mais aparecia!”. assim que o filho viu que<br />
23
24<br />
foto de Guarda Rodrigues<br />
se encontravam do lado de cá e a salvo virou-se<br />
para o pai dizendo: “nunca mais na minha vida!<br />
nem que eu morresse à fome!”. a vida do contrabando<br />
não era para qualquer um.<br />
Quanto aos guardas-fiscais 5 , o Sr. Augusto chegava<br />
a dar-lhes parcelas de terreno na horta<br />
para estes cultivarem o que mais lhes aprouvesse.<br />
Quando estes queriam ir às festas do lado<br />
de Espanha mudavam de roupa na Quinta de<br />
Malpique. Vestiam a fatiota dos dias festivos e lá<br />
iam. O mais irónico de toda esta estória era que<br />
as armas e fardas ficavam arrecadadas na mesma<br />
divisão secreta onde se abrigavam os contrabandistas<br />
quando por ali passavam e necessitavam<br />
de um local onde repousar. De manhã quando<br />
os guardas-fiscais regressavam após a festa do<br />
lado espanhol a mãe da Dona Catarina tinha já<br />
as fardas deles preparadas e as armas para eles<br />
vestirem, numa outra divisão da casa. arrecadava<br />
novamente a farpela dos bailaricos e eles vestiam<br />
a farda para ir para o posto 6 .<br />
As pessoas que iam trabalhar para Espanha 7 por<br />
vezes traziam alguns “regalos” para os familiares,<br />
alguma prenda. Pois os guardas apanhando-os<br />
tiravam-lhes tudo, muitas das vezes para ficarem<br />
eles próprios com a mercadoria. E diziam-lhes<br />
eles: “E podem ir muito contentes de não irem<br />
presos para o posto!”. num tal episódio um<br />
desses homens muito choroso dizia a propósito<br />
5 Dona Catarina recorda-se dos nomes de alguns desses guardas-fiscais, que eram naquela altura maioritariamente<br />
nortenhos, ou “galegos”, como por aqui eram conhecidos. Desde o Rodrigues (Bragança) – estória<br />
dos brincos, contada em seguida –, ao Alferes (Chaves), passando pelo Gomes (mais idoso) e o Firmino<br />
(que falava achim). Todos eram nortenhos. Este último, inclusive, casou-se com uma tal Maria Leonor, que<br />
era das Cortes Pereiras. Quanto a este Firmino, Dona Catarina contou duas estórias que me apraz registrar.<br />
Eche – referindo-se ao Firmino – era muito engrachado. Uma vez perguntou à minha mãe: “Qué icho Chenhora<br />
Concheichão ?” E depois eram figos da Índia. E ele nunca tinha visto: “E icho cómeche ?” E minha mãe:<br />
“Come-se pois !”. E ele começou a comer e diz assim: “E agora, o que facho às grainhas ?” E minha mãe disse<br />
assim: “Olhe, engula-as !”. Esse era muito engraçado. E depois no posto ele tinha que apresentar serviço e ele<br />
não apresentava nunca serviço. Nunca apanhava ninguém. E diziam-lhe assim: “Mas você nunca os apanha<br />
(aos contrabandistas) ? Os outros apanham e você não os apanha porquê? ” Ao que ele respondia: “Eh. Não<br />
bejo contrabandistas ! Chó bejo é pachar de noite, toda a noite, para cá e para lá homens com chacos de<br />
batatas ach cochtas!” Muito engraçado. “Chó bejo é pachar os homens com chacos de batatas ach cochtas!”<br />
6<br />
Aquela vivência daqueles tempos e todos estes episódios ainda são hoje recordados com muitas saudades e<br />
nostalgia pela Dona Catarina.<br />
7Já naqueles tempos havia falta de trabalho, deslocando-se as pessoas também para Espanha para a apanha da<br />
fruta, mormente o figo.
da apreensão de uns certos brincos vermelhos:<br />
“Tanto que a minha filha me pediu os brincos! 8<br />
E eu levava os brinquinhos. Senhor, deixe-me<br />
ao menos os brinquinhos!”. E o guarda, duro e<br />
impassível não acedia ao pedido do homem. o<br />
Sr. augusto cerrava os punhos dizendo: “aqui não<br />
há mais contrabando para ninguém. Vão rabiscar<br />
para outro lado porque aqui não rabiscam mais!”<br />
E a Dona Catarina apiedou-se deste homem.<br />
Mas um dos guardas, lá do norte, de Bragança,<br />
Rodrigues de seu nome afirmava: “Escusa de se<br />
estar a lamentar que não apanha os brincos coisíssima<br />
nenhuma! os brincos já têm dono! Estes são<br />
para a Catarininha! E eu (Dona Catarina) vendo o<br />
homem chorar olhei para os brincos – que eram<br />
muito bonitos por sinal – e disse assim «Mas<br />
eu não os quero, são para a menina daquele<br />
senhor»! E não quis os brincos!”<br />
Os contrabandistas e aqueles que iam trabalhar<br />
para Espanha traziam por vezes vestimentas, sobretudos<br />
e outras peças de vestuário e a esposa<br />
do Sr. augusto recorria a uma artimanha para<br />
enganar os guardas. Espalhava salpicos de água<br />
pelo chão, pisando as roupas e amarrotando-as<br />
para lhes dar uma aparência de usadas. Dizia ela<br />
para os contrabandistas que aquela sujidade com<br />
água saía. ora os guardas fiscais quando iam ver<br />
a carga destes, aqueles retorquiam que eram<br />
mudas de roupa, que era roupa velha. As roupas<br />
com aquela aparência enganavam qualquer um.<br />
assim, com esta artimanha, se passavam estas<br />
mercancias. Os pais da Dona Catarina, no seu<br />
entender, e assim nos quer parecer, foram muito<br />
bons para todos sem discriminação. Tinham<br />
sempre comida a mais para alguém que pudesse<br />
aparecer fugido ou que necessitasse de se alimentar<br />
e de pernoitar por aquelas bandas.<br />
Também armazenava lenha por causa do frio, e<br />
também esta era alvo de cobiça, pois as noites<br />
por aqueles lados são gélidas, quanto mais<br />
naqueles tempos, e as pessoas necessitavam de<br />
se aquecer. o Sr. augusto armazenava a lenha,<br />
mas vinham sempre um grupo de homens para<br />
a roubar e este Sr. não podia fechar os olhos sempre.<br />
Numa certa ocasião vieram roubar lenha em<br />
plena luz do dia. os homens já tinham os molhos<br />
feitos para levar. o Sr. augusto chegou-se ao pé<br />
deles dizendo:<br />
Sr. augusto: “«Shut! Por favor! Isto já é a gozar,<br />
ponham já aí a lenha! não levam a lenha.» o<br />
meu pai, pois, conhecia-os. «não levam a lenha,<br />
já disse!»<br />
um dos homens: «Eh! Faz-nos tanta falta!» Pois,<br />
com que é que eles se aqueciam? aquecimento e<br />
comida era tudo feito à base de lenha.<br />
Sr. augusto: «Já vos disse! Ponham aí a lenha e<br />
vão-se embora! Porque aqui isso foi à descarada.»<br />
Quando era a safra dela o meu pai fechava os<br />
olhos. Na altura o meu pai falou assim e eles<br />
puseram a lenha no chão. Mas disseram assim:<br />
«o senhor tem filhos. Quer criá-los?»<br />
Sr. augusto: «Que conversa é essa?»<br />
um dos homens: «Se os quer criar...deixe-nos levar<br />
a lenha!» E o meu pai disse-lhe assim:<br />
Sr. augusto: «ai que vocês agora é que nunca<br />
mais levam daqui nem um graveto!» - com o jeito<br />
dele. Eles pediram desculpa ao meu pai. Meu pai<br />
disse: «nunca mais vocês levam daqui – o meu<br />
pai sabia que eles que levavam. (...) De maneiras<br />
que eles pediram depois desculpa ao meu pai. O<br />
meu pai fez de conta que não coiso e disse:<br />
«levem lá a lenha e vejam lá a hora em que vêmna<br />
roubar!» E eles ficaram muito contentes 9 .”<br />
Ambos os avós de Dona Catarina eram mineiros<br />
8Após este episódio, o pai da Dona Catarina, o Sr. Augusto abraçou-a dizendo-lhe: “Tiveste coração filha. Tiveste<br />
coração.” Este tal Rodrigues tinha-se encantado pela Dona Catarina, ainda menina e moça, mas esta nunca correspondeu<br />
às suas pretensões. Ele queria com ela casar e oferecia-se inclusive para pagar a sua educação e tratando-a<br />
sempre com respeito. Mas o sentimento de Catarina por tal homem nunca passou da amizade e admiração<br />
e gosto numa primeira fase pela atenção que ele lhe dispensava. Pois se ela era uma moça ainda menor e ele um<br />
homem já feito.<br />
9Com este singelo episódio se verifica como as pessoas se tratavam de comum acordo, quase que à boa maneira<br />
oriental, não “perdendo a face” de parte a parte e praticando a interajuda comunitária. A vida era dura.<br />
25
esposo de Catarina Gaspar, e residentes ambos<br />
na almoinha Velha (Espírito Santo) comandava<br />
equipas de mineiros, assim como seu outro avô,<br />
antónio Pedro, esposo de Guilhermina Mariana,<br />
e moradores na Bicada (Espírito Santo). “Quem<br />
comandava aquilo eram os ingleses.”<br />
a propósito dos pais dessa tal de Catarina Gaspar<br />
– avó de Dona Catarina – um pequeno episódio<br />
demonstra o tal alentejo sem lei, que por vezes<br />
se ouve falar, e que sucedia por esses tempos que<br />
já lá vão. os tempos da bisavó de Dona Catarina.<br />
A sua bisavó, Catarina também de seu nome, estava<br />
casada com um tal de Gaspar, homem rude<br />
e com instintos de malvadez. Dos seus filhos, só<br />
três sobreviveram, a tal avó de Dona Catarina, a<br />
Silvéria e o lifonso <strong>10</strong> . Estes seus bisavôs eram<br />
pessoas muito ricas, tinham muitas fazendas e<br />
muitos homens a trabalhar. Mas o Gaspar é que<br />
administrava o dinheiro todo e não prestava contas<br />
à esposa. Punha e dispunha à vontade dele<br />
e ninguém se podia meter. Matavam animais e<br />
tinham uma casa só para as petiscadas, onde<br />
filhos e esposa deste homem estavam proibidos<br />
de entrar. Algum empregado dissesse algo que<br />
ele não gostava de ouvir ou dissesse alguma má<br />
resposta e ele matava-o logo naquele mesmo<br />
instante, sendo sepultado no local e bico calado.<br />
até dos próprios filhos ele matou. Pelo menos<br />
três sei que ele os matou 11 .<br />
os irmãos e a mãe tinham que calar a tristeza que<br />
cá dentro sentiam, não fosse lhes suceder o mesmo.<br />
Tratava bem a esposa... desde que ela não<br />
se metesse nos seus assuntos. nunca lhe batia<br />
nem nada. Só que ela imagino, matando-lhe os<br />
26 nas minas de S. Domingos. o avô, Joaquim Filipe,<br />
filhos! Houve uma altura que esse meu tio lifonso<br />
estava muito mau numa cama, das porradas<br />
que tinha levado. ora morre, ora não morre, que<br />
nessa altura não havia medicamentos. A minha<br />
bisavó chorava muito e andava muito triste. Foi lá<br />
a casa uma senhora muito rica, família, parenta, e<br />
minha bisavó contou-lhe a vida que estava a levar<br />
e que ele matava-lhe os filhos e aquilo tudo. E ela<br />
disse-lhe: “Eu queria salvar estes! aquele está no<br />
estado em que está! Eu tenho estas duas.” E então<br />
ela disse para aquela Sra. (que era cá de Beja):<br />
“ai que eu quero salvar as minhas filhas! Quero<br />
salvar aquele!” ao que esta Sra. Respondeu: “Eu<br />
levava-as, mas como é que eu as levo sem autorização<br />
dele?” E a minha bisavó lá combinou e<br />
disse: “a comadre vai para Beja e eu vou mandar<br />
um dos homens, foi fazer aqui o enxovalzinho<br />
delas, para elas depois irem no carro para Beja.”<br />
Ela então virou-se para as filhas e disse-lhes:<br />
“olhem filhas – com muitas lágrimas nos olhos<br />
disse - filhas, para eu vos salvar do vosso pai. (Estava<br />
já tudo feito) Mas têm que dizer ao teu pai.<br />
Têm que pedir licença.” “Mas como é que agora<br />
se pede licença? – responderam. Mas tiveram,<br />
tiveram que a pedir.<br />
Filhas: “Meu pai, nós gostávamos de conhecer<br />
Beja. não conhecemos Beja! lá a Dona Fulana!<br />
Íamos para a casa dela passar lá uma temporada.<br />
Se o pai nos dá licença!” E ele, ele sorriu-lhe e<br />
disse:<br />
Gaspar: “oh minhas filhas! Então não dou? Pois<br />
dou! Sim senhor. Querem ir não querem?”<br />
Filhas: “Pois queremos.”<br />
Gaspar: “Então vão. agora vão lá além buscar<br />
aqueles paus grossos que estão além. Tragam<br />
<strong>10</strong> Este último ficou para sempre deficiente do braço e perna esquerda, de tantas agressões que<br />
suportou de seu pai, o tal Gaspar. Pontapés, sopapos e pauladas eram o Pão Nosso de Cada Dia.<br />
11 Um matou-o porque ele tinha curiosidade de saber qual o sabor da aguardente. Entrou às escondidas<br />
nessa tal casa – onde mãe e seus irmãos estavam proibidos de entrar, só os amigalhaços – para beber<br />
um copinho. Quando ia para beber o copinho da aguardente o pai apanhou-o “Quem te deu autorização<br />
?”. O gaiato foge e pula para cima de uma árvore para se safar ao pai. O pai pega em pedras e vai de<br />
atirá-las até que o miúdo caiu de lá de cima morrendo estatelado no chão. Ou da queda, ou das pedradas<br />
que levou. Outro seu irmão, também curioso com o sabor dos vinhos entrou também à socapa e a mesma<br />
história sucedeu. Só que este nem tempo teve de subir para uma árvore. Levou tanta porrada cá em<br />
baixo, que deverá ter morrido com um pontapé que o pai lhe deu que o arrojou contra a parede dessa casa.
lá.”<br />
E elas coitadinhas foram buscar a vara. Porrada<br />
numa e porrada noutra e deixou-as todas escalavradas.<br />
Mas mesmo assim elas vieram. Todas<br />
doentes, todas feridas depois, mas vieram.<br />
Chegaram a Beja. Entretanto, houve um dos<br />
que comeu e bebeu, que também lhe chegou já<br />
aquilo e disse: “Então mas tu! Quem te julgas tu<br />
que és? Então tu matas os teus filhos, matas os<br />
teu empregados! Mas tu pensas que só tu é que<br />
és Homem? Então dá cá um abraço!” E estoirou-o<br />
todo. E disse para a minha bisavó, levando-o de<br />
rojo “Prepare aí a cama!” E deitou-o lá para cima.<br />
“Mande já as suas filhas já de volta, que ele não<br />
está aí nem por horas.” aquilo era assim naquele<br />
tempo, olho por olho, dente por dente. um<br />
Homem valente. a polícia não se metia nisso,<br />
Guadiana - Pintura de Maria da Luz<br />
nem havia polícia naquele tempo. ali teve que<br />
o ouvir. E ela mandou um homem montar-se lá<br />
num carro e ir chamar as suas filhas. E ele lá foi.<br />
Elas nem aqueceram o lugar (em Beja) todas contentes.<br />
A minha bisavó andava sempre (de semblante)<br />
muito carregado. lenço na cabeça, chapéu na cabeça,<br />
tudo assim é que ela levava a vida. E depois,<br />
o homem, o meu bisavô morreu. E ela: “Enterrem-no<br />
praí, onde ele tem enterrado os outros!”<br />
E tirou a roupa toda preta. Vestiu-se toda de ver-<br />
melho! um belo chapéu na cabeça, toda vestida<br />
de vermelho. Montou-se num cavalo e desatou<br />
a cantar por aquelas terras fora a ver o que era<br />
dela. o que é que era e o que não era já dela. a<br />
ver se ainda tinha alguma coisa. Porque ele vendia<br />
tudo. E então ela ia cantando.<br />
27
Catarina!”<br />
Dizia o outro: “Éh, não pode sêri! ai não pode<br />
sêri! Então ela vem cantando! alguma vez? Vem<br />
ela sempre de luto! não era ela.”<br />
E ela aproximou-se: “Sou eu! não tão enganadas!<br />
Sou eu, sou! Sou eu própria! Olhem, enquanto eu<br />
havia de cantar, chorei. Agora ao invés de chorar,<br />
canto.”<br />
Ela foi ver o que tinha de fazendas e ainda as recuperou.<br />
Ainda a minha avó herdou e agora aquilo<br />
está tudo ao abandono. as terras ficaram todas<br />
abandonadas lá. Pois. Eles lá viveram com a mãe<br />
e quando ela morreu eles dividiram entre os três<br />
e se não tiveram herdeiros aquilo lá continuará<br />
ao abandono. Hortas, searas, olivais tudo ficou<br />
ao abandono. Hortas, só meus tios que vivem lá<br />
28 Dizia um: “Pois ei! Parece ali a Sra.! aí é a Sra.<br />
A caminho da ceifa - Pintura de Maria da Luz<br />
ao pé vão cultivando. abalaram quase todos já, e<br />
pronto! Minha mãe ainda disse: “Fica um monte<br />
daqueles ao abandono! não deixamos perder o<br />
monte! a gente faz aquilo entre todos, fica uma<br />
casa para irmos passar um Natal, uma festa assim,<br />
ou um casamento. Fazíamos lá, tipo rústico.”<br />
Minha mãe pensou: “ Se você fizer, todos<br />
querem! Entrar ninguém quer, mas se você<br />
fizer todos querem!” E a minha mãe depois olha,<br />
deixa 12 .<br />
não queríamos deixar de fazer referência a<br />
um poema da autoria da neta do Sr. Augusto,<br />
Homem exemplar e a quem convém prestar a<br />
devida homenagem, dando assim voz àqueles<br />
que a maior parte das vezes nunca é ouvida. Sem<br />
mais delongas, aqui fica. »»»<br />
12 Muitos dos montes abandonados que temos observado um pouco por todo o Alentejo, também têm uma estória<br />
de abandono semelhante. Como os herdeiros eram muitos optaram por deixá-los abandonados do que por os<br />
recuperar. O espírito comunitário tão característico desta região tem-se vindo a esbater com o passar dos tempos.
“O Bê à Bá do meu avô”<br />
o Bê à Bá não conheci<br />
mas não deixei de viver<br />
o Bê à Bá nunca escrevi<br />
e também não soube ler<br />
Para o Bê à Bá aprender<br />
Eu tinha que ir à escola<br />
Mas para poder comer<br />
usei a enchada não a sacola<br />
Se o tivesse aprendido<br />
Tinha tido melhor futuro<br />
não tinha tanto sofrido<br />
Com este trabalho tão duro<br />
nunca tive uma infância<br />
Como as crianças de agora<br />
Eu sempre vivi na ânsia<br />
De não recorrer à esmola<br />
Por isso desde pequeno<br />
No campo eu trabalhei<br />
De branco passei a moreno<br />
analfabeto eu fiquei<br />
Assim sem conhecer as letras<br />
Nunca o meu nome escrevi<br />
Para mim eram secretas<br />
As cartas que recebi<br />
Com uma cruz se assinava<br />
Quem na escola não aprendeu<br />
Era assim que se marcava<br />
O nome que Deus nos deu<br />
Podiam parecer iguais<br />
Túnel - Pintura de Maria da Luz<br />
29
30<br />
MeMÓRiA<br />
Contrabando no século XX, na raia da<br />
freguesia de Santana de Cambas<br />
Um crime, ou uma luta pela sobrevivência?<br />
Das gerações que viveram dos <strong>ano</strong>s trinta aos<br />
<strong>ano</strong>s sessenta do século passado, não há ninguém<br />
que não se recorde do contrabando para<br />
Espanha. Eram grupos de homens e até mulheres<br />
com 25 kg e mais de café, açúcar, ovos e farinha<br />
às costas. Era tudo aquilo que servia para minimizar<br />
as dificuldades das famílias, a maioria composta<br />
por sete, oito, nove e mais pessoas. A vida<br />
do campo era muito complicada e o trabalho na<br />
mina não dava para todos. E mesmo aqueles que<br />
ali trabalhavam, encontravam no contrabando<br />
um complemento para fazer face às condições<br />
difíceis da vida de então.<br />
Por outro lado, os espanhóis viviam com grandes<br />
dificuldades. o regime franquista tal, como o de<br />
Salazar no nosso país, limitara-lhes o desenvolvimento,<br />
para além de ter envolvido toda a Espanha<br />
numa guerra civil. Essas dificuldades fizeram-se<br />
sentir de uma forma profunda na raia. Tanto com<br />
a escassez de géneros de primeira necessidade,<br />
como as perseguições e os fuzilamentos de todos<br />
aqueles que se opunham ao poder ditatorial.<br />
Foi através do contrabando de sobrevivência, que<br />
José Rodrigues Simão<br />
muitos homens e mulheres, andando duas, três,<br />
quatro noites a palmilhar dezenas e dezenas de<br />
quilómetros, conseguiam trazer mais meia dúzia<br />
de tostões para casa (isto quando não perdiam<br />
a carga, por ser capturada pela guarda fiscal ou<br />
pelos carabineiros) para proporcionar uma vida<br />
melhor aos seus filhos.<br />
Sabemo-lo dos depoimentos orais, de vários contrabandistas<br />
da altura, e que hoje infelizmente se<br />
vão perdendo se nada fizermos. E nós queremos<br />
que esta história seja transmitida aos nossos netos.<br />
Foi com a edição do livro “Memórias do<br />
Contrabando em Santana de Cambas”, de<br />
luís Maçarico, e na perspectiva de construir<br />
a história da freguesia de Santana de Cambas<br />
que criamos o museu do contrabando. Que<br />
queremos sempre aberto a novos relatos,<br />
histórias, depoimentos e outros elementos que<br />
possam vir a engrandecer o já vasto historial<br />
deste museu.<br />
Contamos consigo!
MeMÓRiA<br />
A Terra de Elvas<br />
Esta é a pequena história da minha avó Maria<br />
e da sua amada Elvas, terra mítica de lendas<br />
familiares.a minha avó nasceu nos finais do século<br />
XIX, no seio de uma família alentejana abastada.<br />
Habituou-se a ver o ciclo dos campos através da<br />
“mais linda janela do alentejo”, a sentir o cheiro<br />
forte da terra, a amá-la. Casou com um beirão,<br />
e acompanhou-o na subida ao litoral, tendo-se<br />
fixado nas Caldas da Rainha. Por morte dos pais,<br />
nos <strong>ano</strong>s 20, herdou a chamada “Terra de Elvas”,<br />
uma pequena propriedade em que assentam os<br />
formidáveis arcos do aqueduto da amoreira. E a<br />
avó Maria passou a dizer: “nunca vendam aquela<br />
terra” como se o seu coração ali estivesse preso<br />
para sempre. E a terra tornou-se uma lenda. Só a<br />
avó Maria a conhecia. Éramos pobres, não havia<br />
recursos para aventuras alentejanas. Mas a Terra<br />
de Elvas estava em nós. Tornou-se parte de nós,<br />
tal a veemência com que aquele pedido de “não<br />
a vendam nunca” era dito. Contava que, quando<br />
todo o alentejo secava, aquela terra era a única<br />
que frutificava em espigas, que sempre assim<br />
tinha sido e sempre assim seria. não havia explicação<br />
para o facto. Dois palmos de terra perdidos<br />
no coração de uma terra ressequida, frutificando.<br />
a proximidade da água do aqueduto e a extrema<br />
com o cemitério davam um ar racional ao “milagre”.<br />
De facto nunca o soubemos. a terra estava<br />
arrendada e era paga em alqueires de trigo. Não<br />
era, portanto, pelo dinheiro que a avó Maria<br />
insistia naquele pedido. Quando uma bela fatia<br />
lhe foi roubada para ser construída a estrada para<br />
Portalegre, vi-a chorar.<br />
o tempo passou, a minha avó morreu em 1958<br />
pedindo sempre “não a vendam, não a vendam”.<br />
Maria Ramalho<br />
E aqueles palmos de chão se já eram lenda, mais<br />
lenda se tornaram. Que podia ter de tão valioso<br />
aquela terra? Seria o fim do arco-íris e lá estaria<br />
enterrado o pote de ouro prometido? ou só repousaria<br />
ali finalmente o coração de alguém que<br />
amou profundamente a sua terra?<br />
Entretanto a Câmara de Elvas quis a terra. Ou a<br />
bem ou a mal. Foi a bem. Alugada pelo preço de<br />
coisa nenhuma, “o chão do meu pão” transformou-se<br />
em chão da feira de S. Mateus.<br />
Em 2007 a minha mãe viu-se confrontada de<br />
novo pela câmara de Elvas. Já com muita idade,<br />
cedeu e vendeu-a. a Terra de Elvas é hoje estradas<br />
e rotundas...<br />
Casei entretanto. Quis o destino que uma parte<br />
da família de meu marido fosse de Pias. E também<br />
para ele Alentejo fosse sinónimo de terra<br />
solidária, de gente boa que o acolheu quando a<br />
PIDE o perseguiu e onde, por força das circunstâncias,<br />
se tornou aprendiz de podador de oliveiras.<br />
a voz da avó Maria e a de meu marido fazem-<br />
se ouvir em mim cada vez que o alentejo está<br />
presente. no telúrico do cheiro, na cor dos seus<br />
campos, na luta das suas gentes, no seu cante, no<br />
imenso espaço de liberdade, na memória de uma<br />
terra que não conheço mas que amo como uma<br />
raiz.<br />
31
32<br />
ALenTejO eM FOTO<br />
Os Segredos do Olhar<br />
Foto Rosário Fernandes - Igreja em Montemor-o-Novo<br />
Rosário Fernandes
Foto Rosário Fernandes -Marvão<br />
33
34<br />
Foto Rosário Fernandes - Pousada de Flor da Rosa em Portalegre
Foto Rosário Fernandes - Brasão em Portalegre<br />
35
36<br />
Foto Rosário Fernandes - Évora
Foto Rosário Fernandes - Montemor<br />
37
38<br />
MUnicíPiO dO SeixAL<br />
Um concelho com qualidade de vida<br />
o Seixal é um Município ribeirinho inserido na<br />
Área Metropolitana de lisboa e na Península de<br />
Setúbal. Situado a poucos minutos da capital, o<br />
concelho conta com uma localização geográfica<br />
muito privilegiada, factor atractivo para os muitos<br />
visitantes que por cá passam. as actividades<br />
culturais e desportivas, aliadas a uma gastronomia<br />
de qualidade e a um património valorizado<br />
são alguns dos motivos que fazem com que o<br />
Seixal conte actualmente com cerca de 170 mil<br />
habitantes.<br />
Fisicamente o concelho tem uma área de 93,6<br />
km2, divididos por seis freguesias: aldeia de Paio<br />
Pires, Amora, Arrentela, Corroios, Fernão Ferro e<br />
Seixal. É hoje o concelho da Península de Setúbal<br />
com maior número de habitantes e conta com<br />
uma população jovem e activa, que aqui encontra<br />
os factores necessários para uma boa qualidade<br />
de vida.<br />
não faltam motivos para visitar este Município. a<br />
Baía, com uma área de 500 ha convida a passeios<br />
a bordo de embarcações tradicionais ou aos mais<br />
variados desportos náuticos.<br />
as iniciativas como o Seixal Jazz, o Março Jovem<br />
ou a Seixalíada, são também motivo de visita.<br />
As Quintas Senhoriais, como a Fidalga ou a Trindade,<br />
com a sua história e património merecem<br />
um passeio alargado. Para descansar, o Parque do<br />
Serrado ou o Parque urb<strong>ano</strong> das Paivas oferecem<br />
a tranquilidade necessária para umas horas de<br />
repouso.
Visita guiada ao Seixal<br />
Pelas suas características ribeirinhas, pela sua<br />
cultura e património, o Seixal tem para oferecer<br />
diariamente uma agenda muito diversificada de<br />
actividades onde toda a família pode participar.<br />
aconselha-se um passeio pedestre junto à<br />
Marginal, entre o núcleo urb<strong>ano</strong> antigo do Seixal<br />
e de arrentela, onde existe um passeio ribeirinho<br />
ao longo das margens da Baía.<br />
ao longo deste percurso sugere-se uma visita ao<br />
núcleo da Mundet do Ecomuseu Municipal, para<br />
uma visita a exposições sobre a cortiça.<br />
Encontra-se um pouco mais à frente, em<br />
arrentela, o núcleo naval do Ecomuseu, onde<br />
são construídos artesanalmente barcos do Tejo.<br />
Continuando o percurso sempre junto à Baía do<br />
Seixal, uma sugestão é o passeio pelos Jardins da<br />
Quinta da Fidalga, um espaço do século XV que<br />
foi propriedade de Paulo da Gama, irmão de<br />
Vasco da Gama.<br />
numa subida ao Miradouro da Igreja Matriz de<br />
PATRiMÓniO<br />
arrentela, tem-se uma vista privilegiada sobre a<br />
Baía e sobre lisboa. E se a visita ao Seixal for planeada<br />
atempadamente pode navegar a bordo do<br />
bote- -de-fragata Baía do Seixal, uma embarcação<br />
tradicional do Tejo, ou aproveitar um dos programas<br />
turísticos temáticos que acontecem ao longo<br />
de todo o <strong>ano</strong>.<br />
Horários de funcionamento<br />
núcleo naval do Ecomuseu Municipal<br />
e núcleo da Mundet<br />
Horário de Verão ( de Junho a Setembro ) – De<br />
terça a sexta, das 9 às 12 e das 14 às 17 horas.<br />
Sábados, domingos e feriados, das 14.30 às 18.30<br />
horas.<br />
Jardins da Quinta da Fidalga<br />
até final de Setembro, este espaço funciona de<br />
terça a domingo, entre as <strong>10</strong>.15 e as 19.45 horas.<br />
39
40<br />
FeSTiVAL de VeRÃO ATÉ 30 de AGOSTO<br />
Festas Populares animam o Seixal<br />
até 30 de agosto, o Festival de Verão anima o<br />
Seixal com as Festas Populares a acontecerem em<br />
todas as freguesias. São meses de muita música,<br />
marchas, artesanato e convívio popular.<br />
Já se realizaram as Festas de S. Pedro, no Seixal e<br />
as Festas de arrentela. Mas ainda vão subir aos<br />
palcos das festividades muitos artistas consagrados<br />
e nomes do concelho.<br />
Fernão Ferro<br />
De 18 a 26 de Julho, no Parque das lagoas, têm<br />
lugar as Festas de Fernão Ferro.<br />
Diversos grupos de dança e projectos<br />
musicais sobem aos dois palcos das festividades<br />
para animar as noites de baile da freguesia. A<br />
Grande noite do Fado Vadio, aberta à participação<br />
popular, o Festival de Folclore e o espectáculo de<br />
encerramento com Miguel e andré são apenas<br />
alguns dos destaques destas Festas.<br />
Aldeia de Paio Pires<br />
Estas Festas têm início a 29 de Julho e as<br />
celebrações em honra de n.ª Sra. da anunciada<br />
estendem-se até ao dia 2 de agosto. Do programa<br />
fazem parte as actuações do Grupo “Brazil”,<br />
Banza e Cláudia Isabel. Destaque também para as<br />
largadas Taurinas e para a noite da Sardinha assada,<br />
no dia 31 de Julho.<br />
Amora<br />
De 12 a 16 agosto a freguesia de amora recebe as<br />
actuações dos uHF, angélico, Clã e Deolinda.<br />
Corroios<br />
De 21 a 30 de agosto esta freguesia recebe os<br />
concertos de ana Moura, Quim Barreiros, Xutos<br />
e Pontapés, anjos, Blasted Mechanism, Martinho<br />
da Vila e Marco Paulo. o Festival de Folclore faz<br />
também parte da programação.
AcTiVidAdeS ReLAciOnAdAS cOM O RiO<br />
A Baía na centralidade do concelho<br />
não se poderia falar do Seixal sem se falar da<br />
sua Baía, pois é esta que mais caracteriza o concelho.<br />
Foi junto às suas margens que cresceram<br />
os núcleos antigos de arrentela, Seixal e amora,<br />
que acolheram pessoas provenientes de todo<br />
o País e que fazem do Seixal aquilo que hoje<br />
é. as tradições e costumes que estas pessoas<br />
trouxeram das suas terras de origem criaram a<br />
diversidade gastronómica e de costumes que<br />
proliferam hoje no Seixal.<br />
Foi também junto à Baía do Seixal, que conta com<br />
uma área de cerca de 500 ha, que cresceram as<br />
quintas seculares, como a Fidalga e a Trindade. As<br />
suas condições naturais permitem o desenvolvimento<br />
de diversas actividades relacionadas com<br />
o rio, tais como a c<strong>ano</strong>agem, a pesca desportiva<br />
ou o passeio em embarcações tradicionais.<br />
Seixal tem serviço de Marinheiro desde Maio<br />
Desde Maio que o Seixal passou a contar com o<br />
Serviço de Marinheiro que permite transportar os<br />
nautas entre terra e a sua embarcação. Os nautas<br />
que se desloquem ao Seixal têm agora possibilidade<br />
de deixar os seus barcos ancorados na Baía<br />
e serem transportados para terra através de uma<br />
embarcação da autarquia, que fará também o<br />
regresso dos passageiros. Os interessados podem<br />
requisitar este serviço através da frequência rádio<br />
– Canal VHS 9.<br />
Horário: De 30 de Maio a 1 de novembro Das <strong>10</strong><br />
às 18 horas<br />
De 14 de novembro a20 de Dezembro<br />
Das <strong>10</strong> às 16 horas<br />
Custo: 3 Euros<br />
41
42<br />
cULTURA<br />
Seixal é uma referência cultural no País<br />
o Seixal assume-se hoje como um concelho que<br />
aposta num programa cultural de qualidade. O<br />
Seixal Jazz é um dos exemplos. actualmente, este<br />
evento é uma referência incontornável no p<strong>ano</strong>rama<br />
nacional de festivais e encontros desta área<br />
da música, apresentando um elevado padrão de<br />
qualidade e um modelo totalmente inovador que<br />
já cativou um público próprio e procura agora não<br />
só mantê-lo como atrair apreciadores de outras<br />
áreas musicais.<br />
o Seixal Jazz conta este <strong>ano</strong> com a sua <strong>10</strong>.ª edição,<br />
que decorre entre 21 de outubro e 7 de novembro,<br />
no Fórum Cultural do Seixal e nos antigos Re-<br />
feitórios da Mundet, como vem sendo habitual.<br />
Para além desta iniciativa, destaca-se também o<br />
Festival de Teatro, que traz <strong>anual</strong>mente ao concelho<br />
várias peças e actores bem conhecidos do<br />
público.<br />
o Março Jovem, uma iniciativa dedicada particularmente<br />
à juventude conta com muitos adeptos<br />
nas inúmeras actividades que proporciona, como<br />
concertos, workshops, ateliês, exposições, entre<br />
tantas outras.<br />
Destaque ainda para o Seixal Graffiti, que tem<br />
como objectivo a divulgação e promoção do<br />
graffiti, elevando-o a um estatuto de arte urbana.<br />
Todos os <strong>ano</strong>s, diversos writters mostram a sua<br />
arte nas paredes da antiga Fábrica Corticeira<br />
Mundet, transformando as paredes brancas em<br />
arte.<br />
a Medalha tem também o seu espaço no<br />
Seixal, com a realização de Congressos Mundiais<br />
de Medalhística como a Bienal Internacional<br />
de Medalha Contemporânea, que integra uma<br />
Exposição Internacional de Medalha Contemporânea,<br />
uma Feira da Medalha e diversos workshops<br />
sobre a temática.<br />
É de referir ainda a programação cultural regular<br />
no auditório Municipal.
TeRRiTÓRiO dinâMicO e ATRAcTiVO<br />
Pl<strong>ano</strong>s estratégicos para o concelho<br />
o Município do Seixal é um território dinâmico e<br />
atractivo, com crescente diversificação de actividades<br />
e modernização do seu tecido económico.<br />
Tendo em conta esta realidade, a proposta de<br />
revisão do Pl<strong>ano</strong> Director Municipal enquadra<br />
um conjunto de pl<strong>ano</strong>s estratégicos que irão promover<br />
novos investimentos públicos e privados,<br />
a criação de emprego e qualidade de vida da<br />
população<br />
43
da Marinha-Fogueteiro<br />
Contempla a reestruturação da rede viária entre o<br />
nó do Fogueteiro e a Baía do Seixal; a valorização<br />
ambiental do corredor ecológico do rio Judeu; a<br />
criação de um parque urb<strong>ano</strong> e de novos equipamentos<br />
colectivos e a recuperação do património<br />
industrial da Companhia de lanifícios de arrentela.<br />
Pl<strong>ano</strong> de urbanização da Zona Ribeirinha<br />
de Amora<br />
Integra a construção e ligação do passeio<br />
ribeirinho entre o Correr d’ Água e o<br />
Talaminho; a preservação do património<br />
construído e valorização do núcleo urb<strong>ano</strong><br />
antigo; a qualificação dos estaleiros<br />
navais, dinamização da náutica de<br />
recreio e criação de um complexo desportivo e de<br />
lazer.<br />
Pl<strong>ano</strong> de urbanização arrentela-Seixal<br />
e Pl<strong>ano</strong> de Pormenor Baía Sul<br />
Prevê a qualificação das frentes ribeirinhas e<br />
revitalização dos núcleos urb<strong>ano</strong>s antigos; a<br />
preservação e valorização do património natural<br />
e construído; criação de novos equipamentos<br />
colectivos e de lazer; qualificação do estaleiro naval,<br />
promoção da náutica de recreio e do desenvolvimento<br />
turístico.<br />
Pl<strong>ano</strong> de Pormenor da Área da ex-Siderurgia nacional,<br />
Paio Pires<br />
Vai permitir o desenvolvimento económico e a<br />
criação de emprego, com a localização de novas<br />
indústrias, logística, náutica de recreio e escola<br />
de novas tecnologias; a recuperação e qualificação<br />
ambiental; a criação de um parque urb<strong>ano</strong><br />
e de equipamentos públicos; a valorização do<br />
património do alto-Forno e a construção de novas<br />
acessibilidades com a travessia Seixal-Barreiro<br />
e a ligação à CRIPS.<br />
44 Pl<strong>ano</strong> de Pormenor de arrentela-Torre<br />
Estudo de Reordenamento e Qualificação urbana<br />
de Corroios<br />
Inclui a qualificação das acessibilidades e mobilidade;<br />
criação de uma ciclovia; criação e requalificação<br />
de equipamentos colectivos e valorização<br />
da estrutura ecológica urbana, sapal de Corroios<br />
e espaço ribeirinho.<br />
Pl<strong>ano</strong> de urbanização de Fernão Ferro nascente<br />
e reconversão urbanística<br />
Visam a qualificação urbana do território e de<br />
infra-estruturas; a consolidação da rede viária e<br />
ligação às acessibilidades municipais e regionais<br />
e a criação de novos equipamentos colectivos,<br />
espaços verdes e áreas de lazer.
ÀReA dA SideRURGiA nAciOnAL<br />
Pólo de desenvolvimento<br />
económico e Social da Península de Setúbal<br />
a área da antiga Siderurgia nacional, com cerca<br />
de 500 hectares, pela sua localização, dimensão<br />
e capacidade de dinamização económica, representa<br />
um espaço estratégico na organização da<br />
estrutura do território municipal, constituindo<br />
uma área de oportunidades na atractividade de<br />
novos investimentos e criação de emprego.<br />
O Pl<strong>ano</strong> de Pormenor da Área da Siderurgia Nacional<br />
consagra a sustentabilidade ambiental,<br />
económica e urbanística, o desenvolvimento<br />
de infra-estruturas viárias, a instalação de equipamentos<br />
educativos, sociais e desportivos e a<br />
valorização do património do alto-Forno.<br />
Projecto do Arco Ribeirinho Sul.<br />
a zona da Siderurgia nacional é uma das três<br />
áreas industriais da margem sul integradas no<br />
Projecto do Arco Ribeirinho Sul.<br />
Este projecto contempla ainda 55 hectares na<br />
Margueira, concelho de almada, e 290 hectares<br />
nos terrenos da Quimiparque, no concelho do<br />
Barreiro. o objectivo é requalificar estas 3 áreas<br />
da margem sul do Tejo, com potencialidades<br />
de reconversão, capazes de protagonizar uma<br />
estratégia de desenvolvimento urbanístico sustentável<br />
e de contribuir para a valorização e competitividade<br />
da Área Metropolitana de lisboa.<br />
45
46<br />
PROjecTOS<br />
Frente Ribeirinha Seixal - Arrentela<br />
o Programa de acção Integrada de Regeneração<br />
e Valorização da Frente Ribeirinha Seixal-arrentela<br />
foi alvo de uma candidatura ao QREn, já aprovada,<br />
e engloba a concretização de 20 projectos<br />
até ao 3.º trimestre de 2011.<br />
Irá criar novas dinâmicas económicas e sociais,<br />
permitir a regeneração urbana dos núcleos antigos,<br />
dinamizar o turismo e criar emprego. Representa<br />
um investimento total de 9 657 620 euros,<br />
sendo 6 361 820 euros do orçamento municipal e<br />
3 500 000 euros provenientes do FEDER.<br />
Esta acção integrada engloba a reformulação<br />
do passeio ribeirinho, com o seu alargamento e<br />
melhoramento, a qualificação do espaço público<br />
e do núcleo urb<strong>ano</strong> antigo, o aumento de zonas<br />
verdes, criação de áreas de lazer e recreio, o aumento<br />
de lugares de estacionamento automóvel,<br />
a qualificação e dinamização dos serviços e do<br />
comércio local e a instalação de um pontão.<br />
na Quinta da Fidalga, vão ser desenvolvidos três<br />
importantes projectos: o Museu-oficina de artes<br />
Manuel Cargaleiro; o Centro Internacional de<br />
Medalha Contemporânea e a qualificação dos<br />
jardins e do lago de Maré.<br />
Em termos de equipamentos, é de referir a requalificação<br />
do Centro de Dia da associação<br />
unitária de Reformados, Pensionistas e Idosos<br />
do Seixal e a adaptação de um edifício para nova<br />
sede da associação Portuguesa de Deficientes –<br />
delegação do Seixal.<br />
Está também prevista a criação da CInaRTE –<br />
Centro De Inclusão pela arte, de um Centro Integrado<br />
de actividades Culturais nos antigos Refeitórios<br />
Mundet e do Espaço Cultura e Educação<br />
na actual Escola Básica Conde de Ferreira.<br />
O programa envolve ainda a criação do Parque<br />
urb<strong>ano</strong> D’ana, a recuperação de embarcações<br />
tradicionais e a formação do núcleo náutica de<br />
Recreio do Seixal e do núcleo Empresarial do<br />
Seixal.
AcÇÃO SOciAL<br />
Investimento no valor de <strong>10</strong> milhões<br />
de euros em equipamentos sociais<br />
até 2011, serão construídos <strong>10</strong> novos equipamentos<br />
sociais no Concelho, que permitirão<br />
uma resposta social no apoio à infância e terceira<br />
idade, num investimento total de cerca de <strong>10</strong><br />
milhões de euros.<br />
Estes equipamentos vão ser construídos no âmbito<br />
do programa Pares e Modelar da administração<br />
Central, mas não são financiados na totalidade<br />
pelo Governo.<br />
Como as instituições sociais não possuem capacidade<br />
financeira para suportar a construção<br />
dos equipamentos, será através do investimento<br />
municipal que as infra--estruturas se tornarão<br />
uma realidade. A Autarquia apoia com um investimento<br />
na ordem dos 4 milhões de euros, tendo<br />
cedido os terrenos para a construção dos equipamentos.<br />
De referir que este investimento irá atenuar algumas<br />
das carências que o Seixal e o próprio distrito<br />
de Setúbal sofrem na área social. o distrito vai<br />
ficar com um rácio de 30 por cento na rede de<br />
creches e lares quando o rácio do País é de 35 por<br />
cento.<br />
Quanto ao concelho do Seixal, actualmente com<br />
170 mil habitantes, terá uma oferta a nível de<br />
equipamentos sociais que contribuirá para uma<br />
melhor qualidade de vida dos munícipes.<br />
Equipamentos sociais a construir<br />
<strong>•</strong>Creche Social, lar e Centro de Dia de Idosos do<br />
Seixal;<br />
<strong>•</strong>Creche Sonho azul da Cooperativa Pelo Sonho é<br />
que Vamos, aldeia de Paio Pires;<br />
<strong>•</strong>Creche Social de amora;<br />
<strong>•</strong>Creche Social de Sta Marta Pinhal, Corroios;<br />
<strong>•</strong>Creche Social de Corroios;<br />
<strong>•</strong>Creche Social de Fernão Ferro;<br />
<strong>•</strong>unidade Cuidados Continuados de amora;<br />
<strong>•</strong>unidade de Cuidados Continuados de<br />
arrentela *;<br />
<strong>•</strong>lar de Idosos de Corroios *;<br />
<strong>•</strong>lar da Cercisa.<br />
* As candidaturas aos programas de financiamento<br />
encontram--se em fase de definição, estando o espaço<br />
para edificação dos equipamentos garantido pela<br />
Câmara Municipal do Seixal.<br />
Lar da Cercisa<br />
Unidade de Cuidados Continuados de Amora<br />
47
48<br />
edUcAÇÃO<br />
Alargamento e qualificação do Parque Escolar<br />
até 2012 a Câmara Municipal do Seixal vai investir<br />
34 milhões de euros no alargamento e<br />
qualificação do Parque Escolar do concelho. o investimento<br />
inclui novas escolas e a ampliação de<br />
equipamentos, bem como a construção de ginásios,<br />
refeitórios e pavilhões desportivos.<br />
na rede do 1.º ciclo e jardins-de-infância, a Câ-<br />
mara Municipal vai realizar um investimento de<br />
cerca de 26 milhões de euros, criando mais 128<br />
salas de aulas, sendo que 76 são do 1.º ciclo e 52<br />
de jardim-de--infância.<br />
a autarquia tem vindo a apresentar várias candidaturas<br />
a programas de apoio do Governo (PID-<br />
DaC) e da união Europeia (QREn), sendo que até,<br />
ao momento, nove equipamentos foram já apro-<br />
vados, o que representa um apoio na ordem dos<br />
4 milhões de euros.<br />
o investimento irá qualificar o parque escolar,<br />
alargando de forma significativa a rede pública de<br />
jardins-de-infância.<br />
Este programa significa um aumento qualitativo<br />
na rede pública, que passará a responder às necessidades<br />
do crescimento do concelho, dando<br />
condições a todas as famílias para que as crianças<br />
possam frequentar o ensino pré-escolar e do 1.º<br />
ciclo da rede pública.<br />
as obras já estão no terreno e vão passar pelas 6<br />
freguesias do concelho. Incluem a construção de<br />
<strong>10</strong> equipamentos e a ampliação ou remodelação<br />
de 4 edifícios escolares.
deSPORTO<br />
Aumentar a prática da actividade física<br />
com Desporto para Todos<br />
no Concelho do Seixal, o desporto é entendido<br />
como um fenómeno social, cultural, formativo e<br />
económico de valor incontornável que visa que os<br />
benefícios que resultam da sua prática, quando<br />
correctamente concebida e orientada, cheguem<br />
a um número progressivamente mais alargado<br />
de pessoas que vivem e trabalham no Município.<br />
assim, a Câmara Municipal do Seixal lançou, há<br />
cerca de uma década, o Pl<strong>ano</strong> de Desenvolvimento<br />
Desportivo Municipal.<br />
Este Pl<strong>ano</strong> integra diversos projectos, realizados<br />
em articulação com as escolas do Concelho, Juntas<br />
de Freguesia e movimento associativo, bem<br />
como um investimento no alargamento da rede<br />
de equipamentos desportivos municipais e na<br />
variedade de modalidades colocadas à disposição<br />
dos munícipes.<br />
Em termos de projectos, destacam-se a Milha<br />
urbana Baía do Seixal, o Corta-Mato Cidade de<br />
amora – Cross Internacional, Jogos do Seixal ou<br />
a Seixalíada.<br />
Especialmente dirigidos aos alunos das escolas<br />
do 1.º ciclo, estão a ser desenvolvidos o Projecto<br />
de apoio à Educação Física e o Pl<strong>ano</strong> de Desen-<br />
volvimento do Xadrez.<br />
o Programa Continuar integra actividades físicas<br />
destinadas aos idosos do Concelho e o Projecto<br />
de Desporto para a População com Deficiência<br />
contribui para a melhoria da qualidade de vida e<br />
inclusão desta população.<br />
49
ARbeiROS e bARbeARiAS<br />
as barbearias e dos barbeiros no<br />
concelho de Santiago do Cacém,<br />
deu o mote ao primeiro número dos<br />
Cadernos do Património, editado<br />
em 2008, pelo Museu Municipal de Santiago do<br />
Cacém, intitulado «a Barbearia: a arte de barbear<br />
e pentear». Esta publicação resultou de uma<br />
pesquisa antropológica no terreno realizada por<br />
mim em 2004, tendo contado também com a colaboração<br />
de nuno Vilhena, na realização de algumas<br />
entrevistas a antigos barbeiros da região.<br />
Espaço dedicado à arte de barbear e pentear, ao<br />
encontro e convívio masculino, a barbearia representou<br />
até aos <strong>ano</strong>s 70, um ponto de referência<br />
importante, no concelho de Santiago do Cacém.<br />
Estes estabelecimentos encontram-se porém,<br />
à beira do fim, ameaçados pela idade avançada<br />
da maioria dos seus praticantes e à falta de transmissão<br />
do seu saber às gerações mais jovens.<br />
Este trabalho de natureza etnográfica caracteriza<br />
assim a figura do barbeiro, não só na região de<br />
Santiago do Cacém, mas do seu papel ao longo<br />
da história, resgata memórias e histórias de<br />
vida de inúmeros profissionais, salientando-se<br />
aspectos ligados à aprendizagem do ofício e ao<br />
exercício do mesmo, assim como descreve ambientes,<br />
espaços e sociabilidades.<br />
Como pude comprovar nesta região do Alentejo,<br />
estes espaços têm vindo a perder a sua caracterização,<br />
sendo hoje marcados pelos novos ritmos<br />
da modernidade, contrariamente à assiduidade<br />
semanal do passado, pois quer o rico, quer o<br />
pobre tinha de cortar “barba e cabelo” no barbeiro.<br />
Com a invenção das máquinas de barbear<br />
descartáveis, e com o corte da barba em casa, as<br />
50 O tema que vos apresento, sobre<br />
barbearias começaram a ver decair a<br />
sua clientela.<br />
Porém, as barbearias ainda<br />
existentes, sobretudo as localizadas<br />
nas freguesias mais rurais, como<br />
abela, ou alvalade do Sado, são autênticos museus<br />
vivos. a cadeira de barbeiro rotativa, da<br />
antiga fábrica antónio Pessoa é uma presença<br />
quase obrigatória em todas estas barbearias. Os<br />
espelhos enchem esses espaços, muitas vezes<br />
exíguos e acatitados. as paredes encontram-se<br />
forradas com calendários, galhardetes clubísticos<br />
ou fotografias antigas. nas bancadas expõem-se<br />
uma multiplicidade de objectos, alguns dos quais<br />
já sem uso, como navalhas, assentadores, limpanavalhas,<br />
máquinas manuais de cortar o cabelo,<br />
perfumes, loções, entre outros produtos, que<br />
servem apenas para decoração.<br />
Do ponto de vista social, estes lugares<br />
desempenharam desde sempre um papel crucial<br />
na sociabilidade masculina. Num passado recente,<br />
esse convívio era favorecido também pelo
© Ana Machado - Barbearia Ramos, Alvalade, Concelho de Santiago do Cacém<br />
horário alargado que estes estabelecimentos<br />
possuíam, sobretudo ao sábado quando se juntavam<br />
mais homens, funcionando, muitas vezes<br />
até à meia-noite, uma hora da manhã. alguns<br />
chegavam a ir para este estabelecimento apenas<br />
para passar o tempo, depois dos cafés fecharem.<br />
A barbearia era de tal modo conotada com um<br />
local onde se sabiam as notícias, que os clientes<br />
quando chegavam à barbearia costumavam perguntar<br />
ao barbeiro se haviam novidades.<br />
actualmente, nas poucas barbearias existentes,<br />
do concelho de Santiago do Cacém, ainda se<br />
vive um certo ambiente familiar e acolhedor,<br />
promovido pela figura do barbeiro, mas a sua<br />
função social tem vindo, gradualmente, a perder<br />
importância, tendo encerrado muitos destes espaços<br />
comerciais, consoante os seus proprietários<br />
ou empregados vão falecendo ou entrando na<br />
reforma.<br />
a par da sua actividade nos estabelecimentos<br />
comerciais, os barbeiros, até cerca dos <strong>ano</strong>s 40/<br />
50, do século XX, possuíam também alguma<br />
actividade ambulante, sobretudo em alturas de<br />
feiras, deslocando-se até elas para trabalhar. não<br />
precisavam de muito espaço, apenas o indispensável<br />
para desempenhar as suas funções, ocupando<br />
um lugar geralmente perto de uma taberna<br />
ou café, para se abastecerem de água. armavam<br />
uma barraquinha com uns p<strong>ano</strong>s, colocavam<br />
uma ou duas cadeiras e com a ferramenta que<br />
traziam dentro de uma mala ou de um caixote e<br />
começavam a trabalhar. Diz quem se lembra, que<br />
na feira da Abela costumava haver sempre um ou<br />
outro barbeiro a cortar barbas e cabelo.<br />
outra das vertentes curiosas do ofício de barbeiro<br />
foi em tempos recuados a de sangrador e<br />
dentista. Existem relatos dos finais do século XIX,<br />
inícios do século XX, que nos indicam este tipo de<br />
práticas entre os barbeiros, já não nos hospitais<br />
e com a projecção que noutro tempo tiveram,<br />
mas como técnica de recurso, em pequenas<br />
localidades, onde nem sempre o acesso a um<br />
médico era possível. nessas situações, o barbeiro<br />
continuou a desempenhar esse papel, sendo<br />
51
52<br />
© Ana Machado - Aspecto da Barbearia de<br />
António Cardita, em S. Domingos<br />
também uma espécie de curandeiro.<br />
no início do século XX, era vulgar encontrar<br />
os barbeiros Tira Dentes também em feiras.<br />
outros barbeiros, exibiam à porta dos seus estabelecimentos,<br />
tabuletas onde informavam que<br />
arrancavam dentes, fazendo-o dentro das lojas,<br />
ou tendas, onde trabalhavam. Nos primeiros<br />
<strong>ano</strong>s do século passado, essa função tornou-se<br />
exclusiva dos dentistas, que se especializaram<br />
nesse domínio, embora ainda haja recordação<br />
entre os barbeiros mais antigos do concelho de<br />
Santiago do Cacém, de colegas de profissão, que<br />
arrancaram dentes, sem as mínimas condições<br />
de higiéne e de segurança.<br />
Todo este imaginário popular em relação aos<br />
dotes terapêuticos do barbeiro, encontra-se<br />
actualmente esquecido, sobrevivendo apenas o<br />
ditado “a quem dói um dente, vai ao barbeiro”,<br />
citado por muitos dos barbeiros do concelho de<br />
Santiago do Cacém.<br />
actualmente, o ofício de barbeiro, tal como o<br />
conhecemos no passado, está em mudança,<br />
começando a existir em Santiago do Cacém<br />
algumas barbearias com estilo moderno,<br />
que só fazem praticamente cortes de cabelo,<br />
assemelhando-se a salões de cabeleireiro masculino.<br />
O património imaterial do saber do barbeiro, tal<br />
como as navalhas e os instrumentos de trabalho,<br />
vão-se convertendo gradualmente em objectos<br />
museológicos. Em pouco tempo, restará apenas<br />
a memória e as histórias que os mais velhos<br />
contarão sobre a convivência nas barbearias,<br />
as peripécias lá passadas, as “navalhadas” dos<br />
aprendizes, os dentes que se arrancavam de<br />
forma dolorosa. Mais um capítulo da história dos<br />
ofícios se escreve.
SAÚde<br />
Caril pode prevenir alzheimer<br />
Comer caril, uma ou duas vezes por semana, pode<br />
ajudar na prevenção de alzheimer ou demência,<br />
revela um investigador americ<strong>ano</strong>.<br />
Se você não é fã de comida asiática, a pesquisa<br />
agora revelada no Reino unido pode fazê-lo<br />
mudar de ideias: segundo o professor Murali Doraiswamy,<br />
da universidade de Duke na Carolina<br />
do norte, Eua, a curcumina - componente de<br />
uma raiz usada para fazer caril - consegue evitar<br />
que se espalhem as placas amilóides, depósitos<br />
de proteínas que degradam as ligações entre as<br />
células cerebrais.<br />
Este efeito poderia prevenir doenças como<br />
alzheimer ou demência, um benefício para os<br />
amantes de caril que incluam na sua alimentação<br />
esta mistura de especiarias entre duas a três vezes<br />
por semana. Segundo o site da BBC, os investigadores<br />
obtiveram resultados positivos nos testes<br />
que efectuaram com ratos, estando agora a estudar<br />
uma forma de aplicar a mesma terapêutica<br />
em pacientes de alzheimer, que poderão tirar<br />
proveito da curcumina.<br />
ainda assim, Doraiswamy sublinha que só uma<br />
dieta equilibrada, aliada ao exercício físico e à<br />
ingestão de caril conseguirá os efeitos de prevenção<br />
desejados. Está também a ser estudada<br />
a hipótese de desenvolver um comprimido com<br />
esta substância, a curcumina, para que não seja<br />
necessária a ingestão de caril em grandes quantidades.<br />
53
ORbA eM nOTíciAS... nA AMÉRicA<br />
bida em muitas fontes. Encontramo-las<br />
em arquivos de vária ordem,<br />
nacionais ou estrangeiros, municipais,<br />
paroquiais, na posse de particulares,<br />
até na tradição oral. um deles é a imprensa. E<br />
essa imprensa, mais uma vez, pode ser de âmbito<br />
diverso e por vezes imprevista. nesta curta prosa,<br />
mostramos algumas notícias saídas nos primeiros<br />
<strong>ano</strong>s 20 do século passado, no jornal alvorada<br />
Diária (depois Diário de notícias), de new Bedford,<br />
Massachussets, Estados unidos da américa,<br />
recentemente digitalizado com a comparticipação<br />
do Governo Regional dos açores e dos doadores<br />
luís Pedroso (accutronics) e Mark e Elisa Saab<br />
(advandec Polymers Incorporated). Encabeçado<br />
pelo título de “Único jornal diário de origem portuguesa<br />
publicado nos Estados unidos, com larga<br />
circulação” e concebido para a grande colónia de<br />
portugueses ali radicada (com imensos açori<strong>ano</strong>s<br />
e cabo-verdi<strong>ano</strong>s), recebia notícias de Portugal<br />
que depois divulgava, sendo na maior parte dos<br />
casos, para além da correspondência familiar, a<br />
única ponte que os nossos compatriotas dessa<br />
época estabeleciam com a pátria de origem.<br />
Caso de Borba… Tanto podemos ver retratado<br />
no Alvorada um assalto como um ataque de cães<br />
raivosos, passando por questões de melhoramentos<br />
locais (instalação da luz eléctrica), crimes de<br />
morte, situação das vindimas e do tempo atmosférico<br />
e até inventário de actividades profissionais<br />
e outras do burgo.<br />
aqui seguem então as notícias, transcritas na<br />
grafia original, com os muitos erros ortográficos<br />
e gralhas que nela surgem (que num caso ou<br />
54 A história dos locais, pode ser be-<br />
outro corrigimos ao lado, para<br />
melhor compreensão do texto):<br />
8.Junho.1920<br />
Foi assaltado e roubado, quando entrava<br />
para sua casa, ficadno gravemente ferido, o<br />
comerciante dsta vila, sr. João lopes Pereira. a autoridade<br />
administrativa tomou conta do caso.<br />
7.abril.1921<br />
a RaIVa<br />
Por um cão atacado de raiva, foram mordidos:<br />
alexandre de Jesus, Maria do Rosario, antonia<br />
Rosa Branco, Catarina d Rsari [do Rosário] e ana<br />
de Jesus Branco.<br />
11.abril.1921<br />
Brevemente o sr. Squiapa [Schiappa?] Monteiro<br />
fará uma conferencia sobre a apresentação dos<br />
trabalhos referentes á instalação da luz electrica<br />
nesta localidade.<br />
12.Maio.1921<br />
aGRESSÃo MoRTal<br />
um homem temido, assassinado á cacetada<br />
no logar de S. Gregório foi morto á cacetada<br />
José Siga. Era um homem temido por todos os<br />
haitantes do concelho, por isso era objeto de repulsa<br />
geral. Ignora-se quem sea [seja] o autor ou<br />
autores do assassínio.<br />
4.outubro.19<strong>22</strong><br />
ESTRanGulaDa PElo MaRIDo<br />
Na visinha freguesia de Orada, um individuo chamado<br />
Francisco Maria Baton, apoz uma breve al
tercação com sua mulher, Maria Joana Rebola, de<br />
54 <strong>ano</strong>s, estrangulou-a.<br />
Quando no dia seguinte uma patrulha da G.n.R.<br />
o foi prender, atirou-se aos soldados, atacando-os<br />
á dentada. Conduzido a Borba, confessou o crime<br />
ao administrador do concelho, declarando estar<br />
arrependido do ato praticado.<br />
o assassino, que tem 60 <strong>ano</strong>s, deu entrada na cadeia<br />
de Vila Viçosa.<br />
27.outubro.19<strong>22</strong><br />
Está no auge a faina das vindimas. a uva vende-se<br />
a 4$50 e 5$00 os 15 kilos e o vinho, que tem tido<br />
rande [grande] procura, a 15$00 os 20 litros.<br />
18.abril.1924<br />
O tempo tem corrido chuvoso e bastante frio, o<br />
que tem beneficiado a agricultura, apresentando<br />
as cearas um bonito aspecto.<br />
31.agosto.1926<br />
(…) Em Borba ha um advogado, dois medicos,<br />
uma parteira, um notario, tres professores officiaes,<br />
um solicitador e um veterenario.<br />
Possue uma Comissão de Assistencia publica,<br />
uma asociação de Socorros Mutuos (Monte Pio<br />
operario Borbense), uma Misericordia de que é<br />
provedor o sr. Joaquim José Nunes, duas sociedades<br />
de recreio (Recreativa e Philarmonica probidade).<br />
Tem um teatro, Municipal.<br />
Em Borba ha 4 hospedarias e tres estalagens.<br />
Tem duas grandes companhias: oleicola limitada,<br />
Marmores e Ceramica, dirigidas respectivamente<br />
por D. Sebastião de Heredia e alfredo lisboa de<br />
lima.<br />
Freguezias:<br />
orada (nossa Senhora) a 9 kilometros da villa.<br />
Escola.<br />
Santa Barbara, a 5 kilometros da villa.<br />
S. Thiago de Rio de Moinhos, a 7 kilometros da<br />
villa. Tem estação postal e escolas.<br />
Eis aqui, pois, algumas <strong>ano</strong>tações relacionadas<br />
com a história da mais nova cidade do Alentejo,<br />
curiosos e demonstrativos exemplos noticiosos<br />
de um tempo afinal não tão longínquo como<br />
isso e que muitos ainda guardam na memória<br />
– mesmo que em segunda ou terceira geração<br />
de conversas familiares. Em pitoresca prosa,<br />
vinda do outro lado do atlântico, embora na<br />
generalidade ali recebida pelos portugueses ou<br />
luso-descendentes um tanto requentada, devido<br />
às contingências comunicacionais da época…<br />
55
56<br />
POeSiA<br />
Criaturas do Sobral<br />
O Alentejo vibrou de novo<br />
Eu vi, no olhar do nosso povo<br />
Espanto, orgulho e emoção<br />
Preso a um pequeno ecrã<br />
Nesse dia de manhã<br />
Com gente da televisão<br />
lá no café da aldeia<br />
onde a notícia escasseia<br />
Foi uma surpresa e tanto<br />
uma pequena caixinha<br />
Em cima duma mesinha<br />
Prendia o povo de espanto<br />
Era um filme virtual<br />
Feito aqui em Portugal<br />
Que p’rá foi ensejo<br />
Mostrando o que há por aqui<br />
uma passarada sem fim<br />
Nos céus do nosso Alentejo<br />
Gato bravo atiradiço<br />
De olhar fixo qual feitiço<br />
Correndo veloz sem medo<br />
Mostrando a raça, na caça<br />
Duma elegância com graça<br />
Expondo p’ra nós seu segredo<br />
Nem se queria acreditar<br />
Tanta bicharada a saltar<br />
Por essa planície inteira<br />
o pastor dizia então<br />
Este, conheço não<br />
Mas esta, esta é a águia caçadeira<br />
o sobro árvore imponente<br />
Nasce ali à nossa frente<br />
Nos campos da solidão<br />
Tem nove <strong>ano</strong>s de pousio<br />
E volta de novo a ter brio<br />
na cortiça, cascarão<br />
Rosa Guerreiro Dias
Diz o homem resisto<br />
Mas a gostar de ver isto<br />
Por esta, esperava agora<br />
Ver aqui a nossa terra<br />
Que tanta beleza encerra<br />
Parecem coisas de fora<br />
Pelo cante dizer<br />
Seu nome, sem estar a ver<br />
Passarada que aqui se acoita<br />
Conheço cada passada<br />
Cada pedacinho de estrada<br />
Cada árvore cada moita<br />
Depois de tanto passarem<br />
E por esses campos penarem<br />
Chora o pastor de saudade<br />
lembrando as histórias contadas<br />
As reais e as inventadas<br />
Todas contêm verdade<br />
Cai a lágrima, molha o rosto<br />
Vem sereno o Sol - posto<br />
Aquietar o coração<br />
A estes homens de aldeia<br />
Que vão em busca da ceia<br />
Depois de tanta emoção<br />
Como é que numa pequena caixa<br />
Tanta coisa ali se encaixa<br />
É demais p’ró pensar<br />
Mudou tudo tanto, tanto<br />
Fica a gente meio tonto<br />
Se nos vêem a explicar<br />
Estas modernices de agora<br />
Feitas aqui e lá fora<br />
Até que são engraçadas<br />
Escarafuncham por todo o lado<br />
Mostram o presente e o passado<br />
Com máquinas sofisticadas<br />
Se pai erguesse a cabeça<br />
E visse tanta diferença<br />
Nesta nova geração<br />
Morria <br />
Nem sequer dava tempo à gente<br />
De lhe explicar a evolução<br />
Agradeço estes momentos<br />
Ao lembrar outros encantos<br />
Das sofridas mocidades<br />
Tinham muito mais pureza<br />
Mais apego à natureza<br />
E deixaram tantas saudades<br />
Ficamos de novo à espera<br />
Seja Verão, ou Primavera<br />
Há por aqui muitas belezas<br />
Raras pedras, flores raras<br />
Há papoilas e searas<br />
Nestas terras Portuguesas<br />
Voltem sempre meus amigos<br />
Mostrem aos novos e aos antigos<br />
Memórias da nossa gente<br />
Do povo a que pertencemos<br />
Será bom, nunca esquecermos<br />
Passado sempre presente<br />
57
58<br />
POeSiA<br />
Espreitando a igualdade<br />
Homem, acorda do teu sonho<br />
Porque esta mulher é real<br />
Não levantes tanta poeira<br />
Deixa-me ver o meu caminho<br />
Porque te cansas a erguer-me muros?<br />
Para eu não conseguir subir?<br />
E porque me pões tantas pedras no caminho?<br />
Para eu tropeçar?<br />
Mas repara, eu posso sempre contorná-los<br />
Mesmo que leve mais tempo<br />
Mesmo que o vento me faça retroceder<br />
Eu rompo através dele, eu rasgo-o<br />
Ceifa - Pintura de Maria da Luz<br />
Maria da Luz<br />
Eu bracejo, eu furo-o<br />
Mas avanço<br />
O que importa é chegar<br />
Cuidado, eu não te quero ferir, nem derrubar<br />
Eu preferia-te ao meu lado<br />
Vem!<br />
Não sejas tolo, não me empurres mais<br />
Repara que o teu travar<br />
Faz-me mais forte<br />
Cria-me mais músculo, mais calo<br />
até já enfrento melhor a dor<br />
Dizes que tenho rugas, é verdade
Rugas. Mas não,<br />
não as escondo mais de ti<br />
São marcas da minha vitória<br />
orgulho-me delas<br />
Por isso não me olhes com desdém<br />
Estão no meu rosto para não me esquecer<br />
Vá lá, acompanha-me<br />
Dá-me a mão<br />
Porque eu sei o caminho para chegar<br />
E chegarei, ou contigo, ou sem ti<br />
Eu chegarei<br />
É verdade que posso já chegar<br />
Sem a beleza em que me vias no teu sonho<br />
Mas uma coisa te digo:<br />
Chegarei ainda como mulher.<br />
A história da tartaruga e da lebre<br />
nada te ensinou?<br />
Castelo de Beja - Pintura de Maria da Luz<br />
59
60<br />
cULTURA<br />
Camilo Mortágua<br />
“Andanças para a liberdade” - volume I<br />
Partindo de uma aldeia portuguesa da Beira<br />
litoral, estas “andanças” atravessarão mares<br />
e continentes, em viagens de ida e volta. nos<br />
dois volumes desta obra dá-se conta, nomeadamente:<br />
do derrube da ditadura venezuelana e<br />
das solidariedades com a revolução cubana; da<br />
concepção, preparação e execução do assalto<br />
ao Santa Maria; da ascensão e queda de Jânio<br />
Quadros e da implantação da ditadura militar no<br />
Brasil; do assalto ao quartel de Beja e da campanha<br />
de Humberto Delgado para a Presidência<br />
da República; de certos «mistérios» relacionados<br />
com os primórdios da guerra colonial; da preparação<br />
e execução da operação VaGÓ (desvio<br />
do avião da TaP a partir de Marrocos); das misérias<br />
e dos desânimos de quem não se conformava,<br />
e das traições entre militantes; da oposição do<br />
PCP à luta armada; da preparação e execução do<br />
José Rabaça Gaspar<br />
assalto ao Banco da Figueira da Foz e do subsequente<br />
aparecimento da luaR; dos percursos de<br />
muitos dos nossos “líderes” de hoje nesses tempos<br />
de Medo e Resistência…<br />
Estas «andanças» de Camilo Mortágua, para<br />
além de nos oferecerem uma visão global dos<br />
tempos da Ditadura Salazarista, remetem-nos<br />
para três valências (3Ms) que no contexto da obra<br />
assumem especial relevância: 1) a Metáfora das<br />
raízes: não há cultura válida sem ligação às origens;<br />
2) a Mestria da arte de contar: pelo expres-
Notas na contra capa<br />
Através da memória do autor ficamos a conhecer andanças de desespero e esperança, e algumas das estórias dos<br />
combates contra a ditadura, num inesperado contributo para a história da luta dos portugueses pela liberdade e<br />
pela democracia.<br />
sivo visualismo que se traduz numa escrita feita<br />
de oralidade; 3) o Mito das utopias: daquelas que<br />
afinal se tornam possíveis e realizáveis…<br />
Nota extra – Camilo Mortágua, estabeleceu a sua<br />
residência em alvito, alentejo, desde os <strong>ano</strong>s<br />
oitenta. É no Alentejo que, depois de uma vida<br />
de aventuras que nos vai contar no anunciado<br />
segundo e provavelmente terceiro volume, desde<br />
o assalto ao Santa Maria, onde termina este primeiro,<br />
passando pelo desvio do avião da TAP, o<br />
assalto ao banco da Figueira da Foz e o trabalho<br />
desenvolvido para o derrube da ditadura, integrado<br />
na luaR…, nos há-de dar conta do seu imenso<br />
trabalho em dezenas de cooperativas e trabalho<br />
cultural, que assenta especialmente no empenho<br />
dos cidadãos no Desenvolvimento local da sua<br />
terra… da sua região… do seu país… do mundo…<br />
não será por acaso que, vivendo no alentejo<br />
profundo, é, pela sua experiência e dinamismo o<br />
Presidente da associação das universidades Rurais<br />
Europeias (aPuRE). (Pode ver mais em http://<br />
www.ure-apure.org/Base-PT/Base-PT.htm e tam-<br />
bém http://camilomortagua.no.sapo.pt/ e ainda em<br />
www.joraga.net/camilo)<br />
61
62<br />
ARTe<br />
João António Da Costa Paiva<br />
nascido a 23 de Janeiro de 1940 no lugar da Fonte-<br />
Santa – Caparica, cresceu no seio de uma família<br />
de fracos recursos encontrando em seu pai, sapateiro<br />
de profissão, a figura de um homem inteligente<br />
e de grande experiência de vida.<br />
Costuma dizer a propósito: “… sou filho de sapateiro,<br />
mas toda a vida andei descalço!..”<br />
Como aluno, cedo deixou a escola, ao ser expulso<br />
quando frequentava a 3ª classe, por ser notória a<br />
sua irreverência e contestação a tudo o que lhe<br />
parecia injusto. Acabou por terminar a instrução<br />
primária, embora tardiamente, na escola da<br />
azenha. no entanto, o contacto com o ensino e<br />
a influência que sofreu dos seus familiares, todos<br />
eles com grande vocação artística, permitiu-lhe<br />
a descoberta da sua própria vocação. o<br />
desenho, a sua grande especialidade, serviu também<br />
para encobrir trabalhos dos seus colegas que<br />
generosamente a troco de um tostão ele (João),<br />
executava mentindo aos professores para<br />
beneficiar aqueles que menos jeito tinham para<br />
concluir os respectivos desenhos. É obvio que<br />
isso lhe custou imensas vezes várias reguadas e<br />
grandes castigos.<br />
aos 14 <strong>ano</strong>s iniciou a aprendizagem de outra arte,<br />
que lhe permitiu sobreviver ao longo de 30 <strong>ano</strong>s.<br />
Durante todo esse tempo assumiu a profissão<br />
de cabeleireiro, criando novos penteados para<br />
as caras que então desenhava, alimentando a<br />
mágoa de não poder aprofundar o estudo das
Belas-artes.<br />
ao fim de 30 <strong>ano</strong>s e cansado de cabelos, entra<br />
para a Câmara Municipal de almada. Passa então<br />
a deixar a sua marca nos cartazes mais bonitos do<br />
concelho.<br />
a par da sua vida profissional, demonstrou também<br />
estar alerta para as transformações sociais<br />
do país, integrando a luta antifascista desde 1968<br />
sempre em prol do bem-estar comum.<br />
não existindo a categoria de pintor artístico nos<br />
quadros da C.M.a., sujeitou-se então a ganhar<br />
pouco mais que o ordenado mínimo nacional,<br />
desempenhando no entanto, as funções com<br />
brio, aplicação e entrega total ao que lhe era solicitado,<br />
mas como poeta que também é, lá vai<br />
resistindo a todas as agrugras, transmitindo para<br />
a pintura e para a poesia todo o seu sentimento.<br />
a alma alentejana orgulha-se de apresentar<br />
este artista e amigo, filho deste concelho, que<br />
connosco tem colaborado desinteressadamente<br />
e com mérito, cuja arte permanece encoberta<br />
para a maioria de todos nós.<br />
63
64<br />
PiTeÚ À SOMbRA dO cHAPARRO<br />
Sopa de Beldroegas<br />
na década de 70, motivos profissionais levaram<br />
a família Monteiro, da Figueira da Foz para Évora.<br />
uma nova cultura gastronómica iria ser experimentada.<br />
assim, não resistimos a contar uma<br />
pequena estória que se passou com estes amigos.<br />
Numa das primeiras idas às compras, na praça<br />
(mercado), uma vendedeira sugeriu-lhes a compra<br />
dum molho de beldroegas e recebe como<br />
resposta: “na minha terra nem os burros comem<br />
isso”. Passado algum tempo, em casa de amigos<br />
é-lhes servido uma sopa de que gostaram muito.<br />
Era uma sopa de beldroegas! Ainda hoje se fala<br />
neste episódio, pois foi o início da “entrada” destas<br />
pessoas nos sabores da comida alentejana,<br />
de que são, ainda hoje, militantes entusiastas.<br />
assim, trazemos hoje às páginas da nossa Revista<br />
uma das muitas receitas de Sopa de Beldroegas,<br />
retirada do livro os Comeres dos Ganhões, de<br />
Anibal Falcato Alves.<br />
Ingredientes:<br />
1 molho de beldroegas<br />
2 queijos alentej<strong>ano</strong>s de meia cura<br />
4 cabeças de alho<br />
½ dl de azeite<br />
Pão alentej<strong>ano</strong><br />
4 ovos<br />
Colorau e sal q.b.<br />
José Moutela<br />
Preparação:<br />
Partem-se as beldroegas em bocados, até onde<br />
os caules oferecem resistência. Tiram-se as cascas<br />
exteriores dos alhos, mantendo as cabeças<br />
inteiras. aquece-se o azeite e refogam-se as cabeças<br />
dos alhos, mexendo para não queimar.<br />
Quando estiverem refogadas, juntam-se os queijos<br />
partidos em quartos e as beldroegas. Deixa-se<br />
refogar ligeiramente e junta-se o colorau e água<br />
suficiente para o caldo. Quando estiverem cozidas,<br />
rectifica-se o sal e verte-se o caldo numa terrina,<br />
sobre o pão cortado ás fatias. os queijos e os<br />
alhos são servidos numa travessa à parte. Também<br />
há quem, para enriquecer este prato, adicione<br />
ovos escalfados.
Migas Doces<br />
Em Moreanes (Mértola) quando terminado o<br />
almoço ( uma fantástica sopa de grão) pedimos<br />
a sobremesa, o empregado disparou: querem<br />
umas migas doces? não hesitámos, já que no<br />
alentejo quando nos “aventam” um petisco, ou<br />
mesmo um doce, é sempre uma boa sugestão.<br />
Espantou-nos o facto de ter vindo para a mesa<br />
um só dose e duas colheres. Justificação: comam<br />
esse que deve chegar... Tudo tão linear e tão simples,<br />
como é a vida quando vivida com amor. O<br />
resto é conversa. Que no final também a houve,<br />
na companhia de excelente café e respectivo digestivo.<br />
agora vem a receita:<br />
Ingredientes:<br />
250gr de açúcar<br />
Miolo de 1/2 pão<br />
6 gemas<br />
1/2 copo de água<br />
dOce PecAdO<br />
canela<br />
José Moutela<br />
Preparação:<br />
leve ao lume o açúcar com a água.<br />
Quando estiver a ferver bem misture o miolo de<br />
pão e deixe ferver até engrossar e ficar uma papa<br />
espessa. Retire do lume e deixe arrefecer.<br />
Bata as gemas e misture no pão.<br />
leve de novo ao lume mexendo sempre até cozer<br />
as gemas.<br />
Deite numa travessa e polvilhe com canela.<br />
NOTA: Doce excelente para aproveitar restos de<br />
pão. Pode enriquecer esta sobremesa juntando<br />
noz ou amêndoa ralada.<br />
65
66<br />
O ALenTejO É MAiOR qUe O ALenTejO<br />
No rescaldo do<br />
14º Congresso Alentejo XXI<br />
Uma sugestão/desafio para o Alentejo<br />
Sou um sobrevivente do 1º Congresso sobre o<br />
alentejo, Évora, outubro de 1985.<br />
a proposta da criação de um IaC/D (Instituto<br />
alentej<strong>ano</strong> de Cultura / Desenvolvimento para<br />
investigar, recolher, catalogar, estudar, divulgar<br />
e promover os Valores Culturais do Alentejo,<br />
parece ter sido bem aceite e ficou registado tanto<br />
nas actas como na síntese final! a ideia foi posteriormente<br />
objecto de várias reuniões e apareceu<br />
em várias publicações. Vinte e três <strong>ano</strong>s depois,<br />
nada de concreto e visível, mas muita gente a trabalhar<br />
no património.<br />
Inscrevi-me para este 14º Congresso. Fui chamado<br />
para intervir,<br />
no sábado, dia em<br />
que tinha avisado não<br />
poder estar presente<br />
e, no Domingo, já não<br />
havia espaço para as<br />
inúmeras intervenções!<br />
aí ficam:<br />
Em 3 pontos, 3 ideias:<br />
José Rabaça Gaspar<br />
1º - o alEnTEJo é maior que o alEnTEJo.<br />
aliás, este simples nome alEnTEJo envolve uma<br />
série de equívocos e contradições. o noME<br />
alEnTEJo, basta uma simples análise linguística,<br />
nem sequer é propriedade de alEnTEJ<strong>ano</strong>S!<br />
Nenhum Alentej<strong>ano</strong>, mesmo analfabeto ou assim<br />
considerado, diria, na solidão do seu alEn-<br />
TEJo: Eu (nÓS) estou (estamos) aQuI, alÉM do<br />
Tejo!!!<br />
além disso e talvez como consequência deste<br />
nome imposto com laivos de colonização, os<br />
pretensos “colonizadores” delimitaram-lhe um<br />
território mais ou menos indefinido, tentando<br />
espartilhá-lo em sub-regiões: primeiro em duas,<br />
Baixo e alto alentejo, depois, como Baixo alentejo<br />
ou Sul (Beja), alentejo litoral (Sines), alentejo<br />
Central (Évora), Norte Alentej<strong>ano</strong> (Portalegre).<br />
Apesar de tudo, olhando o mapa de Portugal,<br />
a mancha do alentejo impõe um certo respeito.<br />
Cerca de<br />
um terço do<br />
território<br />
Nacional.<br />
Considerado<br />
durante séculos<br />
o celeiro do<br />
País, foi, contudo,<br />
considerada<br />
como região<br />
deprimida,<br />
sujeita ao<br />
abandono, à<br />
exploração e à<br />
desertificação.<br />
Pouco mais.
2º - o alEnTEJo MIGRanTE e EMIGRanTE<br />
Certamente, por causa ou como consequência<br />
disto mesmo, muitos alentej<strong>ano</strong>s, um dia (ver gráficos<br />
de migração para Grande lisboa e Margem<br />
Sul, <strong>ano</strong>s 1930 e 1960) (ver ainda EMIGRaÇÃo<br />
para o CanaDÁ e EuRoPa) viram-se obrigados a<br />
partir, por constatarem o que o nome alÉM TEJo<br />
lhes indica – o alentejo, como o próprio nome<br />
diz: não lhes pertencia. apesar deste impulso, as<br />
comunidades de forte migração de Alentej<strong>ano</strong>s,<br />
observáveis, (ver por ex a zona de Grande lisboa e<br />
Margem Sul) matêm os fortes sinais da sua identidade<br />
na preservação dos seus usos costumes,<br />
desde a alimentação, convívio, cultura, que manifestamente<br />
se torna mais visível (ou audível) no<br />
CanTE e no número de Grupos Corais actuantes<br />
nas zonas de migrantes (Ver gráfico com dados)<br />
que, quando actuam, permitem muitas vezes a<br />
manifestação de outros Valores Culturais, como<br />
os Poetas Populares, a Comida, além dos seus<br />
produtos de referência: o Pão, o azeite e as azeitonas<br />
(pisadas, retalhadas ou curadas), o Vinho<br />
e os saborosos enchidos!!!. Quando for possível<br />
fazer um recenceamento real da presença de<br />
alentej<strong>ano</strong>s em empresas, colectividades, associações<br />
e até autarquias nestas zonas, poderemos<br />
tomar consciência da re/conquista do seu espaço<br />
próprio. Conviria também alargar o estudo às<br />
simples manifestações e festas familiares em que<br />
um casamento, um baptizado, um funeral se tornam<br />
ocasião de encontros de grande número de<br />
Alentej<strong>ano</strong>s.<br />
Além das visitas regulares e permanentes à sua<br />
terra natal, estamos possivelmente na HORA,<br />
apesar da estabilidade e integração conseguida e<br />
adaptação às novas comunidades, de reconhecer<br />
que, a maioria dos alentej<strong>ano</strong>s Migrantes e Emigantes,<br />
uma vez refeitos e recuperados no essencial,<br />
estão em condições de voltarem os olhos para<br />
a sua terra natal de uma forma mais interventiva<br />
e tomarem consciência, que a distanciação lhes<br />
proporcionou, de que, afinal, a TERRa alEnTEJo<br />
é sua, são eles os donos do seu território, que<br />
continua a ser cobiçado por muitos, que é seu<br />
o Património natural e Construído e são eles,<br />
os alEnTEJ<strong>ano</strong>S (apesar do nome) os respon-<br />
sáveis pelo seu desenvolvimento sustentável<br />
e sustentado. afinal, como os alentej<strong>ano</strong>s que<br />
permaneceram no Alentejo e procuraram dar<br />
uma vida melhor aos seus filhos e descendentes,<br />
também estes abriram os horizontes e a maioria<br />
permitiu que os seus filhos tirassem um curso<br />
67
sua vida, pode ser útil à região donde eles ou seus<br />
pais e avós são oriundos. (Ver exemplo dos jovens<br />
“alentejo2015”-http://www.alentejo2015.com/)<br />
3º - Como utilizar tudo isto para transformar o<br />
Alentejo dos Alentej<strong>ano</strong>s, de região deprimida,<br />
desprezada e tantas vezes ignorada ou abandonada,<br />
em motor do seu Desenvolvimento<br />
do PaÍS? (Ver palavras do ilustrePresidente da<br />
CM Beja e do 14º Congresso em diversas intervenções<br />
– ver http://www.otic.uevora.pt/index.<br />
php/noticias_e_informacoes/eventos/universidade_empresa/141_congresso_alentejo_xxi).<br />
a InVEnTaRIaÇÃo - REColHa – CaTaloGaÇÃo<br />
– ESTuDo – DIVulGaÇÃo – PRoMoÇÃo dos<br />
ValoRES CulTuRaIS que tornam visíveis os sinais<br />
marcantes da sua IDEnTIDaDE.<br />
Para que isto aconteça de modo sustentado e<br />
sustentável e de um modo verdadeiro e autêntico,<br />
este regresso às origens, tem de ser (apesar<br />
e por causa da globalização) devidamente<br />
alicerçado nas suas raízes. “não esperemos que<br />
de fora nos venham trazer o que nos compete e<br />
somos capazes de fazer.” Presidente do CCDRa no<br />
13º congresso de Montemor. “São os alentej<strong>ano</strong>s<br />
os obreiros do rumo do futuro e do desenvolvimento”<br />
a. Biscainho, vice Pr da CM Portalegre no<br />
13º congresso.<br />
Desafio a todos os Centros de Saber (Ver intervenção<br />
do Reitor da universidade de Évora no<br />
13º Congresso, 2004, Montemor): universidade<br />
de Évora, Instituto Politécnico de Beja, Instituto<br />
Politécnico de Portalegre, com todas as Escolas<br />
de todos os níveis em ligação com os guardiães e<br />
criadores de Cultura Popular e Tradicional. Ter em<br />
conta ainda as universidades Séniores que estão<br />
68 superior que, além de servir para governarem a<br />
a aparecer por todo o lado e os Centros de Saber<br />
nas zonas com grande presença de alentej<strong>ano</strong>s<br />
Migrantes, como o Instituro Piaget em almada, a<br />
universidade aberta prevista para ter a sua sede<br />
no Seixal; e as universidades Séniores uSalMa<br />
(almada) e unISSEIXal (Seixal), Barreiro…<br />
Talvez apoiados no trabalho que tem vindo a ser<br />
desenvolvido pelo CPAE (Centro do Património<br />
da alta Estrmadura -leiria, recomendado como<br />
exemplo pelo Professor José Mattoso, ver Expresso,<br />
1996.04.13) Criar um IaC/D, animalEn-<br />
TEJo, e ou alEnTEJoemredeCulTuRa ou o que<br />
os representantes destes Centros do SABER em<br />
conjunto com as Instituições e associações do<br />
Património locais vierem a decidir.<br />
É preciso que este contributo reflita a evolução<br />
e as novas descobertas, que supõem a inventariação,<br />
recolha, estudo e valorização de todos<br />
os sinais válidos da sua Identidade marcante:<br />
a qualidade da cultura das sua gentes, mesmo<br />
dos considerados analfabetos (vide MPatrício,<br />
Reitor da uniÉvora, 13º Congr. que fala dos «poetas<br />
analfabetos que não erram um verso»!!!)…<br />
verificada e estudada e sancionada no seu valor<br />
autêntico em ligação com os Centros do Saber<br />
– (univ. Évora, Politécnicos de Portalegre e Beja)<br />
(ver mais universidades Séniores emergentes<br />
e Fundações… sugestão de Manuel Malheiros,<br />
Pres. as. Geral, Casa do alentejo…) (ver ainda, Escolas<br />
desde o Superior ao Básico, associações de<br />
Defesa do Património, Entidades, associações e<br />
Individualidades empenhadas no estudo e defesa<br />
dos valores culturais do Alentejo) que são e seriam<br />
uma fonte permanente de InVEnTaRIaÇÃo,<br />
REColHa, ESTuDo e DIVulGaÇÃo dos Valores<br />
da Cultura (Tradicional, Popular e Erudita) e sinais<br />
de uma marcante e visível Identidade alentejana.<br />
Enfim conseguir a desejável interligação entre os
“guardiães” e “criadores / fazedores” das mais<br />
diversas manifestações de Cultura (tradições,<br />
alimentação, poesia, contos, lendas, anedotas,<br />
cante…) e os especialistas das diversas áreas do<br />
saber que entretanto nasceram e se formaram<br />
nos Centros do Saber no e fora do Alentejo.<br />
ConCluSÃo - assim, com um IaC/D, animalEn-<br />
TEJO ou outro nome, estariam criadas as condições<br />
para a um alEnTEJoemredeCulTuRa<br />
ou outro nome, coordenado e validado pelos<br />
considerados responsáveis e capazes, conseguir<br />
aquilo que todos desejamos: ao mesmo tempo<br />
que estimularia e desenvolveria as capacidades<br />
dos criadores, lhes permitiria uma actuação e<br />
mostra e promoção regular e gratifcante das suas<br />
criações – no alentejo territorial… no alentejo<br />
dos alentej<strong>ano</strong>s migrantes… e num intercâmbio<br />
saudável com as outras culturas e Povos…<br />
a SEDE ou sedes naturais que já são pólos<br />
de aglutinação, empenho e encontro de<br />
numerosos alentej<strong>ano</strong>s, sem distinção de subregiões,<br />
propomos, à falta de outra ideia melhor,<br />
a CaSa Do alEnTEJo em lisboa em interligação<br />
com a alMa alEnTEJana em almada e Seixal.<br />
Com um protocolo com as 47 Câmaras de todo<br />
o alentejo e as autarquias das zonas de acolhimento,<br />
Grande lisboa e Margem Sul tendo como<br />
associados tanto Pessoas, Entidades, associações<br />
particulares como também as Entidades Públicas<br />
que já trabalham e seja preciso estimular e /ou<br />
apoiar ou as que se venham a criar onde se mostrar<br />
necessário,<br />
teríamos criado, na<br />
PRÁTICa a Região<br />
alEnTEJo.<br />
Em vez de<br />
p e r d e r -<br />
mos tempo e<br />
energias numa cíni-<br />
ca e desgastante luta pelo referendo ou decisão<br />
milagrosa e exterior, MÃoS À oBRa. “nós somos<br />
os responsáveis e temos de ser o motor do nosso<br />
próprio Desenvolvimento… e, olhando os nosos<br />
Valores e Dimensão, seremos, sem dúvida, um<br />
importante motor do Desnvolvimento deste País<br />
que não sai de uma permanente crise!!!” Quando<br />
os “os Grandes Senhores” decidirem, enfim,<br />
nós já teremos a nossa Região empenhada num<br />
Desenvolvimento sustentado.<br />
Temos já em carteira o esboço dos documentos,<br />
como Fichas de Inscrição, rascunho de Protocolos<br />
a estabelecer com Entidades e associações, e<br />
um esboço de um Regulamento Interno ou projecto<br />
de Estatutos para serem estudados, discutidos<br />
até uma forma definitiva por uma Comissão<br />
Instaladora a definir, para serem enviados ao<br />
maior número possível de possíveis aderentes.<br />
Documentos em estudo: http://www.joraga.net/<br />
ealentejo/<br />
Já agora, se me é permitida mais uma sugestão<br />
atrevida, propunha que este projecto pudesse<br />
ser uma tarefa do Secretariado do Congresso –<br />
entre – Congressos, sem que seja redutora, mas<br />
devido à delicadeza e ao número de contactos<br />
a fazer, à definição do faseamento da calendarização<br />
e à logística e conhecimentos sobre o<br />
Alentejo que esta tarefa implica, para que possa<br />
vir a ter o êxito e a eficácia desejada com resultados<br />
gratificantes.<br />
69
70<br />
nOTíciAS dO ALenTejO<br />
V Festival Islâmico em<br />
“Martulah”.<br />
Em Maio, realizouse<br />
em Mértola,<br />
antiga capital do<br />
reino Islâmico,<br />
nos séculos XI e<br />
XII, o V Festival Islâmico.<br />
Composto<br />
por um mercadofeira<br />
“souk” que<br />
se estende ao<br />
longo das ruas de<br />
Mértola com a<br />
venda de produtos<br />
marcantes do<br />
artesanato árabe,<br />
roupas e ervas, em<br />
especial chás. as<br />
ruas transformamse<br />
em verdadeiros<br />
bazares, onde a música de raíz árabe misturada<br />
com o cante alentej<strong>ano</strong> e os sons da andaluzia,<br />
a par dos cheiros e sabores da gastronomia, os<br />
trajes de seda com cores brilhantes, carregados<br />
de lantejoulas e de sensualidade, trazendo à<br />
memória de todos as vivências de um passado<br />
rico de história e de tradição, e no qual está presente,<br />
também muita da nossa história e raízes<br />
culturais.<br />
o Município de Mértola está de parabéns por<br />
este magnífico evento que propicia a toda a<br />
população e aos muitos milhares de visitantes<br />
que, ao que ouvimos, já têm programada a próxima<br />
ida a Mértola - no VI Festival.<br />
Diário do Alentejo<br />
não vai ser privatizado<br />
o presidente da associação de municípios, proprietária<br />
do jornal «Diário do alentejo» mostrou-se<br />
satisfeito com o veto do Presidente da República<br />
à lei do «pluralismo» e da não concentração dos<br />
meios de comunicação social. «Estamos plenamente<br />
satisfeitos, porque isto não é o “quero<br />
posso e mando”, que é aquilo que este governo<br />
acha» , afirmou à agencia lusa o presidente do<br />
conselho directivo da associação de Municípios<br />
do Baixo alentejo e alentejo litoral (ambaal),<br />
João Rocha. Cavaco Silva vetou no dia 20 pela<br />
segunda vez, a lei do «pluralismo» e da não concentração<br />
dos meios de comunicação social, depois<br />
de ter devolvido o diploma pela primeira vez<br />
ao Parlamento a 2 de Março.Em nota divulgada<br />
no site da Presidência da República, o Chefe de<br />
Estado justifica a nova devolução do diploma à<br />
assembleia da República por considerar que as alterações<br />
introduzidas pelo Parlamento mantêm,<br />
«no essencial, inalteradas quer a substância do<br />
anterior diploma, quer as condições políticas de<br />
aprovação do mesmo».A entrada em vigor da lei<br />
implicaria que o Governo Regional da Madeira<br />
privatizasse o «Jornal da Madeira» e a ambaal o<br />
«Diário do alentejo». afirmando-se desfavorável<br />
à lei do Governo, João Rocha advertiu tratarse<br />
de um diploma «claramente dirigido a dois<br />
órgãos de comunicação». «Já no primeiro veto<br />
achámos bem que o [Presidente da República]<br />
o tivesse feito, porque é uma lei que era dirigida<br />
ao “Diário do alentejo” e ao “Jornal da Madeira”,<br />
disse. «no fundo, era o Governo a querer silenciar<br />
aquilo que não está com o Governo», acusou<br />
considerando que a lei «não tem pés nem cabeça<br />
e nem é democrática».<br />
In Alentejo Popular de 28/05/09
Chainho homenageado<br />
Santiago do Cacém dá nome<br />
do artista a auditório<br />
«Temos finalmente<br />
um novo equipamento<br />
para servir a população<br />
do Município,<br />
as crianças, os jovens,<br />
a boa idade, toda a<br />
população, um equipamento<br />
ao serviço da<br />
cultura». Foram palavras<br />
do Presidente da<br />
Câmara Municipal de<br />
Santiago do Cacém, Vitor Proença, no Sábado<br />
passado, na inauguração do auditório Municipal<br />
António Chainho. O equipamento custou mais de<br />
um milhão de euros e tem capacidade para 242<br />
pessoas. Para além da sala de espectáculos, o<br />
edifício conta ainda na recepção com uma zona<br />
para bar/cafetaria e outra dedicada a informações e<br />
bilheteira. Vitor Proença, acompanhado pelo<br />
Presidente da assembleia Municipal, Sérgio Bento,<br />
por vereadores da Câmara e Presidentes de<br />
Juntas de Freguesia, homenageou o guitarrista,<br />
natural de S.Francisco da Serra, uma das freguesias<br />
de Santiago do Cacém. Reconhecido, antónio<br />
Chainho, acompanhado pela família, considerou<br />
que o seu nome no auditório municipal representa<br />
“o topo de tudo o que fiz até hoje”. o guitarrista<br />
manifestou no desejo de o equipamento<br />
contribuir a divulgação da música e de outras<br />
manifestações de cultura junto dos mais jovens.<br />
um dos momentos altos da noite foi o concerto<br />
de inauguração do auditório municipal. António<br />
Chainho, acompanhado à viola por Fernando<br />
alvim e pelas cantoras Teresa Salgueiro e Isabel<br />
de noronha, protagonizou um espectáculo que<br />
ficará na memória da todos os presentes.<br />
In Alentejo Popular de 28/05/09<br />
Alentejo Solidário<br />
as Câmaras Municipais de Beja e de Vidigueira<br />
ajudaram o campo de refugiados de Dakhla, com<br />
um donativo de dois mil euros. o objectivo é a<br />
construção de uma escola.<br />
As câmaras municipais de Beja e de Vidigueira<br />
entregaram um cheque de dois mil euros ao<br />
campo de refugiados de Dakhla, situado no Sul da<br />
argélia, com o intuito de ser construída uma escola,<br />
para crianças saharauís.<br />
o presidente da Câmara Municipal de Beja,<br />
Francisco Santos, classificou os saharauís como<br />
um “povo que luta pela sua independência”. E<br />
afirmou:”a decisão de entregar o donativo foi<br />
unânime”.<br />
Salem lebhrir, governador do campo de refugiados<br />
de Dakhla, agradeceu o gesto das autarquias,<br />
e considerou que “a presença das pessoas é mais<br />
importante que o apoio material, sobretudo no<br />
que diz respeito à ajuda política e moral”.<br />
o responsável saharauí contou que o seu povo<br />
“vive há 34 <strong>ano</strong>s em campos de refugiados” e<br />
acusou Espanha, antigo colonizador, “ de ter<br />
abandonado os seus compromissos, em relação<br />
a um referendo sobre a independência, tendo<br />
entregado o país a Marrocos e á Mauritânia”. na<br />
verdade, passados três <strong>ano</strong>s a Mauritânia retirouse<br />
do território e reconheceu a soberania do<br />
Sahara ocidental. no entanto Marrocos intensificou<br />
a sua presença e construiu um muro<br />
com quase dois mil kilómetros, com minas<br />
antipessoais. Em cada <strong>10</strong> kilómetros existem<br />
postos de controle marroquinos.<br />
In Alentejo Popular de 28/05/09<br />
71
72<br />
CEBAL convida investigador de<br />
Universidade dos EUA.<br />
Interacção entre comunidade científica e<br />
população<br />
Angus Kingon, professor<br />
universitário americ<strong>ano</strong>,<br />
esteve em Beja na<br />
passada segunda-feira,<br />
para participar na iniciativa<br />
”um dia com…”,<br />
organizado pelo Centro<br />
de Biotecnologia agrícola<br />
e agro-alimentar<br />
do Baixo alentejo (Cebal).<br />
“Este evento pretende trazer à região<br />
especialistas em áreas distintas”, disse Sónia<br />
Gonçalves, investigadora do Cebal. aqui os<br />
oradores são convidados a partilhar as suas<br />
experiências profissionais com a plateia e o<br />
objectivo é realizar estas acções de dois em dois<br />
meses.<br />
a pretensão, segundo a investigadora “é fomentar<br />
a interacção entre a comunidade científica e<br />
a população, mas, por outro lado, permitir que os<br />
alunos do IPB troquem ideias com especialistas<br />
de determinadas áreas”. Sónia Gonçalves mencionou<br />
igualmente “investigadores e associações<br />
empresariais” como público-alvo desta iniciativa.<br />
Angus Kingon, o protagonista da segunda<br />
edição que se intitulou “Transferência de Tecnologia<br />
– Criação de Empresas Inovadoras de Base<br />
Tecnológica”, é professor de Engenharia de Materiais<br />
de Empreendedorismo nas universidades<br />
de north Carolina State e Brown. Sónia Gonçalves<br />
destacou “a importância da presença deste espe-<br />
cialista” e salientou “os concelhos que foram dados,<br />
durante a sua intervenção, nomeadamente<br />
no que diz respeito às decisões que as instituições<br />
devem de tomar sobre o tipo de investigação que<br />
realizam para criar valor”.<br />
In Alentejo Popular de 28/05/09<br />
Hotel de 5 estrelas avança<br />
em Vila Viçosa<br />
um hotel de cinco estrelas vai ser construído<br />
em Vila Viçosa, distrito de Évora, num investimento<br />
de 6,7 milhões de euros, revelou uma<br />
responsável da empresa promotora.<br />
Mariana alves, sócia-gerente da empresa<br />
Jardimagestic, de capitais privados, que vai investir<br />
na construção da unidade hoteleira cujo<br />
nome não está ainda definido, adiantou que o hotel<br />
será construído no edifício do antigo lagar da<br />
Cooperativa de olivicultores da localidade.<br />
Segundo a empresária, o novo hotel vai ter 47<br />
quartos e duas suites e a obra deve iniciar-se em<br />
Setembro ou outubro deste <strong>ano</strong>, prevendo-se a<br />
sua conclusão em 2011.<br />
De acordo com Mariana alves, a empresa<br />
Jardimagestic, de Vila Viçosa, adquiriu o edifício<br />
do antigo lagar, frente ao largo da feira, que vai<br />
ser recuperado e adaptado a unidade hoteleira.<br />
a empresária indicou que o investimento no hotel<br />
deve atingir os 6,7 milhões de euros, prevendo<br />
a empresa vir a beneficiar de fundos da união Europeia<br />
para apoio ao turismo, através do Quadro<br />
de Referência Estratégico nacional (QREn).<br />
O novo hotel vai nascer numa altura em que o<br />
município de Vila Viçosa está a desenvolver um<br />
processo de candidatura da localidade alentejana<br />
a Património Mundial, galardão atribuído pela
unESCo (organização das nações unidas para a<br />
Educação, Ciência e Cultura).<br />
Vila Viçosa, conhecida por “Vila Museu”, possui<br />
um importante património histórico, monumental<br />
e cultural.<br />
o Palácio Ducal, castelo, pelourinho, igreja de<br />
Nossa Senhora da Conceição (Padroeira de Portugal)<br />
e os antigos conventos dos agostinhos e das<br />
Chagas são alguns dos monumentos da vila.<br />
Vila Viçosa dispõe ainda de diversos museus, tais<br />
como de armaria, arte sacra, arqueologia, caça e<br />
de carruagens, além do Arquivo Histórico da Casa<br />
de Bragança.<br />
A vila alentejana é também conhecida pelos seus<br />
mármores, integrando o triângulo dos mármores<br />
alentej<strong>ano</strong>s, juntamente com Estremoz e Borba.<br />
In Diário do Sul online de 14/07/09<br />
Alentejo “mais verde”<br />
Cinco unidades de alojamento do Alentejo contam-se<br />
entre os empreendimentos turísticos nacionais<br />
que foram galardoados com o Diploma<br />
Chave Verde, selo de qualidade de dimensão internacional<br />
que pretende reconhecer boas práticas<br />
empresariais no domínio da racionalização<br />
dos consumos de água e de energia.<br />
o alentejo foi a segunda região turística do continente<br />
a receber mais Chaves, logo a seguir ao<br />
Centro. Os empreendimentos seleccionados fo-<br />
ram as unidades hoteleiras “o Poejo” e “El Rei D.<br />
Manuel”, ambas localizadas no concelho de Marvão,<br />
o turismo rural “Quinta da Dourada”, de Portalegre,<br />
o agro-turismo “Quinta da Bela Vista”, de<br />
Castelo de Vide e o “Hotel Vila Park”, situado em<br />
Santo andré, concelho de Santiago do Cacém.<br />
As unidades foram premiadas pelo seu desempenho<br />
e melhoria contínua de Boas Práticas de<br />
Gestão e Educação ambientais, incluindo a sua<br />
promoção junto dos respectivos clientes.<br />
O Turismo do Alentejo, ERT integrou a comissão<br />
de auditoria que a nível regional visitou os empreendimentos<br />
premiados. o objectivo dos<br />
responsáveis da entidade regional de turismo do<br />
alentejo passa por aumentar nos próximos <strong>ano</strong>s<br />
o número de unidades distinguidas com aquele<br />
diploma internacional, indo ao encontro de uma<br />
das prioridades do seu pl<strong>ano</strong> de acção quadrienal,<br />
que aponta para o desenvolvimento e promoção<br />
de um destino turístico ambientalmente<br />
responsável.<br />
In Diário do Sul de 14/07/09<br />
73
deSenVOLViMenTO<br />
A central solar fotovoltaica de Amareleja<br />
começou a produzir energia em Março de 2008,<br />
tendo começado a produzir em pleno a partir de<br />
Dezembro do mesmo <strong>ano</strong>.<br />
Esta é a maior central solar fotovoltaica do mundo,<br />
com 46 Mwp de potência, a produzir 93<br />
milhões de Kw, o equivalente ao consumo de 30<br />
mil habitações. o investimento foi de 261 milhões<br />
de euros. <strong>anual</strong>mente será evitada a emissão de<br />
89,383 toneladas de Co2.<br />
a central ocupa uma superfície de 250 hectares,<br />
sendo composta por 2.520 seguidores de 140<br />
m2 cada, os quais contém cada um <strong>10</strong>4 painéis<br />
de silício policristalino. no total são 262.080<br />
74 Energias renováveis<br />
painéis. obviamente está a cumprir todas as nossas<br />
expectativas, não só pelo facto de estar concluída<br />
e em funcionamento, mas também pelas<br />
perspectivas de desenvolvimento de outras<br />
acções em torno da energia solar.<br />
na sua construção, a central criou cerca de 250<br />
postos de trabalho e, facto extremamente positivo,<br />
com recurso a mão de obra local, quase na<br />
sua totalidade, com excepção de três ou quatro<br />
casos. Para a sua manutenção, foram criados<br />
cerca de 20 postos de trabalho. a juntar a estes<br />
há cerca de <strong>10</strong>0 postos de trabalho criados pela<br />
fábrica de assemblagem de painéis solares, em<br />
Moura, o que faz com que, parte do objectivo da
Câmara de Moura esteja cumprido.<br />
a central solar fotovoltaica e a fábrica de painéis<br />
solares sempre foram assumidos pela Câmara<br />
Municipal de Moura como o ponto de partida<br />
para outras iniciativas. Foi pensada, desde logo,<br />
na criação de um Parque Tecnológico/Zona Industrial<br />
que teria, entre outras valências, um<br />
laboratório de investigação na área do<br />
fotovoltaico, o qual está já a funcionar, com dois<br />
investigadores a trabalhar.<br />
a lógica, EM, empresa criada pela Câmara<br />
Municipal de Moura para gerir o fundo de três<br />
milhões de euros resultantes da venda da amper<br />
à acciona, está a dinamizar estes processos.<br />
Estão também em desenvolvimento dois novos<br />
projectos, desta vez na área do termo-solar. Por<br />
outro lado, têm sido estabelecidas parcerias, a<br />
nível nacional, com a Rede ECoS, em que participam<br />
municípios de várias regiões do país, e o<br />
Projecto SunFlower, do qual a Câmara de Moura<br />
é coordenadora e que envolve mais sete países<br />
da Europa.<br />
São acções passíveis de atrair investimentos<br />
para o concelho, gerando a criação de emprego,<br />
factor que foi sempre um dos motivos que levou<br />
à concepção e execução do projecto das energias<br />
renováveis.<br />
75
76<br />
AcTiVidAdeS deSenVOLVidAS<br />
De 2 de Dezembro a 9 de Janeiro, 30 actuações<br />
das Cantadeiras da alma alentejana, na iniciativa<br />
“Do natal aos Reis”, em lares, Centros de Dia,<br />
Juntas de Freguesia do laranjeiro e Cova da Piedade<br />
e no Solar dos Zagalos, Escola Básica <strong>nº</strong>. 1<br />
do laranjeiro, e Igrejas de almada e da Cova da<br />
Piedade, no concelho de <strong>Alma</strong>da.<br />
16 de Janeiro de <strong>2009</strong>, integrado no Grupo de<br />
Idosos actuação do Grupo de Teatro da alma<br />
alentejana no auditório lopes Graça do Fórum<br />
Municipal Romeu Correia em almada<br />
De 2 a 8 de Fevereiro de <strong>2009</strong>, participação no<br />
II EnConTRo InTERCulTuRal DE SaBoRES E<br />
SaBERES, no Pavilhão Municipal do alto do<br />
Moinho, a convite do Centro Cultural e Recreativo<br />
do alto do Moinho onde tivemos em exposição<br />
e venda produtos regionais do Alentejo e<br />
actuação do Grupo de Cantadeiras e do Grupo de<br />
Cavaquinhos da <strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong>.<br />
27 e 28 de Fevereiro e 1 de Março, Fim de Semana<br />
alentej<strong>ano</strong>, nas instalações da Junta de Freguesia<br />
da Charneca de Caparica, com exposição e venda<br />
de produtos regionais alentej<strong>ano</strong>s e animação<br />
cultural diária.<br />
8 de Março de <strong>2009</strong> nas comemorações do “Dia<br />
Internacional da Mulher” actuação das Cantadeiras<br />
da alma alentejana no Museu da Cidade de<br />
<strong>Alma</strong>da.<br />
14 de Março de <strong>2009</strong>, ainda integrado nas<br />
Comemorações do Dia Internacional da Mulher,<br />
actuação do Grupo de Cavaquinhos da alma<br />
alentejana, também no Museu da cidade de almada.<br />
21 de Março de <strong>2009</strong> actuação na <strong>10</strong>ª. Semana<br />
Cultural alentejana do Grupo de Cantadeiras da<br />
alma alentejana, a convite do Clube Recreativo<br />
do Feijó.
29 de abril de <strong>2009</strong> actuação do Grupo de Cantadeiras<br />
da <strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong> na Associação de<br />
Reformados, Pensionistas e Idosos do Concelho<br />
de <strong>Alma</strong>da.<br />
28 de Maio de <strong>2009</strong> participação da alma alentejana<br />
no VII Concurso de Doçaria na a.R.P.I.l.F., no<br />
Feijó, <strong>Alma</strong>da<br />
19 de Junho de <strong>2009</strong> , a convite da Associação<br />
do Grupo Coral da Granja, actuação do Grupo de<br />
Cantadeiras da alma alentejana no 4º.Encontro<br />
de Grupos Corais naquela localidade, concelho<br />
de Moura.<br />
24 de Junho de <strong>2009</strong>, Nas vésperas do dia de S.<br />
João, a <strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong>, reuniu os utentes dos<br />
Centros de Dia do Pragal, Cova da Piedade e<br />
laranjeiro, nas instalações do laranjeiro, onde<br />
organizámos uma tarde de convívio, num espaço<br />
decorado a preceito pelos colaboradores, tendo<br />
actuado o nosso Grupo de Cavaquinhos. Foi uma<br />
tarde de alegria, com muita música, muita dança<br />
e grande participação de todos, terminando com<br />
um lanche.<br />
27 de Junho de <strong>2009</strong>, a convite da Associação<br />
dos amigos da Cidade de almada, participação<br />
“Burricadas - Festas da cidade de almada, com<br />
actuações do Grupo de Cavaquinhos da alma<br />
alentejana e anúncio dos “Pregões” através das<br />
utentes do Centro de Convívio da Cova da Pie-<br />
dade, da <strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong>.<br />
4 de Julho de <strong>2009</strong>, festa amarela, no laranjeiro,<br />
<strong>Alma</strong>da. A <strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong> esteve mais uma vez<br />
presente com uma mostra-venda de produtos<br />
alentej<strong>ano</strong>s, desde o artesanato aos queijos e aos<br />
enchidos, passando pelos vinhos e azeites, fornecendo<br />
também 130 almoços e 130 jantares aos<br />
participantes. na vertente cultural, as Cantadeiras<br />
da <strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong> actuaram e encantaram<br />
toda a assistência com as modas e cantares do<br />
nosso alentejo. actuou também o nosso Grupo<br />
de Sevilhanas.<br />
a Festa amarela é um evento desportivo e cultural,<br />
em que os clubes e associações, participam<br />
mostrando à população o resultado do seu<br />
trabalho em prol da juventude, do desporto, da<br />
cultura e com uma componente muito forte no<br />
aspecto intercultural, já que na margem sul do<br />
Tejo há uma forte implantação de imigrantes, nomeadamente,<br />
dos países lusófonos.<br />
8 de Julho de <strong>2009</strong> colóquio sobre Antropologia<br />
com a participação do Dr. luis Maçarico e da Dra.<br />
ana Machado, a convite da Junta de Freguesia do<br />
laranjeiro, e nas suas instalações, também com<br />
actuação do Grupo de Cantadeiras da alma alentejana.<br />
9 de Julho de <strong>2009</strong> ainda a convite da Junta<br />
de Freguesia do laranjeiro e integrado numa<br />
Tertúlia”os Poetas e os Trovadores são Eternos”,<br />
actuação das Cantadeiras da <strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong><br />
<strong>10</strong> de Junho de <strong>2009</strong> ainda integrada na <strong>10</strong>ª. Semana<br />
Cultural do laranjeiro, actuação do Grupo<br />
das Cantadeiras da <strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong>, num encontro<br />
de “Grupos da nossa Terra”, também a convite<br />
da Junta de Freguesia do laranjeiro.<br />
77
78<br />
AcTiVidAdeS A deSenVOLVeR<br />
24 de Julho a 2 de agosto de <strong>2009</strong> 11ª. Feira<br />
da <strong>Alma</strong> <strong>Alentejana</strong> no pavilhão da Escola Secundária<br />
Cacilhas-Tejo, em almada onde teremos<br />
em exposição e venda os tradicionais produtos<br />
alentej<strong>ano</strong>s com animação cultural diária, com a<br />
tradicional cozinha alentejana e actuação de 24<br />
agentes culturais, a maior parte vindos do nosso<br />
Alentejo, durante estes dias, e uma tradicional<br />
noite de “Poesia e Fados” com artistas alentej<strong>ano</strong>s.<br />
De 25 de Setembro a 30 de outubro de <strong>2009</strong><br />
estará presente no Museu Municipal de avis a<br />
nossa “Exposição Fotográfica – alentejo com<br />
alma – Terras com História”, composta por 47<br />
painéis de 1,2x0,90m, um de cada concelho do<br />
alentejo, com fotografias históricas e monografia<br />
de cada concelho, as 47 bandeiras de todos os<br />
concelhos e os respectivos suportes.<br />
25 de outubro de <strong>2009</strong> encerramento dos<br />
IX Jogos Florais da alma alentejana, no auditório<br />
lopes Graça, do Fórum Municipal Romeu Correia,<br />
em <strong>Alma</strong>da, tendo este <strong>ano</strong> como Patrono<br />
o nosso mui digno Presidente da Assembleia<br />
Municipal de almada, José Manuel Maia nunes<br />
de Almeida.
80<br />
FRENTE<br />
RIBEIRINHA<br />
SEIXAL – ARRENTELA<br />
<strong>10</strong> milhões<br />
de euros<br />
em projectos<br />
até 2011<br />
FRENTE<br />
RIBEIRINHA<br />
AMORA<br />
<strong>10</strong> milhões<br />
de euros em projectos<br />
até 2012<br />
www.cm-seixal.pt<br />
BAÍA DO SEIXAL<br />
Valorizar – Investir – Criar Emprego<br />
Desenvolvimento Económico e Social<br />
PLANO<br />
DE PORMENOR<br />
TORRE DA MARINHA/<br />
/FOGUETEIRO<br />
Investimento<br />
no espaço público<br />
de <strong>10</strong> milhões<br />
de euros<br />
Projecto co-financiado pelo FEDER<br />
PROJECTO<br />
ARCO RIBEIRINHO<br />
SUL – PLANO<br />
DE PORMENOR<br />
DA EX-SIDERURGIA<br />
NACIONAL<br />
Investimento público<br />
de cerca de 150<br />
milhões de<br />
euros