ano 10 • nº 22 • anual • 2009 - Alma Alentejana
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ARbeiROS e bARbeARiAS<br />
as barbearias e dos barbeiros no<br />
concelho de Santiago do Cacém,<br />
deu o mote ao primeiro número dos<br />
Cadernos do Património, editado<br />
em 2008, pelo Museu Municipal de Santiago do<br />
Cacém, intitulado «a Barbearia: a arte de barbear<br />
e pentear». Esta publicação resultou de uma<br />
pesquisa antropológica no terreno realizada por<br />
mim em 2004, tendo contado também com a colaboração<br />
de nuno Vilhena, na realização de algumas<br />
entrevistas a antigos barbeiros da região.<br />
Espaço dedicado à arte de barbear e pentear, ao<br />
encontro e convívio masculino, a barbearia representou<br />
até aos <strong>ano</strong>s 70, um ponto de referência<br />
importante, no concelho de Santiago do Cacém.<br />
Estes estabelecimentos encontram-se porém,<br />
à beira do fim, ameaçados pela idade avançada<br />
da maioria dos seus praticantes e à falta de transmissão<br />
do seu saber às gerações mais jovens.<br />
Este trabalho de natureza etnográfica caracteriza<br />
assim a figura do barbeiro, não só na região de<br />
Santiago do Cacém, mas do seu papel ao longo<br />
da história, resgata memórias e histórias de<br />
vida de inúmeros profissionais, salientando-se<br />
aspectos ligados à aprendizagem do ofício e ao<br />
exercício do mesmo, assim como descreve ambientes,<br />
espaços e sociabilidades.<br />
Como pude comprovar nesta região do Alentejo,<br />
estes espaços têm vindo a perder a sua caracterização,<br />
sendo hoje marcados pelos novos ritmos<br />
da modernidade, contrariamente à assiduidade<br />
semanal do passado, pois quer o rico, quer o<br />
pobre tinha de cortar “barba e cabelo” no barbeiro.<br />
Com a invenção das máquinas de barbear<br />
descartáveis, e com o corte da barba em casa, as<br />
50 O tema que vos apresento, sobre<br />
barbearias começaram a ver decair a<br />
sua clientela.<br />
Porém, as barbearias ainda<br />
existentes, sobretudo as localizadas<br />
nas freguesias mais rurais, como<br />
abela, ou alvalade do Sado, são autênticos museus<br />
vivos. a cadeira de barbeiro rotativa, da<br />
antiga fábrica antónio Pessoa é uma presença<br />
quase obrigatória em todas estas barbearias. Os<br />
espelhos enchem esses espaços, muitas vezes<br />
exíguos e acatitados. as paredes encontram-se<br />
forradas com calendários, galhardetes clubísticos<br />
ou fotografias antigas. nas bancadas expõem-se<br />
uma multiplicidade de objectos, alguns dos quais<br />
já sem uso, como navalhas, assentadores, limpanavalhas,<br />
máquinas manuais de cortar o cabelo,<br />
perfumes, loções, entre outros produtos, que<br />
servem apenas para decoração.<br />
Do ponto de vista social, estes lugares<br />
desempenharam desde sempre um papel crucial<br />
na sociabilidade masculina. Num passado recente,<br />
esse convívio era favorecido também pelo