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Genis Frederico Schmaltz Neto gfschmaltz@gmail.com Comer da ...

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Especializado em Medos (PR), trata-se de uma emoção natural do ser humano, atuando por<br />

vezes <strong>com</strong>o um aliado, porque resulta de uma ameaça à rotina <strong>da</strong> existência.<br />

Ora, a Morte e o Medo – ain<strong>da</strong> que universais em razão de suas bases arquetípicas –<br />

configuram-se de maneira singular na cultura nipônica, atualizando-se e sendo reinterpretados<br />

na narrativa do anime. Constrói-se um herói noturno oriental, simbolizado por Raito e sua espa<strong>da</strong><br />

desfuncionaliza<strong>da</strong> (leia-se lápis), face ao diurno ocidental (o herói que tem um Sol <strong>com</strong>o guia,<br />

escolhido desde sua concepção para realizar grandes feitos). Em virtude <strong>da</strong>s peculiari<strong>da</strong>des<br />

japonesas, o saber-poder contribui para a que<strong>da</strong> moral do protagonista, que sob os olhos do<br />

ocidental, parece dominar os incômodos do medo. O imaginário oriental é sintético, ao integrar a<br />

morte e a vi<strong>da</strong>, enquanto que o imaginário ocidental é heroico ou místico, embora mais heroico<br />

do que místico.<br />

Sim, quando Raito <strong>com</strong>eça a emitir sentenças de morte, inicia uma desci<strong>da</strong> <strong>da</strong> qual jamais<br />

se recuperará. Mas, não se trata de uma desci<strong>da</strong> violenta, mas laboriosa, e, por vezes lenta, que<br />

o vicia na morte em ca<strong>da</strong> nome escrito no caderno, levando-o a que<strong>da</strong>. Durand (p. 201) já<br />

avisara, “a desci<strong>da</strong> arrisca a todo o momento transformar-se em que<strong>da</strong>”. No entanto, ain<strong>da</strong> que<br />

temerosas, as pessoas sentem necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> presença do Kira.<br />

Raito, tentado pelas maçãs, deixa-se cegar pelo poder conferido e perde sua visão de<br />

mundo inocente. A morte abraça-o, ele abraça-a reciprocamente. Durand (p. 94) diz que “a<br />

cegueira, assim <strong>com</strong>o a caduci<strong>da</strong>de, é uma enfermi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> inteligência.” Tornar-se portador <strong>da</strong><br />

morte acorrenta-o a uma liber<strong>da</strong>de humana inalcançável, um poder-saber, que o levará<br />

inevitavelmente a cair. A predominância do medo e o poder <strong>da</strong> morte reforçam então a ideia de<br />

cegueira.<br />

Essa ideia está liga<strong>da</strong> a tentação e culmina na que<strong>da</strong>, que aparece <strong>com</strong> o signo de punição,<br />

liga<strong>da</strong> também intimamente à tradução ju<strong>da</strong>ica cristã <strong>da</strong> que<strong>da</strong> de Adão. Langton (apud Durand,<br />

p. 114) introduz no contexto físico <strong>da</strong> que<strong>da</strong> uma moralização ou mesmo uma psicopatologia <strong>da</strong><br />

que<strong>da</strong>: em certos apocalipses apócrifos, ela é confundi<strong>da</strong> <strong>com</strong> uma “possessão” pelo mal,<br />

tornando-se símbolo de pecados de cólera e assassínio. Raito à medi<strong>da</strong> que se utiliza do<br />

caderno, mata ca<strong>da</strong> vez mais. A maçã aqui então se ressignifica e se transforma em caderno.<br />

Raito representa o Adão tentado pela serpente. No entanto, uma serpente que não apenas<br />

cega-o e entrega-lhe a arma que traz em si a morte, mas uma serpente que se torna sua amiga;

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