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<strong>Português</strong><br />

Fascículo 06<br />

Carlos Alberto C. Minchillo<br />

Izeti Fragata Torralvo<br />

Marcia Maísa Pelachin


Índice<br />

Gramática<br />

Resumo Teórico..................................................................................................................................1<br />

Exercícios............................................................................................................................................5<br />

Gabarito.............................................................................................................................................6<br />

Literatura<br />

Morte e vida severina, João Cabral de Melo Neto ................................................................................8<br />

Exercícios..........................................................................................................................................12<br />

Gabarito...........................................................................................................................................14


Gramática<br />

Objetivos:<br />

• reconhecer as relações semânticas (lógicas) estabelecidas por conectivos<br />

• treinar o emprego de conectivos que estabelecem relações lógicas<br />

Resumo Teórico<br />

Conteúdo do resumo teórico<br />

Conectivos e relações semânticas<br />

1. Conceituação<br />

2. Lista de conectivos e exemplificação de emprego<br />

Conectivos e relações semânticas (lógicas)<br />

Conceituação<br />

Ao se estabelecerem, em um enunciado, relações de subordinação e coordenação 1 é<br />

comum o emprego de conectivos.<br />

Conectivos são palavras ou expressões que estabelecem relações entre palavras e orações.<br />

As preposições e locuções 2 prepositivas são conectivos que relacionam palavras subordinando uma à<br />

outra; as conjunções e locuções conjuntivas são conectivos que relacionam orações, subordinando ou<br />

coordenando, e palavras, coordenando-as.<br />

Há conectivos que estabelecem relações sintáticas, sem estabelecerem relações<br />

semânticas (lógicas). Nesse caso, costumam ser chamados de nocionais.<br />

Exemplo:<br />

Não gosto de comida japonesa!<br />

O verbo gostar pede um complemento que a ele se relaciona por meio da preposição<br />

de. Como se trata de preposição exigida pelo verbo, ela não estabelece uma relação lógica. Compare<br />

com:<br />

A comida veio do Japão!<br />

A preposição de, na frase "A comida veio do Japão!", indica uma circunstância de origem.<br />

Portanto, estabelece uma relação lógica (semântica) entre os termos que relaciona.<br />

Compare ainda:<br />

Creio que a verdade aparecerá.<br />

A verdade é tão clara que não poderá ser ignorada.<br />

1. Ver aula 5<br />

2. Chama-se locução ao conjunto de duas ou mais palavras que possuem uma mesma função. No caso de locuções<br />

prepositivas, são palavras que, em conjunto, assumem a função de uma preposição, de conectar palavras com diferentes<br />

funções (uma subordina e outra que é subordinada).


Na frase “Creio que a verdade aparecerá", a conjunção que não estabelece uma relação<br />

semântica, apenas, relaciona a oração subordinada à principal. Na frase, ”A verdade é tão clara que<br />

não poderá ser ignorada” relaciona a oração subordinada à principal, estabelecendo entre elas uma<br />

relação de conseqüência e causa (relação lógica ou semântica).<br />

Lista de conectivos e exemplificação de emprego<br />

Preposições e conjunções são conectivos.<br />

Preposições e locuções prepositivas<br />

essenciais.<br />

Algumas palavras sempre são preposições e, por isso, são chamadas de preposições<br />

Preposições essenciais: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, per, perante,<br />

por, sem, sob, sobre, trás.<br />

Outras palavras, ocasionalmente, podem assumir a função de preposição. Exemplo: em<br />

"Segundo o pai, deixou de fumar pouco tempo após a notícia da doença.", a palavra segundo assume<br />

o papel de conectivo, de preposição.<br />

São locuções prepositivas, expressões como: junto a, perto de, acerca de, a fim de...<br />

No emprego das preposições é fundamental que se percebam as relações de sentido que<br />

estabelecem. Exemplos:<br />

Preposição Exemplo Relação semântica<br />

A Vou a Cuba, no fim do ano. Lugar (destino)<br />

O texto foi feito a lápis. Instrumento<br />

Fará a cirurgia daqui a dois dias. Tempo futuro<br />

A fazenda fica a dez quilômetros da cidade. Distância<br />

De Adora falar de política. Assunto<br />

Viemos da fazenda com as malas cheias. Lugar (origem)<br />

Ganhei uma linda carteira de couro. Matéria<br />

Com Brinca todos os dias com a irmã. Companhia<br />

Fez com argila um vaso para a mãe. Matéria<br />

Fez, com a mão, um sinal para que o esperasse. Modo<br />

Conjunções e locuções conjuntivas<br />

Conjunções e locuções conjuntivas estabelecem relações entre orações (coordenando-as<br />

ou subordinando-as) e relações entre termos de igual função (coordenando-os, portanto).<br />

Conjunções coordenativas<br />

Estabelecem cinco tipos de relações, como se especifica nos exemplos que seguem.


Relação Principais conjunções e locuções<br />

conjuntivas<br />

Adição<br />

(aditiva)<br />

Oposição<br />

(adversativa)<br />

Alternância<br />

(alternativa)<br />

Explicação<br />

(explicativa)<br />

Conclusão<br />

(conclusiva)<br />

Exemplos<br />

E, nem, não só...mas também Não só está feliz, como também sorri<br />

bastante.<br />

Mas, porém, contudo, todavia, entretanto,<br />

no entanto, não obstante<br />

Está feliz com a carta, porém continua<br />

esperando a chegada do irmão.<br />

Ou, ou...ou, ora...ora, quer...quer Ora chove torrencialmente, ora há uma<br />

seca insuportável.<br />

Que, pois (antes do verbo), porque, uma<br />

vez que<br />

Pois (em geral, após o verbo), portanto,<br />

logo, por isso<br />

Faltou à aula, pois não está na sala.<br />

Não está na sala, portanto não está na<br />

sala.<br />

Observações:<br />

1. É comum uma conjunção assumir um valor semântico diferente do que é o usual.<br />

Exemplo:<br />

É rico, e pede esmolas.<br />

A conjunção "e", no contexto, assume o valor de oposição<br />

Fique quieto ou terá de sair.<br />

A conjunção "ou", no contexto, assume o valor de uma condição.<br />

2. A explicação não deve ser confundida com a causa.<br />

Se existe uma causa, há entre as orações do período uma relação de causa e conseqüência ou<br />

causa e efeito. Além disso, a causa deve ser um fato anterior à conseqüência.<br />

Se existe uma explicação, pode-se considerar duas possibilidades:<br />

• Há uma ordem (verbo no imperativo) que se quer justificar (Saia, que estou mandando.);<br />

• Há uma afirmação sobre um fato que se justifica por uma observação posterior ao fato<br />

(Carla saiu, pois as portas e janelas da casa estão fechadas.).<br />

Conjunções subordinativas<br />

Há dois tipos: integrantes (que relacionam orações subordinadas adverbiais à principal) e<br />

outras, às vezes chamadas de adverbiais (que relacionam orações subordinadas adverbiais à principal).<br />

As integrantes são as palavras "que" e "se". A essa última acrescenta-se um valor de<br />

dúvida. Compare:<br />

Jorge disse que saiu.<br />

Jorge não sabe se sairá.<br />

As conjunções subordinativas adverbiais estabelecem nove relações lógicas (semânticas),<br />

como se exemplifica a seguir.


Relação Principais conjunções e locuções<br />

conjuntivas<br />

Exemplos<br />

Causa (causal) Porque, uma vez que, já que, visto que Resfriou-se porque insiste em ficar<br />

descalço.<br />

Conseqüência<br />

(consecutiva)<br />

Condição<br />

(condicional)<br />

Concessão<br />

(concessiva)<br />

Comparação<br />

(comparativa)<br />

Conformidade<br />

(conformativa)<br />

Tempo<br />

(temporal)<br />

Finalidade<br />

(final)<br />

Proporção<br />

(proporcional)<br />

(tão, tanto, tal, na oração principal) que,<br />

de modo que<br />

Está tão resfriado que mal pode falar.<br />

Se, caso, desde que Caso tenha dúvidas, consulte o plantão<br />

de atendimento aos alunos.<br />

Embora, ainda que Ainda que se mostre feliz, meu pai anda<br />

muito preocupado.<br />

Como, (tanto, na oração principal)<br />

quanto<br />

É tão jovem quanto a filha!<br />

Como, conforme, segundo Conforme disse o jornalista, o<br />

empresário não quis responder às<br />

perguntas.<br />

Quando, assim que, antes que, desde<br />

que, depois que, mal<br />

A fim de que, para que, porque (seguido<br />

de verbo no subjuntivo)<br />

À proporção que, à medida que, quanto<br />

menos, quanto mais<br />

Quando cheguei à escola, soube do<br />

ocorrido.<br />

Estude para que tudo saia bem na prova.<br />

À medida que nos aproximamos da<br />

praia, o cheiro do mar invade nossos<br />

pulmões.<br />

Observações:<br />

1. Uma mesma conjunção pode assumir diferentes valores, em função do contexto. Exemplos:<br />

Desde que o conheço, não sinto mais solidão.<br />

Você pode sair, desde que cumpra com suas obrigações.<br />

Em "Desde que o conheço, não sinto mais solidão" e"Você pode sair, desde que cumpra com suas<br />

obrigações", ocorre a locução conjuntiva "desde que". No primeiro caso, ela estabelece uma relação<br />

de tempo; no segundo, de condição.<br />

2. Quando se estabelece uma relação de comparação, é comum que um verbo esteja oculto.<br />

Exemplo<br />

Canta como uma soprano!<br />

Fica implícito o verbo cantar, na segunda oração 3 .<br />

3. Se a oração estabelece com a anterior uma relação de conseqüência, é comum a presença de um<br />

intensificador, como "tão", "tanto", "tal", na primeira oração.<br />

Exemplo:<br />

É tão descuidado, que vive aos tombos pela casa.<br />

3. Chama-se zeugma à omissão de termo já expresso.


Exercícios<br />

01. Assinale a alternativa em que a preposição por estabelece relação idêntica à que se encontra em:<br />

trabalho.<br />

A televisão o esnoba. É por ser o mais inteligente dos atores brasileiros que não encontra<br />

a. O amor de Millôr Fernandes por seu poodle Igor o levou a escrever um artigo memorável.<br />

b. Odeio a guerra. Sou inteiramente pela paz.<br />

c. Se fossem franceses, esses artistas seriam reverenciados por toda a nação.<br />

d. Por ser perfeccionista, meu marido sempre arruma brigas com os colegas de trabalho.<br />

e. Nosso país foi colonizado por portugueses. Mas não se pode negar a influência de muitas outras<br />

nações.<br />

02. Leia com atenção o anúncio que segue.<br />

Diário de Pernambuco. 02 / 08 / 98.<br />

Assinale a alternativa que apresenta uma reescritura que mantém as relações lógicas<br />

presentes entre as orações da frase principal do anúncio.<br />

a. Mesmo que você pense que o que vem da China não o atinge, precisa ter umas aulas de<br />

economia.<br />

b. Uma vez que você pense que o que vem da China não o atinge, precisa ter umas aulas de<br />

economia.<br />

c. Caso você pense que o que vem da China não o atinge, precisa ter umas aulas de economia.<br />

d. Para que você pense que o que vem da China não o atinge, precisa ter umas aulas de<br />

economia.<br />

e. À medida que você pensa que o que vem da China não o atinge, precisa ter umas aulas de<br />

economia.<br />

03. Assinale a alternativa em que a palavra ou expressão destacada é um conectivo que estabelece uma<br />

relação de soma, de adição.<br />

a. " Olhe, mulher, hoje é dia de Natal. Eu nem me lembrava."<br />

Rubem Braga<br />

b. "Não alcançava adormecer, estranhava os clapes das ondas, o clapejo brando; e pensava e nem<br />

pensava.”<br />

Guimarães Rosa<br />

c. "Nem bem começou a falar, Eudócia arrumou a mala e partiu no primeiro trem."<br />

Dalton Trevisan


d. "Eu gosto de dançar, ela não gosta; eu gosto dos homens (bonitos, jovens, fortes), ela gosta do<br />

marido que nem é casado com ela e ninguém sabe onde anda (...)"<br />

Rubem Fonseca<br />

e. "Não posso viver sem você, quero ficar perto de você, (...) você não precisa falar comigo, nem<br />

olhar para mim."<br />

04. Texto:<br />

Rubem Fonseca<br />

Caminho livre para a fera<br />

As onças-pintadas costumam encher de medo a vida dos fazendeiros do Pantanal e dos<br />

ribeirinhos da Amazônia, as duas regiões brasileiras onde suas aparições são mais comuns. Mesmo<br />

assim, os biólogos Leandro Silveira e Anah Tereza Jácomo, que trabalham para a ONG<br />

preservacionista Pró-Carnívoros, resolveram seguir passo-a-passo – literalmente – as onças que vivem<br />

no Parque Nacional das Emas, uma reserva de cerrado no sudoeste de Goiás. Depois de adormecer os<br />

bichos com armas anestésicas, a equipe da Pró-Carnívoros marcou um animal adulto e dois filhotes<br />

com coleiras sinalizadoras. "São os primeiros mamíferos terrestres brasileiros monitorados por satélite",<br />

diz Leandro. O trabalho começou em 1994 e a dupla já conseguiu dados preciosos sobre o<br />

comportamento da espécie. Eles rastrearam o adulto até 40 quilômetros além dos limites do parque e<br />

notaram que ele avança sempre por caminhos de vegetação nativa, margeando o rio Corrente em<br />

busca de outras áreas de cerrado. A demarcação informal desse "corredor" preservado embargou<br />

provisoriamente as obras da barragem de Itumirim, uma hidrelética que, se construída, irá alagar um<br />

trecho do rio Corrente até perto a junção dos rios Formoso e Jacuba (...). Com a inundação, as onças<br />

ficariam isoladas, impedidas de viajar em busca de alimento e, principalmente, parceiros para a<br />

reprodução. (...)"<br />

National Geographic. Brasil. Vol. 1, n.o 4. Agosto de 2000<br />

Assinale a alternativa que identifica corretamente as relações semânticas estabelecidas<br />

pelas palavras e expressões destacadas.<br />

a. oposição – tempo – lugar – condição – causa<br />

b. condição – tempo – adição – dúvida – modo<br />

c. condição – condição – adição – oposição – modo<br />

d. oposição – condição – lugar – oposição – meio<br />

e. comparação – tempo – lugar – dúvida – meio<br />

05. Leia com atenção o anúncio da marca Topper extraído do jornal A Gazeta Esportiva, 28 / 08 / 00.<br />

"Diga o que deve mudar no futebol brasileiro e concorra a um kit Topper"<br />

Se a frase começasse com "Concorra a um kit Topper", a alternativa que apresenta o<br />

melhor conectivo para o restante da frase seria:<br />

a. porque<br />

b. ainda que<br />

c. visto que<br />

d. caso<br />

e. à medida que


Gabarito<br />

01. Alternativa d.<br />

Na frase inicial e na alternativa "d", a preposição por estabelece uma relação de causa.<br />

Nas outras alternativas, a preposição indica, respectivamente:<br />

a. alvo;<br />

b. propensão (=a favor de);<br />

c. agente;<br />

e. Agente.<br />

02. Alternativa c.<br />

a. concessão;<br />

b. causa;<br />

d. finalidade;<br />

e. Proporção.<br />

03. Alternativa e.<br />

Na frase do anúncio e na alternativa "c", o conectivo estabelece uma relação de condição.<br />

Nas outras alternativas, a relação é, respectivamente, de:<br />

Nas outras alternativas, a palavra destacada funciona como:<br />

a. advérbio de negação;<br />

b. advérbio de negação;<br />

c. conectivo que estabelece relação de tempo (com o valor de mal, assim que);<br />

d. advérbio de negação (observe-se a construção enfática)<br />

04. Alternativa a.<br />

"Mesmo assim" significa "apesar disso", indicando uma oposição, uma concessão. "Depois<br />

de" é uma locução que expressa tempo a partir do qual algo é determinado. "Além de", na frase, indica<br />

uma circunstância de lugar. "Se" é conjunção subordinativa condicional. "Com ", no contexto, introduz<br />

uma locução adverbial de causa.<br />

05. Alternativa d.<br />

Iniciando a frase como "Concorra a um kit da Topper", o restante da frase estabeleceria<br />

uma condição, que pode ser estabelecida pela conjunção "caso". Os outros conectivos estabelecem,<br />

respectivamente, relação de: "a", causa; "b", concessão; "c", causa e "e", proporção.


Literatura<br />

Morte e vida severina, João Cabral de Melo Neto<br />

A realidade expressa na concretude da palavra<br />

João Cabral reserva para si um espaço inteiramente próprio e original dentre os poetas de<br />

45. A particularidade da sua obra manifesta-se sobretudo pela linguagem precisa, econômica, que é<br />

responsável por uma poesia de apelo cerebral, intelectual. Não se encontra em João Cabral a<br />

confissão, o enlevo ou mesmo o encantamento musical que caracterizam o lirismo nacional. 1 Os<br />

versos de João Cabral solicitam a consciência desperta, o compromisso da leitura atenta e oferecem<br />

em troca a imagem luminosamente clara da vida que se desnuda exatamente como ela é. 2<br />

Essa ausência de véus sobre a realidade e o interesse por temas da vida nordestina<br />

aproximam João Cabral de Graciliano Ramos 3 que, em seus romances, também combina o uso da<br />

palavra "dura", de sentido concreto, densa e rigorosa à reflexão sobre a condição humana.<br />

Em Morte e vida severina, uma das obras mais conhecidas de João Cabral, a inspiração<br />

vem do conhecimento da realidade pernambucana 4 e a propensão natural do poeta por pintar<br />

nitidamente imagens do real está presente nas cenas que contam a história de Severino retirante.<br />

"Coisas de não: fome, sede, privação"<br />

Morte e vida severina é um poema dramático que reafirma o compromisso do autor com<br />

a verdade de um Brasil distante do poder, maltratado pela seca, condenado à miséria que se renova<br />

em cada Severino que nasce.<br />

Por ser um auto, 5 incluir assuntos do folclore pernambucano 6 e revitalizar a temática<br />

comum aos romances regionalistas, Morte e vida severina é um exemplo particular de poema<br />

dramático que mescla a antiga tradição, consagrada desde o período colonial, às expressões mais<br />

genuínas da cultura popular do local, sem ser popularesco 7 .<br />

1. A poesia lírica brasileira caracteriza-se especialmente pelo caráter melódico da linguagem e pelo extravasamento<br />

emocional. São exemplos Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, assim como os<br />

modernistas Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Vinícius de Morais e vários outros.<br />

2. João Cabral manifesta propensão natural para a criação de imagens claras, plasticamente definidas. O poeta confessa ser<br />

essa de fato uma necessidade: "Eu quero apenas dar a ver com a minha poesia. Você não vê um poema meu que seja<br />

pura reflexão. Minha poesia é tópica, porque sempre o poema é sobre um assunto, que eu procuro dar a ver da maneira<br />

mais viva possível."<br />

3. Quer pela temática da seca, das injustiças sociais perpetuadas por um sistema econômico opressor, quer pela capacidade<br />

de síntese, Morte e vida severina lembra Vidas secas, de Graciliano Ramos.<br />

4. O próprio poeta afirma, em 1981, numa entrevista à revista "Manchete": "...todos os meus temas, os temas tratados na<br />

minha poesia, são nordestinos, motivos tirados de lá. Eu faço questão de valorizar a minha origem. E luto para que as<br />

suas diferenças em relação aos demais lugares jamais desapareçam. (...) Eu não reconheço nenhum brasileiro. Você<br />

conhece? Eu conheço, sim, um pernambucano, um paulista, um carioca."<br />

5. Auto é uma composição para teatro, organizada por cenas sucessivas, que desenvolvem um só assunto, em um só ato. É<br />

uma forma cultivada na Península Ibérica, durante a Idade Média. Muitos dos autos tinham objetivo didático-religioso e<br />

comumente constituíam representações natalinas de Presépios.<br />

6. O poeta conta que pesquisou histórias do folclore pernambucano num livro de Pereira da Costa, estudioso do início do<br />

século. De lá transpôs a cena do nascimento da criança, as homenagens feitas ao recém-nascido e as profecias das<br />

ciganas.<br />

7. Não há em Morte e vida severina registros de modismos ou trejeitos da fala sertaneja, o que poderia resultar em visão<br />

estereotipada, caricatural, ao sabor do popularesco.


Ainda que criada para teatro e pressupondo portanto recursos de encenação, Morte e<br />

vida severina se sustenta especialmente na palavra, no ritmo de cadência popular 8 e na força dos<br />

monólogos e diálogos. Nessa fala sonora, rigorosa e econômica, 9 os versos do poeta criam um<br />

espetáculo que emociona não pelo sentimentalismo fácil, 10 mas pela capacidade de comunicar a<br />

verdade da vida definida pelas "coisas de não", isto é, pela miséria e privação.<br />

O título da obra é representativo dessa capacidade de síntese e de força de<br />

comunicação. O adjetivo "severina", criado a partir do nome "Severino" 11 , condensa o sentido de<br />

"severo", "rude", "áspero", que é transferido do nome do qual se originou. Com economia de palavras,<br />

o poeta esclarece como é a morte e a vida de todos que são iguais a Severino, o protagonista da peça.<br />

"Certos poemas não podem ser lidos em voz baixa, em silêncio..." 12<br />

É assim, em voz alta e límpida que Severino retirante revela para o público o seu destino<br />

tão igual a outros tantos Severinos, que migram para o litoral em busca de menos privação.<br />

Nas 18 cenas do auto, narra-se em meio a esperanças e decepções a viagem desse sertanejo que teima<br />

em viver. Desde a primeira fala, Severino manifesta o desejo de distinguir-se, de perceber-se como um<br />

indivíduo, mas frustra-se, pois se reconhece idêntico a todos os de igual sina.<br />

"Somos muitos Severninos<br />

iguais em tudo na vida<br />

morremos de morte igual,<br />

mesma morte severina"<br />

O retirante inicia a viagem e, para não se perder, orienta-se pelas margens do rio<br />

Capibaribe que, como Severino, vai em direção a Recife. Desde os primeiros passos, Severino se<br />

depara com a morte: dois homens conduzem um lavrador assassinado por ter ousado expandir o seu<br />

miserável roçado. Nesse contato, amargamente se revela a irônica idéia de que a morte é mais<br />

sedutora do que a vida:<br />

"Mais sorte tem o defunto,<br />

irmãos das almas,<br />

pois já não fará na volta<br />

a caminhada"<br />

Mais adiante, Severino ouve rezadeiras aconselharem um defunto a escapar do encontro<br />

com o demônio: "Dize que levas somente / coisas de não: / fome, sede, privação." Esses versos<br />

especialmente destacam a vida tão minguada do sertanejo que, ao menos, pode ter o alento de<br />

espantar interesses do demônio.<br />

8. Predomina em Morte e vida severina o verso redondilho maior ou heptassílabo, originado na literatura medieval<br />

portuguesa e considerado o verso de melodia mais popular.<br />

9. A linguagem de João Cabral de Melo Neto, de modo semelhante à de Graciliano Ramos, caracteriza-se pelo poder de<br />

síntese e precisão.<br />

10. A expressão seca, densa, incisiva denuncia sem disfarces a realidade nordestina.<br />

11. Estabelece-se aqui um permanente retorno aos mesmos sentidos: o substantivo próprio originou-se do adjetivo "severo" e<br />

carrega, portanto, o sentido de "rude", "rígido", "áspero", como se o nome próprio fosse a materialização da noção que o<br />

adjetivo lhe empresta. A criação do adjetivo “severina” ressalta uma qualificação de maior concretude, pois é como se<br />

refletisse o que é intrínseco ao substantivo (ser) de que se derivou e que, por sua vez, já tem em si o sentido de “severo”,<br />

“rude”, “rígido”, “áspero”.<br />

12. Declaração de João Cabral.


O retirante, cansado da viagem, resolve interromper a caminhada e pedir emprego a uma<br />

mulher que se encontrava em uma janela. Oferece-se para cultivar a terra, mas é aconselhado pela<br />

mulher a desistir de trabalhos que geram produção, pois naquelas paragens só a morte prospera.<br />

Assim, somente rezadeiras, encomendadores de defuntos, médicos, coveiros encontram o que fazer.<br />

"Como aqui a morte é tanta,<br />

só é possível trabalhar<br />

nessas profissões que fazem<br />

da morte ofício ou bazar"<br />

Embora desanimado, Severino continua a viagem. Chega à Zona da Mata, encanta-se<br />

com a beleza branda da terra fértil, mas rapidamente entende que ali também não será acolhido.<br />

Assiste a um enterro de mais um lavrador e se dá conta de que só há trégua para o árduo destino na<br />

cova rasa e estreita a que o trabalhador tem direito nos vastos latifúndios.<br />

"— Esta cova em que estás,<br />

com palmos medida,<br />

é a conta menor<br />

que tiraste em vida.<br />

— É de bom tamanho,<br />

nem largo nem fundo,<br />

é a parte que te cabe<br />

deste latifúndio."<br />

"É uma cova grande<br />

para teu defunto parco,<br />

porém mais que no mundo<br />

te sentirás largo"<br />

Severino resiste ao acúmulo de tantas desilusões e apressa-se para chegar a Recife. Na<br />

capital, exausto da viagem, o sertanejo senta-se ao lado do muro de um cemitério para descansar um<br />

pouco e acidentalmente escuta a conversa de dois coveiros que manifestam o desejo de que os<br />

retirantes se lancem no rio, reduzindo assim a quantidade de sepultamentos gratuitos no cemitério<br />

dos pobres. Severino, desesperançado, compreende a inutilidade da sua busca e pensa em matar-se,<br />

lançando-se de uma das pontes do Capiberibe. A dramaticidade desta cena advém principalmente da<br />

resistência abalada de Severino que se sente inclinado a ceder à morte, companheira fiel de toda a<br />

jornada.<br />

" E chegando, aprendo que,<br />

nessa viagem que eu fazia,<br />

sem saber desde o Sertão<br />

meu próprio enterro eu seguia<br />

(...)<br />

A solução é apressar<br />

a morte a que se decida<br />

e pedir a este rio,<br />

que vem também lá de cima,<br />

que me faça aquele enterro<br />

que o coveiro descrevia"<br />

Prestes a se atirar nas águas volumosas do rio e entregar-se à "mortalha macia e líqüida",<br />

Severino encontra José, mestre carpinteiro, um morador do mocambo, a quem Severino faz uma série<br />

de perguntas. Ao discurso de fracasso do protagonista são contrapostas as falas sensatas de mestre<br />

José, que valoriza a vida e tenta convencer o retirante a desistir do suicídio. Inesperadamente, uma<br />

mulher interrompe a conversa dos dois homens e noticia o nascimento do filho do mestre. Celebra-se<br />

a nova vida com cantos de louvor e profecias. Nestas cenas finais, forma-se um Presépio: a criança


frágil e miserável já luta pela vida e é acarinhada pela população ribeirinha que, como os Reis Magos,<br />

lhe presenteia 13 .Oferecem o que se pode colher na natureza. São abacaxis, roletes de cana, jacas,<br />

mangas, ostras, siris, peixes para uma vida franzina, "severina" para a qual duas ciganas prevêem um<br />

triste destino: uma delas vê a criança como um futuro pescador, enlameado no mangue; a outra o<br />

vislumbra, como operário, tomado pela graxa das fábricas.<br />

" Vejo-o, uns anos mais tarde,<br />

na ilha do Maruim<br />

vestido negro de lama<br />

voltar de pescar siris"<br />

"Não o vejo dentro de mangues,<br />

vejo-o dentro de uma fábrica:<br />

se está negro não é lama,<br />

é graxa de sua máquina"<br />

O nascimento da criança é interpretado por mestre José como resposta negativa ao<br />

desejo de Severino suicidar-se; por isso, o mestre enaltece o valor da vida, tomando como exemplo a<br />

luta precoce que aquela criança frágil empreende. O clima de comemoração contagia a todos e<br />

curiosamente o poema se encerra sem a resposta do protagonista, que parece assistir a tudo<br />

atentamente, no entanto, não mais se manifesta.<br />

A vida presidida pela morte<br />

Em sua viagem, Severino e o espectador vão descobrindo que não há saída para o<br />

nordestino miserável. No sertão, é castigado pelo clima árido, pela violência que rege as relações entre<br />

latifundiários e lavradores, pela impossibilidade de cultivar a terra; na zona da mata, percebe que a<br />

terra produtiva está em poder de poucos. Na cidade, a riqueza de uma elite que vive e se enterra com<br />

luxo, a indiferença dos habitantes da capital, as miseráveis condições dos trabalhadores do mangue e<br />

das fábricas perpetuam a mesma sina de privações.<br />

Ainda que nas cenas finais se cantem louvores para o recém-nascido e se reafirme a<br />

crença na novidade que a vida sempre carrega, não se firmam grandes esperanças para o mundo dos<br />

Severinos. A criança franzina, prematura, raquítica traz a fibra de todos aqueles que só conhecem a<br />

vida presidida pela ameaça da morte; o recém-nascido, teimosamente, insiste em viver e por isso é<br />

mais uma "vida severina". 14<br />

13. Os presentes são ofertados por moradores de diversos bairros miseráveis de Recife. Como avisou Manuel Bandeira, sem a<br />

informação de que “Jaqueira“, “Cajueiro“, “Passarinho“, “Peixinhos“ são localidades ribeirinhas do Capiberibe, os versos<br />

de João Cabral seriam surrealistas.<br />

14. Leia o que diz João Cabral sobre o final de Morte e vida severina: “Algumas pessoas encontram em Morte e vida severina<br />

uma mensagem de vida, de esperança, outras não. Eu, propositalmente, deixei o final ambíguo. Apesar de ser<br />

confessadamente pessimista, neste caso não quis tirar qualquer tipo de conclusão”.


Exercícios<br />

Teste seus conhecimentos sobre Morte e vida severina de João Cabral de Melo Neto<br />

01. Leia as afirmações a respeito do título Morte e vida severina e do subtítulo “Auto de natal<br />

pernambucano”.<br />

I. O termo "severina" é derivado do nome próprio "Severino", que, no contexto, remete a uma<br />

generalização: todos os sertanejos nordestinos têm as mesmas tristes condições de vida.<br />

II. A expressão "morte e vida" pode ser relacionada à peregrinação de Severino, que foge da morte<br />

iminente no sertão e encontra a mesma vida sofrida no litoral.<br />

III. O subtítulo indica que a obra inspira-se em formas dramáticas medievais ibéricas assim como<br />

anuncia o seu caráter religioso, próprio dos autos natalinos<br />

Assinale a alternativa verdadeira.<br />

a. São corretas as afirmações I, II e III;<br />

b. São corretas somente as afirmações IeII;<br />

c. São corretas somente as afirmações I e III;<br />

d. São corretas somente as afirmações II e III;<br />

e. É correta somente a afirmação I.<br />

Os versos a seguir referem-se ao teste 02.<br />

"Como então dizer quem fala<br />

ora a Vossas Senhorias?<br />

Vejamos: é o Severino<br />

da Maria do Zacarias,<br />

lá da serra da Costela,<br />

limites da Paraíba.<br />

Mas isso ainda diz pouco:<br />

se ao menos mais cinco havia<br />

com nome de Severino<br />

filhos de tantas Marias<br />

mulheres de outros tantos,<br />

já finados, Zacarias,<br />

vivendo na mesma serra<br />

magra e ossuda em que eu vivia."<br />

02. Leia as afirmações a respeito dos versos transcritos.<br />

I. Para indicar a profunda identificação do sertanejo com o espaço em que vive, o poeta emprega<br />

imagens surrealistas, como "serra magra e ossuda".<br />

II. A impossibilidade de definir-se como um indivíduo ressalta o grau de zoomorfização a que está<br />

condenado Severino retirante.<br />

III. O fato de Severino não reconhecer em si traços particulares, individuais, colabora para a sugestão<br />

de que é um personagem alegórico, representante de uma camada da população nordestina.<br />

Assinale a alternativa verdadeira.<br />

a. São corretas as afirmações I, II e III;<br />

b. São corretas somente as afirmações IeII;<br />

c. São corretas somente as afirmações I e III;<br />

d. É correta somente a afirmação II.<br />

e. É correta somente a afirmação III.


Leia o trecho para responder ao teste 03.<br />

" - Sua formosura<br />

eis aqui descrita:<br />

é uma criança pequena,<br />

enclenque e setemesinha,<br />

mas as mãos que criam coisas<br />

nas suas já se advinha.<br />

(...)<br />

- De sua formosura<br />

deixai-me que diga:<br />

é tão belo como um sim<br />

numa sala negativa.<br />

(...)<br />

- Belo porque tem do novo<br />

a surpresa e a alegria.<br />

- Belo como a coisa nova<br />

na prateleira até então vazia.<br />

- Como qualquer coisa nova<br />

inaugurando o seu dia.<br />

- Ou como o caderno novo<br />

quando a gente o principia.<br />

- E belo porque com o novo<br />

todo o velho contagia."<br />

03. Assinale a alternativa incorreta a respeito do trecho transcrito.<br />

a. O trecho se refere ao final do poema Morte e vida severina, quando ocorre o nascimento do filho<br />

de Mestre José.<br />

b. A formosura da criança é relacionada não a seu aspecto físico, mas à força da vida que se reafirma<br />

em condições adversas.<br />

c. O recém-nascido é louvado de modo messiânico, pois se reconhece nele a capacidade de alterar no<br />

futuro a condição dos pobres severinos.<br />

d. Na descrição da criança recém-nascida, destacam-se atributos positivos, como a beleza e a alegria,<br />

que são relacionados à esperança que uma nova vida sempre traz.<br />

e. O verso "é tão belo como um sim" constitui um reconhecimento de aspectos positivos, o que<br />

contrasta com a vida dos severinos, caracterizada pela privação, pelas "coisas de não".<br />

04. Sobre Morte e vida severina é possível afirmar que:<br />

a. Por retomar temas relacionados à seca, à fome e a miséria nordestinas, a obra se filia ao 2.o tempo<br />

modernista.<br />

b. O fato de Severino não ver reduzida a sua miséria em Recife reforça a tese de que a condição do<br />

sertanejo é determinada por um sistema social injusto e não somente pelo clima árido, hostil à vida<br />

humana.<br />

c. A obra divulga a idéia de que a migração interna brasileira é resultado da necessidade, imposta pelo<br />

Capitalismo, de mão-de-obra nas capitais.<br />

d. Destaca-se na obra a fala sertaneja, com o que ela revela de particular e exótico.<br />

e. Na história de Severino, o poeta manifesta a sua visão pessimista em relação à possibilidade de o<br />

homem livrar-se das forças determinadas pelo meio geográfico.


05. Em Morte e vida severina, há trechos de verdadeiro humor negro, pois o autor se vale da ironia para<br />

ressaltar a condição trágica dos nordestinos pobres. Assinale a alternativa em que se verifica esse<br />

recurso.<br />

a. "Também lá na minha terra<br />

de terra mesmo pouco há;<br />

mas até a calva da pedra<br />

sinto-me capaz de arar."<br />

b. "Decerto a gente<br />

jamais envelhece aos trinta<br />

nem sabe da morte em vida."<br />

c. "Esta covas em que estás<br />

com palmos medida<br />

é a conta menor<br />

que tiraste em vida."<br />

d. "O que me fez retirar<br />

não foi a grande cobiça<br />

o que apenas busquei<br />

foi defender minha vida."<br />

e. "Será de terra<br />

tua derradeira camisa:<br />

te veste, como nunca em vida."<br />

Gabarito<br />

01. Alternativa b.<br />

O poema de João Cabral, por ser um auto, retoma a tradição dramática medieval ibérica,<br />

que foi incorporada às festas populares pernambucanas, desde o século XVI. No entanto, o caráter<br />

religioso, comum na antiga literatura, não se verifica em Morte e vida severina. Ainda que se possa<br />

relacionar as cenas finais às cenas do Presépio católico, o que se ressalta é o poder da vida, que se<br />

reafirma em um ambiente de miséria, de sofrimento, e a denúncia de grave injustiça social. A<br />

mensagem da obra é mais social que religiosa.<br />

02. Alternativa e.<br />

A expressão "serra magra e ossuda" assim como o nome próprio "Costela" traduzem a<br />

íntima relação entre o homem e o meio, como se um refletisse incondicionalmente o outro. Essa<br />

imagens destacam o que há de deformação, brutalidade e miséria na paisagem e podem ser<br />

associadas ao Expressionismo.<br />

A impossibilidade de reconhecer-se como um indivíduo acentua a condição de<br />

depauperado e a idéia de Severino representar todos os sertanejos nordestinos. Não se verificam,<br />

como em Vidas secas, de Graciliano Ramos, associações do protagonista com comportamentos de<br />

animais.


03. Alternativa c.<br />

O recém-nascido é louvado pela força da vida que se inaugura e não se depositam nele<br />

esperanças messiânicas. Não se espera que seja um libertador dos nordestinos pobres, que aponte<br />

caminhos para injustiças sociais e nem mesmo que ele possa se livrar da condição miserável em que<br />

nasceu.<br />

04. Alternativa b.<br />

O interesse por temas relacionados à vida nordestina aproxima Morte e vida severina da<br />

literatura do 2.o tempo modernista, no entanto, o poema é publicado em 1956 e se filia à geração<br />

pós-modernista.<br />

A obra trata da miséria dos nordestinos pobres e interpreta esse problema social como<br />

resultado não só das condições climáticas desfavoráveis da caatinga, mas também da economia rural,<br />

baseada no latifúndio e do sistema capitalista, vigente nas cidades. O fato de Severino migrar para o<br />

litoral não é relacionado à necessidade de mão-de-obra na capital; na verdade, o sertanejo migra, pois<br />

desesperadamente busca sobreviver.<br />

05. Alternativa e.<br />

Afirma-se que a terra servirá de camisa para o lavrador com a intenção de sugerir a idéia<br />

de que a proteção só vem quando o trabalhador não mais necessita dela; a cova, portanto, seria o<br />

acolhimento para um homem sempre abandonado, esquecido durante a vida. Assim, a sugestão é<br />

irônica, já que afirma o contrário do que se quer expressar. Por associar ironia e tragédia, o humor do<br />

trecho pode ser considerado “humor negro”.

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