angélica ricci camargo - ANPUH-SP - XXI Encontro Estadual de ...
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atribuía à comédia o papel prepon<strong>de</strong>rante, em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outros gêneros, <strong>de</strong>vido a sua<br />
maior popularida<strong>de</strong> (LOPES, 2006: 282).<br />
O ataque à crítica que <strong>de</strong>squalificava seu trabalho também não era inédito. Em<br />
Como se faz rir, <strong>de</strong> 1967, Procópio sintetizou o espírito das novas gerações na figura <strong>de</strong><br />
Manequinho Chupa-Ovo:<br />
Manequinho Chupa-Ovo é hoje a maior figura do Teatro Brasileiro. Manequinho<br />
é onisciente e onipotente. Manequinho está em tudo: na crítica, no texto, no<br />
palco. (...) Foi ele quem <strong>de</strong>scobriu Shakespeare e Molière e <strong>de</strong>u a mão a<br />
Piran<strong>de</strong>llo. (...) Manequinho criou cenários originais, fechando e abrindo portas<br />
que não existem. Levou para o palco o palavrão como novida<strong>de</strong> e criou uma<br />
iluminação sui generis. On<strong>de</strong> bate o sol não há luz. On<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve haver sombra o sol<br />
aparece. Criações! Inovações! (FERREIRA apud PRADO, 1993: 86).<br />
De forma diferente, em outros momentos <strong>de</strong> sua autobiografia, e também <strong>de</strong> sua<br />
carreira, Procópio tentou recuperar um pretenso papel <strong>de</strong> precursor da renovação do teatro<br />
no Brasil, como po<strong>de</strong>mos observar neste comentário realizado em 1972, no qual ele busca<br />
uma outra legitimida<strong>de</strong>, baseada nos preceitos dominantes <strong>de</strong>fendidos pela crítica:<br />
Há dias li num anúncio <strong>de</strong> teatro que o ator X tinha sido o renovador da cena<br />
nacional. Isto, além <strong>de</strong> mentira, é ridículo. Essa renovação foi tentada em 1930,<br />
com as peças Nossa vida é uma fita e Segredo <strong>de</strong> Próspero, cenários <strong>de</strong> Di<br />
Cavalcanti e Lula Cardoso Ayres. Os jornais registraram o fato, e o público<br />
aplaudiu com gran<strong>de</strong> entusiasmo. A seguir, surgiu Joracy Camargo com O bobo<br />
do rei, Deus lhe pague, Maria Cachucha e Anastácio (FERREIRA, 2000: 273).<br />
Percebemos, portanto, que a construção da memória que queria perpetuar foi<br />
permeada por lances contraditórios: ele foi o empresário e ator <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> sucesso nas<br />
primeiras décadas do século XX que criticava todas as tentativas intelectualizadas <strong>de</strong><br />
transformação que se distanciavam do público, mas foi também o ator que primeiramente<br />
trouxe temas e aspectos renovadores para o teatro no Brasil, que encenou Molière e aquele<br />
que julgava o dramaturgo brasileiro mais inovador da época, Joracy Camargo.<br />
De um lado ou <strong>de</strong> outro, ele aparecia ocupando um papel importante, um<br />
protagonismo, muito distinto daquele que, na realida<strong>de</strong>, a partir da década <strong>de</strong> 1950, teve<br />
que <strong>de</strong>sempenhar, excursionando por centenas <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s brasileiras com cenários<br />
precários e reduzindo maciçamente o elenco <strong>de</strong> sua companhia com intuito <strong>de</strong> ganhar<br />
Anais do <strong>XXI</strong> <strong>Encontro</strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> História –<strong>ANPUH</strong>-<strong>SP</strong> - Campinas, setembro, 2012.<br />
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