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ana barbara aparecida pederiva - ANPUH-SP - XXI Encontro ...

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Balada Inicial<br />

ESQUENTA: A SOCIABILIDADE DOS JOVENS E O SERTANEJO<br />

UNIVERSITÁRIO<br />

PROFA. DRA. ANA BARBARA AP. PEDERIVA 1<br />

Nesta pesquisa que possui como foco a análise dos jovens, suas formas de<br />

sociabilidade no universo do Sertanejo Universitário, a articulação entre juventude, música e<br />

história foi realizada por meio de um instrumental não ortodoxo sem esquemas e categorias<br />

prévias e fixas que serviriam de apoio ao trabalho, pois o processo de investigação foi<br />

construído no caminho da pesquisa. A idéia não foi de isolar segmentos ou grupos sociais e<br />

sim, <strong>ana</strong>lisá-los inseridos na complexidade da sociedade brasileira.<br />

As fontes documentais e os registros surgiram de variadas formas<br />

como músicas, palavras, imagens, fotografias e textos, e foram incorporadas e <strong>ana</strong>lisadas<br />

como manifestação do ser humano, como trajetória dos jovens (artistas e adeptos), como<br />

expressão da experiência hum<strong>ana</strong>. Compartilhar dessa perspectiva pressupõe pensar a<br />

produção do conhecimento como capaz de apreender e incorporar essas experiências vividas é<br />

pensar nos sujeitos ativos, que traduzem suas experiências como cultura.<br />

Na contemporaneidade muitos jovens 2 consideram-se adeptos da nova música<br />

sertaneja, mais conhecida como “Sertanejo Universitário”. Jovens de diferentes classes<br />

1 Mestre em História Social pela PUC-<strong>SP</strong> e Doutrora em Ciências Sociais pela PUC-<strong>SP</strong>. Professora da<br />

Universidade Cruzeiro do Sul, das Faculdades Integradas Coração de Jesus - FAINC e Professora Colaboradora<br />

do Curso de Lato Sensu História, Sociedade e Cultura da PUC-<strong>SP</strong>.<br />

2 A juventude é um dos estágios da geração e a geração remete à história. Tal geração dá conta do momento<br />

social, define características do processo de socialização, incorporando os códigos culturais de uma determinada<br />

época. Ser integrante de uma geração significa ter nascido e crescido em um determinado período histórico, com<br />

particularidades políticas, sensibilidades e conflitos. Contudo, a geração não é um grupo social, é uma categoria<br />

nominal que, em certo sentido, apresenta afinidades que provêm de outras variáveis e<br />

da conjuntura histórica, estabelecendo condições de probabilidade para a aproximação. Compartilhar dessa<br />

perspectiva pressupõe incorporar as universalidades e, também, as singularidades dos jovens. Assim, os jovens<br />

devem ser <strong>ana</strong>lisados por suas características comuns, universais, mas também, por suas singularidades, ou seja,<br />

sua diversidade de classes sociais, culturais, geográficas e de gênero. Nesse sentido, as análises generalizadoras<br />

de fase da vida, de preparação para entrada no mundo adulto, etapa de aperfeiçoamento, rebeldia, devem ser<br />

incorporadas às análises particularistas.<br />

Anais do <strong>XXI</strong> <strong>Encontro</strong> Estadual de História –<strong>ANPUH</strong>-<strong>SP</strong> - Campinas, setembro, 2012.<br />

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sociais, etnias, gêneros, oriundos de localidades diversas lotam as “baladas” que apresentam<br />

este gênero musical.<br />

[...] Estamos unidos as classes sociais. Se, até algum tempo atrás, o [gênero]<br />

sertanejo era música consumida só pelas classes C, D e E, ele agora chegou ao<br />

público A e B. Todo mundo – rico ou pobre – ouve a mesma coisa. [...]. (MESSIAS;<br />

PRETO, Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/956942 - novos -<br />

sertanejos – viram – trilha – sonora – de – pegacao –em – baladas –a – e – b. shtml,<br />

Acesso em: 06 de maio de 2012)<br />

Poderíamos pensar que é mais uma moda passageira, mais um gênero fabricado pela<br />

Indústria Cultural e que rapidamente desapareceria do mercado fonográfico com a mesma<br />

rapidez que surgiu. Mas, mesmo que isso posteriormente apresente-se como verdade, algumas<br />

questões são importantes para refletirmos sobre a relação História, Música e Juventude. Nesse<br />

sentido, cabe uma apresentação inicial do que vem a ser este “novo gênero musical”.<br />

Analisando as informações oferecidas pela imprensa sobre este novo sertanejo, pode-<br />

se verificar que não há um consenso sobre suas origens e também, uma definição exata sobre<br />

o gênero. Mesmo assim, em muitas reportagens o sertanejo universitário aparece como sendo<br />

o terceiro movimento da música sertaneja brasileira 3 e ainda, que por ser praticada e<br />

consumida por jovens, muitas vezes que cursam uma faculdade, foi considerada “música<br />

universitária”.<br />

Em algumas reportagens a dupla de Mato Grosso do Sul, João Bosco e Vinícius,<br />

aparecem como precursores do movimento, pois iniciaram sua carreira no início de 1990<br />

tocando em bares freqüentados por universitários na capital Campo Grande. Cabe ressaltar<br />

que a própria dupla era composta por estudantes universitários. Neste mesmo contexto, outra<br />

dupla divide as opiniões, pois também são apontados como precursores do movimento, César<br />

Menotti e Fabiano. Segundo César,<br />

[...] quando a gente começou a cantar em Belo Horizonte, nós cantávamos numa<br />

casa noturna na Zona Sul, e lá os universitários abraçaram nosso trabalho e foram os<br />

maiores divulgadores nossos. E até hoje eles são nossos maiores divulgadores.[...].<br />

(Disponível em: http://www.abril.com.br/noticia/diversao/no 307163.shtml de<br />

23/09/2008. Acesso em: 06 de maio de 2012.)<br />

3 Segundo os críticos da imprensa contemporânea, o primeiro movimento de música sertaneja no Brasil pode ser<br />

considerada a música de raiz, que possui como temáticas principais o regionalismo e situações cotidi<strong>ana</strong>s do<br />

homem do campo, o “caipira”. O segundo movimento é o sertanejo romântico, que incluiu em suas letras, além<br />

das vivências do interior, situações cotidi<strong>ana</strong>s do meio urbano e ainda, instrumentos musicais antes utilizados<br />

somente por outros gêneros musicais, como a guitarra elétrica, o baixo elétrico, a bateria, entre outros. Cabe<br />

ressaltar, que para alguns críticos de música e artistas do movimento, os movimentos da música sertaneja podem<br />

ser divididos em 4 fases, são elas: Música Caipira (1930-1950), Música Sertaneja (1970-1980), Sertanejo<br />

Moderno (1980-1990) e Sertanejo Universitário (contemporâneo).<br />

Anais do <strong>XXI</strong> <strong>Encontro</strong> Estadual de História –<strong>ANPUH</strong>-<strong>SP</strong> - Campinas, setembro, 2012.<br />

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A disputa é acirrada, inclusive por parte dos fãs, que tentam mostrar seu carinho<br />

através das mais variadas declarações e ainda, “elegem” suas duplas favoritas como sendo as<br />

“originais”, as “primeiras”, as “precursoras”. Não há consenso.<br />

Hibridismo Musical: A Micareta de Raiz<br />

Analisando as músicas do novo sertanejo, notamos que em muito ele se diferencia do<br />

sertanejo de raiz e também, do sertanejo romântico. O gênero mistura elementos do “Axé<br />

Music”, do Forró, do Samba, do Rock e do Pop, todos gêneros musicais adotados por boa<br />

parte dos jovens brasileiros nas últimas décadas. Esta mescla de ritmos e estilos torna a nova<br />

música mais acelerada e dançante e, segundo a imprensa especializada, o “rítmo de micareta”<br />

é a fórmula do sucesso 4 .<br />

[...] Para o diretor musical do Villa Country (a principal casa do gênero em São<br />

Paulo), Carlos Anhaia, hoje o pessoal está um pouco mais aberto para música<br />

sertaneja, graças à mistura de estilos presentes no sertanejo universitário. Com a<br />

influência de axé, o sertanejo alcançou outra tribo. O pessoal que usa bota (country)<br />

gosta do sertanejo universitário, mas vem muita gente que usa tênis, freqüenta<br />

micareta [...]. (Disponível em: http://www.abril.com.br/noticia/diversao/no<br />

307163.shtml de 23/09/2008. Acesso em: 06 de maio de 2012)<br />

As canções de rimas simples e de fácil memorização, onde muitas vezes notamos uma<br />

aproximação forçada com o linguajar caipira, contam com a participação do público. Essa<br />

interação pode ser explicada pela identificação, pois muitos são os valores e comportamentos<br />

apresentados nas canções, que fazem parte do cotidiano de muitos jovens, universitários ou<br />

não, na atualidade.<br />

Pensando que a música, assim como a fala, a estética e a tecnologia operam como<br />

marcadores culturais das identidades, principalmente no âmbito das culturas juvenis, devemos<br />

refletir sobre a vinculação entre as identidades juvenis e a música à medida que expressam as<br />

4 Para maiores informações ver: Sertanejo universitário atrai público jovem por causa do ritmo de micareta.<br />

Disponível em: http://www.abril.com.br/noticia/diversao/no 307163.shtml de 23/09/2008. Data de Acesso: 06 de<br />

maio de 2012.; As raves do Jeca Tatu. Disponível em: http://veja.abril.com.br/060208/p 102.shtml. Data de<br />

Acesso: 06 de maio de 2012.<br />

Anais do <strong>XXI</strong> <strong>Encontro</strong> Estadual de História –<strong>ANPUH</strong>-<strong>SP</strong> - Campinas, setembro, 2012.<br />

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identidades sociais. Mas, cabe destacar que, na contemporaneidade, o ritmo da sociedade<br />

mudou, tornou-se mais acelerado. Com isso, surgiram novas subjetividades e sensibilidades<br />

nas cidades, novas culturas diversificadas e pluralizadas, desestabilizando as identidades<br />

estáticas, produzindo identidades múltiplas, fragmentadas.<br />

Nas canções, a construção em primeira pessoa fornece a todos que cantam a<br />

possibilidade da subjetivação da mensagem, uma identificação com o compositor, um<br />

sentimento que passa a ser coletivo, ou seja, uma interpretação individual passa a ser uma<br />

sensação geral.<br />

A ironia, o bom humor, as metáforas sexuais e o sarcasmo das canções também são<br />

atrativos para os jovens. Numa análise das canções do novo sertanejo, notou-se que as letras<br />

continuam falando de amor, relacionamentos, noite e mulheres (permanência das temáticas<br />

clássicas da Música Popular Brasileira), mas, alguns assuntos aparecem com muita<br />

freqüência, por exemplo, a bebida relacionada à balada e a noite. Pinga e cachaça e ainda, a<br />

necessidade destas para a diversão e conquistas amorosas, são freqüentes nas canções. A<br />

dupla George Henrique e Rodrigo cantam “[...] Se eu te trai, Não lembro de nada, A culpa é<br />

da cachaça [...]. (GEORGE HENRIQUE E RODRIGO. Culpa da cachaça, 2011(?))<br />

A “balada” como uma “necessidade principal da vida” também é muito cantada por<br />

estes novos artistas, que em boa parte das canções e também em entrevistas, explicam que<br />

toda balada começa com o esquenta, ou seja, os jovens que participam deste universo, antes<br />

de saírem para noite, reúnem-se em casas de amigos, postos de gasolina ou ainda, em bares e<br />

carrinhos de rua, para ingerir bebidas alcoólicas em grande quantidade, para chegar nos shows<br />

e nas casas de espetáculo alterados, “alegres”. Gustavo Lima em “Balada Boa” canta “Eu já<br />

lavei o meu carro, regulei o som, Já tá tudo preparado, vem que o brega é bom [...] Gata me<br />

liga, mais tarde tem balada, Quero curtir com você na madrugada, Dançar pular até o sol raiar<br />

[...](LIMA, Balada boa, 2011 (?)). Jeann e Julio em “Amigos de Balada” falam sobre os<br />

amores de balada e deixam claro que tudo é passageiro na noite “[...] Pare de ligar pra mim de<br />

madrugada, Achando que eu sou seu novo amor, Só porque a gente ficou lá na balada, Você<br />

pode até estar afim mas eu não tô [...](Jeann e Julio, Amigos de balada, 2011 (?)). A balada<br />

também aparece nas canções de Michel Teló como na internacional “Ai Se Eu Te Pego”,<br />

quando ele fala de conquista na balada de sábado (TELÓ, Ai se eu te pego, 2011(?)). Notou-<br />

Anais do <strong>XXI</strong> <strong>Encontro</strong> Estadual de História –<strong>ANPUH</strong>-<strong>SP</strong> - Campinas, setembro, 2012.<br />

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se, portanto, que a maior parte das canções deste novo estilo de música sertaneja, possuem<br />

como temas principais de suas canções a “paquera”, a “balada” e a bebida 5 .<br />

As músicas deste universo podem ser pensadas como “lugares” das práticas juvenis.<br />

Assim, baseando-se em Reguillo, pensa-se que o território musical surge como prática.<br />

[…] La música representa más que una tonada de fondo; se trata de um tesido<br />

complejo al que vinculan sus percepciones políticas, amorosas, sexuales, sociales.<br />

Debe, en este sentido, responder a la experiencia subjetiva del mundo, desde el lugar<br />

social (...) La música es el territorio en el que las tensiones, el conflicto, la angustia<br />

que se deriva del complejo proceso de incorporación social, se aminoram y dan paso<br />

a las primeras experiencias solidarias. (REGUILLO, 2000, p. 44-45.)<br />

Cabe destacar, que não se <strong>ana</strong>lisa a música como um reflexo automático e transparente<br />

da realidade, e, sim, como crônicas da contemporaneidade, como apropriação do mundo e de<br />

seus significados. Nesse sentido, o nomadismo dos jovens, o desapego nas relações pessoais e<br />

a ainda, a fluidez dos relacionamentos amorosos são constantes nas canções.<br />

Observa-se que nas casas noturnas ou “baladas” 6 onde apresentam-se as novas duplas<br />

sertanejas, o público é bem diverso. Em algumas casas os freqüentadores gastam pouco para<br />

freqüentar o ambiente, mas, em outras<br />

[...] O público é formado por jovens de classe média alta, que chegam de carro<br />

importado e gastam no mínimo 200 reais por noite, entre ingresso e consumo de<br />

bebidas. [...].(As raves do Jeca Tatu. Disponível em:<br />

http://veja.abril.com.br/060208/p 102.shtml. Acesso em: 06 de maio de<br />

2012.)<br />

Podemos explicar também que um dos atrativos desta nova música está nas<br />

apresentações das duplas, na performance. Os shows são uma mistura de teatro, dança,<br />

videoclipe e ainda, os novos artistas sertanejos, na maior parte das vezes, vestem-se de forma<br />

5 Algumas canções que apresentam a temática, além das já citadas: Zé Henrique e Gabriel. Caso de balada.; Luiz<br />

Henrique e Fabiano. Tô voltando para balada.; Jean e Julio. Boate faculdade.; Paulo Júnior e Christiano. Fera da<br />

noite.; Rick e Ricardo. Mente me esnoba.; Tony e Renan. Minha cabeça pirou.; Carlinhos e Eder. Bebo pra<br />

passar mal.; Rodrigo e Rogério. Bebo e faço merda.; Gino e Geno. Bebo PA carai.; Rick e Renner. Ressaca<br />

braba.; Gino e Geno. Nóis enverga mais não quebra., entre muitas outras do gênero.<br />

6 Numa pesquisa realizada com a utilização da internet (sites de busca) em 03 de janeiro de 2012, com as<br />

seguintes palavras de busca “bar + sertanejo universitário” foram localizados 23.800 resultados e ainda com as<br />

palavras “rádio + sertanejo universitário”, localizou-se aproximadamente 676.000 resultados.<br />

Anais do <strong>XXI</strong> <strong>Encontro</strong> Estadual de História –<strong>ANPUH</strong>-<strong>SP</strong> - Campinas, setembro, 2012.<br />

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comum aos jovens freqüentadores do lugar, moderna, ou seja, a maioria deles não utiliza mais<br />

botas, chapéus, fivelas.<br />

Antenado com as novas Tecnologias da Informação e da Comunicação, o novo<br />

sertanejo também é palco de acirradas discussões nas redes sociais (Orkut, Facebook, entre<br />

outras). As discussões são entre adeptos do movimento e jovens que se identificam com<br />

outros gêneros musicais, mas também, entre os adeptos que tentam explicar as origens e a tal<br />

“fórmula do sucesso”. Os próprios artistas do movimento utilizam-se das redes para um<br />

contato direto com seu público. Novas estratégias de marketing.<br />

Segundo Martín-Barbero (s.d.), o mercado transformou o jovem num paradigma do<br />

moderno, como permanente novidade, ou seja, por um lado, a juventude é convertida em<br />

sujeito de consumo de roupas, música, refrescos, de parafernália tecnológica e, de outro, esse<br />

mesmo jovem se produz mediante uma gigantesca e sofisticada estratégia publicitária que<br />

transforma as novas sensibilidades em matéria-prima de suas experimentações narrativas e<br />

audiovisuais, como a fragmentação do discurso e a aceleração das imagens.<br />

As rádios utilizando o velho telefone, mas também, a internet e as redes sociais,<br />

“recrutam” adeptos para o estilo através de prêmios que variam de ingressos para shows, CDs,<br />

camisetas, jantares com os ídolos etc. Algumas rádios especializaram-se no gênero como em<br />

São Paulo, que podemos destacar a Nativa FM, a Band FM e a Tupi FM. Nestas três rádios, as<br />

10 músicas mais pedidas pelos ouvintes são de artistas do Sertanejo Universitário 7 .<br />

Alexandre Schiavo, presidente da Sony, explica que o novo sertanejo obtém 40% do<br />

faturamento da gravadora em vendagem de discos e shows e ainda, para ele “[...] O sertanejo<br />

é a verdadeira música popular do Brasil. É o gênero mais ouvido e comercializado hoje no<br />

país. [...]” (BITTENCOURT, 2010). Nesta mesma linha, José Antonio Éboli, presidente da<br />

Universal afirma que “[...] O sertanejo é hoje o artista que mais faz show no Brasil. Quando<br />

uma dupla estoura, chega a fazer quase uma apresentação por dia.[...]” (BITTENCOURT,<br />

2010).<br />

Fim da Balada<br />

Apesar das diferentes e particulares contribuições dos jovens para as transformações<br />

que ocorrem nas sociedades e, também, no campo artístico, a universalidade dos sujeitos pode<br />

7 Pesquisa realizada utilizando a internet nas páginas das rádios citadas em 03 de janeiro de 2012.<br />

Anais do <strong>XXI</strong> <strong>Encontro</strong> Estadual de História –<strong>ANPUH</strong>-<strong>SP</strong> - Campinas, setembro, 2012.<br />

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ser percebida através do imaginário social que ajudam a construir, não somente pelas músicas,<br />

mas por toda uma experiência de ações e atitudes: roupas, cabelos, ideologias ou falta delas,<br />

sugerindo padrões de comportamento e contribuindo para definir estereótipos, que se<br />

compõem como combinação de tipos e valores articulados ao processo de produção de<br />

subjetividade de contexto histórico e social, padrões que, efetivamente, circulam pela<br />

sociedade brasileira.<br />

Apesar de aparentemente algumas músicas deste novo sertanejo parecer apresentar<br />

quebra ou questionamento de tabus sociais, ao contrário do que se pode imaginar, apesar de<br />

tantas “novidades”, percebe-se que em algumas canções, reportagens e depoimentos, na maior<br />

parte das vezes, os jovens adeptos ou participantes do movimento musical não trazem<br />

comportamentos modernos ou emergentes, e sim, resquícios conservadores.<br />

Apesar de todas as críticas recebidas por especialistas e também, por boa parte da<br />

população brasileira, o novo Sertanejo Universitário aponta para algumas reflexões que são<br />

importantes. Por que os jovens identificam-se com as temáticas das músicas e também, com a<br />

mistura de gêneros encontrada nesta nova música? Como essas canções voltaram a ganhar<br />

destaque nas capitais das grandes cidades e deixaram de ser exclusivas de migrantes<br />

saudosistas e nostálgicos? A diversão na atualidade só é possível se estiver relacionada ao<br />

consumo exagerado de álcool? A exaltação da fluidez nas relações pessoais é uma<br />

característica somente dos jovens? Quando estes “universitários” irão se formar?<br />

Não se pretende aqui encerrar a discussão e sim, lançar luz a questões importantes do<br />

contemporâneo, pois o Sertanejo Universitário, assim como outros gêneros musicais adotados<br />

pelos jovens, ao envolver diferentes representações, leva à compreensão de como uma parcela<br />

da juventude busca a constituição de sua identidade, de grupo e individual, possibilitando a<br />

percepção, análise e compreensão das transformações que esses jovens passaram ou estão<br />

passando, desenvolvendo suas práticas sociais e, tendo como um dos elementos marcantes, o<br />

polimorfismo, isto é, a disponibilidade para assumir configurações multifacetadas. Desse<br />

modo, a pesquisa teve por intenção participar do debate da História sobre música e juventude,<br />

das contradições, da pluralidade, ou seja, acrescentar mais um olhar sobre o assunto. Buscou-<br />

se se distanciar das sedimentações, das cristalizações e dos preconceitos, apresentando uma<br />

pequena contribuição para tal debate, que ainda possui muitos aspectos a serem <strong>ana</strong>lisados.<br />

Referências<br />

Anais do <strong>XXI</strong> <strong>Encontro</strong> Estadual de História –<strong>ANPUH</strong>-<strong>SP</strong> - Campinas, setembro, 2012.<br />

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