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aspectos da linguagem em Grande sertão - FALE - UFMG

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Belo Horizonte, p. 1-356.<br />

Disponível <strong>em</strong>: http://www.letras.ufmg.br/poslit<br />

Do inferno ao paraíso<br />

Depois <strong>da</strong> guerra infernal contra os sol<strong>da</strong>dos de Zé Bebelo, do<br />

fatídico julgamento e <strong>da</strong> parti<strong>da</strong> do coman<strong>da</strong>nte vencido para o exílio <strong>em</strong><br />

Goiás, a narrativa de Riobaldo alcança um r<strong>em</strong>anso:<br />

A Guararavacã do Guaicuí: o senhor tome nota deste nome. [...] Mas foi<br />

neste lugar, no t<strong>em</strong>po dito, que meus destinos foram fechados. Será que<br />

t<strong>em</strong> um ponto certo, dele a gente não podendo mais voltar para trás?<br />

Travessia de minha vi<strong>da</strong>. Guararavacã – o senhor veja, o senhor escreva. As<br />

grandes coisas, antes de acontecer<strong>em</strong> (Rosa, 1967: 220).<br />

Foi na Guararavacã, lugar que, segundo o narrador, deixou de<br />

existir, que Riobaldo tomou consciência <strong>da</strong> natureza de seus sentimentos <strong>em</strong><br />

relação a Diadorim:<br />

O nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu <strong>em</strong> mim. Me abracei<br />

com ele. Mel se sente é todo lambente – “Diadorim, meu amor...” Como era<br />

que eu podia dizer aquilo? (Rosa, 1967: 221).<br />

Nesse momento breve, <strong>em</strong> que o traço épico <strong>da</strong> guerra cede<br />

lugar ao lirismo <strong>da</strong> paixão, a narrativa se distende, o ritmo cai, e “rompe”,<br />

“arrebenta” o rio represado de imagens poéticas e sonori<strong>da</strong>des, repletas de<br />

doçura e liga<strong>da</strong>s à natureza, adormeci<strong>da</strong>s até então no estrepitar do combate,<br />

como dormi<strong>da</strong>s haviam permanecido as <strong>em</strong>oções:<br />

O que sei, tinha sido o que foi: no durar <strong>da</strong>queles antes meses, de estropelias<br />

e guerras, no meio de tantos jagunços, e quase s<strong>em</strong> espairecimento nenhum,<br />

o sentir tinha estado s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> mim, mas amortecido, rebuçado. Eu tinha<br />

gostado <strong>em</strong> dormência de Diadorim, s<strong>em</strong> mais perceber, no fofo dum<br />

costume. Mas, agora, manava <strong>em</strong> hora, o claro que rompia, rebentava<br />

(Rosa, 1967: 221).<br />

É assim que, durante o episódio, a <strong>linguag<strong>em</strong></strong> acompanha o<br />

movimento do texto, instaurando padrões diferentes. Do ponto de vista do<br />

léxico, os neologismos, apesar de numerosos nas sete páginas (dois meses,<br />

no t<strong>em</strong>po <strong>da</strong> narrativa) que cobr<strong>em</strong> a esta<strong>da</strong> na Guararavacã, quase “<strong>em</strong>patam”,<br />

<strong>em</strong> número, com as chama<strong>da</strong>s derivações impróprias ou conversões, seguidos<br />

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