aspectos da linguagem em Grande sertão - FALE - UFMG
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Belo Horizonte, p. 1-356.<br />
Disponível <strong>em</strong>: http://www.letras.ufmg.br/poslit<br />
Mais do que a análise lúci<strong>da</strong> de alguns procedimentos formais<br />
adotados pelo escritor <strong>em</strong> Primeiras estórias, porém, o melhor do texto de<br />
Rónai consiste justamente nas ressalvas que faz ao método crítico que ele<br />
mesmo adotou ali. Depois de proceder a um levantamento consideravelmente<br />
detalhado <strong>da</strong>s inovações lingüísticas de Rosa, ele adverte: “os processos<br />
estilísticos do autor não dev<strong>em</strong> ser avaliados fora do clima de intencionali<strong>da</strong>de<br />
que lhes cabe no contexto” (Rónai, 1968: lii), ou seja, no interior de ca<strong>da</strong><br />
narrativa, sob pena de, no esforço crítico, se “<strong>em</strong>palhar<strong>em</strong>” ou mumificar<strong>em</strong><br />
significados moventes e cambiantes para ca<strong>da</strong> situação. Um pouco antes, a<br />
respeito <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> que fará na seqüência, o crítico diz:<br />
Nas considerações seguintes, tenta-se não a catalogação dos recursos<br />
estilísticos manejados no presente volume (e que <strong>da</strong>ria outro volume), e<br />
sim, apenas, a indicação ex<strong>em</strong>plifica<strong>da</strong> <strong>da</strong>s tendências a que correspond<strong>em</strong>.<br />
Não se ignora o risco deste trabalho: os espécimes montados <strong>em</strong> alfinete<br />
com fins de coleção, rígidos e murchos, pod<strong>em</strong> parecer meras esquisitices<br />
e até monstruosi<strong>da</strong>des, por mais que vicej<strong>em</strong> e resplandeçam no contexto<br />
de seu ambiente natural, vitalizando-o e animando-o” (Rónai, 1968: XLII)<br />
A advertência pode ser toma<strong>da</strong>, aqui, como direção a ser segui<strong>da</strong>:<br />
<strong>em</strong> meu levantamento dos recursos formais e estilísticos de Rosa <strong>em</strong> <strong>Grande</strong><br />
<strong>sertão</strong>: vere<strong>da</strong>s, procurei verificar como a palavra vale no seu contexto, e não<br />
fora dele. Assim, se as palavras inventa<strong>da</strong>s e seus processos de composição<br />
pod<strong>em</strong> ter significados mais ou menos comuns <strong>em</strong> diferentes situações<br />
discursivas, palavras e processos necessariamente constro<strong>em</strong> a significação<br />
dentro de ca<strong>da</strong> texto, e interpretá-las deste modo, <strong>em</strong> sua relação com o todo<br />
de que faz<strong>em</strong> parte, e não com um suposto universo exterior a elas, é que<br />
deve constituir, <strong>em</strong> minha opinião, o esforço maior <strong>da</strong> crítica.<br />
Na seqüência dessas abor<strong>da</strong>gens, às quais as observações<br />
seguintes muito dev<strong>em</strong>, minha leitura pessoal dos <strong>aspectos</strong> de <strong>linguag<strong>em</strong></strong> <strong>em</strong><br />
<strong>Grande</strong> <strong>sertão</strong>: vere<strong>da</strong>s parte do princípio de que o autor não apenas<br />
privilegiou, nesse romance, alguns processos de criação verbal <strong>em</strong> detrimento<br />
de outros, conforme as necessi<strong>da</strong>des expressivas dessa narrativa <strong>em</strong> particular,<br />
como também de que pod<strong>em</strong> ser encontra<strong>da</strong>s diferenças significativas de<br />
criação de <strong>linguag<strong>em</strong></strong> entre as partes desse mesmo texto, de acordo com as<br />
características estruturais que lhe são próprias e que vão estabelecendo seu<br />
sentido mais geral.<br />
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