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aspectos da linguagem em Grande sertão - FALE - UFMG

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O eixo e a ro<strong>da</strong>: v. 12, 2006<br />

Disponível <strong>em</strong>: http://www.letras.ufmg.br/poslit<br />

através <strong>da</strong> natureza delica<strong>da</strong> e exuberante <strong>da</strong> Guararavacã, está encoberta<br />

pela noção do desvio, do amor proibido entre dois homens:<br />

“Se é o que é” – eu pensei – “eu estou meio perdido...” Acertei minha idéia:<br />

eu não podia, por lei de rei, admitir o extrato <strong>da</strong>quilo. Ia, por paz de honra<br />

e tenência, sacar esquecimento <strong>da</strong>quilo de mim. Se não, pudesse não, ah,<br />

mas então eu devia de quebrar o morro: acabar comigo! – com uma bala no<br />

lado de minha cabeça, eu num átimo punha barra <strong>em</strong> tudo (Rosa, 1967: 222).<br />

O pequeno ex<strong>em</strong>plo do prefixo des- deixa entrever a dialética<br />

cerra<strong>da</strong> que compõe o texto de Rosa, <strong>em</strong> que o bom se transforma <strong>em</strong> seu<br />

contrário e <strong>em</strong> que o mal se descobre <strong>em</strong> b<strong>em</strong>, até que, por fim, se apresente<br />

uma terceira e nova ord<strong>em</strong>, s<strong>em</strong> Hermógenes e s<strong>em</strong> Diadorim, s<strong>em</strong> jagunços<br />

e s<strong>em</strong> <strong>sertão</strong>. Neste sentido, Diadorim é o exato contrário do Hermógenes, a<br />

des-mistura:<br />

Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, s<strong>em</strong> perigo de<br />

ódio, se a gente t<strong>em</strong> amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um<br />

descanso na loucura. Deus é que me sabe. O Reinaldo era Diadorim – mas<br />

Diadorim era um sentimento meu (Rosa, 1967: 236).<br />

Entre as derivações sufixais, mais abun<strong>da</strong>ntes que as prefixais<br />

no trecho, encontram-se formas como atrasamento, varjaria, vigiação,<br />

quebreira, repartimento, pin<strong>da</strong>ibal, formosuramente, renovame e sapal, que<br />

chamam a atenção por apresentar<strong>em</strong> radicais e sufixos relativamente correntes<br />

na língua (atras-ar, vigi-ar, repart-ir, sap-o; -mento; -ação, -al, etc.) que se<br />

combinam <strong>em</strong> resultados surpreendentes e originais (de novo, a mistura),<br />

talvez para expressar, de modo enfático, a curiosa e amedrontadora fusão<br />

hom<strong>em</strong>-mulher <strong>em</strong> Diadorim. Além disso, percebe-se a tendência à formação<br />

de substantivos a partir de verbos, o que r<strong>em</strong>ete a um universo originado nas<br />

ações humanas, no qual as próprias atitudes de Diadorim, que, na ver<strong>da</strong>de,<br />

constituíam seu ser encoberto, se b<strong>em</strong> observa<strong>da</strong>s pelo inseparável Tatarana,<br />

talvez tivess<strong>em</strong> sido decodifica<strong>da</strong>s de outro modo.<br />

Também chamam a atenção no episódio certas composições<br />

bastante originais, por combinação ou justaposição, as quais parec<strong>em</strong> r<strong>em</strong>eter<br />

também ao caráter compósito, masculino e f<strong>em</strong>inino, do jagunço Reinaldo.<br />

Entre outros, são ex<strong>em</strong>plos desse tipo de neologismo os termos de tapa-<br />

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