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O Livro de Walachai - TV Escola

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trabalha. Escrever a história <strong>de</strong> Javé e salvá-la do afogamento é sua oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> se redimir. E a re<strong>de</strong>nção parece ter que se dar justamente aflorando seu lado<br />

mais con<strong>de</strong>nável. "Bendita Geni", pois é justamente a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Biá <strong>de</strong><br />

aumentar as histórias que traz à tona o papel do historiador interferindo na<br />

História, reunindo relatos, selecionando-os, conectando-os <strong>de</strong> forma<br />

compreensível.<br />

Na coleta do primeiro relato "javélico", Biá diz à sua "fonte": "uma coisa é o<br />

fato acontecido, outra é o fato escrito". Esse pequeno conjunto <strong>de</strong> elementos já é<br />

suficiente para apontar a isenção e a imparcialida<strong>de</strong> impossíveis à História e ao<br />

historiador. O filme se <strong>de</strong>senrola com a difícil tarefa para Biá: reunir uma história a<br />

partir <strong>de</strong> cinco versões diferentes - uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fragmentos, memórias<br />

incompatíveis entre si. O personagem se vê entre essa impossibilida<strong>de</strong> e um<br />

futuro/progresso <strong>de</strong>struidor e irremediável.<br />

Nas várias versões, os heróis são alterados conforme o narrador. Assim, na<br />

versão relatada por uma mulher do povoado, a gran<strong>de</strong> heroína entre os<br />

fundadores <strong>de</strong> Javé é Maria Dina. Na versão <strong>de</strong> um morador negro, o herói<br />

principal também é negro e chama-se Indalêo. Assim, ao mesmo tempo em que o<br />

filme nos diz da interferência do narrador na história, também fala sobre os<br />

excluídos da "história oficial" (a dos livros didáticos).<br />

Na narração sobre Indalêo, surge a oralida<strong>de</strong> da memória - como praticada<br />

por culturas milenares. O narrador negro canta a história em seu dialeto africano,<br />

quase num êxtase profético, que nos remete tanto aos gregos como aos xamãs.<br />

As divisas cantadas, que são as fronteiras <strong>de</strong> Javé pronunciadas em canto,<br />

também são um outro exemplo da aparição <strong>de</strong>sse elemento no filme. O canto<br />

<strong>de</strong>marca uma terra (Javé), que está sendo disputada, e é o canto que legitima sua<br />

posse, não um documento escrito. Da mesma forma, são as versões orais que<br />

po<strong>de</strong>m tornar esse espaço <strong>de</strong> terra patrimônio histórico. De forma sintética, todo o<br />

filme fala <strong>de</strong> uma disputa entre a história oficial e aqueles excluídos <strong>de</strong>ssa história,<br />

assim como, entre a oralida<strong>de</strong> e a escrita.<br />

Em outro momento, uma das moradoras <strong>de</strong> Javé argumenta perante uma<br />

câmera digital que a hidrelétrica não po<strong>de</strong>ria ser construída lá on<strong>de</strong> estavam<br />

enterrados seus antepassados e seus filhos que morreram. Eles não po<strong>de</strong>riam<br />

ficar embaixo d'água. De forma sutil, a cena introduz no filme essa questão<br />

fundamental do patrimônio imaterial, a cultura, e os laços diversos que po<strong>de</strong>m<br />

existir com um pedaço <strong>de</strong> terra. A cena remete ao filme <strong>de</strong> Werner Herzog, On<strong>de</strong><br />

sonham as formigas ver<strong>de</strong>s (1983), no qual também trava-se uma disputa em<br />

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