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O Livro de Walachai - TV Escola

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Resumo<br />

O <strong>Livro</strong> <strong>de</strong> <strong>Walachai</strong><br />

Documentário brasileiro dirigido por Rejane Zilles e filmado em 2006, com<br />

duração <strong>de</strong> 15 minutos. O livro <strong>de</strong> <strong>Walachai</strong> (pronuncia-se valarrai) apresenta a<br />

vida <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> imigrantes alemães no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />

Perpassando o cotidiano <strong>de</strong> pequenos agricultores, o filme busca resgatar<br />

aspectos históricos <strong>de</strong>sta comunida<strong>de</strong>, como os conflitos gerados pela<br />

obrigatorieda<strong>de</strong> do ensino <strong>de</strong> português em uma comunida<strong>de</strong> formada quase que<br />

exclusivamente por alemães. O ponto central do filme é a vida e a atuação do<br />

professor Benno Wending, que, além <strong>de</strong> ter sido o principal professor do povoado<br />

por mais <strong>de</strong> quatro décadas, reconstituiu a história da comunida<strong>de</strong> em um livro<br />

com mais <strong>de</strong> 400 páginas escritas à mão. Este curta-metragem po<strong>de</strong> ser uma<br />

ótima oportunida<strong>de</strong> para discutir com a turma os conceitos <strong>de</strong> história e memória.<br />

A importância dos moradores idosos e a insistência do professor Wending em<br />

registrar e reconstruir a trajetória <strong>de</strong>sta comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> imigrantes são exemplos<br />

muito fortes da importância da história para a construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> local e<br />

regional.<br />

Palavras-chave<br />

Memória, História local, Imigração Alemã, Registros históricos, Fontes<br />

históricas.<br />

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Nível <strong>de</strong> ensino<br />

Ensino Fundamental (final).<br />

Componente curricular<br />

História.<br />

Disciplinas relacionadas<br />

Língua Portuguesa.<br />

Diversida<strong>de</strong> Cultural.<br />

Aspectos relevantes do ví<strong>de</strong>o<br />

A introdução e o início do filme giram em torno do livro que o professor<br />

Benno Wending escreveu recuperando a história do povoado <strong>de</strong> <strong>Walachai</strong>.<br />

Imagens da grafia capuidadosa, bem elaborada do professor e <strong>de</strong> diversas<br />

fotografias que ele juntou ao livro são sucedidas pela imagem do próprio professor<br />

lendo o início do seu livro com ajuda <strong>de</strong> uma lupa.<br />

A diretora do documentário procura realizar uma apresentação do cotidiano<br />

do povoado com <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> moradores idosos e imagens do trabalho e da<br />

casa <strong>de</strong> agricultores. Em tais <strong>de</strong>poimentos, são <strong>de</strong>stacados os esforços do<br />

professor Benno para realizar sua “pesquisa” e escrever o livro, ao mesmo tempo<br />

em que trabalhava “na roça” (o Professor Benno resolveu se <strong>de</strong>dicar ao livro após<br />

sua aposentadoria, mas nunca <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> trabalhar no campo).<br />

Entre os <strong>de</strong>poimentos, há o reencontro do professor Benno com um ex-<br />

aluno que teve aulas com ele na década <strong>de</strong> 40, ainda durante a Segunda Guerra<br />

Mundial. É o mote para que o filme abor<strong>de</strong> a questão da proibição <strong>de</strong> se ensinar e<br />

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falar alemão nas escolas brasileiras durante a Guerra (legislação criada no<br />

governo Vargas no contexto do conflito com as potências do Eixo). Há cenas <strong>de</strong><br />

reconstituição da sala <strong>de</strong> aula do professor Benno que <strong>de</strong>monstram, ao mesmo<br />

tempo, a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se cumprir tal legislação em um povoado formado quase<br />

que exclusivamente por alemães e seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes e a serieda<strong>de</strong> com que<br />

esta questão era tratada pelo professor (com uma cena que sugere castigo físico<br />

para um aluno que <strong>de</strong>scumpriu a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> não falar alemão).<br />

O documentário trata ainda da percepção que os moradores <strong>de</strong> <strong>Walachai</strong><br />

têm do livro escrito pelo Professor Benno. Embora muitos afirmem não terem lido<br />

o livro, fica evi<strong>de</strong>nte o respeito e o orgulho que os moradores têm pela obra. O<br />

próprio Professor Benno também trata da importância do livro. Reconhece, com<br />

humilda<strong>de</strong>, que se o livro não for preservado, a história <strong>de</strong> <strong>Walachai</strong> (ou gran<strong>de</strong><br />

parte <strong>de</strong>la) ten<strong>de</strong> a <strong>de</strong>saparecer.<br />

O documentário se encerra com mais imagens do impressionante trabalho<br />

literário e histórico do professor Benno Wending, que ainda canta uma música<br />

utilizada nos seus tempos <strong>de</strong> regente <strong>de</strong> turma.<br />

Duração da ativida<strong>de</strong><br />

Dez aulas.<br />

O que o aluno po<strong>de</strong>rá apren<strong>de</strong>r com esta aula<br />

Estabelecer as relações entre memória e história.<br />

Reconhecer a importância da memória para a preservação da história local<br />

e regional.<br />

Aprofundar as noções <strong>de</strong> fonte história e método histórico.<br />

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Associar a história do local on<strong>de</strong> mora ou estuda ao processo histórico mais<br />

amplo (regional ou nacional).<br />

Contribuir para a construção da sua própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> histórica, do bairro e<br />

da escola on<strong>de</strong> estuda.<br />

Conhecimentos prévios que <strong>de</strong>vem ser trabalhados pelo<br />

professor com o aluno<br />

Os alunos <strong>de</strong>vem ter discutido previamente os conceitos <strong>de</strong> História e<br />

Memória, assim como <strong>de</strong>vem ter iniciado o trabalho com fontes históricas e a<br />

reflexão sobre o método <strong>de</strong> trabalho do historiador. Isso ajudará no momento do<br />

planejamento da ativida<strong>de</strong>, já que os alunos precisarão ter algum parâmetro para<br />

<strong>de</strong>cidir quem, on<strong>de</strong> e quando realizarão sua pesquisa histórica.<br />

Também seria interessante se o professor recuperasse alguns elementos<br />

da história mais próxima possível da vida dos alunos (cida<strong>de</strong>, bairro, rua, etc), no<br />

sentido <strong>de</strong> oferecer aos alunos um quadro on<strong>de</strong> suas histórias estarão integradas.<br />

Estratégias e recursos da aula/<strong>de</strong>scrição das ativida<strong>de</strong>s<br />

Nossa proposta <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> para o documentário O <strong>Livro</strong> <strong>de</strong> <strong>Walachai</strong> é<br />

resgatar a história da rua, do bairro, da região ou mesmo da escola on<strong>de</strong> os<br />

alunos estudam/vivem. Trata-se <strong>de</strong> repetir, em menor escala, o fascinante trabalho<br />

realizado pelo Professor Benno Wending: recuperar e registrar a história local.<br />

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Aulas 1 e 2: exibição e <strong>de</strong>bate sobre o ví<strong>de</strong>o.<br />

O professor <strong>de</strong>ve exibir o ví<strong>de</strong>o, lembrando-se <strong>de</strong> explicar o contexto<br />

regional e histórico tratados. A imigração Alemã no século XIX, a Segunda Guerra<br />

Mundial (os lados do conflito e a posição do Brasil) <strong>de</strong>vem ser tratadas sem<br />

gran<strong>de</strong> aprofundamento, chamando atenção para as especificida<strong>de</strong>s que explicam<br />

o isolamento daquela comunida<strong>de</strong> e os conflitos gerados pela proibição <strong>de</strong> falar e<br />

ensinar alemão naquele contexto.<br />

Aula 3: motivação para a ativida<strong>de</strong>.<br />

O professor <strong>de</strong>ve investigar se os alunos sabem alguma história do bairro<br />

on<strong>de</strong> vivem ou on<strong>de</strong> estudam, se conhecem alguma história local “antiga” e se<br />

conhecem pessoas que saibam <strong>de</strong> mais histórias. O professor po<strong>de</strong> ainda<br />

conversar com os alunos sobre a importância <strong>de</strong> registrar a história local e sobre o<br />

interesse <strong>de</strong>les em realizar tal tarefa. Como fazer? Quais as dificulda<strong>de</strong>s que eles<br />

encontrariam? Os alunos po<strong>de</strong>m ainda ser incentivados a pensar a respeito em<br />

casa para retornar com i<strong>de</strong>ias que resolvam as questões levantadas.<br />

Aulas 4 e 5: planejamento.<br />

O professor <strong>de</strong>ve retomar a discussão anterior com os alunos, discutir as<br />

i<strong>de</strong>ias que trouxeram para a ativida<strong>de</strong> e preparar o “trabalho <strong>de</strong> campo”. A divisão<br />

das tarefas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá muito das características <strong>de</strong> cada local que será<br />

pesquisado, mas a turma po<strong>de</strong> ser dividida em grupos e cada grupo ficar<br />

responsável por uma localida<strong>de</strong> específica (rua, praça, etc) ou por um caminho<br />

específico para se reconstruir a história (entrevistas com os mais idosos, pesquisa<br />

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em biblioteca ou arquivos, busca <strong>de</strong> obras que tratem do assunto, etc.). Nesse<br />

caso, o importante é que o planejamento seja coletivo.<br />

Trabalho <strong>de</strong> Campo (a ser realizado fora do horário <strong>de</strong> aulas formais).<br />

Os alunos <strong>de</strong>vem então começar o trabalho: realizar as entrevistas, buscas<br />

e pesquisas, lembrando-se <strong>de</strong> registrar tudo, com ajuda do material disponível:<br />

ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> campo, filmadora, máquina fotográfica digital ou gravador.<br />

final.<br />

Aulas 6 e 7: apresentação do material bruto e <strong>de</strong>finição do projeto<br />

Cada grupo <strong>de</strong>ve apresentar para a turma tudo o que conseguiu recuperar<br />

e registrar, contando ainda suas impressões sobre o processo (dificulda<strong>de</strong>s,<br />

angústias, alegrias). Neste momento, o professor po<strong>de</strong> aproveitar para comparar a<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>les com o trabalho <strong>de</strong> pesquisa dos historiadores “acadêmicos”.<br />

Muitas dificulda<strong>de</strong>s vividas por eles são constantemente enfrentadas por todo<br />

historiador que se arrisca com os arquivos e entrevistas. Nestas aulas também<br />

<strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>finido o “produto final” do processo: um livro (como aquele feito pelo<br />

professor Benno no documentário), um ví<strong>de</strong>o, uma exposição, um almanaque, etc.<br />

Os alunos <strong>de</strong>vem se sentir construtores da i<strong>de</strong>ia e cada uma <strong>de</strong>las requer um<br />

conjunto <strong>de</strong> condições concretas que precisam ser avaliadas neste momento.<br />

Aulas 8 e 9: apresentação final.<br />

Os alunos <strong>de</strong>vem então apresentar o trabalho para toda escola, se possível<br />

com a presença da comunida<strong>de</strong> que foi objeto da pesquisa. É muito importante<br />

que as pessoas que foram entrevistas ou emprestaram seus acervos pessoais<br />

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(além dos funcionários das bibliotecas ou arquivos visitados) sejam valorizadas<br />

com cópias dos trabalhos e convites para a apresentação final, que po<strong>de</strong> significar<br />

um evento significativo para a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e autoestima da comunida<strong>de</strong><br />

representada.<br />

Aula 10: avaliação do processo.<br />

Mais uma vez, o professor <strong>de</strong>ve retomar todo o processo feito e discutir as<br />

dificulda<strong>de</strong>s e surpresas encontradas pelo caminho. Esse processo é<br />

imprescindível para que os alunos consigam fazer a transposição <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong><br />

concreta para a compreensão dos conceitos <strong>de</strong> memória e história, assim como<br />

compreendam que cada lugar tem uma história viva e muito importante.<br />

Questões para discussão<br />

1. Há um interessante texto sobre o documentário O <strong>Livro</strong> <strong>de</strong> <strong>Walachai</strong>,<br />

publicado na Revista <strong>de</strong> História da Biblioteca Nacional:<br />

http://www.revista<strong>de</strong>historia.com.br/v2/home/?go=<strong>de</strong>talhe&id=1705<br />

Ele contém uma série <strong>de</strong> informações sobre a região, sobre a<br />

história <strong>de</strong> <strong>Walachai</strong>, sobre a trajetória do filme, além <strong>de</strong> uma<br />

reflexão sobre o sentido <strong>de</strong>ste documentário:<br />

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<strong>Walachai</strong> entra no mapa<br />

por Lorenzo Aldé<br />

Quando se mudou com os pais para Novo Hamburgo, aos 9 anos, Rejane<br />

Zilles mal falava português. Era chamada pelos colegas <strong>de</strong> “alemoa batata” e<br />

odiou a nova vida. Tudo o que queria era voltar para <strong>Walachai</strong>. Sua terra natal<br />

ficava a menos <strong>de</strong> 40 quilômetros <strong>de</strong> distância. Mas era, literalmente, outro<br />

mundo. E ainda é.<br />

<strong>Walachai</strong> (pronuncia-se “valarrai”) significa, em alemão, “lugar distante <strong>de</strong><br />

tudo”. Não ganhou este nome à toa. Localizada em um pequeno vale entre serras,<br />

a comunida<strong>de</strong> surgiu em 1829, época em que as primeiras levas <strong>de</strong> imigrantes<br />

alemães chegavam ao Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Seu fundador foi Mathias Mombach,<br />

que a<strong>de</strong>rira à guarda pessoal <strong>de</strong> Napoleão <strong>de</strong>pois que o imperador francês invadiu<br />

a Alemanha, e viu-se pobre e sem emprego, em um país arrasado, quando<br />

terminou aquele período <strong>de</strong> guerras. Como tantos outros, aceitou a oferta <strong>de</strong> terra<br />

gratuita no distante Brasil. Ao chegar, foi o único que ousou transpor o morro <strong>de</strong><br />

Dois Irmãos, atrás do qual se ofereciam lotes maiores, apesar <strong>de</strong> quase<br />

inacessíveis. Por duas décadas morou sozinho por lá, com sua numerosa famílias<br />

e <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> cachorros (para protegê-los dos ataques <strong>de</strong> indígenas, ou bugres).<br />

Aos poucos chegaram outros imigrantes, mas o isolamento fez <strong>de</strong> <strong>Walachai</strong><br />

um lugar parado no tempo. Sem nem sinal da presença do estado, aquele<br />

povoado tratou <strong>de</strong> se organizar por conta própria. Construiu igrejas e escolas,<br />

produzia os próprios alimentos (principalmente batata) e tornou-se autossuficiente<br />

graças aos mestres artesãos: moleiros, sapateiros, costureiras e ferreiros. Na falta<br />

<strong>de</strong> quem os ensinasse a língua nativa, continuaram falando apenas alemão. Assim<br />

atravessaram o século XX e entraram no XXI.<br />

Superado o trauma e adaptada há tempos ao Brasil “brasileiro”, Rejane<br />

Zilles, já trabalhando como atriz no Rio <strong>de</strong> Janeiro, constatou que o caso <strong>de</strong><br />

<strong>Walachai</strong> merecia ser conhecido. Quando <strong>de</strong>cidiu fazer um filme sobre o tema e<br />

começou a pesquisar, <strong>de</strong>parou com uma revelação ainda mais fascinante: já<br />

existia um livro sobre a história do lugar. Um livro <strong>de</strong> quase 400 páginas escritas à<br />

mão e ilustrado com fotos <strong>de</strong> época.<br />

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O autor da epopeia (que vai do pioneiro Mathias Mombach a curiosida<strong>de</strong>s<br />

cotidianas e recordações pessoais) é João Benno Wendling, que saiu jovem <strong>de</strong><br />

<strong>Walachai</strong> para ser seminarista, foi viver em São Paulo, ganhou formação erudita e<br />

voltou à vila alemã em 1944 para se tornar professor, alfabetizando as crianças.<br />

Era o auge da Segunda Guerra Mundial e vigorava um <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> Vargas<br />

proibindo que se falasse alemão em público. O governo, que nunca <strong>de</strong>ra as caras<br />

na comunida<strong>de</strong>, passou a mandar agentes infiltrados para pren<strong>de</strong>r “suspeitos”.<br />

Assim, da noite para o dia, as aulas passaram a ser em apenas português, para<br />

surpresa dos alunos, que não entendiam uma palavra. O professor Benno<br />

lecionou por 41 anos e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> aposentado, voltou a trabalhar na lavoura, “para<br />

viver com dignida<strong>de</strong>”. Contudo, arrumou tempo para, durante nove anos,<br />

pesquisar e escrever a minuciosa <strong>de</strong>scrição daquele lugar, seu passado e sua<br />

gente.<br />

O livro <strong>de</strong> <strong>Walachai</strong> e seu autor eram tão interessantes que Rejane inverteu<br />

suas priorida<strong>de</strong>s. Realizou um curta-metragem com este título, lançado em 2007,<br />

e <strong>de</strong>ixou o longa sobre a comunida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>pois. Mais precisamente, agora: as<br />

filmagens estão em andamento. “Precisava contar a história do professor Benno<br />

logo, para que ele <strong>de</strong>sfrutasse do reconhecimento em vida”, explica a diretora,<br />

preocupada com os 84 anos <strong>de</strong> seu personagem.<br />

No novo filme, ela preten<strong>de</strong> “ampliar a lente”, mostrando os aspectos que<br />

tornam <strong>Walachai</strong> um Brasil isolado do Brasil. Não se po<strong>de</strong> nem dizer que é uma<br />

comunida<strong>de</strong> “alemã”. Os vínculos com a terra <strong>de</strong> origem não foram cultivados<br />

pelos imigrantes, que <strong>de</strong>ixaram para trás um país <strong>de</strong> péssimas recordações. A<br />

língua que utilizam sequer existe mais: é um dialeto arcaico da região <strong>de</strong><br />

Hunsrück. Até hoje sem telefone (internet, nem pensar) e pouco afeitos à <strong>TV</strong>,<br />

mantêm o padrão <strong>de</strong> vida comunitário e uma simplicida<strong>de</strong> quase anacrônica para<br />

a região mais <strong>de</strong>senvolvida do país, a menos <strong>de</strong> 100 quilômetros da capital Porto<br />

Alegre. Sentem-se brasileiros e envergonham-se por não dominarem a língua.<br />

Ainda assim, “cem entre cem moradores não querem sair do lugar”, segundo<br />

Rejane, que conhece bem este sentimento.<br />

A <strong>de</strong>scrição soa distante do estereótipo dos “alemães que vivem isolados e<br />

não gostam <strong>de</strong> se misturar”. É esta visão equivocada que a diretora preten<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sfazer, ao revelar a complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma cultura sem similar no país. Cultura<br />

que – ela prevê – caminha lentamente para a extinção (“As gerações mais jovens<br />

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não querem mais ficar na roça”). Mas não para o esquecimento: está tudo lá, no<br />

livro História <strong>de</strong> <strong>Walachai</strong>, <strong>de</strong> João Benno Wendling, em firme tinta <strong>de</strong> caneta azul.<br />

2. Há uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprofundar a discussão gerada pela<br />

exibição do ví<strong>de</strong>o e pela ativida<strong>de</strong> proposta, utilizando outro<br />

documento audiovisual. Narradores <strong>de</strong> Javé é um longa-metragem<br />

brasileiro <strong>de</strong> ficção que po<strong>de</strong> servir muito bem como forma <strong>de</strong><br />

aprofundar o <strong>de</strong>bate sobre Memória e História, aí incluindo o<br />

polêmico tema da verda<strong>de</strong> em história. É um filme premiado, exibido<br />

nos cinemas comerciais e que, portanto, po<strong>de</strong> ser encontrado em<br />

locadoras <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o. Nesta história, um povoado <strong>de</strong> nome Javé<br />

somente será poupado <strong>de</strong> <strong>de</strong>saparecer completamente sob as águas<br />

<strong>de</strong> uma barragem se provar que possui valor histórico. Os moradores<br />

<strong>de</strong> Javé partem então para a árdua tarefa <strong>de</strong> escrever a história das<br />

origens do povoado <strong>de</strong> “modo científico” para convencer as<br />

autorida<strong>de</strong>s sobre a importância <strong>de</strong> Javé. Para isso, contratam um<br />

ex-funcionário dos correios, tido como mentiroso incurável, para<br />

escrever a história verda<strong>de</strong>ira do lugar. As peripécias e trapalhadas<br />

<strong>de</strong>sta história pren<strong>de</strong>m a atenção dos alunos e permitem uma boa<br />

reflexão sobre o estatuto da verda<strong>de</strong> em história. Reproduzimos<br />

abaixo uma resenha <strong>de</strong>ste filme, publicada no sítio da Socieda<strong>de</strong><br />

Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), on<strong>de</strong> o professor<br />

po<strong>de</strong>rá ter mais informações sobre o filme e <strong>de</strong>cidir sobre sua<br />

utilização em sala <strong>de</strong> aula.<br />

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(texto disponível em<br />

http://www.comciencia.com.br/rese nhas/memoria/narradores.htm ):<br />

Narradores <strong>de</strong> Javé, um filme sobre memória, História e exclusão<br />

Direção Eliane Caffé, 2004, Brasil.<br />

Por Marta Kanashiro<br />

Se fosse possível colocar uma trilha sonora para esta resenha do filme<br />

Narradores <strong>de</strong> Javé, certamente<br />

ela não po<strong>de</strong>ria ter a cadência dramática e sóbria<br />

que em geral é usada em filmes<br />

sobre o sertão nor<strong>de</strong>stino. A sutileza, as ironias e<br />

os momentos tragicômicos <strong>de</strong> Narradores <strong>de</strong> Javé só po<strong>de</strong>m mesmo ser<br />

embalados pelo som eletrônico-regional-pulsante <strong>de</strong> DJ Dolores, responsável pela<br />

trilha sonora do filme. É nesse clima que se dá abertura para o espectador<br />

vislumbrar a importância dos sujeitos na História e as soluções e saídas para o<br />

sofrimento do sertão.<br />

O longa, dirigido por Eliane Caffé, reúne tantos elementos interessantes<br />

para discussão, que é difícil eleger os que <strong>de</strong>vem ocupar o espaço <strong>de</strong> uma<br />

resenha. Além disso, os oito prêmios recebidos pelo filme apontam a qualida<strong>de</strong><br />

com que foram abordados esses elementos. Muitos temas relacionados com a<br />

História estão presentes: a história oral, a oficial, sua cientificida<strong>de</strong>, o limiar com a<br />

literatura, o ví<strong>de</strong>o e o próprio cinema, diferentes suportes para a História,<br />

diferentes olhares e intercâmbios, a busca <strong>de</strong> uma "verda<strong>de</strong>", teoria e método.<br />

Esse segundo filme da cineasta (o primeiro foi Kenoma-1998), trata <strong>de</strong> um<br />

povoado fictício (Javé), que está prestes a ser inundado para a construção <strong>de</strong> uma<br />

hidrelétrica. Para mudar esse rumo, os moradores <strong>de</strong> Javé resolvem escrever sua<br />

história e tentar transformar o local em patrimônio histórico a ser preservado. O<br />

único adulto alfabetizado <strong>de</strong> Javé, Antônio Biá (José Dumont) é o incumbido <strong>de</strong><br />

recuperar a história e transpor para o papel, <strong>de</strong> forma "científica", as memórias<br />

dos moradores.<br />

Ironicamente, Biá, que havia sido expulso da cida<strong>de</strong> por inventar fofocas<br />

escritas sobre os moradores, é o escolhido para escrever o "livro da salvação",<br />

como eles mesmos chamam. O artifício <strong>de</strong> "florear" e inventar fatos locais já era<br />

usado pela personagem para aumentar a circulação <strong>de</strong> cartas, obviamente<br />

escassas no povoado, e manter em funcionamento a agência <strong>de</strong> correio on<strong>de</strong> ele<br />

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trabalha. Escrever a história <strong>de</strong> Javé e salvá-la do afogamento é sua oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> se redimir. E a re<strong>de</strong>nção parece ter que se dar justamente aflorando seu lado<br />

mais con<strong>de</strong>nável. "Bendita Geni", pois é justamente a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Biá <strong>de</strong><br />

aumentar as histórias que traz à tona o papel do historiador interferindo na<br />

História, reunindo relatos, selecionando-os, conectando-os <strong>de</strong> forma<br />

compreensível.<br />

Na coleta do primeiro relato "javélico", Biá diz à sua "fonte": "uma coisa é o<br />

fato acontecido, outra é o fato escrito". Esse pequeno conjunto <strong>de</strong> elementos já é<br />

suficiente para apontar a isenção e a imparcialida<strong>de</strong> impossíveis à História e ao<br />

historiador. O filme se <strong>de</strong>senrola com a difícil tarefa para Biá: reunir uma história a<br />

partir <strong>de</strong> cinco versões diferentes - uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fragmentos, memórias<br />

incompatíveis entre si. O personagem se vê entre essa impossibilida<strong>de</strong> e um<br />

futuro/progresso <strong>de</strong>struidor e irremediável.<br />

Nas várias versões, os heróis são alterados conforme o narrador. Assim, na<br />

versão relatada por uma mulher do povoado, a gran<strong>de</strong> heroína entre os<br />

fundadores <strong>de</strong> Javé é Maria Dina. Na versão <strong>de</strong> um morador negro, o herói<br />

principal também é negro e chama-se Indalêo. Assim, ao mesmo tempo em que o<br />

filme nos diz da interferência do narrador na história, também fala sobre os<br />

excluídos da "história oficial" (a dos livros didáticos).<br />

Na narração sobre Indalêo, surge a oralida<strong>de</strong> da memória - como praticada<br />

por culturas milenares. O narrador negro canta a história em seu dialeto africano,<br />

quase num êxtase profético, que nos remete tanto aos gregos como aos xamãs.<br />

As divisas cantadas, que são as fronteiras <strong>de</strong> Javé pronunciadas em canto,<br />

também são um outro exemplo da aparição <strong>de</strong>sse elemento no filme. O canto<br />

<strong>de</strong>marca uma terra (Javé), que está sendo disputada, e é o canto que legitima sua<br />

posse, não um documento escrito. Da mesma forma, são as versões orais que<br />

po<strong>de</strong>m tornar esse espaço <strong>de</strong> terra patrimônio histórico. De forma sintética, todo o<br />

filme fala <strong>de</strong> uma disputa entre a história oficial e aqueles excluídos <strong>de</strong>ssa história,<br />

assim como, entre a oralida<strong>de</strong> e a escrita.<br />

Em outro momento, uma das moradoras <strong>de</strong> Javé argumenta perante uma<br />

câmera digital que a hidrelétrica não po<strong>de</strong>ria ser construída lá on<strong>de</strong> estavam<br />

enterrados seus antepassados e seus filhos que morreram. Eles não po<strong>de</strong>riam<br />

ficar embaixo d'água. De forma sutil, a cena introduz no filme essa questão<br />

fundamental do patrimônio imaterial, a cultura, e os laços diversos que po<strong>de</strong>m<br />

existir com um pedaço <strong>de</strong> terra. A cena remete ao filme <strong>de</strong> Werner Herzog, On<strong>de</strong><br />

sonham as formigas ver<strong>de</strong>s (1983), no qual também trava-se uma disputa em<br />

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torno <strong>de</strong> uma área <strong>de</strong> terra. No caso, uma tribo aborígine <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a sacralida<strong>de</strong> da<br />

terra on<strong>de</strong> estão seus antepassados e on<strong>de</strong> sonham as formigas ver<strong>de</strong>s, diante da<br />

construção <strong>de</strong> uma companhia <strong>de</strong> mineração; uma representação dos avanços da<br />

socieda<strong>de</strong> branca, industrial. A problemática da <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> um grupo étnico,<br />

sua memória, cultura, religião, modo <strong>de</strong> vida, é uma história bem comum nesses<br />

nossos 500 anos, e o filme <strong>de</strong> Eliane Caffé também se <strong>de</strong>staca por essa inclusão.<br />

Entre a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> versões que ecoam em seus ouvidos, a<br />

arbitrarieda<strong>de</strong> da interferência e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir algo convincente para<br />

salvar Javé, Antônio Biá entrega um livro em branco para a população. Cobrado e<br />

acuado por todos no meio da rua, Biá sai aos berros andando <strong>de</strong> costas. O gesto<br />

remete a uma outra passagem do filme em que se diz que essa atitu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>monstraria coragem, seria um recuo e não uma fuga. Mas a mesma imagem<br />

po<strong>de</strong> ir além disso, quando se pensa no "anjo da história" <strong>de</strong> Walter Benjamim<br />

(veja quadro ao lado).<br />

Biá, assim como o anjo, caminha olhando o passado a ser "<strong>de</strong>struído"<br />

irremediavelmente pelo futuro, pelo progresso, pela hidrelétrica. E esta,<br />

"responsável" pela transformação do sertão em mar, afogará a memória, a cultura<br />

local e os antepassados.<br />

Narradores no plural<br />

Vale <strong>de</strong>stacar as dimensões e os infinitos níveis das interferências que os<br />

narradores po<strong>de</strong>m ter na História. Todo o caso <strong>de</strong> Javé - a história que não é<br />

escrita por Biá - é narrado por Zaqueu (Nelson Xavier), que tenta distrair um<br />

viajante em um bar à beira <strong>de</strong> um rio. Durante todo o tempo em que o caso<br />

ocorreu, Zaqueu não estava presente no povoado, pois sai para buscar<br />

mantimentos. Isso nos faz supor que sua versão já é fruto <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> outras<br />

versões, e abriga toda a interferência <strong>de</strong>ssas múltiplas narrações, inclusive a <strong>de</strong>le<br />

mesmo. Ao mesmo tempo, a história que Biá não consegue escrever está<br />

contada, mas em outro suporte, na narração <strong>de</strong> Zaqueu, que é o próprio filme.<br />

A própria filmagem <strong>de</strong> Narradores <strong>de</strong> Javé sinaliza o grau <strong>de</strong> intercâmbios<br />

entre presente, passado e futuro na construção da História. Os dois mil moradores<br />

<strong>de</strong> Gameleira da Lapa (locação do filme) estavam sem coleta <strong>de</strong> lixo há onze anos<br />

e foram incentivados a não apenas recolher o lixo como a separá-lo para<br />

reciclagem. Com tudo isso, a população local passou a exigir dos órgãos<br />

competentes a coleta seletiva, o que <strong>de</strong>u início a um processo para trocar o nome<br />

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da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gameleira da Lapa para Javé. Certamente o filme <strong>de</strong>u mais conta da<br />

História e seus Sujeitos do que esperava.<br />

3. Por fim, sugerimos ao professor a leitura <strong>de</strong> um excelente texto<br />

sobre Memória e História, escrito pela professora Márcia Maria<br />

Menen<strong>de</strong>s Motta, da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense. Certamente,<br />

a leitura <strong>de</strong>ste texto trará uma série <strong>de</strong> reflexões sobre as relações<br />

entre memória e história e sobre um conceito bastante interessante:<br />

a amnésia social. O link para este texto é:<br />

http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_livres/artg6 -11.pdf<br />

Consultor: Tarcísio Motta <strong>de</strong> Carvalho.<br />

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