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Traduzindo clássicos: Gefunden, de Goethe – o trabalho do Barão ...

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Erthal, Mateus Duque - <strong>Traduzin<strong>do</strong></strong> <strong>clássicos</strong>: <strong>Gefun<strong>de</strong>n</strong>, <strong>de</strong> <strong>Goethe</strong> <strong>–</strong><br />

o <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> <strong>Barão</strong> <strong>de</strong> Paranapiacaba e sugestão <strong>de</strong> nova tradução<br />

Mesmo que não tenha, pois, mérito primacial, a poesia <strong>do</strong> <strong>Barão</strong> <strong>de</strong><br />

Paranapiacaba, <strong>do</strong> tempo em que ainda não era <strong>Barão</strong>, mas apenas<br />

João Car<strong>do</strong>so <strong>de</strong> Meneses e Sousa, ou resumidamente João Car<strong>do</strong>so,<br />

como lhe simplificavam por vezes o nome, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> interessar à<br />

historia literária, como <strong>do</strong>cumento capaz <strong>de</strong> esclarecer <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s<br />

pontos <strong>de</strong> nosso Romantismo, então a se formar. (…) João Car<strong>do</strong>so foi<br />

<strong>do</strong>s primeiros cultores <strong>de</strong> nossa poesia "americana" ou indianista; um<br />

<strong>do</strong>s primeiros byronianos <strong>de</strong> São Paulo (...); finalmente, urna<br />

influência incontestável, tanto no ramo elegíaco, como no indianista<br />

(talvez ainda no <strong>de</strong> sua poesia bíblica) e, também, um elo na formação<br />

<strong>do</strong>s poetas românticos da segunda geração, a patentear, em sua<br />

linguagem, o influxo <strong>de</strong> Firmino Rodrigues Silva e <strong>de</strong> Joaquim<br />

Norberto. Teve, assim, "alguma vibração original na quadra juvenil",<br />

mas <strong>de</strong>pois se tornou, como bem percebeu Antonio Cândi<strong>do</strong>, “um<br />

poeta ári<strong>do</strong> e rotineiro”. (RAMOS 1945)<br />

Nesta tradução, percebe-se uma preocupação com a forma, feita a<br />

princípio para mimetizar a intenção <strong>do</strong> autor <strong>de</strong> <strong>Gefun<strong>de</strong>n</strong>. As rimas são feitas<br />

aos pares, nos versos 2 e 4 <strong>de</strong> cada estrofe. A métrica é também regular<br />

(re<strong>do</strong>ndilhas maiores, sete sílabas poéticas), mas, por se tratar <strong>de</strong> medida<br />

clássica, isso traz ao poema uma certa solenida<strong>de</strong>, que não necessariamente<br />

está presente no poema em alemão. O tema também segue o original, não há<br />

variações significativas na "fábula" contada.<br />

No entanto, a tradução feita pelo <strong>Barão</strong> é extremamente datada, ao<br />

contrário <strong>do</strong> que se po<strong>de</strong>ria dizer <strong>do</strong> poema <strong>de</strong> <strong>Goethe</strong>, este sim com<br />

tendências opostas à restrição espaço-temporal, ou à particularida<strong>de</strong>. Além<br />

<strong>do</strong> ar solene, já menciona<strong>do</strong>, o léxico em Acha<strong>do</strong> é rebusca<strong>do</strong> e antiqua<strong>do</strong><br />

para um leitor <strong>do</strong> século XXI, e há gran<strong>de</strong> recorrência <strong>de</strong> inversões e forte<br />

preocupação com a formalida<strong>de</strong>, com a cerimônia. Estaria, assim, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong><br />

com uma concepção <strong>de</strong> poesia como algo "sublime", quase hermético,<br />

<strong>de</strong>stina<strong>do</strong> a poucos. <strong>Gefun<strong>de</strong>n</strong>, ao contrário, po<strong>de</strong> ser li<strong>do</strong> como algo<br />

acessível, simples, sem afetação, e justamente essas características são as<br />

que levariam o poema a ser, até hoje, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um "clássico", estan<strong>do</strong><br />

garantida sua longevida<strong>de</strong>.<br />

TradTerm 18/2011.1, pp. 68-88 <strong>–</strong> www.usp.br/tradterm<br />

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