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Ricardo Palma Veiga<br />
saúde<br />
por Caroli<strong>na</strong> Gouveia<br />
Dermatologista<br />
Hospital CUF Descobertas<br />
Lisboa<br />
vasco.sousacoutinho@<br />
hospitalcufdescobertas.pt<br />
“É uma doença autoimune, em que as células<br />
do próprio sistema imunitário atacam e destroem<br />
o folículo piloso„<br />
PERDAS DE CABELO FREQUENTES NA CRIANÇA<br />
As alopécias, ou perdas de cabelo, podem ser cicatriciais (irreversíveis) ou não cicatriciais. Causas<br />
frequentes de alopécia não cicatricial <strong>na</strong> infância são a alopécia areata e a tinha do couro cabeludo.<br />
A tricotilomania pode confundir-se com as anteriores, pelo que também será abordada.<br />
A alopécia areata caracteriza-se pelo aparecimento súbito de uma ou mais áreas desprovidas de<br />
cabelo, circulares ou ovaladas, bem delimitadas, de dimensões variáveis, de superfície lisa e regular,<br />
sem alteração visível da superfície cutânea afetada. Atinge 0,1 a 0,2% da população de <strong>toda</strong>s as<br />
idades, mas sobretudo o adolescente e o adulto jovem (até 50% antes dos 16 anos). Um em cada<br />
cinco doentes tem ou teve um familiar afetado. É uma doença autoimune, em que as células do próprio<br />
sistema imunitário atacam e destroem o folículo piloso. Pode estar associada a outras doenças autoimunes,<br />
como o vitiligo, patologia da tiroideia, síndrome multiendócrino familiar e doença infl amatória<br />
intesti<strong>na</strong>l. Pode ser precipitada por problemas emocio<strong>na</strong>is. As lesões podem ser únicas, múltiplas,<br />
generalizadas a todo o couro cabeludo (alopécia total) ou a <strong>toda</strong> a superfície cutânea (alopécia universal).<br />
Na periferia da pelada observam-se cabelos partidos característicos, desig<strong>na</strong>dos cabelos em ponto<br />
de exclamação. Alguns padrões são característicos, como a pelada ofi ásica (localizada <strong>na</strong> região<br />
occipital, estendendo-se em banda periférica até à área de implantação das orelhas). Em cerca de 20%<br />
há alterações das unhas (picotado, estriação). O curso é variável. Podem surgir novas áreas de pelada<br />
ao longo de meses. Quando existem poucas lesões, o prognóstico é favorável, com repovoamento<br />
completo ao fi m de um ano em 95% dos casos. No entanto, as recorrências são frequentes. São fatores<br />
de mau prognóstico o início precoce (antes da puberdade), a multiplicidade ou a grande extensão das<br />
lesões, os padrões de alopécia total ou ofi ásica, as alterações das unhas e uma evolução superior a um<br />
ano. O tratamento controla as lesões, mas não impede o aparecimento de novas peladas. Atendendo<br />
à elevada percentagem de remissão espontânea, alguns autores defendem a abstenção de tratamento<br />
nos casos limitados. Nas crianças, a terapêutica mais frequente consiste <strong>na</strong> aplicação de tópicos.<br />
A terapêutica sistémica está reservada <strong>para</strong> os casos graves ou rapidamente progressivos.<br />
A tricotilomania é uma alopécia de tração que resulta do tique de arrancamento dos cabelos.<br />
Afeta crianças de ambos os sexos, geralmente com mais de 5 anos, e adolescentes jovens. O hábito<br />
é praticado <strong>na</strong> cama, antes de adormecer, ou enquanto está a ler, a escrever ou a ver televisão. É uma<br />
alopécia localizada geralmente <strong>na</strong> região anterior do couro cabeludo, circunscrita mas mal delimitada,<br />
de superfície áspera, pois contém cabelos partidos de diferentes comprimentos. A observação<br />
direta ou o achado de tufos de cabelo sobre a almofada confi rma o diagnóstico. O tratamento<br />
assenta numa boa relação médico-família-doente e <strong>na</strong> tomada de consciência do tique pela família e<br />
pela criança. Os casos graves e persistentes requerem a utilização de antidepressivos e acompanhamento<br />
psiquiátrico.<br />
A tinha do couro cabeludo é uma infeção do cabelo causada por fungos dermatófi tos, típica das crianças<br />
e que raramente se observa após a puberdade. Na verdade, não se trata de uma verdadeira alopécia,<br />
já que os cabelos afetados partem-se ao nível da superfície cutânea, observando-se os cotos<br />
implantados <strong>na</strong> pele. As áreas de pseudo-alopécia ocorrem em número e em dimensões variáveis<br />
e acompanham-se de descamação, eritema (vermelhidão) e prurido também variáveis. Por vezes pode<br />
observar-se ape<strong>na</strong>s descamação, praticamente sem área de pelada. Os agentes mais frequentes são<br />
Microsporum Canis e M. Audouinii e Trichophytum Tonsurans, T. Violaceum e T. Soudanense. Podem<br />
transmitir-se entre humanos, de animais <strong>para</strong> humanos ou a partir do solo. A contagiosidade é elevada,<br />
o que explica os surtos que às vezes ocorram em escolas, creches e infantários. O diagnóstico assenta<br />
nos aspetos clínicos e no exame microscópico direto e <strong>na</strong> cultura a partir do material recolhido<br />
(escamas e cotos de cabelos extraídos com pinça de depilação). O tratamento é prolongado (seis<br />
a oito sema<strong>na</strong>s) e feito com fármacos orais, os únicos capazes de penetrar no folículo piloso. A criança<br />
pode frequentar a escola desde que apresente declaração médica comprovativa de que está efetuar<br />
o tratamento adequado.