27.04.2013 Views

A resposta da terra - Y Ikatu Xingu

A resposta da terra - Y Ikatu Xingu

A resposta da terra - Y Ikatu Xingu

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

INTRODUÇÃO<br />

Araguaia <strong>Xingu</strong>: cruzando<br />

o vale dos esquecidos<br />

Em 2010, no âmbito de seu projeto “Disseminando<br />

a cultura agroflorestal na região<br />

do Araguaia <strong>Xingu</strong>”, a Articulação <strong>Xingu</strong><br />

Araguaia (AXA) se propôs realizar um diagnóstico<br />

deste território, com o intuito de construir uma<br />

visão abrangente <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de atual, enriqueci<strong>da</strong><br />

pela dimensão histórica dos processos de ocupação<br />

territorial do nordeste mato-grossense. Desde<br />

o século passado, a região vem marcando o Brasil<br />

com seus conflitos, lutas e conquistas. Nesse<br />

sentido, este trabalho de resgate e análise pretende<br />

trazer elementos que enriqueçam o debate <strong>da</strong><br />

problemática socioambiental própria <strong>da</strong>s regiões<br />

situa<strong>da</strong>s no arco de desmatamento <strong>da</strong> Amazônia.<br />

A proposta do diagnóstico surgiu no momento<br />

em que assistíamos à mu<strong>da</strong>nça do perfil econômico<br />

<strong>da</strong> região, que se traduzia principalmente pela<br />

expansão acelera<strong>da</strong> <strong>da</strong>s monoculturas ao redor<br />

<strong>da</strong> BR-158. Este movimento foi incentivado pelas<br />

perspectivas promissoras dos mercados crescentes<br />

<strong>da</strong> soja e <strong>da</strong> carne e pela construção <strong>da</strong>s infra-estruturas<br />

do PAC (asfaltamento <strong>da</strong> BR-158 e construção<br />

<strong>da</strong>s Ferrovias Norte-Sul e Leste-Oeste).<br />

Esta estratégia desenvolvimentista, sustenta<strong>da</strong> por<br />

diversas ações do poder público e privado. Nelas<br />

não foram contempla<strong>da</strong>s questões relaciona<strong>da</strong>s<br />

ao ordenamento territorial, à proteção dos recursos<br />

naturais, à adequação <strong>da</strong> pecuária e <strong>da</strong> soja às<br />

novas exigências de mercados preocupados com a<br />

sustentabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> produção, à estruturação de<br />

uma agricultura de baixo carbono, ao impacto<br />

<strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça do clima, aos deságios <strong>da</strong> agricultura<br />

familiar, dos povos indígenas e <strong>da</strong>s cadeias produtivas<br />

<strong>da</strong> sociobiodiversi<strong>da</strong>de, ao apoio às micro<br />

e pequenas empresas voltados para o desenvolvimento<br />

local, etc. Pelo contrário, via-se um enfraquecimento<br />

<strong>da</strong> política indígena, agrícola e am-<br />

8 Reali<strong>da</strong>de e História <strong>da</strong> região do Araguaia <strong>Xingu</strong><br />

biental, acompanhado por sucessivas tentativas<br />

de esvaziamento e flexibilização <strong>da</strong> estrutura legal<br />

que preserva a sociobiodiversi<strong>da</strong>de.<br />

O movimento de inserção <strong>da</strong> região à nova dinâmica<br />

desenvolvimentista teve como foco dois ativos<br />

principais: Terra e Água. Terra historicamente<br />

“expurga<strong>da</strong>” de índios e posseiros. Terra barata<br />

em comparação a outras regiões ocupa<strong>da</strong>s. Terra<br />

livre <strong>da</strong>s limitações legais ou econômicas presentes<br />

em outros territórios amazônicos já que 58%<br />

<strong>da</strong> região encontra-se no Cerrado ao tempo que<br />

pairava uma expectativa de anistia sobre as áreas<br />

desmata<strong>da</strong>s. Como resultado disso, as monoculturas<br />

voltaram a ocupar um milhão de hectares em<br />

2010, um recorde inédito desde 2004/2005, período<br />

conhecido também pelos picos de desmatamento e<br />

conflitos fundiários.<br />

O outro recurso, a Água, foi incorporado ao ciclo<br />

expansivo como mero insumo produtivo utilizado<br />

para os mais variados fins: perspectivas de alta<br />

rentabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> terceira safra anual para a soja,<br />

produção de hidroeletrici<strong>da</strong>de na bacia do <strong>Xingu</strong>,<br />

barateamento dos custos de transporte de grãos<br />

graças ao projeto de hidrovia do Araguaia/Tocantins.<br />

Água poluí<strong>da</strong> por agrotóxicos e pela falta de<br />

saneamento básico nas ci<strong>da</strong>des, afetando à vi<strong>da</strong><br />

dos povos indígenas e ribeirinhos. Água degra<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

pelo poder público que ignora a necessi<strong>da</strong>de e urgência<br />

de proteção <strong>da</strong>s matas ciliares.<br />

Neste contexto, nossa preocupação maior era constatar<br />

que o novo modelo não vinha acompanhado<br />

do debate necessário sobre os seus impactos e condicionantes.<br />

Enquanto a nova on<strong>da</strong> de “moderni<strong>da</strong>de”<br />

era impulsiona<strong>da</strong>, assistíamos a situações<br />

extremas tais como <strong>terra</strong>s indígenas ocupa<strong>da</strong>s pelo

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!