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Uma experiência do front: - Programa de Pós-Graduação em ...

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imprensa [médica ou não], com intuito <strong>de</strong> não banir, mas, ao menos, reduzir as ações <strong>de</strong><br />

‘médicos populares’, pois a medicina “é política tanto pelo mo<strong>do</strong> como intervém na<br />

socieda<strong>de</strong> e penetra <strong>em</strong> suas instituições, como pela sua relação com o Esta<strong>do</strong>. Ela<br />

precisa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> para realizar seu projeto...” 198<br />

O ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> uma relação entre médicos e Esta<strong>do</strong>, como po<strong>de</strong>mos observar no<br />

<strong>de</strong>curso <strong>de</strong>ste capítulo, fora o da FMB com outras instituições. Manteve-se ali estreito<br />

convívio <strong>do</strong> início ao fim da Campanha <strong>de</strong> Canu<strong>do</strong>s com os lí<strong>de</strong>res <strong>do</strong> progresso. Os<br />

relatórios <strong>do</strong>s professores, alguns, sensibilizaram-se diretamente com os heroes da<br />

Republica e cidadãos da Nação, e isto nos permite afirmar que os que não estavam ali,<br />

<strong>em</strong> luta pelo novo regime, a ele, naturalmente, não pertenciam, isto é, os inciviliza<strong>do</strong>s.<br />

Dentro <strong>do</strong>s gabinetes <strong>do</strong>s professores da Faculda<strong>de</strong>, seus livros e ca<strong>de</strong>rnos<br />

discutiam, com uma gama <strong>de</strong> ouvintes, mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, raça, mestiçag<strong>em</strong>, sanitarismo,<br />

higienismo, civilização, barbárie, evolução e involução da espécie humana. Esses<br />

conceitos davam o tom nessas rodas formadas por catedráticos e alunos tanto <strong>do</strong> curso<br />

<strong>de</strong> Medicina quanto <strong>de</strong> Direito. To<strong>do</strong>s crentes <strong>de</strong> que uma sciencia com méto<strong>do</strong>s, regras<br />

e resulta<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>ria conduzir to<strong>do</strong>s os habitantes <strong>do</strong> planeta <strong>em</strong> direção ao progresso.<br />

Canu<strong>do</strong>s, segun<strong>do</strong> àqueles intelectuais da república, caminhava <strong>em</strong> senti<strong>do</strong> contrário. 199<br />

O século XIX, <strong>em</strong> que “a maioria <strong>do</strong>s continentes toma <strong>de</strong> <strong>em</strong>préstimo da<br />

Europa sua civilização, seus costumes, mesmo <strong>em</strong> sua forma exterior...” 200 , projetara a<br />

sciencia como responsável pela explicação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Tanto ali como no Brasil, o<br />

scientista ganhou <strong>de</strong>staque e, sobretu<strong>do</strong>, maior in<strong>de</strong>pendência. 201 Aqueles conceitos<br />

<strong>de</strong>veriam ser, ou melhor, foram impostos a uma significativa parcela da população <strong>do</strong><br />

país, tanto <strong>do</strong> interior quanto das capitais, o que gerou respostas das mais diversas. A<br />

busca pelo progresso atingia diretamente as camadas mais suscetíveis às atitu<strong>de</strong>s das<br />

autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada governo que, com o braço arma<strong>do</strong> <strong>do</strong> Exército e a pena forte <strong>do</strong>s<br />

intelectuais da república, reprimira os sonhos alheios.<br />

Antônio Conselheiro e seus segui<strong>do</strong>res apareciam cientificamente atróficos à<br />

imensidão <strong>do</strong> saber instituí<strong>do</strong> pelos bacharéis, visto que, um arraial monta<strong>do</strong> à feição<br />

sertaneja, negra e indígena, por conseguinte, mestiça; não po<strong>de</strong>ria receber um<br />

198<br />

LOPES, Fábio Henrique. Análise historiográfica e história da medicina brasileira. Juiz <strong>de</strong> Fora:<br />

LOCUS. v. 9, n.2, 2003. p. 103.<br />

199<br />

Mais <strong>de</strong>talhes sobre o assunto <strong>em</strong>: COSTA, Flávio J. Simões. Antonio Conselheiro: uma reformulação<br />

à luz da Psicologia Social. Bahia: UFBA – Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia e Ciências Humanas. (Mestra<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

Ciências Sociais). 1968. p. 30 a 105.<br />

200<br />

RÉMOND, René. O Século XIX (1815 – 1914). São Paulo: Cultrix, 1976. p. 203.<br />

201<br />

SCHWARTZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças – cientistas, instituições e questão racial no Brasil<br />

(1870-1930). São Paulo: Cia. das Letras, 1993. p. 29.<br />

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