69 - Núcleo de Pesquisa Impérios e Lugares do Brasil
69 - Núcleo de Pesquisa Impérios e Lugares do Brasil
69 - Núcleo de Pesquisa Impérios e Lugares do Brasil
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
capazes <strong>de</strong> restabelecer a antiga felicida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s pernambucanos e torná-los às <strong>do</strong>çuras <strong>do</strong> seu<br />
Paternal Governo”.<br />
A idéia <strong>de</strong> anarquia, tal como afirmada, condizia à concepção corporativa <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e<br />
socieda<strong>de</strong>. Possível relação é também constatada no Vocabulário Português <strong>do</strong> padre Raphael<br />
Bluteau, <strong>de</strong> 1712, on<strong>de</strong> o termo aparece como “o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> huma Cida<strong>de</strong>, ou Republica, sem<br />
cabeça, ou sem príncipe legítimo que a governe[...].” Segun<strong>do</strong> o vocábulo <strong>do</strong> padre<br />
dicionarista, “só aquelles que no meio das perturbações da Republica, querem melhorar com<br />
dano alheio a sua fortuna, são amigos da anarchia”(BLUTEAU, 1712, p.361). No tom<br />
consonante ao significa<strong>do</strong> encontra<strong>do</strong> no vocábulo, Aragão e Vasconcelos prosseguiu com<br />
seus argumentos. Ten<strong>do</strong> em vista a acefalia <strong>do</strong> governo após a fuga <strong>de</strong>spropositada <strong>de</strong><br />
Caetano Pinto, os assassinos, “homens <strong>de</strong>scontentes <strong>de</strong> sua sorte”, passaram a figurar como<br />
lí<strong>de</strong>res e protetores <strong>do</strong> povo, pois este “não sabe lógica para discorrer com princípios,<br />
fundamentos e conseqüências, arrebata-se com as primeiras idéias, que lhes pintam <strong>de</strong> males<br />
iminentes, ou bem futuros” (DOCUMENTOS HISTORICOS, 1954, p.59). Outro seria o lugar<br />
<strong>de</strong> alguns letra<strong>do</strong>s que participaram <strong>do</strong> Governo Provisório eleito. Nesse caso, Aragão e<br />
Vasconcelos colocava-os em seu <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> lugar, como “homens cordatos, estabeleci<strong>do</strong>s, e<br />
abasta<strong>do</strong>s” que “não se querem arriscar a pendências com malva<strong>do</strong>s no auge da sua<br />
<strong>de</strong>sesperação” e “sucumbiram para evitar o martírio que iriam sofren<strong>do</strong> um por um que se<br />
<strong>de</strong>scobrissem sem fruto para a Causa Real e justa” (DOCUMENTOS HISTORICOS, 1954,<br />
p.60). A qualida<strong>de</strong> social trazia assim consigo as noções <strong>de</strong> honra e reputação, que levava em<br />
conta a lealda<strong>de</strong> e os serviços presta<strong>do</strong>s pelos vassalos e seus antepassa<strong>do</strong>s a Monarquia<br />
Portuguesa. Se os pernambucanos manchavam, enquanto parte <strong>do</strong> corpo político da<br />
monarquia portuguesa, essa relação, seus melhores filhos <strong>de</strong>veriam ser preserva<strong>do</strong>s enquanto<br />
naturalmente incapazes <strong>de</strong> tal ingratidão.<br />
Mas afinal, o que significava o uso constante <strong>de</strong>ssas representações tradicionais?<br />
Primeiramente, a permanência, ainda na segunda década <strong>do</strong> século XIX, <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />
luso-brasileiras com características entranhadas <strong>de</strong> Antigo Regime, pautada nas noções <strong>de</strong><br />
honra e privilégio. Valores que, a par da “mitigadas” luzes luso-brasileiras e <strong>do</strong> fortalecimento<br />
da autorida<strong>de</strong> central, serviram para manter o Império uni<strong>do</strong>, principalmente através <strong>do</strong><br />
fomento ao ethos nobiliárquico através da economia das mercês (RAMINELLI, 2008, p.7-<br />
60). A partir <strong>de</strong>la, foi possível cooptar os letra<strong>do</strong>s luso-brasileiros que, forma<strong>do</strong>s na Coimbra<br />
reformada e influencia<strong>do</strong>s pelas idéias <strong>do</strong> século, cogitaram a sedição nas Minas em 1789.