Educação de adultos na agenda - Cereja

Esse trabalho já era fundamental para sustentar o programa, pois os recursos para sua manutenção
vêm da venda de artigos da linha Crer para Ver, que constam nos catálogos de cosméticos da empresa.
É a receita líquida da venda de camisetas, canecas, chaveiros e outros itens, com o logotipo do
programa, que mantém as ações. Desde 1995, as vendas somaram perto de R$ 18 milhões, sendo R$ 3
milhões só no ano passado.
Agora, as consultoras têm ainda o papel de identificar, nas comunidades, pessoas acima de 15 anos
que não tenham concluído o ensino fundamental e incentivá-las a se matricular em uma escola que
ofereça essa oportunidade, com base em um banco de dados atualizado pela Fundação Abrinq, com 8,6
mil escolas em todo o País. "Queremos ver o quanto as consultoras irão se envolver na causa e
convencer pessoas a voltarem às escolas", afirma Nelmara Arbex, gerente de responsabilidade
corporativa da Natura. "A mesma força de vendas que movimenta os negócios da Natura pode mobilizar
para outros temas."
Setor privado acompanha políticas públicas
Pouca ênfase dos últimos governos ao ensino de jovens e adultos influenciou a postura
das empresas
Andrea Vialli
Quando as empresas optam pelos projetos que serão foco de seus investimentos sociais, acabam se
pautando pelas políticas públicas levadas pelo governo. Essa é uma das explicações para o fato de os
programas focados em educação de jovens e adultos serem menos comuns do que aqueles voltados à
educação infantil e ensino fundamental. Dados do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife)
mostram que 81% das empresas investem em ensino fundamental.
A Constituição de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e as políticas educacionais dos
últimos governos têm priorizado o acesso das crianças (7-14 anos) à escola. "Quando a pauta do
governo é muito marcada, acaba influenciando o restante da sociedade, inclusive a iniciativa privada",
afirma Fernando Rossetti, diretor-superintendente do Gife e comentarista de políticas de educação do
canal Futura.
Ele explica que a universalização do ensino fundamental é uma reinvindicação da sociedade que tomou
força após a redemocratização, ao mesmo tempo em que as tentativas de erradicar o analfabetismo
adulto ficaram em segundo plano. E se tornaram bandeira de pessoas e movimentos tradicionalmente
ligados à esquerda, como o educador Paulo Freire.
"Há ainda esse fator no campo ideológico, pois esses grupos são mais reticentes ao investimento
privado", diz Rossetti. Com o "boom" do terceiro setor na última década, essa resistência vem caindo e
ampliam-se as parcerias entre empresas, ONGs e governos.
Hoje, os pensadores da educação de jovens e adultos têm dois desafios a enfrentar: ampliar o acesso
ao sistema educacional para esse público e também criar mecanismos e políticas para oferecer
educação para as novas tecnologias, como a informática. "O desafio agora é oferecer educação para
toda a vida, e isso vai exigir muito investimento social privado", avalia Rossetti. E as empresas terão um
vasto campo para investir, a julgar pelas estatísticas.
Para Nelmara Arbex, gerente de responsabilidade corporativa da Natura e coordenadora do programa
Crer para Ver, falta preparo e formação profissional para lidar com a educação de jovens e adultos. "A
maior dificuldade que notamos é convencer uma pessoa a freqüentar uma escola que geralmente é
precária e tem material didático defasado, não adaptado para a realidade do aluno adulto", diz. Nilmara
ressalta que há carência de cursos de especialização voltados para professores com esse perfil, e a
remuneração na rede pública é menor.