o paradigma do professor profissional-reflexivo: um olhar ... - Cereja
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O PARADIGMA DO PROFESSOR PROFISSIONAL-REFLEXIVO:<br />
UM OLHAR DIFERENCIADO SOBRE A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES<br />
PARA A ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS<br />
Res<strong>um</strong>o<br />
Ana Sheila Soares Mascarenhas<br />
Rodrigo Pereira<br />
Universidade Estadual de Feira de Santana<br />
A nossa defesa neste artigo situa-se no conceito de <strong>professor</strong> <strong>profissional</strong>-<strong>reflexivo</strong>,<br />
compreenden<strong>do</strong> ser esse o modelo de formação com mais coerência para responder às<br />
demandas da contemporaneidade, ao passo que sinalizamos ao longo <strong>do</strong> texto, outros<br />
conceitos nortea<strong>do</strong>res para a reflexão. Para tanto, analisamos as interações intersubjetivas<br />
construídas na sala de aula de alfabetização de jovens e adultos e privilegiamos as trocas<br />
simbólicas que encontram referência nas classes de ALFASOL, onde a complexidade <strong>do</strong><br />
ato educar, bem como a natureza política da ação, entram em <strong>um</strong> contato fecun<strong>do</strong> com os<br />
sujeitos envolvi<strong>do</strong>s no processo de alfabetização.<br />
Palavras- Chave: formação, <strong>professor</strong>, alfabetização, adulto.<br />
Trabalho apresenta<strong>do</strong> na Sala 01 - Formação de Professores em EJA, na VII Semana da Alfabetização, promovida pela Alfabetização<br />
Solidária, de 11 a 13 de setembro de 2006.
O PARADIGMA DO PROFESSOR PROFISSIONAL-REFLEXIVO:<br />
UM OLHAR DIFERENCIADO SOBRE A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES<br />
Introdução<br />
PARA A ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS<br />
Ana Sheila Soares Mascarenhas<br />
2<br />
Rodrigo Pereira<br />
Universidade Estadual de Feira de Santana<br />
A análise proposta neste artigo circunda o universo da formação de educa<strong>do</strong>res conceben<strong>do</strong><br />
a especificidade <strong>do</strong> ato educar, bem como a complexidade que envolve os princípios de<br />
formação desses sujeitos que têm na formação inicial e continuada, os indícios de <strong>um</strong>a<br />
afirmação como <strong>profissional</strong> ou a evidência de <strong>um</strong> descaminho cético em torno da<br />
finalidade das suas ações. A nossa defesa neste texto situa-se no conceito de <strong>professor</strong><br />
<strong>profissional</strong>-<strong>reflexivo</strong>, compreenden<strong>do</strong> ser esse o modelo de formação com mais coerência<br />
para responder às demandas da contemporaneidade, ao passo que sinalizamos ao longo <strong>do</strong><br />
texto, outros conceitos nortea<strong>do</strong>res para a reflexão, a saber: o conceito pós-piagetiano de<br />
aprendizagem, a estrutura conceitual e filosófica da formação <strong>do</strong>cente, modelos e práticas<br />
de ação e gestão <strong>do</strong> ensino. Para tanto, analisamos as interações intersubjetivas construídas<br />
na sala de aula de alfabetização de jovens e adultos e privilegiamos as trocas simbólicas<br />
que encontram referência nas classes de ALFASOL, por entendermos que ali a<br />
complexidade <strong>do</strong> ato educar, bem como a natureza política da ação, entram em <strong>um</strong> contato<br />
fecun<strong>do</strong> com as representações <strong>do</strong>s sujeitos envolvi<strong>do</strong>s (representações sobre o processo e<br />
sobre suas histórias de vida) e criam <strong>um</strong> ambiente propício às várias construções no<br />
universo <strong>do</strong> desenvolvimento h<strong>um</strong>ano significativo.<br />
As análises propostas aqui serão assim organizadas: primeiramente discutiremos a<br />
reconstrução <strong>do</strong> <strong>paradigma</strong> de formação: construin<strong>do</strong>, desse mo<strong>do</strong>, estratégias como<br />
respostas às demandas contemporâneas, faremos <strong>um</strong>a discussão sobre a emergência <strong>do</strong>s
novos modelos e práticas na formação de educa<strong>do</strong>res, especificamente a formação<br />
educa<strong>do</strong>res de jovens e adultos. Em seguida: revisitamos modelos e práticas pedagógicas,<br />
propomos então, <strong>um</strong> breve relato sobre a formação de <strong>professor</strong>es na história, identifican<strong>do</strong><br />
alguns <strong>paradigma</strong>s e relações entre modelo de educação, ofício de <strong>professor</strong> e as<br />
transformações sociais, identifican<strong>do</strong> vínculos e sinalizan<strong>do</strong> caminhos alternativos. Por<br />
último, faremos <strong>um</strong>a análise sobre as interações simbólicas existentes nas classes de<br />
alfabetização de jovens e adultos. Para isso, teremos o espaço das salas de ALFASOL como<br />
território de construção e significação da história pelos sujeitos ali envolvi<strong>do</strong>s.<br />
Identificamos práticas e o êxito de ações pedagógicas emancipa<strong>do</strong>ras, protagonizadas por<br />
jovens <strong>professor</strong>es e alunos com idade avançada. Faremos também <strong>um</strong>a análise sobre as<br />
relações pedagógicas na perspectiva da complexidade e indicaremos a relação trialética<br />
(ação, reflexão, análise, ação) como nortea<strong>do</strong>ra para definição de estratégias para<br />
ressignificar a ação <strong>do</strong>cente bem como dinamizar a sala de aula de alfabetização de adultos.<br />
Para tanto, apontamos novas perspectivas e possibilidades para <strong>um</strong> novo modelo de<br />
formação.<br />
A emergência de novos modelos de formação como resposta às necessidades<br />
contemporâneas.<br />
A compreensão de que estamos viven<strong>do</strong> n<strong>um</strong> contexto diferencia<strong>do</strong>, específico na história,<br />
com aquilo que educa<strong>do</strong>res progressistas cost<strong>um</strong>aram identificar como “novo teci<strong>do</strong><br />
cultural” (Freire,1999), marca<strong>do</strong> por transformações constantes nas estruturas da sociedade,<br />
no campo das informações e no trânsito constante de pessoas de diversos lugares com<br />
representações simbólicas diversas que interagem com seus semelhantes construin<strong>do</strong> e<br />
amplian<strong>do</strong> suas perspectivas de significação. Esse contexto h<strong>um</strong>ano é marca<strong>do</strong> por<br />
transformações no âmbito social, no campo da mobilidade econômica e intensificação da<br />
velocidade midiática, enfim, é neste território de contestação, de contradições, que urge<br />
cada vez mais por definição de identidades, de posturas; demanda ao mesmo tempo pessoas<br />
conscientes e com competência para reconstrução constante de conhecimento e símbolos.<br />
Nesse cenário situamos a escola como instituição privilegiada nas suas ações, pois se<br />
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diferencia de outros espaços de formação, ass<strong>um</strong>in<strong>do</strong> a condição de espaço formal. Esta<br />
condição consolida-se à medida que essa instituição organiza politicamente seu projeto de<br />
trabalho, articula-se com seu entorno para alcançar <strong>um</strong> perfil deseja<strong>do</strong> de cidadão, ao passo<br />
que consegue avaliar constantemente o desenvolvimento de suas ações na perspectiva de<br />
aperfeiçoamento de processo.<br />
A partir dessa definição da especificidade da escola como instituição forma<strong>do</strong>ra, situamos a<br />
ação pedagógica como potencializa<strong>do</strong>ra das práticas escolares. Esta tem na figura <strong>do</strong><br />
<strong>professor</strong> a referência para definição de possibilidades, bem como da evidência de limites.<br />
Nesse caso, o universo simbólico que permeia as representações sociais <strong>do</strong> <strong>professor</strong> sobre<br />
si mesmo e sobre seus alunos constitui-se de elementos fundamentais para a reestruturação<br />
de posturas e alicerce para a definição de novas perspectivas de vida. Cabe ao <strong>professor</strong> a<br />
função de organizar informações, definir estratégias, acompanhar o desenvolvimento das<br />
hipóteses <strong>do</strong>s sujeitos-alunos envolvi<strong>do</strong>s na sala de aula, ao mesmo tempo cabe ao<br />
<strong>professor</strong> a avaliação constante <strong>do</strong> rendimento <strong>do</strong>s alunos em torno de expectativas iniciais.<br />
Estas ações não são simples, mas guardam <strong>um</strong> nível de complexidade muito grande. Dentre<br />
eles, queremos aqui partilhar <strong>do</strong> pensamento de ALTET (2001) quan<strong>do</strong> enfatiza que:<br />
A dificuldade <strong>do</strong> ato ensinar está no fato de que ele não<br />
pode ser analisa<strong>do</strong> unicamente em torno de tarefas de transmissão de<br />
conteú<strong>do</strong>s e de méto<strong>do</strong>s defini<strong>do</strong>s a priori, <strong>um</strong>a vez que são as<br />
comunicações verbais em classe, as interações vivenciadas, a relação e a<br />
variedade das ações em cada situação que permitirão ou não, a diferentes<br />
alunos o aprendiza<strong>do</strong> em cada intervenção. (p. 27)<br />
Dentro dessa perspectiva encontramos nos textos desta mesma autora, <strong>um</strong>a referência as<br />
funções específicas <strong>do</strong> <strong>professor</strong> no momento de potencializar suas ações em sala de aula,<br />
estas são assim situadas:<br />
Uma função didática de estruturação e gestão de conteú<strong>do</strong>s<br />
Uma função pedagógica de gestão e regulação interativa <strong>do</strong>s acontecimentos em<br />
sala de aula<br />
Estes <strong>do</strong>is campos de prática articulam-se de maneira funcional na ação em situações<br />
complexas, mobilizan<strong>do</strong> conhecimentos e competências plurais de diversos tipos.<br />
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Neste contexto fazemos <strong>um</strong>a defesa <strong>do</strong> conceito de <strong>professor</strong> <strong>profissional</strong>, possui<strong>do</strong>r de<br />
competências e habilidades para agir localmente, compreenden<strong>do</strong> a dimensão maior <strong>do</strong> ato<br />
pedagógico e entenden<strong>do</strong> as limitações e possibilidades <strong>do</strong>s sujeitos envolvi<strong>do</strong>s no<br />
processo. Para ALTET (2001) O <strong>professor</strong> <strong>profissional</strong> é, antes de tu<strong>do</strong>, <strong>um</strong> <strong>profissional</strong> da<br />
articulação <strong>do</strong> processo ensino-aprendizagem em <strong>um</strong>a determinada situação, <strong>um</strong><br />
<strong>profissional</strong> das interações, das significações partilhadas.<br />
Além desta referência identificamos nos escritos de Bolzan (2002), características que<br />
fazem deste <strong>profissional</strong> <strong>um</strong> atuante pensa<strong>do</strong>r, <strong>profissional</strong> <strong>reflexivo</strong>. Para a autora o<br />
<strong>professor</strong> <strong>reflexivo</strong> aprende a partir da análise e da interpretação da sua própria atividade,<br />
constrói de forma pessoal, seu conhecimento <strong>profissional</strong>, o qual incorpora e ultrapassa o<br />
conhecimento emergente institucionaliza<strong>do</strong>.<br />
A atuação <strong>do</strong>cente muitas vezes no processo de efetivação deixa emergir seus esquemas<br />
simbólicos implícitos a prática, ou mesmo suas construções teóricas, formuladas desde suas<br />
primeiras experiências com o ensino propedêutico. Segun<strong>do</strong> a autora este processo de<br />
reflexão crítica, feito individualmente ou em grupo, pode tornar consciente os modelos<br />
teóricos e epistemológicos que se evidenciam na sua atuação <strong>do</strong>cente.<br />
Esta autora ainda aponta etapas nas quais o <strong>professor</strong> exercita seu processo de reflexão<br />
sobre e na prática. Primeiramente ele se coloca como alguém que é capaz de surpreender-se<br />
com seus alunos. N<strong>um</strong> segun<strong>do</strong> momento a autora aponta a capacidade <strong>do</strong> <strong>professor</strong> pensar<br />
sobre os motivos da sua surpresa. Em seguida, reformula o problema, provoca<strong>do</strong> pela<br />
situação, a fim de que seus alunos possam demonstrar o quanto compreenderam da<br />
proposição anunciada pelo <strong>professor</strong>. E por fim, propõe <strong>um</strong>a nova tarefa, testan<strong>do</strong> sua<br />
hipótese sobre a forma de organização e atuação de seus alunos. Para autores como Freire<br />
(1997) e Perrenoud (1999), a educação significativa pressupõe <strong>um</strong> <strong>professor</strong> que atua como<br />
protagonista da Ação pedagógica, mostran<strong>do</strong>-se curioso, prestan<strong>do</strong> atenção ao que o aluno<br />
diz ou não diz, faz ou não faz, colaboran<strong>do</strong> para que ele seja capaz de articular seus<br />
conhecimentos prévios com os conhecimentos escolares. Estes últimos são aqui entendi<strong>do</strong>s<br />
como conhecimentos institucionaliza<strong>do</strong>s que compõem programas de estu<strong>do</strong>s explícitos ou<br />
que estão organiza<strong>do</strong>s, mas manifestos implicitamente.<br />
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Revisitan<strong>do</strong> modelos e práticas pedagógicas<br />
A análise da história da formação <strong>do</strong>cente nos faz compreender as especificidades e<br />
finalidades <strong>do</strong> ato educar e os pressupostos para a formação em cada época, seus vínculos<br />
com as dimensões social, cultural, econômica e política. Em cada contexto, em cada época,<br />
em cada espaço, <strong>um</strong> ideal de educação, de gente, de aprendiz, de <strong>professor</strong>. Para esta<br />
análise situamos os modelos clássicos de predecessores e lembramos <strong>do</strong> nível de<br />
importância da<strong>do</strong> a estes sujeitos nos tempos clássicos.<br />
Identificamos basicamente três modelos na história. O Magister ou o mago, o modelo<br />
intelectual da Antiguidade, que considerava o <strong>professor</strong> como <strong>um</strong> mestre, <strong>um</strong> mago que<br />
sabe e que não necessita de formação específica ou de pesquisa, <strong>um</strong>a vez que seu carisma e<br />
suas competências retóricas são suficientes. Para além deste modelo, existe o Técnico como<br />
modelo que apareceu nas chamadas escolas normais, a formação para o ofício ocorria por<br />
aprendizagem imitativa. Para os dias de hoje identificamos o modelo de <strong>profissional</strong> que<br />
possui competência técnica, subjetivo-intelectual e afetiva. Este modelo defendemos como<br />
necessário a formação ou a realidade contemporânea. O <strong>profissional</strong> <strong>reflexivo</strong> que tem a<br />
sua prática como elemento de investigação, que sabe questionar, que permite a ação<br />
intelectual <strong>do</strong>s alunos. Que age sob a perspectiva maiêutica, que permite a emersão <strong>do</strong><br />
aprendiz intelectual e para além disso, destacamos o compromisso político como elemento<br />
nortea<strong>do</strong>r da ação <strong>do</strong>cente.<br />
A sala de aula da ALFASOL como espaço de formação para <strong>professor</strong>es e alunos<br />
Nesta abordagem da sala de aula da ALFASOL como ambiente que constrói no<br />
alfabetiza<strong>do</strong>r e no alfabetizan<strong>do</strong> a mudança <strong>do</strong> <strong>olhar</strong> ouvimos alg<strong>um</strong>as indagações que ao<br />
longo <strong>do</strong>s anos circundam este espaço: Que sujeito preten<strong>do</strong> formar? Por que preciso<br />
aprender a ler e a escrever? O que significa aprender-ensinar n<strong>um</strong>a fase em que a faixa<br />
etária e a distância geográfica são alg<strong>um</strong>as das dificuldades enfrentadas? Para o<br />
alfabetiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong> século XXI e em específico o que convive em sua prática com a Educação<br />
de Jovens e Adultos, torna-se imprescindível à vivência <strong>do</strong>s parâmetros que dão sustento a<br />
educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e a aprender a ser,<br />
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pois a nova construção de educação exigida para hoje e amanhã requer <strong>do</strong>s seus envolvi<strong>do</strong>s<br />
h<strong>um</strong>anização, no seu senti<strong>do</strong> mais abrangente, buscan<strong>do</strong> no <strong>do</strong>mínio da leitura e da escrita a<br />
percepção de <strong>um</strong> fazer cidadão que acione habilidades e competências e, além disso, que<br />
proporcione em seus espaços de convívio social o despertar de <strong>um</strong>a autonomia <strong>do</strong>tada de<br />
ação-reflexão, ações estas que modificam os comportamentos <strong>do</strong>s sujeitos envolvi<strong>do</strong>s nesse<br />
processo de ensino-aprendizagem.<br />
Nas salas de aula da ALFASOL, os alfabetiza<strong>do</strong>res vivenciam a relação trialética que<br />
como espelho passa também a ser refletida nos alfabetizan<strong>do</strong>s, à medida que o aprender a<br />
conviver é visl<strong>um</strong>bra<strong>do</strong> através da ampliação da participação <strong>do</strong>s sujeitos nos <strong>do</strong>mínios<br />
sociais e <strong>do</strong> despertar da busca por novos conhecimentos; o aprender a fazer traz à<br />
competência h<strong>um</strong>ana, a capacidade de recriar conceitos, idéias e opiniões que influenciam<br />
a cultura; o aprender a conviver desperta nos indivíduos a necessidade de interdependência,<br />
de percepção <strong>do</strong> outro e o aprender a ser, que mostra a cada sujeito a necessidade da<br />
autonomia na busca da construção de <strong>um</strong>a educação cidadã. Dentro desta perspectiva os<br />
alfabetiza<strong>do</strong>res atuam em seus ambientes com o <strong>olhar</strong> diferencia<strong>do</strong>, o <strong>do</strong> diálogo que<br />
expressa a essência freireana, <strong>olhar</strong> este que abrange a diversidade e provoca nos indivíduos<br />
o desejo de prosseguir o caminho. Ao se falar sobre a relação agir-pensar-analisar e agir<br />
estamos envolven<strong>do</strong> aqui também as influências recebidas pelos alfabetiza<strong>do</strong>res que têm na<br />
vivência além <strong>do</strong>s aspectos cognitivos, os aspectos afetivos, sobretu<strong>do</strong> por se tratar de<br />
jovens e adultos que trazem para salas de aulas <strong>do</strong> Programa histórias de vida carregadas de<br />
conteú<strong>do</strong>s significativos que passam a fazer parte de <strong>um</strong> cenário temático e os<br />
alfabetiza<strong>do</strong>res como artistas flexíveis transformam em lições h<strong>um</strong>anizadas; histórias estas<br />
muitas vezes ouvidas em nossas visitas, que nos envolvem e também nos fazem agir-<br />
pensar-analisar e agir.<br />
Compreendemos que a diferença no processo de alfabetização no Programa Alfabetização<br />
Solidária e a postura destes alfabetiza<strong>do</strong>res envolvi<strong>do</strong>s neste contexto é dada pela<br />
perspectiva <strong>do</strong> <strong>olhar</strong>, é ele quem diz qual o nível <strong>do</strong> feedback nessa relação alfabetiza<strong>do</strong>r-<br />
alfabetizan<strong>do</strong>, mesmo diante da apresentação <strong>do</strong> novo, é o sujeito quem interage com o<br />
objeto, com os agentes culturais, internaliza e se apropria da realidade captada e recria<br />
dan<strong>do</strong> senti<strong>do</strong> próprio à experiência. É o foco <strong>do</strong> <strong>olhar</strong> que impulsiona para a reflexão e<br />
tomada de ação. Queremos enfatizar a importância <strong>do</strong> <strong>olhar</strong>, citan<strong>do</strong> FREIRE, M. (1993):<br />
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Conclusão<br />
A observação é o que me possibilita o exercício <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>olhar</strong>. Olhar é como sair<br />
de dentro de mim para ver o outro. É partir da hipótese <strong>do</strong> momento de educação que o<br />
outro está para colher da<strong>do</strong>s da realidade, para trazer de volta para dentro de mim e repensar<br />
as hipóteses. É <strong>um</strong>a leitura da realidade pra que eu possa me ler.(p. 3)<br />
Pensar n<strong>um</strong>a nova perspectiva de formação <strong>do</strong>cente que não tem em seu contexto a<br />
dimensão afetiva e inclusiva como ponto de chegada, mas como fundamento que res-<br />
significa o <strong>olhar</strong> para a prática pedagógica, exige <strong>um</strong> novo perfil de <strong>professor</strong> que se<br />
ass<strong>um</strong>e como articula<strong>do</strong>r de seus ideais em sua própria comunidade e consegue através de<br />
sua ação potencializar desejos, sonhos, perspectivas e reflexões críticas.<br />
A partir desta nova visão abrem-se possibilidades de <strong>um</strong> repensar que vai para além da<br />
atuação <strong>do</strong> <strong>profissional</strong> e chega também como necessidade de adequação das instituições<br />
que desejam protagonizar com qualidade, a modalidade de educação de jovens e adultos<br />
dentro <strong>do</strong> <strong>paradigma</strong> educacional <strong>do</strong> século XXI. Esse <strong>professor</strong> <strong>profissional</strong>-<strong>reflexivo</strong> deve<br />
compreender que agir-pensar-analisar e agir são ações necessárias à constituição de <strong>um</strong><br />
novo <strong>olhar</strong>, ações que dinamizem a alfabetização de jovens e adultos, neste campo<br />
complexo e instigante, complexo porque além <strong>do</strong> educacional aparecem as questões sócio-<br />
econômicas e instigante, porque revela resulta<strong>do</strong>s surpreendentes a partir da superação das<br />
condições de vida <strong>do</strong>s sujeitos para que se dê o efetivo exercício da cidadania e a<br />
participação atuante <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s no contexto social e político nas comunidades em que<br />
vivem.<br />
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Referências Bibliográficas<br />
PERRENOUD, Phillipe et al. Forman<strong>do</strong> <strong>professor</strong>es profissionais.Quais competências?<br />
Quais estratégias? 2 ed. rev. Porto Alegre: ArtMed, 2001.<br />
BOLZAN, Doris Pires Vargas. Forman<strong>do</strong> <strong>professor</strong>es- compartilhan<strong>do</strong> e reconstruin<strong>do</strong><br />
conhecimentos. Porto Alegre: Mediação, 2002.<br />
ALTET, Margerite. As competências <strong>do</strong> <strong>professor</strong> <strong>profissional</strong>: entre o conhecimento,<br />
esquemas de ação e adaptação, saber analisar. In: PERRENOUD, Phillipe et al. Entre<br />
outros (orgs). Forman<strong>do</strong> <strong>professor</strong>es profissionais.Quais estratégias? Quais competências?<br />
2 ed. rev. Porto Alegre: ArtMed, 2001.<br />
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