instituto científico de ensino superior e pesquisa curso - Cereja
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INSTITUTO CIENTÍFICO DE ENSINO SUPERIOR E PESQUISA<br />
CURSO DE PEDAGOGIA – ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR<br />
FATORES QUE OCASIONARAM, A EXCLUSÃO ESCOLAR DE JOVENS E<br />
ADULTOS DO SERPRO – SERVIÇO FEDERAL DE PROCESSAMENTO DE<br />
DADOS, NA FAIXA ETÁRIA PREVISTA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA -<br />
UM OLHAR DO PRÓPRIO SUJEITO.<br />
VANESSA CRISTINA DE MAGALHÃES BOMTEMPO<br />
BRASÍLIA, JULHO DE 2003
INSTITUTO CIENTÍFICO DE ENSINO SUPERIOR E PESQUISA<br />
CURSO DE PEDAGOGIA – ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR<br />
FATORES QUE OCASIONARAM, A EXCLUSÃO ESCOLAR DE JOVENS E<br />
ADULTOS DO SERPRO – SERVIÇO FEDERAL DE PROCESSAMENTO DE<br />
DADOS, NA FAIXA ETÁRIA PREVISTA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA -<br />
UM OLHAR DO PRÓPRIO SUJEITO.<br />
VANESSA CRISTINA DE MAGALHÃES BOMTEMPO<br />
BRASÍLIA, JULHO DE 2003<br />
Monografia apresentada à Faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Educação do ICESP, como<br />
ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida na disciplina<br />
TCC II, sob a orientação da Prof.<br />
Najla Veloso Sampaio Barbosa.
AGRADECIMENTO<br />
A todos que participaram dos mais variados momentos <strong>de</strong> minha vida durante<br />
esse <strong>curso</strong>.<br />
Aos meus colegas <strong>de</strong> classe, à minha família, e é claro sem po<strong>de</strong>r esquecer<br />
à minha professora, orientadora Najla Veloso, que, sem dúvida, foi uma gran<strong>de</strong><br />
companheira enquanto professora, e também durante esse per<strong>curso</strong> <strong>de</strong> orientação<br />
da minha monografia.<br />
A todos vocês, meu obrigada sincero e com carinho.
HISTÓRIA DE VIDA<br />
PARA NUNCA MAIS CHORAR – Maura Roberti<br />
Contribuição dos amigos José Carlos e Maria Lú<br />
Passava do meio dia, o cheiro <strong>de</strong> pão quente invadia aquela rua, um sol<br />
escaldante convidava a todos para um refresco. Ricardinho não agüentou o cheiro<br />
bom do pão e falou:<br />
- Pai, tô com fome!<br />
O pai, Agenor, sem ter um tostão no bolso, caminhando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito cedo em<br />
busca <strong>de</strong> um trabalho, olha com os olhos marejados para o filho e pe<strong>de</strong> mais um<br />
pouco <strong>de</strong> paciência...<br />
- Mas pai, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ontem não comemos nada, eu tô com muita fome, pai!<br />
Envergonhado, triste e humilhado em seu coração <strong>de</strong> pai, Agenor pe<strong>de</strong> para o<br />
filho aguardar na calçada enquanto entra na Padaria a sua frente. Ao entrar dirige-<br />
se a um homem no balcão:<br />
- Meu senhor, estou com meu filho <strong>de</strong> apenas 6 anos na porta, com muita fome.<br />
Não tenho nenhum tostão, pois sai cedo para buscar um emprego e nada<br />
encontrei. Eu lhe peço que em nome <strong>de</strong> Jesus me forneça um pão para que eu<br />
possa matar a fome <strong>de</strong>sse menino, em troca posso varrer o chão <strong>de</strong> seu<br />
estabelecimento, lavar os pratos e copos, ou outro serviço que o Senhor precisar.<br />
Amaro, o dono da Padaria estranha aquele homem <strong>de</strong> semblante calmo e sofrido,<br />
pedir comida em troca <strong>de</strong> trabalho e pe<strong>de</strong> para que ele chame o filho. Agenor<br />
pega o filho pela mão e apresenta-o a Amaro, que imediatamente pe<strong>de</strong> que os<br />
dois sentem-se junto ao balcão, on<strong>de</strong> manda servir dois pratos <strong>de</strong> comida do<br />
famoso PF (Prato Feito) - arroz, feijão, bife e ovo.<br />
Para Ricardinho era um sonho, comer após tantas horas na rua. Para Agenor,<br />
uma dor a mais, já que comer aquela comida maravilhosa fazia-o lembrar-se da<br />
esposa e mais dois filhos que ficaram em casa apenas com um punhado <strong>de</strong> fubá.<br />
Grossas lágrimas <strong>de</strong>sciam dos seus olhos já na primeira garfada.<br />
A satisfação <strong>de</strong> ver seu filho <strong>de</strong>vorando aquele prato simples como se fosse um<br />
manjar dos <strong>de</strong>uses, e a lembrança <strong>de</strong> sua pequena família em casa, foi <strong>de</strong>mais<br />
para seu coração tão cansado <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 2 anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego, humilhações e<br />
necessida<strong>de</strong>s.<br />
Amaro se aproxima <strong>de</strong> Agenor e percebendo a sua emoção, brinca para relaxar:<br />
- O Maria! Sua comida <strong>de</strong>ve estar muito ruim! Olha o meu amigo está até<br />
chorando <strong>de</strong> tristeza <strong>de</strong>sse bife, será que é sola <strong>de</strong> sapato...?
Imediatamente, Agenor sorri e diz que nunca comeu comida tão apetitosa, e que<br />
agra<strong>de</strong>cia a Deus por ter esse prazer. Amaro pe<strong>de</strong> então que ele sossegue seu<br />
coração, que almoçasse em paz e <strong>de</strong>pois conversariam sobre trabalho.<br />
Mais confiante, Agenor enxuga as lágrimas e começa a almoçar, já que sua fome<br />
já estava nas costas. Após o almoço, Amaro convida Agenor para uma conversa<br />
nos fundos da Padaria, on<strong>de</strong> havia um pequeno escritório. Agenor conta então<br />
que há mais <strong>de</strong> 2 anos havia perdido o emprego e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, sem uma<br />
especialida<strong>de</strong> profissional, sem estudos, ele estava vivendo <strong>de</strong> pequenos<br />
"biscates aqui e acolá", mas que há 2 meses não recebia nada.<br />
Amaro resolve então contratar Agenor para serviços gerais na Padaria, e<br />
penalizado, faz para o homem uma cesta básica com alimentos para pelo menos<br />
15 dias. Agenor com lágrimas nos olhos agra<strong>de</strong>ce a confiança daquele homem e<br />
marca para o dia seguinte seu início no trabalho.<br />
Ao chegar em casa com toda aquela "fartura", Agenor é um novo homem - sentia<br />
esperanças, sentia que sua vida iria tomar novo impulso. Deus estava lhe abrindo<br />
mais do que uma porta, era toda uma esperança <strong>de</strong> dias melhores. No dia<br />
seguinte,às 5 da manhã,<br />
Agenor estava na porta da Padaria ansioso para iniciar seu novo trabalho. Amaro<br />
chega logo em seguida e sorri para aquele homem que nem ele sabia porque<br />
estava ajudando. Tinham a mesma ida<strong>de</strong>, 32 anos, e histórias diferentes, mas<br />
algo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le chamava-o para ajudar aquela pessoa. E, ele não se enganou -<br />
durante um ano, Agenor foi o mais <strong>de</strong>dicado trabalhador daquele estabelecimento,<br />
sempre honesto e extremamente zeloso com seus <strong>de</strong>veres.<br />
Um dia, Amaro chama Agenor para uma conversa e fala da escola que abriu<br />
vagas para a alfabetização <strong>de</strong> adultos um quarteirão acima da Padaria, e que ele<br />
fazia questão que Agenor fosse estudar. Agenor nunca esqueceu seu primeiro dia<br />
<strong>de</strong> aula: a mão trêmula nas primeiras letras e a emoção da primeira carta...<br />
Doze anos se passam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquele primeiro dia <strong>de</strong> aula. Vamos encontrar o Dr.<br />
Agenor Baptista <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros, advogado, abrindo seu escritório para seu cliente, e<br />
<strong>de</strong>pois outro, e <strong>de</strong>pois mais outro.<br />
Ao meio dia ele <strong>de</strong>sce para um café na Padaria do amigo Amaro, que fica<br />
impressionado em ver o "antigo funcionário" tão elegante em seu primeiro terno.<br />
Mais <strong>de</strong>z anos se passam, e agora o Dr. Agenor Baptista, já com uma clientela<br />
que mistura os mais necessitados que não po<strong>de</strong>m pagar, e os mais abastados que<br />
o pagam muito bem, resolve criar uma Instituição que oferece aos <strong>de</strong>svalidos da<br />
sorte, que andam pelas ruas, pessoas <strong>de</strong>sempregadas e carentes <strong>de</strong> todos os<br />
tipos, um prato <strong>de</strong> comida diariamente na hora do almoço. Mais <strong>de</strong> 200 refeições<br />
são servidas diariamente naquele lugar que é administrado pelo seu filho, o agora<br />
nutricionista Ricardo Baptista.
Tudo mudou, tudo passou, mas a amiza<strong>de</strong> daqueles dois homens, Amaro e<br />
Agenor impressionava a todos que conheciam um pouco da história <strong>de</strong> cada um,<br />
contam que aos 82 anos os dois faleceram no mesmo dia, quase que a mesma<br />
hora, morrendo placidamente com um sorriso <strong>de</strong> <strong>de</strong>ver cumprido.<br />
Ricardinho, o filho mandou gravar na frente da "Casa do Caminho", que seu pai<br />
fundou com tanto carinho:<br />
"Um dia eu tive fome, e você me alimentou. Um dia eu estava sem esperanças e<br />
você me <strong>de</strong>u um caminho. Um dia acor<strong>de</strong>i sozinho, e você me <strong>de</strong>u Deus, e isso<br />
não tem preço. Que Deus habite em seu coração e alimente sua alma...<br />
E, que te sobre o pão da misericórdia para esten<strong>de</strong>r a quem precisar."
Resumo<br />
O presente estudo aborda alguns aspectos característicos da Educação <strong>de</strong><br />
Jovens e Adultos do SERPRO – Serviço Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Processamento <strong>de</strong> Dados.<br />
Registra as observações da escola, dos alunos, dos professores na convivência<br />
entre os atores em sua ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alfabetização. Evi<strong>de</strong>ncia dados coletados<br />
sobre os fatores sócio – econômicos e pessoais dos alunos <strong>de</strong>sse trabalho<br />
educativo, por meio <strong>de</strong> entrevistas. Os autores que lhe dão sustentação teórica<br />
são Paulo Freire, Moacir Gadotti e José E. Romão. Por fim, evi<strong>de</strong>ncia alguns dos<br />
fatores que fazem com que os jovens e adultos do SERPRO estejam se<br />
alfabetizando fora da ida<strong>de</strong> regular.
SUMÁRIO<br />
APRESENTAÇÃO..................................................................................................10<br />
CAPÍTULO I : OBJETO DE ESTUDO....................................................................11<br />
CAPÍTULO II : REFERENCIAL TEÓRICO............................................................14<br />
CAPÍTULO III: ANÁLISE DOS DADOS.................................................................21<br />
CAPÍTULO IV : CONCLUSÃO...............................................................................27<br />
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO.........................................................................30<br />
ANEXOS.................................................................................................................31
LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS<br />
GRÁFICO 1........................................................................................................... 23<br />
GRÁFICO 2........................................................................................................... 24<br />
GRÁFICO 3........................................................................................................... 25
APRESENTAÇÃO<br />
“A alfabetização é o primeiro passo para a<br />
educação e <strong>de</strong>grau imediato para uma etapa<br />
civilizatória. A palavra ajuda o homem a tornarse<br />
homem: assim, a linguagem passa a ser<br />
cultura. Através da <strong>de</strong>codificação da palavra, o<br />
alfabetizando vai se <strong>de</strong>scobrindo como homem,<br />
sujeito <strong>de</strong> todo o processo histórico". Paulo<br />
Freire<br />
Este tema foi escolhido por mim pelo fato <strong>de</strong> na Empresa<br />
em que trabalho, SERPRO – Serviço Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Processamento<br />
<strong>de</strong> Dados, ter sido inserida a Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos<br />
para funcionários que não são alfabetizados, ou que começaram<br />
seus estudos e por algum motivo tiveram <strong>de</strong> interrompê-los.<br />
Por ter contato com as pessoas inseridas nesse processo<br />
<strong>de</strong> educação, é que <strong>de</strong>spertou em mim a curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
aprofundar mais neste tema e <strong>de</strong>scobrir quais os motivos que<br />
levaram essas pessoas a estarem somente agora se<br />
alf abetizando.<br />
O presente trabalho teve o intuito <strong>de</strong> mostrar a situação<br />
<strong>de</strong>sses jovens e adultos que estão se alf abetizando em ida<strong>de</strong><br />
irregular.<br />
Procurei evi<strong>de</strong>nciar os principais fatores que ocasionam a<br />
exclusão <strong>de</strong>sses jovens e adultos da escola e, se os fatores<br />
sociais e econômicos são causadores <strong>de</strong>ssa exclusão.<br />
Para construir esse projeto, utilizei referências<br />
bibliográficas <strong>de</strong> Paulo Freire, Moacir Gadotti e José E. Romão.<br />
Observei também durante todo o trabalho, a partir das<br />
discussões dos sujeitos envolvidos, quais as maiores
dif iculda<strong>de</strong>s enfrentadas pelos alunos da Educação <strong>de</strong> Jovens e<br />
Adultos, para iniciarem a educação em ida<strong>de</strong> regular.
C AP Í T U L O I – O B J E T O DE ESTUDO<br />
Consultando o site do MEC – Ministério da Educação e<br />
Cultura, verifiquei em algumas matérias, que no Brasil a taxa <strong>de</strong><br />
analfabetismo registrada em 1970 era <strong>de</strong> 33,6% da população<br />
acima <strong>de</strong> 15 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Este índice em 1997, já havia<br />
recuado para 14,7% o que correspon<strong>de</strong> a cerca <strong>de</strong> 15,8 milhões<br />
<strong>de</strong> pessoas.<br />
São vários os fatores que propiciam essa taxa <strong>de</strong><br />
analfabetismo. É esse o intuito <strong>de</strong>sse trabalho. Evi<strong>de</strong>nciar quais<br />
são esses fatores que f azem com que tantos jovens e adultos<br />
estejam se alfabetizando em ida<strong>de</strong> irregular, na perspectiva dos<br />
próprios sujeitos, que são os alunos da “Escolinha” <strong>de</strong> Jovens e<br />
Adultos do SERPRO- Serviço Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Processamento <strong>de</strong><br />
Dados.<br />
Levantamos algumas hipóteses <strong>de</strong> acordo com leituras<br />
f eitas sobre o assunto e <strong>de</strong>sejamos confirmá-las ou não <strong>de</strong><br />
acordo com a <strong>pesquisa</strong>.<br />
Dessas hipóteses, uma que po<strong>de</strong>mos ressaltar é a<br />
exclusão <strong>de</strong>vido ao trabalho infantil, da qual falaremos no<br />
<strong>de</strong>correr do trabalho. Outra hipótese para essa exclusão é que<br />
o indivíduo que logo durante o processo <strong>de</strong> educação formal, é<br />
vítima <strong>de</strong> insucesso, não atingindo os níveis requeridos, é<br />
conduzido para fileiras fechadas, ou seja é <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> lado, sem<br />
uma observação especial do professor, sem uma aula <strong>de</strong> reforço<br />
para que ele consiga acompanhar novamente o grupo. Esse<br />
aluno constitue as primeiras categorias <strong>de</strong> exclusão no quadro<br />
do sistema formal <strong>de</strong> escolarização.
Existe também outro fator que tentaremos verificar. Trata-<br />
se das pessoas que já nascem economicamente excluídas, são<br />
aquelas crianças filhas <strong>de</strong> uma classe <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> re<strong>curso</strong>s<br />
f inanceiros, que não tem condições <strong>de</strong> colocar os filhos na<br />
escola, e que dificilmente superarão a situação <strong>de</strong> exclusão da<br />
qual são vítimas.<br />
Embora a Constituição af irme a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos e<br />
assegure a todos a mesma liberda<strong>de</strong>, só por <strong>de</strong>sinformação <strong>de</strong><br />
alguém po<strong>de</strong>rá dizer que o filho <strong>de</strong> pais pobres tem a mesma<br />
liberda<strong>de</strong> e a mesma ascensão social quanto ao acesso aos<br />
direitos fundamentais que os filhos <strong>de</strong> pais ricos. Mas na<br />
verda<strong>de</strong> crianças filhos <strong>de</strong> pais <strong>de</strong>sfavorecidos quanto ao fator<br />
econômico tem os mesmos direitos, mas não as mesmas<br />
oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ingressar em um estudo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.<br />
É gran<strong>de</strong> o número <strong>de</strong> crianças brasileiras que nasce em<br />
situação <strong>de</strong> exclusão social. Muitas <strong>de</strong>ssas crianças não<br />
ultrapassam o primeiro ano <strong>de</strong> vida, segundo <strong>pesquisa</strong> realizada<br />
no site do Mec, e se resistirem estarão sempre à margem da<br />
socieda<strong>de</strong> ou numa longínqua retaguarda, vítimas da fome e da<br />
f alta <strong>de</strong> cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, com pouca ou nenhuma<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> educação, morando na rua ou em condições<br />
extremamente precárias, sofrendo humilhações e agressões à<br />
sua pessoa e completamente <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> bens materiais.<br />
E é por isso que vejo a importância <strong>de</strong>ste trabalho para<br />
mostrar os principais pontos da exclusão <strong>de</strong>sses jovens e<br />
adultos. Pois essas crianças que são excluídas da escola,
crescerão excluídas, e se tornarão jovens e adultos excluídos <strong>de</strong><br />
uma socieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> o estudo é primordial para uma vida <strong>de</strong><br />
sucesso.<br />
O meu trabalho <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong> <strong>curso</strong> foi realizado na<br />
“ ∗ Escolinha” <strong>de</strong> Jovens e Adultos do SERPRO – Serviço Fe<strong>de</strong>ral<br />
<strong>de</strong> Processamento <strong>de</strong> Dados, com o intuito <strong>de</strong> verificar “Fatores<br />
que Ocasionaram a Exclusão Escolar <strong>de</strong> Jovens e Adultos do<br />
SERPRO na Faixa Etária Prevista para a Educação Básica. Um<br />
Olhar do Próprio Sujeito”.<br />
O método utilizado na <strong>pesquisa</strong> foi o estudo <strong>de</strong> caso, pelo<br />
f ato <strong>de</strong> o número <strong>de</strong> interlocutores significar parcela reduzida e<br />
não amostragem estatística <strong>de</strong> fenômeno sociológico, político,<br />
econômico. Investiguei os fatores que concorreram para que<br />
aqueles alunos do SERPRO – Serviço Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Processamento<br />
<strong>de</strong> Dados, estivessem estudando somente agora. Os resultados<br />
que obtive são relacionados somente a eles e não po<strong>de</strong>m a<br />
priori ser consi<strong>de</strong>rados como referências nacionais ou mesmo<br />
locais.<br />
Como instrumentos, utilizei visitas à instituição para<br />
observação, conversas informais com a coor<strong>de</strong>nação do projeto<br />
e com professores, além <strong>de</strong> entrevista gravada com 08 (oito)<br />
alunos que participam da educação <strong>de</strong> jovens e adultos em <strong>curso</strong><br />
<strong>de</strong> alfabetização promovido pela empresa. As questões<br />
abordadas tinham o intuito <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar as percepções dos<br />
∗ A palavra “Escolinha” utilizada em todo trabalho, nada mais é do que uma forma carinhosa <strong>de</strong><br />
citar o local <strong>de</strong> minha <strong>pesquisa</strong> <strong>de</strong> campo a escola <strong>de</strong> EJA do SERPRO, que é reduzida a somente<br />
uma sala <strong>de</strong> aula. Por ter havido questionamento quanto a essa nomenclatura, coloco essa nota<br />
pois outros leitores po<strong>de</strong>rão também ter a mesma dúvida.
sujeitos alfabetizandos acerca dos fenômenos e aspectos que<br />
f avoreceram a não escolarização na ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso ao <strong>ensino</strong><br />
regular.<br />
Os alunos se sentiram a vonta<strong>de</strong> para respon<strong>de</strong>r a todas<br />
as perguntas e foram o gran<strong>de</strong> enriquecimento <strong>de</strong> meu trabalho.<br />
Me emocionei muito durante as respostas dos mesmos, por<br />
saber um pouco da vida <strong>de</strong> cada um e <strong>de</strong> suas dificulda<strong>de</strong>s na<br />
vida, até então, e <strong>de</strong> seu esforço para estarem nesse momento<br />
na escola.<br />
CAPÍTULO II – REFERENCIAL TEÓRICO<br />
A escolha <strong>de</strong> citar a literatura <strong>de</strong> autores como Paulo<br />
Freire, Moacir Gadotti e José E. Romão em meu trabalho, foi<br />
<strong>de</strong>vido à vasta produção dos mesmos sobre o tema “Educação<br />
<strong>de</strong> Jovens e Adultos” , e por estarem a tanto tempo inseridos<br />
nesse processo da Educação do Brasil.<br />
No livro “ ∗ A Importância do Ato <strong>de</strong> Ler, o autor nos<br />
esclarece que a leitura da palavra é precedida da leitura do<br />
mundo e também enfatiza a importância crítica da leitura na<br />
alf abetização, colocando o papel do educador <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma<br />
educação, on<strong>de</strong> o seu fazer <strong>de</strong>ve ser vivenciado, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma<br />
prática concreta <strong>de</strong> libertação e construção da história,<br />
inserindo o alfabetizando num processo criador, <strong>de</strong> que ele é<br />
também um sujeito.<br />
∗ FREIRE, Paulo. A importância do ato <strong>de</strong> ler. São Paulo. Ed. Cortez, 1986. Paulo Freire foi<br />
professor <strong>de</strong> Português, no Colégio Oswaldo Cruz, <strong>de</strong>pois diretor do setor <strong>de</strong> Educação e Cultura<br />
do SESI, on<strong>de</strong> teve contato com a educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos. Ele é também Doutor em<br />
Filosofia e História da Educação.
Segundo Paulo Freire, “ a leitura do mundo prece<strong>de</strong> a<br />
leitura da palavra”(Freire, 1986,p.11). É necessário enten<strong>de</strong>r o<br />
que acontece em sua volta para fazer uma leitura crítica das<br />
palavras, do que você ouve, interpretar o que você está lendo e<br />
não somente aceitar colocações formadas por alguém que<br />
<strong>de</strong>seja que você entenda o que ele quer que você entenda, e<br />
não <strong>de</strong>scubra o sentido que as vezes está embutido em algumas<br />
palavras.<br />
Paulo Freire(1986) cita exemplos <strong>de</strong> sua vida em que ele<br />
apren<strong>de</strong>u a leitura da palavra, on<strong>de</strong> foi alfabetizado por seus<br />
pais com palavras <strong>de</strong> seu mundo, tornando assim, mais fácil sua<br />
alf abetização.<br />
Quando foi para a escola, já estava alfabetizado, e com<br />
sua professora continuou o aprendizado sempre tendo uma<br />
leitura do mundo. Com ela diz Paulo Freire “a leitura da palavra,<br />
da frase, da sentença, jamais significou uma ruptura com a<br />
“leitura”do mundo. Com ela, a leitura da palavra foi a leitura da<br />
“palavramundo”(Freire, 1986,p.17).<br />
Essa forma <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o que realmente está escrito é<br />
muito importante pois torna a leitura prazerosa e interessante. O<br />
aluno percebe que está sendo inserido em um contexto real, <strong>de</strong><br />
que ele faz parte.<br />
Paulo Freire(1986) conta <strong>de</strong> sua experiência enquanto<br />
estudante e professor e mostra que é realmente importante o<br />
alf abetizando enten<strong>de</strong>r o que ele está lendo, fazer uma relação<br />
daquela leitura com o mundo para ficar mais fácil sua<br />
interpretação durante a leitura. Se ele apenas lê para <strong>de</strong>corar ou<br />
memorizar a leitura ele não vai estar absorvendo nem<br />
enten<strong>de</strong>ndo aquela leitura.
“A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão<br />
escrita da expressão oral”(Freire, 1986,p.21). Segundo o autor<br />
quando o aluno <strong>de</strong>scobre essa forma <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a escrita, aí<br />
sim chega o momento <strong>de</strong>le criar. “O ato <strong>de</strong> ler implica sempre<br />
na percepção crítica, interpretação e “re-escrita” do<br />
lido”.(Freire, 1986,p.24)<br />
Um aspecto que achei importante é quando Paulo Freire diz<br />
que “qualquer aluno tem o direito <strong>de</strong> dizer a sua palavra. Direito<br />
<strong>de</strong>les <strong>de</strong> falar a que correspon<strong>de</strong> o nosso <strong>de</strong>ver (educador) <strong>de</strong><br />
escutá-los””(Freire, 1986,p.30). É o que <strong>de</strong>veria sempre<br />
acontecer, o professor ouvir o aluno e saber falar para que esse<br />
aluno possa compreen<strong>de</strong>-lo e apren<strong>de</strong>r o que lhe foi passado.<br />
Freire:<br />
É interessante ressaltar também duas afirmações <strong>de</strong> Paulo<br />
Quem apenas fala e jamais ouve; quem<br />
“imobiliza”o conhecimento e o transfere a<br />
estudantes, quem ouve o eco, apenas <strong>de</strong> suas<br />
próprias palavras, quem consi<strong>de</strong>ra petulância a<br />
classe trabalhadora reivindicar seus direitos,<br />
não tem realmente nada que ver com a<br />
libertação nem <strong>de</strong>mocracia (Freire,1986,p. 30).<br />
A outra afirmação diz, “Só educadoras e educadores<br />
autoritários negam a solidarieda<strong>de</strong> entre o ato <strong>de</strong> educar e o ato<br />
<strong>de</strong> ser educado pelos educandos”(Freire, 1986,p.32).<br />
Verif icamos <strong>de</strong>ssa forma o quanto é necessário o educador<br />
saber ouvir, dialogar com o aluno, ou seja ter a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>r apren<strong>de</strong>r com os educandos, com suas experiências <strong>de</strong><br />
vida, com os conhecimentos que eles trazem para a sala <strong>de</strong><br />
aula.
Pu<strong>de</strong> observar que Paulo Freire(1986) enfatiza em boa<br />
parte <strong>de</strong>sse livro que o aluno <strong>de</strong>ve ser livre para o pensar, o<br />
educador <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>ixá-lo livre para trazer suas experiências para<br />
a sala <strong>de</strong> aula e <strong>de</strong>ve também <strong>de</strong>ixar que ele se torne um sujeito<br />
participativo <strong>de</strong> sua etapa <strong>de</strong> alfabetização.<br />
Paulo Freire(1986) leva-nos também à compreensão da<br />
prática <strong>de</strong>mocrática e crítica da leitura do mundo e da palavra,<br />
on<strong>de</strong> a leitura não <strong>de</strong>ve ser memorizada mecanicamente, mas<br />
ser <strong>de</strong>safiadora que leve o alfabetizando a pensar e analisar a<br />
realida<strong>de</strong> em que ele vive. É essencial que saibamos valorizar a<br />
cultura popular em que nosso aluno está inserido, partindo <strong>de</strong>sta<br />
cultura e procurando aprofundar seus conhecimentos, para que<br />
participe do processo permanente da sua libertação.<br />
Sobre isto <strong>de</strong>staca Paulo Freire.<br />
A insistência na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leituras sem<br />
o <strong>de</strong>vido a<strong>de</strong>ntramento nos textos a ser<br />
compreendidos, e não mecanicamente<br />
memorizados, revela uma visão mágica da<br />
palavra escrita (Freire, 1986,p. 19).<br />
Para uma leitura crítica o aluno <strong>de</strong>ve ler com curiosida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r o que está lendo, até mesmo relacionando a algo<br />
real para ficar mais fácil a compreensão. Essa leitura <strong>de</strong>ve ser<br />
prazerosa, on<strong>de</strong> o educando consiga absorver o foco principal<br />
do que está lendo. É necessário que ele seja estimulado, que<br />
<strong>de</strong>senvolva a criativida<strong>de</strong> e que tenha uma educação que una a<br />
prática e a teoria. Paulo Freire enten<strong>de</strong> da seguinte forma essa<br />
maneira <strong>de</strong> ajuda-lo:
o fato do aluno necessitar da ajuda do<br />
educador, como ocorre em qualquer relação<br />
pedagógica, não significa <strong>de</strong>ver a ajuda do<br />
educador anular a sua criativida<strong>de</strong> e a sua<br />
responsabilida<strong>de</strong> na construção <strong>de</strong> sua<br />
linguagem escrita e na leitura <strong>de</strong>sta linguagem<br />
(Freire,1986,p.21).<br />
O livro “ ∗ Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos “ <strong>de</strong> Gadotti e<br />
José Romão <strong>de</strong>fine alguns termos para mostrar o que a<br />
educação <strong>de</strong> adultos é ou po<strong>de</strong> ser, em si mesma. Quais as<br />
possibilida<strong>de</strong>s para a transformação das condições existentes<br />
no momento, como a moradia, saú<strong>de</strong> etc.<br />
Para Gadotti:<br />
A educação popular, como uma concepção<br />
geral da educação, via <strong>de</strong> regra se opôs a<br />
educação <strong>de</strong> adultos impulsionada pela<br />
educação estatal e tem ocupado os espaços que<br />
∗ GADOTTI, Moacir e ROMÃO, José E (Org.). Educação <strong>de</strong> jovens e adultos. Teoria, prática e<br />
proposta. São Paulo. Ed. Cortez, 1995. Moacir Gadotti é Licenciado em Pedagogia(1967) e em<br />
Filosofia(1971). José Eustáquio Romão, é Professor Universitário, Licenciado em História e OSPB,<br />
Doutor em História Social e Doutor em História e Filosofia da Educação.
a educação <strong>de</strong> adultos oficial não levou muito a<br />
sério (Gadotti,1995,p.26).<br />
Segundo o autor, essa educação baseia-se em um respeito<br />
pelo senso comum que traz os setores populares em sua prática<br />
cotidiana, problematizando esse senso comum, tratando <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scobrir a teoria presente na prática popular, teoria ainda não<br />
conhecida pelo povo, problematizando-a, incorporando-lhe um<br />
raciocínio mais rigoroso, <strong>científico</strong> e unitário.<br />
Os jovens e adultos precisam ter uma boa educação para<br />
superar suas condições precárias <strong>de</strong> vida. Esse tipo <strong>de</strong><br />
problema não <strong>de</strong>veria existir, cada pessoa <strong>de</strong>veria ter pelo<br />
menos o básico para viver. Para Gadotti (1995) essas más<br />
condições <strong>de</strong> vida como a moradia, saú<strong>de</strong>, alimentação, estão<br />
na raiz do problema do analfabetismo. O <strong>de</strong>semprego, os baixos<br />
salários e as péssimas condições <strong>de</strong> vida comprometem o<br />
processo <strong>de</strong> alfabetização dos jovens e adultos.<br />
Para Gadotti, “o analfabetismo é a expressão da pobreza,<br />
conseqüência inevitável <strong>de</strong> uma estrutura social<br />
injusta”(Gadotti,1995,p.28). Para combatê-lo é necessário<br />
combater suas causas. Conhecer a condição <strong>de</strong> vida do<br />
educando, como moradia salário, família, entre outros. Mas<br />
conhecendo <strong>de</strong> perto. Por isso o processo <strong>de</strong> alfabetização é<br />
f acilitado quando o educador é do próprio meio. De acordo com<br />
isso Gadotti nos fala que:<br />
“Os educadores precisam respeitar as<br />
condições culturais, do jovem e do adulto<br />
analfabeto. Eles precisam fazer o diagnóstico
histórico-econômico do grupo ou comunida<strong>de</strong><br />
que irão trabalhar e estabelecer um canal <strong>de</strong><br />
comunicação entre o saber técnico e o saber<br />
popular” (Gadotti, 1995,p.28).<br />
É necessário o educador estudar o lugar que ele vai<br />
trabalhar e formar uma didática totalmente voltada para aquelas<br />
pessoas em especial. Por esse motivo <strong>de</strong>cidi que minha<br />
<strong>pesquisa</strong> <strong>de</strong>veria ser feita no SERPRO porque os alunos e os<br />
professores que são todos funcionários da Empresa, convivem<br />
no mesmo ambiente, tornando assim mais fácil esse diagnóstico<br />
que Gadotti (1995) cita.<br />
É muito importante lembrar que conforme diz Gadotti, “O<br />
educador popular é um animador cultural, um articulador, um<br />
organizador”(Gadotti, 1995, p.29). O professor precisa inserir<br />
exemplos do cotidiano dos alunos, organizar qual a melhor<br />
maneira <strong>de</strong> lhes transmitir conhecimento.<br />
Para Gadotti (1995), a educação <strong>de</strong> adultos <strong>de</strong>ve ser<br />
sempre uma educação que <strong>de</strong>senvolve o conhecimento e a<br />
integração na diversida<strong>de</strong> cultural. O educador <strong>de</strong>ve ser mostrar<br />
como um bom a<strong>de</strong>pto do diálogo.<br />
O professor <strong>de</strong>ve saber falar com o alfabetizando, saber<br />
ouvir, e até mesmo apren<strong>de</strong>r com experiências trazidas pelo<br />
aluno, fazendo com que esse aluno saiba porque ele está<br />
estudando aquela matéria, e qual o verda<strong>de</strong>iro sentido daquelas<br />
palavras que ele está lendo.
Segundo Gadotti (1995), o educador tem que auxiliar o<br />
aluno para que além <strong>de</strong> enxergar palavras prontas nos livros,<br />
ele perceba que é livre para <strong>de</strong>scobrir o significado da leitura.<br />
Por isso ele diz que:<br />
Na verda<strong>de</strong> ninguém alfabetiza ninguém. O<br />
alfabetizador não alfabetiza o aluno. Ele é o<br />
mediador entre o aprendiz e a escrita, entre o<br />
sujeito e o objeto <strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong><br />
apropriação do conhecimento<br />
(Gadotti,1995,p.34).<br />
De acordo com o que Gadotti (1995) diz, além <strong>de</strong> tudo que<br />
já vimos sobre a necessida<strong>de</strong> do aluno adulto, por ele ter uma<br />
melhor percepção da vida ele quer ver a aplicação imediata do<br />
que está apren<strong>de</strong>ndo, pois sua ignorância lhe traz angústia,<br />
complexo <strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong>. Por isso é necessário que tudo isso<br />
seja analisado, pois o primeiro direito do alfabetizando é o<br />
direito <strong>de</strong> se expressar. É preciso também ter uma seqüência na<br />
alf abetização <strong>de</strong>sse aluno, porque se ele apren<strong>de</strong> mas não<br />
pratica o que apren<strong>de</strong>u, regri<strong>de</strong> ao analfabetismo.<br />
C AP Í T U L O III – AN ÁL I SE DE DADOS<br />
A <strong>pesquisa</strong> foi realizada na “Escolinha” <strong>de</strong> Jovens e<br />
Adultos do SERPRO – Serviço Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Processamento <strong>de</strong><br />
Dados, situada na SGAN Quadra 601 módulo V - Se<strong>de</strong> do<br />
SERPRO, na Asa Norte.<br />
O objetivo da escola é o incentivo ao estudo e formação<br />
educacional <strong>de</strong> seus funcionários que ainda não são<br />
alf abetizados, ou que fizeram somente uma ou duas séries e que
por algum motivo interromperam seus estudos. Esses alunos<br />
( funcionários ), são dispensados <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s uma hora<br />
por dia, <strong>de</strong> segunda a sexta-f eira, para estarem com uma<br />
professora que os orienta em suas ativida<strong>de</strong>s educacionais. As<br />
aulas são divididas entre os turnos matutino e vespertino, on<strong>de</strong><br />
duas professoras se revezam pela manhã dando cada uma <strong>de</strong>las,<br />
uma aula, com duração <strong>de</strong> uma hora, para turmas diferentes. Na<br />
parte da tar<strong>de</strong> acontece tudo da mesma forma, mudando<br />
somente as professoras que são outras duas estagiárias.<br />
Em visita a escola para interá-los <strong>de</strong> meu objetivo, que<br />
seria a <strong>pesquisa</strong> sobre “Fatores que Ocasionaram a Exclusão<br />
Escolar <strong>de</strong> Jovens e Adultos do SERPRO na Faixa Etária<br />
Prevista para Educação Básica - Um Olhar do Próprio Sujeito”,<br />
f ui recebida pela responsável do projeto <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Jovens<br />
e Adultos, Selma dos Reis Froes Nunes, a qual me recebeu<br />
muito bem, me explicando como funciona a escolinha do<br />
SERPRO, quantos alunos possuem, quantos professores, e seus<br />
objetivos.<br />
Fui então encaminhada para uma conversa informal com<br />
algumas das professoras on<strong>de</strong> novamente falei <strong>de</strong> meu objetivo,<br />
e elas se propuseram a me auxiliar permitindo que eu visitasse<br />
as aulas e entrevistasse os alunos.<br />
Para realização <strong>de</strong>sse trabalho utilizei como instrumento a<br />
entrevista, a qual foi aplicada a 08 (oito) alunos e foi também<br />
gravada, e que <strong>de</strong>pois transcrevi na íntegra para o papel.<br />
( anexos)
A escola é formada até o presente momento por 12 alunos<br />
e 04 professores, on<strong>de</strong> 100% dos professores são do sexo<br />
f eminino.<br />
A escola por ser localizada <strong>de</strong>ntro da Empresa SERPRO, é<br />
composta somente <strong>de</strong> uma sala <strong>de</strong> aula, on<strong>de</strong> as professoras se<br />
revezam entre os turnos matutino e vespertino para dar aulas a<br />
grupos diferentes <strong>de</strong> alunos. Uma vez por mês a coor<strong>de</strong>nadora<br />
do Projeto faz uma reunião <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação com as professoras.<br />
A coor<strong>de</strong>nação do projeto <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos é<br />
f eita por funcionários da Empresa, que trabalham na área <strong>de</strong><br />
Re<strong>curso</strong>s Humanos e foram <strong>de</strong>stinados a criar essa escolinha<br />
que começou com as primeiras séries e que agora já implantou<br />
até a 5 série, e já estão com projetos para a 6 série.<br />
O relacionamento entre alunos e professores é totalmente<br />
agradável e harmonioso.<br />
Nos dias em que estive fazendo minha observação,<br />
verif iquei o quanto os alunos gostam <strong>de</strong> seus professores.<br />
Durante a entrevista eles sempre os elogiavam. Pu<strong>de</strong> constatar<br />
que os professores realmente respeitam seus alunos, suas<br />
dif erenças e suas experiências <strong>de</strong> vida.<br />
As professoras fazem parte do quadro <strong>de</strong> estagiários do<br />
SERPRO, e todas estão cursando Pedagogia. Para estagiar na<br />
Escolinha <strong>de</strong> Jovens e Adultos do SERPRO, é necessário estar<br />
cursando a partir do segundo semestre do <strong>curso</strong> <strong>de</strong> Pedagogia.<br />
Os sujeitos entrevistados, alunos do EJA do SERPRO,<br />
po<strong>de</strong>m ser caracterizados da seguinte forma.
mulheres.<br />
Dos 08 alunos entrevistados, 50% são homens e 50% são<br />
GRÁFICO I<br />
homens<br />
mulheres<br />
Questionando esses mesmos alunos quanto a ida<strong>de</strong> obtive<br />
os seguintes números:<br />
De 20 à 30 anos são 12,5% dos alunos.<br />
De 30à 40 anos são 25% dos alunos.<br />
De 40 à 50 anos são 37,5% dos alunos.<br />
E <strong>de</strong> 50 a 60 anos são 25% dos alunos.<br />
GRÁFICO II
20 a 30 anos<br />
30 a 40 anos<br />
40 a 50 anos<br />
50 a 60 anos<br />
Dos 08 (oito) alunos entrevistados e questionados a<br />
respeito <strong>de</strong> sua infância, ou seja se trabalharam quando criança:<br />
75% dos interlocutores, alegaram que não estudaram<br />
quando criança porque trabalhavam para ajudar a família;<br />
12,5% afirmaram não terem estudado por falta <strong>de</strong><br />
interesse, mesmo havendo incentivo dos pais;<br />
12,5% respon<strong>de</strong>ram que não estudaram por cuidar <strong>de</strong> casa<br />
e filhos, ficando assim preso também ao fator econômico por<br />
não ter como pagar alguém para cuidar dos filhos e cuidar da<br />
casa, tendo acesso à escola somente <strong>de</strong>pois dos filhos criados.
GRÁFICO III<br />
Trabalhavam<br />
quando criança<br />
Falta <strong>de</strong> interesse<br />
próprio<br />
Dedicaram ao lar<br />
e a família<br />
De acordo com o que já havia citado nesse trabalho,<br />
quando falamos sobre o problema sócio-econômico do país;<br />
verif icamos que os problemas <strong>de</strong> moradia, saú<strong>de</strong>, alimentação<br />
entre outros são os gran<strong>de</strong>s causadores das raízes do<br />
analfabetismo, ou seja, a criança que não tem uma moradia fixa,<br />
uma boa alimentação e uma boa saú<strong>de</strong>, é difícil essa criança ter<br />
um bom rendimento nos estudos, e assim o número <strong>de</strong><br />
analfabetos po<strong>de</strong> ficar cada vez mais significativo.<br />
Para Gadotti, “o analfabetismo é a expressão da pobreza,<br />
conseqüência inevitável <strong>de</strong> uma estrutura social<br />
injusta”(Gadotti,1995,p,28).<br />
Coloco novamente essa citação, pois ela nos leva a pensar<br />
como uma estrutura social influi em toda a educação <strong>de</strong> um<br />
indivíduo. Se nesse nosso país existem poucos com muito e<br />
muitos com tão pouco, é aí que está a maior injustiça. Enquanto
uma classe tão restrita po<strong>de</strong> usufruir <strong>de</strong> uma boa educação, a<br />
maioria da população é tão pobre e <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> re<strong>curso</strong>s que<br />
não tem nem mesmo o que comer, e quem dirá condições para<br />
estudar.<br />
E é daí que cresce o número <strong>de</strong> pessoas que não se<br />
alf abetizam, e é claro não concluem nem mesmo o <strong>ensino</strong><br />
f undamental. Esses fatores fazem com que o analfabetismo seja<br />
a expressão, a conseqüência da pobreza que existe por causa<br />
<strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> injusta e <strong>de</strong> rendas tão mal distribuídas.
C AP Í T U L O IV - C O NCLUSÃO<br />
Essa <strong>pesquisa</strong> foi <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância, pois me<br />
proporcionou um contato maravilhoso com pessoas (alunos), que<br />
passavam por mim todos os dias nos corredores da empresa que<br />
trabalho, SERPRO, trocávamos um bom dia, mas eu não<br />
imaginava que fossem pessoas tão especiais e batalhadoras.<br />
Essa convivência com esses alunos durante toda a minha<br />
<strong>pesquisa</strong> me possibilitou rever conceitos e mudar concepções<br />
que eu já havia estabelecido, sem buscar informações do<br />
próprio sujeito.<br />
A <strong>pesquisa</strong> aos poucos foi se tornando realida<strong>de</strong>. Elaborei<br />
um roteiro <strong>de</strong> entrevista gravada com os alunos da “Escolinha”<br />
<strong>de</strong> Jovens e Adultos do SERPRO . Transcrevi essas respostas<br />
e comecei a analisá-las <strong>de</strong> acordo com as citações dos autores<br />
que utilizei em minha monografia.<br />
Da análise feita na “Escolinha”, <strong>de</strong>i início à minha análise<br />
<strong>de</strong> dados on<strong>de</strong> <strong>de</strong>screvi todas as informações que obtive nessa<br />
<strong>pesquisa</strong>.<br />
Algumas dificulda<strong>de</strong>s surgiram na medida em que tinha que<br />
transcrever o que vi e ouvi daqueles alunos, entre elas suas<br />
histórias, sua infância, a vonta<strong>de</strong> que a maioria <strong>de</strong>monstrava em<br />
ter estudado quando criança, enfim a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um.<br />
Aprendi muito com essa <strong>pesquisa</strong>, com cada um daqueles<br />
alunos. Ë impressionante a força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> que eles têm, a<br />
esperança <strong>de</strong> uma vida melhor através dos estudos.<br />
No início do projeto <strong>de</strong> <strong>pesquisa</strong> eu não imaginava a<br />
imensidão <strong>de</strong>sse problema que é o analfabetismo. Mas <strong>de</strong>pois da
<strong>pesquisa</strong> que fiz com esses alunos do SERPRO, percebi que o<br />
trabalho infantil, <strong>de</strong> que eles foram vítimas, não possibilitou o<br />
acesso dos mesmos à escola em ida<strong>de</strong> regular.<br />
Foi constatado também em minha <strong>pesquisa</strong> que 87.5% dos<br />
alunos foram vítimas do problema sócio-econômico existente em<br />
nosso país, ou seja, não estudaram quando criança, ou<br />
começaram os estudos e tiveram que parar por falta <strong>de</strong><br />
condições financeiras dos pais, tendo que trabalhar em casa ou<br />
f ora, para ajudar na sobrevivência da família.<br />
Pu<strong>de</strong> também verificar que <strong>de</strong> acordo com o que Gadotti<br />
(1995) fala e <strong>de</strong>pois po<strong>de</strong>ndo comparar com as respostas da<br />
entrevista que fiz com os interlocutores <strong>de</strong> minha <strong>pesquisa</strong>, o<br />
aluno que começa seus estudos e apren<strong>de</strong> a ler e escrever e<br />
<strong>de</strong>pois, por algum motivo, tem que interrompê-los e não tem<br />
como praticar a leitura e a escrita volta a ser analfabeto.<br />
Constatei isso em conversa informal com alguns alunos<br />
on<strong>de</strong> eles me disseram que já haviam estudado quando criança,<br />
mas precisaram parar e com a falta da prática <strong>de</strong>sapren<strong>de</strong>ram e<br />
agora quando retornaram começaram do início novamente pois<br />
já não se lembravam do que haviam aprendido.<br />
As pessoas formam suas palavras através da leitura que<br />
elas fazem do ambiente que vivem, das pessoas que se<br />
relacionam, e <strong>de</strong>ssa forma pu<strong>de</strong> observar que na “Escolinha” <strong>de</strong><br />
Jovens e Adultos do SERPRO, os professores buscam isso, eles<br />
permitem que os alunos busquem experiências <strong>de</strong> seu cotidiano<br />
para <strong>de</strong>baterem em sala <strong>de</strong> aula. Quando sentem que o aluno<br />
não está absorvendo o conteúdo, fazem exercícios relacionados<br />
ao dia a dia <strong>de</strong>les, como por exemplo no dia em que a<br />
professora fez um café na sala <strong>de</strong> aula, <strong>de</strong>batendo com os
alunos, que inclusive alguns trabalham na copa, sobre<br />
matemática. Quantas colheres disso, quantas daquilo, medidas<br />
etc. Assim fica mais fácil para o aluno assimilar.<br />
E <strong>de</strong>ssa forma, verifiquei que a equipe <strong>de</strong> educadores do<br />
SERPRO age com todo respeito ao conhecimento do aluno. Os<br />
alunos são ouvidos e suas experiências preservadas para<br />
adquirirem novos conhecimentos.<br />
Acredito que através <strong>de</strong> programas voltados para a<br />
educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos, sendo eles públicos ou privados,<br />
como é o caso do SERPRO, teremos cada dia mais alunos<br />
completando as séries básicas. Não po<strong>de</strong>mos esquecer também,<br />
que é necessário acabar com o trabalho infantil e com vários<br />
outros fatores que propiciam a exclusão da escola em ida<strong>de</strong><br />
regular. Precisamos que todas as crianças em ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso à<br />
escola estejam realmente na escola, pois só assim eliminaremos<br />
tantas salas <strong>de</strong> aula formadas por jovens e adultos.
R E F E R E NCIAL BIBLIOGRÁFICO<br />
FREIRE, Paulo. A importância do ato <strong>de</strong> ler. São Paulo. Ed.<br />
Cortez, 1986.<br />
GADOTTI, Moacir e ROMÃO, José E (Org.). Educação <strong>de</strong> jovens<br />
e adultos. Teoria, prática e proposta. São Paulo.Ed.<br />
Cortez,1995.<br />
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO.. Capturado em<br />
21 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2002. Online.<br />
Disponível na Internet http:// www.mec.gov.br<br />
Disponível na Internet http:// www.história <strong>de</strong> vida.com.br
INSTITUTO CIENTÍFICO DE ENSINO SUPERIOR<br />
E PESQUISA<br />
CURSO DE PEDAGOGIA – ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR<br />
INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS<br />
Questionário<br />
Alunos<br />
Este questionário tem o objetivo <strong>de</strong> coletar dados para<br />
<strong>pesquisa</strong> que objetiva investigar a temática Educação <strong>de</strong> Jovens<br />
e Adultos. Como campo, selecionamos o Serpro - Serviço<br />
Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Processamento <strong>de</strong> Dados.<br />
Agra<strong>de</strong>ço antecipadamente sua colaboração no sentido <strong>de</strong><br />
f ornecer os dados necessários para as análises.<br />
Reafirmo que este documento será utilizado apenas como<br />
referencial <strong>de</strong>sta <strong>pesquisa</strong>.<br />
I - Dados pessoais:<br />
1- Nome:<br />
2- Ida<strong>de</strong>:<br />
3- Local <strong>de</strong> Nascimento:<br />
4- Casado (a):<br />
5- T em filhos? Quantos?<br />
II – Informações<br />
Obrigada,<br />
Vanessa.
6- Você trabalhava quando criança/ ou adolescente?<br />
7- Você chegou a começar seus estudos quando criança?<br />
8- Se não, por que motivos?<br />
9- Se sim, quais os fatores que o levaram a <strong>de</strong>ixar a escola ?<br />
10- Que motivações levaram você a retomar os estudos?<br />
RESPOSTAS DOS INTERLOCUTORES QUANTO A<br />
ENTREVISTA:<br />
Interlocutor 1<br />
Ida<strong>de</strong>: 38 anos<br />
Local <strong>de</strong> Nascimento: Itacaré – BA<br />
Casado: Sim<br />
Tem filhos? T enho. Quantos? quatro filhos.<br />
Você trabalhava quando criança/ou adolescente?<br />
Comecei a trabalhar com ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 8 (oito) anos. Por<br />
causa <strong>de</strong>sse trabalho, eu trabalhava com meus pais e não foi<br />
possível eles me colocarem na escola, porque a gente<br />
trabalhava na roça. Meu pai era daqueles homens “cabeçudo”e<br />
aí não <strong>de</strong>ixava a gente estudar porque tinha que ajudar ele, e aí<br />
o tempo foi passando e a gente não estudou.<br />
Você chegou a começar seus estudos quando criança?<br />
Não. Aprendi a assinar o nome em casa com o meu<br />
cunhado, marido da minha irmã.<br />
Que motivações levaram você a retomar os estudos?<br />
Eu já tentei várias vezes, inclusive o pouco que eu<br />
aprendi a ler e escrever foi porque em 1992 eu entrei em um<br />
colégio na 410 sul. E é por causa dos objetivos, a gente sempre<br />
tem que pensar num futuro melhor.<br />
Eu estava trabalhando, e lá eles exigiam um grau <strong>de</strong><br />
escolarida<strong>de</strong>. E aí eu matriculei e fui estudar para pegar o
certif icado que eu estava estudando, se eu não adquirisse o<br />
certif icado eu não podia ficar com a vaga que eu estava<br />
assumindo.Quando eu mu<strong>de</strong>i para o Goiás, ficou difícil, eu<br />
estudar e trabalhar e aí eu saí do colégio. E agora comecei aqui<br />
no SERPRO esse ano.<br />
Interlocutor 2<br />
Ida<strong>de</strong>: 35 anos<br />
Local <strong>de</strong> Nascimento: Pernambuco<br />
Casado: Sim<br />
Tem filhos? T enho. Quantos? quatro filhos, dois meninos<br />
e duas meninas.<br />
Você trabalhava quando criança/ ou adolescente?<br />
Trabalhava um pouco né! Trabalhei em roça, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
roça fui trabalhar na área <strong>de</strong> comércio.<br />
escola?<br />
Você chegou a começar seus estudos quando criança?<br />
Comecei, parei.<br />
Se sim, quais os fatores que o levaram a <strong>de</strong>ixar a<br />
Tinha que se virá para conquistar algumas coisas.<br />
Eu estu<strong>de</strong>i até os <strong>de</strong>zessete, <strong>de</strong>zoito anos, mais ou menos.<br />
Fiz o 1º, 2º, 3º e 4º anos, <strong>de</strong>pois parei, voltei fiquei até o 6º ano<br />
e parei <strong>de</strong> novo.<br />
Que motivações levaram você a retomar os estudos?<br />
Eu comecei praticamente essa semana. E porque é o<br />
seguinte. A gente sabe muito poucas coisas, e acho que é
interessante a gente saber muito mais e então peguei essa<br />
oportunida<strong>de</strong> aí e estou querendo voltar no 6º ano. Estou<br />
tentando pra ver se vai dar certo, se não <strong>de</strong>r tem que esperar<br />
mais.<br />
Interlocutor 3<br />
Ida<strong>de</strong>: 19, não 29 anos.<br />
Local <strong>de</strong> Nascimento: Arco Ver<strong>de</strong>. Pernambuco<br />
Casado: Não<br />
Tem filhos? Não<br />
Você trabalhava quando criança/ou adolescente?<br />
N a roça.<br />
V o cê chegou a começar seus estudos quando criança?<br />
Quando eu era criança não. Comecei a estudar <strong>de</strong>pois que<br />
eu cheguei aqui em Brasília, com vinte anos mais ou menos.<br />
Quais os fatores que o levaram a <strong>de</strong>ixar a escola?<br />
Eu mu<strong>de</strong>i. Estava aqui na Ceilândia, aí mu<strong>de</strong>i para o<br />
Goiás, aí “bagunçou “tudo. Trabalhando, estudando, saindo mais<br />
tar<strong>de</strong> do serviço, aí não dava pra estudar.<br />
Que motivações levaram você a retomar os estudos?<br />
Hoje em dia se não tiver estudo, a gente não tem nada.<br />
Mas é bom. Saber ler é bom <strong>de</strong>mais. Comecei aqui no SERPRO<br />
e fiz do 1º ao 4º ano, aí terminei, fiz o 4º ano <strong>de</strong> novo pra não<br />
f icar parado e aí esse ano começou o 5º ano e eu estou aqui.
Interlocutor 4<br />
Ida<strong>de</strong>: 48 anos<br />
Local <strong>de</strong> Nascimento: Goiânia<br />
Casado: Não. Solteira<br />
Tem filhos? T enho. Quantos? Um casal<br />
Você trabalhava quando criança/ou adolescente?<br />
Não.<br />
Você chegou a começar seus estudos quando criança?<br />
Estu<strong>de</strong>i. Eu fiz até a 5 série.<br />
Se sim quais os fatores que a levaram <strong>de</strong>ixar a escola?<br />
Foi malandragem mesmo. O meu pai me <strong>de</strong>u todas as<br />
condições <strong>de</strong> estudar.<br />
A minha mãe morreu quando eu tinha 06 meses e o meu pai<br />
para suprir essa falta <strong>de</strong>ixava eu fazer tudo, eu que impunha<br />
meus limites, e aí eu não quis mais estudar.<br />
Que motivações levaram você a retomar os estudos?<br />
Vonta<strong>de</strong>. Acho que nunca é tar<strong>de</strong> pra gente apren<strong>de</strong>r.
netos.<br />
Interlocutor 5<br />
Ida<strong>de</strong>: 60 anos<br />
Local <strong>de</strong> Nascimento: São José da Lagoa da Prata. PA<br />
Casado: Sim<br />
Tem filhos? T enho. Quantos? Quatro filhos e quatro<br />
Você trabalhava quando criança/ou adolescente?<br />
Sim. Comecei a trabalhar; morava no sítio, comecei a<br />
trabalhar novo, com uns <strong>de</strong>z anos.<br />
Você chegou a começar seus estudos quando criança?<br />
Não. Naquela época não existia escola naquela região<br />
on<strong>de</strong> nós morávamos, morava na roça. Agora <strong>de</strong> uns anos<br />
<strong>de</strong>sses pra cá é que a gente veio ver que tem escola lá na<br />
região.<br />
Que motivações levaram você a retomar os estudos?
Eu já tentei várias vezes aqui em Brasília. É porque<br />
quando eu começava a estudar, muitas vezes a gente começava<br />
a trabalhar e ia embora pra roça e a coisa continuava do mesmo<br />
jeito. Aí agora é que começamos a estudar <strong>de</strong> novo e agora é<br />
uma hora por dia mais pra mim está valendo a pena, porque a<br />
gente está recordando o que já havia esquecido.<br />
Interlocutor 6<br />
Ida<strong>de</strong>: 56 anos<br />
Local <strong>de</strong> Nascimento: Monte Alegre. PI<br />
Casada: Casada<br />
Tem filhos? T enho. Quantos? Seis<br />
Você trabalhava quando criança/ou adolescente?<br />
Não. Só vim trabalhar <strong>de</strong>pois dos meninos gran<strong>de</strong>.<br />
Você chegou a começar seus estudos quando criança?<br />
Estu<strong>de</strong>i até a 4 série. Lá no Piauí eu estu<strong>de</strong>i até mais ou<br />
menos a 3 e cheguei aqui e fiz a 4 .<br />
escola?<br />
Se sim, quais os fatores que a levaram <strong>de</strong>ixar a
Eu fiquei grávida do último menino e aí eu saí do colégio<br />
e não voltei mais.<br />
Que motivações levaram você a retomar os estudos?<br />
É a gente apren<strong>de</strong>r pelo menos, escrever corretamente.<br />
Porque muita coisa a gente não vai apren<strong>de</strong>r. Apren<strong>de</strong>r fazer<br />
uma continha. E graças a Deus eu já sei.<br />
E muita coisa a gente esquece. Eu já tinha <strong>de</strong>zoito anos<br />
que eu não estudava. Aí eu voltei para a Escolinha, aí eu já sei<br />
f azer continha, recor<strong>de</strong>i muita coisa que eu já tinha esquecido.<br />
Interlocutor 7<br />
Ida<strong>de</strong>: 46 anos<br />
Local <strong>de</strong> Nascimento: Água Branca - PI<br />
Casada: Divorciada<br />
Tem filhos? T enho. Quantos? Seis<br />
Você trabalhava quando criança/ou adolescente?<br />
Eu vim pra Brasília com oito anos e comecei a trabalhar<br />
com oito anos, <strong>de</strong> babá, em casa <strong>de</strong> família.<br />
Você chegou a começar seus estudos quando criança?<br />
Não tinha tempo, as vezes a gente ia trabalhar, quando<br />
chegava no colégio, já era passado <strong>de</strong> hora aí não <strong>de</strong>ixavam a<br />
gente entrar, tinha que voltar <strong>de</strong> novo e assim foi a minha vida.
Que motivações levaram você a retomar os estudos?<br />
Há, porque a gente tem que estudar né! Apren<strong>de</strong>r mais<br />
alguma coisa. A gente apren<strong>de</strong>u um pouquinho, mas a gente<br />
esqueceu, então a gente tem que estudar pra conseguir alguma<br />
coisa na vida.<br />
E a minha professora tem paciência comigo, é um doce,<br />
me coloca lá no cantinho, vai soletrando e eu estou<br />
conseguindo.<br />
Interlocutor 8<br />
Ida<strong>de</strong>: Oh, minha ida<strong>de</strong> certa é 44 anos<br />
Local <strong>de</strong> Nascimento: Nasci em Anápolis<br />
Casada: Viúva<br />
Tem filhos? T enho. Quantos? Seis<br />
Você trabalhava quando criança/ou adolescente?<br />
Des<strong>de</strong> os sete anos pra ajudar minha mãe.<br />
Você chegou a começar seus estudos quando criança?<br />
Eu estu<strong>de</strong>i, pouco né. Sempre saía, porque eu vim trabalhar aqui.<br />
Se sim, quais os fatores que a levaram a <strong>de</strong>ixar a escola?
Eu engravi<strong>de</strong>i com doze anos e larguei. Quando eu fiquei grávida, eles<br />
ficavam falando <strong>de</strong> mim na escola, eu fiquei com vergonha e saí. E aí vem um<br />
menino, vem outro, todo ano um menino.<br />
Que motivações levaram você a retomar os estudos?<br />
Pelo <strong>curso</strong> que teve aqui, o 1º <strong>curso</strong>. Aí eu pensei que eu tinha que<br />
escrever coisas, lá na frente, a Maria ficava falando que tinha que fazer uma<br />
redação, chegava lá falando tanta coisa que eu ficava com medo <strong>de</strong> escrever,<br />
fazer uma palavra errada, porque eu erro muito a letra, quando é dois “s”, o “z”e o<br />
“s”, o “c”e o “s, eu erro <strong>de</strong>mais.<br />
Agora eu estou tão boa que você precisa ver.<br />
Graças a Deus.