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outras variáveis que exigem uma análise cuidadosa para entendermos os caminhos que levaram Cabo Frio e o turismo a trilhar uma mesma estrada. O turismo como “indústria”, como atividade econômica relevante para o município só começa a se estabelecer a partir do final da década de 1950. Mesmo assim ele atravessaria toda a década de 1960 de uma forma ainda tímida e somente no final da década de 1970 é que assumiria definitivamente o papel de destaque como a principal atividade econômica do município. É nos imbricados caminhos das muitas atividades ali desenvolvidas que vamos conseguir compreender como o turismo vai pouco a pouco ganhando o seu espaço, estimulando e sendo estimulado pela cidade e como dessa relação uma nova cidade vai surgindo. Há nesta nova atividade que surge uma referência às antigas atividades – sal e pesca – no sentido de valorizá-las como sendo o que há de mais legítimo, A identidade local. Contudo, o que se vê é que esta nova atividade só se estabelece efetivamente quando tanto os personagens da velha cidade, seu mobiliário urbano e seus lugares de memória – que são apresentados como sendo a justificativa por ser aquele um destino turístico – fenecem. O antigo precisa “morrer” para que a nova atividade se estabeleça sob um novo signo – o da beleza natural. O que resta das múltiplas atividades anteriores que em Cabo Frio se desenvolveram ao longo de sua história e que durante muito tempo foram responsáveis por sua existência econômica e por sua auto-imagem são as suas diversas representações, elementos de uma memória 1 cantada por aqueles que buscam preservar um passado e uma identidade que se quer estável dentro de um universo em profunda ebulição. É neste cenário que o turismo se estabelece. Entre as atividades aqui citadas e desenvolvidas na região o sal foi com certeza a de maior relevância até a década de 1970. A indústria salineira assume um papel importantíssimo na economia do município fluminense de Cabo Frio, sendo mesmo geradora de, aproximadamente, sessenta por cento (60%) da receita municipal, concorrendo com as rendas advindas da promissora indústria de turismo que praticamente completa o orçamento do município. (B ARBIERI,1975: 7) (grifo meu) 1 A produção memorialista de Cabo Frio e região é pródiga em ressaltar a beleza e a importância do passado local.
Já a partir de 1959 podemos perceber a expressão de uma preocupação efetiva por parte do poder público com relação ao turismo. É neste momento que aparecem as primeiras resoluções 2 da Câmara de Vereadores do Município no sentido de criar órgãos que se ocupassem diretamente desta nova atividade econômica. Os órgãos criados vão se ocupar tanto da atividade turística, quanto do reordenamento urbano da cidade. Estas duas atividades fundem-se numa só e o turismo passa a desfrutar de um status que as demais atividades econômicas existentes na cidade, até então, não possuíam. Tal reordenamento passa a ser, ao contrário do que ocorria antes, uma necessidade, de modo que a cidade se adapte a esta nova atividade e não a atividade à cidade. Inferimos daí que o que é levado em consideração para a viabilização desta nova atividade econômica não são os aspectos culturais, o passado colonial ou toda a história da cidade. O turismo se apresenta como algo novo, uma atividade que rompe com o passado e no qual o aspecto antigo da cidade seus espaços de sociabilidade e de produção da riqueza, até então, não atendem às suas novas necessidades. O turismo representa o moderno, em oposição ao antigo representado pela pesca e pelas salinas, se impondo economicamente e se sobrepondo espacialmente na cidade. A resolução nº33 de 23 de outubro de 1959 criou a Comissão Municipal de Planejamento e Turismo de Cabo Frio – COMUPLATUR – O artigo 8º desta resolução afirma que “a COMUPLATUR será um órgão consultivo e coordenador podendo através de seus técnicos, (...), apreciar (...) trabalho sobre ante-projeto de leis, posturas, plano diretor, pedidos de licenças de edificação, loteamentos, etc.”. Menos de um mês depois, em 19 de novembro de 1959, a resolução de nº 39 criou o Departamento Municipal de Turismo. O curto espaço de tempo entre as duas resoluções demonstra a preocupação que passou a existir com esta nova atividade. Em 13 de abril de 1962 uma nova resolução é aprovada. Esta é a mais específica das três e a sua redação deixa claro que o período do ‘amadorismo’ 3 com relação ao turismo chegara ao fim. Esta resolução cria o Departamento de Turismo de Cabo Frio – DTCF – O art. 5º desta resolução se estende por sete parágrafos em que o poder público coloca sob a responsabilidade deste novo órgão toda a elaboração do Plano Diretor Municipal onde ele deveria: 2 Ver as resoluções da Câmara de Cabo Frio de nº 33 e nº 39 de 1959 e a de nº 15 de 1962. 3 As resoluções anteriores (23 e 39 de 1959) tratam o assunto de uma maneira muito vaga, não fica claro quem são as pessoas que irão atuar nos órgãos criados e nem tampouco que cargos elas ocupariam. No nosso entender elas, ao mesmo tempo em que representam uma preocupação efetiva, demonstram um imenso desconhecimento desta nova atividade que estava se impondo.
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