Download do Trabalho - XIV Encontro Regional de História ...

(...) apreciar e opinar sobre todos os projetos de urbanização loteamentos
particulares e municipais, obras públicas, balneários, hotéis, parque ou qualquer
realização que implique no embelezamento, defesa paisagística da cidade e do
município de Cabo Frio, as quais deverão ser obrigatoriamente submetidas à
aprovação do DTCF.
A presença de representantes tanto da Associação Rural, quanto da Associação
Comercial da cidade neste novo órgão deixa claro a importância desta nova atividade para as
demais desenvolvidas no município até então. A partir daí, e ao longo das décadas de 1960 e
1970, o turismo passou a conviver com a produção de sal e a dividir com esta o status de
principal atividade econômica do município. Contudo, ainda que a produção de sal servisse
como propaganda turística e que a imagem dos moinhos de vento e das pirâmides de sal
fossem utilizadas para seduzir o turista, podemos perceber que estas duas atividades passaram
a trilhar caminhos opostos. Enquanto o turismo foi se consolidando como principal atividade
econômica da região, o sal foi fazendo um percurso inverso e anunciando o seu declínio.
Estas duas atividades iriam mostrar-se, por fim, incompatíveis dentro do território
cabofriense. As importantes áreas de salinas a beira da lagoa passaram a ser desejadas e
disputadas pela indústria do turismo que passou, então, a agir como atividade predatória da
indústria salineira.
Até a década de 1950, foi possível a convivência de visitantes e poucos veranistas
com as indústrias da Lagoa e o comércio local. (...) Posteriormente, o mercado de
terras e de construção civil, já agora em toda a orla da Lagoa e particularmente em
Cabo Frio, passou a sofrer a influência das grandes empresas de âmbito estadual.
(...) O preço da terra torna menos vantajosa, a cada instante, a atividade salineira.
Por outro lado, o interesse em impulsionar o processo de urbanização da orla da
lagoa chocava-se, num certo sentido com a manutenção das salinas. A atividade
extrativista do sal, mais do que a pesca, exige justamente terrenos amplos na
própria margem. (...) O sal declina sob o sol. Ao contrário do que ocorre com
Macau, a estrutura urbana cerceia as salinas e o crescimento turístico e imobiliário
envolve, irremediavelmente, a velha exploração do sal. (BEAUCLAIR, 1993).
A indústria salineira, dessa forma, sofreu diretamente os efeitos da atividade turística.
Contudo, para que possamos entender melhor como a relação entre estas duas atividades
extrapola a dimensão econômica e age diretamente sobre a percepção que as pessoas do lugar
tem sobre elas mesmas, é necessário que possamos compreender alguns aspectos peculiares
da dinâmica populacional de Cabo Frio e o isolamento relativo a que o município estava
exposto até o final da década de 1930.