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A Hora em que Não Sabíamos Nada uns dos Outros

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ar mais solene, e assim por diante, até <strong>que</strong>, no fim da sua passag<strong>em</strong> pelo palco, um gesto<br />

exprime o mesmo <strong>que</strong> o outro.<br />

Durante todo esse t<strong>em</strong>po n<strong>em</strong> olhou para o velho aperaltado com roupa de casa <strong>em</strong> estilo<br />

oriental, muito enfeitada, quando este, de braço estendido para a luz, regressa a casa com<br />

um rapaz andrajoso, coberto de lama e quase incapaz de andar, indo ao encontro desse<br />

filho pródigo <strong>que</strong> antes a cada passo para a frente acrescentava outro para trás, enquanto<br />

aparece um terceiro, vestido de servo, com um cordeiro no braço, <strong>que</strong> se adianta ao par<br />

anterior.<br />

Mal eles desaparec<strong>em</strong> nas respectivas ruas, segue-se-lhes, com os óculos puxa<strong>dos</strong> para a<br />

testa, o dedo enfiado <strong>em</strong> qual<strong>que</strong>r coisa como um manual, o idiota (ou o senhor) da<br />

praça, imitando-os, muito en-tusiasmado, ora a um ora a outro, desordenadamente, e<br />

acompanhado à distância por um outro <strong>que</strong> leva na mão uma ma<strong>que</strong>ta reduzida da praça<br />

iluminada, feita de madeira ou cartão; v<strong>em</strong> juntar-se ainda aos dois uma terceira pessoa<br />

<strong>que</strong> traz num <strong>dos</strong> braços um manequim de montra, na outra um monte de fatos; <strong>em</strong><br />

menos de nada desaparec<strong>em</strong> to<strong>dos</strong>.<br />

A praça vazia na sua luz clara, envolvida num marulhar intermitente, como de<br />

rebentação numa pe<strong>que</strong>na ilha.<br />

O assobio de uma marmota, o grito de uma águia.<br />

Breve, fantasmagórico, o canto estrídulo de uma cigarra.<br />

Duas figuras <strong>em</strong>purram um pe<strong>que</strong>no carro de taipais gradea<strong>dos</strong>, sobre o qual transportam<br />

uma coluna inclinada.<br />

Um hom<strong>em</strong> segue uma mulher, e logo a seguir, como se os dois tivess<strong>em</strong> dado<br />

rapidamente meia volta fora da praça, uma mulher segue um hom<strong>em</strong>; barra-lhe o<br />

caminho, ele desvia-se, ela volta a barrar-lhe o caminho e, quando ele tenta passar,<br />

agarra-lhe a capa, ele solta-se e sai, meio nu, enquanto a mulher, s<strong>em</strong> se<strong>que</strong>r o olhar,<br />

mos-tra a peça de roupa a um terceiro <strong>que</strong> entra vindo de outro lado, ao <strong>que</strong> o recémchegado<br />

persegue o primeiro herói a passos largos, a mulher logo atrás, cruzando-se a<br />

meio caminho com um pe<strong>que</strong>no grupo de caminhantes de uma terceira idade b<strong>em</strong><br />

conservada.<br />

Um outro velho, sozinho, v<strong>em</strong> ao encontro deles, também de bengala, com a qual se atira<br />

ao grupo s<strong>em</strong> aviso, <strong>que</strong> apara imediatamente os golpes com as suas bengalas; gera-se

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