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Capítulo 6 - Uma Igreja de presença e sinal do Reino - Arquidiocese ...

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6<br />

<strong>Uma</strong> <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> <strong>presença</strong><br />

e <strong>sinal</strong> <strong>do</strong> <strong>Reino</strong><br />

Irmãs vicentinas: da assistência <strong>do</strong> Albergue Santa Luíza <strong>de</strong> Marillac à inclusão social <strong>do</strong> Núcleo Papa João XXIII.


Não sem razão o papa João XXIII, ao propor, em 1961, a necessária atualização <strong>do</strong> pensamento <strong>de</strong><br />

Leão XIII, qualificou a <strong>Igreja</strong> como mãe e mestra. 1 Ainda que alguns, <strong>de</strong>sconhecen<strong>do</strong> a história, insistam em<br />

acusá-la <strong>de</strong> inimiga <strong>do</strong> progresso, manda a verda<strong>de</strong> que se lhe reconheça o mérito <strong>de</strong> promotora <strong>do</strong> conhecimento<br />

num perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> ignorância, além <strong>de</strong> salva<strong>do</strong>ra da cultura <strong>do</strong> Oci<strong>de</strong>nte no transe <strong>de</strong> seu <strong>de</strong> maior<br />

perigo. Tivesse ela assumi<strong>do</strong> outra postura frente às invasões bárbaras, e da cultura, arte, ciência e técnica<br />

legadas pelos cria<strong>do</strong>res <strong>do</strong> saber oci<strong>de</strong>ntal, quiçá não nos restasse mais que cinzas. Quan<strong>do</strong>, nos séculos V e<br />

VI, sobre a Europa central e mediterrânea irromperam hordas <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> atrás <strong>de</strong> si um rastro <strong>de</strong> fogo, sangue<br />

e morte, o acervo da cultura clássica foi preserva<strong>do</strong> não pelas armas <strong>do</strong>s palácios <strong>do</strong>s reis, mas pela diligência<br />

das catedrais e <strong>do</strong>s mosteiros.<br />

Num perío<strong>do</strong> carente <strong>de</strong> ensino, coube à <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong>mocratizar o saber crian<strong>do</strong> escolas para estudantes<br />

pobres junto às cátedras episcopais. Mais tar<strong>de</strong>, à sua sombra igualmente nasceram as universida<strong>de</strong>s (UNI-<br />

VERSIDADE, 1967, p. 496), começan<strong>do</strong> por Bolonha (1119), seguida por Paris, a mais célebre, fundada<br />

em 1150 e regulamentada em 1215, Oxford (1168), Colônia, Pádua, on<strong>de</strong> lecionou Santo Antônio (1195-<br />

1231), Salamanca (1220), Cambridge (1224), Lovaina (1245) e incontáveis outras. Observa Daniel-Rops<br />

que esse esforço <strong>de</strong> salvaguarda intelectual “não tinha como fim a pesquisa <strong>do</strong> conhecimento”. Foi uma ação<br />

<strong>de</strong>sinteressada <strong>de</strong> homens da <strong>Igreja</strong> que, “trabalhan<strong>do</strong> com o cérebro e com os músculos, não tiveram em vista<br />

a satisfação pessoal, mas a glória <strong>de</strong> Deus”, à qual, como to<strong>do</strong>s os esforços humanos, subordinavam as ativida<strong>de</strong>s<br />

da inteligência: “a cultura estava submetida à religião”. Também na investigação teológica, filosófica ou<br />

científica a <strong>Igreja</strong> cultiva como único escopo o bom <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> sua missão específica, que é evangelizar.<br />

Não haveria conhecimentos escriturísticos nem bela liturgia sem o conhecimento <strong>do</strong><br />

latim; não haveria verda<strong>de</strong>ira fé sem um estu<strong>do</strong> sério <strong>do</strong>s livros sagra<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>s Padres.<br />

Compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> isso, os papas, os bispos e os aba<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s mosteiros empenharam-se<br />

em salvaguardar a cultura numa socieda<strong>de</strong> que tinha por ela o mais completo <strong>de</strong>sprezo.<br />

Mais ainda: o que a <strong>Igreja</strong> compreen<strong>de</strong>u também foi que não podia <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a sua causa<br />

sem estar armada para os combates da inteligência [...] e bastou que alguns homens,<br />

1 Mater et Magistra <strong>de</strong>signa a encíclica sobre “a evolução da questão social à luz da <strong>do</strong>utrina cristã”. Data <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1961, 70º<br />

aniversário da Rerum Novarum, pioneira e base <strong>do</strong> pensamento social da <strong>Igreja</strong>.<br />

175<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


176<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

nos seus conventos, tivessem cultiva<strong>do</strong> essa idéia, para que gran<strong>de</strong>s autores pagãos<br />

fossem salvos <strong>do</strong> naufrágio [...] Do século XI ao século XIV, salvo raríssimas exceções,<br />

toda a cultura se manterá fundamentalmente religiosa: as pessoas <strong>de</strong>dicadas ao ensino<br />

e às letras serão quase inteiramente da <strong>Igreja</strong> e procurar-se-á manter a orientação propriamente<br />

cristã da ativida<strong>de</strong> intelectual até o momento em que ela começar a querer<br />

consi<strong>de</strong>rar-se autônoma e a preten<strong>de</strong>r passar sem a fé (ROPS, 1993, p. 337-338).<br />

“Mãe e mestra”, a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Cristo teve sempre muito a peito o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> sua função educa<strong>do</strong>ra.<br />

Não há uma crônica <strong>de</strong> trabalho missionário que não aponte, como ativida<strong>de</strong> primeira em favor <strong>do</strong>s habitantes<br />

locais a fundação <strong>de</strong> uma escola bem como o cultivo <strong>de</strong> hábitos <strong>de</strong> higiene, alimentação, abastecimento<br />

<strong>de</strong> água, enfermagem, economia <strong>do</strong>méstica, agricultura, irrigação, adubação, criação <strong>de</strong> animais, seleção <strong>de</strong><br />

sementes, eletrificação, carpintaria, construção <strong>de</strong> casas e silos... Ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> agente da religião, o missionário<br />

católico se fez invariavelmente reconhecer como promotor <strong>do</strong> progresso e da melhoria <strong>de</strong> vida da comunida<strong>de</strong>.<br />

O início da missão católica as<strong>sinal</strong>a invariavelmente a abertura <strong>de</strong> uma escola e <strong>de</strong> um ambulatório, antes<br />

até que <strong>de</strong> uma capela. Traduzin<strong>do</strong> o Evangelho por “boa notícia” <strong>do</strong> amor <strong>de</strong> Deus en<strong>de</strong>reça<strong>do</strong> a seus filhos,<br />

a <strong>Igreja</strong> empenha-se em tornar visível a salvação, partin<strong>do</strong> das situações <strong>de</strong> vida em que eles se acham.<br />

À semelhança <strong>do</strong>s antigos <strong>de</strong>sbrava<strong>do</strong>res que aqui vieram fincar seu rancho, também o primeiro bispo<br />

não fechou os olhos aos clamores <strong>de</strong> uma região pioneira e inculta para cujo <strong>de</strong>senvolvimento urgia investir,<br />

antes <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, na educação. Lembra<strong>do</strong> <strong>de</strong> que entre as funções <strong>do</strong> bispo figura também a <strong>de</strong> mestre da fé,<br />

muito ce<strong>do</strong> se inquietou com a escassez <strong>de</strong> colabora<strong>do</strong>res para o aprimoramento <strong>do</strong> ensino escolar, reconhecidamente<br />

precário: entendia que sem instrução não havia como assegurar aos diocesanos uma fé robusta capaz<br />

<strong>de</strong> transformá-los em praticantes <strong>de</strong> uma religião esclarecida.<br />

A obrA dA educAção<br />

Não precisou partir da estaca zero. Alguma <strong>presença</strong> da <strong>Igreja</strong> na área da educação já encontrou implantada,<br />

embora <strong>de</strong> forma incipiente. Muito mais não se podia esperar <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> ainda por completar <strong>de</strong>z<br />

anos. No meio da mata em que brotava, não seria plausível esperar gran<strong>de</strong> entusiasmo por estu<strong>do</strong>. Mais urgente<br />

era trabalhar como um mouro para sobreviver. Das mesmas privações comungavam educa<strong>do</strong>res, <strong>de</strong>rruba<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> mato e planta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> café. Poucos estabelecimentos <strong>de</strong> ensino o bispo <strong>de</strong> Jacarezinho conseguiu<br />

implantar. Além <strong>do</strong> pioneiro colégio Santa Cruz, em Maringá – a escola paroquial <strong>de</strong> Mandaguaçu era dirigida<br />

pela mesma congregação religiosa – e <strong>de</strong> colégios católicos em Mandaguari e em Alto Paraná, funcionava<br />

ainda, em prédio da Avenida Tira<strong>de</strong>ntes, esquina com Rua Pedro Álvares Cabral, em Maringá, sob direção <strong>de</strong><br />

padre Cleto Altoé, um ginásio diocesano e uma escola técnica <strong>de</strong> comércio. Na 10ª reunião ordinária <strong>do</strong> seu<br />

conselho diocesano, realizada em 26 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1955, <strong>do</strong>m Sigaud comunicou aos conselheiros a intenção<br />

<strong>de</strong> adquirir o ginásio <strong>de</strong> Maringá. A ata registra: “S. Excia. viu-se obriga<strong>do</strong> a adquirir o Ginásio <strong>de</strong> Maringá<br />

para a Diocese, a fim <strong>de</strong> que não caísse em mãos <strong>de</strong> protestantes.” (DIOCESE DE JACARÉZINHO, 1948,<br />

f. 9). O prédio tinha si<strong>do</strong> inaugura<strong>do</strong> em 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1952, com autorização para funcionar concedida<br />

pela portaria estadual nº 852, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> setembro <strong>do</strong> mesmo ano. Contava com 197 alunos e permaneceu sob<br />

direção <strong>de</strong> Anthero Chaves Santos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a abertura até 15 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1954, quan<strong>do</strong> foi vendi<strong>do</strong> à Mitra<br />

Diocesana <strong>de</strong> Jacarezinho (REIS, 2004, p. 69). Esclarece o professor Geral<strong>do</strong> Altoé – à época, já resi<strong>de</strong>nte<br />

em Maringá e, apesar <strong>do</strong> sobrenome, sem parentesco com padre Cleto –, que Zaqueu <strong>de</strong> Mello, proprietário<br />

<strong>de</strong> colégio em Londrina, pretendia comprá-lo para fazer <strong>de</strong>le extensão <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong> educacional <strong>de</strong> cunho<br />

marcadamente evangélico. “Protestante”, em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>, carregava para a grei católica um<br />

travo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconfiança, hoje felizmente supera<strong>do</strong>, que correspondia a sentimento igual da outra parte. Para<br />

diretor <strong>do</strong> agora ginásio diocesano, a escolha recaiu com naturalida<strong>de</strong> sobre o capixaba Altoé, <strong>de</strong> vez que fora<br />

admiti<strong>do</strong> na diocese como ex-salesiano, portanto egresso <strong>de</strong> um instituto religioso volta<strong>do</strong> à educação. Além<br />

<strong>do</strong> encargo, prestava auxílio ao vigário da Santíssima Trinda<strong>de</strong>, a paróquia <strong>do</strong> centro da cida<strong>de</strong>. Foi ainda adquiri<strong>do</strong><br />

o direito <strong>de</strong> funcionamento, no mesmo prédio, da escola técnica <strong>de</strong> comércio. Conforme informação<br />

<strong>de</strong> <strong>do</strong>m Arman<strong>do</strong> Cirio, já naquela época havia intenção por parte <strong>do</strong> bispo <strong>de</strong> Jacarezinho <strong>de</strong> entregar aos


irmãos maristas o ginásio adquiri<strong>do</strong> pela diocese. Nove meses após sua chegada, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1957, <strong>do</strong>m<br />

Jaime, ex-aluno marista, conseguiu trazer os religiosos da congregação fundada por Marcelino Champagnat,<br />

cujo nome i<strong>de</strong>ntifica a rua <strong>do</strong> atual Colégio Marista. 2 Leva<strong>do</strong> pela ânsia <strong>de</strong> oferecer a crianças, a<strong>do</strong>lescentes,<br />

jovens e adultos uma formação cristã, o bispo jamais <strong>de</strong>monstrou cansaço no cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>tar a diocese <strong>de</strong><br />

mais e mais irmãs para cuidar <strong>do</strong> ensino e, mais que isso, da educação em senti<strong>do</strong> pleno.<br />

A missão <strong>de</strong> educa<strong>do</strong>ra da infância e da juventu<strong>de</strong>, sobretu<strong>do</strong> a partir da Ida<strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>rna, cumpriu-a a<br />

<strong>Igreja</strong>, <strong>de</strong> forma privilegiada, através <strong>de</strong> institutos religiosos nasci<strong>do</strong>s da visão <strong>de</strong> mulheres e homens <strong>de</strong> Deus<br />

atentos às necessida<strong>de</strong>s das novas gerações. Compreen<strong>de</strong>-se, por essa razão, que o trabalho <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> por<br />

educa<strong>do</strong>res católicos concentre-se, em larga escala, nas mãos <strong>de</strong> religiosos e <strong>de</strong> religiosas.<br />

Em Maringá não foi diferente. Cônscios da responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mestres da fé, tanto <strong>do</strong>m Sigaud, ao<br />

tempo da pertença a Jacarezinho, quanto <strong>do</strong>m Jaime, atuan<strong>do</strong> em Maringá <strong>de</strong>s<strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1957, nenhum<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is <strong>de</strong>ixou escapar oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> para cá trazer quantos educa<strong>do</strong>res pu<strong>de</strong>sse conseguir.<br />

Dom <strong>de</strong> Deus à multiforme vitalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua <strong>Igreja</strong>, a consagração religiosa não se restringe, porém, à<br />

educação. Religiosas e religiosos, na gama <strong>de</strong> sinais da atuação <strong>do</strong> Espírito, <strong>de</strong> muitos mo<strong>do</strong>s testemunham<br />

o <strong>Reino</strong> anuncia<strong>do</strong> pelo Senhor. Manifestam, na simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e na entrega aos valores eternos, a<br />

transitorieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> tempo presente. A partir da instalação da nova diocese, também nesta parte <strong>do</strong> Paraná,<br />

distintos carismas da vida consagrada mostraram-se bem-vin<strong>do</strong>s. Cronologicamente, a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Maringá os<br />

foi receben<strong>do</strong> conforme segue:<br />

Em 1957: primeiros passos que levaram, mais tar<strong>de</strong>, à criação <strong>do</strong> Colégio Santo Inácio. A CMNP <strong>do</strong>ara<br />

à paróquia um terreno para construção <strong>de</strong> uma escola paroquial. Os padres da paróquia São José pediram<br />

à Alemanha que enviasse, para organizar a escola, uma irmã da mesma congregação das que aqui se encontravam.<br />

Cinco missionárias <strong>do</strong> Santo Nome <strong>de</strong> Maria, as primeiras a enfrentar uma Maringá menina, tinham<br />

chega<strong>do</strong> em 1956, com a missão <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong> pobres sertanejos <strong>do</strong>entes na precaríssima casa <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> aberta<br />

pelos irmãos instala<strong>do</strong>s em Maringá no ano <strong>de</strong> 1953. As heróicas alemãs, todas jovens e todas Marias, conforme<br />

o costume <strong>do</strong> seu instituto religioso, eram: Maria Conradine, cujo nome civil era Agnes Huning (†1983);<br />

Maria Conrada, ou Anna Gebina Janssen (†2000); Maria Antonella, nascida Maria Christine Spreckelmeyer<br />

(†2005); Maria Sturmia, nome religioso <strong>de</strong> Anna Eleonor Hohmann (†2006); Maria Callista (Maria Paula Im<br />

Moore), e Maria Dietlin<strong>de</strong> (Maria A<strong>de</strong>lheid Ginten). Nenhuma retornou à pátria <strong>de</strong> origem. A brasileiros que<br />

jamais tinham antes conheci<strong>do</strong> ofereceram não apenas seu trabalho; <strong>de</strong>ram mais: a juventu<strong>de</strong>, o entusiasmo,<br />

a saú<strong>de</strong>, o amor, numa palavra, a vida.<br />

Com a promessa <strong>de</strong> uma irmã para a escola, o vigário, padre Osval<strong>do</strong> Rambo, SJ, já no dia 1º <strong>de</strong> março,<br />

animou-se a abri-la, tornan<strong>do</strong>-se o diretor. Para organizá-la contou com a colaboração da professora Alfia Pulzato.<br />

Em 10 <strong>de</strong> agosto chegou irmã Maria Jutta (Anna Berta Agnes Kuntny) que, no início <strong>de</strong> 1958, assumiu<br />

a direção interna caben<strong>do</strong> a irmã Maria Sturmia dirigir o Jardim da Infância. Mas seus estu<strong>do</strong>s, cumpri<strong>do</strong>s na<br />

Alemanha, levaram tempo para o reconhecimento <strong>do</strong> MEC. Rambo (1957-1960) e o sucessor, padre Francisco<br />

Boesing, respon<strong>de</strong>ram oficialmente pela escola enquanto o trabalho educacional era responsabilida<strong>de</strong><br />

das irmãs, que foram crescen<strong>do</strong> em número e aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> às exigências da legislação brasileira. Em 12 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />

<strong>de</strong> 1960, contrato celebra<strong>do</strong> com a diocese <strong>de</strong> Maringá transferiu a Escola Santo Inácio à proprieda<strong>de</strong><br />

das religiosas. De escola passou a ginásio, <strong>de</strong>pois a escola normal colegial, para finalmente tornar-se Colégio<br />

Santo Inácio, responsável por inscrever o nome <strong>de</strong> irmã Jutta na galeria das maiores educa<strong>do</strong>ras que Maringá<br />

se orgulha <strong>de</strong> ter conheci<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s os tempos.<br />

As cinco irmãs que, muito dispostas e ansiosas, naquele 12 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1956, pisaram pela primeira vez<br />

o solo vermelho <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> nascente, passa<strong>do</strong> meio século, multiplicaram-se às <strong>de</strong>zenas. Encontramo-las<br />

sempre mais comprometidas com o carisma missionário que as impulsiona para regiões mais necessitadas e<br />

2 A Rua Pedro Álvares Cabral, pela lei municipal nº 207/62, <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1962, teve o nome altera<strong>do</strong> para Padre Marcelino<br />

Champagnat. Depois da canonização <strong>de</strong> Champagnat, através da lei nº 4820/99, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1999, a <strong>de</strong>nominação oficial<br />

passou a São Marcelino Champagnat, embora as placas registrem apenas Rua Marcelino Champagnat.<br />

177<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


178<br />

Missionárias <strong>do</strong> Santo Nome <strong>de</strong> Maria – as primeiras irmãs chegadas em<br />

1956. A partir da esquerda: irmãs Conrada, Conradine, Antonella, padre<br />

Amândio Fritzen, SJ, irmãs Calista, Dietlin<strong>de</strong> e Sturmia.<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

Cinqüentenário das Irmãs <strong>do</strong> Santo Nome <strong>de</strong> Maria, em 2006 – irmãs<br />

A<strong>de</strong>lin<strong>de</strong>, Juta, Edita, Petronela e Dietlin<strong>de</strong> (irmã Maria), a única <strong>de</strong> 1956<br />

ainda em ativida<strong>de</strong>, na residência <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Jaime.<br />

distantes. Na diocese, além <strong>do</strong> Colégio Santo Inácio, espalham seu serviço por sete comunida<strong>de</strong>s:<br />

- Casa Provincial Maria Missionária – se<strong>de</strong> <strong>do</strong> governo provincial, que coor<strong>de</strong>na a vida <strong>de</strong> todas as casas<br />

da congregação no Brasil e no Paraguai;<br />

- Centro <strong>de</strong> Espiritualida<strong>de</strong> Rainha da Paz, ambiente perfeito para retiros espirituais <strong>de</strong> toda a região;<br />

- Novicia<strong>do</strong> Rainha da Paz, on<strong>de</strong> as noviças da congregação cumprem o tempo <strong>de</strong> formação preparan<strong>do</strong>-se<br />

para a consagração religiosa;<br />

- Lar Rainha da Paz, para as irmãs i<strong>do</strong>sas, que são cuidadas com carinho receben<strong>do</strong> atendimento em<br />

todas as necessida<strong>de</strong>s;<br />

- Creche Menino Jesus, fundada em 1970, reconhecida <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> pública fe<strong>de</strong>ral, a primeira a funcionar<br />

em Maringá, construída com ajuda <strong>de</strong> Brescia, a italiana cida<strong>de</strong>-irmã <strong>de</strong> Maringá;<br />

- Comunida<strong>de</strong> Mãe da Esperança, casa <strong>de</strong> encontros e<br />

- Comunida<strong>de</strong> Nossa Senhora das Graças, no município <strong>de</strong> Sarandi on<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> colaborarem na<br />

pastoral paroquial <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1957, a partir <strong>de</strong> 1989 vêm cuidan<strong>do</strong> <strong>de</strong> crianças carentes.<br />

Nas fileiras da congregação <strong>do</strong> Santo Nome <strong>de</strong> Maria mais <strong>de</strong> uma vez a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Maringá foi buscar<br />

irmãs para pesa<strong>do</strong>s encargos em áreas como catequese, Seminário Arquidiocesano, espiritualida<strong>de</strong>, formação<br />

<strong>de</strong> agentes, vida paroquial etc. Dentre aquelas que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano <strong>de</strong> 1971, se estabeleceram ou se formaram<br />

em Maringá, muitas vêm sen<strong>do</strong> encaminhadas a novos serviços em Ubiratã, Campina da Lagoa e Sarandi, no<br />

Paraná, além <strong>de</strong> Mato Grosso, Amazonas, Tocantins e Paraguai.<br />

Ainda em 1957: por carta, <strong>do</strong>m Jaime iniciou entendimentos com o médico Álvaro Barcellos Sant’Ana,<br />

resi<strong>de</strong>nte no Rio <strong>de</strong> Janeiro, para aquisição <strong>de</strong> uma área <strong>de</strong> sua proprieda<strong>de</strong>, em Maringá, que compreendia<br />

toda a quadra <strong>de</strong>limitada pelas avenidas Curitiba e Rio Branco, Rua Luiz Gama e Praça Manuel Ribas. O<br />

terreno continha antigo hospital <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>sativa<strong>do</strong>. Era intenção <strong>do</strong> bispo abrir, <strong>de</strong> frente para a Praça<br />

Manuel Ribas, um espaço <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> à a<strong>do</strong>ração perpétua <strong>do</strong> Santíssimo Sacramento. Convi<strong>do</strong>u a Congregação<br />

das Irmãs Missionárias <strong>de</strong> Jesus Crucifica<strong>do</strong>, nas quais pensava, já antes da posse, para ali, num primeiro<br />

momento, abrirem um pensionato. A congregação, fundada em 1928, pelo bispo <strong>de</strong> Campinas, <strong>do</strong>m Francisco<br />

<strong>de</strong> Campos Barreto (1920-1941), expandiu-se rapidamente, alcançan<strong>do</strong> até o Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul on<strong>de</strong><br />

fun<strong>do</strong>u nova província. No ano <strong>de</strong> 1952 eram já 1012 irmãs estabelecidas em 59 casas por to<strong>do</strong> o Brasil. Em<br />

resposta ao bispo, datada <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1957, a madre geral, com se<strong>de</strong> em Campinas, prometeu enviar<br />

irmãs no final <strong>do</strong> mês seguinte; o prédio foi então aluga<strong>do</strong> pela diocese e, aos 15 <strong>de</strong> agosto daquele ano, foi<br />

fundada a Casa Nossa Senhora da Glória. As primeiras cinco religiosas chegaram no dia 27 e no dia 30 <strong>de</strong>sse


mês, ocorren<strong>do</strong> a instalação da casa no dia 2 <strong>de</strong> setembro. Com menos <strong>de</strong> <strong>do</strong>is meses, no dia 29 <strong>de</strong> outubro,<br />

foi fundada a Obra <strong>do</strong>s Tabernáculos, entregue à direção das religiosas, que receberam a colaboração <strong>de</strong> senhoras<br />

da socieda<strong>de</strong> local. No início <strong>de</strong> 1959 as irmãs abriram o Jardim São José, jardim da infância, além <strong>de</strong><br />

uma escola <strong>de</strong> curso primário para meninas, impossibilitadas <strong>de</strong> estudar no Colégio Marista, que só admitia<br />

estudantes <strong>do</strong> sexo masculino. Nesse ano a congregação adquiriu o imóvel através <strong>de</strong> empréstimo bancário<br />

consegui<strong>do</strong> e avaliza<strong>do</strong> pelo bispo, que se mostrou feliz, conforme confessou, em “abençoar o Jardim São<br />

José que, ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ginásio Santa Cruz e <strong>do</strong> Ginásio Marista, irá orientar sadiamente as crianças na verda<strong>de</strong>ira<br />

formação para a vida”. Com o tempo, além <strong>do</strong> pensionato, as irmãs diversificaram os cursos ministra<strong>do</strong>s<br />

para aprimoramento da juventu<strong>de</strong> feminina, além da Obra <strong>do</strong> Berço, fundada por <strong>do</strong>m Jaime, que teve ali,<br />

por décadas, sua se<strong>de</strong>. O humil<strong>de</strong> jardim da infância converteu-se no Colégio Nossa Senhora da Glória, a<br />

meio caminho entre os colégios Santa Cruz e Marista. Mais tar<strong>de</strong>, foi construída ampla residência <strong>de</strong> alvenaria<br />

para as irmãs, com recursos aporta<strong>do</strong>s por católicos italianos através da fraternida<strong>de</strong> Maringá-Brescia.<br />

No final <strong>do</strong>s anos 80, incapaz <strong>de</strong> prover <strong>de</strong> novas religiosas a casa <strong>de</strong> Maringá, a direção provincial, sediada<br />

no Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, resolver abrir mão da proprieda<strong>de</strong>. Ven<strong>de</strong>u a parte da área confrontante com a Rua<br />

Luiz Gama. Desfez-se, por fim, <strong>do</strong> restante <strong>do</strong> imóvel, inclusive da antiga casa das irmãs, que foi convertida<br />

em restaurante. Diversamente <strong>do</strong> que imaginou o primeiro bispo, a face da quadra aberta à praça, em vez <strong>de</strong><br />

capela <strong>de</strong> a<strong>do</strong>ração perpétua, passou a ostentar uma casa noturna. No início <strong>de</strong> seu governo arquidiocesano<br />

(1997-2002), <strong>do</strong>m Murilo tomou conhecimento <strong>do</strong> <strong>de</strong>sagra<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Jaime com a alienação levada a efeito<br />

pelas irmãs, particularmente da residência para cuja construção ele conseguira na Itália o numerário investi<strong>do</strong>.<br />

Propôs então Krieger que a congregação ressarcisse a arquidiocese da importância aí utilizada. Através <strong>de</strong><br />

carta, consultou Giuseppe Inselvini, coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r italiano <strong>do</strong> “gemellagio”, sobre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> empregar<br />

o valor ofereci<strong>do</strong> por Brescia – R$ 36.000,00 (trinta e seis mil reais) calcula<strong>do</strong>s, que o governo provincial<br />

da congregação concor<strong>do</strong>u em <strong>de</strong>volver – na reforma da antiga ADAR, cuja adaptação estava em curso para<br />

abrigar o CEPA – Centro <strong>de</strong> Pastoral da <strong>Arquidiocese</strong>, providência que to<strong>do</strong>s vinham, há tempo, reclaman<strong>do</strong>.<br />

Às Missionárias <strong>de</strong> Jesus Crucifica<strong>do</strong> foi faculta<strong>do</strong> parcelar o débito. As obras <strong>do</strong> CEPA tiveram início em<br />

1999, com gran<strong>de</strong> empenho <strong>do</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r <strong>de</strong> pastoral, padre Luiz Antônio Bento, vin<strong>do</strong> a ocorrer sua<br />

inauguração no dia 21 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2002.<br />

Em 1958: incomoda<strong>do</strong> pela ignorância religiosa <strong>do</strong> rebanho, com capital reuni<strong>do</strong> por alguns congrega<strong>do</strong>s<br />

marianos, <strong>do</strong>m Jaime inaugurou, no dia 29 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1958, uma livraria católica em Maringá. Aos<br />

responsáveis, contu<strong>do</strong>, faltava experiência no ramo. Por isso, o bispo solicitou à Pia Socieda<strong>de</strong> Filhas <strong>de</strong> São<br />

Paulo, sediada na capital paulista, que abrisse casa em Maringá. Com menos <strong>de</strong> cinco meses, em 4 <strong>de</strong> novembro,<br />

as primeiras paulinas assumiram a livraria católica. A diocese recebeu, <strong>de</strong>ssa forma, novo impulso para o<br />

crescimento na fé através <strong>do</strong>s meios <strong>de</strong> comunicação da época. As irmãs passaram a acompanhar o bispo nas<br />

visitas pastorais, <strong>de</strong>slocan<strong>do</strong>-se até os rincões <strong>do</strong> fim <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> que eram as barrancas <strong>do</strong> rio Paraná. Ajudavam-no<br />

na preparação das crismas e na celebração eucarística, divulgavam a Palavra <strong>de</strong> Deus, ofereciam livros<br />

<strong>de</strong> catequese e <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong>, revistas e folhetos <strong>de</strong> formação cristã. A elas se <strong>de</strong>vem incontáveis semanas bíblicas,<br />

semanas da imprensa e vocacionais; assessoria a grupos <strong>de</strong> reflexão; estu<strong>do</strong>s sobre catequese, liturgia e Sagrada<br />

Escritura; aprofundamento <strong>de</strong> temas <strong>de</strong> vida pastoral, <strong>de</strong> comunicação social etc. A Livraria São Paulo tornouse<br />

referencial na divulgação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s eventos da <strong>Igreja</strong> Católica <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s ao gran<strong>de</strong> público.<br />

Em 1959: teve início o Colégio Nossa Senhora da Esperança, em Nova Esperança, sob responsabilida<strong>de</strong><br />

das Apóstolas <strong>do</strong> Sagra<strong>do</strong> Coração <strong>de</strong> Jesus. As mesmas irmãs, no governo <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Murilo, assumiram obra<br />

assistencial em Floresta, cida<strong>de</strong> vizinha <strong>de</strong> Maringá. Também é <strong>de</strong> 1959 a fundação <strong>do</strong> Colégio Nossa Senhora<br />

Aparecida, em Paraíso <strong>do</strong> Norte, dirigi<strong>do</strong> pelas Filhas da Carida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Vicente <strong>de</strong> Paulo, que chegaram<br />

à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maringá em 1960 para dirigir o albergue assumi<strong>do</strong> pela diocese. Ainda no ano <strong>de</strong> 1960 aconteceu<br />

a abertura <strong>do</strong> Colégio São Vicente <strong>de</strong> Paulo, em Paranavaí, dirigi<strong>do</strong> pelas mesmas irmãs. Um grupo <strong>de</strong>las, durante<br />

alguns meses, prestou serviço no Hospital Santa Rita, que então abria as portas em Maringá. Por iniciativa<br />

<strong>de</strong> senhoras <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> Clube da Amiza<strong>de</strong>, em 1963 começou a funcionar em Maringá uma instituição<br />

para meninos carentes, chamada Lar Escola da Criança. Nesse mesmo ano as irmãs vicentinas aceitaram cuidar<br />

da instituição. Tempos <strong>de</strong>pois, foram substituídas por outras religiosas, as Damas da Instrução Cristã. Estas,<br />

179<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


Bênção da primeira Livraria São Paulo, das Paulinas,<br />

em 17 <strong>de</strong>zembro 1958.<br />

Visita pastoral às comunida<strong>de</strong>s das ilhas <strong>do</strong> rio<br />

Paraná, na divisa com Mato Grosso (hoje, Mato Grosso<br />

<strong>do</strong> Sul). As irmãs sempre acompanhavam o bispo nas<br />

visitas pastorais.<br />

180<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

por sua vez, transferiram a direção às Missionárias <strong>do</strong> Santo Nome<br />

<strong>de</strong> Maria, que cuidaram da obra provisoriamente até ela ser confiada<br />

às irmãs Murialdinas <strong>de</strong> São José. Des<strong>de</strong> quan<strong>do</strong> foi inaugura<strong>do</strong>, em<br />

9 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1972, o Núcleo Social Papa João XXIII, situa<strong>do</strong><br />

na Vila Var<strong>de</strong>lina, em Maringá, vem sen<strong>do</strong> dirigi<strong>do</strong> pelas Filhas da<br />

Carida<strong>de</strong>, as conhecidas irmãs vicentinas.<br />

Em 1960: abriu-se o Colégio São Francisco <strong>de</strong> Assis, em Mandaguaçu,<br />

assumi<strong>do</strong> pelas Damas da Instrução Cristã, após retorno a<br />

Maringá das irmãs carmelitas <strong>de</strong> Vedruna, que cuidavam da escola<br />

paroquial. As novas religiosas provinham <strong>de</strong> Recife, on<strong>de</strong> se situa a<br />

se<strong>de</strong> da congregação no Brasil. Em Santa Isabel <strong>do</strong> Ivaí, no ano <strong>de</strong><br />

1961, assumiram o Colégio Sagra<strong>do</strong> Coração <strong>de</strong> Jesus. Sete anos<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua chegada ao Paraná, abriram casa em Maringá, inician<strong>do</strong>,<br />

em setembro <strong>de</strong> 1967, a construção <strong>do</strong> Colégio Regina Mundi,<br />

que em 1984 se tornou se<strong>de</strong> da Província <strong>do</strong> Sul da congregação,<br />

agora com duas províncias brasileiras. O ano <strong>de</strong> 1992 marcou o<br />

início <strong>de</strong> construção da Casa <strong>de</strong> Formação Cenáculo e <strong>do</strong> Centro <strong>de</strong><br />

Evangelização Santa Inês, na Estrada Bom Sucesso, bairro Cida<strong>de</strong><br />

Alta 2, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolvem ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação e espiritualida<strong>de</strong>.<br />

Também em 1960, mais precisamente no dia 15 <strong>de</strong> fevereiro,<br />

<strong>do</strong>m Jaime requereu à Secretaria <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura a<br />

nomeação para diretor da Escola Mista São José, instituição privada<br />

<strong>de</strong> ensino, direcionada preferencialmente aos filhos e netos <strong>de</strong> japoneses,<br />

mantida pela SOCEMA – Socieda<strong>de</strong> Cultural e Esportiva <strong>de</strong><br />

Maringá, precursora da associação ACEMA – Associação Cultural e<br />

Esportiva <strong>de</strong> Maringá <strong>de</strong> hoje. Conforme o antigo secretário Issao<br />

Hiratomi, os dirigentes escolheram o bispo em razão da sua amiza<strong>de</strong><br />

com a Colônia Japonesa, além <strong>de</strong> que seu nome conferia inegável<br />

prestígio à escola. Por mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos ele se manteve no cargo <strong>de</strong><br />

diretor. A Escola Mista São José funcionava no nº 143 da Rua Evaristo<br />

da Veiga, ten<strong>do</strong> mais tar<strong>de</strong> aberto filial na Zona 4, localizada<br />

no prédio <strong>de</strong> nº 338 da Rua Joaquim Nabuco.<br />

Em 1961: abertura <strong>do</strong> Grupo Escolar Ipiranga, na Zona 7,<br />

em Maringá, confia<strong>do</strong> às Missionárias <strong>de</strong> Santo Antônio Maria Claret,<br />

precursor <strong>do</strong> atual Colégio Estadual Ipiranga. Por mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<br />

meses, <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1964 a 11 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1965, para<br />

as celebrações litúrgicas, os fiéis da paróquia Santa Maria Goretti<br />

acorriam ao colégio, enquanto se construía o salão on<strong>de</strong> funcionou<br />

a primeira igreja matriz. As mesmas irmãs claretianas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1959,<br />

vinham cuidan<strong>do</strong> da residência episcopal, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se afastaram em<br />

1968. Ofereceram também valiosa colaboração, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1962 até<br />

1969, ao funcionamento <strong>do</strong> Seminário Diocesano Nossa Senhora<br />

da Glória no qual trabalharam sem <strong>de</strong>scanso.<br />

Em 1962: lançamento, no dia 2 <strong>de</strong> setembro, da pedra fundamental<br />

<strong>do</strong> Colégio São Francisco Xavier, junto à Missão Nipo-brasileira.<br />

Quase quatro anos mais tar<strong>de</strong>, no dia 29 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1966,<br />

o colégio abriu suas portas como Externato São Francisco Xavier,<br />

sob direção das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, originárias da<br />

Província São José da congregação, sediada na época em Sorocaba.


Ten<strong>do</strong>-se reduzi<strong>do</strong> o número <strong>de</strong> irmãs, em 1979 o imóvel foi <strong>de</strong>volvi<strong>do</strong> à diocese <strong>de</strong> Maringá, que o confiou<br />

à direção da professora Eiko Suguimoto Iwata. Apesar das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pessoal, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Centro Cultural e Social São Francisco Xavier, para encargos pastorais na catequese, liturgia, formação <strong>de</strong><br />

li<strong>de</strong>ranças e no atendimento da secretaria paroquial, a congregação <strong>de</strong>stinou irmãs que formaram a chamada<br />

“Comunida<strong>de</strong> Rainha <strong>do</strong>s Apóstolos”, acomodada em residência adquirida não longe da se<strong>de</strong> paroquial.<br />

No governo <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Murilo Krieger, em 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1997, o colégio passou à responsabilida<strong>de</strong> da<br />

paróquia Menino Jesus <strong>de</strong> Praga e São Francisco Xavier, ten<strong>do</strong> como diretor o pároco, padre Sidney Fabril.<br />

Decisiva para transformação da antiga escola <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira no mo<strong>de</strong>rno edifício <strong>de</strong> hoje foi a ajuda <strong>de</strong> católicos<br />

japoneses, levantada pelos heróicos missionários monsenhores Miguel Yoshimi Kimura e Pedro Ryo Tanaka,<br />

<strong>de</strong> sau<strong>do</strong>sa memória. A partir <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2002, o colégio recebeu a professora Eliza Mitie Shiozaki<br />

como diretora.<br />

Em 1963: o Rotary Clube <strong>de</strong> Maringá solicitou religiosas para dirigir o Lar <strong>do</strong>s Velhinhos cujo primeiro<br />

pavilhão acabara <strong>de</strong> construir. Dom Jaime recorreu às mesmas Irmãzinhas da Imaculada Conceição, que<br />

enviaram as primeiras irmãs. Também no ano <strong>de</strong> 1963 teve início, em Jandaia <strong>do</strong> Sul, o Colégio São José, das<br />

Passionistas <strong>de</strong> São Paulo da Cruz.<br />

Em 1964: começou a funcionar o Colégio Santa Edwiges, em Loanda, dirigi<strong>do</strong> pelas religiosas Filhas<br />

<strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong> Monte Calvário. No mesmo ano houve a abertura <strong>do</strong> Colégio Santa Inês, em Nova<br />

Londrina, pelo qual se responsabilizaram as Franciscanas da Imaculada Conceição <strong>de</strong> Maria, <strong>de</strong> Bonlan<strong>de</strong>n,<br />

congregação já presente em Alto Paraná.<br />

Em 1965: foi da<strong>do</strong> início ao Colégio Anjos Custódios, em Marialva, das irmãs da Congregação <strong>do</strong>s<br />

Santos Anjos Custódios, ainda em mo<strong>de</strong>sta escola paroquial. Li<strong>de</strong>rada pela batalha<strong>do</strong>ra irmã Margarita Sastre,<br />

a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Marialva se uniu para levantar o colégio atual. No final <strong>do</strong>s anos 80, na Vila Brasil, por esforço<br />

<strong>de</strong> uma religiosa da comunida<strong>de</strong>, foi funda<strong>do</strong> um centro social para crianças e a<strong>do</strong>lescentes. É ainda <strong>do</strong><br />

ano <strong>de</strong> 1965 o Colégio Santa Cruz, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>do</strong> Monte Castelo, sob direção das Dominicanas<br />

da Beata Imelda.<br />

Em 1966: cria<strong>do</strong> o Colégio Santa Maria, em São Jorge <strong>do</strong> Ivaí, a cargo das religiosas <strong>do</strong> Instituto da<br />

Beatíssima Virgem Maria. Infelizmente, o reduzi<strong>do</strong> número <strong>de</strong> alunos inviabilizou o empreendimento. Para<br />

fugir ao pagamento <strong>de</strong> mensalida<strong>de</strong>s, os pais preferiam colocar os filhos na escola pública. Assim, o colégio das<br />

irmãs teve curta duração, fechan<strong>do</strong> as portas pouco <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> inaugura<strong>do</strong>. No mesmo ano começou a funcionar<br />

o Colégio Nossa Senhora <strong>do</strong> Carmo, em Graciosa, confia<strong>do</strong> à direção das religiosas Carmelitas Missionárias<br />

<strong>de</strong> Santa Teresa <strong>do</strong> Menino Jesus, mesma congregação que no ano seguinte assumiu em Paranavaí o Colégio<br />

Nossa Senhora Aparecida. Também é <strong>de</strong>ste ano a vinda para Maringá das religiosas <strong>de</strong> São Carlos <strong>de</strong> Lyon,<br />

das quais irmãs Josette Barthélemy, Jeanne Gaudin, Teresa Rocha e Sônia Poubel foram as primeiras, ten<strong>do</strong><br />

chega<strong>do</strong> no dia 19 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1966 para assumir a ADAR – Associação Diocesana <strong>de</strong> Assistência Rural. Além<br />

da direção da casa <strong>de</strong>stinada a treinamento <strong>de</strong> agricultores, <strong>de</strong>senvolviam um leque <strong>de</strong> ações como catequese,<br />

alfabetização <strong>de</strong> adultos, cursos <strong>de</strong> corte e costura, tecelagem, pintura etc. A partir <strong>de</strong> 1980, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> o prédio<br />

da ADAR para uso da paróquia Santo Antônio <strong>de</strong> Pádua, as irmãs assumiram a direção da Cúria Metropolitana<br />

exercen<strong>do</strong> ainda em bairros eficiente trabalho nos campos da catequese, formação <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> reflexão,<br />

atendimento a <strong>do</strong>entes etc. A congregação abriu seu novicia<strong>do</strong> em Maringá, no dia 13 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1978. Em<br />

1999, inaugurou o Centro <strong>de</strong> Educação Infantil Carlos Démia, no bairro Borba Gato, que iniciou as aulas em<br />

7 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2000. Carlos Démia é o nome <strong>do</strong> sacer<strong>do</strong>te francês funda<strong>do</strong>r da congregação.<br />

Com a criação, em 20 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1968, da diocese <strong>de</strong> Paranavaí, <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> pertencer à diocese <strong>de</strong><br />

Maringá as paróquias <strong>de</strong> Alto Paraná, Graciosa, Loanda, Nova Londrina, Paraíso <strong>do</strong> Norte, Paranavaí, Santa<br />

Cruz <strong>do</strong> Monte Castelo e Santa Isabel <strong>do</strong> Ivaí.<br />

Em 1973: as Murialdinas <strong>de</strong> São José chegaram a Maringá no dia 14 <strong>de</strong> março. A pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Jaime,<br />

em janeiro <strong>de</strong>sse ano, o cura da catedral, monsenhor Sidney Luiz Zanettini, esteve, juntamente com <strong>do</strong>m<br />

Benedito Zorzi, na se<strong>de</strong> provincial da congregação, situada em Fazenda Souza, distrito <strong>de</strong> Caxias <strong>do</strong> Sul, para<br />

convidá-las a assumir o Lar Escola da Criança. As murialdinas receberam a instituição da qual provisoriamente<br />

181<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


182<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

cuidavam as Missionárias <strong>do</strong> Santo Nome <strong>de</strong> Maria. Além <strong>de</strong>sse inestimável serviço, religiosas <strong>do</strong> mesmo<br />

instituto cuidam ainda da paróquia <strong>de</strong> Nossa Senhora Mãe <strong>de</strong> Deus, em Presi<strong>de</strong>nte Castelo Branco. O atendimento<br />

sacramental é presta<strong>do</strong> pelo pároco da vizinha paróquia <strong>de</strong> Atalaia, mas o restante trabalho pastoral,<br />

com excelente resulta<strong>do</strong>, repousa nos ombros das religiosas.<br />

A entrega <strong>de</strong> uma paróquia aos cuida<strong>do</strong>s pastorais <strong>de</strong> religiosas, prática comum em outras regiões <strong>do</strong><br />

Brasil <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a iniciativa pioneira <strong>de</strong> Nísia Floresta (RN) no final <strong>do</strong>s anos 60, verificou-se na arquidiocese <strong>de</strong><br />

Maringá, pela primeira vez, na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Inajá. No dia 7 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1981, <strong>do</strong>is anos após a saída <strong>do</strong><br />

último padre, a paróquia recebeu as encarregadas paroquiais, quatro religiosas da Or<strong>de</strong>m da Companhia <strong>de</strong><br />

Maria Nossa Senhora, conhecidas como irmãs da Companhia <strong>de</strong> Maria. Meses <strong>de</strong>pois, no dia 3 <strong>de</strong> novembro<br />

<strong>do</strong> mesmo ano, faleceu irmã Iracema Osório. As três restantes, irmãs Genny Ferrari, Aparecida da Silva e Leonilda<br />

Romano da Silva, com ajuda ocasional <strong>de</strong> irmã Isabel Garez Caballero, continuaram até 2 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />

1990, quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixaram a comunida<strong>de</strong>, para tristeza <strong>do</strong>s fiéis que <strong>de</strong>las ainda hoje sentem sauda<strong>de</strong>s. Suce<strong>de</strong>ram-nas<br />

as irmãs da Congregação <strong>de</strong> São João Batista, que assumiram a paróquia no dia 29 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1990,<br />

respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> por sua vida pastoral até o dia 9 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1992, quan<strong>do</strong> então se transferiram à paróquia<br />

Bom Pastor, em Mandaguari, como auxiliares no trabalho pastoral. Aí abriram um centro para “evangelizar,<br />

educar e promover”, conforme o carisma da congregação.<br />

Em 1998: já no governo <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Murilo, na primeira quinzena <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, veio estabelecer-se em<br />

Maringá a congregação da Pia União das Irmãs da Copiosa Re<strong>de</strong>nção Mãe da Divina Graça para um trabalho<br />

<strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> jovens <strong>do</strong> sexo feminino vítimas <strong>de</strong> drogas, além <strong>de</strong> ajuda a moças solteiras grávidas não<br />

aceitas pela família.<br />

Em 2001: tomaram posse, no dia 11 <strong>de</strong> fevereiro, para trabalho pastoral na paróquia Cristo Bom Pastor,<br />

em Paiçandu, as irmãs diocesanas <strong>de</strong> Cristo Pastor. Duas semanas após, no dia 25, repetiu-se o fato na capela<br />

Santa Terezinha da Vila Guadiana, na paróquia e município <strong>de</strong> Mandaguaçu, agora com a posse <strong>de</strong> religiosas<br />

da Congregação das Irmãs Filhas <strong>de</strong> Sant’Ana, que se entregaram a ativida<strong>de</strong> pastoral semelhante. As mesmas<br />

irmãs Filhas <strong>de</strong> Sant’Ana iniciaram, no dia 18 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2006, um trabalho <strong>de</strong> ajuda pastoral na paróquia<br />

<strong>de</strong> Ivatuba. O atendimento sacramental é presta<strong>do</strong> pelo pároco <strong>de</strong> Doutor Camargo e Ivatuba, a cuja responsabilida<strong>de</strong><br />

estão confiadas ambas as paróquias.<br />

Maringá abriga ainda centros <strong>de</strong> formação que se inserem na vasta missão educa<strong>do</strong>ra da <strong>Igreja</strong>. Tanto<br />

para o presbitério diocesano como para a vida consagrada, segun<strong>do</strong> o carisma <strong>de</strong> cada instituto religioso,<br />

foram criadas instituições que atestam o cuida<strong>do</strong> da <strong>Igreja</strong> na formação <strong>de</strong> agentes especiais da evangelização,<br />

sejam ministros or<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s ou não. Neste rol apontam-se:<br />

- o Novicia<strong>do</strong> São Luiz Gonzaga, <strong>do</strong>s irmãos da Misericórdia <strong>de</strong> Maria Auxilia<strong>do</strong>ra, instala<strong>do</strong> em Maringá<br />

no dia 31 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1957, conforme <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1957, protocolo nº 3845/57,<br />

da Sagrada Congregação <strong>do</strong>s Religiosos. Por <strong>de</strong>terminação <strong>do</strong> Conselho Geral da Congregação,<br />

no ano <strong>de</strong> 1959 erigiu-se também o novicia<strong>do</strong> <strong>de</strong> Porto Alegre. Em 1962, ambos foram reuni<strong>do</strong>s<br />

na capital gaúcha em novicia<strong>do</strong> único, fechan<strong>do</strong>-se o <strong>de</strong> Maringá. No ano <strong>de</strong> 1972, foi o mesmo<br />

transferi<strong>do</strong> <strong>de</strong> Porto Alegre para Maringá, on<strong>de</strong> permaneceu até 2004. Nesse ano, os superiores<br />

<strong>de</strong>cidiram <strong>de</strong>slocá-lo para a Alemanha, on<strong>de</strong> presentemente se encontra;<br />

- o Seminário Menor Imaculada Conceição, da Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s fra<strong>de</strong>s da Bem-aventurada Virgem Maria<br />

<strong>do</strong> Monte Carmelo (padres carmelitas), funda<strong>do</strong> em 1959, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Graciosa, vizinha <strong>de</strong> Paranavaí;<br />

- o Novicia<strong>do</strong> Rainha da Paz, das Irmãs Missionárias <strong>do</strong> Santo Nome <strong>de</strong> Maria, em Maringá. No dia<br />

25 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1958 foram admitidas as primeiras postulantes, mas só a 17 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1959 seria<br />

iniciada, junto à igreja São José, a casa para as noviças. O prédio <strong>do</strong> novicia<strong>do</strong>, na chácara adquirida<br />

pela congregação, foi começa<strong>do</strong> em 1963 e aberto no dia 22 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1964. Trinta anos <strong>de</strong>pois,<br />

o novicia<strong>do</strong> transferiu-se para novo prédio na mesma chácara, mudan<strong>do</strong>-se, no dia 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />

<strong>de</strong> 2006, para o Jardim São Silvestre, na Rua Pioneiro Domingos Danhoni, 938;<br />

- o Novicia<strong>do</strong> Nossa Senhora Aparecida, das Carmelitas da Carida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vedruna, aberto no ano <strong>de</strong>


1961, em Maringá e transferi<strong>do</strong>, em agosto <strong>de</strong> 1971, para Campinas;<br />

- o extensamente relata<strong>do</strong> Seminário Menor Diocesano Nossa Senhora da Glória, <strong>de</strong> Maringá, inicia<strong>do</strong><br />

em 1962; 3<br />

- o Novicia<strong>do</strong> São Carlos, das irmãs <strong>de</strong> São Carlos <strong>de</strong> Lyon, no Recanto Pascal, situa<strong>do</strong> às margens<br />

da ro<strong>do</strong>via, na saída <strong>de</strong> Maringá para Campo Mourão, que teve início a 13 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1978, e, por<br />

último,<br />

- o Seminário Santo Agostinho, da Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s Agostinianos Recoletos, para seus postulantes na etapa<br />

<strong>de</strong> Filosofia, inicia<strong>do</strong> com a chegada à Maringá, em 27 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2002, <strong>do</strong> primeiro forma<strong>do</strong>r.<br />

Em Mandaguari, li<strong>de</strong>rada pela paróquia Nossa Senhora Aparecida, além da Escola Primária São Tarcísio<br />

(1961), foram cria<strong>do</strong>s: Escola Paroquial São Vicente Pallotti, em 1963; Ginásio e Colégio Industrial e Agrícola<br />

Rainha <strong>do</strong>s Apóstolos, em 1968, e Centro <strong>de</strong> Treinamento Profissional, que iniciou em 1971, todas obras<br />

com a marca <strong>do</strong> dinamismo <strong>de</strong> padre Max Kaufmann, SAC. Não obstante sua personalida<strong>de</strong> forte que lhe<br />

dificultava, às vezes, ajustar-se às normas da <strong>Igreja</strong> diocesana, padre Max exerceu em Mandaguari um trabalho<br />

religioso-educativo <strong>de</strong> extraordinário alcance.<br />

Dos atuais colégios a parcela maior partiu <strong>de</strong> começo bastante humil<strong>de</strong>, quase sempre em construções<br />

<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira que, no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s anos, foram-se fortalecen<strong>do</strong> com a generosa colaboração <strong>do</strong>s fiéis das comunida<strong>de</strong>s<br />

atendidas. As congregações religiosas voltadas à educação direcionaram seu trabalho, nos primeiros<br />

tempos, preferencialmente à infância e à a<strong>do</strong>lescência femininas. É compreensível, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o ambiente<br />

árduo da lavoura e o ensino <strong>de</strong>ficiente das escolas públicas <strong>do</strong>s primeiros tempos. Muitas vezes o “colégio”<br />

das irmãs não ia além <strong>de</strong> <strong>de</strong>spojadas salas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira on<strong>de</strong> valentes educa<strong>do</strong>ras ministravam as primeiras<br />

letras, complementan<strong>do</strong> o conteú<strong>do</strong> escolar com noções básicas para a formação individual, familiar e social<br />

da mulher.<br />

Manda a verda<strong>de</strong> que se afirme, também na área da educação, o pioneirismo <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Jaime. A ele se<br />

<strong>de</strong>ve a instalação <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os estabelecimentos católicos <strong>de</strong> ensino durante os quarenta anos <strong>de</strong> seu governo<br />

diocesano. Mais ainda: um recuo às origens leva a <strong>de</strong>scobri-lo na implantação da maior universida<strong>de</strong> da região,<br />

a Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Maringá, bem assim da Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>do</strong> Paraná aqui.<br />

A PUC-PR estabeleceu sua <strong>presença</strong> em Maringá no ano <strong>de</strong> 2004, quan<strong>do</strong> ofereceu à comunida<strong>de</strong> os<br />

<strong>do</strong>is primeiros cursos <strong>de</strong> Nutrição e Enfermagem, inician<strong>do</strong> as aulas no dia 14 <strong>de</strong> fevereiro. Fruto <strong>de</strong> longos<br />

entendimentos manti<strong>do</strong>s entre a Província Eclesiástica <strong>de</strong> Maringá e a direção da PUC-PR, em 2006 foi aberto<br />

o curso <strong>de</strong> Filosofia. Cumpridas as formalida<strong>de</strong>s da legislação, veio a público, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ansiosa espera das<br />

dioceses interessadas, a autorização para o curso <strong>de</strong> Filosofia:<br />

GABINETE DO MINISTRO<br />

Portaria Nº 810, <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2006<br />

O Ministro <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> da Educação etc. resolve:<br />

Art. 1º Autorizar o funcionamento <strong>do</strong> curso <strong>de</strong> Filosofia, licenciatura, a ser ministra<strong>do</strong><br />

no campus fora da se<strong>de</strong> localiza<strong>do</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maringá, no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná, pela<br />

Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>do</strong> Paraná, mantida pela Associação Paranaense <strong>de</strong><br />

Cultura – APC, ambas com se<strong>de</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba, no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná.<br />

Art. 2º Esta Portaria entra em vigor na data <strong>de</strong> sua publicação.<br />

FERNANDO HADDAD (BRASIL, 2006, p. 15).<br />

Nos dias 4 e 5 <strong>de</strong> fevereiro, ainda no aguar<strong>do</strong> da autorização ministerial, realizaram-se as provas <strong>do</strong><br />

3 Não religioso, evi<strong>de</strong>ntemente, mas aqui incluí<strong>do</strong> como integrante das iniciativas da <strong>Igreja</strong> voltadas à educação em Maringá. Nos<br />

vários seminários diocesanos espalha<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong> o Brasil, não poucos cidadãos encontraram o primeiro impulso para alavancar a<br />

escalada <strong>do</strong> saber e da soli<strong>de</strong>z <strong>de</strong> princípios, rumo à sua realização profissional e cidadã.<br />

183<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


184<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

concurso vestibular para ingresso na PUC-PR. Publicada a portaria na quarta-feira, dia 28, da última semana<br />

<strong>de</strong> março, o início oficial <strong>do</strong> curso <strong>de</strong> Filosofia aconteceu no dia 3 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2006. Ainda <strong>de</strong> forma temporária,<br />

a PUC-PR câmpus <strong>de</strong> Maringá estabeleceu-se no Colégio Marista, mais precisamente no novo anexo<br />

ergui<strong>do</strong> na Avenida Tira<strong>de</strong>ntes, nº 963. As instalações <strong>de</strong>finitivas ocuparão área própria, já adquirida, <strong>de</strong> 26<br />

alqueires, ou 62,92ha, no final das Avenidas Guaiapó e Tuiuti. Com essa prova <strong>de</strong> confiança na potencialida<strong>de</strong><br />

da região on<strong>de</strong> foi ansiosamente aguardada, a PUC-PR escreve mais um capítulo da sua história, que dignifica<br />

a lembrança <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Manuel da Silveira D’Elboux.<br />

Des<strong>de</strong> sua chegada ao Paraná, ele já alimentava o sonho da Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Curitiba (FEDAL-<br />

TO, 1956, f. 347). Quan<strong>do</strong>, enfim, se ofereceram condições, a 14 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1959, criou não a universida<strong>de</strong><br />

da capital, mas a Universida<strong>de</strong> Católica <strong>do</strong> Paraná: fez questão <strong>de</strong> inscrever como seu beneficiário o<br />

Esta<strong>do</strong> inteiro, assim como associar à sua fundação to<strong>do</strong> o episcopa<strong>do</strong> paranaense. Com a gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> alma<br />

que o caracterizava, repartiu os méritos da criação com <strong>do</strong>m Jerônimo Mazzarotto e <strong>do</strong>m Inácio Krause,<br />

seus bispos auxiliares; <strong>do</strong>m Antônio Mazzarotto, bispo <strong>de</strong> Ponta Grossa; <strong>do</strong>m Geral<strong>do</strong> Sigaud, bispo <strong>de</strong> Jacarezinho;<br />

<strong>do</strong>m Manoel Koenner, bispo-prela<strong>do</strong> <strong>de</strong> Foz <strong>do</strong> Iguaçu; <strong>do</strong>m Carlos Eduar<strong>do</strong> <strong>de</strong> Sabóia Ban<strong>de</strong>ira<br />

<strong>de</strong> Mello, bispo-prela<strong>do</strong> <strong>de</strong> Palmas; <strong>do</strong>m Geral<strong>do</strong> Fernan<strong>de</strong>s, bispo <strong>de</strong> Londrina, e <strong>do</strong>m Jaime Luiz Coelho,<br />

bispo <strong>de</strong> Maringá. Pelo <strong>de</strong>creto nº 48.232, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1960, a universida<strong>de</strong> recebeu reconhecimento<br />

<strong>do</strong> Governo Fe<strong>de</strong>ral. Em 1973 passou ao coman<strong>do</strong> da Província Marista <strong>do</strong> Brasil Centro-Sul, <strong>do</strong> Instituto<br />

<strong>do</strong>s Irmãos Maristas das Escolas. Mercê <strong>do</strong>s serviços presta<strong>do</strong>s à socieda<strong>de</strong> e à <strong>Igreja</strong>, em 8 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong><br />

1985 foi elevada pela Santa Sé à condição <strong>de</strong> “pontifícia”, passan<strong>do</strong> a se inserir no rol das mais prestigiadas<br />

universida<strong>de</strong>s católicas <strong>do</strong> Brasil.<br />

Voltan<strong>do</strong> no tempo, vale recordar que em seus planos <strong>de</strong> colonização, a CMNP mostrou interesse também<br />

pela educação <strong>do</strong>s filhos <strong>do</strong>s pioneiros que vinham comprar as terras postas à venda. Lembra o primeiro<br />

bispo <strong>de</strong> Maringá que a Companhia reservou<br />

amplas áreas na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maringá para os diversos Estabelecimentos <strong>de</strong> Ensino. Na<br />

Zona 2, a 09 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1951, lançava a pedra fundamental <strong>do</strong> “Colégio Maringá”,<br />

sen<strong>do</strong> o mesmo inaugura<strong>do</strong> oficialmente a 10 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1952, 5º aniversário<br />

da cida<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> 1º Diretor o Professor Anthero Alfre<strong>do</strong> Chaves Santos. No dia 24<br />

<strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1954 a Mitra Diocesana <strong>de</strong> Jacarezinho assume a Direção <strong>do</strong> Colégio na<br />

pessoa <strong>do</strong> Padre Cleto Altoé. Instalada a Diocese <strong>de</strong> Maringá em 1957, Dom Jaime<br />

conseguiu a colaboração <strong>do</strong>s Irmãos Maristas para a Direção <strong>do</strong> Colégio, que o assumiram<br />

a 09 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1957, contan<strong>do</strong> com os esforços <strong>do</strong> Irmão Vitor Floriano.<br />

A 10 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1958 chegam os primeiros Irmãos Maristas: Irmão Estevão José,<br />

Diretor e Irmãos Marcos e Zenon (COELHO, 1982, p. 100).<br />

Ginásio Maringá construí<strong>do</strong> pela CMNP, adquiri<strong>do</strong> pela diocese <strong>de</strong> Jacarezinho, antigo prédio <strong>do</strong> Colégio Marista.


Assim que os irmãos assumiram o colégio, seu diretor, padre Cleto Altoé, retornou a Jaciguá (ES), pró-<br />

ximo <strong>de</strong> Cachoeiro <strong>de</strong> Itapemirim, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> viera para Jacarezinho, antes da criação da diocese <strong>de</strong> Maringá. A<br />

escola técnica <strong>de</strong> comércio permaneceu ainda sob direção da diocese, ten<strong>do</strong> como diretor o bispo e continuan<strong>do</strong>,<br />

como curso noturno, a funcionar no mesmo prédio, agora transforma<strong>do</strong> em Colégio Marista. 4<br />

A <strong>presença</strong> <strong>do</strong>s irmãos maristas foi <strong>de</strong>cisiva para a abertura da PUC-PR câmpus <strong>de</strong> Maringá. Ao recebêlos<br />

aqui, no início <strong>de</strong> 1958, nem em sonho <strong>do</strong>m Jaime po<strong>de</strong>ria prever que estava, naquele instante, lançan<strong>do</strong><br />

em solo maringaense a semente inicial da Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>do</strong> Paraná.<br />

Além <strong>do</strong> colégio e da PUC-PR, os irmãos estabeleceram parceria com o Núcleo Social Papa XXIII,<br />

responsabilizan<strong>do</strong>-se por um Centro Social Marista para crianças e a<strong>do</strong>lescentes, para suas famílias e comunida<strong>de</strong>,<br />

segun<strong>do</strong> o espírito <strong>do</strong> funda<strong>do</strong>r São Marcelino Champagnat.<br />

Em relação à Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Maringá, a participação <strong>do</strong> bispo foi mais clara e direta. Ao<br />

tempo <strong>de</strong> sua posse, para as autorida<strong>de</strong>s estaduais Maringá representava pouco mais que um celeiro <strong>de</strong> votos,<br />

perdi<strong>do</strong> no meio <strong>do</strong> mato, distante da capital para on<strong>de</strong> se voltava quase exclusiva a atenção <strong>do</strong>s governantes.<br />

O <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> estadual maringaense Néo Alves Martins procurou junto ao bispo o apoio que julgava importante<br />

para a criação <strong>de</strong> um curso superior, o primeiro que se instalaria na cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> só havia ensino até o nível<br />

médio. No relatório referente ao ano <strong>de</strong> 1959, envia<strong>do</strong> à nunciatura apostólica com data <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> janeiro<br />

<strong>de</strong> 1960, <strong>do</strong>m Jaime escreveu que “por motivos políticos <strong>de</strong>sejava um <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> local criar uma Faculda<strong>de</strong><br />

Estadual <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras” (COELHO, Maringá, 1961, f. 2). Com olhar posto no futuro, que<br />

projetava a cida<strong>de</strong> como pólo comercial <strong>de</strong> vasta região, o bispo inclinava-se bem mais para a abertura <strong>de</strong><br />

uma Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Econômicas em cuja implantação <strong>de</strong>cidiu investir to<strong>do</strong> o seu prestígio. Sua opção<br />

acabou por triunfar: a lei estadual nº 4070, <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1959, criou a FECEM − Faculda<strong>de</strong> Estadual<br />

<strong>de</strong> Ciências Econômicas <strong>de</strong> Maringá. Aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> feito pelo governa<strong>do</strong>r Moysés Lupion, <strong>do</strong>m Jaime<br />

aceitou o cargo <strong>de</strong> primeiro diretor, para o qual foi nomea<strong>do</strong> pelo <strong>de</strong>creto governamental nº 25.606, <strong>de</strong> 21<br />

<strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1959. Teve a seu la<strong>do</strong> o professor Geral<strong>do</strong> Altoé, <strong>de</strong>signa<strong>do</strong> secretário. A 15 <strong>de</strong> outubro <strong>do</strong><br />

mesmo ano, no gabinete <strong>do</strong> secretário estadual da Educação Nivon Weigert, em Curitiba, tomou posse <strong>do</strong><br />

cargo. Os meses seguintes foram gastos nas providências necessárias à instalação <strong>do</strong>s cursos. O reconhecimento<br />

da escola pelo Governo Fe<strong>de</strong>ral veio pelo <strong>de</strong>creto nº 48.431, data<strong>do</strong> <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1960. No dia<br />

20 <strong>de</strong> setembro <strong>do</strong> mesmo ano aconteceu a instalação oficial seguida <strong>de</strong> provas classificatórias e matrículas<br />

<strong>de</strong> alunos para o ano letivo <strong>de</strong> 1961. A faculda<strong>de</strong> começou por funcionar no prédio <strong>do</strong> Colégio Marista, à<br />

época na Avenida Tira<strong>de</strong>ntes, mudan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>pois para o pavimento superior <strong>do</strong> atual Instituto Estadual <strong>de</strong><br />

Educação, <strong>de</strong> on<strong>de</strong>, por fim, se transferiu ao atual câmpus da UEM. Por exigência da Secretaria <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong><br />

da Educação, o diretor <strong>de</strong>via também ministrar aulas, motivo que levou o bispo a introduzir no currículo a<br />

ca<strong>de</strong>ira, antes inexistente, <strong>de</strong> Ética e Sociologia, da qual se tornou professor. Era sua preocupação assegurar<br />

à primeira escola <strong>de</strong> nível superior em Maringá uma orientação cristã. O primeiro curso, ofereci<strong>do</strong> em 1961,<br />

foi o <strong>de</strong> Economia, que entre 1961 e 1963 matriculou um total <strong>de</strong> 89 alunos. No dia 14 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1965<br />

houve a solene colação <strong>de</strong> grau da primeira turma, graduada no final <strong>do</strong> ano letivo <strong>de</strong> 1964. Quatro anos mais<br />

tar<strong>de</strong>, tinha início o processo da criação oficial da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Maringá.<br />

Dom Jaime foi diretor da FECEM <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua criação até 1962, quan<strong>do</strong>, pela portaria 5.369/62, passou<br />

o cargo a <strong>do</strong>utor Zeferino Mozatto Krukowski. Por conta <strong>de</strong> impreteríveis encargos, que o forçavam a prolonga<strong>do</strong>s<br />

afastamentos da cida<strong>de</strong> − visitas pastorais a todas as paróquias e, particularmente, <strong>presença</strong> exigida<br />

4 A CMNP construiu o Colégio Maringá (chama<strong>do</strong> Ginásio Maringá na época da transferência à diocese <strong>de</strong> Jacarezinho), tornan<strong>do</strong>-se<br />

cre<strong>do</strong>ra da importância <strong>de</strong>spendida na construção. É o prédio <strong>de</strong> pavimento único, com 50m <strong>de</strong> fachada, ainda em uso na<br />

Avenida Tira<strong>de</strong>ntes, nº 963, na esquina com a Rua Marcelino Champagnat. Não ten<strong>do</strong> salda<strong>do</strong> inteiramente o débito, o professor<br />

Anthero ven<strong>de</strong>u a escola, passan<strong>do</strong> o compromisso à Mitra Diocesana <strong>de</strong> Jacarezinho. Com a criação da diocese <strong>de</strong> Maringá, em<br />

1956, a ela foi transferida a dívida restante que, por sua vez, os irmãos maristas, estabeleci<strong>do</strong>s em Maringá, assumiram e quitaram<br />

junto à Companhia.<br />

185<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


186<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

nas sessões <strong>do</strong> Concílio Ecumênico Vaticano II, em Roma 5 −, <strong>do</strong>m Jaime indicou para substituí-lo na ca<strong>de</strong>i-<br />

ra <strong>de</strong> Ética e Sociologia o cura da catedral, padre Benedito Vieira Telles, que foi nomea<strong>do</strong> pelo <strong>de</strong>creto nº<br />

11.765, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1963, para exercer interinamente o cargo <strong>de</strong> assistente <strong>de</strong> ensino superior, função<br />

na qual Telles foi empossa<strong>do</strong> no mesmo dia da nomeação.<br />

consAgrAção religiosA, sinAl <strong>do</strong> reino<br />

Também em outras áreas além da educação vêm, <strong>de</strong> longa data, fazen<strong>do</strong>-se presentes os religiosos e as<br />

religiosas na <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Maringá. Ainda não fora criada a diocese e já muitos <strong>de</strong>les, homens e mulheres, labutavam<br />

na seara <strong>do</strong> Senhor plantada nestas bandas. Com a vinda <strong>do</strong> primeiro bispo, cresceu a sua <strong>presença</strong> e se<br />

intensificou em muito a atuação evangeliza<strong>do</strong>ra da <strong>Igreja</strong> através <strong>de</strong>les.<br />

Na esteira <strong>do</strong>s abnega<strong>do</strong>s sacer<strong>do</strong>tes palotinos, jesuítas, capuchinhos, josefinos e carmelitas, que encontrou<br />

em 1957, <strong>do</strong>m Jaime esforçou-se por conseguir outros institutos religiosos dispostos a repartir com o<br />

reduzi<strong>do</strong> clero diocesano a evangelização <strong>do</strong> povo <strong>de</strong> Deus aqui assenta<strong>do</strong>. Nem sempre obteve êxito, sujeitan<strong>do</strong>-se,<br />

por vezes, a situações no mínimo risíveis. Como em 1961, quan<strong>do</strong> padres <strong>do</strong>minicanos malteses,<br />

<strong>de</strong>sejosos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar a paróquia que ocupavam no vizinho Mato Grosso (ainda não existia Mato Grosso <strong>do</strong><br />

Sul), pediram paróquia nesta diocese. O bispo ofereceu-lhes Santa Cruz <strong>do</strong> Monte Castelo. Depois <strong>de</strong> visitála,<br />

em pouco elegante trocadilho, <strong>de</strong>ram-lhe a resposta: “Mato por mato, nós ficamos no Mato Grosso”.<br />

Para o nem sempre harmonioso relacionamento com um ou outro religioso daqueles tempos o bispo<br />

apresenta a justificativa <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> distanciamento da se<strong>de</strong> episcopal. Jacarezinho, na época, encontrava-se<br />

não apenas longe, mas praticamente inacessível a qualquer meio <strong>de</strong> comunicação. No cultivo <strong>de</strong> esparsos e<br />

burocráticos encontros com o pastor da diocese, padres assumiam, às vezes, postura <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> absoluta<br />

na paróquia. Agora, força<strong>do</strong>s a contatos freqüentes com um bispo não tão distante, estranhavam a mudança.<br />

Dom Jaime <strong>de</strong>u-se conta <strong>de</strong> situações incômodas que se arrastavam há anos. Fra<strong>de</strong>s havia que davam, segun<strong>do</strong><br />

ele, interpretação interesseira ao cânon 621 <strong>do</strong> antigo Código <strong>de</strong> Direito Canônico, sobre o direito <strong>de</strong> arrecadar<br />

esmolas em toda a diocese. Numa paróquia, imóveis <strong>do</strong>a<strong>do</strong>s à <strong>Igreja</strong> foram escritura<strong>do</strong>s em nome da<br />

or<strong>de</strong>m religiosa, quan<strong>do</strong> os <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res tinham pensa<strong>do</strong>, evi<strong>de</strong>ntemente, oferecê-los à comunida<strong>de</strong> eclesial <strong>do</strong><br />

lugar. De outra, queixava-se o bispo, saíram vários seminaristas para o seminário da congregação, enquanto<br />

para o seminário diocesano, nem um só. Além disso, por ser uma diocese nascente, Maringá atraía clérigos<br />

religiosos dispostos a passar ao clero secular, provocan<strong>do</strong> pendência com este ou aquele governo religioso<br />

provincial. Resultou daí que ao bispo foi aplicada a pecha <strong>de</strong> hostil ao clero regular, acusação que por largo<br />

tempo dificultou a colaboração <strong>de</strong>ste na diocese.<br />

Ainda que em proporção menor <strong>do</strong> que outras, a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Maringá, não só nos anos primeiros, mas<br />

ainda hoje, evi<strong>de</strong>ncia a riqueza eclesial que lhe empresta o testemunho da vida consagrada.<br />

No ano <strong>de</strong> 1990, por iniciativa pessoal e com recursos próprios, monsenhor Gerhard Schnei<strong>de</strong>r começou<br />

a levantar em área <strong>de</strong> sua proprieda<strong>de</strong>, próxima ao Horto Florestal <strong>de</strong> Maringá, uma construção visan<strong>do</strong><br />

enriquecer Maringá com o testemunho da vida monástica. A obra, que recebeu o nome <strong>de</strong> “Mosteiro da Re<strong>de</strong>nção”,<br />

foi inaugurada em 31 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1992. Depois <strong>de</strong> meses <strong>de</strong> contatos tenta<strong>do</strong>s com comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

várias partes <strong>do</strong> Brasil para assumi-la, a 11 <strong>de</strong> junho, onze dias <strong>de</strong>pois da inauguração, ocuparam a casa, proce<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong> São José <strong>do</strong> Rio Par<strong>do</strong> (SP), os primeiros religiosos da Congregação <strong>de</strong> São Bernar<strong>do</strong> da Or<strong>de</strong>m<br />

Cisterciense. No entanto, por carência <strong>de</strong> vocações em seu mosteiro <strong>de</strong> origem, apenas oito meses mais tar<strong>de</strong>,<br />

foram daqui retira<strong>do</strong>s e encaminha<strong>do</strong>s à Itália. 6 Embora <strong>de</strong>sativa<strong>do</strong>, o mosteiro continuou sen<strong>do</strong> em Maringá<br />

um centro <strong>de</strong> peregrinação e espaço <strong>de</strong> recolhimento para fiéis não só da cida<strong>de</strong> mas também da vizinhança.<br />

5 Sessões <strong>do</strong> Concílio <strong>de</strong>signam os quatro perío<strong>do</strong>s em que os bispos estiveram reuni<strong>do</strong>s em Roma para as discussões conciliares: <strong>de</strong> 11<br />

<strong>de</strong> outubro a 8 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1962; <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> setembro a 4 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1963; <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> setembro a 21 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1964,<br />

e <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> setembro a 8 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1965. De todas <strong>do</strong>m Jaime participou integralmente.<br />

6 A queda no número <strong>de</strong> monges verificou-se na Itália, berço da fundação brasileira. Para lá foram então transferi<strong>do</strong>s os que aqui se<br />

encontravam há menos <strong>de</strong> um ano, provocan<strong>do</strong> o fechamento da casa.


Em 1998 foi reaberto, com o nome <strong>de</strong> “Mosteiro Nossa Senhora da Re<strong>de</strong>nção”, ocupa<strong>do</strong>, <strong>de</strong>sta vez, por<br />

beneditinos da Fraternida<strong>de</strong> Beneditina Mãe da Divina Providência. Por três anos os monges sustentaram em<br />

Maringá saudável experiência <strong>de</strong> vida contemplativa da qual se beneficiaram indivíduos e grupos cristãos. No<br />

final <strong>de</strong> 2000, também por <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> pessoal, acabaram retornan<strong>do</strong> à casa-mãe, em Nova Lima (MG).<br />

Com o advento, em 1997, <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> arcebispo <strong>de</strong> Maringá, <strong>do</strong>m Murilo Sebastião Ramos Krieger,<br />

originário da Congregação <strong>do</strong>s Sacer<strong>do</strong>tes <strong>do</strong> Sagra<strong>do</strong> Coração <strong>de</strong> Jesus, a arquidiocese <strong>de</strong> Maringá acolheu<br />

novos institutos religiosos <strong>de</strong> padres e <strong>de</strong> irmãs. Em Maringá foram criadas três novas paróquias confiadas a<br />

congregações religiosas <strong>de</strong> sacer<strong>do</strong>tes.<br />

São Bonifácio, a primeira, nasceu junto à antiga fazenda <strong>de</strong> mesmo nome, ten<strong>do</strong> recebi<strong>do</strong> da Socieda<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> Apostola<strong>do</strong> Católico o terreno on<strong>de</strong> está construída a igreja paroquial. Foi criada em 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

1998, quan<strong>do</strong> ocupou, como matriz provisória, a capela na margem da Avenida Anel Viário Prefeito Sincler<br />

Sambatti. Nasceu confiada à congregação palotina que, para regê-la, <strong>de</strong>signou padre Luiz Braz <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong>,<br />

SAC. Aproximadamente seis anos durou a administração <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong>, <strong>de</strong>la se afastan<strong>do</strong> no final <strong>de</strong> 2005. Devolvida<br />

à arquidiocese, a paróquia foi entregue, no dia 18 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2006, à responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> padre<br />

José Apareci<strong>do</strong> <strong>de</strong> Miranda, <strong>do</strong> presbitério diocesano.<br />

Outra paróquia sob cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong> religiosos tem como área o Jardim Itaipu e está <strong>de</strong>dicada a Santa Rita<br />

<strong>de</strong> Cássia. Começou como quase-paróquia, em 1º <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1999, aos cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> padre Luiz Gonçalves<br />

Knupp. Quan<strong>do</strong>, em 25 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2001, foi elevada ao nível <strong>de</strong> paróquia, passou à responsabilida<strong>de</strong> da<br />

Congregação das Escolas <strong>de</strong> Carida<strong>de</strong> – Instituto Cavanis, fundação religiosa <strong>de</strong> origem italiana que se <strong>de</strong>dica<br />

a a<strong>do</strong>lescentes e jovens carentes. A congregação indicou como pároco padre Edmilson Men<strong>de</strong>s, CEC, que,<br />

além <strong>do</strong> atendimento à comunida<strong>de</strong>, cuida da implantação <strong>de</strong> obra educativa para a qual foi adquiri<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

monsenhor Gerhard Schnei<strong>de</strong>r terreno junto ao hoje <strong>de</strong>sativa<strong>do</strong> mosteiro.<br />

Absorven<strong>do</strong> a parcela maior <strong>do</strong> Maringá Velho, a terceira paróquia criada para religiosos recebeu o<br />

nome <strong>de</strong> Santa Joaquina <strong>de</strong> Vedruna. Seu templo <strong>de</strong> funcionamento provisório foi a capela Santa Cruz, primeira<br />

igreja urbana <strong>de</strong> Maringá. Preparada por padre Manoel Silva Filho, teve sua fundação no dia 21 <strong>de</strong> maio<br />

<strong>de</strong> 2000, sen<strong>do</strong> confiada à Congregação da Ressurreição <strong>de</strong> Nosso Senhor Jesus Cristo, conhecida como <strong>do</strong>s<br />

padres ressurrecionistas. O primeiro, o polonês Andrzej Krzyzanowski, CR, esteve à frente da paróquia até 17<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2001, quan<strong>do</strong> foi sucedi<strong>do</strong> por padre Flávio Augusto Bittencourt Aguiar, CR. Este causou<br />

dificulda<strong>de</strong>s para os paroquianos por causa da disposição manifesta <strong>de</strong>, segun<strong>do</strong> suas próprias palavras, “criar<br />

a consciência <strong>de</strong> paróquia religiosa e não diocesana”. No final <strong>de</strong> 2004, os padres ressurrecionistas <strong>de</strong>volveram<br />

a paróquia, e o arcebispo nomeou padre Sidney Fabril administra<strong>do</strong>r paroquial; <strong>de</strong>pois, pároco, a partir <strong>de</strong> 25<br />

<strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2005.<br />

Completan<strong>do</strong> o quadro <strong>de</strong> presbíteros religiosos com atuação na arquidiocese <strong>de</strong> Maringá, registre-se a<br />

<strong>presença</strong> <strong>do</strong>s fra<strong>de</strong>s da Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s Agostinianos Recoletos – OAR, Vicariato <strong>do</strong> Brasil da Província <strong>de</strong> Santo<br />

Tomás <strong>de</strong> Vilanova. Celebra<strong>do</strong> no ano 2000, o XXX <strong>Capítulo</strong> Provincial pediu a abertura, no Brasil, <strong>de</strong> um<br />

postulanta<strong>do</strong> para os estudantes <strong>de</strong> Filosofia que, ao mesmo tempo, servisse <strong>de</strong> casa <strong>de</strong> acolhida aos membros<br />

da Or<strong>de</strong>m. Nos últimos meses <strong>de</strong>sse ano, o vigário provincial, frei Miguel Hernán<strong>de</strong>z com seus conselheiros<br />

visitaram vários lugares, <strong>de</strong>cidin<strong>do</strong>-se por Maringá. No dia 24 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2001 foram recebi<strong>do</strong>s por <strong>do</strong>m Murilo,<br />

que manifestou interesse na abertura da fundação. Foram adquiri<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is lotes na cida<strong>de</strong>; um, com casa<br />

construída, para residência <strong>do</strong>s 12 primeiros seminaristas; outro, para construção <strong>de</strong> seminário próprio, que<br />

seria inicia<strong>do</strong>. Em janeiro <strong>de</strong> 2002 chegaram os <strong>do</strong>is primeiros padres, frei José Lorenzo Gómez, forma<strong>do</strong>r,<br />

no dia 27, e frei Sebastián Olalla <strong>de</strong>l Rio, prior, no dia 30. A bênção da pedra fundamental da nova casa foi<br />

oficiada no dia 28 <strong>de</strong> agosto, festa <strong>de</strong> Santo Agostinho. Sob responsabilida<strong>de</strong> da Construtora Catamarã, <strong>de</strong><br />

Maringá, as obras seguiram num ritmo intenso a ponto <strong>de</strong>, no dia 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2003, ter si<strong>do</strong> possível ao<br />

arcebispo <strong>do</strong>m João Braz <strong>de</strong> Aviz, sucessor <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Murilo, inaugurar o monumental Seminário Santo Agostinho,<br />

localiza<strong>do</strong> na Avenida Pioneiro João Pereira, 1027, no Jardim Indaiá. Além da formação <strong>do</strong>s estudantes<br />

na etapa da Filosofia, foi projeta<strong>do</strong> também para gran<strong>de</strong>s encontros da Or<strong>de</strong>m, não apenas <strong>do</strong> Brasil, mas até<br />

<strong>do</strong> exterior. Numa feliz coincidência, o en<strong>de</strong>reço <strong>do</strong> Seminário Santo Agostinho aponta o prolongamento da<br />

mesma picada aberta no mato, por on<strong>de</strong> entrou, em 1958, padre André Torres, quan<strong>do</strong> dava os primeiros<br />

187<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


188<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

passos para a construção <strong>do</strong> Seminário Diocesano Nossa Senhora da Glória.<br />

Quanto à <strong>presença</strong> da mulher consagrada, a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Maringá tem sobejas razões <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer o teste-<br />

munho <strong>de</strong> centenas <strong>de</strong> religiosas que trabalharam e trabalham pelo <strong>Reino</strong> <strong>de</strong> Deus. Muitas aqui encontraram<br />

o final <strong>de</strong> seus dias, não sem antes terem da<strong>do</strong> o melhor das próprias forças para o crescimento da <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong><br />

Cristo. No cemitério-jardim <strong>do</strong> Novicia<strong>do</strong> Rainha da Paz, situa<strong>do</strong> no lote 63 da Rua Distrito Fe<strong>de</strong>ral, ao la<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> sete padres e <strong>de</strong> seis irmãos, o número maior <strong>de</strong> túmulos, exatamente vinte e três, 7 guarda os restos <strong>de</strong><br />

santas mulheres a quem jamais será tributa<strong>do</strong> o justo reconhecimento.<br />

Os religiosos, junto ao arcebispo, na celebração <strong>do</strong> Dia <strong>do</strong> Religioso <strong>de</strong> 2005,<br />

na catedral basílica Nossa Senhora da Glória.<br />

o serviço Aos pobres<br />

Des<strong>de</strong> o Antigo Testamento, soa forte na Bíblia a recomendação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> com o órfão, a viúva e<br />

o estrangeiro. Para a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Cristo, ainda no tempo apostólico, apresentou-se o <strong>de</strong>safio <strong>do</strong> atendimento<br />

às viúvas <strong>de</strong> origem grega, que levou os Doze a instituírem os “diáconos das mesas” (ATOS 6, 1-6). O<br />

apóstolo Paulo mobilizou colabora<strong>do</strong>res para uma coleta solidária entre as <strong>Igreja</strong>s da gentilida<strong>de</strong> com o fim<br />

7 A contagem foi feita pelo autor <strong>de</strong>stas notas no dia 29 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2006. Dentre os padres sepulta<strong>do</strong>s (Raimun<strong>do</strong> Le Goff, Mathias<br />

Jorge, Friedrich (Fritz) J. K. Gerkens, Pedro Ryo Tanaka, Levi <strong>de</strong> Oliveira Silva, Apareci<strong>do</strong> Reis <strong>de</strong> Lima e Wagner <strong>do</strong>s Santos) os <strong>do</strong>is<br />

últimos não trabalharam na diocese, mas têm em Maringá suas famílias. Os irmãos religiosos faleci<strong>do</strong>s pertenceram aos maristas e<br />

aos enfermeiros da Santa Casa. Além das 23 religiosas sepultadas, outras três da congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição<br />

tiveram os restos mortais traslada<strong>do</strong>s para Nova Trento (SC), on<strong>de</strong> a congregação construiu jazigo próprio.


<strong>de</strong> socorrer a penúria da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jerusalém (2CORÍNTIOS, 8-9). Embora pontilhada <strong>de</strong> aspectos<br />

romanescos, a biografia <strong>do</strong> diácono Lourenço († 258), celebra<strong>do</strong> no dia 10 <strong>de</strong> agosto, comprova o zelo com<br />

que na <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Roma eram assisti<strong>do</strong>s os pobres. Os Santos Padres unanimemente pregam o cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Deus para com esses filhos especiais, recordan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>ver que têm os cristãos <strong>de</strong> jamais mostrarem indiferença<br />

pela sua sorte.<br />

Assim, ao logo da história, a <strong>Igreja</strong> nunca <strong>de</strong>scurou a lei <strong>do</strong> amor, que assumiu as características culturais,<br />

temporais e locais das comunida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> se implantava. Nas frentes <strong>de</strong> pioneirismo, via <strong>de</strong> regra, o<br />

amor cristão se traduziu, como foi lembra<strong>do</strong>, por iniciativas nas áreas da educação e da saú<strong>de</strong>, caben<strong>do</strong> a<br />

institutos religiosos femininos e masculinos o papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>sbrava<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s novos campos <strong>de</strong> <strong>presença</strong> eclesial.<br />

Na Maringá <strong>do</strong>s anos 50, a contribuição da <strong>Igreja</strong> Católica apareceu através das irmãs Carmelitas da Carida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Vedruna (1952), no setor da educação, e <strong>do</strong>s irmãos da Misericórdia <strong>de</strong> Maria Auxilia<strong>do</strong>ra (1953), <strong>de</strong>pois<br />

também com as irmãs Missionárias <strong>do</strong> Santo Nome <strong>de</strong> Maria (1956), no campo da saú<strong>de</strong>.<br />

Se a aceitação das freiras professoras recebeu entusiasmo e aprovação unânime por parte das pessoas <strong>do</strong><br />

lugar, o mesmo não se po<strong>de</strong> dizer <strong>do</strong> trabalho inicial <strong>do</strong>s irmãos. Desprovida <strong>de</strong> atendimento médico que,<br />

além <strong>de</strong> precário, era inalcançável ao seu bolso, a população pobre, maioria absoluta <strong>do</strong>s que aqui viviam,<br />

acolheu-os com alegria, sem dúvida; não assim a totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s profissionais da saú<strong>de</strong>. Houve ensaios <strong>de</strong> cerceamento<br />

ao seu trabalho, não sempre motiva<strong>do</strong>s pela <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> melhor para o povo. Justifica-se plenamente<br />

coibir por to<strong>do</strong>s os meios o exercício ilegal da medicina; <strong>do</strong>s médicos se espera que o façam, abrin<strong>do</strong> os olhos<br />

da população e <strong>de</strong>nuncian<strong>do</strong> charlatães às autorida<strong>de</strong>s. Não era, porém, o caso em tela. Os irmãos jamais<br />

preten<strong>de</strong>ram passar por médicos. Apresentavam-se como enfermeiros que a séria formação e prática em hospitais<br />

alemães capacitavam acima <strong>de</strong> quaisquer outros encontráveis nestas paragens. O problema, no fun<strong>do</strong>,<br />

girava em torno <strong>do</strong>s ganhos financeiros a que, por vocação, aqueles <strong>de</strong>dica<strong>do</strong>s religiosos não se prendiam, ao<br />

contrário <strong>de</strong> médicos, evi<strong>de</strong>ntemente não to<strong>do</strong>s, para quem o exercício da medicina fazia-se automaticamente<br />

acompanhar da busca <strong>de</strong> prestígio e riqueza. Alguns ofereceram apoio aos irmãos, prestan<strong>do</strong> atendimento<br />

aos <strong>do</strong>entes no humil<strong>de</strong> ambulatório, além <strong>de</strong> colaborar para a fundação, a 12 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1954, daquela<br />

que viria tornar-se, numa vasta região, a única casa <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> acessível aos pobres. Na falta <strong>de</strong> prédio melhor,<br />

a “santa casa” original <strong>de</strong> Maringá instalou-se num velho salão <strong>de</strong> baile reforma<strong>do</strong>, na mesma Vila Operária<br />

on<strong>de</strong> permanece até hoje.<br />

<strong>Uma</strong> clínica como a Santa Casa, erigida na Operária, foi um avanço <strong>de</strong> Maringá no<br />

trato com a pobreza, e a <strong>Igreja</strong> Católica teve papel vital nessa obra. Os religiosos alemães<br />

funda<strong>do</strong>res da casa viram na vila humil<strong>de</strong> uma fecunda oportunida<strong>de</strong> para exercer<br />

seu ofício na ajuda ao próximo. To<strong>do</strong>s os irmãos tinham formação profissional na área<br />

médica, e às vezes passavam as noites em claro cuidan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s enfermos, seja <strong>do</strong> bairro,<br />

seja <strong>de</strong> outras localida<strong>de</strong>s. A Santa Casa, como é conhecida popularmente, não se restringia<br />

às suas atribuições hospitalares; fornecia alimentação gratuita ao povo carente,<br />

amplian<strong>do</strong> o seu campo assistencial (MARINGÁ, 2002, p. 106-107).<br />

Em maio <strong>de</strong> 1957, <strong>do</strong>is meses <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua posse, <strong>do</strong>m Jaime recebeu uma comissão encabeçada por<br />

médicos da cida<strong>de</strong>, que a ele se dirigiu mostran<strong>do</strong> interesse <strong>de</strong> criar um gran<strong>de</strong> hospital regional. São palavras<br />

suas sobre a intenção que percebeu em alguns profissionais, por <strong>de</strong>trás da proposta apresentada:<br />

A conclusão que tirei: ‘matar’ a Santa Casa, e a construção <strong>de</strong> novo Hospital, com o<br />

Bispo à frente das obras. Depois <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> pronto, far-se-ia uma placa <strong>de</strong> homenagem<br />

aos membros da Comissão, e o Hospital seria entregue à classe médica. É claro que a<br />

minha resposta seria uma negativa; eu lhes propus: se os Srs. quiserem ‘transformar’ a<br />

Santa Casa em um gran<strong>de</strong> Hospital, estou pronto, continuan<strong>do</strong> o mesmo como uma<br />

obra da <strong>Igreja</strong> e sob sua direção. Vamos aguardar os resulta<strong>do</strong>s... (DIOCESE DE MA-<br />

RINGÁ, 1957a, f. 48, grifo <strong>do</strong> autor).<br />

189<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


190<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

Santa Casa <strong>de</strong> Maringá no final <strong>do</strong>s<br />

anos 50. Chega<strong>do</strong>s em setembro 1953,<br />

no início os irmãos atendiam em<br />

instalações precárias.<br />

Mas os problemas não ficaram <strong>de</strong> to<strong>do</strong> sana<strong>do</strong>s nesse encontro. A idéia <strong>do</strong> bispo não parece ter suscita<strong>do</strong><br />

muito interesse na classe médica <strong>de</strong> então. No dia 11 <strong>de</strong> setembro, “<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às críticas e restrições à Santa Casa”,<br />

conforme referiu, <strong>do</strong>m Jaime convocou a Socieda<strong>de</strong> Médica local para uma reunião no Gran<strong>de</strong> Hotel Maringá.<br />

Era o mais nobre palco para solenida<strong>de</strong>s e eventos <strong>de</strong> peso. Na oportunida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixou claro: “as portas da Santa<br />

Casa estão abertas a to<strong>do</strong>s os Srs. Médicos, contanto que saibam respeitar o Código <strong>de</strong> Moral Médica.” Aproveitou<br />

para agra<strong>de</strong>cer “a colaboração efetiva <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s” (DIOCESE DE MARINGÁ, 1957a, f. 63).<br />

Ao longo <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o seu episcopa<strong>do</strong>, continuou manten<strong>do</strong> a postura <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensor da Santa Casa por ver<br />

nela real presta<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> serviço aos <strong>do</strong>entes pobres. Quase nenhum hospital da época atendia pessoas incapazes<br />

<strong>de</strong> pagar pelo tratamento. Não poucas vezes, por rádio ou jornal, o bispo sustentou acalora<strong>do</strong> <strong>de</strong>bate com<br />

figuras “importantes” no esforço <strong>de</strong> garantir à <strong>Igreja</strong>, através da Santa Casa, o elementar direito <strong>de</strong> prestar<br />

socorro médico a pessoas necessitadas.<br />

Devi<strong>do</strong> à atuação não só competente, mas carinhosa das irmãs, nos primeiros tempos a Santa Casa por<br />

pouco não monopolizou por inteiro o atendimento a parturientes da cida<strong>de</strong> e da região. A excelente qualida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>s serviços ofereci<strong>do</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios levou à conquista <strong>de</strong> um feito extraordinário: em 2003, quan<strong>do</strong> foi<br />

celebra<strong>do</strong> o cinqüentenário da chegada <strong>do</strong>s irmãos a Maringá, nada menos <strong>do</strong> que <strong>do</strong>is terços das crianças aqui<br />

nascidas tinham vin<strong>do</strong> ao mun<strong>do</strong> na maternida<strong>de</strong> da Santa Casa. Pelo espaço <strong>de</strong> quase 50 anos, até em horas<br />

perdidas da noite, inclusive <strong>de</strong> <strong>do</strong>mingos, irmã Maria Callista, enquanto teve forças, pô<strong>de</strong> ser vista ocupada na<br />

maternida<strong>de</strong> ou no berçário. Em suas experientes mãos nasceram mais <strong>de</strong> 25.000 crianças. Mais <strong>de</strong> 300 municípios<br />

paranaenses têm população inferior a essa cifra. 8 À razão <strong>de</strong> 1,36 parto por dia, não é impossível que irmã<br />

Callista tenha supera<strong>do</strong> as marcas mais expressivas <strong>de</strong> conceitua<strong>do</strong>s obstetras <strong>de</strong>ste imenso país.<br />

Depois <strong>de</strong> 17 anos <strong>de</strong> atendimento, em especial à população menos aquinhoada <strong>de</strong> posses, a diocese<br />

viu-se impossibilitada <strong>de</strong> prosseguir na função <strong>de</strong> mantene<strong>do</strong>ra da Santa Casa <strong>de</strong> Misericórdia. Impunham-se<br />

mudanças no prédio <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, que clamava por reformas inadiáveis, além <strong>do</strong> alcance financeiro da Mitra Diocesana.<br />

O bispo <strong>de</strong>cidiu abdicar, em favor da Congregação <strong>do</strong>s Irmãos da Misericórdia <strong>de</strong> Maria Auxilia<strong>do</strong>ra,<br />

da posse da área <strong>de</strong> terras e das instalações existentes <strong>do</strong> hospital e <strong>do</strong> novicia<strong>do</strong> <strong>do</strong>s religiosos. A transferência<br />

<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, por <strong>do</strong>ação sem ônus, foi celebrada no dia 24 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1971, e a congregação <strong>do</strong>s irmãos<br />

<strong>de</strong>u à casa <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> o novo nome <strong>de</strong> Hospital e Maternida<strong>de</strong> Maria Auxilia<strong>do</strong>ra – Santa Casa <strong>de</strong> Maringá.<br />

Des<strong>de</strong> o final <strong>do</strong>s anos 40, praticamente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu nascimento, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maringá acostumou-se com<br />

o espetáculo <strong>de</strong> gente in<strong>do</strong> e vin<strong>do</strong> em busca <strong>de</strong> emprego. No início, eram trabalha<strong>do</strong>res rurais, sem outra<br />

qualificação além <strong>do</strong>s próprios braços, atrás <strong>de</strong> alguma colocação nas muitas proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> café que se<br />

abriam com a <strong>de</strong>rrubada <strong>do</strong> mato. Perambulavam pela cida<strong>de</strong> e, como não dispunham <strong>de</strong> dinheiro, também<br />

8 O número representa 75,19% <strong>do</strong> total <strong>de</strong> 399 municípios <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Entre os nasci<strong>do</strong>s na maternida<strong>de</strong> da Santa Casa <strong>de</strong> Maringá<br />

figura o ex-prefeito e <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> fe<strong>de</strong>ral Ricar<strong>do</strong> Barros.


não conseguiam hospedagem nos poucos hotéis existentes. Ao chegar, <strong>do</strong>m Jaime encontrou funcionan<strong>do</strong> na<br />

cida<strong>de</strong> um “albergue”; na verda<strong>de</strong>, mo<strong>de</strong>sta hospedaria <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira sem conforto, mantida pelo po<strong>de</strong>r público<br />

estadual, on<strong>de</strong> os necessita<strong>do</strong>s recebiam atendimento sofrível. Con<strong>do</strong>í<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa parte infeliz <strong>do</strong> seu rebanho,<br />

em 1958 iniciou entendimentos com os responsáveis <strong>do</strong> FATR – Fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> Assistência ao Trabalha<strong>do</strong>r Rural,<br />

precursor <strong>do</strong> FUNRURAL, sobre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transferir para a <strong>Igreja</strong> Católica o cuida<strong>do</strong> da instituição.<br />

Em 27 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1959, as Filhas da Carida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Vicente <strong>de</strong> Paulo vieram dirigir a obra que, por causa<br />

da co-funda<strong>do</strong>ra da congregação (junto com São Vicente <strong>de</strong> Paulo), recebeu o nome <strong>de</strong> Albergue Santa Luiza<br />

<strong>de</strong> Marillac. O primeiro grupo era forma<strong>do</strong> por irmãs Sebastiana Domingues, Ivone Nazari e Delfina Gretter.<br />

Ao longo <strong>de</strong> seus quase 50 anos nas mãos da <strong>Igreja</strong>, foi receben<strong>do</strong> reformas e melhoramentos, amplian<strong>do</strong>-se<br />

sempre mais, a ponto <strong>de</strong> hoje oferecer instalações e atendimento dificilmente iguala<strong>do</strong>s por instituição oficial<br />

<strong>de</strong>stinada à mesma clientela. O albergue conta, é verda<strong>de</strong>, com apoio <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r público, em nível, contu<strong>do</strong>,<br />

muito inferior às necessida<strong>de</strong>s. Além <strong>do</strong> atendimento durante as 24 horas <strong>do</strong> dia, presta<strong>do</strong> pelas irmãs resi<strong>de</strong>ntes<br />

na casa, existe uma diretoria e um prestimoso grupo <strong>de</strong> voluntários, em número superior a uma centena,<br />

que trabalham movi<strong>do</strong>s unicamente por amor cristão. Funcionários remunera<strong>do</strong>s, alguns pela Prefeitura Municipal,<br />

outros pelo próprio albergue, colaboram no atendimento aos pobres, oferecen<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> higiene,<br />

alimentação, pernoite, roupas, calça<strong>do</strong>s, medicamentos, além <strong>de</strong> assistência social para encaminhamento na<br />

solução <strong>de</strong> problemas individuais como saú<strong>de</strong> mental, internamento hospitalar, procura <strong>de</strong> familiares, retorno<br />

à região <strong>de</strong> origem etc. São ainda proporciona<strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> aconselhamento em situações difíceis e <strong>de</strong> orientação<br />

espiritual. Com uma clientela diária giran<strong>do</strong> por volta <strong>de</strong> 100 pessoas, ou mais <strong>de</strong> 2500 pobres acolhi<strong>do</strong>s<br />

por mês, o albergue vem ultimamente assistin<strong>do</strong> uma média superior a 30.000 clientes/ano. 9<br />

Ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Jaime, a antiga diretora <strong>do</strong> albergue, irmã Salomé Dets, fiel discípula <strong>de</strong> São Vicente<br />

<strong>de</strong> Paulo cujo amor aos pobres imitou com perfeição, é reconhecida como responsável pela mais importante<br />

obra <strong>de</strong> promoção humana da <strong>Igreja</strong> maringaense. Nos anos 60, distribuin<strong>do</strong> comida e carinho a pessoas<br />

carentes da Vila Var<strong>de</strong>lina, a incansável religiosa <strong>de</strong>cidiu empreen<strong>de</strong>r ação concreta para, se não resolver, ao<br />

menos minorar o sofrimento <strong>de</strong> famílias que se amontoavam em barracos nos terrenos baldios daquele pedaço<br />

esqueci<strong>do</strong> da cida<strong>de</strong>. Passou a contatar pessoas <strong>de</strong> formação cristã, dispostas a empreen<strong>de</strong>r esforços para<br />

viabilizar a nobre iniciativa. Após estu<strong>do</strong> da situação e análise <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s, em 1970, <strong>do</strong>m Jaime tratou<br />

<strong>de</strong> obter apoio junto <strong>do</strong> “Segretariato Centrale Opere di Papa Giovanni”, entida<strong>de</strong> <strong>de</strong> católicos italianos seus<br />

amigos, criada para prestar ajuda a obras sociais da <strong>Igreja</strong> em Maringá. Na gestão <strong>do</strong> prefeito Adriano Valente,<br />

a municipalida<strong>de</strong> ce<strong>de</strong>u o terreno. Para substituir os barracos foi organiza<strong>do</strong> um mutirão <strong>de</strong> construção das<br />

casas, aproveitan<strong>do</strong> a ma<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> <strong>de</strong>smanche da antiga catedral, <strong>de</strong> escolas estaduais e municipais, e <strong>de</strong> casas<br />

da zona rural esvaziadas pela nova fase agrícola da região, <strong>do</strong>adas pelos proprietários.<br />

Em reunião promovida por <strong>do</strong>m Jaime e irmã Salomé com um grupo <strong>de</strong> pessoas convidadas, no dia 30<br />

<strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1972, ficou <strong>de</strong>cidida a criação <strong>de</strong> uma entida<strong>de</strong> para promoção humana e reintegração social<br />

das famílias mora<strong>do</strong>ras da Vila Var<strong>de</strong>lina, selecionadas pelos critérios <strong>de</strong> baixo po<strong>de</strong>r aquisitivo, carência <strong>de</strong><br />

casa própria e eleva<strong>do</strong> número <strong>de</strong> filhos, às quais se pretendia oferecer inclusão social e possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aquisição<br />

da casa própria. No dia 9 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1972, com o lema “Promoção humana com fraternida<strong>de</strong> em<br />

busca da cidadania” surgiu o Núcleo Social Papa João XXIII, volta<strong>do</strong> à restauração <strong>do</strong> vínculo familiar, com<br />

cursos <strong>de</strong> formação em vista <strong>de</strong> trabalho qualifica<strong>do</strong>, aumento <strong>de</strong> renda e moradia digna.<br />

Pela lei ordinária municipal nº 2555/89, sancionada pelo prefeito Ricar<strong>do</strong> Barros em 6 <strong>de</strong> julho <strong>do</strong><br />

mesmo ano, foi feita <strong>do</strong>ação à Mitra Diocesana <strong>de</strong> Maringá <strong>do</strong>s lotes <strong>de</strong> terras nº 31 e 32 da Gleba Patrimônio<br />

Maringá, com área medin<strong>do</strong> 27.420m², “<strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s exclusivamente a receber edificações <strong>de</strong> casas<br />

populares para abrigo <strong>de</strong> pessoas carentes, escolas e creches <strong>do</strong> Núcleo Social Papa João XXIII”. No dia 10<br />

<strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1989 a Prefeitura Municipal outorgou à Mitra Diocesana <strong>de</strong> Maringá a escritura da área<br />

<strong>do</strong>ada. Foi o reconhecimento público da <strong>de</strong>cisiva participação da diocese <strong>de</strong> Maringá num <strong>do</strong>s programas<br />

9 Da<strong>do</strong>s recentes: ano <strong>de</strong> 2003 = 38.200 pessoas atendidas; em 2004 = 30.270; ano <strong>de</strong> 2005 = 36.374. No 1º semestre <strong>de</strong> 2006 passaram<br />

pelo albergue 16.697 pessoas (14.822 homens, 1.028 mulheres, 803 i<strong>do</strong>sos e 44 crianças).<br />

191<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


192<br />

Núcleo Social<br />

Papa João XXIII<br />

Marcenaria<br />

Ateliê <strong>de</strong> costura industrial.<br />

Escola <strong>de</strong> cabeleireiro.<br />

Ateliê <strong>de</strong> artesanato.<br />

Entrega <strong>de</strong> nova casa.<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

<strong>de</strong> mais alto significa<strong>do</strong> para a reintegração social <strong>de</strong> pessoas antes<br />

submetidas a condições indignas <strong>de</strong> moradia e sustento.<br />

Não se passou meio ano <strong>do</strong> recebimento da escritura <strong>do</strong> terreno<br />

e, já no dia 6 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1990, o Núcleo pô<strong>de</strong> inaugurar a escola<br />

profissionalizante montada com recursos provin<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s católicos<br />

italianos. Embora tenha, em anos anteriores, trabalha<strong>do</strong> com um<br />

número maior <strong>de</strong> cursos, hoje o Núcleo mantém cinco, to<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

nível profissional e boa aceitação no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho: marcenaria,<br />

corte e costura, costura industrial, manicure e cabeleireiro, além<br />

<strong>de</strong> trabalhos artesanais como borda<strong>do</strong>, pintura, tecelagem etc.<br />

No dia 5 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2003 os irmãos Maristas das Escolas,<br />

através da Obra Social Marista, assumiram a educação <strong>de</strong> crianças e<br />

a<strong>do</strong>lescentes, em sistema <strong>de</strong> comodato por um espaço <strong>de</strong> 20 anos.<br />

Assim, o Núcleo abriga atualmente o Centro Social Marista Irmão<br />

Beno Tomasoni para apoio sócio-educativo em meio aberto a crianças<br />

e a<strong>do</strong>lescentes <strong>de</strong> 7 a 17 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

Em 2006 o conjunto <strong>de</strong> residências oferecidas pelo Núcleo alcançava<br />

um total <strong>de</strong> 70, meta<strong>de</strong> das quais em alvenaria, caminhan<strong>do</strong><br />

para a substituição total das construções <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira remanescentes.<br />

Com a participação <strong>de</strong> benfeitores locais, <strong>de</strong> paróquias da arquidiocese<br />

e com recursos provenientes <strong>de</strong> parcerias, as casas antigas vão<br />

ce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> espaço a construções novas mais sólidas, mais higiênicas<br />

e <strong>de</strong> melhor aparência. As famílias recebem acompanhamento das<br />

irmãs Filhas da Carida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Vicente <strong>de</strong> Paulo por um prazo<br />

<strong>de</strong> cinco anos, tempo em que <strong>de</strong>verão vencer as etapas para sua<br />

ressocialização, transferin<strong>do</strong>-se, ao fim, para sua casa própria cujo<br />

terreno e material <strong>de</strong>verão ter custea<strong>do</strong> pela poupança que, <strong>de</strong> forma<br />

criativa, a família é orientada a acumular nesse perío<strong>do</strong>. Segun<strong>do</strong><br />

a coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra, irmã Adiles Maria Guardalben, menos <strong>de</strong> 10%<br />

das famílias mostram-se incapazes <strong>de</strong> cumprir a meta proposta. Até<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 o Núcleo Social Papa João XXIII tinha contabiliza<strong>do</strong><br />

mais <strong>de</strong> 550 (quinhentas e cinqüenta) famílias reintegradas à<br />

vida social, com trabalho, renda e casa própria. Apesar <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>stos,<br />

no universo <strong>do</strong>s mais <strong>de</strong> 300.000 habitantes da cida<strong>de</strong>, não <strong>de</strong>ixam<br />

<strong>de</strong> ser números significativos, que por si mesmos falam <strong>do</strong> alcance<br />

social e humano <strong>de</strong> uma obra <strong>de</strong> 34 anos incompletos.<br />

Além <strong>do</strong>s funda<strong>do</strong>res e das irmãs, responsáveis, 24 horas por<br />

dia, pelo funcionamento, o Núcleo é obra <strong>do</strong> amor também <strong>de</strong><br />

uma legião <strong>de</strong> beneméritos voluntários como Hugo e Loretti Hoffmann,<br />

Osval<strong>do</strong> Pereira Alves, Antonio Frigo, Eduar<strong>do</strong> José da<br />

Costa Carvalho, Plínio Mocchi, Mauri <strong>de</strong> Oliveira Brito e uma série<br />

interminável <strong>de</strong> outros. Os amigos e benfeitores to<strong>do</strong>s, na verda<strong>de</strong>,<br />

só Deus os po<strong>de</strong> contar. 10<br />

10 Em 8 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2006, o casal Loretti-Hugo Hoffmann, com mais <strong>de</strong> 20 anos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>dicação ao Núcleo, foi agracia<strong>do</strong> com a comenda Pro Ecclesia et Pontifice, concedida<br />

pelo papa Bento XVI a pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Jaime, que quis assim homenagear<br />

to<strong>do</strong>s os voluntários, parceiros e amigos da entida<strong>de</strong>, sem os quais <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> que<br />

foi feito nada teria si<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong>.


Ainda que não traga solução <strong>de</strong>finitiva às mazelas da comunida<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong>, em conseqüência, acusada <strong>de</strong><br />

assistencialismo, não há como <strong>de</strong>sconhecer o profun<strong>do</strong> significa<strong>do</strong> da assistência prestada pela <strong>Igreja</strong> Católica<br />

através <strong>de</strong> fiéis movi<strong>do</strong>s, acima da mera solidarieda<strong>de</strong> humana, pelo amor <strong>de</strong> Jesus Cristo. Des<strong>de</strong> o início da<br />

diocese <strong>de</strong> Maringá, cristãos sensíveis ao i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> Antonio Fre<strong>de</strong>rico Ozanam (1813-1853) fundaram em<br />

várias paróquias a Socieda<strong>de</strong> São Vicente <strong>de</strong> Paulo, multiplican<strong>do</strong> conferências vicentinas <strong>de</strong> adultos e jovens,<br />

que prestam a famílias carentes benefícios <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m espiritual, psicológica e material. Em todas as comunida<strong>de</strong>s<br />

on<strong>de</strong> atuam, a palavra “vicentino” é sinônimo <strong>de</strong> alguém preocupa<strong>do</strong> com o irmão carente. O trabalho<br />

mais sério <strong>do</strong>s confra<strong>de</strong>s vicentinos consiste não na <strong>do</strong>ação <strong>de</strong> coisas materiais, mas na visita <strong>do</strong>miciliar que<br />

tem por objetivo conhecer “in loco” a família assistida. Há também os asilos confia<strong>do</strong>s ao seu zelo, que não<br />

se convertem em “<strong>de</strong>pósitos” <strong>de</strong> velhos: aproximam-se <strong>de</strong> lares on<strong>de</strong> os internos recebem respeito e carinho.<br />

Asilos cuida<strong>do</strong>s por vicentinos encontram-se em Maringá, em Jandaia <strong>do</strong> Sul, Mandaguari, Marialva, Mandaguaçu,<br />

Nova Esperança, Cruzeiro <strong>do</strong> Sul, Paranacity, Ourizona e São Jorge <strong>do</strong> Ivaí.<br />

O 5º Encontro <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>ntes da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Vicente <strong>de</strong> Paulo, em Mandaguari, no dia 27 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1975.<br />

Em Maringá funciona também o Lar <strong>do</strong>s Velhinhos, funda<strong>do</strong> pelo Rotary Club e entregue à Congregação<br />

das Irmãzinhas da Imaculada Conceição que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1966, conta com o amoroso trabalho<br />

<strong>de</strong>ssas religiosas. Com muito trabalho elas o ampliaram até alcançar as atuais condições <strong>de</strong> atendimento aos<br />

“vovôs” e às “vovós”, como carinhosamente os chama irmã Firmina Maria, diretora há mais <strong>de</strong> quatro décadas.<br />

Des<strong>de</strong> 1968 as irmãs recebem o reforço <strong>de</strong> voluntários <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> Grupo <strong>de</strong> Serviço São José.<br />

Muitas obras <strong>de</strong> assistência social e também <strong>de</strong> promoção humana foram ou são <strong>de</strong>senvolvidas por inspiração<br />

da <strong>Igreja</strong> Católica em Maringá e região. Na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacionar <strong>de</strong> forma completa tu<strong>do</strong> o<br />

que se implantou nesses 50 anos, é oportuno citar alguns sinais da ação <strong>de</strong> uma <strong>Igreja</strong> servi<strong>do</strong>ra presente em<br />

nosso meio, como:<br />

• Obra <strong>do</strong> Berço <strong>de</strong> Maringá, <strong>de</strong>stinada ao atendimento <strong>de</strong> gestantes carentes, com orientação para o<br />

parto e preparação <strong>de</strong> enxovais para recém-nasci<strong>do</strong>s. Quan<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua fundação, foi dirigida pelas Missionárias<br />

<strong>de</strong> Jesus Crucifica<strong>do</strong>. Com a saída <strong>de</strong>stas, permaneceu <strong>de</strong>sativada por muitos anos até que,<br />

no dia 13 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1997, foi reassumida pela paróquia Cristo Ressuscita<strong>do</strong>. Na mesma linha e<br />

com o mesmo espírito <strong>de</strong>ve lembrar-se o Roupeiro Santa Rita <strong>de</strong> Cássia.<br />

• Lar Escola da Criança, funda<strong>do</strong> por senhoras pioneiras <strong>do</strong> Clube da Amiza<strong>de</strong>, que abre nova perspectiva<br />

<strong>de</strong> vida humana e cristã a crianças, a<strong>do</strong>lescentes, jovens e a famílias empobrecidas através da<br />

193<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


194<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

educação, <strong>de</strong> cursos profissionalizantes, <strong>de</strong> parcerias com o Ministério Público <strong>do</strong> Trabalho, Procura<strong>do</strong>ria<br />

Regional <strong>do</strong> Trabalho, CESUMAR – Centro Universitário <strong>de</strong> Maringá e 20 empresas<br />

contratantes <strong>de</strong> a<strong>do</strong>lescentes. Des<strong>de</strong> o início, foi entregue aos cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> congregações religiosas<br />

femininas e vem sen<strong>do</strong> exemplarmente geri<strong>do</strong> pelas irmãs Murialdinas <strong>de</strong> São José.<br />

• Cáritas Diocesana, organizada em 1961, ainda quan<strong>do</strong> a preocupação maior da Cáritas era voltada à<br />

distribuição <strong>de</strong> alimentos (1956-63); esteve presente em 9 paróquias da diocese até a década <strong>de</strong> 80.<br />

• Creche Menino Jesus, creche Monsenhor Kimura e obras semelhantes, confiadas a religiosas e também<br />

a voluntários católicos leigos, que vêm prestan<strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> reconhecida excelência.<br />

• Grupo Lebret, funda<strong>do</strong> por irmã Jeanne Gaudin, integrante <strong>do</strong> primeiro grupo das irmãs da Congregação<br />

<strong>de</strong> São Carlos <strong>de</strong> Lyon, vindas em 1966 para assumir a ADAR – Associação Diocesana <strong>de</strong><br />

Assistência Rural. O historia<strong>do</strong>r Reginal<strong>do</strong> Benedito Dias enten<strong>de</strong> que a situação política da época<br />

direcionou, posteriormente, muitos <strong>de</strong> seus membros para as fileiras <strong>do</strong> PCBR. Conforme sua apreciação,<br />

o Grupo Lebret<br />

formou-se entre os estudantes <strong>do</strong> Colégio Gastão Vidigal, um <strong>do</strong>s maiores da cida<strong>de</strong>.<br />

Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> por uma freira, a irmã Jane, esse grupo inspirava-se nas concepções <strong>do</strong><br />

Padre Lebret. Não se tratava <strong>de</strong> uma organização política, mas <strong>de</strong> um trabalho que,<br />

visan<strong>do</strong> à promoção humana, <strong>de</strong>batia a origem das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e da miséria e<br />

temas afins. Trabalho que merece registro foi um levantamento sociológico junto aos<br />

mora<strong>do</strong>res da Vila Mandacaru, uma das mais pobres da cida<strong>de</strong>. Em termos <strong>de</strong> opção<br />

partidária, o PCBR, constituí<strong>do</strong> em Maringá no início <strong>de</strong> 1969, foi o <strong>de</strong>sagua<strong>do</strong>uro<br />

<strong>de</strong>ssa militância estudantil (DIAS, 2001, p. 199).<br />

Irmã Jeanne teve a ventura <strong>de</strong> se reunir a jovens porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> uma generosida<strong>de</strong> raramente encontrável<br />

mesmo em pessoas <strong>de</strong>ssa ida<strong>de</strong>. Transmitin<strong>do</strong>-lhes o entusiasmo <strong>de</strong> uma fé engajada, aju<strong>do</strong>u-os a <strong>de</strong>scobrirem<br />

a dimensão social <strong>do</strong> Evangelho. Seu amor aos pobres não era monta<strong>do</strong> sobre discursos, mas vivi<strong>do</strong> com<br />

as pessoas <strong>de</strong> carne e osso <strong>do</strong> Mandacaru. Entre os muitos que compuseram o Grupo Lebret, recordam-se<br />

nomes como Licínio Lima, irmãos Rosemeire e Walter Coimbra <strong>de</strong> Campos, Nadir <strong>do</strong>s Santos Vaz, Guiomar<br />

Germani, Washington Castilho, Maria <strong>de</strong> Jesus Cano, Renato Rua <strong>de</strong> Almeida, Katsuko Nakano, Basílio<br />

Bacarin, Deise Deffune, José Benedito Pires Trinda<strong>de</strong>, Deise Barros, Elpídio Serra e sua irmã Neusa, Judite<br />

Barbosa, Neusa Casagran<strong>de</strong> e muitos outros. Infelizmente, irmã Jeanne, gravemente enferma, <strong>de</strong>ixou Maringá<br />

no dia 2 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1967, voltan<strong>do</strong> à França para tratamento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, vin<strong>do</strong> a falecer no início <strong>de</strong> 1969.<br />

O Grupo Lebret recebeu, então, no segun<strong>do</strong> semestre <strong>de</strong> 1967, assistência <strong>de</strong> padre Orival<strong>do</strong> Robles, que<br />

lecionava Filosofia no curso clássico <strong>do</strong> Colégio Gastão Vidigal para vários <strong>de</strong> seus integrantes. Chegan<strong>do</strong>,<br />

no início <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1968, padre Antônio <strong>de</strong> Pádua Almeida, a partir <strong>de</strong> março, acompanhou o grupo<br />

pelo espaço <strong>de</strong> aproxima<strong>do</strong>s oito meses. A intervenção policial <strong>do</strong> dia 12 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1968 no congresso<br />

da UNE celebra<strong>do</strong> em Ibiúna (SP) praticamente assinou a sentença <strong>de</strong> morte para aquele punha<strong>do</strong> <strong>de</strong> jovens<br />

i<strong>de</strong>alistas que Maringá produziu. “O fracasso <strong>do</strong> 30º Congresso da UNE foi a gota que faltava para empurrar<br />

os estudantes da clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> para a ilegalida<strong>de</strong>”, opina envia<strong>do</strong> especial da “Folha <strong>de</strong> São Paulo” (SILVA,<br />

1993). Com a entrada em vigor <strong>do</strong> AI-5, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1968, os componentes <strong>do</strong> Grupo Lebret dispersaram-se,<br />

buscan<strong>do</strong> cada qual uma forma <strong>de</strong> participação nos rumos da comunida<strong>de</strong> local ou <strong>do</strong> país. <strong>Uma</strong><br />

parte optou por participação política em agremiações <strong>de</strong> esquerda que surgiram naquele perío<strong>do</strong>, algumas até<br />

radicais e <strong>de</strong> práticas não inteiramente conformes aos princípios <strong>do</strong> Evangelho.<br />

• Obra <strong>de</strong> Assistência Social Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário, chamada, <strong>de</strong> início, Vila Papa João XXIII,<br />

fundada em Floresta por padre Antonio Luigi Martinelli em 1970, com <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong> apoio <strong>de</strong> católicos<br />

<strong>de</strong> Brescia, na Itália, que começou como orfanato. A partir <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1998, já no governo<br />

arquidiocesano <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Murilo, confiada às religiosas <strong>do</strong> Instituto das Apóstolas <strong>do</strong> Sagra<strong>do</strong> Coração<br />

<strong>de</strong> Jesus, direcionou suas ativida<strong>de</strong>s no rumo <strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong> ofícios, <strong>de</strong> reforço escolar, <strong>de</strong> formação<br />

e entretenimento para crianças carentes.


Grupo Lebret, 1967/1968: jovens cristãos com participação sócio-política corajosa num tempo <strong>de</strong> perigo.<br />

• Centro Social Madre Rafaela Ybarra, <strong>de</strong> Marialva, inicia<strong>do</strong> em 1986 pelo corajoso impulso <strong>de</strong> irmã<br />

Rosa Celeste Pare<strong>de</strong> Hamilton, construí<strong>do</strong> com apoio da comunida<strong>de</strong> local e ajuda <strong>do</strong>s organismos<br />

católicos “Misereor” (Alemanha), “Manos Unidas” (Espanha) e “Drei König” (Áustria). Desenvolve<br />

suas ativida<strong>de</strong>s junto <strong>de</strong> pessoas carentes da Vila Brasil, Vila Messias, Vila Antônia e Conjunto<br />

João <strong>de</strong> Barro. Começou como catequese <strong>de</strong> bairro e hoje oferece chance <strong>de</strong> vida melhor a crianças e<br />

a<strong>do</strong>lescentes <strong>de</strong> ambos os sexos através <strong>de</strong> reforço escolar e <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> formação para o trabalho.<br />

• Instituto Promocional Jesus Nazareno, das irmãs da Congregação <strong>de</strong> São João Batista, estabelecidas<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1992, em Mandaguari, na paróquia Bom Pastor, on<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> auxílio no<br />

trabalho paroquial, promovem cursos <strong>de</strong> artes e ofícios, ativida<strong>de</strong>s educativas e socializa<strong>do</strong>ras para<br />

pessoas <strong>de</strong> menor po<strong>de</strong>r aquisitivo.<br />

• PROMEC – Proteção ao Menor Carente <strong>de</strong> Sarandi, fundada em 1989 por irmã Antona Dröge, das<br />

Missionárias <strong>do</strong> Santo Nome <strong>de</strong> Maria. Com ajuda <strong>de</strong> católicos alemães <strong>do</strong> “Adveniat” foi construí<strong>do</strong><br />

o prédio situa<strong>do</strong> na Avenida Jaçanã, 941 on<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 100 crianças da 1ª à 5ª série <strong>do</strong> ensino<br />

fundamental recebem reforço escolar no contra-turno <strong>de</strong> aulas, além <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> informática, artesanato,<br />

<strong>de</strong> recreação etc. De início, funcionaram cursos <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>, serralheria, panificação etc.<br />

que, por força <strong>do</strong> Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente, foi preciso <strong>de</strong>sativar. A obra é dirigida pelas<br />

religiosas da mesma congregação da falecida irmã Antona.<br />

como o fermento nA mAssA<br />

Foram incontáveis, no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>sses 50 anos, em todas as comunida<strong>de</strong>s da diocese, as ações caritativas<br />

ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira promoção humana e cidadania, quer iniciadas por li<strong>de</strong>ranças católicas, quer<br />

exercidas em parceria com o po<strong>de</strong>r público, com entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe ou com grupos voluntários da socieda<strong>de</strong>.<br />

Essa marca <strong>de</strong> <strong>Igreja</strong> encarnada no concreto da vida – em vez <strong>de</strong> alienada em falsa platitu<strong>de</strong> isenta <strong>de</strong> problemas<br />

– Maringá recebeu daquele que a plasmou a partir <strong>de</strong> 1957. Por seu exemplo e palavra os fiéis cristãos<br />

foram orienta<strong>do</strong>s no rumo <strong>de</strong> um cristianismo <strong>de</strong> mão na massa, chama<strong>do</strong> a atuar num mun<strong>do</strong> que é preciso<br />

transformar segun<strong>do</strong> os critérios <strong>do</strong> Evangelho. Muita gente, quem sabe ansiosa <strong>de</strong> uma <strong>Igreja</strong> alheia às refregas<br />

da vida, vez por outra estranhou posições tomadas pelo bispo que jamais recuou diante <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios.<br />

No mês <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1957, menos <strong>de</strong> sete meses <strong>de</strong>pois da posse, ele acusava a inquietu<strong>de</strong> que lhe<br />

causavam jovens e professores sem vínculo maior com a <strong>Igreja</strong>. Nos dias 10 e 15 <strong>de</strong>sse mês, anotou <strong>de</strong> próprio<br />

punho:<br />

195<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


196<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

Tivemos, em casa, uma reunião com alguns moços não pertencentes a Associações Religiosas.<br />

O nosso intuito é dar-lhes um amparo, especialmente àquêles que vivem longe<br />

<strong>de</strong> suas famílias. Preten<strong>de</strong>mos fundar uma associação com o nome: Centro Cultural da<br />

Juventu<strong>de</strong> Maringaense. Vamos fazer o estatuto e procurar realizar o programa traça<strong>do</strong><br />

[...] Dia <strong>do</strong> Professor: Na Santa Missa falei sôbre o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> fundar o Centro <strong>do</strong> Professora<strong>do</strong><br />

Católico (DIOCESE DE MARINGÁ, 1957, f. 67-68).<br />

Sem condição <strong>de</strong> seguir adiante, o Centro Cultural da Juventu<strong>de</strong>, ficou apenas no <strong>de</strong>sejo <strong>do</strong> bispo que,<br />

em compensação, teve seu nome liga<strong>do</strong> ao nascimento da UMES – União Maringaense <strong>do</strong>s Estudantes Secundários.<br />

Não existin<strong>do</strong> curso superior na cida<strong>de</strong>, Carlos Alberto Borges, presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> grêmio estudantil da escola<br />

técnica <strong>de</strong> comércio (que pertencia à diocese e funcionava no prédio <strong>do</strong> Colégio Marista), representava os<br />

estudantes <strong>do</strong> nível mais “adianta<strong>do</strong>” <strong>de</strong> Maringá. Decidi<strong>do</strong> a dar à população estudantil maior consciência <strong>de</strong><br />

classe e po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> representação, convocou to<strong>do</strong>s os colégios para a assembléia <strong>de</strong> fundação da UMES. Apesar<br />

da euforia pelo primeiro título <strong>de</strong> campeão mundial <strong>de</strong> futebol, conquista<strong>do</strong> pelo Brasil ao meio-dia, 11 o antigo<br />

Cine Maringá, na avenida Getúlio Vargas, recebeu, na tar<strong>de</strong> daquele 29 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1958, uma multidão <strong>de</strong><br />

estudantes. A ata <strong>de</strong> fundação da entida<strong>de</strong> estudantil <strong>de</strong> Maringá conserva, entre outras, a assinatura <strong>de</strong> <strong>do</strong>m<br />

Jaime Luiz Coelho, bispo diocesano, que também apoiou o anseio <strong>de</strong> uma se<strong>de</strong> para a nova entida<strong>de</strong>. Borges<br />

tinha em mente uma UMES <strong>de</strong> forte <strong>presença</strong> na área cultural, social, esportiva e <strong>de</strong> lazer para os estudantes<br />

da cida<strong>de</strong>. Mas a construção da se<strong>de</strong> representou verda<strong>de</strong>ira aventura, bem mais difícil <strong>do</strong> que previra. Doutor<br />

Hermann Moraes Barros, diretor-gerente da CMNP, morava em São Paulo e vinha, em avião particular, quase<br />

toda semana, inspecionar obras <strong>de</strong> Londrina, Maringá e Cianorte. Da parte da CMNP havia interesse <strong>de</strong><br />

ven<strong>de</strong>r toda a área loteada. Era importante, por isso, que os proprietários não retardassem o levantamento <strong>de</strong><br />

construções nos lotes adquiri<strong>do</strong>s. Contu<strong>do</strong>, associações profissionais <strong>de</strong> Maringá beneficiadas com <strong>do</strong>ação <strong>de</strong><br />

áreas para suas se<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>moravam a construir, causan<strong>do</strong> <strong>de</strong>sagra<strong>do</strong> à direção da Companhia. Saben<strong>do</strong> que os<br />

estudantes também queriam pedir um terreno, Barros não se <strong>de</strong>ixava encontrar com facilida<strong>de</strong>. Acompanha<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> uns cinqüenta colegas, Borges postou-se então no escritório da CMNP, à espera <strong>do</strong> diretor-gerente. Não<br />

houve como <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> receber a <strong>de</strong>legação. O presi<strong>de</strong>nte da UMES propôs: “Doutor Hermann, o senhor não<br />

precisa fazer a <strong>do</strong>ação agora. Só escriture o terreno para a UMES quan<strong>do</strong> tivermos a se<strong>de</strong> pronta”. 12 Venceu.<br />

A Companhia ce<strong>de</strong>u o terreno da Avenida Cerro Azul, em frente à Câmara Municipal <strong>de</strong> Maringá, escolhi<strong>do</strong><br />

pelos estudantes entre outros <strong>do</strong>is propostos, por causa da proximida<strong>de</strong>, na época, com o Colégio Gastão<br />

Vidigal. O prédio, terceiro no la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> da avenida, no aban<strong>do</strong>no a que foi relega<strong>do</strong>, nem vagamente<br />

lembra as memoráveis discussões cívicas <strong>do</strong>s anos 60, quan<strong>do</strong> ali funcionou o único restaurante acessível aos<br />

bolsos estudantis. Campanhas, rifas, bailes, promoções <strong>de</strong> to<strong>do</strong> tipo foram empreendi<strong>do</strong>s para levantá-lo e,<br />

<strong>de</strong>ssa forma, assegurar a posse <strong>do</strong> terreno. A construção, mo<strong>de</strong>rna para a época, foi erguida a partir <strong>de</strong> planta<br />

<strong>do</strong>ada pelo engenheiro Luty Vicente Kasprowicz, e sólida bastante para resistir às intempéries e ao <strong>de</strong>scaso das<br />

décadas seguintes. Inaugurada em 1960, com a <strong>presença</strong> <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r eleito Ney Braga e <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Jaime, até<br />

hoje não conseguiu a escritura <strong>de</strong> <strong>do</strong>ação da CMNP que, no entanto, continua asseguran<strong>do</strong> à UMES sua posse<br />

e uso, sem jamais ter <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> <strong>de</strong> respeitar a palavra empenhada pelo diretor-gerente daquela época.<br />

O Centro <strong>do</strong> Professora<strong>do</strong> Católico sucumbiu <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> pouca duração; os professores interessa<strong>do</strong>s em<br />

vínculo associativo preferiram fortalecer a própria entida<strong>de</strong> classista, a APP – Associação <strong>do</strong>s Professores <strong>do</strong><br />

Paraná, criada na capital, em 26 <strong>de</strong> abril 1947, que ainda ensaiava os primeiros passos no Norte <strong>do</strong> Paraná.<br />

Ao conseguir a <strong>do</strong>ação, na saída <strong>de</strong> Maringá em direção a Paranavaí, <strong>de</strong> cinco alqueires paulistas para a<br />

construção <strong>do</strong> seminário diocesano, o bispo não abriu mão da antiga área <strong>de</strong> um alqueire, mais precisamente<br />

<strong>de</strong> 23.747,00m², ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> cemitério municipal, previamente reserva<strong>do</strong> pela empresa coloniza<strong>do</strong>ra para essa<br />

11 Sem televisão, as partidas eram acompanhadas pelo rádio, na voz <strong>de</strong> locutores famosos como Pedro Luís, Edson Leite e outros. Por<br />

causa <strong>do</strong> fuso horário, a final entre Brasil e Suécia começou às 11h <strong>do</strong> Rio, hora oficial <strong>do</strong> Brasil, à época.<br />

12 Depoimento oral ao autor <strong>de</strong>stas notas, em Maringá, no dia 13 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006.


finalida<strong>de</strong>. Dela obteve a autorização <strong>de</strong> dar novo <strong>de</strong>stino à área, redirecionan<strong>do</strong>-o para instalação <strong>do</strong> chama<strong>do</strong><br />

Clube da Juventu<strong>de</strong> com o qual pretendia beneficiar famílias <strong>de</strong> posses mo<strong>de</strong>stas, incapazes <strong>de</strong> se associarem<br />

aos outros clubes em formação na época. Não lhe parecia justo que numa cida<strong>de</strong> carente <strong>de</strong> diversão,<br />

como era então Maringá, só gente abastada pu<strong>de</strong>sse dar aos filhos um ambiente saudável <strong>de</strong> lazer. Devi<strong>do</strong>,<br />

no entanto, ao perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> incertezas que o país viria a atravessar pouco <strong>de</strong>pois, soma<strong>do</strong> à crise inflacionária<br />

que se seguiu, a agremiação gozou <strong>de</strong> vida efêmera. Suas instalações mo<strong>de</strong>stas, sem uso por longo perío<strong>do</strong>,<br />

foram cedidas para emprego nas ativida<strong>de</strong>s diocesanas <strong>do</strong> Cursilho <strong>de</strong> Cristanda<strong>de</strong>, <strong>do</strong> Movimento Jovem e<br />

<strong>do</strong> Movimento Familiar Cristão, receben<strong>do</strong>, no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1975 a 2000, intensa utilização. Com o passar<br />

<strong>do</strong> tempo e o irrefreável crescimento urbano, ao final <strong>do</strong> governo <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Jaime, o terreno indiviso passou a<br />

interromper a Rua Estácio <strong>de</strong> Sá, obstruin<strong>do</strong> seu avanço para o la<strong>do</strong> sul da cida<strong>de</strong>. O po<strong>de</strong>r público municipal<br />

expressou <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> que a arquidiocese franqueasse o prolongamento da rua, solucionan<strong>do</strong> o incômo<strong>do</strong><br />

impasse. Na gestão <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Murilo foram inicia<strong>do</strong>s entendimentos com a CMNP para invalidar a cláusula<br />

<strong>de</strong> reversão que onerava a escritura original <strong>de</strong> <strong>do</strong>ação. Só em 2001 foi alcança<strong>do</strong> o objetivo, mediante <strong>de</strong>volução<br />

à Companhia <strong>de</strong> 7214,10m² exigi<strong>do</strong>s pelos seus diretores. A arquidiocese <strong>de</strong> Maringá ce<strong>de</strong>u ainda à<br />

Prefeitura <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> Maringá, em troca da quitação <strong>de</strong> impostos municipais e outros encargos, uma<br />

área <strong>de</strong> 2877,22m² <strong>de</strong>stinada a obras <strong>de</strong> arruamento no local para <strong>de</strong>safogo da rua estrangulada. Posteriormente,<br />

no governo <strong>do</strong> terceiro arcebispo, <strong>do</strong>m João Braz <strong>de</strong> Aviz, em 24 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2003, após licitação<br />

para conseguir o maior valor possível, foi <strong>de</strong>smembrada para venda à Itaocara Construções Civis Ltda. área<br />

correspon<strong>de</strong>nte a 3237,48m², permanecen<strong>do</strong> ainda a Mitra <strong>de</strong> Maringá legítima proprietária <strong>do</strong>s remanescentes<br />

10.428,20m².<br />

Des<strong>de</strong> seu primeiro dia em Maringá, o bispo vin<strong>do</strong> <strong>de</strong> Ribeirão Preto assumiu como sua esta terra,<br />

fazen<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>la <strong>de</strong>fensor até com empenho maior <strong>do</strong> que outros aqui chega<strong>do</strong>s bem antes em busca <strong>de</strong> investimento<br />

seguro e construção <strong>de</strong> vida nova. Um <strong>do</strong>s dissabores iniciais foi sua percepção <strong>de</strong> que o Norte<br />

<strong>do</strong> Paraná quase nada significava para os <strong>do</strong>nos <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r que geriam, lá na capital, os <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> um Esta<strong>do</strong><br />

cujas fronteiras, na prática, não iam além <strong>do</strong>s Campos Gerais. Doía-lhe ver o <strong>de</strong>scaso oficial para com tu<strong>do</strong><br />

que acontecia acima <strong>do</strong>s primeiros contrafortes da Serra <strong>do</strong> Ca<strong>de</strong>a<strong>do</strong>. Proce<strong>de</strong>nte da terra paulista, on<strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>senvolvimento harmonicamente distribuí<strong>do</strong> esten<strong>de</strong>ra a to<strong>do</strong>s os recantos a <strong>presença</strong> <strong>do</strong> governo, o fogoso<br />

bispo começou a acalentar com simpatia o sonho, por muitos também nutri<strong>do</strong>, <strong>de</strong> uma nova Unida<strong>de</strong> da<br />

Fe<strong>de</strong>ração a ser criada, o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paranapanema, com capital em Londrina. Não sentiu constrangimento<br />

<strong>de</strong> advogar a causa, absurda para muita gente; não para ele a quem um bom projeto dava ânimo para lutar<br />

até sozinho. Não imaginava que a idéia <strong>de</strong>spertasse intervenção <strong>do</strong> velho mestre, <strong>do</strong>m Manuel, arcebispo <strong>de</strong><br />

Curitiba, para quem se foram queixar autorida<strong>de</strong>s curitibanas, a começar pelo governa<strong>do</strong>r Moysés Lupion.<br />

Num sorriso que comprova mais respeito que arrependimento, <strong>do</strong>m Jaime admite: “Dom Manuel me <strong>de</strong>u<br />

um ‘pito’ e man<strong>do</strong>u não falar mais sobre o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paranapanema”.<br />

No dia 18 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1958 tomou parte ativa na chamada “Marcha da Produção”, colocan<strong>do</strong>-se ao<br />

la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cafeicultores, que exigiam <strong>do</strong> Governo Fe<strong>de</strong>ral melhores preços para sua produção e mais assistência<br />

à lavoura cafeeira. Aborreci<strong>do</strong>s pelo <strong>de</strong>sprezo com que se sentiam trata<strong>do</strong>s, em poucos dias, milhares <strong>de</strong><br />

homens <strong>do</strong> campo se juntaram e <strong>de</strong>cidiram levar suas reivindicações diretamente ao presi<strong>de</strong>nte da República.<br />

Formou-se uma caravana integrada por centenas <strong>de</strong> veículos prepara<strong>do</strong>s para sair <strong>de</strong> Maringá naquele memorável<br />

18 <strong>de</strong> outubro.<br />

Chegava ao clímax uma crise que se <strong>de</strong>senrolava havia tempo. No começo <strong>do</strong> mês, o arcebispo <strong>de</strong><br />

Curitiba fora informa<strong>do</strong> da inquietu<strong>de</strong> que geravam na capital notícias chegadas <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Esperava-se<br />

<strong>de</strong>le que refreasse o ímpeto, acima <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s, <strong>do</strong> bispo <strong>de</strong> Maringá. No dia 10 <strong>de</strong> outubro, anotan<strong>do</strong><br />

a mão “Confi<strong>de</strong>ncial”, no alto à direita, <strong>do</strong>m Manuel escreveu a <strong>do</strong>m Jaime revelan<strong>do</strong> suas preocupações<br />

(Carta 11).<br />

197<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


198<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

Carta 11 - Dom Manuel escreve a <strong>do</strong>m Jaime sobre a Marcha da Produção (D´ELBOUX, 1958, 1 f.).<br />

Não eram <strong>de</strong>stituídas <strong>de</strong> fundamento as previsões <strong>do</strong> comandante da 5ª Região Militar. Além <strong>do</strong> arce-<br />

bispo, outras instâncias <strong>de</strong>vem ter si<strong>do</strong> mobilizadas. Atentos ao <strong>de</strong>scontentamento que ameaçava expandir-se<br />

mais, e orienta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> cima, com certeza, por seus superiores, em Maringá, o juiz Zeferino Krukowski e um<br />

capitão <strong>do</strong> exército tentaram <strong>de</strong>mover <strong>do</strong>m Jaime da intenção <strong>de</strong> marchar com os agricultores. Inútil. O bispo<br />

não arre<strong>do</strong>u pé, integran<strong>do</strong>-se à comitiva que partiu para o Rio <strong>de</strong> Janeiro, capital fe<strong>de</strong>ral na época, aon<strong>de</strong><br />

os cafeicultores pretendiam fazer chegar suas reclamações. O Ministério da Justiça classificou a marcha como<br />

“movimento subversivo” e enquadrou-a nas sanções da Lei <strong>de</strong> Segurança Nacional. Na véspera <strong>do</strong> dia 18, um<br />

batalhão <strong>do</strong> 13º Regimento <strong>de</strong> Infantaria, da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ponta Grossa, acampou nas imediações <strong>do</strong> km 115 da<br />

antiga estrada oficial, em área <strong>do</strong> atual município <strong>de</strong> Sarandi. A comitiva com o bispo à frente foi <strong>de</strong>tida por<br />

solda<strong>do</strong>s arma<strong>do</strong>s <strong>de</strong> fuzis e metralha<strong>do</strong>ras. Sem permissão <strong>de</strong> continuar, viu-se forçada a tomar o caminho<br />

<strong>de</strong> volta. Não obstante a curteza da marcha, ela alcançou repercussão nacional. Numa época sem televisão,<br />

Maringá encheu-se <strong>de</strong> repórteres <strong>do</strong>s maiores jornais e emissoras <strong>de</strong> rádio, que carregaram até os mais altos<br />

gabinetes da República a insatisfação <strong>do</strong>s produtores <strong>do</strong> Norte paranaense. A or<strong>de</strong>m vinda <strong>do</strong> Rio era taxa-


tiva: impedir, por to<strong>do</strong>s os meios, que a insatisfação <strong>do</strong>s produtores rurais atravessasse o rio Paranapanema,<br />

atingin<strong>do</strong> o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo e, daí, se alastrasse para outras regiões cafeeiras como Espírito Santo e Minas<br />

Gerais. Tropas foram mobilizadas com or<strong>de</strong>ns, segun<strong>do</strong> se informou na época, <strong>de</strong> dinamitar, se preciso fosse,<br />

a ponte entre Cambará (PR) e Ourinhos (SP), assim como <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir as balsas para travessia <strong>do</strong> rio nos municípios<br />

paranaenses <strong>de</strong> Alvorada <strong>do</strong> Sul e <strong>de</strong> Santo Inácio.<br />

Só no dia 30 <strong>de</strong> outubro, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> serena<strong>do</strong>, teve <strong>do</strong>m Jaime ocasião <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r a carta <strong>do</strong> arcebispo<br />

<strong>de</strong> Curitiba. E o fez numa linguagem que nem remotamente <strong>de</strong>ixou transparecer a tensão daqueles dias:<br />

Caríssimo Dom Manuel<br />

In omnibus Christus!<br />

Peço a V. Excia. abençoar-me.<br />

Já <strong>de</strong>via ter respondi<strong>do</strong> a última carta <strong>de</strong> V. Excia., que falava da Marcha da Produção.<br />

Assim que a recebi, quis ir até aí, contu<strong>do</strong>, as reuniões realizadas aqui, a cada momento,<br />

me impediram. Tentei telefonar, mas as linhas estavam cortadas. Mas, Dom Manuel,<br />

graças a Deus, parece que tu<strong>do</strong> acabou bem. Sei que V. Excia. <strong>de</strong>ve ter fica<strong>do</strong> preocupa<strong>do</strong>,<br />

pois os jornais davam os noticiários mais <strong>de</strong>sencontra<strong>do</strong>s. Quan<strong>do</strong> se realizou a<br />

reunião em Maringá, no dia seguinte chamei os lí<strong>de</strong>res <strong>do</strong> movimento e mostrei-lhes o<br />

meu <strong>de</strong>saponto pela linguagem usada. Prometerem, porém, guardar melhores atitu<strong>de</strong>s<br />

e pediram que os continuasse apoian<strong>do</strong>, o que fiz, mas com a ressalva imposta, como<br />

V. Excia lerá neste boletim. De fato, a situação <strong>do</strong> café aqui, principalmente para o pequeno<br />

lavra<strong>do</strong>r, é <strong>do</strong>lorosa. Dá pena ver como ficam preocupa<strong>do</strong>s com a falta <strong>de</strong> preço.<br />

Trabalham tanto para pouca recompensa. E são justamente êles os que mais nos ajudam.<br />

Por êles, pois, mais que pelos outros, é que tomei posição nesse movimento. Mas, agora<br />

tu<strong>do</strong> passou, e se o Govêrno <strong>de</strong>clarou não ser a Marcha da Produção o meio a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong><br />

para se resolver a questão, vamos esperar que êle resolva pelo meio que tem em vista.<br />

Por aqui tu<strong>do</strong> está em paz. Há movimento <strong>de</strong> pequenas reuniões <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res. Quanto ao<br />

mais, tu<strong>do</strong> em or<strong>de</strong>m. Peço a V. Excia que me <strong>de</strong>sculpe a <strong>de</strong>mora <strong>de</strong>sta resposta. Logo<br />

no dia 22 iniciei uma visita pastoral, e por isso atrasei a correspondência. [...]<br />

Sobre as eleições, lamento que nenhum <strong>do</strong>s candidatos aponta<strong>do</strong>s pela Fe<strong>de</strong>ração tenha<br />

si<strong>do</strong> eleito. Acho, <strong>do</strong>m Manuel, que <strong>de</strong>veríamos pensar <strong>de</strong> outro mo<strong>do</strong>. Aqui<br />

houve propaganda aberta a favor <strong>de</strong> candidatos comunistas, divorcistas, com trabalho<br />

intenso em seu favor, e nós não po<strong>de</strong>mos fazer nada às claras pelos bons candidatos,<br />

para não ferirmos os outros. Agora vem a eleição para governa<strong>do</strong>r e novos prefeitos,<br />

verea<strong>do</strong>res, etc. Se numa reunião <strong>do</strong>s Bispos nós tratássemos disso, creio que se alcançaria<br />

alguma coisa. Enfim, estou pelas orientações <strong>de</strong> V. Excia. O trabalho que agora<br />

o Pe. Alberton 13 começou, mas cujo fim não foi muito feliz, pois marcou aqui em<br />

Maringá, justamente quan<strong>do</strong> não era mais permiti<strong>do</strong> falar em política partidária, uma<br />

reunião nesse senti<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>rá surtir muito efeito, se for realizada com antecedência e<br />

bem programada. [...]<br />

Pedin<strong>do</strong> uma gran<strong>de</strong> bênção e orações, confesso-me etc. (COELHO, 1958, 1 f.).<br />

Na campanha eleitoral <strong>de</strong> 1960 pela sucessão <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r Lupion, o bispo <strong>de</strong> Maringá manifestou-se<br />

publicamente pelo candidato Ney Aminthas <strong>de</strong> Barros Braga, <strong>do</strong> PDC, contra os outros <strong>do</strong>is, Nelson Maculan,<br />

<strong>do</strong> PTB, e Plínio Franco Ferreira da Costa, apoia<strong>do</strong> pelo governa<strong>do</strong>r, em coligação partidária li<strong>de</strong>rada<br />

pelo PSD. Braga era admira<strong>do</strong>r <strong>do</strong> i<strong>de</strong>al “Economia e Humanismo”, <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pelo padre <strong>do</strong>minicano<br />

francês Louis Joseph Lebret (1847-1966) cujos estu<strong>do</strong>s nas áreas da economia, <strong>do</strong> humanismo e <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

exerceram larga influência no pensamento social católico brasileiro <strong>de</strong> então. Descontente com<br />

o governo <strong>de</strong> Lupion, que não queria ver continua<strong>do</strong> por Plínio, e não reconhecen<strong>do</strong>, por outro la<strong>do</strong>, em<br />

Maculan qualida<strong>de</strong>s mínimas <strong>de</strong> governo, <strong>do</strong>m Jaime a<strong>do</strong>tou postura política que surpreen<strong>de</strong>u e também <strong>de</strong>s-<br />

13 Pe. Valério Alberton, SJ, então diretor da Fe<strong>de</strong>ração das Congregações Marianas no Paraná.<br />

199<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


200<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

gostou muita gente: valeu-se <strong>de</strong> todas as oportunida<strong>de</strong>s que apareciam para, em conversas pessoais, apontar<br />

o nome <strong>de</strong> Ney Braga como seu candidato preferi<strong>do</strong>, argumentan<strong>do</strong> sobre a conveniência <strong>de</strong> votar no seu<br />

nome. Ney conseguiu eleger-se governa<strong>do</strong>r, não escon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> jamais seu reconhecimento ao apoio <strong>de</strong> <strong>do</strong>m<br />

Jaime, que consi<strong>de</strong>rou <strong>de</strong>cisivo para sua vitória.<br />

Em 13 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1961, juntamente com os bispos <strong>de</strong> Londrina, <strong>de</strong> Campo Mourão e <strong>de</strong> Jacarezinho,<br />

o bispo fun<strong>do</strong>u em Maringá a FAP – Frente Agrária Paranaense com o objetivo <strong>de</strong> combater a infiltração<br />

comunista no meio rural e <strong>de</strong> repudiar a <strong>presença</strong> <strong>do</strong> então <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> fe<strong>de</strong>ral Francisco Julião, funda<strong>do</strong>r das<br />

Ligas Camponesas, que tencionava “lançar a subversão no meio rural”. O nascimento da FAP não se <strong>de</strong>u<br />

sem atropelos. Pelo contrário. O dia foi escolhi<strong>do</strong> a <strong>de</strong><strong>do</strong> para coincidir com o II Congresso <strong>de</strong> Lavra<strong>do</strong>res<br />

e Trabalha<strong>do</strong>res Rurais <strong>do</strong> Paraná realiza<strong>do</strong> em Maringá, nos dias 12-15 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1961, em que a figura<br />

mais importante seria o parlamentar pernambucano. Da parte católica, entendia-se que<br />

era preciso lançar o movimento publicamente com a maior repercussão possível. Ora,<br />

os militantes comunistas haviam planeja<strong>do</strong> para o mês <strong>de</strong> agosto, em Maringá um<br />

‘congresso <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res rurais’, <strong>do</strong> qual <strong>de</strong>veria participar o gran<strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r das ligas<br />

camponesas <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste, Francisco Julião. Aos olhos <strong>do</strong>s católicos, ele viria para ‘insultar<br />

os trabalha<strong>do</strong>res rurais e incitá-los à revolta’, difundin<strong>do</strong> ‘suas idéias esquerdistas<br />

e comunistas’. De fato, isso significaria a entrada das ligas <strong>de</strong> Julião na região, consi<strong>de</strong>rada<br />

uma área sensível <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à gran<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res rurais oriun<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste. Os dirigentes da <strong>Igreja</strong>, indigna<strong>do</strong>s, consi<strong>de</strong>raram o evento como uma<br />

afronta comunista. Era a gota d’água que faria transbordar a paciência cristã e um bom<br />

pretexto para <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar o movimento <strong>do</strong>s bispos. Mas uma dura prova aguardava o<br />

principiante movimento cristão (SILVA, 2006, p. 224-225). 14<br />

Numa época <strong>de</strong> nervos à flor da pele, não houve como evitar o choque entre representantes da <strong>Igreja</strong><br />

– padres, congrega<strong>do</strong>s marianos, alunos <strong>de</strong> colégios católicos – e militantes <strong>do</strong> Partidão. A polícia foi chamada:<br />

“o coronel man<strong>do</strong>u <strong>de</strong>scer o cacete... freira apanhou, padre apanhou, to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> apanhou... veio<br />

bomba, jatos <strong>de</strong> água, veio o corpo <strong>de</strong> bombeiros. Virou uma praça <strong>de</strong> guerra; quebra-pau, um confronto<br />

terrível”, contaria mais tar<strong>de</strong> um <strong>do</strong>s participantes <strong>do</strong> congresso <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res rurais ao professor Ângelo<br />

Priori (2001, p. 175), que escreveu sobre o episódio. As versões apresentadas pelo la<strong>do</strong> católico são distintas,<br />

embora não haja como escon<strong>de</strong>r que estudantes e congrega<strong>do</strong>s marianos tiveram uma reação feroz, absolutamente<br />

inesperada pelos congressistas <strong>do</strong> PCB.<br />

Como um furacão, por on<strong>de</strong> Julião passava, havia conflito. A sua chegada ao aeroporto<br />

<strong>de</strong> Maringá foi esperada com impaciência pelos militantes das Congregações Marianas.<br />

Dom Jaime tinha prepara<strong>do</strong> ‘o povo católico’ para que não <strong>de</strong>ixasse o avião pousar.<br />

Apesar disso, Julião conseguiu chegar até o Congresso <strong>do</strong>s sindicalistas <strong>do</strong> PCB. Segun<strong>do</strong><br />

um padre, o confronto começou logo na sessão <strong>de</strong> abertura da reunião, quan<strong>do</strong><br />

alguns estudantes questionaram Julião, no momento em que ele expunha suas visões<br />

sobre a reforma agrária. O conferencista recusou a polêmica e os estudantes foram<br />

‘expulsos <strong>do</strong> local’. À tar<strong>de</strong>, durante o <strong>de</strong>sfile da FAP, em nome <strong>de</strong> Deus, o Congresso<br />

<strong>do</strong>s ‘vermelhos’ foi cerca<strong>do</strong> e agredi<strong>do</strong>. O padre Osval<strong>do</strong> Rambo relatou: ‘Um grupo<br />

<strong>de</strong> marianos já foram... na frente (<strong>do</strong> lugar) da reunião <strong>de</strong>les, já começaram a... mexer<br />

com eles, a incomodá-los, atiran<strong>do</strong> pedras pra <strong>de</strong>ntro, vaian<strong>do</strong>, gritan<strong>do</strong>. [...] O padre<br />

André Torres, que levava uma carabina em baixo da batina, comandava um ‘ban<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

garotos’ nas ruas, ‘provocan<strong>do</strong> tumultos nas ruas e pedin<strong>do</strong> justiça para os camponeses’.<br />

Puseram fogo nos cartazes. Eles vieram ‘para quebrar tu<strong>do</strong>’, para ‘acabar com o<br />

14 O autor traz também a opinião contrária <strong>de</strong> padre Osval<strong>do</strong> Rambo, para quem foram os comunistas que marcaram o congresso,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> anunciada a fundação da FAP: “quan<strong>do</strong> os comunistas souberam da nossa reunião gran<strong>de</strong> pra fundar a Frente Agrária Paranaense,<br />

eles também começaram a organizar uma concentração, uma reunião <strong>de</strong> esquerdistas e <strong>de</strong> comunistas... a quatro quarteirões,<br />

num salão... mesmo dia, mesmas horas” (SILVA, 2006, p. 227).


que eles chamavam <strong>de</strong> comunistas’. Para fazer isso, a <strong>Igreja</strong> tinha instruí<strong>do</strong> os jovens<br />

<strong>do</strong> Colégio Marista <strong>de</strong> Maringá, cerca <strong>de</strong> 3.000 estudantes (sic) e mais <strong>de</strong> 30 padres<br />

(SILVA, 2006, p. 239-241; PRIORI, 2001, p. 173).<br />

Admitin<strong>do</strong>, embora, alguma <strong>do</strong>se <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> nos relatos que Silva e Priori ouviram, é preciso <strong>de</strong>scontar<br />

exageros compreensivelmente cria<strong>do</strong>s pela paixão da hora. Só em mente exaltada ou alheia aos fatos caberia<br />

admitir que em 1961 o Colégio Marista <strong>de</strong> Maringá tivesse 3.000 alunos a<strong>do</strong>lescentes e jovens − ninguém<br />

convocaria crianças para confronto <strong>de</strong>ssa natureza15 −, que na praça houvesse 30 padres juntos, que sob a veste<br />

clerical padre André carregasse uma carabina. Era impossível um padre portar arma sob a batina pela simples e<br />

boa razão, referida por <strong>do</strong>m Jaime, testemunha ocular, <strong>de</strong> que os padres, naquele dia, preven<strong>do</strong> o confronto,<br />

se apresentaram em trajes civis. Por outro la<strong>do</strong>, não eram 30, mas três apenas mistura<strong>do</strong>s aos manifestantes:<br />

padres Osval<strong>do</strong> Rambo, André José Torres e Francisco Peregrina Lopes. Soma<strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong> Marista e da Escola<br />

Técnica <strong>de</strong> Comércio, que funcionava à noite no mesmo prédio, dificilmente alcançariam três centenas.<br />

O PCB mobilizava-se junto aos camponeses sempre se adaptan<strong>do</strong> às peculiarida<strong>de</strong>s locais. Principal mote<br />

das ligas camponesas no Nor<strong>de</strong>ste brasileiro, o discurso da reforma agrária não se apresentava tão sedutor no<br />

Norte <strong>do</strong> Paraná on<strong>de</strong> os latifúndios, em 1961, eram extremamente raros: a colonização empreendida pela<br />

CMNP tinha privilegia<strong>do</strong> a pequena e a média proprieda<strong>de</strong>. Em vista disso, a campanha <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada pelos<br />

comunistas, mais que tu<strong>do</strong>, visava criar sindicatos <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res rurais com diretorias fiéis ao PCB. Depois,<br />

seriam unifica<strong>do</strong>s numa confe<strong>de</strong>ração que lhes garantisse a orientação i<strong>de</strong>ológica <strong>do</strong> campesinato norte-paranaense.<br />

A FAP nasceu com o claro propósito <strong>de</strong> barrar o avanço <strong>do</strong> comunismo na área rural. A mobilização <strong>do</strong>s<br />

bispos revestia um cunho i<strong>de</strong>ológico: tratava-se, na verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a fé cristã <strong>do</strong> ataque <strong>de</strong> uma <strong>do</strong>utrina<br />

materialista e atéia. Por isso, entre suas principais ativida<strong>de</strong>s estava a criação <strong>do</strong>s mesmos sindicatos, mas entregues<br />

à coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> pessoas cristãs. Eram objetivos da Frente Agrária Paranaense, lançada pelos bispos:<br />

1. Formação <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res sindicais rurais;<br />

2. Criação <strong>de</strong> sindicatos <strong>de</strong> orientação cristã;<br />

3. Criação <strong>de</strong> cooperativas para os pequenos proprietários rurais;<br />

4. Assistência educacional, religiosa e moral;<br />

5. Assistência médico-hospitalar ao trabalha<strong>do</strong>r rural, entre outros pontos [...] Para a igreja,<br />

esse movimento não po<strong>de</strong>ria mostrar fraqueza: ‘ou a FAP nasce com força, ou bem não<br />

precisa nascer’, diziam os bispos norte-paranaenses. O padre Osval<strong>do</strong> Rambo, na época<br />

vigário da paróquia São José da Vila Operária, foi encarrega<strong>do</strong> pela diocese <strong>de</strong> Maringá<br />

para ser o assessor eclesiástico da FAP e preparar toda a organização material <strong>do</strong> evento.<br />

Dom Jaime Luiz Coelho ficou encarrega<strong>do</strong> <strong>de</strong> contatar e convidar o máximo possível <strong>de</strong><br />

autorida<strong>de</strong>s municipais, estaduais e fe<strong>de</strong>rais, a fim <strong>de</strong> prestigiar o acontecimento [...] Os<br />

bispos tinham uma missão histórica: organizar os trabalha<strong>do</strong>res rurais e salvá-los – como<br />

inocentes que eram e, portanto, suscetíveis a i<strong>de</strong>ologias estranhas – da influência <strong>do</strong>s comunistas<br />

que, se aproveitan<strong>do</strong> da situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero em que se encontrava o homem<br />

<strong>do</strong> campo, os tornavam presa fácil aos ataques ‘<strong>de</strong>sses agentes <strong>de</strong> Moscou’. E para isso<br />

precisavam combater qualquer iniciativa ‘<strong>de</strong>sses agentes’, como era o caso, por exemplo,<br />

<strong>do</strong> II Congresso <strong>de</strong> Trabalha<strong>do</strong>res Rurais, que estava acontecen<strong>do</strong> em Maringá” [...] Se<br />

aqueles foram anos conturba<strong>do</strong>s, pelo menos tivemos uma intensa participação e discussão<br />

em torno <strong>do</strong>s problemas <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res rurais. Excluí<strong>do</strong>s da política e da cidadania<br />

até os anos 50, estes surgiram com um vigor e uma aparente capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organização<br />

social jamais conhecida, até então, na história <strong>do</strong> Brasil. Sem dúvida, mesmo com as<br />

diferenças e as disputas i<strong>de</strong>ológicas, traduzidas muitas vezes em confrontos e violências,<br />

a <strong>Igreja</strong> Católica e o PCB tiveram importância fundamental no processo <strong>de</strong> organização<br />

<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res rurais na década <strong>de</strong> 60 (PRIORI, 2001, p. 161-177).<br />

15 Depois <strong>de</strong> 45 anos, em 31 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2006, o Colégio Marista <strong>de</strong> Maringá, incluin<strong>do</strong> as crianças da Educação Infantil, contava<br />

1.644 (mil, seiscentos e quarenta e quatro) alunos, conforme resposta da secretaria <strong>do</strong> Colégio a consulta <strong>do</strong> autor <strong>de</strong>ste relato.<br />

201<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


202<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

Frente Agrária Paranaense, 1961<br />

O enterro simbólico <strong>do</strong> <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> comunista Francisco Julião.<br />

Francisco Julião, o primeiro senta<strong>do</strong>. Ao<br />

microfone, Arman<strong>do</strong> <strong>de</strong> Lima Uchoa, prefeito <strong>de</strong><br />

Nova Esperança.<br />

A tropa <strong>de</strong> policiais que reprimiu com violência o<br />

confronto nas ruas <strong>de</strong> Maringá.<br />

A FAP é pioneira na fundação, <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná, <strong>do</strong>s sindicatos <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res rurais. Em<br />

1969 contavam-se no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná mais <strong>de</strong> 100 sindicatos funda<strong>do</strong>s por ela ou sob sua inspiração, um<br />

trabalho <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>, na diocese <strong>de</strong> Maringá e região, <strong>de</strong> forma muito intensa, por padre André José Torres<br />

e também por padre Osval<strong>do</strong> Rambo, da paróquia São José. Heller da Silva apresenta números diferentes.<br />

Para ele, quan<strong>do</strong> em 1964 os militares tomaram o po<strong>de</strong>r, os sindicatos funda<strong>do</strong>s por católicos seriam 46, ou<br />

ainda 41, senão 35 apenas, enquanto havia 86 sindicatos <strong>do</strong>s comunistas (SILVA, 2006, p. 258). Para levar a<br />

termo o programa da Frente Agrária Paranaense, Rambo ainda fun<strong>do</strong>u, em 1964, a Cooperativa Agrícola <strong>de</strong><br />

Maringá, <strong>de</strong>stinada a pequenos proprietários rurais, com abrangência <strong>de</strong> 37 municípios. Da cooperativa era<br />

ele o diretor-presi<strong>de</strong>nte, caben<strong>do</strong> a seu primo Arno Wilibal<strong>do</strong> Vier, <strong>de</strong>ntista e agricultor, o cargo <strong>de</strong> diretorgerente.<br />

À semelhança <strong>de</strong> Priori, também Heller da Silva reconhece ao PCB e à <strong>Igreja</strong> Católica um papel <strong>de</strong><br />

capital importância na história <strong>do</strong> sindicalismo rural:<br />

Apesar <strong>de</strong> suas diferenças i<strong>de</strong>ológicas, seus discursos sobre a postura sindical se aproximavam:<br />

<strong>de</strong>voção, disponibilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>sinteresse eram constantes. Entretanto, para<br />

a maioria <strong>de</strong>stes militantes (sejam cristãos ou marxistas) suas ativida<strong>de</strong>s podiam trazer-lhes<br />

um capital social e um capital cultural-formal, praticamente inacessível por<br />

outros caminhos. [...] Semelhante aos sindicatos comunistas, o ponto <strong>de</strong> referência<br />

<strong>do</strong>s católicos era sempre a observância da legalida<strong>de</strong> e <strong>do</strong>s direitos <strong>do</strong>s lavra<strong>do</strong>res. As<br />

suas divergências começavam, porém, na <strong>de</strong>finição <strong>do</strong> que era direito e <strong>do</strong> que não<br />

era. O conjunto <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> contato entre os <strong>do</strong>is sindicatos permitia, para além <strong>do</strong>s<br />

conflitos, a aparição <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> cumplicida<strong>de</strong> entre um certo número <strong>de</strong> agentes<br />

posiciona<strong>do</strong>s em campos antagônicos. [...] Apesar <strong>do</strong> papel <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong> pelos


a<strong>de</strong>ptos locais <strong>do</strong> PCB – secunda<strong>do</strong>s pelos militantes católicos –, o norte <strong>do</strong> Paraná foi<br />

e ainda é o berço esqueci<strong>do</strong> <strong>do</strong> sindicalismo rural não só <strong>de</strong>sse esta<strong>do</strong>, mas também <strong>do</strong><br />

Brasil (SILVA, 2006, p. 271).<br />

No ano <strong>de</strong> 1965, <strong>do</strong>m Jaime criou em Maringá a ADAR – Associação Diocesana <strong>de</strong> Assistência Rural,<br />

obra promocional em benefício <strong>do</strong> homem <strong>do</strong> campo ao qual oferecia cursos <strong>de</strong> tratorista, <strong>de</strong> administra<strong>do</strong>r<br />

rural, formação em li<strong>de</strong>rança sindical, plantio, adubação, técnicas <strong>de</strong> colheita e silagem etc., além <strong>de</strong> outros<br />

cursos, especialmente volta<strong>do</strong>s a pessoas <strong>do</strong> sexo feminino, como artes culinárias, corte e costura, alfabetização<br />

<strong>de</strong> adultos, higiene, puericultura etc. A obra não <strong>de</strong>sfrutou <strong>de</strong> vida longa. Irmã Jeanne Gaudin, principal<br />

anima<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> trabalho da ADAR, a<strong>do</strong>eceu gravemente e retirou-se para a França em 1967. A nova situação<br />

política, por outro la<strong>do</strong>, esten<strong>de</strong>u seus reflexos também à vida <strong>do</strong> homem <strong>do</strong> campo, inviabilizan<strong>do</strong> os projetos<br />

da ADAR.<br />

ADAR, obra inaugurada em 1965 para promover a população rural da diocese.<br />

A partir <strong>de</strong> 1964, com a entrada em cena <strong>do</strong>s governos militares, mu<strong>do</strong>u radicalmente o panorama<br />

agrícola <strong>do</strong> país e, por conseqüência, <strong>do</strong> Norte <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Os anos 70 assistiram o surgimento da conveniente<br />

ilusão <strong>do</strong> “milagre econômico”. Em nome <strong>do</strong> crescimento <strong>do</strong> bolo da renda nacional, a agricultura brasileira<br />

foi entregue à economia <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>, que passou a privilegiar <strong>de</strong> forma quase absoluta a produção para o<br />

comércio exporta<strong>do</strong>r. Alargaram-se enormemente as fronteiras agrícolas transforman<strong>do</strong> o Brasil no paraíso<br />

das gran<strong>de</strong>s empresas produtoras <strong>de</strong> insumos agrícolas em escala planetária. A geada <strong>de</strong> 1975 terminou por<br />

sepultar inteiramente qualquer resquício da monocultura cafeeira que <strong>de</strong>ra início à exploração agrícola da região,<br />

quarenta anos antes. Para alcançar o posto <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s maiores produtores <strong>de</strong> grãos em que se converteu,<br />

o Paraná viu-se força<strong>do</strong> a aban<strong>do</strong>nar a agricultura familiar praticada em pequenas proprieda<strong>de</strong>s, que fora um<br />

<strong>do</strong>s traços mais marcantes <strong>do</strong> cultivo da terra naqueles não tão distantes, mas hoje <strong>de</strong>finitivamente passa<strong>do</strong>s<br />

tempos pioneiros.<br />

Exemplo, um entre muitos, <strong>do</strong> engajamento da <strong>Igreja</strong> em causas sociais <strong>de</strong>u-se na greve <strong>do</strong>s operários da<br />

Cia. Norpa Industrial, em 1968, segui<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>pois, pelos colegas da Cia. Cruzeiro. Conta Reginal<strong>do</strong> Dias:<br />

No <strong>do</strong>mingo, 07 <strong>de</strong> outubro, os operários das duas indústrias [...] fizeram um ato público,<br />

no qual receberam solidarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> sindicatos, associações estudantis e membros<br />

<strong>do</strong> clero [...] O impasse persistiu, na medida em que a empresa recusou a proposta e<br />

ameaçou promover <strong>de</strong>missão em massa, caso a greve não cessasse até as 16 horas daquele<br />

dia. Entrou em cena, então, o bispo da cida<strong>de</strong> que, ten<strong>do</strong> manifesta<strong>do</strong> solidarie-<br />

203<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


204<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

da<strong>de</strong> ao movimento foi convida<strong>do</strong> pelos grevistas para servir <strong>de</strong> media<strong>do</strong>r.<br />

A solução, no entanto, não foi imediata. A direção da Cia. Norpa não foi persuadida<br />

pelo media<strong>do</strong>r que, por sua vez, incorporou-se ao acampamento monta<strong>do</strong> pelos grevistas.<br />

Na barraca o bispo afirmou às autorida<strong>de</strong>s policiais que cessara o diálogo e que<br />

se colocaria ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s operários (DIAS, 2001, p. 211). 16<br />

Mistura<strong>do</strong> aos trabalha<strong>do</strong>res no acampamento monta<strong>do</strong> diante da fábrica, <strong>de</strong> batina preta, faixa roxa<br />

e cruz peitoral, o bispo dirigiu-se aos policiais: “Se vocês entrarem aqui para espancar os operários, vão ter<br />

que bater em mim também.” Não houve violência, mas as negociações com a empresa foram penosas e não<br />

<strong>de</strong> to<strong>do</strong> satisfatórias para os trabalha<strong>do</strong>res, apesar da mediação da autorida<strong>de</strong> episcopal. Mais <strong>do</strong> que ganhos<br />

financeiros, contu<strong>do</strong>, valeu o testemunho <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> da <strong>Igreja</strong> a pobres operários numa greve que o<br />

próprio coman<strong>do</strong> constatou incapaz <strong>de</strong> manter-se por mais tempo.<br />

Ainda que menos visíveis, nem por isso <strong>de</strong> menor valor, também em outras áreas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> humana se<br />

fez sentir a <strong>presença</strong> fraterna da <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Maringá. No dia 24 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1978, “O Diário” estampava<br />

em primeira página a manchete: “Após 15 anos Maringá e região ganham hoje junta <strong>de</strong> Conciliação e Julgamento”.<br />

O texto historiava a longa participação <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Jaime na conquista, que po<strong>de</strong> assim resumir-se:<br />

Em 1967 o Sindicato <strong>do</strong>s Emprega<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Comércio <strong>de</strong> Maringá <strong>de</strong>u entrada em processo administrativo<br />

(prot. nº TST-3-177/67) no Tribunal Superior <strong>do</strong> Trabalho, à época com se<strong>de</strong> no Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

pleitean<strong>do</strong> a criação da Junta <strong>de</strong> Conciliação e Julgamento na Comarca <strong>de</strong> Maringá. No dia 14 <strong>de</strong> outubro<br />

<strong>de</strong> 1968, aproveitan<strong>do</strong> audiência com o presi<strong>de</strong>nte Arthur da Costa e Silva, em Brasília, para tratar da TV<br />

Cultura <strong>de</strong> Maringá, referendan<strong>do</strong> o pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> Sindicato <strong>do</strong>s Emprega<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Comércio <strong>de</strong> Maringá, <strong>do</strong>m<br />

Jaime entregou ofício solicitan<strong>do</strong> a criação da Junta na cida<strong>de</strong>. Thelio da Costa Monteiro, presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Tribunal<br />

Superior <strong>do</strong> Trabalho, em 20 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1969 enviou a <strong>do</strong>m Jaime ofício (prot. TST-3-177/67-GP<br />

123/69) informan<strong>do</strong> andamento <strong>do</strong> processo, que aguardava apenas informações pedidas ao juiz da Comarca<br />

<strong>de</strong> Maringá, Cyro Maurício Crema (este respon<strong>de</strong>u, no dia 31, ressaltan<strong>do</strong> “o interesse <strong>do</strong> bispo diocesano<br />

<strong>de</strong> Maringá pela criação da esperada Junta <strong>de</strong> Conciliação e Julgamento <strong>de</strong> Maringá”). Jarbas Passarinho, ministro<br />

<strong>do</strong> Trabalho, em visita a Maringá, no dia 26 <strong>do</strong> mesmo mês recebeu em mãos um ofício no qual <strong>do</strong>m<br />

Jaime reforçava o anseio <strong>de</strong> Maringá e região pela criação da Junta, aproveitan<strong>do</strong> para pedir sua oportuna<br />

influência. Em 20 <strong>de</strong> junho, o presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Tribunal Superior <strong>do</strong> Trabalho informou ao bispo ter encaminha<strong>do</strong>,<br />

com parecer favorável, ao ministro da Justiça, o prot. nº TST-3-177/67, recomendan<strong>do</strong> a criação da<br />

Junta, com jurisdição sobre as vizinhas comarcas <strong>de</strong> Mandaguaçu e <strong>de</strong> Marialva. Três dias <strong>de</strong>pois, telegrama<br />

<strong>de</strong> João Zoghbi, diretor geral <strong>do</strong> TRISEC, informava a <strong>do</strong>m Jaime que o processo tinha si<strong>do</strong> encaminha<strong>do</strong><br />

ao Ministério da Justiça, on<strong>de</strong> recebera o nº MJ 18885.<br />

As coisas, porém, movimentam-se <strong>de</strong>vagar nos escaninhos da burocracia <strong>de</strong> Brasília. Somente no dia 24<br />

<strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1978 se instalou a Junta <strong>de</strong> Conciliação e Julgamento na Comarca <strong>de</strong> Maringá com competência<br />

sobre 36 cida<strong>de</strong>s da região, compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, além <strong>de</strong> Maringá, os municípios: Alto Paraná, Astorga,<br />

Atalaia, Colora<strong>do</strong>, Cruzeiro <strong>do</strong> Sul, Doutor Camargo, Engenheiro Beltrão, Fênix, Floraí, Floresta, Flórida,<br />

Guaraci, Iguaraçu, Itambé, Ivatuba, Japurá, Jussara, Lobato, Mandaguaçu, Mandaguari, Marialva, Munhoz<br />

<strong>de</strong> Melo, Nossa Senhora das Graças, Nova Esperança, Ourizona, Paiçandu, Paranacity, Presi<strong>de</strong>nte Castelo<br />

Branco, Quinta <strong>do</strong> Sol, Santa Fé, São Carlos <strong>do</strong> Ivaí, São Jorge, São Tomé, Terra Boa e Uniflor. O juiz que<br />

assumiu a Junta <strong>de</strong> Maringá, Ismael Gonzalez, recepciona<strong>do</strong>, às 9h30, no aeroporto pelo prefeito João Paulino<br />

Vieira Filho, autorida<strong>de</strong>s e li<strong>de</strong>ranças sindicais, dali se dirigiu diretamente à residência <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Jaime, cuja<br />

participação foi intensa e <strong>de</strong>cisiva para o objetivo alcança<strong>do</strong> (APÓS..., 1978, p.1-2). 17<br />

No campo político eleitoral, a campanha para prefeito <strong>do</strong> município <strong>de</strong>u a conhecer, em 1968, um<br />

16 Os membros <strong>do</strong> clero a que Dias se refere eram padres Almeida e Orival<strong>do</strong>, liga<strong>do</strong>s ao Grupo Lebret, que moravam na residência<br />

episcopal. A pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> coman<strong>do</strong> da greve, convidaram o bispo para dialogar com operários e patrões.<br />

17 Os “15 anos” da manchete contaram-se provavelmente a partir da ditadura militar, implantada no início <strong>de</strong> 1964.


ispo <strong>de</strong> Maringá ainda mais comprometi<strong>do</strong> com a política <strong>do</strong> que o fora, oito anos antes, no pleito para<br />

escolha <strong>de</strong> governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Força<strong>do</strong>s a engolir um bipartidarismo esdrúxulo em que os i<strong>de</strong>ólogos<br />

<strong>do</strong> regime militar imaginavam engessar todas as correntes políticas <strong>do</strong> país, os eleitores maringaenses foram<br />

chama<strong>do</strong>s a <strong>de</strong>cidir entre ARENA – que apresentou João Paulino Vieira / Ro<strong>do</strong>lfo Purpur, na chapa 1,<br />

e Ardinal Ribas / Helenton Borba Cortes, na chapa 2 – e MDB, <strong>de</strong> chapa única, composta por Adriano<br />

José Valente / Renato Bernardi. Registre-se, em respeito à verda<strong>de</strong>, que <strong>do</strong>m Jaime em momento algum<br />

emitiu pronunciamento público nem subiu em palanque. Descontente com a gestão anterior <strong>de</strong> João Paulino<br />

(1961-1964) por divergências quanto à Santa Casa, construção da catedral e outros temas, o bispo<br />

esforçou-se quanto pô<strong>de</strong> para negar-lhe um segun<strong>do</strong> mandato: das duas chapas <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> oficial, a sua era<br />

a mais forte. Ainda há quem recor<strong>de</strong> o bordão cria<strong>do</strong> por Joe Silva, locutor oficial <strong>do</strong>s comícios <strong>do</strong> MDB:<br />

“Essa não <strong>de</strong>u, ARENA!” De fato, não <strong>de</strong>u. Reunin<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>scontentamentos que o sistema vigente<br />

conseguia nutrir, o certo é que o MDB, por força <strong>do</strong> episcopal apoio ou in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>le, alcançou<br />

19.471 votos (55,7%), enquanto, com duas legendas, a ARENA obteve 15.459, ou 44,3% <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os<br />

votos váli<strong>do</strong>s (ALCÂNTARA, 2001, p. 258). Na segunda gestão <strong>de</strong> João Paulino (1977-1983), o relacionamento<br />

entre prefeito e bispo transcorreu em clima <strong>de</strong> colaboração e entendimento. Quan<strong>do</strong> da eleição<br />

<strong>de</strong> Said Felício Ferreira (1983-1988), <strong>do</strong>m Jaime, embora participan<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma menos visível, não se recusou,<br />

ainda uma vez, a tornar clara sua posição em vista daquilo que julgava o melhor para a comunida<strong>de</strong><br />

nos quatro anos seguintes.<br />

A participação na política partidária, contu<strong>do</strong>, trouxe-lhe mais dissabores que alegria. Em carta ao<br />

arcebispo <strong>de</strong> Curitiba, referin<strong>do</strong>-se ao relacionamento com os políticos locais, confessou: “Vivemos em boa<br />

harmonia. Não vivo, é claro, atrás <strong>do</strong>s políticos, bajulan<strong>do</strong>-os, e nem faço mais nada por êles como fiz pelo<br />

Ney (Braga). Basta a lição” (COELHO, 1966, 1 f.). Tantas foram, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1960, as vezes em que bateram à<br />

sua porta políticos <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os naipes, <strong>de</strong> todas as regiões <strong>do</strong> Paraná e até <strong>de</strong> outros Esta<strong>do</strong>s, ansiosos pelos<br />

divi<strong>de</strong>n<strong>do</strong>s eleitorais a auferir com o seu prestígio, tantas, igualmente, as esperanças frustradas por homens<br />

públicos <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o país que, afinal, <strong>de</strong>siludi<strong>do</strong> e cansa<strong>do</strong>, o já arcebispo <strong>de</strong> Maringá <strong>de</strong>cidiu: “Mesmo que<br />

Jesus Cristo se candidate a algum cargo público, não receberá apoio meu”.<br />

Pelo envolvimento em episódios que afetavam a sorte <strong>do</strong>s seus diocesanos não podia ele escapar à<br />

atenção das autorida<strong>de</strong>s ciosas da “segurança pública”, sobretu<strong>do</strong> <strong>de</strong>pois da edição <strong>do</strong> AI-5 (13 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />

<strong>de</strong> 1968), quan<strong>do</strong> se abriram <strong>de</strong> vez as portas da repressão. Sua pasta, <strong>de</strong> nº 02064 no Arquivo Público <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná, traz anotações hoje risíveis, mas consi<strong>de</strong>radas importantes por autorida<strong>de</strong>s da época:<br />

Em 20-01-70 – É proprietário <strong>do</strong> jornal Folha <strong>do</strong> Norte <strong>do</strong> Pr. On<strong>de</strong> foram feitos<br />

comentarios dúbios sobre as forças Armadas e o govêrno. Parece que o jornal está<br />

arrenda<strong>do</strong>. Dom Jaime por suas atitu<strong>de</strong>s parece ser “progressista”. Consta que por se<br />

julgar <strong>de</strong>strata<strong>do</strong> no Quartel da 4ª Cia Inf., disse ao professôr Renato Bernardi que<br />

era uma pena não ter aconteci<strong>do</strong> antes <strong>de</strong> terminar a procissão <strong>de</strong> 6ª Feira Sta porque<br />

assim êle, Bispo, teria acaba<strong>do</strong> com a turma <strong>de</strong> Apucarana. Na missa <strong>de</strong> Domingo <strong>de</strong><br />

Ramos comparou Che Guevara a Cristo. (V.Pasta 2ª Sec.5ª RM).<br />

Em 06/09/77 – Conf. Doc. Min. Ex. 2ª Seção, o ficha<strong>do</strong> pertence a <strong>Igreja</strong> Progressista<br />

<strong>do</strong> Norte <strong>do</strong> Paraná, Engajou-se sem reservas no “Progressismo fazen<strong>do</strong> constantes<br />

criticas ao governos (sic), no sistema e nas autorida<strong>de</strong>s. (V/P <strong>Igreja</strong> Católica).<br />

Em 08/12/77 – Conf. Folha <strong>de</strong> São Paulo <strong>de</strong> 05/10/77, o ficha<strong>do</strong> afirmou que<br />

recebeu correspl <strong>do</strong> Vaticano conten<strong>do</strong> exemplar <strong>do</strong> jornal “Voz Operária”, órgão<br />

central <strong>do</strong> PCB, e exemplares proce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Tóquio e <strong>de</strong> Roma, sen<strong>do</strong> que um <strong>do</strong>s<br />

artigos comenta que “comunistas e cristão (sic) no Brasil estão uni<strong>do</strong>s no memo (sic)<br />

combate pela <strong>de</strong>mocracia e pelo progresso da justiça social. (V/P MARINGÁ).<br />

26/05/81 – Conf. O Est. <strong>do</strong> Paraná <strong>de</strong> 23/10/80, o nomina<strong>do</strong> participou da reunião<br />

realizada on<strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os bispos da Região Sul II da CNBB e a Comissão <strong>de</strong><br />

Justiça e Paz <strong>do</strong> Pr., organizaram para emitir uma nota <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> ao Padre<br />

Vito Miracapillo, que teve sua expulsão <strong>de</strong>cretada pelo presi<strong>de</strong>nte da República. O<br />

nomina<strong>do</strong> representou o bispo <strong>de</strong> Cornélio Procópio <strong>do</strong>m Domingos Wisniewski. O<br />

205<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


206<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

nomina<strong>do</strong> entre outros assinou a nota. (V/P-CNBB) (ARQUIVO PÚBLICO DO<br />

PARANÁ, 1970-1981, f. 1-3). 18<br />

Quem atravessou os chama<strong>do</strong>s “anos <strong>de</strong> chumbo” recorda o clima <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconfiança que <strong>do</strong>minou o país,<br />

subitamente converti<strong>do</strong> em imenso salão sob controle <strong>de</strong> um onisciente “big brother” que tu<strong>do</strong> anotava, registrava<br />

e guardava como prova contra os cidadãos. Fosse qual fosse a profissão exercida ou o cargo ocupa<strong>do</strong>,<br />

a pessoa corria perigo <strong>de</strong> ser rotulada <strong>de</strong> subversiva, bastan<strong>do</strong> não agradar aos senhores <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r. Denúncia<br />

gratuita, motivada por vingança, inveja ou antipatia, era suficiente para comprometer a vida <strong>de</strong> quem nunca<br />

sonhara estar sob suspeita. Pelo menos um membro <strong>do</strong> presbitério <strong>de</strong> Maringá teve, naquele tempo, sorte<br />

igual à <strong>do</strong> bispo. O Arquivo Público <strong>do</strong> Paraná guarda pasta nº 03120, com <strong>do</strong>cumentos e informações referentes<br />

a “Orival<strong>do</strong> Robles – padre”, on<strong>de</strong> consta ofício <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1969 <strong>do</strong> chefe <strong>do</strong> SNI, agência <strong>de</strong><br />

Curitiba, ao <strong>de</strong>lega<strong>do</strong> da DOPS/PR cuja resposta foi dada em 30 <strong>de</strong> agosto <strong>do</strong> mesmo ano:<br />

1. Esta Agência teve conhecimento <strong>de</strong> que o Padre Orioval<strong>do</strong> (sic) Robles, da Paróquia<br />

<strong>de</strong> Maringá-PR, em suas pregações <strong>do</strong>minicais, critica o Exmº Sr Presi<strong>de</strong>nte da<br />

República e as Fôrças Armadas, como corruptas; atua no meio estudantil; é prega<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> amor livre (sic), e, finalmente, que a população <strong>de</strong> Maringá repudia a sua atuação.<br />

2. Em face <strong>do</strong> expôsto, tenho a honra <strong>de</strong> me dirigir a V.S. para solicitar informações<br />

quanto: veracida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s fatos aponta<strong>do</strong>s; caso se confirmem, ampliar; da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> qualificação,<br />

antece<strong>de</strong>ntes políticos e i<strong>de</strong>ológicos da pessoa referida e outros da<strong>do</strong>s [...].<br />

Em resposta [...] informo que, quanto à i<strong>de</strong>ologia política <strong>do</strong> Padre Orival<strong>do</strong> Robles,<br />

a mesma é francamente para a esquerda, pois o referi<strong>do</strong> sacer<strong>do</strong>te, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s seus<br />

sermões, se aproveitava para atacar às Forças Armadas, porém somente assim procedia<br />

quan<strong>do</strong> os mesmos não eram irradia<strong>do</strong>s, e, quan<strong>do</strong> tivemos conhecimento <strong>de</strong> tais<br />

discursos, foi justamente na ocasião em que V.S. enviou um agente para conseguir a<br />

gravação <strong>do</strong>s mesmos. Outrossim, informo à V.S., que o Padre Oswal<strong>do</strong> (sic) Robles,<br />

é gran<strong>de</strong> amigo <strong>do</strong> estudante Francisco Timbó <strong>de</strong> Souza elemento este ficha<strong>do</strong> nesta<br />

Especializada como Subversivo, com o qual mantém sempre contato (ARQUIVO PÚ-<br />

BLICO DO PARANÁ, 1969-1973, f. 9, 1). 19<br />

Apesar <strong>de</strong> constar, na certidão expedida em 12 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1971, pela Delegacia <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>m Política e<br />

Social <strong>de</strong> Curitiba, que “não figura o requerente como indicia<strong>do</strong> em Inquérito Criminal por infração à Segurança<br />

Nacional, inexistin<strong>do</strong> ainda <strong>de</strong>creto judicial <strong>de</strong> prisão preventiva”, Robles foi excluí<strong>do</strong> <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong>cente<br />

<strong>do</strong> Ginásio Estadual Maria José Rocha Braga e também da Escola Normal Regional Claudino <strong>do</strong>s Santos,<br />

ambos na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paranacity, nos quais lecionava, e por cuja paróquia respondia na época. Na Inspetoria<br />

Regional <strong>de</strong> Ensino, em São João <strong>do</strong> Caiuá, aon<strong>de</strong> foi chama<strong>do</strong> no dia 4 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1971, recebeu comunicação<br />

da inspetora Anirce Bolter Veltrini <strong>de</strong> que estava proibi<strong>do</strong> <strong>de</strong> lecionar em estabelecimentos oficiais<br />

<strong>de</strong> ensino. Conquanto tivesse Antônio Tortato, prefeito <strong>de</strong> Paranacity, <strong>de</strong> todas as formas, envida<strong>do</strong> esforços<br />

18 A alusão à 4ª Cia. Inf. <strong>de</strong> Apucarana refere-se, provavelmente, à visita feita por <strong>do</strong>m Jaime àquele quartel, em 1969, para exigir a soltura<br />

<strong>de</strong> A. A. <strong>de</strong> Assis, poeta e jornalista <strong>de</strong> Maringá, brutalmente arranca<strong>do</strong> da cama, <strong>de</strong> madrugada, por solda<strong>do</strong>s farda<strong>do</strong>s daquela<br />

Cia. e para lá conduzi<strong>do</strong> sob suspeita <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> subversiva. Um jovem ativista <strong>de</strong> política estudantil, natural <strong>de</strong> São Fidélis (RJ),<br />

como Assis, tinha si<strong>do</strong> <strong>de</strong>ti<strong>do</strong> no Su<strong>do</strong>este <strong>do</strong> Paraná com seu en<strong>de</strong>reço no bolso, passa<strong>do</strong> provavelmente por algum conterrâneo<br />

conheci<strong>do</strong> <strong>de</strong> ambos. Sobre os exemplares <strong>de</strong> “Voz Operária”, pela imprensa <strong>do</strong>m Jaime <strong>de</strong>nunciou a manobra, alertan<strong>do</strong> para o<br />

falso envio <strong>do</strong> jornal pelo Vaticano, que tinha o evi<strong>de</strong>nte propósito <strong>de</strong> comprometer a <strong>Igreja</strong> Católica perante o governo brasileiro.<br />

Os informes são respostas a pedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> renovação <strong>de</strong> passaporte. A certidão fornecida pela Delegacia <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>m Política e Social<br />

reconhece não haver “indiciamento <strong>do</strong> requerente em inquérito criminal por infração à Segurança Nacional nem <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> prisão<br />

preventiva” (ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ, 1969-1973, f. 13).<br />

19 O autor <strong>de</strong>stas notas fez pedi<strong>do</strong> da <strong>do</strong>cumentação existente a seu respeito e também <strong>de</strong> padre Almeida e irmã Jeanne. Em e-mail <strong>de</strong><br />

23 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2006, a Sala <strong>de</strong> Pesquisa <strong>do</strong> Arquivo Público <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, <strong>de</strong> Curitiba, respon<strong>de</strong>u: “Encontramos <strong>do</strong>ssiê individual <strong>do</strong><br />

Pe. Orival<strong>do</strong> Robles conten<strong>do</strong> ofícios <strong>de</strong> 1969, requerimentos para magistério estadual, certidão para fins <strong>de</strong> magistério, atesta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

conduta. O <strong>do</strong>ssiê 2956 – cx. 447 contém 14 páginas. Os outros nomes, Pe. Antonio <strong>de</strong> Pádua Almeida e Irmã Jeanne Gaudin, não<br />

possuem <strong>do</strong>cumentação”.


junto a autorida<strong>de</strong>s estaduais para reverter o quadro, as providências não surtiram efeito. Tornou-se impossível<br />

mudar disposições estabelecidas por Curitiba. Assim que regressou <strong>de</strong> Roma, on<strong>de</strong> se encontrava quan<strong>do</strong><br />

da proibição feita ao pároco <strong>de</strong> Paranacity, <strong>do</strong>m Jaime escreveu cartas, nos dias 4 e 5 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1971, ao<br />

chefe da agência regional <strong>do</strong> SNI e ao comandante da 5ª Região Militar, ambos da capital <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, manifestan<strong>do</strong><br />

estranheza por não ter si<strong>do</strong> comunica<strong>do</strong>, conforme suas palavras, <strong>de</strong> importante “informação que,<br />

penso, como Bispo da <strong>Igreja</strong> nesta Circunscrição Eclesiástica <strong>de</strong> Maringá, <strong>de</strong>vo saber”. Acrescentou ainda nas<br />

cartas a ambos: “[...] surpreen<strong>de</strong>-me a atitu<strong>de</strong> tomada, a não ser que haja outros motivos que <strong>de</strong>sconheço, e<br />

tão graves, que gostaria <strong>de</strong> saber” (COELHO, 1971, 2 f.).<br />

A resposta dada pelas duas autorida<strong>de</strong>s militares remeteu o assunto à Secretaria <strong>de</strong> Educação e Cultura<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, a cuja exclusiva responsabilida<strong>de</strong>, conforme informaram, estava afeta a medida tomada. Em viagem,<br />

dias mais tar<strong>de</strong>, à capital <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, <strong>do</strong>m Jaime procurou Harol<strong>do</strong> Carvalhi<strong>do</strong>, secretário daquela pasta,<br />

obten<strong>do</strong> <strong>de</strong>le a explicação <strong>de</strong> que bastava Robles ter na DOPS a ficha com os informes anota<strong>do</strong>s para lhe acarretar<br />

imediata interdição ao magistério estadual. Des<strong>de</strong> 1971, <strong>de</strong> fato, e já se passaram 35 anos, nunca mais<br />

o “nomina<strong>do</strong>” (para usar o jargão <strong>do</strong>s órgãos <strong>de</strong> informação <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>), ministrou única aula remunerada<br />

em escola pública.<br />

Entrevista<strong>do</strong> pelo O Diário em 12 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2006, o advoga<strong>do</strong> e jornalista pernambucano Laércio<br />

Souto Maior, uma das maiores vítimas, entre nós, da repressão <strong>do</strong>s anos <strong>de</strong> chumbo, <strong>de</strong>clarou:<br />

Depois disso [cerco, em outubro <strong>de</strong> 1968, <strong>de</strong> estudantes a comício <strong>de</strong> Paulo Pimentel e ameaça<br />

<strong>de</strong> intervenção da Polícia Militar], logo em seguida, no mês <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, foi <strong>de</strong>creta<strong>do</strong><br />

o AI-5 e, na mesma semana, eu e mais <strong>do</strong>is maringaenses fomos convoca<strong>do</strong>s pelo<br />

DOPS. Eu fiquei quase um dia <strong>de</strong>ti<strong>do</strong>. Quem eram esses três maringaenses? Eu, Francisco<br />

<strong>de</strong> Souza e o padre Orival<strong>do</strong> Robles (SOUTO MAIOR, 2006, p. D5, grifo nosso).<br />

Na caminhada <strong>de</strong> quatro décadas à frente da <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Maringá, o primeiro bispo firmou-se como condutor<br />

<strong>de</strong> sua <strong>Igreja</strong> no rumo <strong>do</strong> crescimento espiritual, sem <strong>de</strong>scui<strong>do</strong> <strong>do</strong> aprimoramento cultural, moral, econômico<br />

e social <strong>do</strong> povo que lhe coube dirigir. Deixou impressa a marca <strong>de</strong> uma <strong>Igreja</strong> voltada à evangelização<br />

<strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> carne e osso, participantes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> real e contraditório em que vivemos. Nunca se cansou <strong>de</strong><br />

incentivar padres, religiosos e fiéis cristãos leigos a se inserirem nos <strong>de</strong>safios concretos da sua comunida<strong>de</strong> em<br />

vista <strong>do</strong> bem-estar, da paz e da convivência harmônica entre os cidadãos.<br />

Por toda a extensão da arquidiocese <strong>de</strong> Maringá, embora com falhas <strong>de</strong>correntes da natureza humana,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> há muito, vem fazen<strong>do</strong>-se ouvir a voz da <strong>Igreja</strong> na <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s menos favoreci<strong>do</strong>s e na luta por vida digna<br />

para to<strong>do</strong>s. Não em nome <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologias nem <strong>de</strong> interesses políticos, mas por seu compromisso com o Evangelho<br />

<strong>de</strong> Cristo, a <strong>Igreja</strong> Católica enfrenta – e entre nós os exemplos estão à mostra, bastan<strong>do</strong> ter olhos para ver<br />

– <strong>de</strong>licadas questões como o <strong>de</strong>semprego e a falta <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s para as novas gerações; o déficit habitacional;<br />

as carências no campo da educação, da saú<strong>de</strong> e da segurança; o agronegócio que esmaga a agricultura<br />

familiar; o aviltamento <strong>do</strong>s preços <strong>do</strong>s produtos agrícolas; a insegurança <strong>do</strong>s pequenos agricultores diante<br />

<strong>de</strong> intempéries e malogro <strong>de</strong> safras; o direito ao repouso <strong>do</strong>minical <strong>de</strong> corta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cana, no campo, e <strong>de</strong><br />

comerciários, na cida<strong>de</strong>; a insegurança <strong>do</strong>s assenta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> MST; a incerteza <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res sazonais (bóiasfrias);<br />

a falta <strong>de</strong> indústrias <strong>de</strong> transformação que gerem mão-<strong>de</strong>-obra próxima ao produtor; o esvaziamento<br />

<strong>do</strong>s pequenos municípios; a exploração da mulher e <strong>do</strong> menor; a corrupção <strong>de</strong> muitos que <strong>de</strong>têm o po<strong>de</strong>r em<br />

qualquer nível; a injusta retribuição <strong>do</strong> trabalho... e uma interminável série <strong>de</strong> inquietações suportadas pela<br />

maioria da população. Se elas inci<strong>de</strong>m sobre a vida <strong>de</strong> homens e mulheres preocupa<strong>do</strong>s com o bem <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s<br />

os cidadãos, aos membros da <strong>Igreja</strong> não são, <strong>de</strong> forma nenhuma, indiferentes. Ao contrário:<br />

As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias <strong>do</strong>s homens <strong>de</strong> hoje, sobretu<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s pobres e <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas<br />

e as angústias <strong>do</strong>s discípulos <strong>de</strong> Cristo. Não se encontra nada verda<strong>de</strong>iramente humano<br />

que não lhes ressoe no coração. Com efeito, a sua comunida<strong>de</strong> se constitui <strong>de</strong> homens<br />

207<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


208<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

que, reuni<strong>do</strong>s em Cristo, são dirigi<strong>do</strong>s pelo Espírito Santo, na sua peregrinação para o<br />

<strong>Reino</strong> <strong>do</strong> Pai. Eles aceitaram a mensagem da salvação que <strong>de</strong>ve ser proposta a to<strong>do</strong>s.<br />

Portanto, a comunida<strong>de</strong> cristã se sente verda<strong>de</strong>iramente solidária com o gênero humano<br />

e com sua história (LG 1).<br />

Atenta às orientações da CNBB, a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong> Maringá esmerou-se, em especial nas décadas <strong>de</strong><br />

1970-1980, por converter-se em <strong>Igreja</strong> servi<strong>do</strong>ra, como proposto, à época, na chamada linha 6 <strong>do</strong> Plano<br />

<strong>de</strong> Pastoral <strong>de</strong> Conjunto, 20 e hoje, nas quatro exigências da evangelização inculturada. Des<strong>de</strong> os primeiros<br />

lampejos da inspirada contribuição latino-americana que foram as CEBs – Comunida<strong>de</strong>s Eclesiais <strong>de</strong> Base, a<br />

diocese <strong>de</strong> Maringá, ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> outras <strong>do</strong> Paraná, abraçou com fervor essa “uma nova forma <strong>de</strong> ser <strong>Igreja</strong>” e<br />

dispôs-se a caminhar em busca <strong>de</strong> outra socieda<strong>de</strong> possível. Na esteira aberta pelo Concílio Vaticano II, por<br />

Me<strong>de</strong>llín e Puebla, o Paraná foi alerta<strong>do</strong> para modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inserção da fé na vida que antes não eram postas<br />

em prática. Em sintonia <strong>de</strong> pensamento e trabalho com o Regional Sul II da CNBB, a <strong>Igreja</strong> maringaense não<br />

estranhou comprometer-se com as situações e os reclamos vivos <strong>do</strong> seu povo.<br />

Embora não falte quem, por <strong>de</strong>sinformação ou malícia, insista em classificá-las <strong>de</strong> forma diversa, é oportuno<br />

ressaltar a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> celebrações populares como a Romaria <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r e Romaria da Terra, além<br />

<strong>de</strong> organismo como a CPT – Comissão Pastoral da Terra, muitas vezes acusada <strong>de</strong> contrária ao Evangelho.<br />

Às três se liga <strong>de</strong> forma indissociável, na nossa arquidiocese, o nome <strong>de</strong> padre Zenil<strong>do</strong> Meggiato. 21 Comprometi<strong>do</strong><br />

com a causa da terra e <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r rural, ele não se ocupa com estéreis discussões <strong>de</strong> gabinete,<br />

mas enfrenta corajosamente as causas <strong>do</strong> sofrimento <strong>de</strong> irmãos excluí<strong>do</strong>s <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> injusta. Seu envolvimento<br />

com a pobreza não se traduz em discurso i<strong>de</strong>ológico, mas em exemplo <strong>de</strong> <strong>de</strong>spojamento pessoal<br />

e comunhão com os fracos. Incompreendi<strong>do</strong>, processa<strong>do</strong> várias vezes, ameaça<strong>do</strong> <strong>de</strong> morte, não se cansa nem<br />

<strong>de</strong>sanima. Em nosso meio, Meggiato afirma-se como li<strong>de</strong>rança evangelicamente solidária com o homem <strong>do</strong><br />

campo <strong>do</strong> Paraná e <strong>do</strong> Brasil.<br />

20ª Romaria da Terra <strong>do</strong> Paraná, realizada em São Pedro <strong>do</strong> Ivaí, no dia 21 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2005.<br />

20 O histórico PPC, elabora<strong>do</strong> pelo episcopa<strong>do</strong> brasileiro para o qüinqüênio 1966-1970, direcionava a ação da <strong>Igreja</strong> para seis linhas: 1.<br />

unida<strong>de</strong> visível, 2. missão, 3. catequese, 4. liturgia, 5. ecumenismo e 6. <strong>presença</strong> no mun<strong>do</strong>. Em maio <strong>de</strong> 2004, foi relança<strong>do</strong> como<br />

nº 77 da série “<strong>do</strong>cumentos da cnbb” (coleção azul).<br />

21 A arquidiocese <strong>de</strong> Maringá realizou, em 1º <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2006, a 17ª Romaria <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r. A Romaria da Terra <strong>de</strong> 2006 foi a 21ª<br />

promovida no Paraná. A CPT, entida<strong>de</strong> nacional ligada à CNBB, foi fundada em 1975. Na cida<strong>de</strong> paranaense <strong>de</strong> Cascavel aconteceu,<br />

em janeiro <strong>de</strong> 1984, o primeiro encontro <strong>do</strong> MST – Movimento <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res Rurais Sem Terra.


Se, em tempos passa<strong>do</strong>s, por causa <strong>de</strong> séculos <strong>de</strong> uma prática apenas “espiritual” e intimista <strong>do</strong> catoli-<br />

cismo, ações <strong>de</strong>sse tipo eram vistas como estranhas à fé, com o passar <strong>do</strong>s anos foram impon<strong>do</strong>-se, na medida<br />

em que se firmou a consciência <strong>de</strong> sua ligação com a fé traduzida em obras. Hoje ações transforma<strong>do</strong>ras da<br />

socieda<strong>de</strong> não conflitam com os gestos “religiosos” tradicionais <strong>de</strong> missa, confissão, catequese, liturgia, reunião<br />

<strong>de</strong> grupo, leitura da Bíblia, oração e <strong>de</strong>voção popular: terço, via-sacra, novena, procissão, coroação <strong>de</strong><br />

Nossa Senhora etc.<br />

Em to<strong>do</strong>s os agrupamentos humanos da diocese, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu primeiro momento, li<strong>de</strong>ranças católicas<br />

somaram-se às forças vivas da socieda<strong>de</strong> civil no reconhecimento da responsabilida<strong>de</strong> social comum. Fiéis<br />

cristãos leigos sempre foram instruí<strong>do</strong>s a não se omitirem frente às obrigações <strong>de</strong> cidadãos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> cria<strong>do</strong><br />

por Deus para ser morada <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s. Temas <strong>de</strong> justiça social, participação popular, direitos humanos, cidadania<br />

em vários níveis, ecologia, <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> meio ambiente etc. vêm sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s com naturalida<strong>de</strong> nas<br />

paróquias e nas comunida<strong>de</strong>s menores. Fiéis católicos, em maior ou menor grau, comprovam interesse pela<br />

formação da consciência política e social, como se viu na freqüência à Escola <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong> Fé e Política,<br />

fundada em 1996, pelo CEPAT – Centro <strong>de</strong> Pesquisas e Apoio aos Trabalha<strong>do</strong>res, com respal<strong>do</strong> <strong>do</strong> Regional<br />

Sul II da CNBB. O mesmo se nota no estu<strong>do</strong> das Semanas Sociais promovidas pela CNBB Nacional e em<br />

momentos marcantes da <strong>Igreja</strong> arquidiocesana. Relatam-se casos <strong>de</strong> pioneirismo da <strong>Igreja</strong> em processos <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s<br />

a agregar valor ao produto <strong>do</strong> trabalho e a aumentar a renda familiar, a melhorar as condições <strong>de</strong> vida<br />

<strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res e <strong>de</strong> suas famílias através <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> higiene, saneamento, horta, coleta seletiva <strong>de</strong> lixo etc.<br />

Há que ressaltar a ação da Pastoral da Saú<strong>de</strong> e da Pastoral da Criança, importantes agentes transforma<strong>do</strong>res da<br />

vida das pessoas. Esta última, nascida em Florestópolis, na vizinha arquidiocese <strong>de</strong> Londrina e alicerçada em<br />

estrutura ágil e eficaz, irradia sua <strong>presença</strong> transforma<strong>do</strong>ra para praticamente todas as paróquias da arquidiocese<br />

<strong>de</strong> Maringá. Ainda que políticos inescrupulosos ou pessoas <strong>de</strong>sonestas volta e meia tentem pegar carona<br />

nos méritos <strong>do</strong> seu trabalho exemplar, a Pastoral da Criança nasceu e se conserva genuína obra evangeliza<strong>do</strong>ra<br />

da <strong>Igreja</strong> Católica <strong>de</strong>ntro da exigência <strong>do</strong> serviço.<br />

Muitas entida<strong>de</strong>s civis vicejam em Maringá e região, nascidas da inspiração <strong>de</strong> cristãos leigos conscientes<br />

ou por eles integradas, com ganhos reais na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das pessoas e da comunida<strong>de</strong>. Assim o Movimento<br />

Voz e Vez da Mulher; o MECUM – Movimento Ecumênico <strong>de</strong> Maringá; a ASSINDI – Associação<br />

Indigenista <strong>de</strong> Maringá, fundada a 19 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2000, pela li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> Darcy Dias <strong>de</strong> Souza, com meritório<br />

trabalho junto a índios da etnia Kaingang e Guarani; a Associação União e Consciência Negra; os Amigos <strong>do</strong><br />

HU – Hospital Universitário cujo primeiro coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r foi o arcebispo <strong>do</strong>m Murilo, sucedi<strong>do</strong> por <strong>do</strong>utor<br />

Aníbal Bianchini da Rocha, o “jardineiro” <strong>de</strong> Maringá; associações, sindicatos, entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe, clubes <strong>de</strong><br />

serviço, ONGs etc. O respeito <strong>de</strong> que a <strong>Igreja</strong> Católica se fez merece<strong>do</strong>ra tem alicerce no valor <strong>de</strong> figuras<br />

respeitáveis <strong>do</strong> seu grêmio, à frente das quais elevam-se <strong>do</strong>m Jaime, <strong>do</strong>m Murilo, <strong>do</strong>m João, <strong>do</strong>m Anuar...<br />

Vez por outra, em episódios que jogam com o <strong>de</strong>stino da população inteira ou <strong>de</strong> grupos, quan<strong>do</strong> a exigência<br />

é <strong>de</strong> alguém confiável, seus representantes são lembra<strong>do</strong>s para função <strong>de</strong> coman<strong>do</strong> ou <strong>de</strong> arbitragem. Não<br />

certamente por causa <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r econômico ou político, que a <strong>Igreja</strong> não possui, mas com base no patrimônio<br />

<strong>de</strong> respeito e credibilida<strong>de</strong> construí<strong>do</strong> por sua <strong>presença</strong> voltada unicamente à evangelização.<br />

Nas eleições municipais <strong>de</strong> Maringá em 1996, além <strong>de</strong>, entre <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> candidatos a verea<strong>do</strong>r, indicar<br />

sete que consi<strong>de</strong>rou dignos <strong>do</strong> voto <strong>de</strong> eleitores católicos, a <strong>Igreja</strong> promoveu ainda, através <strong>do</strong> Conselho<br />

Arquidiocesano <strong>de</strong> Leigos, no auditório Dona Guilhermina, ao la<strong>do</strong> da Cúria Metropolitana, no dia 4 <strong>de</strong><br />

setembro, um histórico <strong>de</strong>bate <strong>do</strong> qual participaram os nove candidatos a prefeito <strong>do</strong> município. O evento,<br />

realiza<strong>do</strong> pela primeira vez na cida<strong>de</strong>, foi <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como “o maior e mais importante acontecimento político<br />

<strong>do</strong> ano, pelo menos para os leigos da <strong>Igreja</strong> que está em Maringá” (LEAL, 1996, p. 5). Pelo acatamento que<br />

conquistou com a serieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas propostas acima <strong>de</strong> interesses pequenos, outra vez a <strong>Igreja</strong> Católica foi<br />

solicitada, no governo arquidiocesano <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Murilo, em 14 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2000, a conduzir novo encontro<br />

político que ficou conheci<strong>do</strong> como o <strong>de</strong>bate da <strong>Igreja</strong> Católica. Por mais <strong>de</strong> três horas, como acontecera<br />

quatro anos antes, também nove candidatos à prefeitura municipal, agora no plenário da Câmara Municipal,<br />

discutiram suas propostas num clima <strong>de</strong> respeito e civismo. Grupos <strong>de</strong> candidatos a verea<strong>do</strong>r, em várias paróquias,<br />

tiveram oportunida<strong>de</strong>, em condições <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> dialogar com os eleitores para tornarem conhe-<br />

209<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


210<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

cida sua plataforma legislativa. As gran<strong>de</strong>s questões levadas a <strong>de</strong>bate popular invariavelmente encontram eco<br />

no coração da <strong>Igreja</strong> que está em Maringá.<br />

No atual <strong>de</strong>safio proposto às famílias pelo criminoso universo das drogas, embora incapaz <strong>de</strong> alcançar sua<br />

erradicação, a <strong>Igreja</strong> Católica vem <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> o mais consistente programa <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

químicos pratica<strong>do</strong> na região. Em agosto <strong>de</strong> 1995, <strong>de</strong>pois que o procurou a mãe <strong>de</strong> um jovem interna<strong>do</strong> em<br />

Franca para tratamento da <strong>de</strong>pendência, <strong>do</strong>m Jaime repartiu com padre Júlio Antônio da Silva, cura da catedral,<br />

sua angústia <strong>de</strong> pastor diante <strong>do</strong> problema. Com voluntários reuni<strong>do</strong>s nos colégios católicos e no Instituto<br />

<strong>de</strong> Educação, padre Júlio formou um grupo disposto a discutir providências. Sob inspiração <strong>do</strong> NAREV<br />

– Associação Núcleo <strong>de</strong> Apoio e Recuperação da Vida, da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Franca, <strong>de</strong>cidiu-se pela criação em Maringá<br />

<strong>de</strong> organismo semelhante. Em reunião havida no salão paroquial da igreja <strong>de</strong> Cristo Ressuscita<strong>do</strong>, no dia 3 <strong>de</strong><br />

março <strong>de</strong> 1997, foi criada a Associação Maringá Apoian<strong>do</strong> a Recuperação <strong>de</strong> Vidas – MAREV, <strong>de</strong>stinada a realizar<br />

o mesmo trabalho <strong>de</strong> Franca, fundamenta<strong>do</strong> sobre o tripé espiritualida<strong>de</strong>, disciplina e laborterapia. Papel<br />

importante <strong>de</strong>sempenhou um grupo <strong>de</strong> fiéis da catedral, existente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1992, batiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> Projeto Mais Vida,<br />

que promovia acampamentos, encontros <strong>de</strong> revitalização <strong>do</strong> ser-pessoa, retiros espirituais, acompanhamento<br />

personaliza<strong>do</strong> etc. Para obtenção <strong>do</strong> espaço físico necessário à implantação <strong>do</strong> centro <strong>de</strong> terapia foi fundamental<br />

a generosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> padre Gerhard Schnei<strong>de</strong>r, proprietário <strong>de</strong> uma chácara, o “Recanto Patmos”, com área <strong>de</strong><br />

cinco alqueires paulistas, distante 18km <strong>do</strong> centro <strong>de</strong> Maringá, que foi por ele <strong>do</strong>ada à instituição. O MAREV<br />

tem sua se<strong>de</strong> urbana na Rua Lopes Trovão, 395, na mesma residência em que <strong>do</strong>m Jaime se instalou em 1957,<br />

quan<strong>do</strong> chegou a Maringá. O prédio precisou sofrer algumas adaptações para servir como Casa <strong>de</strong> Apoio “São<br />

Francisco <strong>de</strong> Assis”, nome atual, inaugurada pelo arcebispo <strong>de</strong> Maringá no dia 5 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2000. Aí se organizam<br />

a administração e a triagem, sen<strong>do</strong> também acolhidas as famílias <strong>do</strong>s <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

O MAREV <strong>de</strong>sfruta hoje <strong>do</strong> reconhecimento <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> pública municipal (Lei nº 4675/98), estadual<br />

(Lei nº 13.091/2001) e fe<strong>de</strong>ral (Portaria nº 725/2001), ten<strong>do</strong> obti<strong>do</strong> no CNAS – Conselho Nacional<br />

<strong>de</strong> Assistência Social o registro nº R0047/2003, ao qual acompanhou o certifica<strong>do</strong> nº CCEAS0026/2003,<br />

renovável a cada triênio. Para o bom êxito <strong>do</strong> trabalho requer-se o comprometimento da família, que recebe<br />

a orientação <strong>do</strong> Grupo <strong>de</strong> Amor Exigente Paulo <strong>de</strong> Tarso, funda<strong>do</strong> em Maringá em 8 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1995,<br />

entida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio familiar aos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes em fase <strong>de</strong> tratamento. Des<strong>de</strong> sua fundação até julho <strong>de</strong> 2006,<br />

o MAREV conseguiu <strong>de</strong>volver à socieda<strong>de</strong> 983 (novecentos e oitenta e três) homens saudáveis, muitos <strong>do</strong>s<br />

quais já beiravam perigosamente a auto<strong>de</strong>struição.<br />

Pela <strong>de</strong>dicação manifestada a pessoas carentes, em 1996, Schnei<strong>de</strong>r recebeu da Prefeitura <strong>do</strong> Município<br />

<strong>de</strong> Maringá concessão para uso <strong>de</strong> um terreno <strong>de</strong> quase <strong>de</strong>z alqueires paulistas, situa<strong>do</strong> no distrito <strong>de</strong> Iguatemi,<br />

no qual implantou duas obras às quais chamou “recantos”. No “Recanto Mun<strong>do</strong> Jovem” são acolhi<strong>do</strong>s<br />

por volta <strong>de</strong> 25 a<strong>do</strong>lescentes <strong>do</strong> sexo masculino, com ida<strong>de</strong> entre 14 e 18 anos, vítimas <strong>de</strong> drogas, aos quais<br />

é proporciona<strong>do</strong> tratamento. Em agosto <strong>de</strong> 1999, ex-<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes recupera<strong>do</strong>s pelo MAREV passaram a<br />

colaborar no trabalho ali <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>. A segunda obra, “Recanto da Esperança” <strong>de</strong>stina-se a abrigar andarilhos<br />

<strong>do</strong> sexo masculino que perambulam pela cida<strong>de</strong>, sem família nem residência. Aos cerca <strong>de</strong> 30 assisti<strong>do</strong>s<br />

é <strong>de</strong>volvida a auto-estima através <strong>do</strong> sustento que conseguem com o trabalho agrícola, abrin<strong>do</strong> possibilida<strong>de</strong><br />

para sua reintegração social e religiosa. Um terceiro recanto, próximo à Penitenciária Estadual <strong>de</strong> Maringá,<br />

na Estrada Ban<strong>de</strong>irantes, Schnei<strong>de</strong>r <strong>de</strong>nominou “Recanto da Fraternida<strong>de</strong> – Plantan<strong>do</strong> Vidas”. Em terreno<br />

também cedi<strong>do</strong> pela prefeitura municipal, com área aproximada <strong>de</strong> sete alqueires paulistas, abrigam-se expresidiários<br />

e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes químicos em processo <strong>de</strong> ressocialização e tratamento. O trabalho é dirigi<strong>do</strong> por<br />

fiéis cristãos leigos voluntários e conta com a colaboração <strong>de</strong> profissionais da área.<br />

Assim como <strong>do</strong> NAREV <strong>de</strong> Franca surgiu o MAREV <strong>de</strong> Maringá, também este gerou prole sadia. Na<br />

esteira <strong>do</strong>s bons resulta<strong>do</strong>s colhi<strong>do</strong>s nasceram APREV – Associação Pru<strong>de</strong>ntina Recuperan<strong>do</strong> Vidas, <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte<br />

Pru<strong>de</strong>nte (SP), e CIAREV – Associação Cianorte Apoian<strong>do</strong> e Recuperan<strong>do</strong> Vidas, <strong>de</strong> Cianorte (PR).<br />

Dom Murilo tornou-se responsável por novos passos na caminhada <strong>de</strong> uma <strong>Igreja</strong> que encontrou disposta,<br />

apesar das naturais falhas, a servir aos irmãos. Por sua iniciativa, religiosas da Copiosa Re<strong>de</strong>nção para cá<br />

vieram no dia 12 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1998, com o propósito <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r jovens <strong>do</strong> sexo feminino, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

químicas e gestantes grávidas. A fim <strong>de</strong> acolhê-las a arquidiocese alugou uma residência na Gleba Maringá, pró-


xima <strong>do</strong> trevo <strong>de</strong> saída para Paranavaí, à qual foi da<strong>do</strong> o nome <strong>de</strong> Casa <strong>de</strong> Nazaré. A voluntária italiana <strong>do</strong>utora<br />

Maria Concetta Filizzola, <strong>de</strong> profunda vida cristã, que freqüentemente visita seus familiares em Maringá, comunicou<br />

ao arcebispo o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> construir uma obra <strong>de</strong> socorro a jovens que, ao engravidarem, sem estrutura<br />

para isso, tornavam-se vítimas <strong>de</strong> rejeição e preconceito. Com dinheiro próprio e colaboração <strong>de</strong> católicos da<br />

Or<strong>de</strong>m Franciscana Secular Italiana das regiões <strong>de</strong> Basilicata e Salerno, além das paróquias <strong>de</strong> San Costantino<br />

di Rivello, Lagonegro, Potenza, Lauria, Sapri Scario e Eboli, e também <strong>de</strong> Maringá, reuniu a quase totalida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>s recursos necessários à construção. O terreno foi obti<strong>do</strong> por <strong>do</strong>ação da Prefeitura <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> Maringá.<br />

Terminada a obra, ainda que seus objetivos originais não coincidissem inteiramente com os da Casa <strong>de</strong> Nazaré,<br />

Concetta concor<strong>do</strong>u em ce<strong>de</strong>r-lhe as novas instalações, na Rua Rio Samambaia, nº 1161, conjunto Itaparica.<br />

Em sua nova versão e en<strong>de</strong>reço, a Casa <strong>de</strong> Nazaré foi inaugurada no dia 4 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2000.<br />

Ainda no campo <strong>do</strong> serviço ao mun<strong>do</strong>, que a <strong>Igreja</strong> enten<strong>de</strong> como exigência da evangelização, no dia<br />

11 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1999, um grupo <strong>de</strong> pessoas preocupadas com a falta <strong>de</strong> leitos nos hospitais <strong>de</strong> Maringá para<br />

atendimento aos porta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> vírus HIV/AIDS, dirigiu-se a <strong>do</strong>m Murilo na tentativa <strong>de</strong> obter algum tipo<br />

<strong>de</strong> ajuda. Na catedral, padre Júlio era testemunha <strong>de</strong> idêntica preocupação revelada pelo grupo da promoção<br />

humana <strong>de</strong> sua comunida<strong>de</strong> paroquial. Lançou, por isso, aos fiéis o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> ver construída na cida<strong>de</strong> uma<br />

casa <strong>de</strong> apoio aos porta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> vírus HIV. Com o empenho <strong>de</strong> um <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong> voluntaria<strong>do</strong>, sobretu<strong>do</strong> feminino,<br />

e a colaboração <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r público municipal, no dia 7 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2001 foi possível inaugurar a primeira<br />

etapa da Casa <strong>de</strong> Emaús – Centro <strong>de</strong> Apoio ao Porta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Vírus HIV/AIDS. Ela nasceu sob a luz da experiência<br />

<strong>de</strong> fé <strong>do</strong>s discípulos que <strong>de</strong>scobriram o Senhor na pessoa <strong>do</strong> <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> que com eles caminhava<br />

(LUCAS 24, 12-35). A iniciativa preten<strong>de</strong> recuperar a dignida<strong>de</strong> <strong>do</strong> porta<strong>do</strong>r, oferecen<strong>do</strong>-lhe suporte nos<br />

níveis humano, espiritual e psicológico, garantin<strong>do</strong> melhora das condições <strong>de</strong> vida e, conseqüentemente, <strong>do</strong><br />

tempo <strong>de</strong> sobrevida. Trata-se, como é fácil perceber, <strong>de</strong> proposta <strong>de</strong> serviço numa área em que se <strong>de</strong>terioram<br />

a solidarieda<strong>de</strong> e a dignida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s clientes e <strong>de</strong> seus familiares. Muitos se encontram <strong>de</strong>sampara<strong>do</strong>s e em situação<br />

que <strong>de</strong>sestimula o auto-cuida<strong>do</strong>, negligencian<strong>do</strong> até o tratamento. Os atendi<strong>do</strong>s pertencem, na maioria,<br />

às faixas mais carentes da população. São os que mais sofrem, porque a <strong>do</strong>ença os torna frágeis física, moral e<br />

psicologicamente. Muitos já per<strong>de</strong>ram o emprego, não dispõem <strong>de</strong> fonte <strong>de</strong> renda nem <strong>de</strong> sustentáculo familiar.<br />

São mais <strong>de</strong> 200 pessoas cuja situação afeta igualmente as suas famílias. Além das ações oferecidas pelos<br />

organismos oficiais da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, a casa se vale também <strong>de</strong> parcerias com universida<strong>de</strong>s locais em<br />

várias modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atendimento. Sua área <strong>de</strong> abrangência compreen<strong>de</strong> os municípios <strong>de</strong> Maringá, Sarandi,<br />

Paiçandu, Santa Fé, Nossa Senhora das Graças, Fênix, Marialva, Nova Esperança, Astorga, Floresta, além <strong>de</strong><br />

outros 20 municípios. O espírito que anima o trabalho resi<strong>de</strong>, porém, mais que tu<strong>do</strong>, no amor <strong>de</strong> voluntários,<br />

como Dirce Maria Bernardi Henriques, falecida a 17 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2006. A Casa <strong>de</strong> Emaús – Centro <strong>de</strong> Apoio,<br />

confiada à Socieda<strong>de</strong> Beneficente Estrela da Manhã, está localizada na Rua Professora Letícia <strong>de</strong> Paula Molinari,<br />

239, esquina com Rua Ana Cor<strong>de</strong>iro Dias, no Jardim Imperial, em Maringá.<br />

Na 21ª assembléia geral <strong>do</strong> povo <strong>de</strong> Deus da arquidiocese <strong>de</strong> Maringá, realizada em 15 <strong>de</strong> novembro<br />

<strong>de</strong> 2003, no Colégio Regina Mundi, o arcebispo <strong>do</strong>m João Braz <strong>de</strong> Aviz apresentou o trabalho <strong>de</strong> Jaime<br />

Graciano Trintin, integrante <strong>do</strong> Conselho Arquidiocesano <strong>de</strong> Pastoral em nome da Comissão <strong>de</strong> Serviço,<br />

<strong>do</strong>utor em Economia e professor na Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Maringá. Trintin elaborou pesquisa abrangente<br />

sobre a evolução <strong>do</strong>s 399 municípios paranaenses quanto ao IDH (Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano),<br />

apontan<strong>do</strong> potencialida<strong>de</strong>s e carências <strong>de</strong> cada um. Pelo valor científico <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, a assembléia o a<strong>do</strong>tou, nos<br />

municípios abrangi<strong>do</strong>s pela arquidiocese, como instrumental <strong>de</strong> conhecimento da realida<strong>de</strong> em vista da ação<br />

evangeliza<strong>do</strong>ra da <strong>Igreja</strong>.<br />

Em 2006, um grupo <strong>de</strong> padres <strong>do</strong> clero diocesano juntamente com li<strong>de</strong>ranças leigas <strong>de</strong> várias paróquias<br />

criou a ARAS – Associação <strong>de</strong> Reflexão e Ação Social, ligada à Comissão <strong>de</strong> Serviço em nível arquidiocesano.<br />

São seus objetivos:<br />

• Contribuir com a inclusão e a eqüida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s indivíduos e grupos excluí<strong>do</strong>s.<br />

• Promover o trabalho em re<strong>de</strong> no que se refere às ações sociais em funcionamento nas diversas comunida<strong>de</strong>s<br />

paroquiais.<br />

211<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


212<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

Nos dias 22 e 23 <strong>de</strong> julho, no CEPA – Centro <strong>de</strong> Pastoral da <strong>Arquidiocese</strong>, em Maringá, a ARAS, da<br />

Comissão <strong>de</strong> Serviço arquidiocesana, promoveu a 1ª Conferência Arquidiocesana para Ações Sociais com o<br />

objetivo <strong>de</strong> estudar inclusão social, Doutrina Social da <strong>Igreja</strong>, políticas públicas e experiências institucionais.<br />

A <strong>Igreja</strong> presente em Maringá manifesta assim seu engajamento com a sorte daqueles para quem se<br />

sente enviada. Comprova sua convicção <strong>de</strong> que o Evangelho se prega também através <strong>do</strong> serviço presta<strong>do</strong><br />

aos irmãos.<br />

As obras acima relacionadas, convém repetir, estão longe <strong>de</strong> esgotar a ação da <strong>Igreja</strong> arquidiocesana<br />

nessa área. É difícil encontrar uma só paróquia, um instituto religioso masculino ou feminino, um colégio<br />

católico, um grupo <strong>de</strong> fiéis cristãos leigos que não responda por algum gesto <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> socorro<br />

imediato, <strong>de</strong> assistência ou <strong>de</strong> promoção humana transforma<strong>do</strong>ra da vida. Não se trata <strong>de</strong> simples comiseração<br />

ou reação emocional diante da <strong>do</strong>r humana. O envolvimento <strong>do</strong>s cristãos traduz o corolário da fé que<br />

praticam; é conseqüência natural <strong>do</strong> seguimento daquele que veio “não para ser servi<strong>do</strong>, mas para servir” (cf.<br />

MARCOS 10, 45).<br />

Antonio Facci, pioneiro <strong>de</strong> Maringá e escritor, observou, há não muito tempo, que Maringá se constitui<br />

em cida<strong>de</strong> diferente <strong>de</strong> todas as outras <strong>de</strong> igual porte. Não só pela exuberância <strong>de</strong> uma arborização que ainda<br />

preserva parte <strong>do</strong> ver<strong>de</strong> da mata original. Não só pela pujança <strong>de</strong> seu comércio, que chegou a ostentar, faz<br />

algum tempo, o posto <strong>de</strong> segunda praça atacadista <strong>do</strong> Brasil, atrás apenas <strong>de</strong> São Paulo. Não só pelo número<br />

<strong>de</strong> universida<strong>de</strong>s e cursos superiores, que hoje atraem estudantes <strong>do</strong> Brasil inteiro e <strong>de</strong> países vizinhos. Acima<br />

<strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, Maringá é diferente porque, sessenta anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> nascida, mantém eleva<strong>do</strong> nível <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>,<br />

como acontecia entre os primeiros mora<strong>do</strong>res. As <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> obras beneficentes, multiplicadas e visíveis por<br />

to<strong>do</strong>s os cantos, refletem a marca <strong>de</strong> um sofri<strong>do</strong> começo, quan<strong>do</strong> os habitantes daquela boca <strong>de</strong> mato cultivavam<br />

laços fortes <strong>de</strong> união, sob pena <strong>de</strong> sucumbirem às agruras <strong>do</strong> meio. Não se podia estiolar o espírito <strong>de</strong><br />

família que os tornava não só uni<strong>do</strong>s, mas responsáveis um pelo outro, e to<strong>do</strong>s, pela cida<strong>de</strong> que era sua.<br />

Em outros lugares esse calor <strong>de</strong> vida se per<strong>de</strong>u. Não em Maringá. Por uma razão historicamente inegável,<br />

segun<strong>do</strong> Facci. Porque Maringá teve o privilégio <strong>de</strong> acolher um homem que lhe ensinou, pelo exemplo<br />

<strong>de</strong> anos segui<strong>do</strong>s, a abrir o coração para as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> outro. Mais ainda: ele transmitiu uma lição que<br />

Maringá incorporou à sua experiência <strong>de</strong> vida: a lição <strong>de</strong> que o outro não é estranho, é irmão. Esse homem<br />

se chama <strong>do</strong>m Jaime Luiz Coelho. 22<br />

Para confirmar, quan<strong>do</strong> a ACIM – Associação Comercial e Industrial <strong>de</strong> Maringá, no dia 6 <strong>de</strong> agosto<br />

<strong>de</strong> 2003, entregou a primeira comenda Américo Marques Dias, criada para comemorar seu cinqüentenário,<br />

o presi<strong>de</strong>nte Arioval<strong>do</strong> Costa Paulo confessou que não encontrou dificulda<strong>de</strong> em escolher o homenagea<strong>do</strong>.<br />

Não podia ser outro: “se Maringá é hoje uma cida<strong>de</strong> unida e comprometida, <strong>do</strong>m Jaime foi o responsável por<br />

isso” (PAULO, 2003, 3 f.).<br />

A evAngelizAção em novA fAse<br />

Convencida <strong>de</strong> que o Evangelho <strong>de</strong>ve ser prega<strong>do</strong> “<strong>de</strong> cima <strong>do</strong>s telha<strong>do</strong>s” (MATEUS 10, 27), ao longo<br />

<strong>de</strong> seus vinte séculos, por divina assistência, a <strong>Igreja</strong> foi premiada com exímios mestres da palavra. Ela recebe o<br />

alento <strong>do</strong> Espírito <strong>de</strong> Deus presente em Jesus <strong>de</strong> Nazaré, Palavra encarnada <strong>do</strong> Pai, que as multidões ouviam<br />

fascinadas (cf. LUCAS 4, 15.32). Na esteira <strong>de</strong> Paulo, apóstolo <strong>do</strong>s gentios, e vigoroso artífice da palavra,<br />

arautos da mensagem cristã em número incontável multiplicaram-se até os extremos da terra. Cada país on<strong>de</strong><br />

foi plantada a semente da fé cristã colheu com fartura os frutos <strong>de</strong> conversão suscita<strong>do</strong>s por fiéis anuncia<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> Evangelho.<br />

Com o advento, especialmente a partir da Ida<strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>rna, <strong>do</strong>s novos recursos <strong>de</strong> comunicação, a comunida<strong>de</strong><br />

eclesial <strong>de</strong>ixou-se convencer não só das vantagens senão da imprescindível necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilizálos<br />

a serviço da evangelização, sua tarefa primeira por mandato <strong>do</strong> Senhor.<br />

A <strong>Igreja</strong> oficialmente presente em Maringá a partir da segunda meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XX mereceu <strong>de</strong> Deus<br />

22 Observação feita ao autor <strong>de</strong>stas notas após missa na igreja Santa Maria Goretti, em Maringá, no dia 19 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2006.


o privilégio <strong>de</strong> ser governada, nos seus 50 anos <strong>de</strong> existência, por quatro pastores sensíveis ao emprego <strong>do</strong>s<br />

mo<strong>de</strong>rnos veículos <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa para a transmissão da palavra divina.<br />

Não muitos dias <strong>de</strong>pois da chegada <strong>do</strong> primeiro bispo, os diretores da Rádio Cultura <strong>de</strong> Maringá franquearam-lhe<br />

a emissora, insistin<strong>do</strong> em que ocupasse o microfone mais ouvi<strong>do</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> então. Supera<strong>do</strong>s<br />

os embaraços da radical mudança que experimentara em sua vida, quatro meses passa<strong>do</strong>s, já no dia 23 <strong>de</strong> julho,<br />

<strong>do</strong>m Jaime <strong>de</strong>u início à fala diária das <strong>de</strong>zoito horas, a que <strong>de</strong>u o nome <strong>de</strong> “Por um Mun<strong>do</strong> Melhor”. O programa<br />

tornou-se um marco <strong>do</strong> rádio maringaense, alcançan<strong>do</strong> altos índices <strong>de</strong> audiência por décadas a fio. Até<br />

os recantos mais afasta<strong>do</strong>s da diocese chegava a palavra <strong>do</strong> pastor. Nos dias mais longos, muitos mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />

sítio, ainda no eito, acompanhavam o programa no radinho <strong>de</strong> pilha. Garantir um pronunciamento diário <strong>de</strong><br />

quinze minutos, no entanto, significava não pequeno <strong>de</strong>safio para quem tinha a <strong>presença</strong> reclamada em to<strong>do</strong>s<br />

os cantos da vastidão da diocese. Quan<strong>do</strong> se encontrava na se<strong>de</strong>, sua casa era centro <strong>de</strong> peregrinação <strong>de</strong> pessoas<br />

com problemas às vezes alheios à sua função: levavam ao pé da letra, quem sabe, a expressão “Vá queixar-se ao<br />

bispo”. Nem sempre havia como ocupar pessoalmente a cabine da emissora. Por isso, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, ajudaram-<br />

-no congrega<strong>do</strong>s marianos, filhas <strong>de</strong> Maria, seminaristas em férias, padres, quan<strong>do</strong> os havia disponíveis, mas<br />

o espaço <strong>do</strong> fim <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> na Rádio Cultura não permaneceu vazio; ao contrário, marcou uma época histórica<br />

<strong>de</strong> atuação da <strong>Igreja</strong> Católica no rádio. Moran<strong>do</strong> na residência episcopal, padres Antonio <strong>de</strong> Pádua Almeida<br />

e Orival<strong>do</strong> Robles, coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>res <strong>de</strong> pastoral nomea<strong>do</strong>s em 1968, sem faltar uma única semana, por mais <strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>is anos mantiveram, às segundas-feiras, um “Por um Mun<strong>do</strong> Melhor” <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> aos jovens, valen<strong>do</strong>-se da<br />

larga audiência <strong>do</strong> “programa <strong>do</strong> bispo”. 23 Por espaço superior a <strong>de</strong>z anos, a mesma Rádio Cultura <strong>de</strong> Maringá<br />

transmitiu aos <strong>do</strong>mingos, na catedral – habitualmente na voz <strong>do</strong> locutor A<strong>de</strong>mar Schiavone – a missa das<br />

9h00, que ocupava a programação matinal da emissora antes <strong>do</strong> prestigia<strong>do</strong> “Clube <strong>do</strong> Caçula”.<br />

Há mais <strong>de</strong> 48 ininterruptos anos, Maringá e região têm oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ler o artigo <strong>do</strong>minical <strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>m Jaime em jornais da cida<strong>de</strong>. Foi no dia 1º <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1958 que, pela primeira vez, a coluna apareceu<br />

no O Jornal, cujo diretor-proprietário era o jornalista Ivens Lagoano Pacheco. Depois, por quase 16 anos,<br />

continuou na Folha <strong>do</strong> Norte, que estampou seu primeiro artigo em 30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1962; o último apareceu<br />

no dia 30 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1978. Des<strong>de</strong> então, é veicula<strong>do</strong> pelo O Diário, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 24 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1978 até hoje. 24 Nesse perío<strong>do</strong>, ascen<strong>de</strong>m a mais <strong>de</strong> três mil as matérias produzidas apenas para publicação em<br />

jornais maringaenses. Encontraram espaço em outros periódicos brasileiros, ao longo <strong>de</strong> vários anos, centenas<br />

<strong>de</strong> escritos seus na Gazeta <strong>do</strong> Povo, 25 Voz <strong>do</strong> Paraná e Correio <strong>de</strong> Notícias, <strong>de</strong> Curitiba; na Folha <strong>de</strong> Londrina,<br />

da Capital Mundial <strong>do</strong> Café; em A Tribuna <strong>de</strong> Maringá e Jornal <strong>do</strong> Povo, <strong>de</strong> Maringá, no Diário <strong>do</strong> Noroeste,<br />

<strong>de</strong> Paranavaí, além <strong>de</strong> jornais <strong>de</strong> outras cida<strong>de</strong>s. Até o L’Osservatore Romano, órgão oficioso da Santa Sé,<br />

veiculou matéria <strong>de</strong> sua lavra.<br />

A Folha <strong>do</strong> Norte <strong>do</strong> Paraná, mais conhecida por Folha <strong>do</strong> Norte inclui-se entre as muitas iniciativas<br />

<strong>do</strong> espírito empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>r <strong>do</strong> primeiro bispo <strong>de</strong> Maringá. No alvorecer <strong>do</strong>s anos 60 ensaiaram-se os passos<br />

iniciais daquele que seria, na época, o segun<strong>do</strong> maior jornal <strong>do</strong> Norte paranaense, abaixo apenas da Folha <strong>de</strong><br />

Londrina, <strong>do</strong> grupo Milanez. Constituiu-se em 1961 uma empresa <strong>de</strong> capital aberto, a Editora Folha <strong>do</strong> Norte<br />

<strong>do</strong> Paraná S.A., socieda<strong>de</strong> anônima aberta com controle acionário priva<strong>do</strong>, <strong>de</strong>stinada à “edição <strong>de</strong> jornais,<br />

23 Nesse ano, o autor <strong>de</strong>stas notas ouviu <strong>de</strong> operários da antiga SANBRA – Socieda<strong>de</strong> Algo<strong>do</strong>eira <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste Brasileiro que, <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> bater o ponto, muitos ouviam o programa no seu radinho <strong>de</strong> pilha para só <strong>de</strong>pois pedalarem a bicicleta <strong>de</strong> volta para casa. O programa<br />

jovem só terminou com a saída <strong>de</strong> Almeida para <strong>do</strong>is anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s em Roma, e a transferência <strong>de</strong> Robles para Paranacity.<br />

24 “O Jornal” foi funda<strong>do</strong> em 1953 por Manoel Silveira; seu editor era Ivens Lagoano Pacheco que, no início <strong>de</strong> 1957, se tornou<br />

diretor-proprietário. Nos anos 60, foi assumi<strong>do</strong> por Ardinal Ribas, que lhe mu<strong>do</strong>u o nome para “O Jornal <strong>de</strong> Maringá”, mas a segunda<br />

parte aparecia em letras menores, fazen<strong>do</strong> com que fosse chama<strong>do</strong>, <strong>de</strong> forma abreviada, pelo antigo nome. A mesma redução<br />

aconteceu com a “Folha <strong>do</strong> Norte <strong>do</strong> Paraná”, chamada popularmente “Folha <strong>do</strong> Norte”, ou simplesmente “Folha”. O atual “O<br />

Diário <strong>do</strong> Norte <strong>do</strong> Paraná” é chama<strong>do</strong> “O Diário”, tout court. Quanto aos outros matutinos atuais da cida<strong>de</strong>, o “Jornal <strong>do</strong> Povo” se<br />

inscreve na linha sucessória <strong>do</strong> pioneiro “O Jornal”, como seu legítimo her<strong>de</strong>iro, enquanto o “Hoje” nasceu como “Hoje Maringá”.<br />

25 Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2005, sem explicação, a Gazeta <strong>do</strong> Povo <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> publicar o artigo semanal que, por convite <strong>do</strong> diretor, dr. Francisco<br />

da Cunha Pereira Filho, <strong>do</strong>m Jaime escrevia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 70.<br />

213<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


214<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

periódicos, livros e manuais”, registrada na Junta Comercial <strong>do</strong> Paraná, on<strong>de</strong> consta o dia 28 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1961 como o início das ativida<strong>de</strong>s. Não era intenção <strong>do</strong> bispo, seu funda<strong>do</strong>r, alcançar ganho financeiro, político<br />

ou <strong>de</strong> qualquer outra natureza, senão, conforme suas palavras, unicamente “ter um meio <strong>de</strong> comunicação<br />

<strong>do</strong> Evangelho, da Palavra <strong>de</strong> Deus, neste Norte <strong>do</strong> Paraná”. Renda financeira, se eventualmente a empresa<br />

viesse a gerar alguma, seria <strong>de</strong>stinada “à construção <strong>do</strong> Seminário Diocesano <strong>de</strong> Maringá”, sua preocupação<br />

maior. Um grupo <strong>de</strong> corretores admiti<strong>do</strong>s por padre André José Torres, encarrega<strong>do</strong> <strong>de</strong> montar o empreendimento,<br />

percorreu toda a região colocan<strong>do</strong> ações no merca<strong>do</strong> para levantar o capital necessário à montagem<br />

da empresa, que visava não lucro, mas sustento <strong>do</strong> seminário. No dia 25 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1962, veio a lume a<br />

edição nº 1 <strong>do</strong> novo diário cuja apresentação lembrava o vespertino Última Hora (1951-1971), um marco da<br />

imprensa nacional, funda<strong>do</strong> pelo combativo jornalista Samuel Wainer. A Folha entrou em cena em momento<br />

<strong>de</strong> turbulência no país, após a renúncia <strong>do</strong> presi<strong>de</strong>nte Jânio Quadros e na efervescência das chamadas reformas<br />

<strong>de</strong> base, que provocavam contínua mobilização <strong>de</strong> operários, estudantes, trabalha<strong>do</strong>res rurais, sindicalistas<br />

etc. Não por acaso, pouco <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um ano, eclodiu a chamada Revolução <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1964. No<br />

ambiente eclesial, por outro la<strong>do</strong>, respiravam-se os ares <strong>do</strong> Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965)<br />

que, para muita gente, convidava a transformar em tabula rasa tu<strong>do</strong> o que até então fora posto em prática na<br />

<strong>Igreja</strong> Católica Romana.<br />

Para a Folha <strong>do</strong> Norte representou uma quadra <strong>de</strong> preocupações intensas, <strong>de</strong> heroísmo até, como poucas<br />

vividas naqueles conturba<strong>do</strong>s tempos. Dificulda<strong>de</strong>s fundamentalmente geradas pelo primitivismo <strong>de</strong> uma<br />

região pioneira – carência <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra capacitada, <strong>de</strong>ficiente manutenção <strong>de</strong> máquinas, atraso no fornecimento<br />

<strong>de</strong> papel <strong>de</strong> imprensa, aliadas a inúmeras outras – obrigaram, não raro, o diretor presi<strong>de</strong>nte a <strong>de</strong>ixar<br />

suas funções <strong>de</strong> bispo diocesano para, num piscar <strong>de</strong> olhos, transformar-se em redator, revisor, diagrama<strong>do</strong>r...<br />

O professor universitário Elpídio Serra, que fez seu novicia<strong>do</strong> jornalístico na Folha <strong>do</strong> Norte, recorda que, vez<br />

por outra, <strong>do</strong>m Jaime via-se compeli<strong>do</strong> a dividir com um grupo <strong>de</strong> jovens inexperientes a redação da Avenida<br />

Duque <strong>de</strong> Caxias, que mantinha as luzes acesas, madrugada a<strong>de</strong>ntro.<br />

Alheio, no entanto, ao nobre propósito <strong>de</strong> difundir o Evangelho, o inexorável avanço tecnológico<br />

acabaria por ferir <strong>de</strong> morte um jornal ergui<strong>do</strong> e sustenta<strong>do</strong> com imensa garra. Houve necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investir<br />

ingente capital num diário que após três anos viu sua impressão superada pelo advento <strong>de</strong> novas técnicas. As<br />

máquinas <strong>de</strong> linotipo e a gigantesca rotativa, que ocupava uma sala inteira <strong>do</strong> prédio, tornaram-se obsoletas na<br />

era <strong>do</strong> off-set que veio para ficar e, sem pedir licença, impôs-se até ao emergente jornalismo <strong>do</strong> interior. Fazer<br />

jornal com maquinário <strong>de</strong>fasa<strong>do</strong> revelou-se tarefa antieconômica, inviável. Ao mesmo tempo, não havia como<br />

captar recursos para mo<strong>de</strong>rnizar o parque gráfico da Folha. No final <strong>de</strong> 1965, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> meses na Cida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> Vaticano, on<strong>de</strong> participou da última sessão <strong>do</strong> Concílio, no retorno a Maringá, <strong>do</strong>m Jaime encontrou as<br />

finanças da diocese em situação <strong>de</strong>licada. Esgotara-se a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> endividamento, o que inviabilizava o<br />

levantamento <strong>de</strong> empréstimo <strong>de</strong> qualquer importância, mínima que fosse. Com amargura, viu-se força<strong>do</strong> a<br />

arrendar à Re<strong>de</strong> Paranaense <strong>de</strong> Rádio o jornal da diocese, com o qual ansiosamente sonhara e até ali conseguira<br />

manter com bravura.<br />

Proprieda<strong>de</strong> da Mitra Diocesana <strong>de</strong> Maringá, funcionan<strong>do</strong> sob arrendamento, a Folha <strong>do</strong> Norte prosseguiu,<br />

ainda por vários anos, passan<strong>do</strong> às mãos <strong>de</strong> sucessivos grupos arrendatários, até finalmente encerrar as<br />

ativida<strong>de</strong>s, na assembléia geral extraordinária, levada a termo no dia 24 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1977, para dissolução<br />

da socieda<strong>de</strong> cuja ata encontra-se arquivada na Junta Comercial <strong>do</strong> Paraná, sob registro nº 125066, <strong>de</strong>feri<strong>do</strong><br />

em 22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1978. Pelo espaço <strong>de</strong> quase vinte anos a Mitra Arquidiocesana <strong>de</strong> Maringá manteve-se<br />

aberta a possíveis reivindicações <strong>de</strong> acionistas, até o parecer conclusivo <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1999, que <strong>de</strong>finiu:<br />

“A socieda<strong>de</strong> não existe mais como pessoa jurídica, seus registros estão to<strong>do</strong>s extintos e não constam débitos<br />

fiscais e/ou contribuições parafiscais em aberto e quanto ao sal<strong>do</strong> existente em Ca<strong>de</strong>rneta <strong>de</strong> Poupança<br />

reserva-se o direito ao maior acionista <strong>de</strong>cidir”. Com base na conclusão, após publicação legal da dissolução<br />

da Editora Folha <strong>do</strong> Norte <strong>do</strong> Paraná, e não se ten<strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong> acionista nenhum para reclamar direitos, no<br />

dia 17 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1999, <strong>do</strong>m Jaime Luiz Coelho, diretor-presi<strong>de</strong>nte da extinta, repassou a <strong>do</strong>m Murilo<br />

Krieger, arcebispo metropolitano <strong>de</strong> Maringá, a importância <strong>de</strong> R$ 13.286,83 (treze mil, duzentos e oitenta e<br />

seis reais, e oitenta e três centavos), correspon<strong>de</strong>nte ao sal<strong>do</strong> da ca<strong>de</strong>rneta <strong>de</strong> poupança da qual a socieda<strong>de</strong> era


titular, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> saldadas com a CODIPLAN – Contabilida<strong>de</strong> e Planejamento S/C Ltda., todas as <strong>de</strong>spesas<br />

administrativas da dissolução societária. No dia seguinte, Krieger fez chegar às mãos <strong>de</strong> padre Nelson Apareci<strong>do</strong><br />

Maia, reitor <strong>do</strong> Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora da Glória <strong>de</strong> Maringá, o cheque nº 096413,<br />

<strong>do</strong> Banco Real, no valor <strong>do</strong> sal<strong>do</strong> <strong>de</strong> poupança acima, cumprin<strong>do</strong> assim o objetivo para o qual fora fundada a<br />

Editora Folha <strong>do</strong> Norte <strong>do</strong> Paraná, em 1961. 26<br />

Encerrou-se, <strong>de</strong>ssa forma, vibrante etapa <strong>do</strong> jornalismo da jovem cida<strong>de</strong>, que acalentou o sonho <strong>de</strong> uma<br />

tribuna in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte a proclamar os princípios cristãos <strong>de</strong> justiça e <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, revelan<strong>do</strong>, ao mesmo tempo,<br />

a face <strong>de</strong> uma <strong>Igreja</strong> comprometida com o seu tempo, disposta a servir-se <strong>do</strong>s meios <strong>de</strong> comunicação para<br />

anunciar o Evangelho.<br />

No arquivo pessoal <strong>do</strong> primeiro bispo <strong>de</strong> Maringá, manti<strong>do</strong> no 4º piso da catedral, conserva-se a coleção<br />

completa da Folha <strong>do</strong> Norte impressa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro número, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1962, até à edição<br />

nº 3.305, <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1974. De coleção semelhante <strong>do</strong>m Jaime fez <strong>do</strong>ação à Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong><br />

Maringá, para memória <strong>do</strong>cumental <strong>de</strong> um perío<strong>do</strong> histórico <strong>de</strong> nossa cida<strong>de</strong>.<br />

Primeira edição, 25 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1962.<br />

Folha <strong>do</strong> Norte <strong>do</strong> Paraná<br />

26 Documentos disponíveis na Cúria Metropolitana <strong>de</strong> Maringá, na Avenida Tira<strong>de</strong>ntes, 740.<br />

Última edição, 30 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1974.<br />

215<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


216<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

Também na gênese da televisão em Maringá a <strong>Igreja</strong> Católica fez sentir sua <strong>presença</strong> não por prepo-<br />

tência, mas pelo <strong>de</strong>sempenho <strong>do</strong> bispo como lí<strong>de</strong>r religioso e cidadão comprometi<strong>do</strong> com os interesses da<br />

comunida<strong>de</strong>. Quan<strong>do</strong>, no final <strong>do</strong>s anos 60, o Norte <strong>do</strong> Paraná só conhecia a TV Coroa<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> Londrina,<br />

pessoas <strong>do</strong> ramo anteviram a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vultosos lucros à disposição <strong>de</strong> quem chegasse primeiro na<br />

instalação <strong>de</strong> novo canal <strong>de</strong> TV para cobrir o imenso campo <strong>do</strong> Noroeste paranaense. Ainda nos anos iniciais<br />

<strong>do</strong> Grupo Paulo Pimentel, hoje auto<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como “um <strong>do</strong>s maiores complexos <strong>de</strong> comunicação <strong>do</strong> Sul <strong>do</strong><br />

país”, conta-se que seu funda<strong>do</strong>r teria revela<strong>do</strong>: “Jornal é bom negócio, mas o que dá dinheiro mesmo é<br />

televisão”. A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maringá oferecia-se como base natural para implantação da segunda emissora <strong>de</strong> TV<br />

<strong>do</strong> Norte <strong>do</strong> Paraná.<br />

Descontente com a mobilização <strong>de</strong> <strong>do</strong>is grupos, que entendia representar interesses alheios à cida<strong>de</strong><br />

– Empresa TV O Jornal <strong>de</strong> Maringá Ltda. e Televisão Ivaí Ltda. –, <strong>do</strong>m Jaime pôs-se a contatar empresários<br />

para a formação <strong>de</strong> um terceiro consórcio integra<strong>do</strong> só por maringaenses, com o objetivo <strong>de</strong> disputar a<br />

concessão <strong>de</strong> um canal <strong>de</strong> TV para Maringá. No dia 1º <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1968 constituiu-se a empresa Televisão<br />

Cultura <strong>de</strong> Maringá Ltda., formada por brasileiros natos, to<strong>do</strong>s resi<strong>de</strong>ntes e atuantes em Maringá, com o<br />

propósito <strong>de</strong> obter direito à “instalação <strong>de</strong> estações televisoras nesta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maringá”, ten<strong>do</strong> por objetivos<br />

“fins educacionais, cívicos e patrióticos”. A TV Cultura <strong>de</strong> Maringá apresentava diretoria composta por<br />

<strong>do</strong>m Jaime Luiz Coelho, diretor-presi<strong>de</strong>nte; Samuel Silveira, diretor-superinten<strong>de</strong>nte, e Joaquim Dutra, diretor-gerente.<br />

O contrato social foi arquiva<strong>do</strong> na Junta Comercial <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná sob nº 90.735, por<br />

<strong>de</strong>spacho em sessão <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1968. O grupo era composto por 25 cidadãos maringaenses: <strong>do</strong>m<br />

Jaime Luiz Coelho, Samuel Silveira, Joaquim Dutra, Francisco Dias Rocamora, Carlos Piovezan Filho, Paulo<br />

Okamoto, Wilson Saenz Surita, José Sanches Filho, Antônio Augusto <strong>de</strong> Assis, Célio Verolli, Wla<strong>de</strong>mir Pipino,<br />

Antônio Guilherme Schreiner, Ulisses Bru<strong>de</strong>r, Atair Niero, José Gonçalves <strong>de</strong> Britto, Antenor Matiolli,<br />

Jancer Nunes Reinal<strong>de</strong>t, Ro<strong>do</strong>lfo Purpur, José Dutra, Oswal<strong>do</strong> José Rodrigues, Hélio Moreira, Ermelin<strong>do</strong><br />

Bolfer, Jasson Rodrigues <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong>, Alci<strong>de</strong>s Parizotto e Donaldi Serra. Em audiência, na capital fe<strong>de</strong>ral,<br />

com o presi<strong>de</strong>nte Arthur da Costa e Silva, no dia 14 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1968, acompanha<strong>do</strong> por Joaquim Dutra<br />

e Ulisses Bru<strong>de</strong>r, <strong>do</strong>m Jaime advogou ar<strong>do</strong>rosamente a conveniência <strong>de</strong> a nova empresa ser contemplada com<br />

a concessão. Depois disso, inclusive com apoio <strong>do</strong>s bispos <strong>de</strong> Campo Mourão, <strong>do</strong>m Eliseu Simões Men<strong>de</strong>s,<br />

e <strong>de</strong> Paranavaí, <strong>do</strong>m Benjamin <strong>de</strong> Sousa Gomes, continuou com pertinácia a sustentar, em todas as áreas, o<br />

pleito <strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> Maringá.<br />

O segun<strong>do</strong> canal <strong>de</strong> TV da região foi cria<strong>do</strong> no dia 26 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1969, em Apucarana, com o nome <strong>de</strong><br />

TV Tibagi e concedi<strong>do</strong> ao Grupo Paulo Pimentel. Atualmente, é afilia<strong>do</strong> ao Sistema Brasileiro <strong>de</strong> Televisão.<br />

A partir <strong>de</strong> então, intensificaram-se as ativida<strong>de</strong>s para a implantação da emissora <strong>de</strong> TV em Maringá,<br />

que foi conseguida, finalmente, através <strong>do</strong> <strong>de</strong>creto fe<strong>de</strong>ral nº 70.814, <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1972. Não obstante<br />

a aprovação recebida, a TV Cultura teria ainda que enfrentar dificulda<strong>de</strong>s suscitadas pelos grupos preteri<strong>do</strong>s,<br />

que tentaram, por várias formas, obstruir a sua instalação.<br />

No dia 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1974, junto ao DENTEL – Departamento Nacional <strong>de</strong> Telecomunicações foi<br />

solicitada alteração <strong>do</strong> contrato social para admissão <strong>de</strong> três sócios <strong>de</strong> Curitiba, <strong>do</strong>utores Francisco Cunha Pereira<br />

(que assumiu a função <strong>de</strong> diretor-gerente, até então exercida por Joaquim Dutra), Edmun<strong>do</strong> Lemanski<br />

e A<strong>do</strong>lpho <strong>de</strong> Oliveira Franco, os quais adquiriram os direitos <strong>de</strong> <strong>de</strong>zessete antigos cotistas, fican<strong>do</strong> a nova<br />

socieda<strong>de</strong> composta por onze sócios, oito <strong>de</strong> Maringá e três <strong>de</strong> Curitiba. Em 30 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1975, <strong>de</strong>u-se a<br />

conhecer a programação da TV Cultura <strong>de</strong> Maringá. Menos <strong>de</strong> um mês mais tar<strong>de</strong>, no dia 25 <strong>de</strong> setembro,<br />

aconteceu a inauguração oficial da TV Cultura, canal 8 <strong>de</strong> Maringá.<br />

Por apenas alguns meses o bispo permaneceu à frente da TV Cultura <strong>de</strong> Maringá como diretor-presi<strong>de</strong>nte.<br />

A nova configuração da empresa fez com que seu posto fosse ocupa<strong>do</strong> por empresários <strong>do</strong> setor <strong>de</strong> comunicação.<br />

Nova alteração contratual, em 25 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1978, admitiu como sócio, com quantida<strong>de</strong> maior<br />

<strong>de</strong> quotas, o empresário José Roberto Marinho, <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, integrante da Re<strong>de</strong> Globo <strong>de</strong> Televisão<br />

da qual a TV Cultura passou a afiliada.<br />

Apesar <strong>do</strong> gigantismo da Re<strong>de</strong> Globo, <strong>do</strong>m Jaime garantiu à diocese a franquia, na emissora <strong>de</strong> Marin-


gá, <strong>de</strong> cinco minutos diários <strong>de</strong> formação <strong>do</strong>utrinária e também da missa televisionada nas manhãs <strong>de</strong> <strong>do</strong>mingo,<br />

púlpitos eletrônicos que, pelo espaço <strong>de</strong> 31 anos, a <strong>Igreja</strong> Católica utilizou em benefício da comunida<strong>de</strong>.<br />

De surpresa, representantes da Re<strong>de</strong> Paranaense <strong>de</strong> Comunicação agendaram, para o dia 3 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong><br />

2006, reunião com <strong>do</strong>m Jaime, <strong>do</strong>m Anuar e com o vigário geral, para entregar carta datada <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> outubro<br />

e assinada por Edmun<strong>do</strong> Lemanski – diretor presi<strong>de</strong>nte, comunican<strong>do</strong>:<br />

Ten<strong>do</strong> em vista a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compatibilizarmos nossa gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> programação com<br />

a gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> programação da Re<strong>de</strong> Globo e das <strong>de</strong>mais emissoras que integram a Re<strong>de</strong><br />

Paranaense <strong>de</strong> Comunicação – RPC, vimos pela presente informar a Vossa Excelência<br />

que, a partir <strong>de</strong> 01 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2007, a TV Cultura não mais po<strong>de</strong>rá exibir os programas<br />

religiosos que atualmente são veicula<strong>do</strong>s no início da manhã (LEMANSKI,<br />

2006, 1 f.).<br />

Com a habitual franqueza, <strong>do</strong>m Jaime lamentou o que <strong>de</strong>finiu como subserviência da TV Cultura <strong>de</strong><br />

Maringá à to<strong>do</strong>-po<strong>de</strong>rosa matriz <strong>do</strong> Rio. Inútil. Os emissários disseram: “Não viemos dialogar; viemos trazer<br />

esta solução já tomada”.<br />

A <strong>de</strong>terminação fechou o espaço que a <strong>Igreja</strong> Católica, co-funda<strong>do</strong>ra em Maringá da TV Cultura, conseguiu<br />

manter <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1974 para veicular sua mensagem evangeliza<strong>do</strong>ra.<br />

os AtuAis veículos dA <strong>Arquidiocese</strong><br />

Concluí<strong>do</strong> um ciclo intensivo <strong>de</strong> linguagem áudio-visual e comunicação da fé que fez, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

1984, na Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Lyon (França), padre Gerhard Schnei<strong>de</strong>r <strong>de</strong>cidiu implantar em Maringá<br />

um canal <strong>de</strong> televisão para servir à missão evangeliza<strong>do</strong>ra da <strong>Igreja</strong>. Contou para esse propósito com o efetivo<br />

apoio <strong>do</strong> arcebispo que, em 6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1987, constituiu a “Fundação Cultural Nossa Senhora <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Maringá”, pessoa jurídica <strong>de</strong> direito priva<strong>do</strong> sem fins lucrativos, com se<strong>de</strong> na Avenida Rio Branco, nº<br />

1000, <strong>de</strong>stinada a promover ativida<strong>de</strong>s educativas, culturais e religiosas através <strong>do</strong> rádio e da televisão. Por<br />

sua nacionalida<strong>de</strong> alemã, não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> assumir cargos na entida<strong>de</strong>, a presidência da fundação foi confiada<br />

a <strong>do</strong>m Jaime Luiz Coelho que, posteriormente, em 26 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1988, transferiu o cargo a cônego<br />

Ângelo Banki, pároco em Paiçandu, cida<strong>de</strong> vizinha <strong>de</strong> Maringá. Com recursos pessoais e ajuda <strong>de</strong> amigos da<br />

Alemanha, sobretu<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua irmã Maria Louise, Schnei<strong>de</strong>r instalou junto à casa paroquial da paróquia <strong>do</strong><br />

Cristo Ressuscita<strong>do</strong>, no alto da Zona 5, em Maringá, estúdios e torre que no dia 24 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1988<br />

receberam a bênção <strong>do</strong> arcebispo. Assim começava a TV Horizonte UHF, que se tornaria conhecida como<br />

“TV <strong>do</strong> padre”. No princípio <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1989, Edison Pereira, da sucursal maringaense da Folha <strong>de</strong> Londrina,<br />

escreveu:<br />

No quintal <strong>do</strong> padre Geral<strong>do</strong> Schnei<strong>de</strong>r tem um pé <strong>de</strong> abóbora e uma torre <strong>de</strong> televisão.<br />

É a TV Educativa <strong>de</strong> Maringá, inaugurada em silêncio e sem pompas. Instalan<strong>do</strong><br />

um conversor <strong>de</strong> VHF é possível sintonizar a melhor programação educativa <strong>do</strong> Brasil.<br />

Na TV <strong>do</strong> padre, a alma <strong>do</strong> negócio não é a propaganda (PEREIRA, 1989, p. 17).<br />

Depois <strong>de</strong> extenuante movimentação junto a órgãos públicos especialmente <strong>de</strong> Curitiba e Brasília,<br />

Schnei<strong>de</strong>r viu recompensada sua luta por um canal <strong>de</strong> televisão, ao receber correspondência da FUNTEVÊ<br />

– Fundação Centro Brasileiro <strong>de</strong> TV Educativa, <strong>do</strong> Ministério da Educação, enviada em 12 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1989,<br />

que lhe comunicava a anuência ao pedi<strong>do</strong> da retransmissão <strong>de</strong> sua programação para Maringá. Essa ativida<strong>de</strong><br />

foi <strong>de</strong>senvolvida pela TV Horizonte por espaço <strong>de</strong> quase seis anos consecutivos. Passa<strong>do</strong> esse perío<strong>do</strong> − em<br />

que veiculou conteú<strong>do</strong> da TVE <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro −, a TV Horizonte, canal 31 UHF, <strong>de</strong> Maringá, inaugurou<br />

nova fase em 1º <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1995, passan<strong>do</strong> a transmitir, com início às 9h00, programação da Re<strong>de</strong> Vida,<br />

diretamente <strong>de</strong> São Paulo, via satélite para Maringá e região. Não satisfeito, Schnei<strong>de</strong>r <strong>de</strong>u novo passo visan<strong>do</strong><br />

transformar sua concessão em gera<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> programas locais, voltan<strong>do</strong> a percorrer, para isso, o interminável<br />

217<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


218<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

périplo por gabinetes oficiais. Obstina<strong>do</strong>, conseguiu que o presi<strong>de</strong>nte Fernan<strong>do</strong> Henrique Car<strong>do</strong>so assinasse<br />

<strong>de</strong>creto que “outorga concessão à Fundação Cultural Nossa Senhora <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Maringá, para executar<br />

serviço <strong>de</strong> radiodifusão <strong>de</strong> sons e imagens (televisão), com fins exclusivamente educativos, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maringá,<br />

Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná”. O texto <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento presi<strong>de</strong>ncial veio publica<strong>do</strong> no Diário Oficial da União nº<br />

127, <strong>de</strong> terça-feira, 7 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1998.<br />

Obrigada, pela existência em Belo Horizonte <strong>de</strong> canal homônimo, a mudar a marca <strong>de</strong> fantasia, a<br />

TV Horizonte <strong>de</strong> Maringá, em função da chegada <strong>do</strong> ano 2000, alterou seu nome para TV 3º Milênio. No<br />

governo arquidiocesano <strong>de</strong> <strong>do</strong>m João Braz <strong>de</strong> Aviz, terceiro arcebispo <strong>de</strong> Maringá, Schnei<strong>de</strong>r entregou à<br />

arquidiocese a emissora <strong>de</strong> televisão que criara e que, até então, tinha comanda<strong>do</strong> praticamente sozinho.<br />

Como havia necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajustes à nova situação, a arquidiocese recorreu à competência e ao espírito<br />

cristão <strong>do</strong> advoga<strong>do</strong> Irival<strong>do</strong> Joaquim <strong>de</strong> Souza que, a partir <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2003, <strong>de</strong>senvolveu as necessárias<br />

negociações junto aos órgãos competentes. A Fundação Cultural Nossa Senhora <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s – TV<br />

3º Milênio sofreu reformulação completa. Para gerir seus <strong>de</strong>stinos na nova fase houve necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> outra<br />

diretoria executiva, que foi integrada por Souza no cargo <strong>de</strong> diretor-presi<strong>de</strong>nte; César Ribeiro <strong>de</strong> Castro,<br />

diretor-superinten<strong>de</strong>nte; Nelson Rodrigues da Silva, diretor-administrativo e financeiro; Alípio Vaz Afonso,<br />

diretor-técnico, e padre Edmilson Men<strong>de</strong>s, diretor <strong>de</strong> programação. Foram também eleitos outros membros<br />

para o conselho <strong>de</strong> programação e para o conselho cura<strong>do</strong>r. Deste último é membro vitalício <strong>do</strong>m Jaime<br />

Luiz Coelho, e membro nato, o arcebispo metropolitano <strong>de</strong> Maringá. Levantamento da situação da TV 3º<br />

Milênio concluiu pela urgência <strong>de</strong> investimentos <strong>de</strong> razoável monta para garantir à televisão da arquidiocese<br />

condições mínimas <strong>de</strong> funcionamento. Na reunião <strong>do</strong> clero <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2003, o diretor-presi<strong>de</strong>nte<br />

expôs o panorama <strong>de</strong> momento da TV 3º Milênio. Obteve das paróquias contribuição em dinheiro para fazer<br />

frente às necessida<strong>de</strong>s mais prementes <strong>de</strong> reforma das instalações, aquisição <strong>de</strong> móveis e equipamentos, além<br />

da contratação <strong>de</strong> funcionários suficientemente qualifica<strong>do</strong>s. A partir da gestão <strong>de</strong> Souza, <strong>de</strong>scortinou-se novo<br />

tempo <strong>de</strong> <strong>presença</strong> e atuação da TV criada por Schnei<strong>de</strong>r na missão evangeliza<strong>do</strong>ra da <strong>Igreja</strong> em Maringá. No<br />

dia 16 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2004, proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Brasília, on<strong>de</strong> fora empossa<strong>do</strong> como arcebispo a 27 <strong>de</strong> março, <strong>do</strong>m<br />

João Braz <strong>de</strong> Aviz proce<strong>de</strong>u à<br />

inauguração das novas instalações da TV 3º Milênio, mantida pela <strong>Igreja</strong> Católica através<br />

da Fundação Nossa Senhora <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s. Com 250 m² <strong>de</strong> área construída, as novas<br />

instalações comportam estúdio, sala <strong>de</strong> edição, sala <strong>de</strong> redação, duas salas <strong>de</strong> espera<br />

com camarim, guarita e sala <strong>de</strong> reuniões, ambientes climatiza<strong>do</strong>s e com revestimentos<br />

acústicos, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com normas técnicas que visam principalmente preservar a qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> som e imagem da emissora (SERRA, 2004, p. 6-7).<br />

A TV 3º Milênio iniciou o ano <strong>de</strong> 2006 com 24 horas <strong>de</strong> transmissão, das quais três contam com programação<br />

diária local. O restante <strong>do</strong> tempo é ocupa<strong>do</strong> por retransmissão <strong>de</strong> programas da TV Século 21, <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong> da Associação <strong>do</strong> Senhor Jesus, com se<strong>de</strong> em Valinhos (SP). Com essa medida, a arquidiocese<br />

preten<strong>de</strong> cumprir mais fielmente os objetivos para os quais implantou a emissora. Em reunião no dia 19 <strong>de</strong><br />

agosto <strong>de</strong> 2006, o Conselho Cura<strong>do</strong>r aprovou a aquisição <strong>de</strong> novos equipamentos e a inclusão <strong>de</strong> melhorias<br />

na prestação <strong>do</strong>s serviços da emissora.<br />

Entre os veículos <strong>de</strong> comunicação da <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Maringá também consta um jornal impresso mensalmente.<br />

Sua origem remonta a 1995. Depois <strong>de</strong> insistentes pedi<strong>do</strong>s das li<strong>de</strong>ranças, que voltavam a cada assembléia<br />

anual da paróquia, no mês <strong>de</strong> maio daquele ano, a comunida<strong>de</strong> paroquial Santa Maria Goretti, <strong>de</strong> Maringá,<br />

iniciou a publicação <strong>de</strong> um tablói<strong>de</strong> mensal <strong>de</strong> 12 páginas, ao qual chamou Santa Menina. Por três anos, o<br />

mo<strong>de</strong>sto mensário cumpriu sua missão, notician<strong>do</strong> e comentan<strong>do</strong> igualmente os acontecimentos da <strong>Igreja</strong><br />

arquidiocesana.<br />

Como sucessor <strong>do</strong> primeiro arcebispo <strong>de</strong> Maringá, <strong>do</strong>m Murilo Krieger assumiu o governo da arquidiocese<br />

em julho <strong>de</strong> 1997, revelan<strong>do</strong>-se, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo, um entusiasta <strong>do</strong>s meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa.<br />

<strong>Uma</strong> <strong>de</strong> suas primeiras preocupações foi <strong>do</strong>tar a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Maringá <strong>de</strong> um jornal. Ao tomar conhecimento


<strong>do</strong> veículo impresso da paróquia Santa Maria Goretti, pensou alargar sua cobertura para toda a arquidiocese.<br />

Com a concordância <strong>do</strong>s responsáveis, o antigo jornal paroquial tornou-se arquidiocesano, ten<strong>do</strong> seu nome<br />

altera<strong>do</strong> para Maringá Missão. É o próprio <strong>do</strong>m Murilo quem conta:<br />

Ao assumir a arquidiocese <strong>de</strong> Maringá, senti a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter, a serviço <strong>de</strong>ssa <strong>Igreja</strong><br />

Particular, um jornal que evangelizasse e motivasse outros a fazê-lo; que unisse as<br />

paróquias, as pastorais e os movimentos; que tornasse conheci<strong>do</strong>s os projetos arquidiocesanos<br />

e comunicasse o que estaria sen<strong>do</strong> feito para o bem <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s. Queria, enfim,<br />

um jornal como o “Santa Menina”, mas para toda a arquidiocese. Não <strong>de</strong>morou<br />

muito para perguntar-me: Por que não o “Santa Menina” como jornal da arquidiocese<br />

<strong>de</strong> Maringá? [...] A resposta da paróquia Santa Maria Goretti veio rápida e positiva:<br />

concordava em tu<strong>do</strong>, em vista <strong>do</strong> bem da arquidiocese [...] Da<strong>do</strong>s esses passos, aí está<br />

“Maringá Missão” (KRIEGER, 1998, p. 1).<br />

Des<strong>de</strong> 1998, <strong>de</strong> fevereiro a <strong>de</strong>zembro, onze meses por ano, com 12 páginas – excepcionalmente com<br />

16, ou com inclusão <strong>de</strong> algum encarte –, o tablói<strong>de</strong> é ofereci<strong>do</strong> nas igrejas paroquiais para distribuição gratuita<br />

aos fiéis. Das 2.000 unida<strong>de</strong>s que imprimia ao tempo <strong>de</strong> jornal paroquial, atualmente a tiragem alcança<br />

19.000 exemplares, na tentativa <strong>de</strong> prestar à <strong>Igreja</strong> arquidiocesana um serviço <strong>de</strong> informação e, quanto possível,<br />

também <strong>de</strong> formação, colaboran<strong>do</strong> na tarefa <strong>de</strong> evangelizar. Com serviço voluntário presta<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o primeiro dia, a mesma equipe que em 1995 iniciou o Santa Menina prossegue ao longo <strong>de</strong> 130 edições,<br />

totalizan<strong>do</strong>, no mês <strong>do</strong> cinqüentenário <strong>de</strong> instalação da diocese <strong>de</strong> Maringá, a marca <strong>de</strong> 1.926.000 exemplares<br />

impressos. Des<strong>de</strong> sua criação até abril <strong>de</strong> 2005, Maringá Missão continuou administrativamente liga<strong>do</strong> à paróquia<br />

Santa Maria Goretti. Por <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Anuar Battisti, sucessor <strong>de</strong> <strong>do</strong>m João Braz <strong>de</strong> Aviz, no dia 27<br />

<strong>de</strong> maio <strong>de</strong>sse ano, foi finalmente eleva<strong>do</strong> a jornal da arquidiocese, na condição <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> não lucrativa caracterizan<strong>do</strong><br />

serviço presta<strong>do</strong> pela arquidiocese <strong>de</strong> Maringá para ser distribuí<strong>do</strong> nas paróquias que a integram,<br />

ten<strong>do</strong> por se<strong>de</strong> a Cúria Metropolitana, situada na Avenida Tira<strong>de</strong>ntes, nº 740, em Maringá. Como origem<br />

<strong>do</strong>s recursos financeiros para impressão e funcionamento <strong>do</strong> jornal o <strong>do</strong>cumento especificou a importância<br />

advinda <strong>do</strong> rateio <strong>do</strong>s custos entre as diversas paróquias, na proporção da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exemplares utiliza<strong>do</strong>s<br />

por cada uma, além <strong>de</strong> possíveis ofertas <strong>de</strong> patrocínio. O <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> criação, na realida<strong>de</strong>, fora prepara<strong>do</strong><br />

ainda no governo <strong>de</strong> Aviz que, pela brevida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua permanência à frente da arquidiocese, acabou não lhe<br />

apon<strong>do</strong> a sua assinatura. 27<br />

Outra iniciativa, ainda na área da comunicação, <strong>de</strong>sejada por <strong>do</strong>m Murilo em sua gestão à frente da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>de</strong> Maringá, foi a aquisição <strong>de</strong> uma emissora <strong>de</strong> rádio para levar mais longe a mensagem <strong>de</strong> Deus. Admira<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> bom trabalho realiza<strong>do</strong> pela Rádio Santana, <strong>de</strong> Ponta Grossa, sua diocese anterior, dispôs-se a implantar<br />

algo pareci<strong>do</strong> no Norte <strong>do</strong> Paraná. No seu enten<strong>de</strong>r, o rádio continua a representar, especialmente nas comunida<strong>de</strong>s<br />

<strong>do</strong> interior, um <strong>do</strong>s mais eficientes instrumentos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> opinião e <strong>de</strong> comportamento.<br />

Vencida a <strong>de</strong>morada fase <strong>de</strong> busca e discussão com diversos empresários <strong>do</strong> setor, optou pela Rádio<br />

Colméia <strong>de</strong> Mandaguaçu Ltda., emissora <strong>de</strong> rádio AM, <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> grupo forma<strong>do</strong> por Basílio Zanusso,<br />

Marcos Antonio Rocco e Antonio Saes, com se<strong>de</strong> na vizinha cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mesmo nome, que, após ouvir<br />

o Colégio <strong>de</strong> Consultores, comprou para a <strong>Igreja</strong> arquidiocesana. Constituiu, no dia 12 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999,<br />

a Fundação Cultural Nossa Senhora da Glória <strong>de</strong> Maringá como sua mantene<strong>do</strong>ra. A ata <strong>de</strong> instalação foi<br />

registrada no dia 16 <strong>de</strong> junho <strong>do</strong> mesmo ano, sob nº 3801, no livro A-5 <strong>do</strong> Registro Civil <strong>de</strong> Pessoas Jurídicas<br />

<strong>de</strong> Maringá. O pagamento <strong>do</strong>s R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), valor da emissora estabeleci<strong>do</strong><br />

pelos proprietários, obe<strong>de</strong>ceu a prazos acorda<strong>do</strong>s compatíveis com a situação financeira da arquidiocese.<br />

Substancial parcela da importância, na forma <strong>de</strong> <strong>do</strong>ação, aportaram as congregações <strong>do</strong>s irmãos Maristas das<br />

Escolas e <strong>do</strong>s irmãos da Misericórdia <strong>de</strong> Maria Auxilia<strong>do</strong>ra por meio <strong>de</strong> seus governos provinciais. O restante<br />

27 O jornal “Maringá Missão” é envia<strong>do</strong> a leitores amigos <strong>de</strong> praticamente to<strong>do</strong>s os Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil e <strong>de</strong> países como Itália, França,<br />

Alemanha, Holanda, Portugal, Peru, Argentina, Costa <strong>do</strong> Marfim e outros.<br />

219<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


220<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

foi integraliza<strong>do</strong> com ofertas conseguidas junto <strong>de</strong> paróquias, além <strong>do</strong> empréstimo efetua<strong>do</strong> pela Mitra Ar-<br />

quidiocesana <strong>de</strong> Maringá, no valor <strong>de</strong> R$ 30.000,00 (trinta mil reais), a ser futuramente quita<strong>do</strong> pela nova<br />

emissora <strong>de</strong> rádio. À frente da empresa postou-se com muita disposição padre Manoel Silva Filho, assessor da<br />

PASCOM – Pastoral da Comunicação, que se converteu em alma e coração da emissora. Sob sua li<strong>de</strong>rança,<br />

a agora conhecida simplesmente como Rádio Colméia, sintonizada em 1170 KHZ, teve a potência <strong>de</strong> seu<br />

transmissor elevada para 5000 watts, vin<strong>do</strong> a firmar-se como muito popular em to<strong>do</strong> o Esta<strong>do</strong> e uma das lí<strong>de</strong>res<br />

<strong>de</strong> audiência. À semelhança da fala radiofônica <strong>do</strong> bispo em tempos passa<strong>do</strong>s, também a programação da<br />

Rádio Colméia é, não raro, seguida hoje, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a boléia <strong>de</strong> suas máquinas agrícolas, por agricultores enquanto<br />

trabalham nos campos. Afiliada à RCR – Re<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Rádio, permanece por 24 horas no ar, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

ser ouvida também online em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, pela Internet. Há informações confiáveis <strong>de</strong> sua audiência em<br />

países da América Latina e até <strong>do</strong> Leste europeu. O prédio que abrigará as novas instalações da Rádio Colméia<br />

encontra-se em fase <strong>de</strong> conclusão.<br />

No seu tempo <strong>de</strong> arcebispo <strong>de</strong> Maringá, ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> artigo mensal no jornal Maringá Missão, <strong>do</strong>m Murilo<br />

manteve a colaboração que já vinha prestan<strong>do</strong> ao Brasil Cristão, revista mensal da Associação <strong>do</strong> Senhor<br />

Jesus; ao Mensageiro <strong>do</strong> Coração <strong>de</strong> Jesus, <strong>do</strong> Apostola<strong>do</strong> da Oração, além <strong>de</strong> artigo semanal que passou a<br />

escrever para os maringaenses O Jornal <strong>do</strong> Povo e O Diário, respectivamente aos <strong>do</strong>mingos e às quintas-feiras.<br />

Sustentou ainda semanalmente um programa radiofônico grava<strong>do</strong> para a Re<strong>de</strong> Milícia Sat, além <strong>de</strong> programa<br />

semanal e missa mensal na TV Cultura da cida<strong>de</strong>.<br />

O arcebispo <strong>do</strong>m João Braz <strong>de</strong> Aviz julgou particularmente oportuno o gran<strong>de</strong> evento que foi a assembléia<br />

arquidiocesana <strong>de</strong> pastoral celebrada a 15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2003, no Colégio Regina Mundi, para lançar<br />

o serviço <strong>de</strong> comunicação da <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Maringá. Aproveitan<strong>do</strong> a <strong>presença</strong> <strong>de</strong> 335 pessoas, lí<strong>de</strong>res representativos<br />

<strong>de</strong> todas as paróquias, pastorais, serviços e movimentos eclesiais, anunciou oficialmente na assembléia a<br />

abertura <strong>do</strong> portal da arquidiocese <strong>de</strong> Maringá na Internet. Trata-se <strong>de</strong> novo espaço <strong>de</strong> comunicação on<strong>de</strong> os<br />

internautas têm acesso a informações sobre a vida da <strong>Igreja</strong> Católica presente nesta parte <strong>do</strong> Paraná. Vários<br />

canais colocam à disposição <strong>do</strong>s interessa<strong>do</strong>s respostas às questões mais comuns como nomes, en<strong>de</strong>reços,<br />

ativida<strong>de</strong>s, celebrações, horários, artigos, mensagens, reflexão sobre a palavra <strong>de</strong> Deus etc. O portal integra<br />

o chama<strong>do</strong> SIAM – Serviço <strong>de</strong> Informações da <strong>Arquidiocese</strong> <strong>de</strong> Maringá, que reúne os outros três veículos<br />

<strong>de</strong> comunicação: a estação gera<strong>do</strong>ra TV 3º Milênio canal 31 UHF, a Rádio Colméia AM e o jornal mensal<br />

Maringá Missão. O serviço po<strong>de</strong> ser acessa<strong>do</strong> em www.arquimaringa.org.br, síntese <strong>do</strong>s serviços cria<strong>do</strong>s para<br />

estabelecer maior comunhão entre os membros <strong>do</strong> povo <strong>de</strong> Deus reuni<strong>do</strong> sob a condução <strong>do</strong> arcebispo <strong>de</strong><br />

Maringá. Quatro paróquias da arquidiocese abrigam no portal os seus próprios sites.<br />

Na continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s passos empreendi<strong>do</strong>s pelos antecessores, também <strong>do</strong>m Anuar Battisti prossegue<br />

manten<strong>do</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> ao uso <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os espaços franquea<strong>do</strong>s pela mídia à mensagem cristã. Maringá e região<br />

habituaram-se à participação <strong>do</strong> arcebispo no artigo das quintas-feiras <strong>de</strong> O Diário, no programa semanal e na<br />

missa da TV Cultura (enquanto duraram, porque no final <strong>de</strong> 2006, foram cancela<strong>do</strong>s pela emissora), no artigo<br />

mensal <strong>do</strong> jornal Maringá Missão, além <strong>de</strong> freqüente participação na Rádio Colméia e na TV 3º Milênio. Não<br />

só o arcebispo, mas igualmente sacer<strong>do</strong>tes e cristãos leigos marcam a participação da <strong>Igreja</strong> arquidiocesana<br />

nos veículos <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa. Algumas paróquias dão-se ao trabalho <strong>de</strong> imprimir mensalmente<br />

boletim próprio, contribuin<strong>do</strong> para o fortalecimento <strong>do</strong>s laços <strong>de</strong> comunhão entre seus fiéis. Há ainda em<br />

operação três rádios comunitárias ligadas a comunida<strong>de</strong>s paroquiais.<br />

Quem volta sua lembrança para 1956, ano em que Pio XII criou uma diocese quase no meio <strong>do</strong> mato<br />

– ainda se promovia <strong>de</strong>rrubada <strong>de</strong> árvores centenárias, fazia-se queimada e <strong>de</strong>stoca para plantio <strong>de</strong> café, lama e<br />

poeira alastravam-se por to<strong>do</strong> canto – há que se convencer da <strong>presença</strong> <strong>do</strong> Espírito Santo, alma da <strong>Igreja</strong>, que<br />

também aqui inflamou os pregoeiros <strong>do</strong> <strong>Reino</strong> atentos, há vinte séculos, à or<strong>de</strong>m que ressoa, sempre nova e<br />

com recurso a novos méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> anúncio: “I<strong>de</strong> e fazei discípulos” (MATEUS 28, 19).


memóriA, quAse históriA<br />

mensAgem à meninA que virou senhorA<br />

Nem existias e, à distância, cantávamos o teu nome.<br />

Sem te conhecer, já te amávamos.<br />

Estranho mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> começar a vida. As outras nascem<br />

antes, tornan<strong>do</strong>-se conhecidas <strong>de</strong>pois. Singular que és, escolheste<br />

o caminho inverso.<br />

Ainda não nascida, elevou-te à fama o poeta ao cantar<br />

a <strong>do</strong>r presente da distante amada. Sem saber, traçava o teu<br />

<strong>de</strong>stino, atrelan<strong>do</strong>-o à canção, à poesia, ao amor. Prenunciava<br />

a sedução que exerces, na sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong> quem <strong>de</strong> ti se afasta.<br />

Nasceste cabocla. Menina da roça, não te envergonhou<br />

a humil<strong>de</strong> origem. Mas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, persegues o i<strong>de</strong>al da<br />

gran<strong>de</strong>za. Nos troncos da <strong>de</strong>rrubada, franzina e suja <strong>de</strong> terra,<br />

não escondias o teu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> glória. Insinuante, enredavas<br />

no teu feitiço os que chegavam, espalhan<strong>do</strong> o contágio <strong>do</strong> teu<br />

anseio <strong>de</strong> brilho.<br />

Maringá no seu cinqüentenário.<br />

Cheiran<strong>do</strong> a mato, te conhecemos menina, vestida <strong>de</strong><br />

ver<strong>de</strong>. O mesmo traje vistoso que, passa<strong>do</strong> meio século, ostentas com graça. Cinqüenta anos<br />

não lograram <strong>de</strong>struir nem o frescor da tua beleza nem o encanto da tua mocida<strong>de</strong>. No teu<br />

viço <strong>de</strong> senhora, manténs a formosura <strong>do</strong>s primeiros tempos.<br />

Continuas cabocla, mas ainda elegante. Não per<strong>de</strong>ste a simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> outros tempos.<br />

Preservas a ternura das amiza<strong>de</strong>s antigas, ofereces teu regaço quente à fusão da sorte daqueles<br />

que velaram teu sono <strong>de</strong> criança.<br />

Que sauda<strong>de</strong> da garotinha que embalamos no berço <strong>de</strong> mato e chão bati<strong>do</strong>! Que nos<br />

garantia uma união <strong>de</strong> meninos viven<strong>do</strong> juntos, olhan<strong>do</strong>-nos <strong>de</strong> frente e sorrin<strong>do</strong> sem disfarce.<br />

Era o tempo em que tu<strong>do</strong> partilhávamos. O pão era branco; o dia, claro; a palavra, direta.<br />

Sentíamo-nos abertos e puros, anima<strong>do</strong>s <strong>de</strong> coragem para enxugarmos o suor uns <strong>do</strong>s outros.<br />

Estendíamos as mãos com transparência e as apertávamos sem me<strong>do</strong>. Não havia susto em nossas<br />

noites nem <strong>de</strong>sconfiança em nosso olhar.<br />

Que sabor <strong>do</strong>ce <strong>de</strong> vida provou quem te acompanha <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância!<br />

<strong>Uma</strong> nuvem negra tolda agora <strong>de</strong> incerteza o nosso céu. Não te magoes, mas é preciso<br />

te acautelar. Antes que, distraída, consintas que te arrebatem o que possuis <strong>de</strong> mais precioso.<br />

Até quan<strong>do</strong> te manterás a mesma que <strong>de</strong>spertou o nosso amor? Quanto vai durar a ternura<br />

que ofereces? É <strong>do</strong>loroso pensar que um dia talvez te tornes outra. Movida pelo orgulho,<br />

quem sabe resolvas preferir a ilusão das altas rodas, on<strong>de</strong> mentira é norma <strong>de</strong> agir, e falsida<strong>de</strong>,<br />

moeda <strong>de</strong> troca.<br />

Quem garante que não <strong>de</strong>sprezarás a pureza <strong>de</strong> outrora, tornan<strong>do</strong>-te a megera fria em<br />

que se converteram tantas? Que não choraremos a <strong>do</strong>r <strong>de</strong> ver-te seca e envelhecida pela ambição<br />

<strong>de</strong> lucros vis?<br />

Ao nasceres, teu <strong>de</strong>stino foi marca<strong>do</strong> pela canção, pela poesia, pelo amor. Não te <strong>de</strong>sencaminhes,<br />

menina querida <strong>de</strong> ontem. Não te afastes da trilha <strong>do</strong>s que te fizeram crescer. Não<br />

transformes em morte a vida buscada por quantos a ti aportaram, na esperança <strong>de</strong> te verem<br />

única. Não apagues o sol <strong>do</strong>s dias <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os que te amamos tanto (ROBLES, 1997b, p. 9).<br />

Foto: Nei<strong>de</strong> Luize - 03/05/1997.<br />

221<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá


222<br />

tAbefe<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

O que ninguém escreveu<br />

Des<strong>de</strong> antes <strong>do</strong> incêndio que <strong>de</strong>struiu a linda igreja <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, pa-<br />

dre A<strong>de</strong>lino Fórmolo era o vigário <strong>de</strong> Santo Antônio, na vila <strong>do</strong> mesmo<br />

nome. Gaúcho empresta<strong>do</strong> pela diocese <strong>de</strong> Caxias <strong>do</strong> Sul, era <strong>do</strong>no <strong>de</strong> rara<br />

simpatia e incrível facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer amigos. Mas que ninguém o tirasse<br />

<strong>do</strong> sério. Num sába<strong>do</strong> santo, data em que a liturgia da <strong>Igreja</strong> não prevê celebração<br />

nenhuma, na escadaria da matriz, um senhor lhe pe<strong>de</strong> que batize<br />

uma criança. Respon<strong>de</strong> que nesse dia é impossível, terá que ser em outra<br />

ocasião. O homem insiste. O padre torna a explicar. Se a criança estivesse<br />

<strong>do</strong>ente, haveria motivo, mas não era o caso. A conversa sobe alguns <strong>de</strong>cibéis,<br />

proporcionais à insistência <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong>. A<strong>de</strong>lino <strong>de</strong>siste. Está retiran<strong>do</strong>-<br />

-se, quan<strong>do</strong> ouve um palavrão cabelu<strong>do</strong>. Volta-se como um raio: “Você<br />

não repete o que falou”. O homem não se intimida: “Filho da...” O resto<br />

é dito já no pó da rua, aon<strong>de</strong> o lança inespera<strong>do</strong> sopapo estala<strong>do</strong> na orelha.<br />

Ele vai queixar-se ao bispo. Literalmente. Não <strong>de</strong>mora, <strong>do</strong>m Jaime manda<br />

chamar o padre: “A<strong>de</strong>lino, on<strong>de</strong> já se viu uma coisa <strong>de</strong>ssas? Você é padre,<br />

um homem <strong>de</strong> Deus. Tem cabimento agredir um paroquiano?”. Ele aceita<br />

humil<strong>de</strong> a episcopal reprimenda. A alguns colegas confi<strong>de</strong>ncia mais tar<strong>de</strong>:<br />

“O bispo está certo. Tinha que me chamar atenção mesmo. Mas o cara me<br />

chamou <strong>de</strong> fdp. Se chamar <strong>de</strong> novo, eu bato outra vez”.<br />

cinemA<br />

Além <strong>de</strong> futebol, outra paixão <strong>de</strong> padre Novaes era cinema. Nas férias,<br />

ele costumava convidar os seminaristas Orival<strong>do</strong> e Geral<strong>do</strong> Schnei<strong>de</strong>r<br />

para assistir filmes nos cines Maringá e Paraná, raramente no cine Horizonte,<br />

na Vila Operária. Nessas ocasiões, vestia batina, porque assim entrava<br />

<strong>de</strong> graça. E exigia o mesmo privilégio para os acompanhantes. <strong>Uma</strong><br />

vez, no cine Paraná, o trio entrou com a projeção em andamento. De<br />

repente, perceberam que a película era diferente da anunciada. Não era<br />

exatamente pornô, mas continha cenas um tanto ousadas. Novaes virou<br />

bicho. Dirigiu-se à gerência, on<strong>de</strong> lhe explicaram que o filme previsto, trazi<strong>do</strong><br />

pela Viação Garcia, não tinha chega<strong>do</strong>, então rodaram outro. Depois<br />

<strong>de</strong> dizer poucas e boas, chamou os companheiros e retirou-se. Dirigiram-<br />

-se a Marialva. Novaes parou a camionete na frente <strong>do</strong> cinema: “Vá lá,<br />

Episódios pitorescos vivi<strong>do</strong>s por nossos padres<br />

<strong>do</strong>s primeiros tempos, alguns já chama<strong>do</strong>s à casa <strong>do</strong> Pai.


Schnei<strong>de</strong>r, veja que filme está passan<strong>do</strong>”. A resposta veio rápida: “Vamos<br />

assistir este. Não entendi o título, mas <strong>de</strong>ve ser bom, porque está escrito<br />

Não percam”. Terminaram ven<strong>do</strong> o pedaço final <strong>de</strong> uma película no cinema<br />

<strong>de</strong> Mandaguari. Ao seminário só retornaram <strong>de</strong>pois da meia noite,<br />

horário extemporâneo para a época.<br />

prevenção<br />

Primeiros anos <strong>de</strong> vida da diocese. Maringá não tinha água tratada.<br />

Dom Jaime apanhou terrível infecção intestinal, uma giardíase que o acompanhou<br />

por longos e sofri<strong>do</strong>s anos. Para ele as visitas pastorais, que jamais<br />

<strong>de</strong>ixou, passaram a ser um suplício. Per<strong>de</strong>u a conta das vezes em que, em<br />

capelas rurais on<strong>de</strong> estava crisman<strong>do</strong>, ao necessitar <strong>de</strong> um banheiro, verificava<br />

que simplesmente inexistia tal peça. Comprovou, por amarga experiência,<br />

a <strong>do</strong>lorosa verda<strong>de</strong> <strong>do</strong> que é relata<strong>do</strong> como piada, mas talvez tenha<br />

mesmo aconteci<strong>do</strong>. No sertão baiano um bispo ter-se-ia hospeda<strong>do</strong> em<br />

casa <strong>de</strong> rico fazen<strong>de</strong>iro, senhor <strong>de</strong> muitas terras e ga<strong>do</strong>, mas <strong>de</strong> cultura pouca<br />

e hábitos rudimentares. Não ven<strong>do</strong> nos aposentos nenhum <strong>sinal</strong> <strong>de</strong> sanitários,<br />

<strong>de</strong>licadamente o bispo foi informar-se com o anfitrião. O fazen<strong>de</strong>iro,<br />

chaman<strong>do</strong>-o fora, esten<strong>de</strong>u o braço e apontou: “Olhe, seu bispo, daqui<br />

até o Piauí o senhor use à vonta<strong>de</strong>”. Por conta das humilhações sofridas,<br />

<strong>do</strong>m Jaime <strong>de</strong>senvolveu verda<strong>de</strong>ira obsessão por sanitários nas residências<br />

<strong>do</strong>s padres. Sua casa atual, incluin<strong>do</strong> área <strong>de</strong> serviço e residência das irmãs,<br />

conta com “apenas” <strong>de</strong>zesseis. Quan<strong>do</strong> lhe foi apresentada a planta da casa<br />

paroquial <strong>de</strong> Santa Maria Goretti, aos existentes ele man<strong>do</strong>u ajuntar outros<br />

três: a casa conta agora com sete sanitários. Diante da exigência <strong>do</strong> aumento<br />

<strong>do</strong> número <strong>de</strong> banheiros para a construção da futura casa paroquial <strong>de</strong><br />

São Mateus Apóstolo, um <strong>do</strong>s membros da comissão estranhou: “Lá em<br />

casa tem sete pessoas e só um banheiro. Aqui, para um padre o senhor quer<br />

três.” Mas o bispo não arre<strong>do</strong>u pé: “Ou constroem mais ou não autorizo a<br />

casa paroquial. Nem crio a paróquia”. Foi atendi<strong>do</strong>.<br />

humor<br />

Padre A<strong>de</strong>lino Formolo fez um vasto círculo <strong>de</strong> amigos em Maringá.<br />

Era famoso por seu eterno bom humor. Conhecia invejável repertório <strong>de</strong><br />

piadas, muitas <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> bastante apimenta<strong>do</strong>, que prendiam durante<br />

horas seus ouvintes. Em reuniões <strong>do</strong> clero, aon<strong>de</strong> ele chegava, logo se formava<br />

uma roda. Para localizá-lo bastava ouvir <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vinham explosões<br />

<strong>de</strong> gargalhadas. Padre Jorge Scholl, jesuíta da igreja São José, com a serieda<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>s setenta e poucos anos, certa vez externou seu <strong>de</strong>sagra<strong>do</strong>: “Não<br />

gosto das piadas <strong>de</strong> padre A<strong>de</strong>lino: são todas <strong>do</strong> umbigo para baixo.” E<br />

A<strong>de</strong>lino, sem <strong>de</strong>ixar a peteca cair: “Não seja por isso, padre Jorge. O senhor<br />

quer que eu conte uma sobre seios?”.<br />

223<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá

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