Capítulo 6 - Uma Igreja de presença e sinal do Reino - Arquidiocese ...
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ispo <strong>de</strong> Maringá ainda mais comprometi<strong>do</strong> com a política <strong>do</strong> que o fora, oito anos antes, no pleito para<br />
escolha <strong>de</strong> governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Força<strong>do</strong>s a engolir um bipartidarismo esdrúxulo em que os i<strong>de</strong>ólogos<br />
<strong>do</strong> regime militar imaginavam engessar todas as correntes políticas <strong>do</strong> país, os eleitores maringaenses foram<br />
chama<strong>do</strong>s a <strong>de</strong>cidir entre ARENA – que apresentou João Paulino Vieira / Ro<strong>do</strong>lfo Purpur, na chapa 1,<br />
e Ardinal Ribas / Helenton Borba Cortes, na chapa 2 – e MDB, <strong>de</strong> chapa única, composta por Adriano<br />
José Valente / Renato Bernardi. Registre-se, em respeito à verda<strong>de</strong>, que <strong>do</strong>m Jaime em momento algum<br />
emitiu pronunciamento público nem subiu em palanque. Descontente com a gestão anterior <strong>de</strong> João Paulino<br />
(1961-1964) por divergências quanto à Santa Casa, construção da catedral e outros temas, o bispo<br />
esforçou-se quanto pô<strong>de</strong> para negar-lhe um segun<strong>do</strong> mandato: das duas chapas <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> oficial, a sua era<br />
a mais forte. Ainda há quem recor<strong>de</strong> o bordão cria<strong>do</strong> por Joe Silva, locutor oficial <strong>do</strong>s comícios <strong>do</strong> MDB:<br />
“Essa não <strong>de</strong>u, ARENA!” De fato, não <strong>de</strong>u. Reunin<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>scontentamentos que o sistema vigente<br />
conseguia nutrir, o certo é que o MDB, por força <strong>do</strong> episcopal apoio ou in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>le, alcançou<br />
19.471 votos (55,7%), enquanto, com duas legendas, a ARENA obteve 15.459, ou 44,3% <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os<br />
votos váli<strong>do</strong>s (ALCÂNTARA, 2001, p. 258). Na segunda gestão <strong>de</strong> João Paulino (1977-1983), o relacionamento<br />
entre prefeito e bispo transcorreu em clima <strong>de</strong> colaboração e entendimento. Quan<strong>do</strong> da eleição<br />
<strong>de</strong> Said Felício Ferreira (1983-1988), <strong>do</strong>m Jaime, embora participan<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma menos visível, não se recusou,<br />
ainda uma vez, a tornar clara sua posição em vista daquilo que julgava o melhor para a comunida<strong>de</strong><br />
nos quatro anos seguintes.<br />
A participação na política partidária, contu<strong>do</strong>, trouxe-lhe mais dissabores que alegria. Em carta ao<br />
arcebispo <strong>de</strong> Curitiba, referin<strong>do</strong>-se ao relacionamento com os políticos locais, confessou: “Vivemos em boa<br />
harmonia. Não vivo, é claro, atrás <strong>do</strong>s políticos, bajulan<strong>do</strong>-os, e nem faço mais nada por êles como fiz pelo<br />
Ney (Braga). Basta a lição” (COELHO, 1966, 1 f.). Tantas foram, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1960, as vezes em que bateram à<br />
sua porta políticos <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os naipes, <strong>de</strong> todas as regiões <strong>do</strong> Paraná e até <strong>de</strong> outros Esta<strong>do</strong>s, ansiosos pelos<br />
divi<strong>de</strong>n<strong>do</strong>s eleitorais a auferir com o seu prestígio, tantas, igualmente, as esperanças frustradas por homens<br />
públicos <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o país que, afinal, <strong>de</strong>siludi<strong>do</strong> e cansa<strong>do</strong>, o já arcebispo <strong>de</strong> Maringá <strong>de</strong>cidiu: “Mesmo que<br />
Jesus Cristo se candidate a algum cargo público, não receberá apoio meu”.<br />
Pelo envolvimento em episódios que afetavam a sorte <strong>do</strong>s seus diocesanos não podia ele escapar à<br />
atenção das autorida<strong>de</strong>s ciosas da “segurança pública”, sobretu<strong>do</strong> <strong>de</strong>pois da edição <strong>do</strong> AI-5 (13 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />
<strong>de</strong> 1968), quan<strong>do</strong> se abriram <strong>de</strong> vez as portas da repressão. Sua pasta, <strong>de</strong> nº 02064 no Arquivo Público <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná, traz anotações hoje risíveis, mas consi<strong>de</strong>radas importantes por autorida<strong>de</strong>s da época:<br />
Em 20-01-70 – É proprietário <strong>do</strong> jornal Folha <strong>do</strong> Norte <strong>do</strong> Pr. On<strong>de</strong> foram feitos<br />
comentarios dúbios sobre as forças Armadas e o govêrno. Parece que o jornal está<br />
arrenda<strong>do</strong>. Dom Jaime por suas atitu<strong>de</strong>s parece ser “progressista”. Consta que por se<br />
julgar <strong>de</strong>strata<strong>do</strong> no Quartel da 4ª Cia Inf., disse ao professôr Renato Bernardi que<br />
era uma pena não ter aconteci<strong>do</strong> antes <strong>de</strong> terminar a procissão <strong>de</strong> 6ª Feira Sta porque<br />
assim êle, Bispo, teria acaba<strong>do</strong> com a turma <strong>de</strong> Apucarana. Na missa <strong>de</strong> Domingo <strong>de</strong><br />
Ramos comparou Che Guevara a Cristo. (V.Pasta 2ª Sec.5ª RM).<br />
Em 06/09/77 – Conf. Doc. Min. Ex. 2ª Seção, o ficha<strong>do</strong> pertence a <strong>Igreja</strong> Progressista<br />
<strong>do</strong> Norte <strong>do</strong> Paraná, Engajou-se sem reservas no “Progressismo fazen<strong>do</strong> constantes<br />
criticas ao governos (sic), no sistema e nas autorida<strong>de</strong>s. (V/P <strong>Igreja</strong> Católica).<br />
Em 08/12/77 – Conf. Folha <strong>de</strong> São Paulo <strong>de</strong> 05/10/77, o ficha<strong>do</strong> afirmou que<br />
recebeu correspl <strong>do</strong> Vaticano conten<strong>do</strong> exemplar <strong>do</strong> jornal “Voz Operária”, órgão<br />
central <strong>do</strong> PCB, e exemplares proce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Tóquio e <strong>de</strong> Roma, sen<strong>do</strong> que um <strong>do</strong>s<br />
artigos comenta que “comunistas e cristão (sic) no Brasil estão uni<strong>do</strong>s no memo (sic)<br />
combate pela <strong>de</strong>mocracia e pelo progresso da justiça social. (V/P MARINGÁ).<br />
26/05/81 – Conf. O Est. <strong>do</strong> Paraná <strong>de</strong> 23/10/80, o nomina<strong>do</strong> participou da reunião<br />
realizada on<strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os bispos da Região Sul II da CNBB e a Comissão <strong>de</strong><br />
Justiça e Paz <strong>do</strong> Pr., organizaram para emitir uma nota <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> ao Padre<br />
Vito Miracapillo, que teve sua expulsão <strong>de</strong>cretada pelo presi<strong>de</strong>nte da República. O<br />
nomina<strong>do</strong> representou o bispo <strong>de</strong> Cornélio Procópio <strong>do</strong>m Domingos Wisniewski. O<br />
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Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> Maringá