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Capítulo 6 - Uma Igreja de presença e sinal do Reino - Arquidiocese ...

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200<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

gostou muita gente: valeu-se <strong>de</strong> todas as oportunida<strong>de</strong>s que apareciam para, em conversas pessoais, apontar<br />

o nome <strong>de</strong> Ney Braga como seu candidato preferi<strong>do</strong>, argumentan<strong>do</strong> sobre a conveniência <strong>de</strong> votar no seu<br />

nome. Ney conseguiu eleger-se governa<strong>do</strong>r, não escon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> jamais seu reconhecimento ao apoio <strong>de</strong> <strong>do</strong>m<br />

Jaime, que consi<strong>de</strong>rou <strong>de</strong>cisivo para sua vitória.<br />

Em 13 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1961, juntamente com os bispos <strong>de</strong> Londrina, <strong>de</strong> Campo Mourão e <strong>de</strong> Jacarezinho,<br />

o bispo fun<strong>do</strong>u em Maringá a FAP – Frente Agrária Paranaense com o objetivo <strong>de</strong> combater a infiltração<br />

comunista no meio rural e <strong>de</strong> repudiar a <strong>presença</strong> <strong>do</strong> então <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> fe<strong>de</strong>ral Francisco Julião, funda<strong>do</strong>r das<br />

Ligas Camponesas, que tencionava “lançar a subversão no meio rural”. O nascimento da FAP não se <strong>de</strong>u<br />

sem atropelos. Pelo contrário. O dia foi escolhi<strong>do</strong> a <strong>de</strong><strong>do</strong> para coincidir com o II Congresso <strong>de</strong> Lavra<strong>do</strong>res<br />

e Trabalha<strong>do</strong>res Rurais <strong>do</strong> Paraná realiza<strong>do</strong> em Maringá, nos dias 12-15 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1961, em que a figura<br />

mais importante seria o parlamentar pernambucano. Da parte católica, entendia-se que<br />

era preciso lançar o movimento publicamente com a maior repercussão possível. Ora,<br />

os militantes comunistas haviam planeja<strong>do</strong> para o mês <strong>de</strong> agosto, em Maringá um<br />

‘congresso <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res rurais’, <strong>do</strong> qual <strong>de</strong>veria participar o gran<strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r das ligas<br />

camponesas <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste, Francisco Julião. Aos olhos <strong>do</strong>s católicos, ele viria para ‘insultar<br />

os trabalha<strong>do</strong>res rurais e incitá-los à revolta’, difundin<strong>do</strong> ‘suas idéias esquerdistas<br />

e comunistas’. De fato, isso significaria a entrada das ligas <strong>de</strong> Julião na região, consi<strong>de</strong>rada<br />

uma área sensível <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à gran<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res rurais oriun<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste. Os dirigentes da <strong>Igreja</strong>, indigna<strong>do</strong>s, consi<strong>de</strong>raram o evento como uma<br />

afronta comunista. Era a gota d’água que faria transbordar a paciência cristã e um bom<br />

pretexto para <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar o movimento <strong>do</strong>s bispos. Mas uma dura prova aguardava o<br />

principiante movimento cristão (SILVA, 2006, p. 224-225). 14<br />

Numa época <strong>de</strong> nervos à flor da pele, não houve como evitar o choque entre representantes da <strong>Igreja</strong><br />

– padres, congrega<strong>do</strong>s marianos, alunos <strong>de</strong> colégios católicos – e militantes <strong>do</strong> Partidão. A polícia foi chamada:<br />

“o coronel man<strong>do</strong>u <strong>de</strong>scer o cacete... freira apanhou, padre apanhou, to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> apanhou... veio<br />

bomba, jatos <strong>de</strong> água, veio o corpo <strong>de</strong> bombeiros. Virou uma praça <strong>de</strong> guerra; quebra-pau, um confronto<br />

terrível”, contaria mais tar<strong>de</strong> um <strong>do</strong>s participantes <strong>do</strong> congresso <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res rurais ao professor Ângelo<br />

Priori (2001, p. 175), que escreveu sobre o episódio. As versões apresentadas pelo la<strong>do</strong> católico são distintas,<br />

embora não haja como escon<strong>de</strong>r que estudantes e congrega<strong>do</strong>s marianos tiveram uma reação feroz, absolutamente<br />

inesperada pelos congressistas <strong>do</strong> PCB.<br />

Como um furacão, por on<strong>de</strong> Julião passava, havia conflito. A sua chegada ao aeroporto<br />

<strong>de</strong> Maringá foi esperada com impaciência pelos militantes das Congregações Marianas.<br />

Dom Jaime tinha prepara<strong>do</strong> ‘o povo católico’ para que não <strong>de</strong>ixasse o avião pousar.<br />

Apesar disso, Julião conseguiu chegar até o Congresso <strong>do</strong>s sindicalistas <strong>do</strong> PCB. Segun<strong>do</strong><br />

um padre, o confronto começou logo na sessão <strong>de</strong> abertura da reunião, quan<strong>do</strong><br />

alguns estudantes questionaram Julião, no momento em que ele expunha suas visões<br />

sobre a reforma agrária. O conferencista recusou a polêmica e os estudantes foram<br />

‘expulsos <strong>do</strong> local’. À tar<strong>de</strong>, durante o <strong>de</strong>sfile da FAP, em nome <strong>de</strong> Deus, o Congresso<br />

<strong>do</strong>s ‘vermelhos’ foi cerca<strong>do</strong> e agredi<strong>do</strong>. O padre Osval<strong>do</strong> Rambo relatou: ‘Um grupo<br />

<strong>de</strong> marianos já foram... na frente (<strong>do</strong> lugar) da reunião <strong>de</strong>les, já começaram a... mexer<br />

com eles, a incomodá-los, atiran<strong>do</strong> pedras pra <strong>de</strong>ntro, vaian<strong>do</strong>, gritan<strong>do</strong>. [...] O padre<br />

André Torres, que levava uma carabina em baixo da batina, comandava um ‘ban<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

garotos’ nas ruas, ‘provocan<strong>do</strong> tumultos nas ruas e pedin<strong>do</strong> justiça para os camponeses’.<br />

Puseram fogo nos cartazes. Eles vieram ‘para quebrar tu<strong>do</strong>’, para ‘acabar com o<br />

14 O autor traz também a opinião contrária <strong>de</strong> padre Osval<strong>do</strong> Rambo, para quem foram os comunistas que marcaram o congresso,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> anunciada a fundação da FAP: “quan<strong>do</strong> os comunistas souberam da nossa reunião gran<strong>de</strong> pra fundar a Frente Agrária Paranaense,<br />

eles também começaram a organizar uma concentração, uma reunião <strong>de</strong> esquerdistas e <strong>de</strong> comunistas... a quatro quarteirões,<br />

num salão... mesmo dia, mesmas horas” (SILVA, 2006, p. 227).

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