Dezembro de 2011 - Paróquia Nossa Senhora das Mercês
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Ele ficou<br />
em pé e, batendo<br />
no peito,<br />
falou “escute.<br />
Atire aqui! Atire<br />
pois hoje<br />
o casamento<br />
não sai. Se<br />
quiser casamento,<br />
que venha<br />
amanhã”.<br />
Essa foi uma<br />
<strong>das</strong> várias situações<br />
<strong>de</strong><br />
perigo e intimidação<br />
que frei<br />
A<strong>de</strong>lino Lolvatel, <strong>de</strong> 82 anos, teve que enfrentar.<br />
Em uma <strong>das</strong> comunida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> celebrava missas,<br />
precisou ser firme em sua <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> não realizar<br />
um casamento à força. “Passei bastante apuro no<br />
meu trabalho pastoral, <strong>de</strong> me esperarem na estrada,<br />
quererem me bater, me mostrar revólver...<br />
O casamento, por exemplo, tem suas leis. A gente<br />
explicava e muita gente não aceitava. Levavam<br />
uma vida bagunçada [com infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>,<br />
adultério, promiscuida<strong>de</strong>]<br />
e até traziam testemunha falsa”,<br />
relembra o padre que afirma ter<br />
passado por apuros em diversas<br />
vezes, ao tentar explicar para algumas<br />
pessoas que casamento<br />
não se realizava <strong>de</strong> um dia para<br />
o outro, nem mediante a violência.<br />
Hoje, frei A<strong>de</strong>lino mora com<br />
os capuchinhos nas <strong>Mercês</strong>. Por<br />
uns três anos, trabalhou sozinho<br />
em Itapoá (SC) mas, por problemas<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, acabou vindo para<br />
Curitiba fazer seus tratamentos.<br />
“Estou me tratando aqui <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
maio. Fiz tudo quanto é tipo <strong>de</strong><br />
exame e ainda há mais alguns<br />
pra fazer”, conta. Para piorar, se<br />
machucou e diz estar surpreso<br />
com a falta <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> na<br />
terceira ida<strong>de</strong>. “Nesses dias, estava andando pela<br />
calçada, tropico e caio com o corpo em cima do<br />
meu braço. É incrível como a gente vai ficando velho<br />
e cai facilmente”, comenta.<br />
Membro <strong>de</strong> uma família composta por 10 irmãos,<br />
frei A<strong>de</strong>lino aproveitou a instalação <strong>de</strong> um<br />
seminário perto da sua casa e passou a integrá-<br />
-lo juntamente com seu primo. “Isso aconteceu em<br />
1942, em Lacerdópolis (SC), quando eu tinha 12<br />
anos”, explica. Além da pouca ida<strong>de</strong>, frei A<strong>de</strong>lino<br />
precisou driblar a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizado. “Já<br />
havia ido à escola, mas mal sabia ler e escrever<br />
quando entrei no seminário”. Em 1943, foi para<br />
Botiatuba, Almirante Tamandaré (PR), fez todo o<br />
NoSSoS FREIS<br />
O frei que já passou por “poucas e boas”<br />
ginásio e noviciado lá. Completou<br />
os estudos em Filosofia e<br />
Teologia aqui nas <strong>Mercês</strong>. “Me<br />
tornei sacerdote em 1955. Nos<br />
primeiros cinco anos, trabalhei<br />
em lombo <strong>de</strong> cavalo. Atendia<br />
cinquenta e poucas igrejinhas.<br />
Pra fazer esses ‘atendimentos’<br />
viaja 20 dias por mês, fora <strong>de</strong><br />
casa”, esclarece.<br />
O padre conta também que<br />
atuou em diversas comunida<strong>de</strong>s<br />
por muitos anos a fio: 12 anos<br />
em Cruzeiro do Oeste (PR), 12<br />
anos em Dois Vizinhos (PR), 7<br />
anos em Capitão Leôni<strong>das</strong> Marques<br />
(PR) e um ano no Paraguai,<br />
em <strong>de</strong>z pequenas comunida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> brasiguaios. “Naquele tempo,<br />
a gente nem era sofrido,<br />
nem tinha tanta facilida<strong>de</strong>. Éramos<br />
jovens e eu aceitava trabalhar<br />
com gosto naquilo que escolhi<br />
fazer, que era ser padre”.<br />
Uma nova Igreja para<br />
os novos tempos<br />
Frei A<strong>de</strong>lino admite<br />
que os tempos<br />
mudaram. Entretanto,<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> uma receita<br />
tradicional para atrair<br />
a juventu<strong>de</strong> à vida religiosa<br />
e sacerdotal.<br />
“Pra mim, tem que ser<br />
através do exemplo...<br />
Da vida que se leva, da<br />
simplicida<strong>de</strong>, humilda-<br />
<strong>de</strong>, estudo e oração”.<br />
Ele atribui a mudança do<br />
perfil do jovem a aspectos<br />
históricos e sociais.<br />
“Pra dizer a verda<strong>de</strong>, trocou<br />
o sistema. Naquele<br />
tempo as famílias eram<br />
mais numerosas e havia<br />
mais disciplina. A criança<br />
não é mais recreativa<br />
por si mesma, ela já encontra<br />
tudo fácil”.<br />
Durante muitos anos<br />
<strong>de</strong> sacerdócio, frei A<strong>de</strong>lino<br />
celebrou missas<br />
em latim, época em que<br />
também precisou lidar<br />
com situações <strong>de</strong>safiadoras,<br />
tanto quanto na<br />
ocasião narrada no início<br />
<strong>de</strong>sse texto. “O padre<br />
rezava a missa <strong>de</strong><br />
costas e o povo fazia<br />
o que bem entendia. O<br />
povo era muito simples e cuspia no chão, conversavam,<br />
entravam na igreja com cachorro...”<br />
Para ele, muita coisa mudou pra melhor com o<br />
Concílio Vaticano II. “O povo gostou porque daí eles<br />
rezavam na língua materna. Teve um padre que não<br />
queria essa transformação, mas o povo vinha pra<br />
mim e pedia para dizer a esse outro padre que rezasse<br />
em português e <strong>de</strong> frente para eles”.<br />
Esse novo fôlego <strong>de</strong> vida sobre a Igreja continua<br />
ecoando através do tempo. Exemplo disso é a participação<br />
mais ativa dos leigos. “Hoje em dia, dá<br />
pra ver quanta gente faz a sua parte pra ajudar na<br />
comunida<strong>de</strong>. Naquele tempo, era só o padre para<br />
fazer casamentos, rezar a missa e realizar pequenas<br />
reuniõezinhas... Hoje em dia, os próprios fiéis<br />
é que estudam e comandam vários grupos”.<br />
Esse novo papel assumido por membros da comunida<strong>de</strong>,<br />
segundo frei A<strong>de</strong>lino, foi essencial para<br />
ajudar na formação dos católicos. “Hoje em dia<br />
tem mil e uma pastorais. Então, se tornou mais fácil<br />
fazer o povo enten<strong>de</strong>r melhor as coisas da Igreja,<br />
a sua fé, o seu batismo...”<br />
Para encerrar, o frei nos <strong>de</strong>ixa sua mensagem.<br />
“É preciso ter fé naquilo<br />
que a gente faz. Muitas<br />
vezes, po<strong>de</strong>mos fazer<br />
mil e uma coisas, mas<br />
a gente faz por fazer. Só<br />
que tem uma passagem<br />
nas escrituras que diz<br />
que a fé sem obras não<br />
vale nada. Então é preciso<br />
acreditar naquilo<br />
que a gente faz e agir”.<br />
Colaboração: Diego<br />
Henrique da Silva<br />
Boletim Informativo da <strong>Paróquia</strong> <strong>Nossa</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>das</strong> <strong>Mercês</strong> - 7