Capítulo I – A VISÃO DE MUNDO DO SER HUMANO Esta ... - fatebe
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<strong>Capítulo</strong> I <strong>–</strong> A <strong>VISÃO</strong> <strong>DE</strong> <strong>MUN<strong>DO</strong></strong> <strong>DO</strong> <strong>SER</strong> <strong>HUMANO</strong><br />
<strong>Esta</strong> unidade estudará o Ser Humano em sua dimensão<br />
transcendental, a saber: na tentativa do Homem de se<br />
comunicar com um ser superior que pode influenciar<br />
favoravelmente seu destino ou intervir em situações de ordem<br />
existencial como doença, segurança, vida, morte etc. Além de<br />
atentar para a estreita relação entre religião e diferentes áreas, o<br />
aluno entrará em contato com as diferentes variações<br />
lingüísticas que são necessárias quando se pensa a respeito do<br />
uso e da aplicação da nossa linguagem.<br />
Esperamos que o discente leia com atenção o conteúdo<br />
exposto, reflita sobre o mesmo e realize leituras paralelas,<br />
pertinentes ao assunto, em fontes diversas do material<br />
disponibilizado na web aula.<br />
Sumário do capítulo<br />
Unidade 1 : O FENÔMENO RELIGIOSO<br />
Unidade 2: AS VARIAÇÕES LINGÜÍSTICAS<br />
Unidade 1: O FENÔMENO RELIGIOSO<br />
Por que estudar o FENÔMENO RELIGIOSO dentro de<br />
um curso de Graduação Tecnológica em Gestão Financeira?<br />
Qual a sua utilidade prática?<br />
De algum modo a religião tem estado presente no<br />
cotidiano através de diferentes manifestações. Pode-se, sem<br />
entrar em detalhes por ora, mencionar algumas áreas, alguns<br />
eventos e algumas práticas pessoais e sociais marcadas por<br />
idéias, ritos e símbolos consagrados ao campo religioso.<br />
Basta, de forma resumida, mencionar práticas familiares<br />
ligadas à tradição religiosa como o casamento, batismo, morte e<br />
velamento; comportamento de ordem pessoal regrado por<br />
normas morais ditadas por alguma tradição religiosa; o<br />
comportamento de busca de ajuda divina diante de qualquer
doença ou de situações difíceis na vida; boa parte das relações<br />
sociais está fortemente marcada por imperativos de ordem<br />
religiosa.<br />
No esporte estamos acostumados, marcadamente no<br />
futebol, à cena de uma oração conjunta antes da entrada no<br />
campo e, aliás, é recente a visão dos jogadores brasileiros<br />
ajoelhados em campo rezando após a vitória que determinou a<br />
conquista do pentacampeonato mundial.<br />
No campo musical não são raras as menções que se<br />
fazem a personagens religiosos e até mesmo a sentimentos de<br />
ordem religiosa.<br />
No campo das artes somos conduzidos a milhares de<br />
imagens notadamente carregadas de simbolismo religioso dos<br />
mais diversos matizes; a literatura não tem deixado por menos e<br />
tem sido o mercado que mais cresce em termos de editoria nos<br />
últimos anos; adornos com diversos fins têm sido pautados por<br />
motivos religiosos.<br />
O cinema tem sido pródigo nas temáticas de ordem<br />
religiosa; as novelas, fenômeno brasileiro que ganha o mundo,<br />
jamais têm deixado de lado alguma alusão, personagem e até<br />
mesmo a temática central ligados a fatos eminentemente<br />
religiosos.<br />
O papel moeda, seja o dólar ou o real, tem feito menção a<br />
uma divindade; nossas vestimentas são conduzidas por<br />
modismos, de estilo ou de cores ou de tamanho, em grande<br />
parte determinados por concepções religiosas; nossa<br />
alimentação está em grande parte determinada por elementos<br />
de ordem religiosa.<br />
O modo de expressar nossas idéias através da linguagem<br />
é, igualmente, em grande parte determinada por formas<br />
religiosas.<br />
O turismo religioso é hoje um grande filão na arrecadação<br />
de divisas para um município.<br />
A educação é fortemente marcada por valores que, quase<br />
sempre, são idênticos aos valores de ordem religiosa.<br />
Na área da saúde, o trato com a dor, a vida e a morte foi<br />
e ainda é construída com suporte religioso.
Nosso calendário, suas datas festivas e grandes eventos<br />
têm sua origem no meio eclesiástico.<br />
Enfim, as diversas áreas do conhecimento humano, duma<br />
ou de outra maneira, têm-se ocupado com a temática religiosa,<br />
como a filosofia, a psicologia, a sociologia, a antropologia, a<br />
história, a medicina, a física, a arqueologia, a geografia e assim<br />
por diante.<br />
Apesar de seguidamente ouvir-se que religião é coisa do<br />
passado, as menções acima indicam uma direção contrária:<br />
estão apontando para o fato de que o ser humano<br />
preocupa-se com o divino, aqui entendido no sentido<br />
daquilo que ocupa lugar de destaque ou o primeiro lugar na<br />
vida. Essa assertiva remete a uma dimensão em que é possível<br />
perceber-se a religião como fenômeno humano, tais como os<br />
classificados abaixo e expostos pelo Prof. Martinho Lutero<br />
Hoffmann em material não publicado. Vejamos:<br />
RELIGIÃO E MORAL<br />
A Moral vem a ser num mundo que vive em sociedade um<br />
de seus pilares imprescindíveis. A convivência de muitas<br />
pessoas dentro dum mesmo espaço físico exige regras e leis,<br />
deveres e obrigações, direitos e privilégios e, mais que tudo,<br />
virtudes e valores. A moral nos diz o que é certo e o que é<br />
errado. Mas o que diz à moral se algo é certo ou errado, ou qual<br />
a hierarquia dos valores e virtudes, é, na maioria das vezes, a<br />
religião que as pessoas aceitam. Há, evidentemente, religião<br />
sem moral e moral sem religião, mas, na grande maioria dos<br />
casos, moral e religião mantêm um casamento pra lá de<br />
fechado.<br />
Quando isso acontece, é a religião que dita as normas e<br />
ainda fornece toda a motivação para que as normas sejam<br />
plenamente cumpridas. Isso será ampliado quando tratar-se do<br />
capítulo da “A Ética Social Cristã”.<br />
RELIGIÃO E CIÊNCIA<br />
Se religião, arte e moral formam um trio quase perfeito,<br />
religião e ciência, há tempos descasados, brigam muito,
continuamente. A briga realmente esquentou no século XIX.<br />
Comte, o fundador do positivismo, afirmou, na teoria dos três<br />
estágios do conhecimento, que a religião era, dos três, o mais<br />
antigo e o mais simplório, devendo ceder lugar à filosofia, a qual,<br />
por sua, vez, entregaria o posto à ciência. O incrível de tudo isso<br />
é o próprio Comte, depois de haver levantado essa idéia, criar a<br />
religião da humanidade, um manual que a partir da sua filosofia<br />
positivista defende o amor como causa, a ordem como meio e o<br />
progresso como fim. O grande problema, no entanto, surge com<br />
Darwin e a teoria evolutiva. Até aí, não se via nenhuma<br />
dificuldade com o relato inicial do primeiro livro de Moisés.<br />
Acreditava-se com toda a candura na criação do mundo em seis<br />
dias e na idade do universo em torno de seis mil anos como se o<br />
relato bíblico fosse uma reportagem dos tempos antigos.<br />
Darwin, porém, com seus biólogos e mais os astrônomos e os<br />
geólogos colocaram, se não um ponto final pelo menos algumas<br />
vírgulas nesse idílio. O universo ficou mais velho, e a rápida<br />
mão do Criador cedeu lugar à lenta evolução. A imagem e<br />
semelhança de Deus atribuídas ao homem desmancharam-se<br />
em crânios simiescos datados de algumas centenas de milhares<br />
de anos.<br />
As perguntas que, pois, se impõem são estas: há no Big<br />
Bang e na evolução alguma verdade que pode ser considerada<br />
final, ou tudo gira no terreno arenoso das hipóteses e da<br />
especulação? As narrativas bíblicas têm a pretensão de ser uma<br />
afirmativa de caráter científico tal e qual entendemos hoje a<br />
ciência com seu meticuloso método, ou foram desde o princípio<br />
concebidas na categoria de mitos, a saber, como verdades<br />
superiores que só podem ser expressas em linguagem sublime<br />
e figurada? Sendo assim, podemos abrir mão da literalidade da<br />
Criação para injetar nela as categorias da evolução? As<br />
respostas a cada uma dessas perguntas dependerão da fé e da<br />
compreensão da fé ou da ausência de fé tanto em relação à<br />
religião com também em relação à própria ciência visto que<br />
essa, para muitos, constitui uma espécie de religião que, além<br />
de plantar certezas, garante safras de soluções.<br />
Era isso, aliás, que cientistas do século XIX e início do XX<br />
deixavam entrever. Acreditava-se que a ciência não só<br />
explicaria todas as coisas como ainda resolveria todos os<br />
problemas. A expectativa não se cumpriu inteiramente porque,<br />
embora a ciência tenha fornecido muitas explicações e dado
condições para a tecnologia assumir um papel de destaque na<br />
criação de tudo que hoje consideramos de ponta, por outro lado,<br />
também, muitos problemas foram também criados pelo próprio<br />
desenvolvimento científico e tecnológico. Assim, muitas pessoas<br />
não se contentam simplesmente com o saber: querem um<br />
contato com seu Deus.<br />
De qualquer forma, pois, o debate se escancarou. Mas,<br />
se por um lado, há farpas entre ciência e religião, por outro há<br />
compromissos, como o dos que afirmam não haver contradição<br />
entre elas porquanto ambas se exprimem não só em linguagens<br />
diferentes como ainda se movem em planos diferentes: seria<br />
como um time de vôlei enfrentar um de basquete.<br />
Não se sabe com certeza como terminará a oposição<br />
religião e ciência. Isto, porém, é sabido: o homem quer entender<br />
o seu mundo com instrumentos que ele próprio criou e com<br />
esses mesmos instrumentos quer entender a si mesmo. No<br />
primeiro caso temos a ciência; no segundo, a religião. Ao que<br />
tudo indica, ambas continuarão lado a lado, ora<br />
complementando-se, ora divergindo, mas sempre dentro do<br />
mesmo coração.<br />
RELIGIÃO E POLÍTICA<br />
Desde a Renascença, quando a secularização no<br />
Ocidente começa a encorpar-se, religião e política passam a<br />
andar meio dissociadas. Hoje, praticamente, não se nota mais<br />
um vínculo determinante. Mesmo assim, podemos observar que<br />
segmentos religiosamente conservadores votam em partidos<br />
socialmente conservadores. Isso acontece, por exemplo, na<br />
Alemanha, onde os católicos da Baviera sempre se alinham com<br />
o CDU; e nos <strong>Esta</strong>dos Unidos, onde os líderes protestantes<br />
fundamentalistas sempre votam com os republicanos. Aqui, no<br />
Brasil, os religiosos da linha pentecostal invariavelmente<br />
colocam na urna seu apoio a partidos de direita. Aliás, o<br />
incentivo que se dá nessas igrejas a que seus membros votem,<br />
é quase sempre em favor de pessoas que pertencem à mesma<br />
igreja. Inclusive, essas igrejas estão fortemente ligadas a um<br />
partido político (que não convém mencionar, mas que é público<br />
e notório) e fundam novamente religião e política, resgatando,<br />
assim, o sentido original da palavra correligionário. No campo<br />
católico, especificamente no da teologia da libertação, houve
empenho muito grande em favor dos partidos populares. As<br />
comunidades eclesiais de base deram o impulso inicial para a<br />
fundação do PT.<br />
No outro lado do mundo, o Islamismo possui diversas<br />
teocracias (poder exercido por líderes religiosos), que governam<br />
falando em nome de Deus (Alá) e assim distribuem as leis e a<br />
maneira de governar.<br />
RELIGIÃO E EDUCAÇÃO<br />
Por ser a religião um conjunto de ensinamentos (note-se<br />
o termo), segue-se que ela, para sobreviver, tem de apelar para<br />
a educação. Não é por outro motivo que os primeiros<br />
professores foram pessoas ligadas a um culto específico. No<br />
entanto, o que se quer discutir aqui é se a religião consegue<br />
lançar os olhos para a educação como um todo. Num primeiro<br />
exame, observa-se que a religião contribuiu com muito pouco ou<br />
mesmo nada nessa direção.<br />
Na China, país de cultura milenar, a educação esbarrava<br />
nos milhares de ideogramas que um aluno precisava memorizar,<br />
pois era necessário tempo e dinheiro. Ao que tudo indica, não<br />
havia nenhum plano de educação abrangente. No primeiro<br />
projeto educacional conhecido, o confuciano (século VI AC), a<br />
ênfase não era popular, mas sim elitista, porquanto Confúcio<br />
queria restabelecer o império, transformado quase numa obra<br />
de ficção por causa do ínfimo poder exercido pelo imperador. O<br />
sistema idealizado pelo mestre visava a preparar os funcionários<br />
públicos, os mandarins, os quais seriam a base burocrática do<br />
império. Deve-se notar que, embora seja atualmente<br />
considerada uma religião, o confucionismo tinha a princípio uma<br />
função muito mais política e pedagógica do que propriamente<br />
religiosa.<br />
No mundo grego, no qual surgem os sofistas, os<br />
primeiros professores profissionais autônomos da história, a<br />
razão para seu aparecimento não tinha nada a ver com religião,<br />
pois, em sua grande maioria relativistas, já não mais criam nos<br />
antigos mitos.<br />
No hebraico não encontramos classe de professores<br />
preocupados com todos os ramos do conhecimento para todas
as pessoas.<br />
A igreja cristã primitiva também não nos dá nenhuma<br />
indicação quanto a isso. Era um pressuposto básico, porém, que<br />
os membros das várias comunidades cristãs espalhadas pelo<br />
Império Romano soubessem ler as cartas apostólicas. Com a<br />
decadência do império (por razões internas) e a invasão dos<br />
bárbaros, ágrafos, a cultura decai a níveis rastejantes. A igreja<br />
cristã, portanto, a partir disso, herda um mundo caótico, violento<br />
e ignorante. Ela faz o que pode não para criar, mas, ao menos,<br />
para conservar, como num congelador, a cultura antiga tendo<br />
sido instrumento apropriado para tanto o mosteiro, onde monges<br />
letrados investiam a vida a copiar textos antigos. Só pelo século<br />
XI é que serão criadas escolas monasteriais e catedrais, para<br />
atender estudantes leigos e, ainda assim, com muitas restrições,<br />
pois só meninos, filhos de nobres e ricos, eram admitidos.<br />
Nesse meio tempo ocorrem três fatos muito importantes:<br />
as cidades italianas redescobrem o comércio e a navegação, o<br />
que em muito as enriquece; intelectuais bizantinos fogem da<br />
invasão otomana para a Itália trazendo na bagagem seus<br />
manuscritos; o sentimento de insegurança, típico da alta Idade<br />
Média, razão pela qual os castelos tinham toda a primazia,<br />
começa a diminuir e a redundar na criação de mais riquezas<br />
para todos. Esses dois fatos provocam um novo interesse pelas<br />
artes, filosofia e conhecimento em geral. Pode-se dizer que aí<br />
começa o lento Renascimento. A religião marcou presença no<br />
processo, mas não foi determinante. Pode-se até conjeturar<br />
tenha sido a Renascença o primeiro passo na secularização do<br />
mundo ocidental.<br />
Num certo sentido é a Reforma que ata o nó bem firme<br />
da religião com a educação. Lutero achava que ela poderia fazer<br />
de alguém um cidadão útil para o estado. Já nos primeiros anos<br />
da Reforma recomendava aos príncipes e governantes que<br />
fundassem escolas e recomendassem aos pais a enviar a elas<br />
os filhos. Por outro lado, a fim de pôr em prática a noção de<br />
sacerdócio universal de todos os crentes, advogava que todo<br />
cristão poderia ler a Bíblia e interpretá-la — não aleatoriamente<br />
— mas de modo objetivo, intelectualizado, levando em conta as<br />
regras da gramática e da retórica e todo o amplo contexto<br />
geográfico, histórico, social, político etc., conforme o nome que<br />
se dava na época: filologia poligráfica. Via na Bíblia um conjunto<br />
de livros coerentes que deveriam ser interpretados não de fora
para dentro, mas de dentro para fora: a Bíblia interpreta a si<br />
mesma (Lutero). Dizia, por isso, que a Bíblia interpreta a Bíblia<br />
numa clara alusão ao princípio renascentista: Homero interpreta<br />
Homero. A fim, pois, de o povo ter condições de a ler sem<br />
maiores atropelos, traduziu-a para o alemão. Ao fazer isso, não<br />
só realizou a melhor de todas as traduções da Bíblia para<br />
qualquer língua, mas também a erigiu como principal<br />
monumento literário da língua alemã. Transformou-se em livro<br />
texto do ensino fundamental e, por haver alcançado mais de<br />
cinqüenta edições enquanto viveu o tradutor, unificou o idioma<br />
alemão. Num certo sentido, Lutero é apontado como o criador<br />
do alemão moderno. Em sintonia com ele, também Melanchthon<br />
incentivou a educação, o que o levou a ser considerado o pai da<br />
educação secundária na Alemanha, enquanto Lutero o foi da<br />
primária. Em tempo: ambos advogavam estudos iguais para<br />
meninos e meninas.<br />
Outro líder religioso de grande projeção a perceber na<br />
educação algo vital foi John Wesley, o fundador do metodismo,<br />
que viveu na Inglaterra em plena Revolução Industrial. Sua<br />
criação, a escola dominical, pode parecer um tanto modesta.<br />
Contudo, levando-se em conta a precariedade das crianças<br />
submetidas a uma carga de trabalho de 12 horas diárias ou<br />
mais, de segunda a sábado, pode-se entender a grandeza da<br />
sua idéia em dar às crianças, aos domingos, a chance de<br />
aprender o mínimo necessário. Na atualidade, a escola<br />
dominical é uma instituição presente nas igrejas protestantes<br />
sendo usada principalmente para dar às crianças o<br />
conhecimento bíblico fundamental e não mais, como nos tempos<br />
de Wesley, para alfabetizá-las.<br />
Embora se possa observar que as igrejas cujos pastores<br />
não têm formação acadêmica tendem a olhar com desdém o<br />
estudo superior, nem uma denominação cristã hoje em dia se<br />
declara contra a educação em si. Pode-se até afirmar, sem<br />
nenhum receio, que a educação brasileira não seria hoje o que é<br />
sem as escolas confessionais, mantidas por denominações<br />
religiosas (Católicas, Luteranas, Metodistas, Batistas etc.), pois<br />
são milhares por toda parte.
Se a Religião tem várias facetas e aqui foi vista em<br />
sua estreita relação com áreas como a Arte, a Moral, a<br />
Ciência, a Filosofia, a Política, a Ideologia, a Economia e a<br />
Educação, imaginem as variações possíveis e as<br />
adaptações que se fazem necessárias quando se pensa a<br />
respeito do uso e aplicação da nossa linguagem.<br />
Todo ser humano é um falante nativo de uma<br />
determinada língua e como tal tem amplos poderes sobre<br />
ela. O importante, além de dominar o manejo dessa<br />
ferramenta tão fundamental para o convívio social e<br />
profissional, é conhecer suas diferentes facetas e saber<br />
aplicá-las corretamente em diferentes situações de uso.<br />
Unidade 2: AS VARIAÇÕES LINGÜÍSTICAS<br />
O usuário de uma língua a usa diariamente para várias<br />
finalidades: comprar, vender, expressar opiniões, sentimentos e<br />
necessidades. A finalidade é sempre se comunicar com o outro,<br />
pois só assim conseguirá sobreviver. A grande questão é: o que<br />
é comunicar? Muitos acreditam que basta transmitir uma<br />
mensagem para estar comunicando. Outros acham que<br />
compreender uma idéia é uma forma de comunicação. No<br />
entanto, a comunicação só se efetiva se a mensagem, ao ser<br />
transmitida, for entendida pelo receptor. Se a idéia do falante<br />
não for assimilada pelo ouvinte, não houve comunicação. Por<br />
isso, somente para ilustrar, os grandes sucessos da televisão<br />
são de programas que “falam” para um público específico. Um<br />
mesmo programa não atingirá a todas as camadas sociais do<br />
país. Sendo assim, o falante tem de saber a quem está se<br />
dirigindo, pois dessa forma escolherá o nível de linguagem
adequado ao público e ao contexto e conseguirá, com isso,<br />
prender a atenção do espectador.<br />
Na fala, temos presente a informalidade, os gestos, a<br />
expressão facial, as repetições, a entonação, a prosódia, enfim,<br />
recursos que permitem personalidade ao discurso. Por outro<br />
lado, quando não visa reproduzir a expressão oral (como as<br />
histórias em quadrinhos, as cartas de amor, cartas familiares e<br />
outros textos tão informais quanto os diálogos do dia-a-dia) a<br />
escrita é formal e, em geral, utiliza-se das normas gramaticais<br />
para efetivar a comunicação.<br />
A informalidade e a formalidade, então, alternam-se na<br />
língua de acordo com a necessidade do emissor, isto é, na<br />
escrita, excetuando-se a reprodução da fala, a formalidade é<br />
essencial, enquanto que na fala o indivíduo adapta a sua<br />
maneira de falar, ou seja, o nível de linguagem, assim como<br />
escolhe a roupa que vai vestir em diferentes ocasiões.<br />
PADRÃO E NÃO-PADRÃO<br />
Todo diálogo, toda interação comunicativa pressupõe<br />
uma mesma língua, no caso do Brasil, a Língua Portuguesa.<br />
Contudo evidenciam-se diferentes formas de comunicação oral<br />
dentro de uma mesma língua; do jovem ao técnico, do advogado<br />
ao imigrante, cada grupo interage com dialetos peculiares<br />
justificados pelas mais diferentes causas.<br />
O que temos, então, é uma língua com muitas variações. A<br />
ocorrência de variações lingüísticas sobretudo, no Brasil, se
dá pela sua extensão geográfica, pelas diferenças regionais,<br />
diversidade de colonização e, ainda, pelas acentuadas<br />
diferenças sócio-econômicas. Alguns estudiosos denominam<br />
essas diferenças como níveis de linguagem, outros como<br />
dialetos de uma mesma língua ou simplesmente como<br />
variações lingüísticas.<br />
Na tentativa de relacionar os registros de linguagem sem,<br />
contudo, valorizar mais um nível do que outro é que se prefere o<br />
termo variação lingüística. Cabe aqui ressaltar que não existe,<br />
em geral, um nível puro, nem na fala nem na escrita, mas o que<br />
se pode observar é uma predominância de tipo de linguagem,<br />
pois o Padrão se mistura ao Não-Padrão que pode se revelar<br />
através do coloquial, da gíria, do popular etc. Assim, observemse<br />
os seguintes registros, bem como suas características<br />
peculiares:<br />
1. Língua Padrão <strong>–</strong> utiliza as normas ditadas pela gramática<br />
tradicional. Não está relacionada ao uso de palavras mais ou<br />
menos difíceis, mas sim à utilização das regras de<br />
concordância, regência, ortografia, pontuação, bem como ao<br />
adequado uso dos pronomes pessoais do caso reto, oblíquo,<br />
possessivos etc. Tanto faz se a pessoa disser atualmente ou<br />
hodiernamente (ambos estão “corretos”), porém se for<br />
utilizada a frase Hoje fui no cinema, ao invés de Hoje fui ao<br />
cinema (observa-se aí uma infração da linguagem padrão no<br />
campo da regência verbal). A importância de sua<br />
preservação se deve à necessidade de haver uma referência<br />
para o ensino da língua e para o registro histórico. É de<br />
essencial utilização em qualquer texto escrito.<br />
Veja o exemplo abaixo:
É de linguagem simples, cotidiana, na qual predomina a<br />
linguagem padrão por não apresentar nenhuma infração à<br />
gramática.<br />
1.1. Técnico <strong>–</strong> cada grupo de profissionais possui um<br />
vocabulário técnico que também o caracteriza. São expressões<br />
como datavênia e nomenclaturas como ACV (acidente cerebral<br />
vascular)que fazem parte do trabalho das pessoas, e que nem<br />
sempre são compreendidos por profissionais de outras áreas.<br />
Os médicos, advogados, professores, agricultores, operários,<br />
enfim, qualquer classe trabalhadora possui termos que são<br />
dominados apenas pelos técnicos. Aparecem normalmente<br />
mesclados à Língua Padrão.<br />
Lendo um trecho do texto a seguir, podemos observar a<br />
incidência de termos técnicos da área jurídica, os quais não<br />
fazem parte do cotidiano de todas as pessoas.<br />
BARATA INSUFLA A RETÓRICA JURÍDICA<br />
Pedido de indenização demonstra a sobrevivência de cultores da<br />
linguagem rebuscada nos tribunais<br />
Flávio Solon Schubert<br />
Que soma monetária pode compensar o choque de encontrar uma<br />
barata num pote de doce de leite? Não menos de 2 mil salários mínimos
(R$ 260 mil) por pessoa submetida a esse impacto emocional, segundo<br />
duas consumidoras, mãe e filha. A questão, debatida recentemente pela 6ª<br />
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do <strong>Esta</strong>do (TJE), envolveu o<br />
chamado dano moral, que decorre de um impacto emocional ou psíquico.<br />
A soma compensatória não foi arbitrada por não ter ficado provado o<br />
momento em que a barata ingressou no pote <strong>–</strong> antes de ele ser lacrado na<br />
indústria ou depois de aberto para consumo. Constatou-se, porém, que o<br />
gosto pelo linguajar rebuscado ainda tem cultores entre os profissionais<br />
do Direito. A ação proposta pelas consumidoras é tão bom exemplo dessa<br />
linguagem empolada que o relator do processo, desembargador Décio<br />
Antônio Erpen, humoradamente, resolveu adotá-la em seu voto.<br />
Depois de terem comprado o pote de doce de leite em um supermercado<br />
da Capital e consumido parte do conteúdo, as autoras da ação teriam<br />
encontrado, “entronizado com todas as galas”, o inseto “nauseabundo”. O<br />
“derruimento psicológico causado” tornou “vulneráveis e enfermiças as<br />
suas vidas”, afirmou a petição inicial. Isto é, a filha adolescente passou a<br />
ser “tratada clinicamente (...) por anorexia grave relacionada a trauma<br />
psíquico originado da desagradável experiência de constatar a presença de<br />
um inseto em um pote de doce, conforme relatos anexos, sendo observada<br />
evolução desfavorável até a presente data, com reiterados insucessos de<br />
abordagem psicoterapêutica”. As consumidoras disseram ter reclamado à<br />
fabricante do doce e às autoridades sanitárias que as teriam submetido a<br />
“chacotas calhordas”. Na Justiça, a empresa negou a existência do inseto<br />
no doce e alegou ter-lhe sido proposto um acordo, que rejeitou. ( ... )<br />
Significado de algumas palavras<br />
do processo:<br />
Absconso <strong>–</strong> escondido, oculto<br />
Anorexia <strong>–</strong> redução ou perda de<br />
apetite<br />
Apodítica <strong>–</strong> evidente, irrefutável<br />
Mossa <strong>–</strong> vestígio de pancada ou<br />
pressão<br />
Multifária <strong>–</strong> variado, de muitos<br />
aspectos<br />
Obumbrar <strong>–</strong> obscurecer,<br />
sombrear<br />
Peripatético <strong>–</strong> exagerado na<br />
expressão, nos gestos<br />
Placitar <strong>–</strong> aprovar<br />
Zero Hora, 16 ago. 1998.<br />
Ressumbrar <strong>–</strong> revelar, deixar<br />
transparecer<br />
Supedâneo <strong>–</strong> base, pedestal<br />
Supeditar <strong>–</strong> fornecer<br />
Titônia <strong>–</strong> aurora<br />
Tresmalhar <strong>–</strong> deixar fugir,<br />
dispersar<br />
Vulpino <strong>–</strong> relativo à raposa,<br />
astuto, malicioso<br />
Fonte: Novo Dicionário da Língua<br />
Portuguesa, de Aurélio Buarque de<br />
Holanda Ferreira
2. Língua Não-Padrão - É o uso informal da Língua Portuguesa.<br />
Não há preocupação com o dicionário ou a gramática. As<br />
normas são seguidas sem o rigor da formalidade. Alguns<br />
autores apresentam os registros informais, isto é, a Língua Nãopadrão<br />
com as seguintes distinções:<br />
2.1. Coloquial - é o uso da língua sem a preocupação com a<br />
forma (informal). O elocutor faz a opção da informalidade,<br />
infringindo algumas normas da gramática prescritiva. É uma<br />
linguagem familiar ou popular que permite a ausência de<br />
algumas concordâncias, infração das regências e da colocação<br />
de pronomes oblíquos. Podemos começar uma frase como Te<br />
levanta..., ou ainda, A gente vai prá casa da vó..., porque não há<br />
rigidez quanto às normas. Ocorre um relaxamento da língua<br />
pela comodidade da comunicação.<br />
Veja o exemplo:<br />
2.2 . Vulgar- é a utilização da língua sem nenhuma correção<br />
gramatical. Evidenciam-se palavras com pronúncias<br />
diferentes como pobrema ou poblema, e estruturas de<br />
palavras sem a interferência da língua padrão ou formal<br />
como os verbos peguemo, sobremo, avisemo, entre outros.<br />
Essas ocorrências verificam-se no ambiente em que as<br />
pessoas possuem pouca ou nenhuma escolaridade.
Leia a tirinha abaixo:<br />
2.3 . Gíria <strong>–</strong> evolui com o tempo. As gírias de outras décadas já<br />
não se ouvem mais, quem hoje ainda fala grande áfrica?<br />
Entretanto, quando alguém a reconhece, sabe que é uma<br />
gíria. Sabemos que varia também nos grupos. Por exemplo,<br />
jovens de regiões diferentes, de ambientes familiares<br />
diferentes entendem-se através de expressões também<br />
diferentes; a gíria dos presídios difere da gíria do futebol, do<br />
skate, do surf e, uns nem sempre entendem o que os outros<br />
falam; as gírias dos vários redutos marginalizados se<br />
diferenciam também, muitas vezes, para garantir a<br />
sobrevivência dos moradores e dos que lá comandam.<br />
Enfim, cada grupo cria a linguagem que o vai identificar. Tá<br />
ligado? Então sai da asa, cai na real e te liga nos próximos<br />
exemplos !
Grande áfrica<br />
Você lembra quando sua mãe dizia para você baixar o<br />
volume da eletrola? Você ria na cara da coroa. É três-em-um!<br />
Pois hoje quem chama o som de três-em-um merece ser<br />
empalhado e doado para um museu de história natural, e quem<br />
chama a mãe de coroa também. Nada revela mais a nossa<br />
idade do que o vocabulário. Um amigo meu chegou a fazer uma<br />
lista de expressões que foram vencidas pelo tempo, mas meu<br />
maior fornecedor era Paulo Francis, que em suas crônicas<br />
usava e abusava de termos datados da década de 60. As<br />
crônicas de Nelson Rodrigues, tão bem adaptadas para a tevê.,<br />
também fazem um retrato perfeito de época através do figurino e<br />
da linguagem. Mas, como muita gente não gosta nem de Francis<br />
nem de Nelson Rodrigues, o jeito é fazer uma sessão nostalgia,<br />
você sabe onde: na casa da coroa.<br />
É lá que você ainda vai ouvir que sua calça de brim está<br />
uma vergonha e que é preciso chamar um auto de praça para<br />
levá-la à rodoviária. Mas não ache muita graça. Se abrir o seu<br />
diário de adolescente ou reler as cartas que escrevia quando se<br />
achava o mais moderno dos mortais, vai encontrar lá um baú de<br />
expressões que, não faz muito tempo, estavam na crista da<br />
onda.<br />
“Querido diário. Ando meio jururu. Não fui convidada para a<br />
festa da Penélope. Ah, grande áfrica. A festa vai ser numa big<br />
de uma casa mas isso não quer dizer bulhufas. A Soninha me<br />
contou que vai ser numa big de uma casa mas isso não quer<br />
dizer bulhufas. A Soninha me contou que vai todo mundo na<br />
maior estica e que o Rodrigo vai pegar a caranga do pai dele
escondido. Credo, se ele for pego na tampinha vai levar o maior<br />
carão. Se fosse meu pai, me dava uma sova. A turma acha que<br />
eu estou borocochô. Uma pinóia. Só quero sossegar o pito. Se<br />
me der na veneta, vou até lá para tirar um sarro. Mas entrar na<br />
baia eu não entro, que eu não sou furona, e , depois, lá só vai<br />
ter bocó. Os amigos da Penélope são todos uns bitolados, não<br />
entendem patavina da vida. Uns bodoso. Eu sei por que a<br />
Penélope não me convidou. Ela é gamada no Sérgio, e ele está<br />
dando lance para mim. Outro dia foi me buscar na saída do<br />
colégio na maior beca e não deu a menor pelota para a<br />
Penélope. Aziras. Não tenho nada a ver com o peixe. Nem to<br />
nem aí para aquela desgranida”.<br />
Atire a primeira pedra quem nunca falou assim. Eu<br />
mesma me pego, até hoje, usando umas expressões antigas<br />
que continuo achando bacanas. Mas reciclar é preciso. Sair por<br />
aí dizendo que o último filme do Scorsese é do arco é atestar<br />
total incompatibilidade com a mídia.Tome uma aulas com a<br />
MTV.<br />
Portanto, gurizada medonha, não riam de suas avós, não<br />
riam de suas mães, de seus pais, de seus tios. Amanhã o<br />
vocabulário de vocês já estará morto e enterrado e ainda assim<br />
vocês insistirão em dizer “zoar” que já vai ser total careta. Dizer<br />
que o cara está caidaço ou que a garota é uma naja vai fazer<br />
seus filhos rolarem de rir. Você vai contar como conheceu o pai<br />
deles? Que “ficou” com ele no Planeta Atlântida? Eles vão ter<br />
um treco. Vão achar que vocês se conheceram no fundo de uma<br />
caverna, isso sim.<br />
O vocabulário da hora (ainda se usa “da hora”?) não<br />
resiste a mais de uma geração. às vezes, nem a um único<br />
verão. Fazer o quê? Continuar tagarelando do jeito que se sabe,<br />
com as palavras que encontrar. Só não vale fechar a matraca.<br />
Fonte: Jornal Zero Hora <strong>–</strong> 23/02/1997<br />
2.4 . Regional <strong>–</strong> as diferentes regiões do Brasil se expressam<br />
através de vocabulário com marcas regionais. Painho na<br />
Bahia, não é utilizado no Rio de Janeiro, enquanto que uma<br />
pexada para os gaúchos é para os cariocas uma refeição à<br />
base de peixe. Assim, até mesmo dentro de uma só região<br />
como a Sul, por causa da incidência da colonização alemã e
italiana, a pronúncia das palavras e a entonação das frases<br />
se diferenciam nas cidades do interior e em relação à capital.<br />
Observe o exemplo abaixo:<br />
Após observar alguns dos diferentes registros de<br />
linguagem existentes, poderíamos evidenciar os<br />
estrangeirismos, que são termos importados de outras línguas e<br />
utilizados como se fossem da língua materna, como por<br />
exemplo shopping, marketing, stress, abat-jour, happy hour,<br />
entre outros. Na primeira parte deste capítulo, foram utilizadas<br />
várias expressões que não pertencem à língua portuguesa, tais<br />
como Big Bang ou negro spiritual.<br />
A língua escrita, interesse particular desse estudo, busca<br />
a utilização da Língua Padrão e entende que, em muitos textos,<br />
há uma mistura com variações Não-padrão como,<br />
estrangeirismos ou até mesmo com a gíria, embora essas<br />
expressões diferentes do padrão necessitem ser escritas entre<br />
aspas ou devidamente salientadas. Esse recurso que salienta<br />
um nível diferente daquele que deveria predominar no texto,<br />
mostra que o emissor da mensagem domina as variações<br />
lingüísticas e sabe adequá-las à sua necessidade. Retome o<br />
texto lido e observe que, em certa altura da unidade sobre<br />
Religião e Filosofia, o emissor escreve a frase “Para aqueles,<br />
porém, que procuram antenar-se com o mundo...”. Aqui , temos<br />
um exemplo dessa pluralidade de níveis de linguagem permitida<br />
em uma construção acadêmica. Um verbo popular se mescla a
um discurso padrão, sem que essa construção fira o objetivo da<br />
comunicação.<br />
Outro ponto a ressaltar é que em textos literários, como<br />
as crônicas e os romances, todas as variações lingüísticas<br />
podem ser utilizadas sem destaque especial, uma vez que<br />
buscam refletir a fala de personagens, ou até, estabelecer um<br />
diálogo de aproximação com o leitor. A esses registros chamamse<br />
literários.<br />
O trecho a seguir é da obra O Tempo E O Vento de Érico<br />
Veríssimo. Verifique a utilização da Língua Padrão com<br />
incidência de regionalismos e coloquialismos.<br />
Antes de começar o ataque ao casarão, Rodrigo foi à casa do<br />
vigário. - Padre! - gritou, sem apear. Esperou um instante.<br />
Depois: - Padre! A porta da meiágua abriu-se e o vigário<br />
apareceu. - Capitão! - exclamou ele, aproximando-se do<br />
amigo e erguendo a mão, que Rodrigo apertou com força. Foi<br />
só pra saber se vosmecê estava aqui ou lá dentro do casarão.<br />
Eu não queria lastimar o amigo... Muito obrigado, Rodrigo,<br />
muito obrigado. - O Padre Lara sacudiu a cabeça,<br />
desalentado. - Vosmecê vai perder muita gente, capitão. Os<br />
Amarias são cabeçudos e têm muita munição. - Eu também<br />
sou cabeçudo e tenho muita munição. Por que não espera o<br />
amanhecer? Rodrigo deu de ombros.<br />
A IMPORTÂNCIA <strong>DO</strong> ESTU<strong>DO</strong> SOBRE AS VARIAÇÕES<br />
LINGÜÍSTICAS
O estudo das variações lingüísticas é interessante para<br />
que se reconheça a multiplicidade de dialetos que uma língua<br />
pode apresentar. Ao pensar que cada indivíduo manipula sua<br />
língua materna de uma maneira particular, pode-se concluir que<br />
tantos quantos são os habitantes do país são as variações<br />
lingüísticas, mas a essas características individuais chamam-se<br />
idioletos, os quais não podem ser ignorados, mas a título de<br />
estudo e catalogação dos diferentes registros de língua importa<br />
apenas verificação do uso da língua materna relativa aos<br />
diferentes grupos sociais.<br />
No Brasil, há uma tendência de, ao distinguir grupos pela<br />
maneira como se comunicam, também discriminá-los. Nota-se a<br />
verificação da língua como instrumento de ascensão ou<br />
discriminação social, visto que se busca, na maioria das vezes,<br />
a Língua Padrão para conquistar e identificar certo status social.<br />
É comum as pessoas se sentirem mais bem-sucedidas que<br />
outras por dominar a Língua padrão. Entretanto, a sabedoria<br />
humana não está na maneira como a pessoa se comunica<br />
(mesmo porque o importante é a interação comunicativa), mas<br />
sim no que ela tem a dizer, no conteúdo da sua comunicação.<br />
Algumas pessoas, ainda crianças, são desestimuladas a<br />
prosseguir no colégio porque a maneira como falam é diferente<br />
de como a escola ensina.<br />
Logo, é reconhecendo as diferenças lingüísticas e<br />
admitindo suas variações que se poderá atingir a todos os<br />
indivíduos, inserindo-os na sociedade como parte integrante e<br />
não como uma realidade menor sem relevância. O padrão, a<br />
gíria, o coloquial, o regional, o técnico e o vulgar são níveis da<br />
língua materna que se misturam nos textos falados e nos<br />
escritos, predominando em alguns momentos um ou outro e, por<br />
isso, não podendo ter prestígios diferentes.