30.04.2013 Views

Capítulo I – A VISÃO DE MUNDO DO SER HUMANO Esta ... - fatebe

Capítulo I – A VISÃO DE MUNDO DO SER HUMANO Esta ... - fatebe

Capítulo I – A VISÃO DE MUNDO DO SER HUMANO Esta ... - fatebe

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Capítulo</strong> I <strong>–</strong> A <strong>VISÃO</strong> <strong>DE</strong> <strong>MUN<strong>DO</strong></strong> <strong>DO</strong> <strong>SER</strong> <strong>HUMANO</strong><br />

<strong>Esta</strong> unidade estudará o Ser Humano em sua dimensão<br />

transcendental, a saber: na tentativa do Homem de se<br />

comunicar com um ser superior que pode influenciar<br />

favoravelmente seu destino ou intervir em situações de ordem<br />

existencial como doença, segurança, vida, morte etc. Além de<br />

atentar para a estreita relação entre religião e diferentes áreas, o<br />

aluno entrará em contato com as diferentes variações<br />

lingüísticas que são necessárias quando se pensa a respeito do<br />

uso e da aplicação da nossa linguagem.<br />

Esperamos que o discente leia com atenção o conteúdo<br />

exposto, reflita sobre o mesmo e realize leituras paralelas,<br />

pertinentes ao assunto, em fontes diversas do material<br />

disponibilizado na web aula.<br />

Sumário do capítulo<br />

Unidade 1 : O FENÔMENO RELIGIOSO<br />

Unidade 2: AS VARIAÇÕES LINGÜÍSTICAS<br />

Unidade 1: O FENÔMENO RELIGIOSO<br />

Por que estudar o FENÔMENO RELIGIOSO dentro de<br />

um curso de Graduação Tecnológica em Gestão Financeira?<br />

Qual a sua utilidade prática?<br />

De algum modo a religião tem estado presente no<br />

cotidiano através de diferentes manifestações. Pode-se, sem<br />

entrar em detalhes por ora, mencionar algumas áreas, alguns<br />

eventos e algumas práticas pessoais e sociais marcadas por<br />

idéias, ritos e símbolos consagrados ao campo religioso.<br />

Basta, de forma resumida, mencionar práticas familiares<br />

ligadas à tradição religiosa como o casamento, batismo, morte e<br />

velamento; comportamento de ordem pessoal regrado por<br />

normas morais ditadas por alguma tradição religiosa; o<br />

comportamento de busca de ajuda divina diante de qualquer


doença ou de situações difíceis na vida; boa parte das relações<br />

sociais está fortemente marcada por imperativos de ordem<br />

religiosa.<br />

No esporte estamos acostumados, marcadamente no<br />

futebol, à cena de uma oração conjunta antes da entrada no<br />

campo e, aliás, é recente a visão dos jogadores brasileiros<br />

ajoelhados em campo rezando após a vitória que determinou a<br />

conquista do pentacampeonato mundial.<br />

No campo musical não são raras as menções que se<br />

fazem a personagens religiosos e até mesmo a sentimentos de<br />

ordem religiosa.<br />

No campo das artes somos conduzidos a milhares de<br />

imagens notadamente carregadas de simbolismo religioso dos<br />

mais diversos matizes; a literatura não tem deixado por menos e<br />

tem sido o mercado que mais cresce em termos de editoria nos<br />

últimos anos; adornos com diversos fins têm sido pautados por<br />

motivos religiosos.<br />

O cinema tem sido pródigo nas temáticas de ordem<br />

religiosa; as novelas, fenômeno brasileiro que ganha o mundo,<br />

jamais têm deixado de lado alguma alusão, personagem e até<br />

mesmo a temática central ligados a fatos eminentemente<br />

religiosos.<br />

O papel moeda, seja o dólar ou o real, tem feito menção a<br />

uma divindade; nossas vestimentas são conduzidas por<br />

modismos, de estilo ou de cores ou de tamanho, em grande<br />

parte determinados por concepções religiosas; nossa<br />

alimentação está em grande parte determinada por elementos<br />

de ordem religiosa.<br />

O modo de expressar nossas idéias através da linguagem<br />

é, igualmente, em grande parte determinada por formas<br />

religiosas.<br />

O turismo religioso é hoje um grande filão na arrecadação<br />

de divisas para um município.<br />

A educação é fortemente marcada por valores que, quase<br />

sempre, são idênticos aos valores de ordem religiosa.<br />

Na área da saúde, o trato com a dor, a vida e a morte foi<br />

e ainda é construída com suporte religioso.


Nosso calendário, suas datas festivas e grandes eventos<br />

têm sua origem no meio eclesiástico.<br />

Enfim, as diversas áreas do conhecimento humano, duma<br />

ou de outra maneira, têm-se ocupado com a temática religiosa,<br />

como a filosofia, a psicologia, a sociologia, a antropologia, a<br />

história, a medicina, a física, a arqueologia, a geografia e assim<br />

por diante.<br />

Apesar de seguidamente ouvir-se que religião é coisa do<br />

passado, as menções acima indicam uma direção contrária:<br />

estão apontando para o fato de que o ser humano<br />

preocupa-se com o divino, aqui entendido no sentido<br />

daquilo que ocupa lugar de destaque ou o primeiro lugar na<br />

vida. Essa assertiva remete a uma dimensão em que é possível<br />

perceber-se a religião como fenômeno humano, tais como os<br />

classificados abaixo e expostos pelo Prof. Martinho Lutero<br />

Hoffmann em material não publicado. Vejamos:<br />

RELIGIÃO E MORAL<br />

A Moral vem a ser num mundo que vive em sociedade um<br />

de seus pilares imprescindíveis. A convivência de muitas<br />

pessoas dentro dum mesmo espaço físico exige regras e leis,<br />

deveres e obrigações, direitos e privilégios e, mais que tudo,<br />

virtudes e valores. A moral nos diz o que é certo e o que é<br />

errado. Mas o que diz à moral se algo é certo ou errado, ou qual<br />

a hierarquia dos valores e virtudes, é, na maioria das vezes, a<br />

religião que as pessoas aceitam. Há, evidentemente, religião<br />

sem moral e moral sem religião, mas, na grande maioria dos<br />

casos, moral e religião mantêm um casamento pra lá de<br />

fechado.<br />

Quando isso acontece, é a religião que dita as normas e<br />

ainda fornece toda a motivação para que as normas sejam<br />

plenamente cumpridas. Isso será ampliado quando tratar-se do<br />

capítulo da “A Ética Social Cristã”.<br />

RELIGIÃO E CIÊNCIA<br />

Se religião, arte e moral formam um trio quase perfeito,<br />

religião e ciência, há tempos descasados, brigam muito,


continuamente. A briga realmente esquentou no século XIX.<br />

Comte, o fundador do positivismo, afirmou, na teoria dos três<br />

estágios do conhecimento, que a religião era, dos três, o mais<br />

antigo e o mais simplório, devendo ceder lugar à filosofia, a qual,<br />

por sua, vez, entregaria o posto à ciência. O incrível de tudo isso<br />

é o próprio Comte, depois de haver levantado essa idéia, criar a<br />

religião da humanidade, um manual que a partir da sua filosofia<br />

positivista defende o amor como causa, a ordem como meio e o<br />

progresso como fim. O grande problema, no entanto, surge com<br />

Darwin e a teoria evolutiva. Até aí, não se via nenhuma<br />

dificuldade com o relato inicial do primeiro livro de Moisés.<br />

Acreditava-se com toda a candura na criação do mundo em seis<br />

dias e na idade do universo em torno de seis mil anos como se o<br />

relato bíblico fosse uma reportagem dos tempos antigos.<br />

Darwin, porém, com seus biólogos e mais os astrônomos e os<br />

geólogos colocaram, se não um ponto final pelo menos algumas<br />

vírgulas nesse idílio. O universo ficou mais velho, e a rápida<br />

mão do Criador cedeu lugar à lenta evolução. A imagem e<br />

semelhança de Deus atribuídas ao homem desmancharam-se<br />

em crânios simiescos datados de algumas centenas de milhares<br />

de anos.<br />

As perguntas que, pois, se impõem são estas: há no Big<br />

Bang e na evolução alguma verdade que pode ser considerada<br />

final, ou tudo gira no terreno arenoso das hipóteses e da<br />

especulação? As narrativas bíblicas têm a pretensão de ser uma<br />

afirmativa de caráter científico tal e qual entendemos hoje a<br />

ciência com seu meticuloso método, ou foram desde o princípio<br />

concebidas na categoria de mitos, a saber, como verdades<br />

superiores que só podem ser expressas em linguagem sublime<br />

e figurada? Sendo assim, podemos abrir mão da literalidade da<br />

Criação para injetar nela as categorias da evolução? As<br />

respostas a cada uma dessas perguntas dependerão da fé e da<br />

compreensão da fé ou da ausência de fé tanto em relação à<br />

religião com também em relação à própria ciência visto que<br />

essa, para muitos, constitui uma espécie de religião que, além<br />

de plantar certezas, garante safras de soluções.<br />

Era isso, aliás, que cientistas do século XIX e início do XX<br />

deixavam entrever. Acreditava-se que a ciência não só<br />

explicaria todas as coisas como ainda resolveria todos os<br />

problemas. A expectativa não se cumpriu inteiramente porque,<br />

embora a ciência tenha fornecido muitas explicações e dado


condições para a tecnologia assumir um papel de destaque na<br />

criação de tudo que hoje consideramos de ponta, por outro lado,<br />

também, muitos problemas foram também criados pelo próprio<br />

desenvolvimento científico e tecnológico. Assim, muitas pessoas<br />

não se contentam simplesmente com o saber: querem um<br />

contato com seu Deus.<br />

De qualquer forma, pois, o debate se escancarou. Mas,<br />

se por um lado, há farpas entre ciência e religião, por outro há<br />

compromissos, como o dos que afirmam não haver contradição<br />

entre elas porquanto ambas se exprimem não só em linguagens<br />

diferentes como ainda se movem em planos diferentes: seria<br />

como um time de vôlei enfrentar um de basquete.<br />

Não se sabe com certeza como terminará a oposição<br />

religião e ciência. Isto, porém, é sabido: o homem quer entender<br />

o seu mundo com instrumentos que ele próprio criou e com<br />

esses mesmos instrumentos quer entender a si mesmo. No<br />

primeiro caso temos a ciência; no segundo, a religião. Ao que<br />

tudo indica, ambas continuarão lado a lado, ora<br />

complementando-se, ora divergindo, mas sempre dentro do<br />

mesmo coração.<br />

RELIGIÃO E POLÍTICA<br />

Desde a Renascença, quando a secularização no<br />

Ocidente começa a encorpar-se, religião e política passam a<br />

andar meio dissociadas. Hoje, praticamente, não se nota mais<br />

um vínculo determinante. Mesmo assim, podemos observar que<br />

segmentos religiosamente conservadores votam em partidos<br />

socialmente conservadores. Isso acontece, por exemplo, na<br />

Alemanha, onde os católicos da Baviera sempre se alinham com<br />

o CDU; e nos <strong>Esta</strong>dos Unidos, onde os líderes protestantes<br />

fundamentalistas sempre votam com os republicanos. Aqui, no<br />

Brasil, os religiosos da linha pentecostal invariavelmente<br />

colocam na urna seu apoio a partidos de direita. Aliás, o<br />

incentivo que se dá nessas igrejas a que seus membros votem,<br />

é quase sempre em favor de pessoas que pertencem à mesma<br />

igreja. Inclusive, essas igrejas estão fortemente ligadas a um<br />

partido político (que não convém mencionar, mas que é público<br />

e notório) e fundam novamente religião e política, resgatando,<br />

assim, o sentido original da palavra correligionário. No campo<br />

católico, especificamente no da teologia da libertação, houve


empenho muito grande em favor dos partidos populares. As<br />

comunidades eclesiais de base deram o impulso inicial para a<br />

fundação do PT.<br />

No outro lado do mundo, o Islamismo possui diversas<br />

teocracias (poder exercido por líderes religiosos), que governam<br />

falando em nome de Deus (Alá) e assim distribuem as leis e a<br />

maneira de governar.<br />

RELIGIÃO E EDUCAÇÃO<br />

Por ser a religião um conjunto de ensinamentos (note-se<br />

o termo), segue-se que ela, para sobreviver, tem de apelar para<br />

a educação. Não é por outro motivo que os primeiros<br />

professores foram pessoas ligadas a um culto específico. No<br />

entanto, o que se quer discutir aqui é se a religião consegue<br />

lançar os olhos para a educação como um todo. Num primeiro<br />

exame, observa-se que a religião contribuiu com muito pouco ou<br />

mesmo nada nessa direção.<br />

Na China, país de cultura milenar, a educação esbarrava<br />

nos milhares de ideogramas que um aluno precisava memorizar,<br />

pois era necessário tempo e dinheiro. Ao que tudo indica, não<br />

havia nenhum plano de educação abrangente. No primeiro<br />

projeto educacional conhecido, o confuciano (século VI AC), a<br />

ênfase não era popular, mas sim elitista, porquanto Confúcio<br />

queria restabelecer o império, transformado quase numa obra<br />

de ficção por causa do ínfimo poder exercido pelo imperador. O<br />

sistema idealizado pelo mestre visava a preparar os funcionários<br />

públicos, os mandarins, os quais seriam a base burocrática do<br />

império. Deve-se notar que, embora seja atualmente<br />

considerada uma religião, o confucionismo tinha a princípio uma<br />

função muito mais política e pedagógica do que propriamente<br />

religiosa.<br />

No mundo grego, no qual surgem os sofistas, os<br />

primeiros professores profissionais autônomos da história, a<br />

razão para seu aparecimento não tinha nada a ver com religião,<br />

pois, em sua grande maioria relativistas, já não mais criam nos<br />

antigos mitos.<br />

No hebraico não encontramos classe de professores<br />

preocupados com todos os ramos do conhecimento para todas


as pessoas.<br />

A igreja cristã primitiva também não nos dá nenhuma<br />

indicação quanto a isso. Era um pressuposto básico, porém, que<br />

os membros das várias comunidades cristãs espalhadas pelo<br />

Império Romano soubessem ler as cartas apostólicas. Com a<br />

decadência do império (por razões internas) e a invasão dos<br />

bárbaros, ágrafos, a cultura decai a níveis rastejantes. A igreja<br />

cristã, portanto, a partir disso, herda um mundo caótico, violento<br />

e ignorante. Ela faz o que pode não para criar, mas, ao menos,<br />

para conservar, como num congelador, a cultura antiga tendo<br />

sido instrumento apropriado para tanto o mosteiro, onde monges<br />

letrados investiam a vida a copiar textos antigos. Só pelo século<br />

XI é que serão criadas escolas monasteriais e catedrais, para<br />

atender estudantes leigos e, ainda assim, com muitas restrições,<br />

pois só meninos, filhos de nobres e ricos, eram admitidos.<br />

Nesse meio tempo ocorrem três fatos muito importantes:<br />

as cidades italianas redescobrem o comércio e a navegação, o<br />

que em muito as enriquece; intelectuais bizantinos fogem da<br />

invasão otomana para a Itália trazendo na bagagem seus<br />

manuscritos; o sentimento de insegurança, típico da alta Idade<br />

Média, razão pela qual os castelos tinham toda a primazia,<br />

começa a diminuir e a redundar na criação de mais riquezas<br />

para todos. Esses dois fatos provocam um novo interesse pelas<br />

artes, filosofia e conhecimento em geral. Pode-se dizer que aí<br />

começa o lento Renascimento. A religião marcou presença no<br />

processo, mas não foi determinante. Pode-se até conjeturar<br />

tenha sido a Renascença o primeiro passo na secularização do<br />

mundo ocidental.<br />

Num certo sentido é a Reforma que ata o nó bem firme<br />

da religião com a educação. Lutero achava que ela poderia fazer<br />

de alguém um cidadão útil para o estado. Já nos primeiros anos<br />

da Reforma recomendava aos príncipes e governantes que<br />

fundassem escolas e recomendassem aos pais a enviar a elas<br />

os filhos. Por outro lado, a fim de pôr em prática a noção de<br />

sacerdócio universal de todos os crentes, advogava que todo<br />

cristão poderia ler a Bíblia e interpretá-la — não aleatoriamente<br />

— mas de modo objetivo, intelectualizado, levando em conta as<br />

regras da gramática e da retórica e todo o amplo contexto<br />

geográfico, histórico, social, político etc., conforme o nome que<br />

se dava na época: filologia poligráfica. Via na Bíblia um conjunto<br />

de livros coerentes que deveriam ser interpretados não de fora


para dentro, mas de dentro para fora: a Bíblia interpreta a si<br />

mesma (Lutero). Dizia, por isso, que a Bíblia interpreta a Bíblia<br />

numa clara alusão ao princípio renascentista: Homero interpreta<br />

Homero. A fim, pois, de o povo ter condições de a ler sem<br />

maiores atropelos, traduziu-a para o alemão. Ao fazer isso, não<br />

só realizou a melhor de todas as traduções da Bíblia para<br />

qualquer língua, mas também a erigiu como principal<br />

monumento literário da língua alemã. Transformou-se em livro<br />

texto do ensino fundamental e, por haver alcançado mais de<br />

cinqüenta edições enquanto viveu o tradutor, unificou o idioma<br />

alemão. Num certo sentido, Lutero é apontado como o criador<br />

do alemão moderno. Em sintonia com ele, também Melanchthon<br />

incentivou a educação, o que o levou a ser considerado o pai da<br />

educação secundária na Alemanha, enquanto Lutero o foi da<br />

primária. Em tempo: ambos advogavam estudos iguais para<br />

meninos e meninas.<br />

Outro líder religioso de grande projeção a perceber na<br />

educação algo vital foi John Wesley, o fundador do metodismo,<br />

que viveu na Inglaterra em plena Revolução Industrial. Sua<br />

criação, a escola dominical, pode parecer um tanto modesta.<br />

Contudo, levando-se em conta a precariedade das crianças<br />

submetidas a uma carga de trabalho de 12 horas diárias ou<br />

mais, de segunda a sábado, pode-se entender a grandeza da<br />

sua idéia em dar às crianças, aos domingos, a chance de<br />

aprender o mínimo necessário. Na atualidade, a escola<br />

dominical é uma instituição presente nas igrejas protestantes<br />

sendo usada principalmente para dar às crianças o<br />

conhecimento bíblico fundamental e não mais, como nos tempos<br />

de Wesley, para alfabetizá-las.<br />

Embora se possa observar que as igrejas cujos pastores<br />

não têm formação acadêmica tendem a olhar com desdém o<br />

estudo superior, nem uma denominação cristã hoje em dia se<br />

declara contra a educação em si. Pode-se até afirmar, sem<br />

nenhum receio, que a educação brasileira não seria hoje o que é<br />

sem as escolas confessionais, mantidas por denominações<br />

religiosas (Católicas, Luteranas, Metodistas, Batistas etc.), pois<br />

são milhares por toda parte.


Se a Religião tem várias facetas e aqui foi vista em<br />

sua estreita relação com áreas como a Arte, a Moral, a<br />

Ciência, a Filosofia, a Política, a Ideologia, a Economia e a<br />

Educação, imaginem as variações possíveis e as<br />

adaptações que se fazem necessárias quando se pensa a<br />

respeito do uso e aplicação da nossa linguagem.<br />

Todo ser humano é um falante nativo de uma<br />

determinada língua e como tal tem amplos poderes sobre<br />

ela. O importante, além de dominar o manejo dessa<br />

ferramenta tão fundamental para o convívio social e<br />

profissional, é conhecer suas diferentes facetas e saber<br />

aplicá-las corretamente em diferentes situações de uso.<br />

Unidade 2: AS VARIAÇÕES LINGÜÍSTICAS<br />

O usuário de uma língua a usa diariamente para várias<br />

finalidades: comprar, vender, expressar opiniões, sentimentos e<br />

necessidades. A finalidade é sempre se comunicar com o outro,<br />

pois só assim conseguirá sobreviver. A grande questão é: o que<br />

é comunicar? Muitos acreditam que basta transmitir uma<br />

mensagem para estar comunicando. Outros acham que<br />

compreender uma idéia é uma forma de comunicação. No<br />

entanto, a comunicação só se efetiva se a mensagem, ao ser<br />

transmitida, for entendida pelo receptor. Se a idéia do falante<br />

não for assimilada pelo ouvinte, não houve comunicação. Por<br />

isso, somente para ilustrar, os grandes sucessos da televisão<br />

são de programas que “falam” para um público específico. Um<br />

mesmo programa não atingirá a todas as camadas sociais do<br />

país. Sendo assim, o falante tem de saber a quem está se<br />

dirigindo, pois dessa forma escolherá o nível de linguagem


adequado ao público e ao contexto e conseguirá, com isso,<br />

prender a atenção do espectador.<br />

Na fala, temos presente a informalidade, os gestos, a<br />

expressão facial, as repetições, a entonação, a prosódia, enfim,<br />

recursos que permitem personalidade ao discurso. Por outro<br />

lado, quando não visa reproduzir a expressão oral (como as<br />

histórias em quadrinhos, as cartas de amor, cartas familiares e<br />

outros textos tão informais quanto os diálogos do dia-a-dia) a<br />

escrita é formal e, em geral, utiliza-se das normas gramaticais<br />

para efetivar a comunicação.<br />

A informalidade e a formalidade, então, alternam-se na<br />

língua de acordo com a necessidade do emissor, isto é, na<br />

escrita, excetuando-se a reprodução da fala, a formalidade é<br />

essencial, enquanto que na fala o indivíduo adapta a sua<br />

maneira de falar, ou seja, o nível de linguagem, assim como<br />

escolhe a roupa que vai vestir em diferentes ocasiões.<br />

PADRÃO E NÃO-PADRÃO<br />

Todo diálogo, toda interação comunicativa pressupõe<br />

uma mesma língua, no caso do Brasil, a Língua Portuguesa.<br />

Contudo evidenciam-se diferentes formas de comunicação oral<br />

dentro de uma mesma língua; do jovem ao técnico, do advogado<br />

ao imigrante, cada grupo interage com dialetos peculiares<br />

justificados pelas mais diferentes causas.<br />

O que temos, então, é uma língua com muitas variações. A<br />

ocorrência de variações lingüísticas sobretudo, no Brasil, se


dá pela sua extensão geográfica, pelas diferenças regionais,<br />

diversidade de colonização e, ainda, pelas acentuadas<br />

diferenças sócio-econômicas. Alguns estudiosos denominam<br />

essas diferenças como níveis de linguagem, outros como<br />

dialetos de uma mesma língua ou simplesmente como<br />

variações lingüísticas.<br />

Na tentativa de relacionar os registros de linguagem sem,<br />

contudo, valorizar mais um nível do que outro é que se prefere o<br />

termo variação lingüística. Cabe aqui ressaltar que não existe,<br />

em geral, um nível puro, nem na fala nem na escrita, mas o que<br />

se pode observar é uma predominância de tipo de linguagem,<br />

pois o Padrão se mistura ao Não-Padrão que pode se revelar<br />

através do coloquial, da gíria, do popular etc. Assim, observemse<br />

os seguintes registros, bem como suas características<br />

peculiares:<br />

1. Língua Padrão <strong>–</strong> utiliza as normas ditadas pela gramática<br />

tradicional. Não está relacionada ao uso de palavras mais ou<br />

menos difíceis, mas sim à utilização das regras de<br />

concordância, regência, ortografia, pontuação, bem como ao<br />

adequado uso dos pronomes pessoais do caso reto, oblíquo,<br />

possessivos etc. Tanto faz se a pessoa disser atualmente ou<br />

hodiernamente (ambos estão “corretos”), porém se for<br />

utilizada a frase Hoje fui no cinema, ao invés de Hoje fui ao<br />

cinema (observa-se aí uma infração da linguagem padrão no<br />

campo da regência verbal). A importância de sua<br />

preservação se deve à necessidade de haver uma referência<br />

para o ensino da língua e para o registro histórico. É de<br />

essencial utilização em qualquer texto escrito.<br />

Veja o exemplo abaixo:


É de linguagem simples, cotidiana, na qual predomina a<br />

linguagem padrão por não apresentar nenhuma infração à<br />

gramática.<br />

1.1. Técnico <strong>–</strong> cada grupo de profissionais possui um<br />

vocabulário técnico que também o caracteriza. São expressões<br />

como datavênia e nomenclaturas como ACV (acidente cerebral<br />

vascular)que fazem parte do trabalho das pessoas, e que nem<br />

sempre são compreendidos por profissionais de outras áreas.<br />

Os médicos, advogados, professores, agricultores, operários,<br />

enfim, qualquer classe trabalhadora possui termos que são<br />

dominados apenas pelos técnicos. Aparecem normalmente<br />

mesclados à Língua Padrão.<br />

Lendo um trecho do texto a seguir, podemos observar a<br />

incidência de termos técnicos da área jurídica, os quais não<br />

fazem parte do cotidiano de todas as pessoas.<br />

BARATA INSUFLA A RETÓRICA JURÍDICA<br />

Pedido de indenização demonstra a sobrevivência de cultores da<br />

linguagem rebuscada nos tribunais<br />

Flávio Solon Schubert<br />

Que soma monetária pode compensar o choque de encontrar uma<br />

barata num pote de doce de leite? Não menos de 2 mil salários mínimos


(R$ 260 mil) por pessoa submetida a esse impacto emocional, segundo<br />

duas consumidoras, mãe e filha. A questão, debatida recentemente pela 6ª<br />

Câmara Cível do Tribunal de Justiça do <strong>Esta</strong>do (TJE), envolveu o<br />

chamado dano moral, que decorre de um impacto emocional ou psíquico.<br />

A soma compensatória não foi arbitrada por não ter ficado provado o<br />

momento em que a barata ingressou no pote <strong>–</strong> antes de ele ser lacrado na<br />

indústria ou depois de aberto para consumo. Constatou-se, porém, que o<br />

gosto pelo linguajar rebuscado ainda tem cultores entre os profissionais<br />

do Direito. A ação proposta pelas consumidoras é tão bom exemplo dessa<br />

linguagem empolada que o relator do processo, desembargador Décio<br />

Antônio Erpen, humoradamente, resolveu adotá-la em seu voto.<br />

Depois de terem comprado o pote de doce de leite em um supermercado<br />

da Capital e consumido parte do conteúdo, as autoras da ação teriam<br />

encontrado, “entronizado com todas as galas”, o inseto “nauseabundo”. O<br />

“derruimento psicológico causado” tornou “vulneráveis e enfermiças as<br />

suas vidas”, afirmou a petição inicial. Isto é, a filha adolescente passou a<br />

ser “tratada clinicamente (...) por anorexia grave relacionada a trauma<br />

psíquico originado da desagradável experiência de constatar a presença de<br />

um inseto em um pote de doce, conforme relatos anexos, sendo observada<br />

evolução desfavorável até a presente data, com reiterados insucessos de<br />

abordagem psicoterapêutica”. As consumidoras disseram ter reclamado à<br />

fabricante do doce e às autoridades sanitárias que as teriam submetido a<br />

“chacotas calhordas”. Na Justiça, a empresa negou a existência do inseto<br />

no doce e alegou ter-lhe sido proposto um acordo, que rejeitou. ( ... )<br />

Significado de algumas palavras<br />

do processo:<br />

Absconso <strong>–</strong> escondido, oculto<br />

Anorexia <strong>–</strong> redução ou perda de<br />

apetite<br />

Apodítica <strong>–</strong> evidente, irrefutável<br />

Mossa <strong>–</strong> vestígio de pancada ou<br />

pressão<br />

Multifária <strong>–</strong> variado, de muitos<br />

aspectos<br />

Obumbrar <strong>–</strong> obscurecer,<br />

sombrear<br />

Peripatético <strong>–</strong> exagerado na<br />

expressão, nos gestos<br />

Placitar <strong>–</strong> aprovar<br />

Zero Hora, 16 ago. 1998.<br />

Ressumbrar <strong>–</strong> revelar, deixar<br />

transparecer<br />

Supedâneo <strong>–</strong> base, pedestal<br />

Supeditar <strong>–</strong> fornecer<br />

Titônia <strong>–</strong> aurora<br />

Tresmalhar <strong>–</strong> deixar fugir,<br />

dispersar<br />

Vulpino <strong>–</strong> relativo à raposa,<br />

astuto, malicioso<br />

Fonte: Novo Dicionário da Língua<br />

Portuguesa, de Aurélio Buarque de<br />

Holanda Ferreira


2. Língua Não-Padrão - É o uso informal da Língua Portuguesa.<br />

Não há preocupação com o dicionário ou a gramática. As<br />

normas são seguidas sem o rigor da formalidade. Alguns<br />

autores apresentam os registros informais, isto é, a Língua Nãopadrão<br />

com as seguintes distinções:<br />

2.1. Coloquial - é o uso da língua sem a preocupação com a<br />

forma (informal). O elocutor faz a opção da informalidade,<br />

infringindo algumas normas da gramática prescritiva. É uma<br />

linguagem familiar ou popular que permite a ausência de<br />

algumas concordâncias, infração das regências e da colocação<br />

de pronomes oblíquos. Podemos começar uma frase como Te<br />

levanta..., ou ainda, A gente vai prá casa da vó..., porque não há<br />

rigidez quanto às normas. Ocorre um relaxamento da língua<br />

pela comodidade da comunicação.<br />

Veja o exemplo:<br />

2.2 . Vulgar- é a utilização da língua sem nenhuma correção<br />

gramatical. Evidenciam-se palavras com pronúncias<br />

diferentes como pobrema ou poblema, e estruturas de<br />

palavras sem a interferência da língua padrão ou formal<br />

como os verbos peguemo, sobremo, avisemo, entre outros.<br />

Essas ocorrências verificam-se no ambiente em que as<br />

pessoas possuem pouca ou nenhuma escolaridade.


Leia a tirinha abaixo:<br />

2.3 . Gíria <strong>–</strong> evolui com o tempo. As gírias de outras décadas já<br />

não se ouvem mais, quem hoje ainda fala grande áfrica?<br />

Entretanto, quando alguém a reconhece, sabe que é uma<br />

gíria. Sabemos que varia também nos grupos. Por exemplo,<br />

jovens de regiões diferentes, de ambientes familiares<br />

diferentes entendem-se através de expressões também<br />

diferentes; a gíria dos presídios difere da gíria do futebol, do<br />

skate, do surf e, uns nem sempre entendem o que os outros<br />

falam; as gírias dos vários redutos marginalizados se<br />

diferenciam também, muitas vezes, para garantir a<br />

sobrevivência dos moradores e dos que lá comandam.<br />

Enfim, cada grupo cria a linguagem que o vai identificar. Tá<br />

ligado? Então sai da asa, cai na real e te liga nos próximos<br />

exemplos !


Grande áfrica<br />

Você lembra quando sua mãe dizia para você baixar o<br />

volume da eletrola? Você ria na cara da coroa. É três-em-um!<br />

Pois hoje quem chama o som de três-em-um merece ser<br />

empalhado e doado para um museu de história natural, e quem<br />

chama a mãe de coroa também. Nada revela mais a nossa<br />

idade do que o vocabulário. Um amigo meu chegou a fazer uma<br />

lista de expressões que foram vencidas pelo tempo, mas meu<br />

maior fornecedor era Paulo Francis, que em suas crônicas<br />

usava e abusava de termos datados da década de 60. As<br />

crônicas de Nelson Rodrigues, tão bem adaptadas para a tevê.,<br />

também fazem um retrato perfeito de época através do figurino e<br />

da linguagem. Mas, como muita gente não gosta nem de Francis<br />

nem de Nelson Rodrigues, o jeito é fazer uma sessão nostalgia,<br />

você sabe onde: na casa da coroa.<br />

É lá que você ainda vai ouvir que sua calça de brim está<br />

uma vergonha e que é preciso chamar um auto de praça para<br />

levá-la à rodoviária. Mas não ache muita graça. Se abrir o seu<br />

diário de adolescente ou reler as cartas que escrevia quando se<br />

achava o mais moderno dos mortais, vai encontrar lá um baú de<br />

expressões que, não faz muito tempo, estavam na crista da<br />

onda.<br />

“Querido diário. Ando meio jururu. Não fui convidada para a<br />

festa da Penélope. Ah, grande áfrica. A festa vai ser numa big<br />

de uma casa mas isso não quer dizer bulhufas. A Soninha me<br />

contou que vai ser numa big de uma casa mas isso não quer<br />

dizer bulhufas. A Soninha me contou que vai todo mundo na<br />

maior estica e que o Rodrigo vai pegar a caranga do pai dele


escondido. Credo, se ele for pego na tampinha vai levar o maior<br />

carão. Se fosse meu pai, me dava uma sova. A turma acha que<br />

eu estou borocochô. Uma pinóia. Só quero sossegar o pito. Se<br />

me der na veneta, vou até lá para tirar um sarro. Mas entrar na<br />

baia eu não entro, que eu não sou furona, e , depois, lá só vai<br />

ter bocó. Os amigos da Penélope são todos uns bitolados, não<br />

entendem patavina da vida. Uns bodoso. Eu sei por que a<br />

Penélope não me convidou. Ela é gamada no Sérgio, e ele está<br />

dando lance para mim. Outro dia foi me buscar na saída do<br />

colégio na maior beca e não deu a menor pelota para a<br />

Penélope. Aziras. Não tenho nada a ver com o peixe. Nem to<br />

nem aí para aquela desgranida”.<br />

Atire a primeira pedra quem nunca falou assim. Eu<br />

mesma me pego, até hoje, usando umas expressões antigas<br />

que continuo achando bacanas. Mas reciclar é preciso. Sair por<br />

aí dizendo que o último filme do Scorsese é do arco é atestar<br />

total incompatibilidade com a mídia.Tome uma aulas com a<br />

MTV.<br />

Portanto, gurizada medonha, não riam de suas avós, não<br />

riam de suas mães, de seus pais, de seus tios. Amanhã o<br />

vocabulário de vocês já estará morto e enterrado e ainda assim<br />

vocês insistirão em dizer “zoar” que já vai ser total careta. Dizer<br />

que o cara está caidaço ou que a garota é uma naja vai fazer<br />

seus filhos rolarem de rir. Você vai contar como conheceu o pai<br />

deles? Que “ficou” com ele no Planeta Atlântida? Eles vão ter<br />

um treco. Vão achar que vocês se conheceram no fundo de uma<br />

caverna, isso sim.<br />

O vocabulário da hora (ainda se usa “da hora”?) não<br />

resiste a mais de uma geração. às vezes, nem a um único<br />

verão. Fazer o quê? Continuar tagarelando do jeito que se sabe,<br />

com as palavras que encontrar. Só não vale fechar a matraca.<br />

Fonte: Jornal Zero Hora <strong>–</strong> 23/02/1997<br />

2.4 . Regional <strong>–</strong> as diferentes regiões do Brasil se expressam<br />

através de vocabulário com marcas regionais. Painho na<br />

Bahia, não é utilizado no Rio de Janeiro, enquanto que uma<br />

pexada para os gaúchos é para os cariocas uma refeição à<br />

base de peixe. Assim, até mesmo dentro de uma só região<br />

como a Sul, por causa da incidência da colonização alemã e


italiana, a pronúncia das palavras e a entonação das frases<br />

se diferenciam nas cidades do interior e em relação à capital.<br />

Observe o exemplo abaixo:<br />

Após observar alguns dos diferentes registros de<br />

linguagem existentes, poderíamos evidenciar os<br />

estrangeirismos, que são termos importados de outras línguas e<br />

utilizados como se fossem da língua materna, como por<br />

exemplo shopping, marketing, stress, abat-jour, happy hour,<br />

entre outros. Na primeira parte deste capítulo, foram utilizadas<br />

várias expressões que não pertencem à língua portuguesa, tais<br />

como Big Bang ou negro spiritual.<br />

A língua escrita, interesse particular desse estudo, busca<br />

a utilização da Língua Padrão e entende que, em muitos textos,<br />

há uma mistura com variações Não-padrão como,<br />

estrangeirismos ou até mesmo com a gíria, embora essas<br />

expressões diferentes do padrão necessitem ser escritas entre<br />

aspas ou devidamente salientadas. Esse recurso que salienta<br />

um nível diferente daquele que deveria predominar no texto,<br />

mostra que o emissor da mensagem domina as variações<br />

lingüísticas e sabe adequá-las à sua necessidade. Retome o<br />

texto lido e observe que, em certa altura da unidade sobre<br />

Religião e Filosofia, o emissor escreve a frase “Para aqueles,<br />

porém, que procuram antenar-se com o mundo...”. Aqui , temos<br />

um exemplo dessa pluralidade de níveis de linguagem permitida<br />

em uma construção acadêmica. Um verbo popular se mescla a


um discurso padrão, sem que essa construção fira o objetivo da<br />

comunicação.<br />

Outro ponto a ressaltar é que em textos literários, como<br />

as crônicas e os romances, todas as variações lingüísticas<br />

podem ser utilizadas sem destaque especial, uma vez que<br />

buscam refletir a fala de personagens, ou até, estabelecer um<br />

diálogo de aproximação com o leitor. A esses registros chamamse<br />

literários.<br />

O trecho a seguir é da obra O Tempo E O Vento de Érico<br />

Veríssimo. Verifique a utilização da Língua Padrão com<br />

incidência de regionalismos e coloquialismos.<br />

Antes de começar o ataque ao casarão, Rodrigo foi à casa do<br />

vigário. - Padre! - gritou, sem apear. Esperou um instante.<br />

Depois: - Padre! A porta da meiágua abriu-se e o vigário<br />

apareceu. - Capitão! - exclamou ele, aproximando-se do<br />

amigo e erguendo a mão, que Rodrigo apertou com força. Foi<br />

só pra saber se vosmecê estava aqui ou lá dentro do casarão.<br />

Eu não queria lastimar o amigo... Muito obrigado, Rodrigo,<br />

muito obrigado. - O Padre Lara sacudiu a cabeça,<br />

desalentado. - Vosmecê vai perder muita gente, capitão. Os<br />

Amarias são cabeçudos e têm muita munição. - Eu também<br />

sou cabeçudo e tenho muita munição. Por que não espera o<br />

amanhecer? Rodrigo deu de ombros.<br />

A IMPORTÂNCIA <strong>DO</strong> ESTU<strong>DO</strong> SOBRE AS VARIAÇÕES<br />

LINGÜÍSTICAS


O estudo das variações lingüísticas é interessante para<br />

que se reconheça a multiplicidade de dialetos que uma língua<br />

pode apresentar. Ao pensar que cada indivíduo manipula sua<br />

língua materna de uma maneira particular, pode-se concluir que<br />

tantos quantos são os habitantes do país são as variações<br />

lingüísticas, mas a essas características individuais chamam-se<br />

idioletos, os quais não podem ser ignorados, mas a título de<br />

estudo e catalogação dos diferentes registros de língua importa<br />

apenas verificação do uso da língua materna relativa aos<br />

diferentes grupos sociais.<br />

No Brasil, há uma tendência de, ao distinguir grupos pela<br />

maneira como se comunicam, também discriminá-los. Nota-se a<br />

verificação da língua como instrumento de ascensão ou<br />

discriminação social, visto que se busca, na maioria das vezes,<br />

a Língua Padrão para conquistar e identificar certo status social.<br />

É comum as pessoas se sentirem mais bem-sucedidas que<br />

outras por dominar a Língua padrão. Entretanto, a sabedoria<br />

humana não está na maneira como a pessoa se comunica<br />

(mesmo porque o importante é a interação comunicativa), mas<br />

sim no que ela tem a dizer, no conteúdo da sua comunicação.<br />

Algumas pessoas, ainda crianças, são desestimuladas a<br />

prosseguir no colégio porque a maneira como falam é diferente<br />

de como a escola ensina.<br />

Logo, é reconhecendo as diferenças lingüísticas e<br />

admitindo suas variações que se poderá atingir a todos os<br />

indivíduos, inserindo-os na sociedade como parte integrante e<br />

não como uma realidade menor sem relevância. O padrão, a<br />

gíria, o coloquial, o regional, o técnico e o vulgar são níveis da<br />

língua materna que se misturam nos textos falados e nos<br />

escritos, predominando em alguns momentos um ou outro e, por<br />

isso, não podendo ter prestígios diferentes.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!