Livro: "Caconde" - Adriano Campanhole - Basílica Santuário Nossa ...
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O que sucedeu aos grandes bandeirantes dos séculos precedentes, aconteceria aos<br />
exploradores da metade do século XVIII: “os moradores, poucos que há, não tem cavalos por<br />
serem pobres”, na magoada frase do comandante Jerônimo Dias Ribeiro.<br />
Sôbre a pobreza do desbravadores paulistas, escreve Cassiano Ricardo: “Potentados?<br />
nababos de Piratininga? Anhangüera morreu tão miseravelmente sem ouro como Fernão<br />
Dias tão enganado pelas esmeraldas. Borba Gato teve que viver entre bugres, para não<br />
morrer à míngua. Os irmãos Leme foram vítimas de uma quadrilha que os espoliou de tudo<br />
quanto possuíam. Antônio Raposo Tavares deixa a “fortuna” de 170 mil réis. João Leite da<br />
Silva Ortiz morre longe de São Paulo, envenenado pelo Padre Matias Pinto (1730) e<br />
espoliado de seus bens pelos abutres do fisco pernambucano na frase de Taunay, isso depois<br />
de haver conseguido “os maiores descobrimentos em todo o sertão de Goiaz”. Pascoal<br />
Moreira desaparece pobre e ignorado. Outro, um bandeirante anônimo, vende o próprio filho<br />
bastardo para que os dois não morressem de fome. Ainda outro fica no caminho “sem mais<br />
sustento que a água do céu acompanhada da que os seus olhos vertiam” 33 .<br />
*******<br />
Sôbre a decadência da Freguezia escreve Moreira Pinto: “Velhas catas, notáveis<br />
trabalhos de arte para encanamento dágua, indicam claramente que a extração do precioso<br />
metal foi o móvel que atraiu os primeiros habitantes dessas regiões. A imperfeição dos<br />
processos então empregados na extração do ouro, as desordens havidas entre os exploradores<br />
pela falta de policiamento e outras muitas coisas enfim, que não a escassez do ouro,<br />
motivaram freqüentes debandadas, produzindo o abandono da mineração pelos faisqueiros”<br />
34 .<br />
Não há duvida de que o ouro foi o móvel que atraiu os primeiros habitantes. Mas êsse<br />
ouro como já o demonstramos, era exíguo. Não foram feitas notáveis obras de arte para<br />
encanamento dágua como quer o autor citado, pois vimos a carta do Capitão Inácio da Silva<br />
Costa afirmando que “só à beira dágua se trabalha”.<br />
A “Poliantéia” publicada em 1924, quando das comemorações do primeiro centenário<br />
da cidade, por J. Umbelino Fernandes 35 e Padre João Miguel de Angelis , resenha que<br />
contém valiosas informações, embora nem sempre exatas, sobre a História de Caconde,<br />
narra, com um acento indisfarçado de tristeza o que foi o fim daquela aventura no sertão: “...<br />
e assim, abandonada, sem elementos de vida, a igreja e a casaria em ruínas, a Freguezia<br />
desapareceu, deixando de sua existência ali, à beira do córrego, uns montículos de cascalhos<br />
lavado!”.<br />
Em 1804 era um deserto o lugar. Isso mesmo dizia o Alferes Jerônimo Dias Ribeiro,<br />
a 4 de janeiro daquele ano, em carta a Luís Antônio Neves de Carvalho 36 : “...remeto a vosa<br />
senhoria as relações e lista extraídas dos livros que serve de lançar as ditas relações e como<br />
pelo caminho que entra para este Registro está totalmente deserto por tomarem os viandantes<br />
por outro do campo de Caldas para as partes de minas e dezertar o caminho que vem para<br />
este Registro por hesa razão está este Registro sem rendimento algum e nem o novo imposto<br />
33 - Cassiano Ricardo, Marcha para o Oeste, 353.<br />
34 - A. Moreira Pinto, ob. citada.<br />
35 - Homem de temperamento inquieto e irritadiço, o Comendador José Umbelino Fernandes da Silva, sempre ás voltas com a<br />
política, vivia escrevendo para a imprensa da Capital artigos em geral de tom violento. Uma de suas objurgatórias a Caconde, datada<br />
de 1892, foi reproduzida por Hipólito da Silva nos seus “Humorismos de Propaganda Republicana”, 2ª série, edição de 1904, p. 159.<br />
Êsse artigo de Nobélium (pseudônimo de Umbelino Fernandes), sob o título “Les cloches de Caconde”, era um brado de desespero<br />
contra os sinos da matriz, que dizia êle, repicavam por tudo e por nada. No fundo, porém, o que existe não é uma diatribe contra a<br />
cidade, mas a sua ogeriza à República nascente e ao florianismo. Apesar de tudo, devemos reconhecer que Umbelino Fernandes<br />
prestou relevantes serviços à História de Caconde, recolhendo e publicando documentos que, a não ser assim, estariam<br />
irremediavelmente perdidos.<br />
36 - O Coronel Luís Antônio Neves de Carvalho era Secretário do Governo e foi posteriormente (1823) Vice-Presidente da Província<br />
pela segunda vez.