tenhão nacido as de tantos habitantes se transportarem a outros domicílios, de V. Mcê. confio, que os faça não só voltar mas que adquira outros muitos, como V. Mcê . me esperança” 60 . Além de sua violência contra os habitantes, insinuava-se também que Jerônimo Dias Ribeiro não teria andado lá muito certo nas contas, pois “sempre que me mandou o ouro da permuta, se achou com diminuição” 61 , dizia-lhe Martim Lopes. Estava, assim, decretada a retirada do Comandante do Registro de São Mateus, “cauzador de tantas desordens”. Nada lhe acontece, porém. O velho sertanista tem a seu lado Manuel Rodrigues de Araújo Belém, Sargento-Mor das Ordenanças de Mogi-Guaçu. Belém dirige-se ao Governador, relatando os acontecimentos. E tudo se concilia. Vão-lhe ordens: “...e sem embargo de eu ter determinado, que o Sargento José Pedro fosse render a Jerônimo Dias Ribeiro, para este vir se justificar das culpas, que lhe impõem, tomo a rezolução, a vista do que V. Mcê. me participa, de conservar ao dito Jerônimo Dias Ribeiro no dito Registro, e assim lhe ordeno: como também, no cazo de ahi ter chegado o sobredito José Pedro, lhe ordene volte a esta cidade com as ordens, que levava, o que participo a V. Mcê. para que, pela parte, que lhe toca, assim a execute, por ficar confiado, em que Jerônimo Dias Ribeiro na sua conduta me dê provas de sua inocência” 62 . A intriga contra o sertanista fora bem forjada. Acusavam-no, mesmo, de “descaminho de ouro”. Tudo infundado. Senão, vejamos a carta de 4 de abril de 1781, que Martim Lopes lhe dirige: “Tenho prezente a carta de V. Mcê. de 6 de março, e por ella vejo, que a demora da remessa de ouro foi cauzada das muitas agoas, porém que chegou” 63 . Quem conhece a zona de Caconde poderá, facilmente, avaliar a dificuldade de transporte naqueles tempos duros. “He certo – continua Martim Lopes – que V. Mcê. se acha bem capitulado; pelo que para averiguar, tinha mandado ao Sargento José Pedro dos Santos (sic) a render a V. Mcê., a quem, sem embargo de tudo, quero mostrar-lhe, que o meu animo não hé de fazer mal e quero dar-lhe tempo para V. Mcê. se justificar, obrando nesse Registro com a circunspecção, que deve, arrecadando a Real Fazenda; adquirindo moradores para esse distrito, e conservando-se em termos hábeis, com que actualmente estão existindo nele”. José Pedro Monteiro chega, afinal, ao Registro de São Mateus, do qual toma posse. Homem teimoso, insiste em ficar no comando, sobrepondo-se às ordens do Governador. Irtervém novamente Manuel Rodrigues de Araújo Belém, que obtém esta reposta de Martim Lopes: “nesta ocazião vay decidida a duvida entre José Pedro Monteiro e Jerônimo Dias Ribeiro, ordenando a este, fique Comandante do Registro, e a aquelle, que sem perda de tempo, o entregue, e se recolha a esta cidade, o que espero, execute, apezar dos seus concelheiros (sic); e no cazo de assim não o fazer, V. Mcê. o mandará prender a minha Ordem, e mo remeterá seguro” 64 . Nessa mesma data, vai outra carta a Jerônimo Dias Ribeiro: “nesta ocazião lhe mando a mais positiva (ORDEM), para que, sem perda de tempo, entregue a V. Mcê. o referido Registro, e com as Ordens, com que o dito José Pedro daqui marchou, se recolha a esta cidade. Devo segurar a V. Mcê., que desejo, desempenhe a comizeração, que tenho de o conservar ahi, adquirindo Mineiros para aumentarem as Reaes Rendas, e tratando-os em termos hábeis com a mayor afabilidade” 65 . A questão surgida entre os dois homens teve o seu epílogo com a carta de Martim Lopes datada de 12 de maio de 1781, na qual José Pedro Monteiro é acremente censurado pela sua conduta: “Não sendo atendíveis as fabulozas desculpas, com que V. Mcê., nas suas duas cartas de 28 de abril, pretende ofuscar o mal, que tem executado as ordens, de que foi munido, para esse Registro, e estar eu bem sciente dos motivos que obrigarão a V. Mcê. faltar a sua obrigação, sou a dizer-lhe, que V.Mcê., além de ter obrado mal no dilatado tempo, que chegou a esse Continente, pelo gastar nos seus divertimentos, o fez também em dilatar nesse Registro, depois de nele se lhe intimarem as minhas últimas Ordens; pelo que, 60 - Docs. Ints. XI, 328. 61 - Idem. 328. 62 - Idem, 330. 63 - Idem, 329. 64 - Docs. Ints. XI, 331. 65 - Idem, 331/332.
66 - Idem, 332. logo que V. Mcê. receber esta, as execute sem perda, nem de huma hora, entregando o referido Registo a Jerônimo Dias Ribeiro” 66 . O sertanista deve ter-se conservado em têrmos hábeis. Nenhuma outra censura aparece e ele, já com a avançada idade de 86 anos, deixa São Mateus, porque, por sua velhice “se tornava inhabil para defender aquele Registro”. Desfeitas as intrigas, fica o velho sertanista no seu cargo. Tendo sido o primeiro a dar a notícia do descobrimento do ouro, é um dos últimos a sair, quando a Freguezia de N. S. da Conceição das Cabeceiras do Rio Pardo, então vivendo precariamente às margens do Bom Jesus, entra em decadência, abandonada totalmente pelos mineradores, não por culpa de Jerônimo Dias Ribeiro, como se asseverava, mas pela escassez do precioso minério. Assim passou o velho Alferes pelos domínios de N. S. da Conceição. Dali vai êle como agregado à Companhia das Ordenanças de Santo Amaro.