andréia lopes zanutto salviato - Instituto de Ensino e Fomento
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA<br />
UNIVERSIDAD DE LA SABANA<br />
INSTITUTO DE ENSINO E FOMENTO<br />
ANDRÉIA LOPES ZANUTTO SALVIATO<br />
CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO PERSONALISTA PARA O ASPECTO DO<br />
APRENDER A SER<br />
PONTA GROSSA<br />
2006<br />
1
ANDRÉIA LOPES ZANUTTO SALVIATO<br />
CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO PERSONALISTA PARA O ASPECTO DO<br />
APRENDER A SER<br />
Monografia apresentada para obtenção do título <strong>de</strong><br />
especialista em Desenvolvimento Pessoal e Familiar,<br />
pela Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Ponta Grossa /<br />
Universidad <strong>de</strong> La Sabana / IEF.<br />
Orientador: MSc. PAULO SERTEK<br />
_____________________________<br />
PONTA GROSSA<br />
2006<br />
2
ANDRÉIA LOPES ZANUTTO SALVIATO<br />
CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO PERSONALISTA PARA O ASPECTO DO<br />
APRENDER A SER<br />
Orientador: MSc. Paulo Sertek<br />
COMISSÃO EXAMINADORA<br />
____________________________________________<br />
____________________________________________<br />
____________________________________________<br />
Curitiba, _____<strong>de</strong> ____________________<strong>de</strong> 2006<br />
3
INTRODUÇÃO<br />
Muitos dos problemas da socieda<strong>de</strong> está justamente nos reducionismos que levam à<br />
ausência ou ineficiência da educação do “SER” e da supervalorização da educação do “TER”,<br />
comprovando, portanto, a existência <strong>de</strong> uma lacuna ou ineficácia neste aspecto educacional<br />
“apren<strong>de</strong>r a ser”. O terreno educacional está sendo perdido para a manipulação que é<br />
indiscutivelmente uma contra-educação: “A manipulação é, fundamentalmente, um processo <strong>de</strong><br />
reducionismo do ser humano em contraste com a educação, que é um processo <strong>de</strong> melhora<br />
pessoal” (OTERO, 1990b, p. 33) 1 . Indignado, Oliveros Fernan<strong>de</strong>z OTERO (1990b, p. 19-20)<br />
“chama a atenção” dos professores:<br />
O papel da educação não <strong>de</strong>veria ser o <strong>de</strong> contribuir para a massificação, para a<br />
robotização do homem. Ou talvez é um papel insignificante, hoje, o da ação<br />
educativa? De fato, pese os esforços institucionais <strong>de</strong> oferecer muita educação,<br />
„cada dia vemos mais possíveis essas visões do futuro que nos apresenta uma<br />
ficção científica: „homens teledirigidos‟ elétrica ou quimicamente, que po<strong>de</strong>m<br />
comportar-se como “robôs‟ utilizados como instrumentos involuntários” 2<br />
Esta pesquisa tem sua origem na atuação pessoal em centros educativos como<br />
professora <strong>de</strong> Língua Portuguesa e a alguns episódios que propiciaram refletir sobre a<br />
necessida<strong>de</strong> e a importância <strong>de</strong> se pensar além do conteúdo que se ensina, pensar na<br />
possibilida<strong>de</strong>, como professor, <strong>de</strong> ajuda, <strong>de</strong> orientação para a “formação” do caráter, <strong>de</strong><br />
“preparação” para o futuro, preparação para o trabalho.<br />
1 “La manipulación es, fundamentalmente, un proceso <strong>de</strong> reduccionismo <strong>de</strong>l ser humano en contraste con la<br />
educación, que es un proceso <strong>de</strong> mejora personal” (OTEROS, 1990b, p. 33).<br />
2 El papel <strong>de</strong> la educación no <strong>de</strong>biera ser el <strong>de</strong> contribuir a la masificación, a la robotización <strong>de</strong>l hombre. O tal vez es<br />
un papel insignificante, hoy, el <strong>de</strong> la acción educativa? De hecho, pese a los esfuerzos institucionales <strong>de</strong> ofrecer<br />
cuantiosa educación, „cada día vemos más factibles esas visiones <strong>de</strong>l futuro que nos presenta la ciencia-ficción:<br />
„hombres teledirigidos‟ eléctrica o químicamente, que pue<strong>de</strong>n comportarse como “robots‟ utilizados como<br />
instrumentos involuntarios” (OTERO, 1990b, p. 19-20)<br />
4
A busca <strong>de</strong> aprofundamentos sobre a Educação Personalista iniciou-se a partir do<br />
conhecimento dos trabalhos educativos do consultor e orientador educacional espanhol Manoel<br />
Cervera na sua estada no Brasil em 2002 para proferir palestra a pais <strong>de</strong> alunos do Colégio<br />
Catamarã em São Paulo. Além da palestra, a visita ao Colégio Catamarã em funcionamento fez<br />
perceber a riqueza na formação humana que havia neste enfoque, nas pessoas dos professores e<br />
no comportamento, tranqüilo, seguro, autônomo, responsável e feliz dos alunos. Além da<br />
profunda preocupação com o caráter e com a formação religiosa, <strong>de</strong>stacou-se a qualida<strong>de</strong> das<br />
ações educativas dos professores com muita <strong>de</strong>senvoltura, motivação e planejamento, procurando<br />
abranger todos os aspectos educacionais e enfocando as necessida<strong>de</strong>s pessoais <strong>de</strong> cada educando.<br />
A principal justificativa <strong>de</strong>ste trabalho encontra-se nas palavras <strong>de</strong> Oliveros<br />
Fernan<strong>de</strong>s Otero em seu livro “Educação e Manipulação”: consiste na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preparar o<br />
professor para romper com a manipulação, inclusive <strong>de</strong>ntro da educação escolar e lutar contra os<br />
reducionismos que acabam por <strong>de</strong>gradar o ser humano ao invés <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvê-lo e fazê-lo<br />
melhorar como “ser” e como “pessoa”. Diante <strong>de</strong> um mundo materialista, hedonista,<br />
individualista, que prioriza o ter ao “ser”, a educação pe<strong>de</strong> socorro vendo a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />
investir no “apren<strong>de</strong>r a ser”, termo este apresentado como pilar da educação pelo Relatório<br />
Jacques Delors.<br />
A justificativa <strong>de</strong>ste trabalho expressa-se, pois, nas citações <strong>de</strong> Otero, educador<br />
espanhol que “revoltado” com a manipulação e com estes reducionismos, também apresenta<br />
problemática parecida com a <strong>de</strong>sta pesquisa. Por isso não seria impróprio apropriar-se <strong>de</strong> seu<br />
grito por mudanças na educação e parafrasear uma <strong>de</strong> suas questões, mesmo porque são questões<br />
comuns a todos os educadores:<br />
5
O que po<strong>de</strong> fazer aqueles que, sendo consciente <strong>de</strong>ste complexo processo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>terioração humana, <strong>de</strong>sejem fazer algo para evitá-lo - e ajudar a outros a evitálo?<br />
(OTERO, 1990b- p. 49-50) 3<br />
Nos dois livros analisados <strong>de</strong>ste autor, “Educación e Manipuliación” e “Educación<br />
cómo rebeldia” percebe-se o tom <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia “está havendo manipulação” inclusive na<br />
educação. Inúmeros são estes efeitos da manipulação apresentados por Otero que com muita<br />
expressivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>nuncia que a manipulação atua na “<strong>de</strong>spersonalização” do ser humano; na<br />
“robotização do homem”, na “massificação”; na expansão dos “homens teledirigidos”, no vazio<br />
do “permissivismo” e do “materialismo”, no “<strong>de</strong>sarme estético e ético”, no “condicionamento do<br />
ser humano”, na transformação do homem em “objeto <strong>de</strong> consumo”, no “<strong>de</strong>terioro humano”, no<br />
“vazio moral”, no “vazio humano”, na “<strong>de</strong>gradação do ser humano”, na “auto<strong>de</strong>struição do<br />
homem”, e também que reduz “à pequenez e mediocrida<strong>de</strong>, a sua mesquinhez insignificante”:<br />
Oteros, assim como os outros pesquisadores personalistas, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a “pessoa” e<br />
procuram oferecer algumas soluções (tratadas mais adiante no capítulo sobre as propostas<br />
educativas). De maneira direta e respon<strong>de</strong>ndo à sua própria problemática, Otero persuasivamente<br />
direciona-se ao professor e expõe sua idéia <strong>de</strong> reação, chamada por ele <strong>de</strong> “rebeldia educativa”.<br />
Na minha opinião, rebelar-se contra quem? En mi opinión, rebelar-se. ¿Contra<br />
quién? Ante tudo, contra suas próprias cumplicida<strong>de</strong>s; contra os efeitos da<br />
manipulação – confucionismo, massificação (ou igualitarismo), infantilismo (ou<br />
irresponsabilida<strong>de</strong>); contra as idéias redutoras. Se trataria <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong><br />
rebeldia profunda, partilhada com um gran<strong>de</strong> respeito às pessoas. Neste sentido,<br />
rebeldia se i<strong>de</strong>ntifica com educação. Mas não é utópica ser a educação entendida<br />
3 ¿Qué pue<strong>de</strong>n hacer quienes, siendo conscientes <strong>de</strong> este complejo proceso <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioro humano, <strong>de</strong>seen hacer algo<br />
para evitarlo – y ayudar a otros a evitarlo<br />
6
assim? No melhor dos casos, como fazer viável, nas famílias e nas instituições<br />
educativas formais, esta idéia <strong>de</strong> rebeldia? (OTERO, 1990b, p. 49-50) 4<br />
Este trabalho parte <strong>de</strong>sta proposta, <strong>de</strong>sta possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma reação pela educação<br />
através da ação educativa do professor contra a manipulação, contra os reducionismos e a favor<br />
dos valores, do “SER HUMANO”, da “PESSOA”.<br />
A rebeldia é porque segundo ele mesmo é um nadar contra a corrente da<br />
manipulação, seja ela social, cultural ou mesmo educacional. Em seu livro “Educación y<br />
Manipulación”, Otero propõe que “quitada a negação, po<strong>de</strong>m indicar objetivos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento pessoal. (OTERO, 1990a, p. 209) 5 . Neste livro assim como no livro “Educación<br />
como rebeldia”, Otero, ainda que indiretamente, confirma a relevância <strong>de</strong> uma investigação<br />
central sobre o “apren<strong>de</strong>r a SER” como urgente para que o educador e o educando não sofram os<br />
efeitos da manipulação e nem sejam causa <strong>de</strong>la.<br />
Assim como Otero valoriza a pessoa e restabelece a sua posição <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong> e sua<br />
possibilida<strong>de</strong> real <strong>de</strong> crescimento, criticando sua <strong>de</strong>gradação e propondo ações <strong>de</strong> reação,<br />
também o Relatório Jacques Delors apresenta a mesma preocupação e o mesmo interesse por<br />
buscar pensar propostas para o “apren<strong>de</strong>r a ser”, o que apresenta como um dos pilares<br />
educacionais juntamente com os pilares “apren<strong>de</strong>r a conhecer”, “apren<strong>de</strong>r a fazer” e “apren<strong>de</strong>r a<br />
viver juntos”.<br />
4 En mi opinión, rebelar-se. ¿Contra quién? Ante todo, contra sus propias complicida<strong>de</strong>s; contra los efectos <strong>de</strong> la<br />
manipulación – confucionismo, masificación (o igualitarismo), infantilismo (o irresponsabilidad); contra las i<strong>de</strong>as<br />
reductoras. Se trataría <strong>de</strong> un proceso <strong>de</strong> rebeldía profunda, compartible con un gran respeto a las personas. En este<br />
sentido, rebeldía se i<strong>de</strong>ntifica con educación. Pero, ¿no es utópica la educación entendida así? En el mejor <strong>de</strong> los<br />
casos, ¿cómo hacer viable, en las familias y en las instituciones educativas formales, esta i<strong>de</strong>a <strong>de</strong> rebeldía? (OTERO,<br />
1990b, p. 49-50)<br />
5 “quitada la negación, están indicando objetivos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarrollo personal.” (Otero, 1990a, p. 209)<br />
7
Finalmente e acima <strong>de</strong> tudo apren<strong>de</strong>r a ser. Era este o tema dominante do relatório<br />
Edgar Faure, publicado em 1972 sob os auspícios da UNESCO. As suas<br />
recomendações continuam a ter gran<strong>de</strong> atualida<strong>de</strong>, dado que ao século XXI<br />
exigirá <strong>de</strong> todos nós gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autonomia e <strong>de</strong> discernimento,<br />
juntamente com o reforço da responsabilida<strong>de</strong> pessoal, na realização <strong>de</strong> um<br />
<strong>de</strong>stino coletivo. E ainda, por causa <strong>de</strong> outra exigência para a qual o relatório<br />
chama a atenção: não <strong>de</strong>ixar por explorar nenhum dos talentos que constituem<br />
como que tesouros escondidos no interior <strong>de</strong> cada ser humano. Memória,<br />
raciocínio, imaginação, capacida<strong>de</strong>s físicas, sentido estético, facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
comunicação com os outros, carisma natural para animador,... e não preten<strong>de</strong>mos<br />
ser exaustivos. O que só vem confirmar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um se conhecer e<br />
compreen<strong>de</strong>r melhor.(DELORS, 1996, p. 20)<br />
Este trabalho busca respostas para “Como atuar em sala <strong>de</strong> aula para que se<br />
<strong>de</strong>senvolva o “apren<strong>de</strong>r a ser” diante <strong>de</strong> tantos problemas da socieda<strong>de</strong> neste aspecto?”. E<br />
propõe-se a investigar a seguinte problemática: Consi<strong>de</strong>rando que a perspectiva educacional<br />
personalista apresenta como principal proposta a “educação da pessoa”, quais seriam suas<br />
contribuições teórico-metodológicas para o pilar “apren<strong>de</strong>r a ser” do Relatório Jacques Delors?<br />
Para isso busca como objetivo geral: compreen<strong>de</strong>r a proposta da Educação<br />
Personalista e levantar nos autores personalistas Victor García Hoz, Carlos Llano Cifuentes e<br />
Oliveros F. Oteros propostas pedagógicas e ações educativas que po<strong>de</strong>m contribuir com o pilar da<br />
educação do Relatório Jacques Delors “apren<strong>de</strong>r a ser”. E como objetivos específicos:<br />
Refletir sobre o conceito <strong>de</strong> “apren<strong>de</strong>r a ser” do Relatório Jacques Delors<br />
buscando seus principais objetivos e preocupações e relacionando à proposta<br />
geral da Educação Personalista que é “apren<strong>de</strong>r a ser pessoa”;<br />
Explicar o que é a Educação Personalista, investigando em sua fundamentação<br />
filosófica o conceito “pessoa” e o significado <strong>de</strong> “educação da pessoa”;<br />
8
Analisar e compreen<strong>de</strong>r os conceitos e as propostas apresentadas pelos autores<br />
<strong>de</strong> perspectiva personalista: “educação personalizada” <strong>de</strong> Victor García Hoz,<br />
“formação do caráter”, <strong>de</strong> Carlos Llano Cifuentes e “rebeldia educativa” <strong>de</strong><br />
Oliveros Fernan<strong>de</strong>z Otero;<br />
Buscar em cada uma das propostas citadas, possíveis contribuições ao aspecto<br />
“apren<strong>de</strong>r a ser” e levantar objetivos educacionais, estratégias metodológicas<br />
e propostas pedagógicas para a ação educativa do professor.<br />
Assim, o corpus do trabalho serão quatro obras <strong>de</strong> três autores personalistas,<br />
acreditando que esta perspectiva po<strong>de</strong> fornecer importantes contribuições educacionais ao<br />
aspecto “apren<strong>de</strong>r a ser”. Preferiu-se não aprofundar durante a inter-relação entre o conceito <strong>de</strong><br />
“apren<strong>de</strong>r a ser” dado pelo Relatório Jacques Delors, <strong>de</strong>vido às diferenças paradigmáticas<br />
existentes. Apenas buscou-se pontos <strong>de</strong> inter-relação aproveitando-se da sugestão, como pilar<br />
educacional, do incentivo à sua pesquisa e ampliação do tema. Procurou-se estabelecer algumas<br />
relações teóricas gerais, mas privilegiou-se a busca por ações educativas e propostas educacionais<br />
para este aspecto em específico, o “apren<strong>de</strong>r a ser”.<br />
Definiu-se por investigar estas três propostas ou conceitos apresentados por autores<br />
<strong>de</strong> perspectiva personalista: “educação personalizada” <strong>de</strong> Victor García Hoz; “formação do<br />
caráter” <strong>de</strong> Carlos Llano Cifuentes; e “rebeldia educativa” <strong>de</strong> Oliveros F. Otero por<br />
<strong>de</strong>nunciarem em seus títulos tais contribuições. Nesta pesquisa bibliográfica apoiada em material<br />
existente <strong>de</strong> perspectiva personalista, preten<strong>de</strong>-se investigar as inter-relações entre o trabalho <strong>de</strong><br />
Delors e o dos autores <strong>de</strong> fundamentação realista personalista Victor García Hoz, Carlos Llano<br />
9
Cifuentes e Oliveros F. Otero, principalmente no que tange o conceito “apren<strong>de</strong>r a ser”. Após<br />
esta interrelação buscou-se na perspectiva antropológica personalista propostas pedagógicas para<br />
a ação educativa do professor para este pilar educacional “apren<strong>de</strong>r a ser”.<br />
O levantamento das propostas e ações educativas possíveis para o aspecto do<br />
“apren<strong>de</strong>r a ser” exigiu que se excluíssem propostas e ações educativas que direcionassem mais<br />
aos outros pilares (apren<strong>de</strong>r a fazer, apren<strong>de</strong>r a viver juntos e apren<strong>de</strong>r a conhecer). O <strong>de</strong>staque<br />
ao “mais”, é <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> que em se tratando <strong>de</strong> educação, não se consegue perseguir<br />
exclusivamente um dos objetivos, como o “apren<strong>de</strong>r a ser”. Todos os outros estão sempre<br />
envolvidos, afinal qualquer ação educativa exige: ativida<strong>de</strong>s práticas ou projetos <strong>de</strong> trabalho<br />
(apren<strong>de</strong>r a fazer); a interação entre alunos, professores, pais e funcionários (apren<strong>de</strong>r a viver<br />
juntos); a construção do conhecimento pelo aluno (apren<strong>de</strong>r a conhecer).<br />
A perspectiva educacional auto-<strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> “personalista”, cujo precursor é<br />
Victor García Hoz com seus livros “Pedagogia Sistêmica ” e “Educação Personalizada”, pauta-<br />
se, portanto, na educação da “pessoa” ou “na visão personalista do homem” (STORK;<br />
ECHEVARRÍA, 2005, p.16). Utilizando-se, para isso, da Antropologia Filosófica – ciência que<br />
estuda o HOMEM – como parâmetro para enten<strong>de</strong>r a completu<strong>de</strong> do “SER”, da “pessoa<br />
humana”. Esta perspectiva educacional personalista faz da “pessoa” <strong>de</strong>finida pela Antropologia<br />
seu embasamento teórico e filosófico para toda e qualquer prática educativa, seja ela escolar ou<br />
mesmo familiar.<br />
A principal argumentação “personalista” é que “pessoa” é o termo mais a<strong>de</strong>quado<br />
para se trabalhar em “educação”, pois não reduz o “ser humano” enxergando apenas sua<br />
10
individualida<strong>de</strong> – como indivíduo; nem o enxerga apenas diante do coletivo, em convivência com<br />
outros - como cidadão; nem lhe retira as suas características <strong>de</strong> observador- receptor ou mesmo<br />
paciente e telespectador, chamando-o apenas <strong>de</strong> protagonista <strong>de</strong> ações ou <strong>de</strong> sujeito. Sim, o<br />
aluno é um indivíduo único que convive em socieda<strong>de</strong>, que tem direitos e <strong>de</strong>veres para com ela,<br />
que é ativo e “sujeito” principal em muitas situações - ou pelo menos <strong>de</strong>veria ser - porque é<br />
pessoa.<br />
Neste percurso da pesquisa optou-se por compreen<strong>de</strong>r as idéias principais <strong>de</strong> cada um<br />
dos autores para buscar as idéias gerais da perspectiva personalista e <strong>de</strong>pois salientar suas<br />
propostas individuais para o apren<strong>de</strong>r a ser. A comparação entre os autores está presente<br />
indiretamente, (indiretamente por não se tratar do enfoque principal <strong>de</strong>ste trabalho), nos capítulos<br />
“Fundamentos da Educação da Pessoa” e “Propostas Gerais da Educação Personalista para o<br />
apren<strong>de</strong>r a ser”.<br />
Sobre a apresentação, <strong>de</strong>ve-se salientar que se procurou fazer uma exposição didática<br />
que facilitasse a compreensão, por isso a utilização <strong>de</strong> subtítulos. Embora as propostas tenham<br />
sido apresentadas <strong>de</strong> forma direta, pois a discussão foi feita mais ao final do trabalho, cabe<br />
ressaltar também que houve a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> toda uma investigação, em várias obras, para se<br />
chegar a esta apresentação conforme foi organizada. Observando as semelhanças entre as idéias<br />
dos autores e correlacionando com os fundamentos da Antropologia Filosófica sobre a “pessoa”,<br />
percebeu-se que algumas <strong>de</strong>stas propostas estavam intimamente justificadas e explicadas nestes<br />
fundamentos da Antropologia Filosófica. Definiu-se então por <strong>de</strong>ixá-las em um capítulo<br />
separado, capítulo 6, e optou-se por chamá-las <strong>de</strong> Fundamentos da Educação da Pessoa. O<br />
capítulo 7 apresentado como “Propostas Gerais da Educação Personalista” são propostas também<br />
11
comuns em todos os autores, mas que não estão necessariamente comprometidas com a<br />
Antropologia Filosófica. São consensos entre os autores sobre a metodologia educacional, as<br />
ações educativas, os objetivos e as estratégias pedagógicas, por isso a escolha da <strong>de</strong>nominação<br />
“Propostas Gerais”.<br />
Cabe ressaltar que as subdivisões assim como seus títulos foram frutos <strong>de</strong>sta<br />
interpretação e <strong>de</strong> uma análise comparativa entre os autores, em busca <strong>de</strong>sta correlação e <strong>de</strong> uma<br />
compreensão <strong>de</strong> como se retratava a perspectiva personalista. Desta forma chegou-se à<br />
compreensão do que é a perspectiva personalista a partir <strong>de</strong> obras individuais, <strong>de</strong> perspectivas<br />
individuais <strong>de</strong> autores consi<strong>de</strong>rados “personalistas” e <strong>de</strong> uma divisão entre fundamentos e<br />
propostas gerais da perspectiva personalista. Tais capítulos além dos títulos apresentados,<br />
representam, portanto, o resultado <strong>de</strong>sta correlação entre os autores, consi<strong>de</strong>rando que ao analisar<br />
as propostas <strong>de</strong> cada autor, percebeu-se que muitas eram idênticas ou muito parecidas, po<strong>de</strong>ndo<br />
<strong>de</strong>finir ou esboçar o que é a Educação Personalista. A discussão <strong>de</strong>stas propostas foi feita após a<br />
apresentação das propostas e suas correlações, mais ao final do trabalho.<br />
O mesmo procedimento investigativo <strong>de</strong> leitura, compreensão, correlação entre os<br />
autores, interpretação dos conceitos e a busca por uma apresentação didática e clara procurando<br />
estabelecer subdivisões e esclarecer as idéias principais ocorreu nos capítulos das propostas dos<br />
autores, também nos capítulos 3, 5 e 1. Neste primeiro capítulo procurou-se nas idéias <strong>de</strong> Otero e<br />
do Relatório Jacques Delors apresentar uma consistente justificativa para este trabalho,<br />
consi<strong>de</strong>rando que para muitos o tema <strong>de</strong>sta pesquisa po<strong>de</strong> parecer utópico. Buscou-se representar<br />
justificativas e argumentar sobre os problemas que cercam este tema, “apren<strong>de</strong>r a ser” e tentou-se<br />
<strong>de</strong> uma forma natural convencer o leitor <strong>de</strong> que por mais utópico que seja, é uma necessida<strong>de</strong>,<br />
12
pois trata-se <strong>de</strong> problemas e <strong>de</strong> tensões a ultrapassar, <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios a enfrentar. Entre os problemas<br />
os principais, a manipulação e os reducionismos e entre os <strong>de</strong>safios, o <strong>de</strong> valorizar os valores<br />
morais, éticos e cristãos e <strong>de</strong> se investir no pilar “apren<strong>de</strong>r a ser”.<br />
Como Otero, que este trabalho não acompanhe o perfil atual <strong>de</strong> “inconformismo<br />
estéril” (OTEROS, 1900b, p. 72), apesar <strong>de</strong> também consi<strong>de</strong>rar que:<br />
[...] não é fácil enten<strong>de</strong>r na manipulação a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração humana.<br />
Talvez facilite a compreensão saber que muitas vezes quem manipula não tem em<br />
conta o dano que ocasionam nos <strong>de</strong>stinatários <strong>de</strong> sua ação: eles simplesmente se<br />
propõem a uns fins sem reparar na licititu<strong>de</strong> ou ilicitu<strong>de</strong> dos meios e sem fazer<br />
planos sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respeitar nem a liberda<strong>de</strong> nem a dignida<strong>de</strong> do ser<br />
humano. (OTERO, 1990b, p. 41-42) 6<br />
“Contribuições da Educação Personalista para o aspecto do apren<strong>de</strong>r a ser” preten<strong>de</strong>,<br />
pois, buscar na Educação Personalista os meios educativos, pistas e estratégias, para que este<br />
“apren<strong>de</strong>r a ser” se realize concretamente na escola: seja pela “rebeldia educativa” contra a<br />
manipulação e reducionismos; seja pela “formação do caráter” tão esquecida pelo mundo<br />
mo<strong>de</strong>rno; seja pela “educação personalizada” que percebe as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada aluno<br />
individualmente. A manipulação está já inserida na educação, faz-se necessário reagir para não<br />
“reprimir o essencial do homem” (OTERO, 1990b, p. 73) e para que o professor tenha condições<br />
<strong>de</strong> EDUCAR auxiliando o aluno em sua melhora como “ser”, como “pessoa”, ou seja, que ele<br />
“aprenda a ser”.<br />
6 [...] no es facil enten<strong>de</strong>r en la manipulación la finalidad <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioro humano. Quizá facilite a compreensión saber<br />
que muchas veces quienes manipulan no tienen en cuenta el daño que ocasionan en los <strong>de</strong>stinatarios <strong>de</strong> su acción:<br />
ellos simplesmente se proponen unos fines sin reparar en la licitud o ilicitud <strong>de</strong> los medios y sin planearse la<br />
necesidad <strong>de</strong> respetar ni la libertad ni la dignidad <strong>de</strong>l ser humano.<br />
13
1. DEGRADAÇÃO DO HOMEM E APRENDER A SER<br />
Em todos os livros pesquisados, <strong>de</strong> perspectiva personalista, os problemas da<br />
socieda<strong>de</strong> e também da educação fazem referência à “redução da pessoa humana”, ou também<br />
chamados <strong>de</strong> reducionismos. Isto significa que está ocorrendo uma ausência ou ineficiência da<br />
educação do “SER”, entre outras coisas, pela supervalorização da educação do “TER”,<br />
comprovando, portanto a existência <strong>de</strong> uma lacuna neste pilar educacional: “apren<strong>de</strong>r a ser”.<br />
Também o Relatório Jacques Delors <strong>de</strong>nuncia estes problemas, propõe a atenção aos<br />
meios da educação, assim como aos fins e coloca numa posição privilegiada a interação e a<br />
construção da própria pessoa:<br />
No final <strong>de</strong> um século marcado, quer pela agitação e pela violência, quer pelos<br />
progressos econômicos e científicos – estes, aliás, <strong>de</strong>sigualmente repartidos -, no<br />
alvorecer <strong>de</strong> um novo século cuja aproximação nos <strong>de</strong>ixa in<strong>de</strong>cisos entre a<br />
angústia e a esperança, impõe-se que todos os responsáveis prestem atenção às<br />
finalida<strong>de</strong>s e aos meios da educação. A comissão consi<strong>de</strong>ra as políticas educativas<br />
um processo permanente <strong>de</strong> enriquecimento dos conhecimentos, do saber-fazer,<br />
mas também e talvez em primeiro lugar, como uma via privilegiada <strong>de</strong> construção<br />
da própria pessoa, das relações entre indivíduos, grupos e nações (DELORS,<br />
1996, p. 12)<br />
1.1. MANIPULAÇÃO E REDUCIONISMOS<br />
Otero, um dos autores personalistas pesquisados, foi quem mais argumentou sobre<br />
problemas relacionados ao pilar “apren<strong>de</strong>r a ser”. Em seu livro “Educação e Manipulação”,<br />
<strong>de</strong>nuncia, como que justificando o termo “rebeldia” <strong>de</strong> seu outro livro “Educación como<br />
rebeldia”, a manipulação como principal processo <strong>de</strong> “contra-educação” da atualida<strong>de</strong>: “a<br />
14
manipulação é, fundamentalmente, um processo <strong>de</strong> reducionismo do ser humano em contraste<br />
com a educação, que é um processo <strong>de</strong> melhora pessoal”(OTERO, 1990b, p. 33) 7 . A manipulação<br />
que para ele é sempre <strong>de</strong> pessoas, inclusive <strong>de</strong> pessoas não nascidas, é a causadora <strong>de</strong> sua<br />
redução ou <strong>de</strong>gradação:<br />
Neste sentido, a manipulação é sempre manipulação <strong>de</strong> pessoas, trata-se <strong>de</strong><br />
reduzir diretamente os seres humanos à sua dimensão social, à sua dimensão <strong>de</strong><br />
consumidores, etc.; trata-se <strong>de</strong> reduzir a informação, os conceitos, a verda<strong>de</strong>, o<br />
bem, o amor ou a liberda<strong>de</strong>, para influir, <strong>de</strong>ste modo, no comportamento humano.<br />
A manipulação se realiza, inclusive, com pessoas não nascidas. (OTERO, 1990b,<br />
p. 22) 8<br />
Otero apresenta confrontos sobre este tema “manipulação” em toda a sua discussão:<br />
material X espiritual; bem físico X bem moral; reducionismo X <strong>de</strong>senvolvimento; <strong>de</strong>gradação da<br />
pessoa X melhora da pessoa; manipulação x educação; TER X SER. Muito embora a<br />
Antropologia <strong>de</strong> perspectiva personalista não se caracterize como dualista, tem-se <strong>de</strong> um lado a<br />
contra-educação que é preciso i<strong>de</strong>ntificar para se evitar: valorização do ter, do bem material e<br />
físico, da manipulação, do reducionismo, da <strong>de</strong>gradação da pessoa; e do outro lado tem-se a<br />
educação por se preocupar, entre tantas coisas, também com o espiritual, o amor, a fé, a<br />
liberda<strong>de</strong>..., com o bem moral e com a busca do <strong>de</strong>senvolvimento pleno, integral do aluno, ou<br />
seja, com a melhora da “pessoa”.<br />
A manipulação é uma influência que atua por ocultação. Protege-se<br />
<strong>de</strong>squalificando a si mesma e, por conseqüência, a toda influência: por exemplo, a<br />
autorida<strong>de</strong>, que corretamente exercida é uma influência positiva no<br />
7 “la manipulación es, fundamentalmente, un proceso <strong>de</strong> reduccionismo <strong>de</strong>l ser humano en contraste con la<br />
educación, que es un proceso <strong>de</strong> mejora personal”(OTERO, 1990b, p. 33)<br />
8 En esta acepción, la manipulación es siempre manipulación <strong>de</strong> personas, trátese <strong>de</strong> reducir directamente los seres<br />
humanos a su dimensión social, a su dimensión <strong>de</strong> consumidores, etc.; trátese <strong>de</strong> reducir la información, los<br />
conceptos, la verdad, el bien, el amor o la libertad, para influir, <strong>de</strong> este modo, en el comportamiento humano. La<br />
manipulación se efectúa, incluso, con personas no nacidas. (OTERO, 1990b, p. 22)<br />
15
<strong>de</strong>senvolvimento pessoal dos outros. É difícil contrapor a uma influência negativa<br />
- a manipulação – com outra <strong>de</strong> tipo positivo quando toda influência se enten<strong>de</strong><br />
como negativa. A manipulação <strong>de</strong>strói assim, frente a elas, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> buscar<br />
ou <strong>de</strong> aceitar ajudas. (OTEROS, 1990a, p. 84) 9<br />
Entre os tipos <strong>de</strong> manipulação, Otero <strong>de</strong>staca <strong>de</strong> valores, da liberda<strong>de</strong>, do sexo e da<br />
moda. Embora prefira utilizar o termo manipulação, Otero também fala em condicionamento<br />
ambiental: “se a educação é um processo <strong>de</strong> melhora da pessoa, reduzir esta melhora a uma<br />
razão absolutizada é, sem dúvida, um grave condicionamento ambiental” (OTERO, 1990b, p.<br />
98) 10 . Este termo ele usa ao fazer referência às palavras <strong>de</strong> Rathenau que disse que não basta a<br />
inteligência para conquistar as pessoas, mas o amor, e também faz referência às palavras <strong>de</strong><br />
Repetto que disse que a realida<strong>de</strong> mediatizada sempre pelo conceito do racional fica<br />
<strong>de</strong>spontecializada, imersa em um utilitarismo e vazio em sua interiorida<strong>de</strong> mais essencial, sua<br />
dimensão espiritual e que um mundo conceitualizado se presta à manipulação fria e racional dos<br />
valores.<br />
1.1.1 EFEITOS DA MANIPULAÇÃO<br />
Quanto aos efeitos da manipulação, alerta que se combinados geram este<br />
confusionismo, que para Otero, é o principal <strong>de</strong>les. Todos juntos contribuem para o<br />
obscurecimento da inteligência e negação <strong>de</strong> seus limites “nestas condições <strong>de</strong> cegueira, o ser<br />
9 La manipulación es una influencia que actua por ocultamiento. Se protege <strong>de</strong>scalificándose a sí misma y, <strong>de</strong> paso, a<br />
toda influencia: por ejemplo, la autoridad, que correctamente ejercida es una influencia positiva en el <strong>de</strong>sarrollo<br />
personal <strong>de</strong> otros. Es difícil oponer a una influencia negativa - la manipulación – otra <strong>de</strong> tipo positivo cuando toda<br />
influencia se entien<strong>de</strong> como negativa. La manipulación <strong>de</strong>struye así, frente a ellas, la capacidad <strong>de</strong> buscar o <strong>de</strong><br />
aceptar ayudas. (OTEROS, 1990a, p. 84)<br />
10 “se a educación es un proceso <strong>de</strong> mejora <strong>de</strong> la persona, reducir esta mejora a una razón absolutizada es, sin duda,<br />
um grave condicionamento ambiental” (OTEROS, 1990b, p. 98)<br />
16
humano, paradoxalmente, nega seus limites ao mesmo tempo que incrementa suas limitações”<br />
(OTERO, 1990b, p. 58) 11 .<br />
Otero também apresenta outros efeitos como a ausência <strong>de</strong> valores e a inversão <strong>de</strong><br />
valores, o fato <strong>de</strong> fazer passar por valores o que não é e <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar valores que os que são, ou<br />
seja que tem a característica <strong>de</strong> princípios, principais e profundos:<br />
1.1.2 CAUSAS DA MANIPULAÇÃO<br />
Outros efeitos da manipulação, conseqüência da redução dos temas humanos ao<br />
secundário ou ao superficial, são: a inversão <strong>de</strong> valores resultante <strong>de</strong> super-editar<br />
o principal ao secundário – também sendo ambos importantes -; a tendência a ser<br />
profundo no superficial e superficial no profundo. Isto se po<strong>de</strong> observar, por<br />
exemplo, na situação atual <strong>de</strong> uma cultura – européia? - sem valores. “Pela<br />
primeira vez na história, uma geração se abre à existência sem valores <strong>de</strong><br />
referência” (André Malraux). Em todo caso, fazem-se passar por valores ou<br />
pontos <strong>de</strong> referência as “in<strong>de</strong>pendências”, as „liberações‟ e as “curiosida<strong>de</strong>s” - se<br />
quer ver tudo, saber tudo e ensaiar tudo -. Estes pontos <strong>de</strong> referência – muito<br />
relacionados, da mesma forma, com a manipulação- servem, em todo caso, para<br />
fomentar o individualismo, o culto ao bem-estar, o predomínio da imagem (nos<br />
mass-media) sobre o pensamento, o consumismo. A própria nova cultura européia<br />
– sem valores – po<strong>de</strong> ser facilmente transformada em um bem <strong>de</strong> consumo.<br />
(OTERO, 1990b, p. 47-48) 12 .<br />
Esta criação <strong>de</strong> limitações e negação <strong>de</strong> limites e <strong>de</strong> valores tem entre suas causas a<br />
herança familiar: “Uma parte da socieda<strong>de</strong> adulta entrou na adolescência – tem retrocedido a um<br />
11<br />
“en estas condiciones <strong>de</strong> ceguera, el ser humano, paradójamente, niega sus límites a la vez que incrementa sus<br />
limitaciones” (OTERO, 1990b, p. 58)<br />
12<br />
Otros efectos <strong>de</strong> la manipulación, consecuencia <strong>de</strong> la reducción <strong>de</strong> los temas humanos a los secundario o a lo<br />
superficial, son: la inversión <strong>de</strong> valores resultante <strong>de</strong> supeditar lo principal a lo secundario – aun siendo ambos<br />
importantes -; la ten<strong>de</strong>ncia a ser profundo en lo superficial y superficial en lo profundo. Esto se pue<strong>de</strong> observar, por<br />
ejemplo, en la situación actual <strong>de</strong> una cultura – ¿europea?- sin valores. “Por primera vez en la historia, una geración<br />
se abre a la existencia sin valores <strong>de</strong> referencia” (André Malraux). En todo caso, se hacen pasar por valores o puntos<br />
<strong>de</strong> referencia las “in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncias”, las „liberaciones‟ y las “curiosida<strong>de</strong>s” - se quiere ver todo, saberlo todo y<br />
ensayarlo todo-. Estos puntos <strong>de</strong> referencia – muy relacionados, asimismo, con la manipulación- sirven, en todo caso,<br />
para fomentar el individualismo, el culto al bienestar, el predominio <strong>de</strong> la imagen (en los mass-media) sobre el<br />
pensamiento, el consumismo. La propia nueva cultura europea – sin valores – pue<strong>de</strong> ser fácilmente transformada en<br />
un bien <strong>de</strong> consumo. (OTERO, 1990b, p. 47-48)<br />
17
estágio <strong>de</strong> imaturida<strong>de</strong>, comunica esta imaturida<strong>de</strong> aos jovens, fazendo-os perfeitos her<strong>de</strong>iros.”<br />
(OTERO, 1990b, 58) 13<br />
Além da “herança familiar”, as diversas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cumplicida<strong>de</strong>s do ser<br />
humano são causas da manipulação. Estas cumplicida<strong>de</strong>s, somadas a outros fatores, são<br />
responsáveis por harmonizar “um otimismo irreal e um <strong>de</strong>rrotismo inaceitável, uma gran<strong>de</strong><br />
confusão nas idéias e uma incongruência mais ou menos gran<strong>de</strong> na conduta” (OTERO, 1990b, p.<br />
49). 14<br />
Como o próprio nome diz, as cumplicida<strong>de</strong>s também cúmplices e tornam a pessoa<br />
cúmplice dos efeitos da manipulação e, conseqüentemente, dos reducionismos “resulta lesionada<br />
a dignida<strong>de</strong> humana, e os consumidores <strong>de</strong> novida<strong>de</strong>s se convertem em cúmplices” (OTERO,<br />
1990b, p. 24). 15<br />
1.1.3. METODOLOGIA DA MANIPULAÇÃO<br />
Além <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar o apoio, ou a sustentação, nas cumplicida<strong>de</strong>s humanas (caso<br />
existam), Otero <strong>de</strong>staca a maneira com que a manipulação se manifesta sem atacar diretamente a<br />
vonta<strong>de</strong> ou a liberda<strong>de</strong> da pessoa humana e como influencia as pessoas <strong>de</strong> forma indireta, sutil<br />
13 “Una parte <strong>de</strong> la sociedad adulta se ha hecho adolescente – há retrocedido a un estádio <strong>de</strong> inmadurez, comunica<br />
esta inmaturez a los jóvenes, haciendoles perfectos her<strong>de</strong>ros.” (OTERO, 1990b, 58)<br />
14 “un optimismo irreal y un <strong>de</strong>rrotismo inaceptable, una gran confusión en las i<strong>de</strong>as y una incongruencia más o<br />
menos gran<strong>de</strong> en la conducta” (OTERO, 1990b, p. 49).<br />
15 “resulta lesionada la dignidad humana, y los consumidores <strong>de</strong> noveda<strong>de</strong>s se convierten en cómplices” (OTERO,<br />
1990b, p. 24).<br />
18
ten<strong>de</strong>ndo “a mascarar-se mediante um procedimento reducionista semântico” (OTERO, 1990b, p.<br />
27) 16 :<br />
O sujeito manipulador busca a <strong>de</strong>terioração ou a perda <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> do<br />
<strong>de</strong>stinatário, procurando manter a aparência da liberda<strong>de</strong>. Cabe toda uma gradação<br />
<strong>de</strong> influência em outros seres humanos, ações mais ou menos próximas da<br />
verda<strong>de</strong>ira manipulação. Por outro lado, po<strong>de</strong> dar-se, ou não, a cumplicida<strong>de</strong> do<br />
próprio <strong>de</strong>stinatário; normalmente, a ação manipuladora se apóia nestas “zonas <strong>de</strong><br />
cumplicida<strong>de</strong>. (OTERO, 1990b, p. 22-24) 17<br />
Otero, para facilitar a i<strong>de</strong>ntificação da manipulação, apresenta como uma <strong>de</strong> suas<br />
principais características <strong>de</strong> se apoiar não nos fins humanos, <strong>de</strong>stacados pela Antropologia, mas<br />
nos fins inferiores, finalida<strong>de</strong>s estranhas ao <strong>de</strong>senvolvimento natural da pessoa:<br />
Por isso, saber que a manipulação – especialmente a do sexo e a dos valores - se<br />
caracteriza por: ser anti-melhora; utilizar a ambigüida<strong>de</strong> ou a mentira; apoiar-se<br />
nas tendências humanas <strong>de</strong> nível inferior e nas situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontento; exercer a<br />
tirania em diferentes modalida<strong>de</strong>s dissimuladas, e fomentar a incongruência na<br />
conduta dos manipulados, se pu<strong>de</strong>sse ser suficiente para resistir <strong>de</strong> alguma forma,<br />
ao menos procurando evitar esta influência ambiental negativa. (OTERO, 1990b,<br />
p. 51) 18<br />
Entre os maiores instrumentos <strong>de</strong> manipulação está a publicida<strong>de</strong>, que sob<br />
colaboração da realimentadora <strong>de</strong> passivida<strong>de</strong>, a televisão, faz com que o educando crie ou<br />
modifique atitu<strong>de</strong>s, atuando, sobretudo, no subconsciente e no inconsciente com a promessa <strong>de</strong><br />
felicida<strong>de</strong> a partir <strong>de</strong> um estilo <strong>de</strong> vida, inci<strong>de</strong> sobre a esperança da pessoa que encontra-se logo<br />
com a frustração:<br />
16 “a enmascararse mediante un procedimiento reducionista semântico” (OTERO, 1990b, p. 27)<br />
17 El sujeto manipulador busca el <strong>de</strong>terioro o la pérdida <strong>de</strong> libertad <strong>de</strong>l <strong>de</strong>stinatario, procurando mantener la<br />
apariencia <strong>de</strong> libertad. Cabe toda una gradación <strong>de</strong> influencia en otros seres humanos, acciones más o menos<br />
próximas a la verda<strong>de</strong>ra manipulación. Por otra parte, pue<strong>de</strong> darse, o no, la complicidad <strong>de</strong>l propio <strong>de</strong>stinatario;<br />
normalmente, la acción manipuladora se apoya en estas “zonas <strong>de</strong> complicidad. (OTERO, 1990b, p. 22-24)<br />
18 Por eso, saber que la manipulación – especialmente la <strong>de</strong>l sexo y la <strong>de</strong> los valores- se caracteriza por: ser<br />
antimejora; utilizar la ambigüedad o la mentira; apoyarse en las ten<strong>de</strong>ncias humanas <strong>de</strong> nivel inferior y en las<br />
situaciones <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontento; ejercer la tiranía en diferentes modalida<strong>de</strong>s solapadas, y fomentar la incongruencia en la<br />
conducta <strong>de</strong> los manipulados, pudiera ser suficiente para reaccionar <strong>de</strong> algún modo, al menos procurando evitar esta<br />
influencia ambiental negativa. (OTERO, 1990b, p. 51)<br />
19
Com a manipulação “se busca provocar uma <strong>de</strong>cisão, um estado <strong>de</strong> consciência,<br />
uma ação, mas sem expressar um mandato ou uma pressão, a não ser atuando<br />
sobre o inconsciente ou sobre o subconsciente, sobre o sistema nervoso ou sobre<br />
os instintos”. Este processo <strong>de</strong> influência se fundamenta, principalmente, nas<br />
técnicas psicológicas e aproveita as possibilida<strong>de</strong>s que oferecem o consumismo e<br />
os meios <strong>de</strong> comunicação. (OTEROS, 1990a, p. 85) 19<br />
E a socieda<strong>de</strong> reproduz estes pensamentos, inseridos no subconsciente e no<br />
inconsciente, dados pela publicida<strong>de</strong> e afins mostrando que “tudo é possível”, “realize o seu<br />
sonho” , que “querer é po<strong>de</strong>r” ou que “vale tudo para conquistar o sucesso”. Esse pensamento<br />
insere também a idéia do prazer, como meta essencial para a “felicida<strong>de</strong>”, como “Aproveite o<br />
melhor da vida”, “Busque o prazer da vida”, “porque a vida é agora”.<br />
1.1.4 EXEMPLOS DA MANIPULAÇÃO<br />
Como exemplos da manipulação recortou-se um trecho em que duas manipulações<br />
são apresentadas concretamente por Otero e repassadas aos educadores para reflexão:<br />
Assim, po<strong>de</strong> se observar como em algumas manifestações <strong>de</strong> diversos<br />
movimentos <strong>de</strong> emancipação da mulher, em que estas são congregadas para<br />
protestar contra quem quer rebaixá-las ao papel <strong>de</strong> objeto, fazem-no ataviadas<br />
com modas que são fruto precisamente <strong>de</strong>ssa consi<strong>de</strong>ração. [...] A manipulação é<br />
o produto <strong>de</strong> uma ação múltipla, habilmente organizada em sua origem, difundida<br />
mediante os suportes da publicida<strong>de</strong> – imprensa, rádio, televisão, cartazes - e<br />
mediante livros, cuja leitura é causa <strong>de</strong> graves infecções <strong>de</strong> tipo espiritual –<br />
facilmente observáveis quando já não tem solução -. Estes suportes da<br />
manipulação dos valores – às vezes, livros convertidos em bestsellers mediante<br />
manipulação publicitária – permitem a ação manipulativa por reação em ca<strong>de</strong>ia.<br />
(OTERO, 1990a, p. 102-104) 20<br />
19 Con la manipulación „se busca provocar una <strong>de</strong>cisión, un estado <strong>de</strong> conciencia, una acción, pero sin expresar un<br />
mandato o una presión, sino actuando sobre el inconsciente o sobre el subconsciente, sobre el sistema nervioso o<br />
sobre los instintos‟. Este proceso <strong>de</strong> influencia se basa, principalmente, en técnicas psicológicas y aprovecha las<br />
posibilida<strong>de</strong>s que ofrecen el consumismo y los medios <strong>de</strong> comunicación. (OTERO, 1990a, p. 85)<br />
20 Así, pue<strong>de</strong> observarse cómo en algunas manifestaciones <strong>de</strong> diversos movimientos <strong>de</strong> emancipación <strong>de</strong> la mujer, en<br />
que congregadas éstas para protestar contra quienes quieren relegarlas al papel <strong>de</strong> objeto, lo hacen ataviadas con<br />
modas que son fruto precisamente <strong>de</strong> esa consi<strong>de</strong>ración. [...] La manipulación es el producto <strong>de</strong> una acción múltiple,<br />
20
No primeiro trecho Otero aborda a manipulação realizada pela moda e que atinge o<br />
comportamento das pessoas, principalmente o das mulheres, e no segundo mostra como a<br />
manipulação se expressa no meio escolar, cultural, acadêmico, influenciando o pensamento das<br />
pessoas através <strong>de</strong> leituras sutilmente manipuladoras, seja publicida<strong>de</strong> ou mesmo livros.<br />
1.1.5. FALTA DE VALORES MORAIS, ÉTICOS E CRISTÃOS<br />
A ausência da solidarieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> respeito humano, <strong>de</strong> se pensar nos <strong>de</strong>mais e <strong>de</strong>sejar<br />
o bem para o outro, não apenas para si mesmo, mostra uma das conseqüências, e também causa<br />
da socieda<strong>de</strong> materialista e individualista da atualida<strong>de</strong> que pratica a própria “retalhação” do ser<br />
humano. Como prova disso, frases insistem no pensamento do homem “mo<strong>de</strong>rno” com fatores<br />
reducionistas, que aparecem sem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e claramente sem a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s. Para tanto, recebem por influência <strong>de</strong> filósofos que enxergam uma ou<br />
mais partes da pessoa humana, como Nietzsche que coloca o “po<strong>de</strong>r” - verbo e substantivo -<br />
como conseqüência do “querer”, da “vonta<strong>de</strong>” sem se importar com qualquer barreira ou limite,<br />
ainda que esta “barreira” seja outro ser humano.<br />
Família, pessoa, valores, moral e ética são temas que ainda não admitem uma<br />
“<strong>de</strong>manda” científica, pois trazem reflexões críticas ao modo <strong>de</strong> vida mo<strong>de</strong>rna: individualista,<br />
consumista, materialista, liberal e reducionista, uma vida governada pelo ter e ditada pelo prazer.<br />
No entanto, educadores e pesquisadores personalistas analisados fazem justamente esta proposta,<br />
hábilmente organizada en su origen, difundida mediante los soportes <strong>de</strong> la publicidad – prensa, radio, televisión,<br />
posters- y mediante libros, cuya lectura es causa <strong>de</strong> graves infecciones <strong>de</strong> tipo espiritual – fácilmente observables<br />
cuando ya no tienen solución-. Estos soportes <strong>de</strong> la manipulación <strong>de</strong> los valores – a veces, libros convertidos en<br />
bestsellers mediante manipulación publicitaria – permiten la acción manipulativa por reacción en ca<strong>de</strong>na. (OTERO,<br />
1990a, p. 102-104)<br />
21
conforme justificado, a <strong>de</strong> retirar o “homem” da condição <strong>de</strong> objeto passivo, controlável,<br />
manipulável e corruptível para recolocá-lo em sua condição <strong>de</strong> “sujeito” possível <strong>de</strong> se<br />
<strong>de</strong>senvolver, <strong>de</strong> criar, <strong>de</strong> “ser” (e não apenas <strong>de</strong> “ter”), <strong>de</strong> transformar, <strong>de</strong> criticar, <strong>de</strong> amar, <strong>de</strong><br />
agir com critérios e valores, apesar <strong>de</strong> estar inserido num mundo sem critérios e sem valores.<br />
Os valores morais, apresentados pela ética, e a cultura são as duas gran<strong>de</strong>s<br />
preocupações da Comissão, pois consi<strong>de</strong>ram um esforço difícil “dominar o progresso <strong>de</strong>ntro do<br />
respeito pela pessoa humana e da sua integrida<strong>de</strong>” (DELORS,1996, p. 17).<br />
Entre as priorida<strong>de</strong>s apresentadas neste relatório <strong>de</strong> 1999, a Comissão <strong>de</strong>clara a<br />
tomada <strong>de</strong> posição <strong>de</strong> dar mais importância ao pilar “apren<strong>de</strong>r a viver junto”. E<br />
estabelece os valores da “compreensão mútua”, da “entreajuda pacífica” e da<br />
“harmonia” como “os valores <strong>de</strong> que o mundo mais carece”. (DELORS, 1996, p.<br />
19)<br />
No entanto, estes valores colocados junto ao pilar “apren<strong>de</strong>r a viver junto” <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />
do pilar “apren<strong>de</strong>r a ser”, pois o relatório admite que a sobrevivência da humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>stes valores morais, que po<strong>de</strong>m ser chamados também <strong>de</strong> valores éticos ou mesmo <strong>de</strong> valores<br />
cristãos. É necessário “uma espécie <strong>de</strong> superação <strong>de</strong> si mesmo” (DELORS,1996, p.16), uma<br />
exposição sutil do que prega a perspectiva personalista: que a pessoa é um fim em si mesma e<br />
tem como objetivo a sua melhora pessoal. Ou seja, as pessoas precisam se <strong>de</strong>senvolver e<br />
melhorar para que haja a “sobrevivência da humanida<strong>de</strong>” (DELORS, 1996, p. 16), para que<br />
socieda<strong>de</strong>s se <strong>de</strong>senvolvam, e, assim, sobrevivam e vice-versa.<br />
Desta forma, propostas ditas como “personalistas” como “educação personalizada”,<br />
“rebeldia educativa” e “formação da vonta<strong>de</strong>”, apresentadas respectivamente por Vitor García<br />
22
Hoz, Oliveros Fernan<strong>de</strong>z Otero e Carlos Llano Cifuentes são manifestações contra este po<strong>de</strong>r<br />
invisível da manipulação que corrói, rapidamente, com a multiplicação <strong>de</strong> seus efeitos a base da<br />
socieda<strong>de</strong> que é “a pessoa do cidadão”. Os autores personalistas em geral dialogam com pessoas,<br />
pais e educadores, cuja i<strong>de</strong>ntificação educacional seja coerente com a <strong>de</strong>les: colaborar para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento integral, da pessoa, do aluno, o que passa primeiramente pela condição <strong>de</strong> ser<br />
contra a manipulação e os reducionismos.<br />
1.2 AS TENSÕES A ULTRAPASSAR<br />
As tensões a ultrapassar apresentadas pelo Relatório Jacques Delors também<br />
<strong>de</strong>nunciam problemas semelhantes aos apresentados pelos autores personalistas cujas correlações<br />
procurou-se apresentar como comentários adicionais. Não apenas Otero apresenta problemas<br />
relacionados ao apren<strong>de</strong>r a ser, as tensões a ultrapassar propostas pela comissão também revelam<br />
a ausência <strong>de</strong> valores e representam problemas que <strong>de</strong>nominam como culturais e éticos. A<br />
comissão lista as tensões entre: o global e o local; o universal e o singular; a tradição e a<br />
mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>; as soluções a curto prazo e as soluções a longo prazo; a tensão entre a<br />
indispensável competição e o cuidado com a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s; a tensão entre o<br />
extraordinário <strong>de</strong>senvolvimento dos conhecimentos e as capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> assimilação pelo homem;<br />
a tensão entre o espiritual e o material.<br />
A tensão entre “o glocal e o local” estabelece o distanciamento entre o objetivo <strong>de</strong> ser<br />
cidadão do mundo “sem per<strong>de</strong>r suas raízes e participando, ativamente, na vida do seu país e das<br />
comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> base” (DELORS, 1996, p.14). Sobre esta tensão, fazendo uma correlação com os<br />
autores personalistas, po<strong>de</strong>-se inferir que muitas vezes a visão voltada apenas para o externo ou<br />
23
mesmo para a fase adulta como cidadão pleno, faz com que haja um confusionismo, também<br />
apresentado por Otero como “cegueira”. Para os personalistas, a base educacional primeira e mais<br />
importante é a família, os pais são chamados <strong>de</strong> protagonistas da educação e a educação acontece<br />
no dia a dia, inclusive no presente. Semelhante a esta tensão, os personalistas <strong>de</strong>stacam a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se ser cidadão sem romper com a base dada – ou que <strong>de</strong>veria ser dada – pelo<br />
acompanhamento e formação familiar: valores familiares, morais, éticos ou religiosos, sejam<br />
estes últimos cristãos ou não.<br />
A tensão entre “o universal e o singular” apresenta seus riscos no “esquecimento do<br />
caráter único <strong>de</strong> cada pessoa, <strong>de</strong> sua vocação para escolher o seu <strong>de</strong>stino e realizar todas as<br />
potencialida<strong>de</strong>s, mantendo a riqueza das suas tradições e da sua própria cultura”. (DELORS, 1996,<br />
p. 14). Percebeu-se esta tensão como uma das gran<strong>de</strong>s preocupações <strong>de</strong> Victor García Hoz, a<br />
ausência da individualização na educação atual ser somada à tradicional educação coletiva. Em<br />
seu livro “Educação Personalizada”, Hoz concretiza ações (tratadas nos capítulos seguintes) que<br />
permitem esse respeito à unicida<strong>de</strong>, à intimida<strong>de</strong> e à personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada educando e que<br />
potencilizam o aluno segundo suas capacida<strong>de</strong>s, respeitando seu ritmo e aproveitando-se <strong>de</strong> suas<br />
habilida<strong>de</strong>s sem sub-estimar o educando em nenhum momento, ao contrário, oferecendo-lhe<br />
<strong>de</strong>safios graduados que favoreçam todas as suas competências múltiplas (educação integral) e<br />
que o <strong>de</strong>senvolva, para uma concreta melhora e para sua atuação plena em socieda<strong>de</strong>, inclusive<br />
no âmbito “global” como espera e propõe o Relatório.<br />
A tensão entre “a tradição e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>” traz a problemática <strong>de</strong> “adaptar-se sem<br />
se negar a si mesmo, construir a sua autonomia em dialética com a liberda<strong>de</strong> e a evolução do<br />
outro e dominar o progresso científico” (DELORS, 1996, p. 14-15). Percebe-se nesta “tensão a<br />
24
ultrapassar” uma aproximação à problemática <strong>de</strong>ste trabalho, pois caracteriza a preocupação em<br />
manter as tradições como os valores - a formação do ser -, a família e saber conviver com a<br />
mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Ou seja, ainda que indiretamente, apresenta a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento<br />
pessoal e científico sem proporcionar a <strong>de</strong>gradação ou redução <strong>de</strong> nenhum outro homem,<br />
inclusive <strong>de</strong> si mesmo.<br />
A tensão entre “soluções a curto e a longo prazo” ainda que estejam enfocadas sobre<br />
a política educacional, i<strong>de</strong>ntifica-se com o alerta <strong>de</strong> Otero sobre o imediatismo característico da<br />
socieda<strong>de</strong> atual, e porque não dizer, da própria pessoa. Descreve-se no trecho abaixo:<br />
[...] mais alimentadora hoje em dia pelo domínio do efêmero e do instantâneo,<br />
num contexto on<strong>de</strong> o excesso <strong>de</strong> informações e emoções efêmeras leva a uma<br />
constante concentração sobre os problemas imediatos. As opiniões preten<strong>de</strong>m<br />
respostas e soluções rápidas, quando muitos dos problemas enfrentados<br />
necessitam <strong>de</strong> uma estratégia paciente, que passe pela concentração e negociação<br />
das reformas a executar. As políticas educativas são, precisamente, uma área em<br />
que esta estratégia se aplica. (DELORS, 1996, p. 15)<br />
Percebeu-se também que esta tensão justifica o que outros autores, como Hoz e<br />
Cifuentes, chamam <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> sentido da vida caracterizando inclusive com o prejuízo <strong>de</strong><br />
algumas virtu<strong>de</strong>s como, por exemplo, a paciência, a prudência, a responsabilida<strong>de</strong> e a fortaleza:<br />
A tensão entre “a indispensável competição e o cuidado com a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
oportunida<strong>de</strong>s”enten<strong>de</strong>-se com o comentário: “fomos levados a retomar e a atualizar o conceito<br />
<strong>de</strong> educação ao longo <strong>de</strong> toda a vida, <strong>de</strong> modo a conciliar a competição que estimula, à<br />
cooperação que reforça e à solidarieda<strong>de</strong> que une” (DELORS, 1996, p. 15). Assim, ainda que<br />
esteja relacionada ao pilar educacional “apren<strong>de</strong>r a fazer”, esta “tensão a ultrapassar” implica<br />
uma relação direta ao pilar “apren<strong>de</strong> a ser”, pois lembra que as ações não <strong>de</strong>vem ser feitas apenas<br />
25
analisando os fins, mas <strong>de</strong>vem ser pautadas em valores éticos, tomando cuidado com os meios<br />
utilizados, para que se respeite o outro. Esta tensão equivale ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> dois valores<br />
fundamentais a liberda<strong>de</strong> e o amor, valores estes presentes nas falas <strong>de</strong> todos os autores<br />
personalistas analisados, pois há uma concordância sobre sua fundamental necessida<strong>de</strong> na<br />
socieda<strong>de</strong> atual e inclusive na educação como meio educativo - educação na liberda<strong>de</strong> e no amor<br />
- e como objetivos - educação para a liberda<strong>de</strong> e para o amor. Há que se ter justiça, cooperação,<br />
solidarieda<strong>de</strong> em meio à competição. Os autores muito bem abordam este tema quando tratam da<br />
educação da liberda<strong>de</strong>, apresentada nos capítulos seguintes, explicam que o “apren<strong>de</strong>r a ser”<br />
também <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> como foi educada a liberda<strong>de</strong> do aluno e se este educando foi educado no<br />
amor e para o amor.<br />
A tensão entre “o extraordinário <strong>de</strong>senvolvimento dos conhecimentos e as<br />
capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> assimilação pelo homem”, fez com que no Relatório admitissem a tentativa <strong>de</strong><br />
inserir o conhecimento <strong>de</strong> si mesmo (muito importante para o pilar “apren<strong>de</strong>r a ser”) como uma<br />
disciplina, tamanha sua importância educativa:<br />
Ainda que pela sobrecarga dos programas escolares a proposta tenha recuado para<br />
apenas a “preservação” dos elementos essenciais da educação, constatou-se nesta tentativa, a<br />
preocupação com o conhecimento <strong>de</strong> si mesmo, possível facilitador do pilar “apren<strong>de</strong>r a ser” e<br />
para a necessida<strong>de</strong> da construção da pessoa. Esta tensão também se relaciona com o “apren<strong>de</strong>r a<br />
ser‟ porque comprova a argumentação também percebida nos autores personalistas, que “ser” não<br />
se ensina, se apren<strong>de</strong> porque é a própria pessoa que se “<strong>de</strong>senvolve”, que se “constrói” <strong>de</strong> acordo<br />
com sua vonta<strong>de</strong> e suas escolhas utilizando-se para isso <strong>de</strong> sua liberda<strong>de</strong>.<br />
26
Já a tensão entre “o espiritual e o material” é sutilmente <strong>de</strong>finida pelo Relatório<br />
Jacques Delors como “se<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>al e <strong>de</strong> valores morais”. Este tema “espiritual”, também como<br />
neste trabalho, é tratado com muito cuidado pela Comissão pelo motivo <strong>de</strong> preten<strong>de</strong>r “não ferir<br />
ninguém” (DELORS, 1996, p. 15) e concretiza-se no objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar o educando para esta<br />
elevação do pensamento e do espírito e no objetivo <strong>de</strong> respeito ao pluralismo religioso. Ao invés<br />
<strong>de</strong> abordar sobre o aspecto espiritual, a Comissão direciona o assunto para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />
preocupação ética, admitindo pois que “o mundo tem se<strong>de</strong> <strong>de</strong> valores e <strong>de</strong> valores a que<br />
chamamos morais”(DELORS, 1996, p. 15).<br />
Em todas as tensões percebem-se justificativas para esta pesquisa, pois <strong>de</strong>monstram<br />
dúvidas, preocupações e incertezas mundiais, inclusive percebe-se em algumas <strong>de</strong>stas tensões<br />
resultados da manipulação exposta por Otero. Tais tensões e incertezas adquirem repercussões na<br />
educação e influenciam diretamente no pilar da educação “apren<strong>de</strong>r a ser”.<br />
Tanto as manipulações apresentadas por Otero, quanto as tensões apresentadas<br />
pelo Relatório Jacques Delors são problemas que precisam ser enfrentados e estão intimamente<br />
ligados ao pilar da educação “apren<strong>de</strong>r a ser”, aliás a problemas relacionados a lacunas <strong>de</strong>ixadas<br />
pela ausência <strong>de</strong>sse pilar. Se há manipulação, isto é, se há manipulados, há insuficiência ou<br />
fragilida<strong>de</strong> no aprendizado <strong>de</strong> como “ser”. A educação tem o papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar para o<br />
conhecimento, e não para a manipulação; <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver capacida<strong>de</strong>s e não <strong>de</strong> enterrá-las; <strong>de</strong><br />
potencializar as habilida<strong>de</strong>s existentes e não <strong>de</strong> reduzi-las; <strong>de</strong> melhorar a pessoa, e não <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>gradá-la. Segundo Otero, os professores:<br />
27
[...] são capazes <strong>de</strong> ampliar os horizontes do saber humano; <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver o<br />
gosto artístico e as virtu<strong>de</strong>s morais, etc., mas também “<strong>de</strong> <strong>de</strong>gradar, <strong>de</strong> perverter e<br />
<strong>de</strong> escravizar a pessoa humana [...] tanto os indivíduos como as massas – é um<br />
fato evi<strong>de</strong>nte – se os po<strong>de</strong> manipular psicologicamente para que aceitem a<br />
<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, para que vivam uma vida vazia e amoral, para que apóiem uma<br />
ditadura, para que comprem um produto que não necessitam ou se acostumem a<br />
uns hábitos supérfluos, inúteis ou danosos (OTERO, 1990b, 36) 21<br />
21 [...] son capaces <strong>de</strong> ampliar los horizontes <strong>de</strong>l saber humano; <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarrollar el gusto artístico y las virtu<strong>de</strong>s<br />
morales, etc., pero también „<strong>de</strong> <strong>de</strong>gradar, <strong>de</strong> pervertir y <strong>de</strong> esclavizar a la persona humana [...] tanto os individuos<br />
como a las masas – es un hecho patente – se les pue<strong>de</strong> manipular psicológicamente para que acepten el <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>n,<br />
vivan una vida vacía y amoral, apoyen una dictadura, compren un producto que no necesitan o se acostumbren a<br />
unos hábitos superfluos, inútiles o dañosos (OTERO, 1990b, 36)<br />
28
2. APRENDER A SER<br />
2.1. APRENDER A SER E O RELATÓRIO JACQUES DELORS<br />
Refletindo sobre o que diz a Comissão do Relatório Jacques Delors ao tratar do pilar<br />
apren<strong>de</strong>r a ser, constatou-se que basicamente aponta-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a educação pensar e<br />
promover o <strong>de</strong>senvolvimento do ser humano, a “construção contínua da pessoa”, a “promoção do<br />
gênero humano”, maturação contínua da personalida<strong>de</strong>, além, é claro, do respeito ao homem, da<br />
compreensão mútua e da esperança <strong>de</strong> um mundo melhor. Observou-se também que o Relatório<br />
Jacques Delors admite a educação mais do que senso <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong>, que a educação <strong>de</strong>ve ser<br />
consi<strong>de</strong>rada em toda a sua plenitu<strong>de</strong> a realização contínua da pessoa na sua totalida<strong>de</strong>. Detectou-<br />
se ainda alguns elementos que foram fornecidos no relatório para esta mudança: a aquisição <strong>de</strong><br />
capacida<strong>de</strong>s diversas, o fortalecimento do potencial criativo <strong>de</strong> cada um, a abertura para a<br />
consciência <strong>de</strong> si próprio e do mundo que o ro<strong>de</strong>ia, a revelação do tesouro escondido em cada<br />
singularida<strong>de</strong> e o <strong>de</strong>senvolvimento total da pessoa incluindo o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
espiritualida<strong>de</strong>, da sensibilida<strong>de</strong>, e da responsabilida<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>senvolvimento do corpo, da<br />
inteligência e do sentido estético. As citações seguintes explicam esta preocupação:<br />
Des<strong>de</strong> o início dos seus trabalhos que os membros da Comissão compreen<strong>de</strong>ram<br />
que seria indispensável, para enfrentar os <strong>de</strong>safios do próximo século, assinalar<br />
novos objetivos à educação e, portanto, mudar a idéia que se tem da sua utilizada.<br />
Uma nova concepção ampliada <strong>de</strong> educação <strong>de</strong>via fazer com que todos pu<strong>de</strong>ssem<br />
<strong>de</strong>scobrir, reanimar e fortalecer o seu potencial criativo – revelar o tesouro<br />
escondido em cada um <strong>de</strong> nós. Isto supõe que se ultrapasse a visão puramente<br />
instrumental da educação, consi<strong>de</strong>rada como a via obrigatória para obter certos<br />
resultados (saber-fazer, aquisição <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s diversas, fins <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
econômica), e se passe a consi<strong>de</strong>rá-la em toda a sua plenitu<strong>de</strong>: realização da<br />
pessoa que, na sua totalida<strong>de</strong>, apren<strong>de</strong> a ser. (DELORS, 1996, p. 90)<br />
29
Des<strong>de</strong> sua primeira reunião, a Comissão reafirmou, energicamente um princípio<br />
fundamental: a educação <strong>de</strong>ve contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento total da pessoa-<br />
espírito e corpo, inteligência, sensibilida<strong>de</strong>, sentido estético, responsabilida<strong>de</strong><br />
pessoal, espiritualida<strong>de</strong>. Todo ser humano <strong>de</strong>ve ser preparado, especialmente<br />
graças à educação que recebe na juventu<strong>de</strong>, para elaborar pensamentos autônomos<br />
e críticos e para formular os seus próprios juízos <strong>de</strong> valor, <strong>de</strong> modo a po<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong>cidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias da via. [...] Ela<br />
<strong>de</strong>ve ser encarada como uma construção contínua da pessoa humana, dos<br />
seus saberes e aptidões, da sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discernir e agir. Deve levar<br />
cada um a tomar consciência <strong>de</strong> si próprio e do meio ambiente que o<br />
ro<strong>de</strong>ia, e a <strong>de</strong>sempenhar o papel social que lhe cabe enquanto trabalhador e<br />
cidadão. (DELORS, 1996, p. 16- 18)<br />
O relatório apresenta as tensões a ultrapassar relacionando com os pilares inclusive<br />
com o “apren<strong>de</strong>r a ser”. Especificamente e talvez mais diretamente ligadas ao pilar apren<strong>de</strong>r a ser<br />
estão a tensão entre o extraordinário <strong>de</strong>senvolvimento dos conhecimentos e as capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
assimilação pelo homem e a tensão entre o espiritual e o material. Isto porque nelas há a clara<br />
discussão sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um conhecimento sobre si mesmo e sobre a “ se<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>al ou<br />
<strong>de</strong> valores a que chamaremos morais, para não ferir ninguém” (DELORS,1996, p. 15), temas<br />
essenciais para que se possa concretamente “apren<strong>de</strong>r a ser”. Esta última temática é sobretudo<br />
ressaltada, pois a comissão alerta que está em jogo a “sobrevivência da humanida<strong>de</strong>” e confere à<br />
educação esta tarefa a que classifica <strong>de</strong> nobre:<br />
Cabe à educação a nobre tarefa <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar em todos, segundo as tradições e<br />
convicções <strong>de</strong> cada um, respeitando inteiramente o pluralismo, esta elevação do<br />
pensamento e do espírito para o universal e para uma espécie <strong>de</strong> superação <strong>de</strong> si<br />
mesmo. Está em jogo – e aqui a Comissão teve o cuidado <strong>de</strong> pon<strong>de</strong>rar bem os<br />
termos utilizados – a sobrevivência da humanida<strong>de</strong>. (DELORS, 1996, p. 16)<br />
A Comissão também <strong>de</strong>staca a necessida<strong>de</strong> do “conhecimento sobre si mesmo”,<br />
como primeiro passo para se conhecer o outro e conhecer o mundo, ao dizer que “antes é preciso<br />
começar por se conhecer a si próprio, numa espécie <strong>de</strong> viagem interior guiada pelo<br />
conhecimento, pela meditação e pelo exercício da autocrítica” (DELORS, 1996, p. 16). No<br />
30
entanto, a Comissão lamenta não po<strong>de</strong>r acrescentar “o conhecimento sobre si mesmo” como nova<br />
disciplina, pela falta <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> e é colocado como uma instrução geral para que a educação<br />
básica não esqueça <strong>de</strong> ensinar “a viver melhor”:<br />
A Comissão não resistiu à tentação <strong>de</strong> acrescentar novas disciplinas, como o<br />
conhecimento <strong>de</strong> si mesmo e dos meios <strong>de</strong> manter a saú<strong>de</strong> física e psicológica, ou<br />
mesmo matérias que levem a conhecer melhor e preservar o meio ambiente<br />
natural. Contudo, os programas escolares estão cada vez mais sobrecarregados. É<br />
necessário, pois, optar, com a condição <strong>de</strong> preservar os elementos essenciais <strong>de</strong><br />
uma educação básica que ensine a viver melhor, através do conhecimento, da<br />
experiência e da construção <strong>de</strong> uma cultura pessoal. (DELORS, 1996, p. 15)<br />
A pergunta que ainda fica no ar e que justamente este trabalho procura investigar é<br />
“como ensinar a viver melhor” ou a “ser melhor”? Como concretizar este ensino? Como po<strong>de</strong>m<br />
ser as ações educativas?<br />
Percebeu-se que o apren<strong>de</strong>r a ser, para o Relatório Jacques Delors, está relacionado<br />
ao <strong>de</strong>senvolvimento integral do ser humano e inclui múltiplos aspectos da personalida<strong>de</strong> que vão<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a riqueza e complexida<strong>de</strong> dos processos intelectivos e estilos cognitivos, aos modos <strong>de</strong> agir<br />
baseados em valores i<strong>de</strong>ais e metas pessoais e profissionais. Encontrou como postulado do<br />
“apren<strong>de</strong>r a ser” temas como a iniciativa, a auto-confiança, proposições <strong>de</strong> novas alternativas e<br />
soluções, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentar <strong>de</strong>safios e adversida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> lidar com mudanças, <strong>de</strong> questionar<br />
idéias diferentes das suas e <strong>de</strong> ter referenciais próprios, <strong>de</strong>monstram auto-estima além da<br />
imaginação e da criativida<strong>de</strong>. Observou-se sempre presente a referência à completu<strong>de</strong> do<br />
homem, tema tão tratado pelos personalistas – integralida<strong>de</strong> ou totalida<strong>de</strong> da pessoa humana:<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento tem por objetivo a realização completa do homem, em toda a<br />
sua riqueza e na complexida<strong>de</strong> das suas expressões e dos seus compromissos:<br />
31
indivíduo, membro <strong>de</strong> uma família e <strong>de</strong> uma coletivida<strong>de</strong>, cidadão e produtor,<br />
inventor <strong>de</strong> técnicas e criador <strong>de</strong> sonhos. (DELORS, 1996, p. 100).<br />
Parecendo concordar com a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se trabalhar exclusivamente com um<br />
dos pilares é perceptível o estabelecimento <strong>de</strong> uma conexão formando duplas com os pilares. O<br />
pilar “apren<strong>de</strong>r a ser” está inserido na dimensão chamada “apren<strong>de</strong>r a ser/conviver”. Nele a<br />
comissão mostra que o auto-conhecimento das potencialida<strong>de</strong>s individuais colabora com a<br />
interação com o grupo e vice-versa; <strong>de</strong>senvolve a consciência individual e social; fun<strong>de</strong> os<br />
paradoxos unida<strong>de</strong>/diversida<strong>de</strong>; singular/complexo; objetiva tanto a auto-realização como metas<br />
sociais. Nesta dimensão apren<strong>de</strong>r a ser/conviver percebe-se o envolvimento e a interação do<br />
potencial individual com um ambiente <strong>de</strong> aprendizagem favorável e propício à interação, à<br />
expressão ativa das idéias, à reflexões sobre suas possibilida<strong>de</strong>s e potencialida<strong>de</strong>s e ao mesmo<br />
tempo propício ao estabelecimento <strong>de</strong> metas <strong>de</strong> auto-aperfeiçoamento.<br />
Este <strong>de</strong>senvolvimento do ser humano, que se <strong>de</strong>senrola <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascimento até á<br />
morte, é um processo dialético que começa pelo conhecimento <strong>de</strong> si mesmo, para<br />
se abrir, em seguida, à relação com o outro. Neste sentido, a educação é antes <strong>de</strong><br />
mais nada uma viagem interior, cujas etapas correspon<strong>de</strong>m às da maturação<br />
contínua da personalida<strong>de</strong>. Na hipótese <strong>de</strong> uma experiência profissional <strong>de</strong><br />
sucesso, a educação como meio para uma tal realização é, ao mesmo tempo, um<br />
processo individualizado e uma construção social interativa. É escusado dizer que<br />
os quatro pilares da educação [...] não se apóiam, exclusivamente, numa fase da<br />
vida ou num único lugar. [...] os tempos e as áreas da educação <strong>de</strong>vem ser<br />
repensados, completar-se e interpenetrar-se <strong>de</strong> maneira a que cada pessoa, ao<br />
longo <strong>de</strong> toda a sua vida, possa tirar o melhor partido <strong>de</strong> um ambiente educativo<br />
em constante ampliação. (DELORS, 1996, p.101)<br />
Apesar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar os pilares dignos <strong>de</strong> atenção em igual parte, a Comissão<br />
admitiu o pilar educacional “apren<strong>de</strong>r a viver junto” como o <strong>de</strong>staque <strong>de</strong>ste relatório, e<br />
apresentou o “apren<strong>de</strong>r a ser” como via essencial que integra outros pilares: “apren<strong>de</strong>r a<br />
conhecer”, “apren<strong>de</strong>r a fazer” e “apren<strong>de</strong>r a viver juntos”. Percebe-os todos os pilares como<br />
32
projetos possíveis também a longo prazo, ou seja, para toda a vida e que além da preocupação<br />
com o “<strong>de</strong>senvolvimento da pessoa humana” é incluído inclusive como preocupação principal, o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da “al<strong>de</strong>ia global”, como busca <strong>de</strong> raízes ou <strong>de</strong> referência, conferida como<br />
tarefa da educação. Assim, constatou-se que a Comissão apresenta a educação como uma<br />
experiência global, mas não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> enxergar o indivíduo como “pessoa”:<br />
A comissão pensa que cada um dos „quatro pilares do conhecimento‟ <strong>de</strong>ve ser<br />
objeto <strong>de</strong> atenção igual por parte do ensino estruturado, a fim <strong>de</strong> que a educação<br />
apareça como uma experiência global a levar a cabo ao longo <strong>de</strong> toda a vida, no<br />
plano cognitivo como no prático, para o indivíduo enquanto pessoa e membro da<br />
socieda<strong>de</strong>. (DELORS, 1996, p. 90)<br />
Ao falar sobre o “apren<strong>de</strong>r a ser”, o presente relatório reporta-se ao relatório <strong>de</strong> Edgar<br />
Faire, publicado em 1972 e <strong>de</strong>staca a necessida<strong>de</strong> atual <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver as capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
autonomia, discernimento, responsabilida<strong>de</strong> pessoal e no <strong>de</strong>stino coletivo, e conhecimento e<br />
compreensão melhor <strong>de</strong> si, dos talentos e tesouros escondidos no interior <strong>de</strong> cada ser humano,<br />
como memória, raciocínio, imaginação, capacida<strong>de</strong> física, sentido estético, facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
comunicação com os outros, carisma natural para animador entre outros.<br />
Finalmente e acima <strong>de</strong> tudo apren<strong>de</strong>r a ser. Era este o tema dominante do relatório<br />
Edgar Faure, publicado em 1972 sob os auspícios da UNESCO. As suas<br />
recomendações continuam a ter gran<strong>de</strong> atualida<strong>de</strong>, dado que ao século XXI<br />
exigirá <strong>de</strong> todos nós gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autonomia e <strong>de</strong> discernimento,<br />
juntamente com o reforço da responsabilida<strong>de</strong> pessoal, na realização <strong>de</strong> um<br />
<strong>de</strong>stino coletivo. E ainda, por causa <strong>de</strong> outra exigência para a qual o relatório<br />
chama a atenção: não <strong>de</strong>ixar por explorar nenhum dos talentos que constituem<br />
como que tesouros escondidos no interior <strong>de</strong> cada ser humano. Memória,<br />
raciocínio, imaginação, capacida<strong>de</strong>s físicas, sentido estético, facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
comunicação com os outros, carisma natural para animador,... e não preten<strong>de</strong>mos<br />
ser exaustivos. O que só vem confirmar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um se conhecer e<br />
compreen<strong>de</strong>r melhor.(DELORS, 1996, p. 20)<br />
33
Percebeu-se em toda a discussão sobre o pilar “apren<strong>de</strong>r a ser” que se fomenta a<br />
realização <strong>de</strong> projeto pessoal e a valorização das pessoas, sem exceção, que se favorece a<br />
inclusão, que se ressalta a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> talentos e <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>, e também que se propõe -<br />
com <strong>de</strong>staque ao <strong>de</strong>senvolvimento da imaginação e da criativida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rando-as claras<br />
manifestações da liberda<strong>de</strong> humana – que “cabe-lhe [à educação] a missão <strong>de</strong> fazer com que<br />
todos, sem exceção, façam frutificar os seus talentos e potencialida<strong>de</strong>s criativas, o que implica,<br />
por parte <strong>de</strong> cada um, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se responsabilizar pela realização do seu projeto pessoal”<br />
(DELORS, 1996, p. 16).<br />
Conclui-se que ao apresentar o perfil <strong>de</strong> aluno que se preten<strong>de</strong>, o Relatório Jacques<br />
Delors revela objetivos ao “apren<strong>de</strong>r a ser”, perfil <strong>de</strong> um aluno que: seja capaz <strong>de</strong> ter<br />
pensamentos autônomos e críticos; que seja capaz <strong>de</strong> formular seus próprios juízos <strong>de</strong> valor, <strong>de</strong><br />
modo a po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>cidir por si mesmo, que seja capaz <strong>de</strong> agir nas diferentes circunstâncias da vida;<br />
<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o mundo que o ro<strong>de</strong>ia e comportar-se nele como atores responsáveis e justos.<br />
Constatou-se pois que Autonomia, Justiça, Responsabilida<strong>de</strong>, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Senso Crítico,<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Decisão, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Compreensão são alguns dos objetivos que competem ao<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do pilar “apren<strong>de</strong>r a ser”.<br />
2.2. A EDUCAÇÃO PERSONALISTA E O APRENDER A SER<br />
A educação personalista é aquela educação que tem como seu embasamento teórico o<br />
conceito <strong>de</strong> “pessoa” dado pela Antropologia Filosófica. Entre seus fundamentos, o respeito à<br />
intimida<strong>de</strong>, ao nome e à dignida<strong>de</strong> da pessoa humana.<br />
34
A partir das leituras dos autores personalistas, a constatação <strong>de</strong> que para a perspectiva<br />
personalista este termo “apren<strong>de</strong>r a ser” é incompleto, pois a única e melhor forma <strong>de</strong> ser é<br />
mesmo sendo pessoa. Observou-se que nesta perspectiva, os professores são colaboradores do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento pessoal do aluno e assumem uma postura <strong>de</strong> serviço, sempre tendo algo a dar,<br />
orientando com eficácia cada aluno, sempre <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo, valorizando e promovendo a pessoa em<br />
qualquer situação. Também é latente nesta perspectiva o reconhecimento da pessoa concreta, da<br />
sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> suas diferença das outras, <strong>de</strong> sua biografia, <strong>de</strong> sua situação espacial, temporal e<br />
cultural e <strong>de</strong> sua necessida<strong>de</strong> do exercício <strong>de</strong> sua liberda<strong>de</strong>.<br />
Assim, a perspectiva personalista apresenta como “apren<strong>de</strong>r a ser”, o próprio<br />
<strong>de</strong>senvolvimento pessoal, que ocorre durante a sua vida , não apenas na fase escolar. Há uma<br />
gran<strong>de</strong> ênfase na busca sempre por uma melhora, on<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>-se, pois a ser “pessoa”, admitindo<br />
a totalida<strong>de</strong> que o conceito imprime através da Antropologia Filosófica.<br />
A Educação personalista, pelo próprio conceito <strong>de</strong> pessoa ao qual se refere, apresenta<br />
uma metodologia ampla sobre o aspecto do “apren<strong>de</strong>r a ser”. Isto ocorre porque o “ser” apesar <strong>de</strong><br />
ser um verbo <strong>de</strong> ligação, para a perspectiva personalista é o objetivo central e conduz a vários<br />
outros objetivos: “Assim, o objetivo central seria ser: ser melhor, ser livre, ser responsável, ser<br />
que sabe querer, ser ele mesmo – apren<strong>de</strong>r a ser pessoa -, ser em intimida<strong>de</strong>” (OTERO, 1990a, p.<br />
209) 22 . Tem-se, assim, que a essência da proposta personalista: tornar-se melhor, <strong>de</strong>senvolvendo-<br />
se em sua totalida<strong>de</strong> e melhorando como pessoa.<br />
22 “el objetivo central sería ser: „ser mejor, ser livre, ser responsable, ser que sabe querer, ser él mismo – apren<strong>de</strong>r a<br />
ser persona – ser en intimidad‟ ” (OTERO, 1990a, 209)<br />
35
Dada essa preocupação com a “pessoa” e seu <strong>de</strong>senvolvimento, constatou-se que as<br />
propostas educativas da Educação Personalista sempre se divi<strong>de</strong>m em planos <strong>de</strong> trabalho<br />
individuais e coletivos e nos hábitos, já que seguem também a orientação da Ética das virtu<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
Aristóteles.<br />
2.2.1. A DEFINIÇÃO DE PESSOA<br />
A pessoa é um absoluto, no sentido <strong>de</strong> algo único, irredutível a qualquer outra<br />
coisa. A palavra eu indica esse núcleo <strong>de</strong> caráter irredutível: eu sou eu, e mais<br />
ninguém é a pessoa que eu sou. (STORK; ECHEVARRÍA, 2005, , p. 87)<br />
Em todos os autores personalistas pesquisados percebe-se as mesmas “bases<br />
filosóficas” pautadas na Antropologia, ou seja, na visão do educando como “pessoa”. Entre as<br />
principais <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> pessoa, encontrou-se:<br />
A pessoa é única e irrepetível , porque é um alguém; não é apenas um que, mas<br />
sim um quem [...] A noção <strong>de</strong> pessoa está ligada <strong>de</strong> forma indissolúvel ao nome,<br />
que se adquire ou se recebe <strong>de</strong>pois do nascimento, <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scendência<br />
que junto com outras constitui uma socieda<strong>de</strong>, e em virtu<strong>de</strong> da qual o que recebe,<br />
fica reconhecido, [...] constituído como „ator‟ em um „cenário‟ – a socieda<strong>de</strong>. De<br />
forma que po<strong>de</strong> representar ou exercer as funções e capacida<strong>de</strong>s que lhe são<br />
próprias”. (CHOZA, 1989, p. 405)<br />
Ser pessoa significa ser reconhecido pelos <strong>de</strong>mais como tal pessoa concreta. O<br />
conceito <strong>de</strong> pessoa surgiu como resposta às perguntas: “Quem és?” “Quem sou?”.<br />
Quer dizer, resposta às perguntas sobre um eu.”. (STORK; ECHEVARRÍA, 2005<br />
p. 87)<br />
36
2.2.2. MARCAS QUE DEFINEM A PESSOA<br />
Ricardo Yepes Stork e Javier Aranguren Echevarría em seu livro “Fundamentos da<br />
Antropologia” apresentam que os marcos que <strong>de</strong>finem a pessoa são: a intimida<strong>de</strong>, a manifestação<br />
da intimida<strong>de</strong>, a liberda<strong>de</strong>, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar e o diálogo.<br />
A intimida<strong>de</strong> é o mesmo que o mundo interior da pessoa, on<strong>de</strong> só ela po<strong>de</strong> entrar. O<br />
sentimento da vergonha é o que protege a intimida<strong>de</strong>, enquanto o pudor faz pertencer apenas à<br />
pessoa, tudo o que forma sua intimida<strong>de</strong>. Suas características são: não estática, está sempre em<br />
ebulição e como uma fonte <strong>de</strong> coisas novas. Nenhuma intimida<strong>de</strong> é igual a outra, cada uma é algo<br />
irrepetível, incomunicável: “ninguém po<strong>de</strong> ser o eu que eu sou” (STORK; ECHEVARRÍA, 2005 p.<br />
86). Toda pessoa para expressar seus sentimentos mais íntimos exige confiança.<br />
Apenas o ser humano po<strong>de</strong> manifestar a intimida<strong>de</strong> através do corpo: rosto, olhar,<br />
expressões faciais; da linguagem (fala); e <strong>de</strong> ações expressivas (linguagem das mãos, linguagem<br />
dos gestos). Chama-se cultura a manifestação da pessoa em socieda<strong>de</strong>. No entanto, quando não é<br />
bem compreendido com clareza o significado <strong>de</strong> manifestação da intimida<strong>de</strong> surgem os<br />
problemas relacionados à coisificação do corpo: exibição da sexualida<strong>de</strong>, permissivida<strong>de</strong>,<br />
erotismo e pornografia. Todos eles portadores da triste conseqüência: a <strong>de</strong>gradação da pessoa<br />
pela própria pessoa, pois “a utilização como objeto <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> (o corpo) que é pessoal<br />
(fim em si mesmo) e, portanto, se <strong>de</strong>grada” (STORK; ECHEVARRÍA, 2005 p. 90).<br />
O diálogo, a intersubjetivida<strong>de</strong>, é outro marco da pessoa, pois o homem é um ser<br />
constitutivamente dialogante, “mas o verda<strong>de</strong>iro diálogo só acontece quando se fala e se escuta,<br />
37
o que equivale a dizer que a condição dialógica da pessoa é estritamente social e comunitária”<br />
(STORK; ECHEVARRÍA,2005, p. 90). Stork e Echevarría alertam que a linguagem “per<strong>de</strong> o<br />
sentido se não for para esta abertura aos <strong>de</strong>mais”. Assim, o diálogo precisa <strong>de</strong> um interlocutor,<br />
precisa ser compartilhado entre pessoas. “A socieda<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al‟ é aquela na qual todos dialogam<br />
livremente [pois] a verda<strong>de</strong> é aquilo que compartilham (e procuram) os que falam” (STORK;<br />
ECHEVARRÍA, 2005 p. 91). Assim, a liberda<strong>de</strong> humana também é conferida como marca da<br />
pessoa humana pois:<br />
humana:<br />
A pessoa é livre porque é dona <strong>de</strong> seus atos e do princípio <strong>de</strong> seus atos. Ao ser<br />
dona <strong>de</strong> seus atos, também o é do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua vida e <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>stino:<br />
escolhe ambos. (STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 93)<br />
Outro marco dado pela Antropologia Filosófica é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar, pois a pessoa<br />
[...] se realiza como pessoa quando extrai algo <strong>de</strong> sua intimida<strong>de</strong> e o entrega a<br />
outra pessoa como algo valioso, e esta o recebe como seu. Nesse caso, consiste no<br />
uso da vonta<strong>de</strong> que chamaremos <strong>de</strong> amor. [...] Nos sentimos obrigados a<br />
correspon<strong>de</strong>r ao que recebemos [...] Dar, retribuir é uma conseqüência da<br />
percepção realista da própria existência. (STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 92)<br />
Ao estabelecer uma relação entre o apren<strong>de</strong>r a ser e a perspectiva personalista parece<br />
ficar clara uma lacuna nestas duas últimas marcas. As leituras dos autores personalistas fazem<br />
perceber que está havendo uma compreensão incorreta do conceito liberda<strong>de</strong>, já que estes<br />
enfatizam e explicam o que é a Educação da Liberda<strong>de</strong> (assunto tratado mais adiante) e mostram<br />
a ausência ou mesmo incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar, o que se relaciona com o sentido <strong>de</strong> transcendência,<br />
tão incompreendido por muitos.<br />
38
2.2.3. A PESSOA COMO FIM EM SI MESMA<br />
Além <strong>de</strong>stes traços da pessoa, a Antropologia apresenta um princípio moral<br />
fundamental “a pessoa é um fim em si mesma”. O respeito à pessoa é, segundo Stork e<br />
Echevarría, a atitu<strong>de</strong> mais digna do homem pois ao fazê-la se respeita a si mesmo, o contrário,<br />
tratar a pessoa não como um fim, mas como um meio, o mesmo que instrumentalizá-la, isto<br />
“agri<strong>de</strong> a pessoa, [e] se prostitui a si própria, se <strong>de</strong>grada”. Lembrando a crítica à manipulação<br />
apresentada por Otero no começo <strong>de</strong>ste trabalho , os autores acima citando Kant afirmam que<br />
“usar as pessoas e instrumentalizá-las é o mesmo que tratá-las como seres que não são livres”<br />
(KANT apud STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 95), e avaliam que servir-se das pessoas “para<br />
conseguir nossos próprios fins é manipulação, algo criticável e incorreto” (STORK;<br />
ECHEVARRÍA, 2005. 95-96). Ainda continuam a crítica ao afirmar que “Dirigir as pessoas como<br />
se fossem instrumentos, procurando que não sejam conscientes <strong>de</strong> que estão servindo nossos<br />
interesses, é profundamente amoral” (STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 96).<br />
STORK e ECHEVARRÍA (2005, p. 96) associam o respeito ao reconhecimento da<br />
dignida<strong>de</strong>: “a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> respeito às pessoas se apóia no reconhecimento <strong>de</strong> sua dignida<strong>de</strong> e em<br />
comportar-se com as pessoas <strong>de</strong> acordo com a altura <strong>de</strong>sta dignida<strong>de</strong>”. Além <strong>de</strong> tratarem o<br />
reconhecimento como um comportamento prático para com os outros, colocam-no como uma<br />
necessida<strong>de</strong> humana:<br />
Todas as pessoas <strong>de</strong>vem ser reconhecidas como pessoas concretas, com uma<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> própria e diferente das outras, nascida <strong>de</strong> sua biografia, <strong>de</strong> sua situação,<br />
<strong>de</strong> sua cultura e do exercício <strong>de</strong> sua liberda<strong>de</strong>. “A negação do reconhecimento<br />
po<strong>de</strong> se constituir em uma forma <strong>de</strong> opressão” significa <strong>de</strong>spojar a pessoa daquilo<br />
39
que o faz ser ele mesmo e que lhe confere sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. (TAYLOR apud<br />
STORK: ECHEVARRÍA, 2005, p. 96)<br />
Mas salientam que a dignida<strong>de</strong> do homem só se capta em profundida<strong>de</strong> se se sustenta<br />
que é fruto da afirmação que o mesmo Deus faz <strong>de</strong> cada homem, do novum que cada um <strong>de</strong> nós é.<br />
Aqui se entra necessariamente no terreno do teológico e da revelação<br />
Além da dignida<strong>de</strong>, STORK e ECHEVARRÍA (2005, p. 93) ressaltam a existência da<br />
liberda<strong>de</strong>, que se não for bem usada ou usada para o bem, po<strong>de</strong> inclusive romper com a dignida<strong>de</strong><br />
do outro:<br />
A pessoa é livre porque é dona <strong>de</strong> seus atos e do princípio <strong>de</strong> seus atos. Ao ser<br />
dona <strong>de</strong> seus atos, também o é do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua vida e <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>stino;<br />
escolhe ambos. Definimos o voluntário como aquilo cujo princípio existe em si<br />
mesmo. O voluntário é o livre: faz se a pessoa quer; se não, não faz.<br />
A liberda<strong>de</strong> também está associada diretamente à história <strong>de</strong> vida, história da<br />
existência da pessoa, pois segundo os autores “pela <strong>de</strong>cisão da própria liberda<strong>de</strong>, cada um chega<br />
a ser, ou não, aquele que quer ser” ( STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 100):<br />
Como toda história, para ser minimamente interessante, tem <strong>de</strong> ter uma meta<br />
(fim), que se concretiza em um projeto e a aquisição dos meios para executar esse<br />
projeto (virtu<strong>de</strong>s), ao mesmo tempo em que é acompanhada por obstáculos<br />
(externos e a própria fraqueza), que dão os toques <strong>de</strong> emoção e a possibilida<strong>de</strong> do<br />
fracasso a essa narração. Pela <strong>de</strong>cisão da própria liberda<strong>de</strong>, cada um chega a ser,<br />
ou não, aquele que quer ser. (STORK; ECHEVARRÍA,2005, p. 100)<br />
2.2.4. A PESSOA NO ESPAÇO E NO TEMPO<br />
Por não ser a pessoa apenas um “alguém”, mas um “alguém corporal” (MARIAS,<br />
apud STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 98), a Antropologia mostra também que por ser “cada<br />
40
pessoa singular e irrepetível, cada biografia é diferente. Não há duas vidas humanas iguais,<br />
porque não há duas pessoas iguais” (STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 99). Desta forma, os<br />
autores estabelecem que a pessoa além <strong>de</strong> “ser”, indiretamente, também é um “estar”, pois<br />
encontra-se instalada no espaço e no tempo. Situação que STORK e ECHEVARRÍA (2005, p.<br />
98) dizem afetar a pessoa muito profundamente, pois a vida humana se <strong>de</strong>senrola a partir <strong>de</strong>ssa<br />
instalação e conta sempre com ela, on<strong>de</strong> se projeta e realiza sua própria vida<br />
STORK e ECHEVARRÍA (2005, p. 99) lembram ainda que resgatar o tempo, reviver<br />
o verda<strong>de</strong>iro são constantes no comportamento humano e citam como exemplo as representações<br />
populares das gran<strong>de</strong>s histórias dos povos e as confidências familiares em torno da mesa nas<br />
gran<strong>de</strong>s festas).Definem assim que preservar a memória, <strong>de</strong>sejar converter o presente em algo<br />
que permaneça e antecipar o futuro são os modos <strong>de</strong> luta do homem para superar o tempo e que<br />
assim como a memória é a que possibilita a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> das pessoas e instituições, com a<br />
inteligência e imaginação, a projeção <strong>de</strong> futuro po<strong>de</strong> colaborar para se <strong>de</strong>cidir o que se vai fazer<br />
ou o que vai “ser”.<br />
2.2.5. DIMENSÕES ESSENCIAIS DA PESSOA HUMANA<br />
A Antropologia Filosófica estabelece que a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> também da<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter e que po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>finir a pessoa humana também como “um ser capaz <strong>de</strong> ter,<br />
capaz <strong>de</strong> dizer meu” (STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 101). Esta capacida<strong>de</strong> do ser humano ter<br />
po<strong>de</strong> ser através do corpo (ter físico) da inteligência (ter cognoscitivo) que culminam num<br />
terceiro tipo <strong>de</strong> ter: os hábitos.<br />
41
Fazendo um breve paralelo com a educação escolar, constata-se que é hegemônica no<br />
homem, é muito conhecida e trabalhada no meio escolar mas que no entanto, existem outras<br />
dimensões essenciais da pessoa não muito trabalhadas, ou não eficazmente trabalhadas, como: a<br />
vonta<strong>de</strong>, os sentimentos , as tendências e os apetites, o conhecimento sensível, a história <strong>de</strong> vida,<br />
os projetos pessoais ... O ter com o corpo, ou ter físico do homem, significa aquilo que segura<br />
com a mão, coloca ou atribui em seu corpo “é uma maneira <strong>de</strong> criar relações <strong>de</strong> sentido entre os<br />
corpos que não existiriam se não existisse o homem), ao mesmo tempo em que são<br />
prolongamentos do mesmo corpo humano” (STORK; ECHEVARRÍA,2005, p. 102).<br />
Mas para este trabalho, o interessante é o resultante do ter físico com o ter<br />
cogniscível: os hábitos. Para STORK e ECHEVARRÍA (2005, p. 101) os hábitos caracterizam-se<br />
por ser uma possessão mais permanente e estável e como “uma tendência não natural, mas<br />
adquirida, que reforça nossa conduta, concretizando nossa abertura à totalida<strong>de</strong> do real, por meio<br />
da aquisição <strong>de</strong> alguns automatismos que impe<strong>de</strong>m que tenhamos <strong>de</strong> estar sempre inventando<br />
tudo” (STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 102). Os autores ressaltam a característica prática dos<br />
hábitos e a sua estreita relação com o ser, configurando o modo <strong>de</strong> “ser” das pessoas:<br />
É muito importante estar consciente <strong>de</strong> que os hábitos se adquirem com a prática.<br />
Não existe outra maneira. A repetição <strong>de</strong> atos se transforma em costume e o<br />
costume é como uma segunda natureza, uma continuação da natureza humana que<br />
permite a realização, o aperfeiçoamento do próprio homem. O homem é um<br />
animal <strong>de</strong> costumes, porque sua natureza se <strong>de</strong>senvolve mediante a aquisição <strong>de</strong><br />
hábitos. Os hábitos são importantes porque modificam o sujeito que os adquire,<br />
modulando sua natureza <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada maneira, fazendo-o ser <strong>de</strong> um<br />
<strong>de</strong>terminado modo. (STORK; ECHEVARRÍA,2005, p. 103)<br />
Existem três classes <strong>de</strong> hábitos: técnicos, intelectuais e do caráter. Os técnicos estão<br />
mais relacionados ao pilar da educação “apren<strong>de</strong>r a fazer”, pois trabalham com a <strong>de</strong>streza no<br />
42
manejo <strong>de</strong> instrumentos e na produção <strong>de</strong> coisas. Os intelectuais relacionam ao pilar “apren<strong>de</strong>r a<br />
conhecer”, pois é o hábito com o pensar habitual. Os hábitos do caráter são os que interessam a<br />
esta pesquisa, pois referem-se diretamente ao pilar “apren<strong>de</strong>r a ser”:<br />
[...] são os que referem à conduta, pois nos fazem ser <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong>terminado<br />
(sorrir, ser afáveis, ser rígidos ou intransigentes, ter duplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caráter, fumar<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> comer, criar mundos imagináveis enquanto damos um passeio, nos<br />
envergonharmos ao falar em público, mentir...). Parte <strong>de</strong>sses hábitos <strong>de</strong> caráter se<br />
referem ao domínio dos sentimentos. A ética trata <strong>de</strong>les, e os divi<strong>de</strong> em positivos<br />
e negativos, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> que aju<strong>de</strong>m esta harmonia ou não. Aos primeiros, os<br />
chama virtu<strong>de</strong>s e, aos segundos, vícios. (STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 103)<br />
Ver-se-á nos capítulos seguintes que esta relação dos hábitos com o “modo <strong>de</strong> ser” é<br />
aplicada à educação escolar pelos autores analisados, pois percebeu-se que todos concordam que<br />
as ações educativas pautam-se em hábitos:<br />
2.2.6. A MELHORA DA PESSOA<br />
Ao <strong>de</strong>finir a natureza do homem como condição do <strong>de</strong>sdobramento do homem ao seu<br />
bem final que constitui sua própria perfeição, a Antropologia, apresenta o homem com seu<br />
caráter final, teleológico:<br />
Uma das características dos seres vivos é a tendência a crescer e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolverse<br />
até chegar ao seu telos, seu fim e perfeição. Isso coinci<strong>de</strong> com a idéia <strong>de</strong> bem: o<br />
bem é aquilo que é conveniente para cada coisa porque a leva à sua plenitu<strong>de</strong>. O<br />
bem tem caráter <strong>de</strong> fim, significa perfeição. [...] Se o homem procura a perfeição,<br />
se nele existe um anelo, uma inquietação <strong>de</strong> ser mais, é precisamente porque é<br />
feito por natureza, para esse crescimento. Por isso, no mundo clássico, se<br />
<strong>de</strong>nominou a natureza também <strong>de</strong> princípio <strong>de</strong> operações. (STORK;<br />
ECHEVARRÍA, 2005, p. 106-107)<br />
43
Estas operações <strong>de</strong> “aumento” da pessoa, <strong>de</strong> crescimento, <strong>de</strong> melhoria são vistas pela<br />
Antropologia Filosófica como uma inclinação natural em direção ao excelente e segundo STORK<br />
e ECHEVARRÍA (2005, p. 105) dar conta <strong>de</strong>ssa inclinação é uma tarefa da qual cada um é, em<br />
último caso, o responsável, pois o que o homem realiza reinci<strong>de</strong> sobre o próprio homem: ocorre<br />
uma retroalimentação que muda as condições <strong>de</strong> partida, em relação aos objetivos cuja direção se<br />
inclina, os fins. Assim, o fim é algo em direção ao qual nos encaminhamos e que:<br />
O natural do homem é, portanto o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas capacida<strong>de</strong>s. Esse<br />
<strong>de</strong>senvolvimento se posiciona para conseguir o que é objeto <strong>de</strong>ssas faculda<strong>de</strong>s. O<br />
natural e próprio do homem é alcançar seu fim. O fim do homem é aperfeiçoar<br />
suas capacida<strong>de</strong>s ao máximo, em especial as superiores (inteligência e vonta<strong>de</strong>;<br />
verda<strong>de</strong> e bem). A inteligência busca o conhecimento da realida<strong>de</strong>. Quando o<br />
alcança, alcança a verda<strong>de</strong>, que é o bem próprio da inteligência: abrir-se ao real.<br />
Querer o verda<strong>de</strong>iramente bom é exercer a vonta<strong>de</strong> aperfeiçoando-a.(STORK;<br />
ECHEVARRÍA, 2005, p. 108)<br />
Sobre o sentido transcen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sta natureza, embora não se aprofun<strong>de</strong> neste assunto,<br />
conforme justificado, a Antropologia Filosófica afirma que:<br />
A natureza humana é autotranscendência, abertura, ativida<strong>de</strong> e possessão daqueles<br />
fins que lhe são próprios: o homem só é ele mesmo quando vai mais além do que<br />
é <strong>de</strong> um modo factual, em direção ao que ainda não é, mas que se lhe apresenta<br />
como a única possibilida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quada à riqueza <strong>de</strong> sua abertura, <strong>de</strong> seu projeto.<br />
Renunciar a ele seria renunciar à gran<strong>de</strong>za da vocação que todo homem tem por<br />
natureza ou – como afirma a teologia – seria renunciar à chamada que Deus<br />
(Trinda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pessoas) fez “a cada” homem (pessoa). “A realida<strong>de</strong> humana só está<br />
incoativamente dada.” (MARÍAS, apud STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 109)<br />
Tentando respon<strong>de</strong>r à pergunta “o homem é capaz <strong>de</strong> chegar a ser aquilo ao qual está<br />
<strong>de</strong>stinado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>de</strong> teu existir?”(STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 109), os autores<br />
respon<strong>de</strong>m que é como se a própria natureza transcen<strong>de</strong>sse, afinal, “a natureza humana é livre:<br />
44
natureza e liberda<strong>de</strong>, no homem, não po<strong>de</strong>m separar-se, como também não po<strong>de</strong> fazê-lo o<br />
binômio alma e corpo”. (STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 108)<br />
Com uma explicação mais filosófica que teológica STORK e ECHEVARRÍA (2005,<br />
p. 109) esclarecem que:<br />
[...] o fim do homem é a verda<strong>de</strong> e o bem, porque, <strong>de</strong> fato, já <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>de</strong> sua<br />
existência (e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que começa a exercer operações <strong>de</strong> um modo mais visível)<br />
anela alcançar a verda<strong>de</strong> e conseguir o bem, e por isso mesmo se move em direção<br />
a eles, <strong>de</strong>senvolvendo sua história. Quer dizer, por natureza se possui o fim <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
o princípio, ao mesmo tempo (historicamente, ou por razão) estrutura a tensão<br />
<strong>de</strong>ssa busca em que consiste nossa existência.<br />
Além da liberda<strong>de</strong>, os fins da natureza humana - o bem e a verda<strong>de</strong> - <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da<br />
vonta<strong>de</strong>, pois apesar <strong>de</strong> se <strong>de</strong>sejá-los e procurá-los “<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da liberda<strong>de</strong> que eu queira”<br />
(STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 110). A esse respeito, o compromisso do homem <strong>de</strong> “atrever-se<br />
a ser quem és” focaliza na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação do homem como tarefa para si próprio e também<br />
indica o que STORK e ECHEVARRÍA (2005, p. 110-111) <strong>de</strong>finem como “liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> querer” ,<br />
ou seja que acertar ou o fracassar está em suas mãos, assim como não aten<strong>de</strong>r a razões que a<br />
liberda<strong>de</strong> nos abre, afinal, não é garantido alcançar os fins naturais do homem. Desta forma, a<br />
liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha proporciona aproximação ou afastamento <strong>de</strong>ste fim:<br />
[...] é dado o fim geral da natureza humana (felicida<strong>de</strong>, perfeição), mas não os<br />
meios que conduzem a esses fins [...] a orientação geral é dada por nossa natureza,<br />
mas necessita que a pessoa escolha os fins secundários e os meios. (STORK;<br />
ECHEVARRÍA, 2005, p. 111)<br />
Para isso, os autores apresentam que existem as normas morais “que têm como fim<br />
estabelecer alguns caminhos ou meios para a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha <strong>de</strong> tal modo que contribua aos<br />
45
fins e tendências naturais” (STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 111) e dão um exemplo: “faz o bem<br />
e evita o mal”. A ética é a responsável pelo estudo e <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>stas normas ou leis, que na<br />
realida<strong>de</strong> não são leis, necessariamente, pois para serem cumpridas também <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da<br />
liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha e da vonta<strong>de</strong> da pessoa. A ética também não é um regulamento, mas serve<br />
como um critério <strong>de</strong> uso da liberda<strong>de</strong>, oferecendo caminhos para que a pessoa se <strong>de</strong>senvolva:<br />
[...] é algo intrínseco à pessoa, à sua educação e ao seu <strong>de</strong>senvolvimento moral.<br />
[...] <strong>de</strong>senvolvimento da pessoa e o alcançar <strong>de</strong> seus fins naturais têm um caráter<br />
moral, ético [...] sem ética não há <strong>de</strong>senvolvimento da pessoa, nem harmonia da<br />
alma. (STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 111)<br />
Constata-se a preocupação da Antropologia <strong>de</strong> relacionar a liberda<strong>de</strong> com a ética e<br />
que a própria ação da pessoa que a faz aperfeiçoar, melhorar:<br />
A natureza humana se realiza e aperfeiçoa mediante <strong>de</strong>cisões livres, que nos<br />
fazem melhores porque <strong>de</strong>senvolvem nossas capacida<strong>de</strong>s. O homem, ou é ético,<br />
ou não é homem.[...]. É claro que a natureza humana se aperfeiçoa com os<br />
hábitos, porque eles facilitam alcançar os fins do homem. É claro também que o<br />
homem se aperfeiçoa a si mesmo adquirindo-os: é, então, “o aperfeiçoador<br />
perfectível” aperfeiçoa o mundo, dá finalida<strong>de</strong>s às coisas ao tê-las, e agindo se<br />
aperfeiçoa a si mesmo. Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir o homem como um ser intrinsecamente<br />
perfectível. Nessa <strong>de</strong>finição, o termo „intrinsecamente‟ se refere a que o homem se<br />
aperfeiçoa a si mesmo <strong>de</strong> , ou não se po<strong>de</strong> aperfeiçoar <strong>de</strong> nenhuma maneira:<br />
alcançar da plenitu<strong>de</strong> humana, a felicida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da liberda<strong>de</strong>. (STORK;<br />
ECHEVARRÍA, 2005, p. 112)<br />
Assim, percebeu-se que o conceito <strong>de</strong> “melhora da pessoa” adquire o mesmo<br />
significado <strong>de</strong> “apren<strong>de</strong>r a ser” quando se percebe que “SER” se apren<strong>de</strong>, não necessariamente se<br />
ensina, e que “a melhora” que acontece na pessoa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>la, da própria pessoa.<br />
46
3. CARACTERÍSTICAS DA EDUCAÇÃO DA PESSOA<br />
Sendo o enfoque dado ao perfil <strong>de</strong> aluno como “pessoa” e por assumir-se<br />
“personalista”, percebeu-se que a educação <strong>de</strong>sta perspectiva apresenta, em todas as <strong>de</strong>finições,<br />
orientações pedagógicas e estratégias <strong>de</strong> ensino, marcas registradas do embasamento na<br />
Antropologia, apresentadas no capítulo anterior, o que resumidamente equivale a dizer que para a<br />
perspectiva personalista:<br />
Em síntese, a educação é um processo <strong>de</strong> melhora pessoal, intencional, que, em<br />
relação com os dons essenciais do ser humano – liberda<strong>de</strong>, amor, fé – tem lugar na<br />
realização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s – no trabalho e no tempo livre – e na comunicação<br />
pessoal com os outros – Deus e os <strong>de</strong>mais – durante toda a vida, para alcançar<br />
uma plenitu<strong>de</strong> – um “mais” e um “melhor” – que, <strong>de</strong>finitivamente, é a plenitu<strong>de</strong><br />
do amor verda<strong>de</strong>iro. (OTERO, 1990a, p. 46-47) 23<br />
Segundo Victor García Hoz, o criador da proposta “educação personalizada”, trata-se<br />
<strong>de</strong> “um caminho para fortalecer interiormente a pessoa e fazê-la, por isto, mais eficaz para a<br />
socieda<strong>de</strong>.” (HOZ, 1988, p. 25) 24 Portanto, também se enxerga o perfil <strong>de</strong> cidadão, do aluno, não<br />
retirando os objetivos sociais da educação, pois “a educação pessoal aperfeiçoa a socieda<strong>de</strong> não<br />
apenas porque esta se enriquece com a riqueza <strong>de</strong> seus membros, mas porque o espírito <strong>de</strong><br />
responsabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> auto-suficiência converte as comunida<strong>de</strong>s em „sistemas abertos‟”. (HOZ,<br />
1988, p. 25) 25<br />
23<br />
En síntesis, la educación es un proceso <strong>de</strong> mejora personal, intencional, que, en relación con los dones esenciales<br />
<strong>de</strong>l ser humano – libertad, amor, fe – tiene lugar en la realización <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s – laborales y en tiempo libre – y en<br />
la comunicación personal con otros – Dios y los <strong>de</strong>más – durante toda la vida, para alcanzar una plenitud – un “más”<br />
y un “mejor” – que, en <strong>de</strong>finitiva, es la plenitud <strong>de</strong>l amor verda<strong>de</strong>ro. (OTERO, 1990a, p. 46-47)<br />
24<br />
“un camino para fortalecer interiormente a la persona y hacerla, por ello, más eficaz para la sociedad.” (HOZ,<br />
1988, p. 25)<br />
25<br />
“la educación personal perfecciona a la sociedad no sólo porque ésta se enriquece con la riqueza <strong>de</strong> sus miembros,<br />
sino porque el espíritu <strong>de</strong> responsabilidad y autosuficiencia convierte a las comunida<strong>de</strong>s en „sistemas abiertos‟”.<br />
(HOZ, 1988, p. 25)<br />
47
Seguindo a justificativa dada pela Antropologia, “pessoa” é o termo mais completo,<br />
o que enxerga o “ser” em sua integralida<strong>de</strong> ou totalida<strong>de</strong>: entendimento, vonta<strong>de</strong>, liberda<strong>de</strong>,<br />
amor, fé e caráter, este último <strong>de</strong>finindo-se proporcionalmente ao resultado da busca pela verda<strong>de</strong><br />
e pelo bem:<br />
A pessoa da unida<strong>de</strong> ao processo educativo. A melhora po<strong>de</strong> referir-se<br />
imediatamente às capacida<strong>de</strong>s humanas, mas há <strong>de</strong> referir-se mediatamente à<br />
pessoa humana. Se trataria, portanto <strong>de</strong> melhorar cada capacida<strong>de</strong> humana. Mas<br />
que relação existe entre essas capacida<strong>de</strong>s? E que função <strong>de</strong> que se po<strong>de</strong>m<br />
estabelecer priorida<strong>de</strong>s em sua melhora? Po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar muitas capacida<strong>de</strong>s<br />
ou po<strong>de</strong>mos referir-nos a duas faculda<strong>de</strong>s humanas relacionadas com aquelas:<br />
entendimento e vonta<strong>de</strong>. Por sua natureza, o entendimento ten<strong>de</strong> à verda<strong>de</strong>; e a<br />
vonta<strong>de</strong> ao bem. Logo, verda<strong>de</strong> e bem são pontos <strong>de</strong> referência para a melhora<br />
pessoal. Há outro modo <strong>de</strong> enfocar este assunto: me refiro à liberda<strong>de</strong> e ao amor<br />
como dons essenciais do ser humano. Liberda<strong>de</strong> e amor estão relacionados, por<br />
uma parte, com a verda<strong>de</strong> e com o bem, por outra, com o entendimento e a<br />
vonta<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> estar estreitamente relacionados entre si. Para um ser humano<br />
consciente da dimensão sobrenatural <strong>de</strong> sua vida, a liberda<strong>de</strong> e o amor estão<br />
intimamente relacionados com a fé. (OTERO, 1990a, p. 28-29) 26<br />
Conforme visto na citação acima, a fé é um tema presente na perspectiva personalista,<br />
justamente por consi<strong>de</strong>rar, como a Antropologia Filosófica , um elemento natural e inerente à<br />
pessoa humana. A fé, juntamente com outros temas como o amor, a liberda<strong>de</strong>, a vonta<strong>de</strong>, a<br />
inteligência, o caráter, a sensibilida<strong>de</strong>, a imaginação, a memória, aparece como pauta educativa<br />
(educação da fé); com condição para o ambiente escolar (educação na fé); e como um dos<br />
objetivos educacionais (educação para a fé). Consi<strong>de</strong>rando a complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste tema “fé”,<br />
optou-se neste trabalho por não abordá-lo, ainda que trate especificamente do “interior” da<br />
pessoa, e diretamente do pilar da educação “apren<strong>de</strong>r a ser”. Consi<strong>de</strong>rar-se-á, pois, a educação<br />
26 “La persona da unidad al proceso educativo. La mejora pue<strong>de</strong> referirse inmediatamente a las capacida<strong>de</strong>s humanas,<br />
pero ha <strong>de</strong> referirse mediatamente a la persona humana. Se trataría, por tanto, <strong>de</strong> mejorar cada capacidad humana.<br />
Pero ¿qué relación existe entre esas capacida<strong>de</strong>s?, ¿y en función <strong>de</strong> qué se pue<strong>de</strong>n establecer priorida<strong>de</strong>s en su<br />
mejora? Po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar muchas capacida<strong>de</strong>s o po<strong>de</strong>mos referirnos a dos faculta<strong>de</strong>s humanas relacionadas con<br />
aquéllas: entendimiento y voluntad. Por su naturaleza, el entendimiento tien<strong>de</strong> a la verdad; y la voluntad, al bien.<br />
Luego, verdad y bien son dos puntos <strong>de</strong> referencia para la mejora personal. Hay otro modo <strong>de</strong> enfocar este asunto:<br />
me refiero a la libertad y al amor como dones esenciales <strong>de</strong>l ser humano. Libertad y amor están relacionados, por una<br />
parte, con la verdad y con el bien; por la otra, con el entendimiento y la voluntad, a<strong>de</strong>más <strong>de</strong> estar estrechamente<br />
relacionados entre sí. Para un ser humano consciente <strong>de</strong> la dimensión sobrenatural <strong>de</strong> su vida, la libertad y el amor<br />
están íntimamente relacionados con la fé.” (OTERO, 1990a, p. 28-29)<br />
48
da fé, como uma condição para a aplicabilida<strong>de</strong> das propostas “personalistas”, afinal, apresentam<br />
o seguinte pensamento:<br />
Quem educa – e quem faz investigação educativa – <strong>de</strong>ve ser plenamente<br />
consciente do caráter criatural do homem. Po<strong>de</strong>ria se evitar muitas falsas<br />
interpretações da educação da liberda<strong>de</strong> humana baseando “no fato ontológico <strong>de</strong><br />
que o homem é criatura integral, e que se inclui em sua própria pessoa o conhecer<br />
e o seu livre querer” (Millan Puelles). Chegar a ser trascen<strong>de</strong>ntalmente livre exige<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amar a Deus, mais que a si mesmo. “A liberda<strong>de</strong> é, não a<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autofazer-se, senão <strong>de</strong> autotrascen<strong>de</strong>r-se. E este autotrascen<strong>de</strong>r-se<br />
apenas é possível quando se prefere ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Deus e não <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sí. (L.<br />
Polo).(OTEROS, 1990b, p. 102) 27<br />
Oteros facilita a <strong>de</strong>finição da Educação Personalista dizendo que “EM SÍNTESE<br />
SERIA: “EDUCAR A LIBERDADE NA FÉ PARA O AMOR” (OTERO, 1990a, p. 37). 28 Sendo<br />
que segundo ele “Educar para o amor é preparar ao homem – a cada homem – para que possa<br />
conseguir seu fim. Enquanto que as virtu<strong>de</strong>s são uma manifestação do amor verda<strong>de</strong>iro, a<br />
educação se po<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r também como formação <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s” (OTERO, 1990a, p. 36). 29<br />
Embora todos apresentem o mesmo embasamento teórico, pautado na Antropologia<br />
Filosófica, <strong>de</strong>tectou-se a utilização <strong>de</strong> diferentes termos, em sua maioria sinônimos, para esta<br />
idéia <strong>de</strong> “educação da pessoa”. Observou-se que estes termos ou conceitos, são mais utilizados<br />
por uns e menos por outros, mas por serem constantes em todos os textos analisados, foram<br />
consi<strong>de</strong>rados nesta investigação como “Fundamentos da Educação Personalista”. São eles:<br />
27 Quienes educan – y quienes hacen investigación educativa – <strong>de</strong>ben ser plenamente conscientes <strong>de</strong>l carácter<br />
creatural <strong>de</strong>l hombre. Se podrían evitar muchas falsas interpretaciones <strong>de</strong> la educación <strong>de</strong> la libertad humana<br />
basándose “en el hecho ontológico <strong>de</strong> que el hombre es criatura íntegramente, incluso en su conocer y en su libre<br />
querer” (Millan Puelles). Llegar a ser trascen<strong>de</strong>ntalmente libre exige ser capaz <strong>de</strong> amar a Dios, más que a sí mismo.<br />
“La libertad es, en último término, no ya la capacidad <strong>de</strong> autohacerse, sino <strong>de</strong> autotrascen<strong>de</strong>rse. Y este<br />
autotrascen<strong>de</strong>rse sólo es posible cuando uno prefiere ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Dios a ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sí. (L. Polo).(OTERO, 1990b, p.<br />
102)<br />
28 “En síntesis, sería educar la libertad en la fe para el amor” (OTERO, 1990a, p. 37)<br />
29 Educar para el amor es preparar al hombre – a cada hombre – para que pueda conseguir su fin. En cuanto que las<br />
virtu<strong>de</strong>s son una manifestación <strong>de</strong>l amor verda<strong>de</strong>ro, la educación se pue<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r también como formación <strong>de</strong><br />
virtu<strong>de</strong>s” (OTEROS, 1990a, p. 36)<br />
49
educação integral da pessoa; melhora, crescimento ou <strong>de</strong>senvolvimento pessoal; <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s e superação <strong>de</strong> <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s ou limitações; diferenciação <strong>de</strong> valores e ambientes,<br />
harmonia da potências intelectivas e sensíveis; busca <strong>de</strong> um sentido para a vida ou <strong>de</strong> um projeto<br />
vital.<br />
3.1. FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DA PESSOA<br />
3.1.1. EDUCAÇÃO INTEGRAL<br />
Para a Antropologia, “o fundamental é a educação dos sentimentos das tendências e<br />
da pessoa em seu todo. Educar é a tarefa <strong>de</strong> colocar objetivos comuns a todas as instâncias<br />
humanas, acostumando-as a praticar aquilo que conduz a esses fins” (STORK; ECHEVARRÍA,<br />
2005, 77), <strong>de</strong>sta forma, a preocupação com a totalida<strong>de</strong> da pessoa humana parece ser o primeiro<br />
fundamento da perspectiva personalista, pois todos concordam que “Educação integral é aquela<br />
educação capaz <strong>de</strong> pôr unida<strong>de</strong> em todos os possíveis aspectos da vida <strong>de</strong> um homem” (HOZ,<br />
1988, p. 249). 30<br />
JORGE WERTHEIN, representante da UNESCO no Brasil, apresentou no prefácio<br />
do livro “Os sete saberes necessários à educação do futuro” <strong>de</strong> Edgar Morin, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
uma educação “holística”, referindo-se neste “holística”, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser integral: “Uma<br />
educação só po<strong>de</strong> ser viável se for uma educação integral do ser humano. Uma educação que se<br />
30 “Educación integral es aquella educación capaz <strong>de</strong> poner unidad en todos los posibles aspectos <strong>de</strong> la vida <strong>de</strong> un<br />
hombre” (HOZ, 1988, p. 249).<br />
50
dirige à totalida<strong>de</strong> aberta do ser humano e não apenas a um <strong>de</strong> seus componentes (apud MORIN:<br />
2002, p.11)<br />
Nesta investigação ao penetrar na perspectiva personalista percebeu-se em meio a<br />
tantos sinônimos (ainda que parônimos) e a tantos significados para “integral” que fez-se<br />
necessário recorrer à explicação mais apurada dada por Oliveros F. Otero em seu livro<br />
“Educación y Manipulación” on<strong>de</strong> procura ensinar como <strong>de</strong>tectar uma educação integral:<br />
Como saber, na realida<strong>de</strong>, se a educação que promovemos é uma educação<br />
integral? Incontestavelmente, por referir-se à pessoa, por ser educação da pessoa.<br />
Mas existem diferentes modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação integral. Não é a mesma coisa a<br />
melhora pessoal se realizar apenas a nível humano, que se realizar também na<br />
dimensão sobrenatural da vida <strong>de</strong> um homem. (OTERO, 1990b, p. 28) 31<br />
Para Otero, a educação para ser consi<strong>de</strong>rada integral é (ou <strong>de</strong>veria ser) educação <strong>de</strong><br />
pessoa, o que equivale a dizer que o termo “educação” consiste em apren<strong>de</strong>r a ser pessoa, pois o<br />
termo “educação” para os personalistas é educação <strong>de</strong> pessoa. Assim, a educação integral “se<br />
apóia na condição do ser humano como pessoa” (HOZ apud OTERO, 1990a, p. 28) 32 . Po<strong>de</strong>-se<br />
inferir então que a educação da pessoa e educação integral são para os personalistas por assim<br />
dizer sinônimos.<br />
Procurando ainda mais <strong>de</strong>talhes, verificou-se segundo o próprio Otero, que Vitor<br />
García Hoz foi quem melhor <strong>de</strong>finiu o termo “educação integral” através dos seus estudos sobre<br />
“Pedagogia Sistêmica” em seu livro “Princípios <strong>de</strong> Pedagogia Sistêmica”, estabelecendo o<br />
31 ¿Como sabemos, en realidad, si la educación que promovemos es una educación integral? Indudablemente, por<br />
referirse a la persona, por ser educación <strong>de</strong> la persona. Pero existen diferentes modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> educación integral. No<br />
es lo mismo que la mejora personal se realice sólo a nivel humano, o que se realice también en la dimensión<br />
sobrenatural <strong>de</strong> la vida <strong>de</strong> un hombre. (OTERO, 1990b, p. 28)<br />
32 “se apoya en la condición <strong>de</strong>l ser humano como persona (V. García Hoz)” (HOZ, apud OTERO, 1990ª, p. 28)<br />
51
conceito <strong>de</strong> “Educação Personalizada”, também nome <strong>de</strong> outro livro seu. Hoz alerta que utiliza o<br />
termo “educação integral” não no sentido vulgar da palavra, como construção do homem<br />
acumulando distintos elementos (educação intelectual + educação moral + educação física +<br />
educação religiosa + educação estética + educação n = educação integral) e arrancando-lhe a sua<br />
raiz que é a personalida<strong>de</strong> (Princípios da Pedagogia Sistêmica, apud p. 248-249). Hoz ressalta<br />
que quando cita “educação integral” refere-se ao termo em sua significação mais profunda, como<br />
enriquecimento e unificação do ser à vida humana.<br />
Constata-se, pois, que esta proposta <strong>de</strong> Victor García Hoz <strong>de</strong> uma “educação<br />
personalizada” também vem <strong>de</strong> encontro com o pilar da educação “apren<strong>de</strong>r a ser”, aliás, é esta a<br />
base <strong>de</strong> sua proposta, ainda que indiretamente, pois aborda concomitantemente todos os outros<br />
pilares da educação, justificando o seu conceito “profundo” para “educação integral”<br />
Também encontrou-se em Cifuentes a concordância com a idéia <strong>de</strong> educação integral,<br />
utilizando para tanto outros termos como os adjetivos “redonda”, “completa” e “all around”:<br />
Frente aos sistemas educativos sesgados, que propiciam uma formação monótona,<br />
nos damos conta hoje mais do que nunca <strong>de</strong>ste fato ou a formação é redonda ou<br />
não é formação. A gama <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s é infinita e não se <strong>de</strong>ve reduzir, como<br />
ocorre, em certas ocasiões, à segmentações parciais e às vezes milimétricas. Hoje<br />
já sabemos a que monstruosida<strong>de</strong>s se po<strong>de</strong> chegar com pretensões formativas<br />
estreitas; o excesso <strong>de</strong> especialização é inumano, por ser anti-formativo. Mas esta<br />
formação redonda, completa e all around, ou para dizer com o termo grego exato,<br />
a que persegue o panaristós do homem, para ser melhor em tudo, esquece<br />
justamente hoje que o homem não é formável diretamente, senão como já foi dito<br />
no princípio, mediante suas potências ou faculda<strong>de</strong>s. (CIFUENTES, p.2000, p.<br />
6) 33<br />
33 Frente a sistemas educativos sesgados , que propician una formación monocor<strong>de</strong>, nos damos cuenta hoy más que<br />
nunca <strong>de</strong> este hecho: o la formación es redonda o no es formación. Su radio <strong>de</strong> posibilida<strong>de</strong>s es infinito y no se lê<br />
<strong>de</strong>be reducir, como en ocasiones ocurre, a segmetaciones parciales y a veces milimétricas. Hoy sabemos ya las<br />
monstruosida<strong>de</strong>s a que pue<strong>de</strong> llegarse con pretensiones formativas estrechas; el exceso <strong>de</strong> especialismo es inhumano,<br />
por ser antiformativo. Pero esta formación redonda, completa y all around, o para <strong>de</strong>cirlo con el término griego<br />
exacto, la que persigue el panaristós <strong>de</strong>l hombre, su ser lo mejor en todo, olvida precisamente hoy que el hombre no<br />
52
3.1.2 EDUCAÇÃO INDIVIDUAL (associada à tradicional educação coletiva)<br />
Um dos princípios norteadores dos educadores personalistas é a visão <strong>de</strong> cada<br />
indivíduo como único e está <strong>de</strong> acordo com o que a Antropologia estabelece como núcleo da<br />
condição humana: “o caráter pessoal do homem, o que constitui cada ser humano, como algo<br />
único e irrepetível” (STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 79)<br />
Depois do status <strong>de</strong> “familiar”, a educação foi consi<strong>de</strong>rada uma ativida<strong>de</strong> social pela<br />
necessida<strong>de</strong> e pelo direito. Em <strong>de</strong>corrência disso, termos como “<strong>de</strong>senvolvimento” ou “melhora”<br />
por muito tempo foram vistos no coletivo - “<strong>de</strong>senvolvimento social” ou “melhora da socieda<strong>de</strong>”<br />
- para não dizer que foram vistos como inatingíveis ou mesmo distantes, pois a melhora quase<br />
sempre é vista como uma melhora da socieda<strong>de</strong> futura” ou das gerações futuras. O Relatório<br />
Jacques Delors também i<strong>de</strong>ntificou este problema <strong>de</strong> não se pensar na “pessoa”, mas apenas na<br />
socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>nominando o fenômeno <strong>de</strong> “mundialização” ao <strong>de</strong>clarar que:<br />
A educação <strong>de</strong>ve encarar <strong>de</strong> frente este problema, pois, na perspectiva do parto<br />
doloroso <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> mundial, ela se situa no coração do <strong>de</strong>senvolvimento<br />
tanto da pessoa humana como das comunida<strong>de</strong>s. Cabe-lhe a missão <strong>de</strong> fazer com<br />
que todos, sem exceção, façam frutificar os seus talentos e potencialida<strong>de</strong>s<br />
criativas, o que implica, por parte <strong>de</strong> cada um, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se responsabilizar<br />
pela realização do seu projeto pessoal. (DELORS, 1996 , p. 16)<br />
As diferenças pessoais tomam sua importância educacional nas palavras <strong>de</strong> Hoz que<br />
estabelece em sua “educação personalizada” a importância da educação individual, aliada à<br />
educação coletiva: “a educação não seria tão eficaz se ficasse <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma estimulação<br />
es formable directamente sino, como ya se dijo al principio, mediante sus potencias o faculta<strong>de</strong>s. (CIFUENTES,<br />
p.2000, p. 6)<br />
53
educativa comum que não aten<strong>de</strong> às diferenças pessoais do <strong>de</strong>senvolvimento. Esta é a razão da<br />
educação personalizada.” (HOZ, 1988, p. 21) 34<br />
Personalizar a educação não é outra coisa que referir o processo educativo à<br />
pessoa singular que cada homem é. De novo voltemos a referir a educação à<br />
pessoa, mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> outra perspectiva: como enriquecimento interior e como<br />
serviço aos <strong>de</strong>mais. A educação, portanto, implica no <strong>de</strong>senvolvimento harmônico<br />
<strong>de</strong>stas dimensões: a <strong>de</strong> autonomia e a <strong>de</strong> serviço. O qual vem coincidir com a<br />
noção integral <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>: exercício da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> iniciativa ao serviço do<br />
interesse geral, do bem comum (PUELLES, apud OTERO, 1990a, p. 30) 35<br />
A educação personalista recebe este nome justamente por ter o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
pessoa humana, como seu principal objetivo. Consegue enxergar cada pessoa como singular,<br />
única. Procura compreen<strong>de</strong>r e potencializar cada “pessoa” em sua unicida<strong>de</strong> caracterizada por sua<br />
intimida<strong>de</strong>, personalida<strong>de</strong>, físico, sentimentos, inteligência, dotada <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>, <strong>de</strong> caráter e alma:<br />
A educação como <strong>de</strong>senvolvimento da personalida<strong>de</strong>. “Cada homem tem um<br />
acento próprio, pessoal, um „tom‟ irrepetível; a personalida<strong>de</strong> é precisamente a<br />
diversa atitu<strong>de</strong> pessoal há cada um dos valores humanos, do que se segue que cada<br />
homem está chamado, através da obra educativa, a ser ele mesmo, a realizar os<br />
valores mas a seu modo e segundo as suas possibilida<strong>de</strong>s”. O <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
personalida<strong>de</strong> faz referência ao cultivo da originalida<strong>de</strong>, por uma parte e aos<br />
valores permanentes por outra. A originalida<strong>de</strong> não se refere à modificação dos<br />
valores – invertê-los por exemplo – senão ao modo pessoal <strong>de</strong> captá-los e<br />
incorporá-los. (OTERO, 1990a, p.35) 36<br />
34 “la educación no sería lo eficaz que pue<strong>de</strong> esperarse si <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> una estimulación educativa común no se atien<strong>de</strong> a<br />
las diferencias personales en el <strong>de</strong>sarrollo. Esta es la razón <strong>de</strong> la educación personalizada.” (HOZ, 1988, p. 21)<br />
35 „Personalizar la educación no es otra cosa que referir el proceso educativo a la persona singular que cada hombre<br />
es‟. De nuevo volvemos a referir la educación a la persona, pero <strong>de</strong>s<strong>de</strong> otra perspectiva: como enriquecimiento<br />
interior y como servicio a los <strong>de</strong>más. La educación, por tanto, implica el <strong>de</strong>sarrollo armónico <strong>de</strong> estas dimensiones:<br />
la <strong>de</strong> autonomía y la <strong>de</strong> servicio. Lo cual viene a coincidir con la noción integral <strong>de</strong> libertad: ejercicio <strong>de</strong> la capacidad<br />
<strong>de</strong> iniciativa al servicio <strong>de</strong>l interés general, <strong>de</strong>l bien común (Millan Puelles) (PUELLES, apud OTERO, 1990a, p. 30)<br />
36 la educación como <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> la personalidad. “Cada hombre tiene un acento propio, personal, un „tono‟<br />
irrepetible. La personalidad es precisamente la diversa actitud personal hacia cada uno <strong>de</strong> los valores humanos, <strong>de</strong> lo<br />
que se sigue que cada hombre está llamado, a través <strong>de</strong> la obra educativa, a ser él mismo, a realizar los valores, pero<br />
a su modo y según sus posibilida<strong>de</strong>s”. El <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> la personalidad hace referencia al cultivo <strong>de</strong> la originalidad,<br />
por una parte, y a los valores permanentes, por la otra. La originalidad no se refiere a la modificación <strong>de</strong> los valores –<br />
invirtiéndolos, por ejemplo -, sino al modo personal <strong>de</strong> captarlos y <strong>de</strong> incorporarlos. (OTERO, 1990a, p.35)<br />
54
3.1.3. EDUCAÇÃO COMO MELHORA, CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO<br />
Outro aspecto que foi tratado neste trabalho como fundamento da perspectiva<br />
personalista, é o crescimento da pessoa humana ou melhora pessoal que, aliás, é consi<strong>de</strong>rado<br />
como fundamento também porque aparece como fundamentação no próprio conceito <strong>de</strong> pessoa<br />
dado pela Antropologia Filosófica, pois:<br />
[...] se o homem não foi feito para crescer, para melhorar, então, o saber<br />
antropológico (e o saber em geral) se converte em algo banal, ou, o que é pior, em<br />
um meio <strong>de</strong> aplicação da força interessada. [...] a negação <strong>de</strong>ste otimismo fecha o<br />
horizonte humano na utilida<strong>de</strong>, no lucro ou na paixão. A distinção é aristotélica,<br />
mas a resposta é urgente: somos capazes <strong>de</strong> praticar ações benevolentes? Po<strong>de</strong>mos<br />
viver na excelência? Então, existe sentido em falar <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, felicida<strong>de</strong>, amor.<br />
Se a resposta é negativa, o melhor seria tomar controle da socieda<strong>de</strong> a qualquer<br />
preço, ou tremer <strong>de</strong> medo ante a chegada <strong>de</strong> tempos difíceis. (STORK;<br />
ECHEVARRÍA, 20005, p. 19)<br />
A utilização do termo “educação” como melhora pessoal, <strong>de</strong>senvolvimento ou<br />
crescimento, aparece intimamente ligado ao conceito <strong>de</strong> “educação integral”, respaldado,<br />
conforme já apresentado, pela própria Antropologia, como fundamento da perspectiva<br />
personalista:<br />
[...] a dinâmica vital humana, seu <strong>de</strong>senvolvimento, sua plenitu<strong>de</strong> e autorealização,<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da harmonia existente entre todas as dimensões do<br />
psiquismo (inteligência, vonta<strong>de</strong>, sentimentos, etc.) [...] o termo harmonia em dois<br />
sentidos: como plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, e como equilíbrio e proporção<br />
interior das partes <strong>de</strong>ntro da unida<strong>de</strong> do todo. (STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p.<br />
71)<br />
Assim, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>finir a educação da perspectiva personalista também como melhora<br />
pessoal, um processo <strong>de</strong> mudança e também como um aperfeiçoamento “A educação é um<br />
aperfeiçoamento imediato das capacida<strong>de</strong>s humanas e um aperfeiçoamento mediato da pessoa<br />
55
humana” (HOZ apud OTERO, 1990a, p. 29) 37 . Também <strong>de</strong>finido por Otero como modificação no<br />
trecho abaixo:<br />
A educação é uma modificação pessoal na direção da melhora, do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento das possibilida<strong>de</strong>s do ser humano ou <strong>de</strong> uma aproximação do<br />
homem ao que constitui sua própria finalida<strong>de</strong>. Esta melhora refere-se, em alguns<br />
autores, à plenitu<strong>de</strong> do ser humano, a esse ir do ser dado ao ser pleno ou acabado,<br />
ainda que nunca seja possível o máximo. Será uma melhora contínua ou um<br />
processo in<strong>de</strong>finido <strong>de</strong> melhora. (OTERO, 1990, p. 28) 38<br />
3.1.4. EDUCAÇÃO COMO DESENVOLVIMENTO DE CAPACIDADES E SUPERAÇÃO DE<br />
DEBILIDADES OU LIMITAÇÕES<br />
Ao <strong>de</strong>finir a educação como “melhora pessoal”, percebeu-se também que os autores<br />
<strong>de</strong>stacam a educação como alavanca potencializadora <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s, captadora <strong>de</strong><br />
possibilida<strong>de</strong>s existentes no meio educativo e em cada aluno individualmente e também como<br />
sustentação para superação <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s e limitações pessoais e ambientais. Otero parece ser o<br />
que mais associa à idéia <strong>de</strong> ação educativa mostrando que é uma capacida<strong>de</strong> que o professor <strong>de</strong>ve<br />
adquirir, a <strong>de</strong> captar as limitações e as possibilida<strong>de</strong>s individuais e do ambiente:<br />
[...] a ação educativa tem como finalida<strong>de</strong> incrementar o que é funcional em cada<br />
ambiente para a melhora pessoal e contrastar o que é disfuncional a essa mesma<br />
melhora. Com visão otimista, o educador necessita captar as possibilida<strong>de</strong>s e as<br />
limitações <strong>de</strong> cada ambiente e atuar em conseqüência. É acelerador dos processos<br />
37 “La educación es perfeccionamento inmediato <strong>de</strong> las capacida<strong>de</strong>s humanas y perfeccionamento mediato <strong>de</strong> la<br />
persona humana” (HOZ apud OTERO, 1990a, p. 29)<br />
38 La educación es una modificación personal en la dirección <strong>de</strong> la mejora, <strong>de</strong>l <strong>de</strong>senvolvimiento <strong>de</strong> las<br />
posibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>l ser humano o <strong>de</strong> un acercamiento <strong>de</strong>l hombre a lo que constituye su propia finalidad.<br />
Esta mejora se refiere, en algunos autores, a la plenitud <strong>de</strong>l ser humano, a ese ir <strong>de</strong>l ser dado al ser pleno o<br />
acabado, aunque nunca será posible el máximo. Será una mejora continua o un proceso in<strong>de</strong>finido <strong>de</strong><br />
mejora. (OTERO, 1990, p. 28)<br />
56
educativos enquanto <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s e superação <strong>de</strong> limitações –<br />
pessoais e ambientais. (OTERO, 1990a, p. 64-65) 39<br />
Encontrou-se a mesma linha <strong>de</strong> pensamento em Cifuentes que também coloca o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s como <strong>de</strong>ver pessoal e educacional <strong>de</strong> aproveitar o que se tem <strong>de</strong><br />
positivo. Já em Otero percebe-se a importante ressalva que educar em valores não é “promover<br />
processos <strong>de</strong> melhora pessoal <strong>de</strong>s<strong>de</strong> uma plataforma i<strong>de</strong>al, isolada do acontecer diário, não estaria<br />
preparando para a vida, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a vida mesma”. (OTERO, 1990b, p. 64) 40 . Mais do que uma<br />
preocupação com mo<strong>de</strong>los e estereótipos, personalida<strong>de</strong>s ou i<strong>de</strong>ais, Otero preocupa-se com a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se partir do concreto, do simples, do cotidiano e da vida do aluno, da pessoa do<br />
aluno. Inclui-se talvez aí a importância do diagnóstico ou sondagem para se partir da realida<strong>de</strong> do<br />
aluno. O termo diagnóstico foi uma das propostas <strong>de</strong> Hoz, melhor tratado ao <strong>de</strong>screver suas<br />
propostas.<br />
Hoz parece se preocupar mais com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacar as capacida<strong>de</strong>s<br />
comunicativa, expressiva e compreensiva:<br />
[...] a educação <strong>de</strong>verá <strong>de</strong>senvolver no homem primordialmente sua capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> comunicação, ou seja, sua capacida<strong>de</strong> expressiva e compreensiva. Isto<br />
significa dizer que, as diversas formas <strong>de</strong> linguagem <strong>de</strong>vem constituir o núcleo<br />
fundamental da formação cultural e científica do homem <strong>de</strong> hoje. (HOZ, 1988, p.<br />
58-59) 41<br />
39 [...] la acción educativa tiene como finalidad incrementar lo que es funcional en cada ambiente a la mejora<br />
personal y contrarrestar lo que es disfuncional a esa mismo mejora. Con visión optimista, el educador necesita captar<br />
las posibilida<strong>de</strong>s y las limitaciones <strong>de</strong> cada ambiente y actuar en consecuencia. Es acelerador <strong>de</strong> procesos educativos<br />
en cuanto <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s y superación <strong>de</strong> limitaciones – personales y ambientales. (OTERO, 1990a, p.<br />
64-65)<br />
40 “promover procesos <strong>de</strong> mejora personal <strong>de</strong>s<strong>de</strong> una plataforma i<strong>de</strong>al, aislada no <strong>de</strong>l acontecer diário: no estaria<br />
preparando para a vida, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> la vida misma”. (OTERO, 1990b, p. 64)<br />
41 [...] la educación <strong>de</strong>berá <strong>de</strong>sarrollar en el hombre primordialmente su capacidad <strong>de</strong> comunicación, es <strong>de</strong>cir, su<br />
capacidad expresiva y comprensiva. Dicho <strong>de</strong> otro modo, las diversas formas <strong>de</strong> lenguaje <strong>de</strong>ben constituir el núcleo<br />
fundamental <strong>de</strong> la formación cultural y científica <strong>de</strong>l hombre <strong>de</strong> hoy. (HOZ, 1988, p. 58-59)<br />
57
Assim como Otero, <strong>de</strong>tectou-se em Cifuentes também esta idéia <strong>de</strong> “proteção” dos<br />
alunos em relação aos ambientes e ocasiões limitantes do ser humano, pois ele comenta sobre a<br />
superação <strong>de</strong> limitações e mostra a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sviar do que <strong>de</strong>svia o homem do i<strong>de</strong>al <strong>de</strong><br />
formação completa ou <strong>de</strong> excelência humana. Ou seja, Cifuentes alerta que <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>sviar<br />
daquilo que po<strong>de</strong> proporcionar queda, dificulda<strong>de</strong>s ou on<strong>de</strong> se sabe que há limitações,<br />
principalmente no que se refere às tendências sensíveis. Por <strong>de</strong>senvolver sua pesquisa sobre a<br />
inteligência, a vonta<strong>de</strong> e o caráter, este autor diz que a formação da inteligência e da vonta<strong>de</strong> há<br />
<strong>de</strong> enfrentar-se com a atual conduta dos indivíduos. Encontrou-se ainda, em Cifuentes, o alerta <strong>de</strong><br />
que a formação humana não se trata <strong>de</strong> fazer-se, mas <strong>de</strong> refazer-se, pois não se parte do zero<br />
Percebeu-se que no último capítulo <strong>de</strong> seu livro “Educación e Manipulación” on<strong>de</strong> se<br />
refere a estas limitações, Otero mostra-se preocupado com a associação do termo “limitação”<br />
com aspectos da própria liberda<strong>de</strong>, esclarece que as “limitações” pessoais a serem superadas<br />
<strong>de</strong>vem ser vistas como “possibilida<strong>de</strong>s” e que tratam-se <strong>de</strong> limitações pessoais no âmbito <strong>de</strong><br />
“impossibilida<strong>de</strong>” provisória, não pela proibição <strong>de</strong> outro, mas pela própria pessoa, como<br />
ausência da vonta<strong>de</strong>, problemas relacionados às tendências sensíveis ou mesmo à falta <strong>de</strong><br />
conhecimento sobre a personalida<strong>de</strong>, entre outros:<br />
Em contraposição, há aspectos da própria liberda<strong>de</strong> que algumas pessoas<br />
enten<strong>de</strong>m que são limitações e <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>stacar que não são. Por exemplo, buscar e<br />
manter-se na verda<strong>de</strong>; querer conseguir uns objetivos valiosos, verda<strong>de</strong>iros; tomar<br />
<strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> acordo com esses objetivos; esforçar-se em realizar o <strong>de</strong>cidido;<br />
relacionar uma <strong>de</strong>cisão a tomar com outras anteriores em cuja realização a longo<br />
prazo nos sentimos comprometidos; relacionar uma <strong>de</strong>cisão a tomar com o serviço<br />
que <strong>de</strong>la se <strong>de</strong>riva para outras pessoas; informar-nos a<strong>de</strong>quadamente antes <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cidir; comprovar que nosso serviço aos outros é verda<strong>de</strong>iro, valioso, eficaz. Ou<br />
seja, todo o referente a <strong>de</strong>cisões acertadas, serviços valiosos e objetivos<br />
verda<strong>de</strong>iros não são limitações senão possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma liberda<strong>de</strong> fiel,<br />
serviçal, comprometida. Confundir, neste caso, possibilida<strong>de</strong>s e limitações é fruto<br />
58
<strong>de</strong> uma inversão <strong>de</strong> valores da que trataremos em outro momento. (OTERO,<br />
1990a, p. 70-71) 42<br />
3.1.5. EDUCAÇÃO COMO DIFERENCIADORA DE VALORES E DE AMBIENTES<br />
A Educação Personalista parece não restringir sua preocupação às limitações e<br />
possibilida<strong>de</strong>s pessoais, mas também às limitações e possibilida<strong>de</strong>s ambientais. Constatou-se que<br />
ressaltam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> captar o <strong>de</strong>strutivo e o construtivo <strong>de</strong> cada ambiente - o famoso<br />
“analisar o contexto” – mas valorando e diferenciando perigos <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s.<br />
A ação educativa relaciona – <strong>de</strong> modo diverso cada dia – o mutável <strong>de</strong> cada<br />
ambiente e o permanente <strong>de</strong> cada valor em processos <strong>de</strong> maturação pessoal.<br />
Estabelecer esta relação – um pouco nova em cada jornada – requer conhecer<br />
valores e ambientes; e captar o construtivo e o <strong>de</strong>strutivo <strong>de</strong> cada ambiente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
o ponto <strong>de</strong> vista da melhora pessoal; <strong>de</strong>scobrir em cada situação o que é valioso e<br />
o que não é. Deste modo, se evitará a aceitação ou o retrocesso indiscriminadas <strong>de</strong><br />
um ambiente, a respeito da educação. Em segundo lugar, a ação educativa tem<br />
como finalida<strong>de</strong> incrementar o que é funcional em cada ambiente para a melhora<br />
pessoal e contrastar o que é disfuncional a essa mesma melhora. Com visão<br />
otimista, o educador necessita captar as possibilida<strong>de</strong>s e as limitações <strong>de</strong> cada<br />
ambiente e atuar em conseqüência. É um acelerador <strong>de</strong> processos educativos<br />
enquanto <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s e superação <strong>de</strong> limitações – pessoais e<br />
ambientais. (OTERO, 1990b, p. 64-65) 43<br />
42 Por contraste, hay aspectos <strong>de</strong> la propia libertad que algunas personas entien<strong>de</strong>n que son limitaciones y <strong>de</strong>be<br />
<strong>de</strong>stacarse que no lo son. Por ejemplo, buscar y mantenerse en la verdad; querer conseguir unos objetivos valiosos,<br />
verda<strong>de</strong>ros; tomar <strong>de</strong>cisiones <strong>de</strong> acuerdo con esos objetivos; esforzarse en realizar lo <strong>de</strong>cidido; relacionar una<br />
<strong>de</strong>cisión a tomar con otras anteriores en cuya realización a largo plazo nos sentimos comprometidos; relacionar una<br />
<strong>de</strong>cisión a tomar con el servicio que <strong>de</strong> ella se <strong>de</strong>riva para otras personas; informarnos a<strong>de</strong>cuadamente antes <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cidir; comprobar que nuestro servicio a los <strong>de</strong>más es verda<strong>de</strong>ro, valioso, eficaz. Es <strong>de</strong>cir, todo lo referente a<br />
<strong>de</strong>cisiones acertadas, servicios valiosos y objetivos verda<strong>de</strong>ros no son limitaciones sino posibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> una libertad<br />
fiel, servicial, comprometida. Confundir, en este caso, posibilida<strong>de</strong>s y limitaciones es fruto <strong>de</strong> una inversión <strong>de</strong><br />
valores <strong>de</strong> la que trataremos en otro momento. (OTERO, 1990a, p. 70-71)<br />
43 La acción educativa relaciona – <strong>de</strong> modo diverso cada día – lo cambiante <strong>de</strong> cada ambiente y lo permanente <strong>de</strong><br />
cada valor en procesos <strong>de</strong> maduración personal. Establecer esta relación – un poco nueva en cada jornada – requiere<br />
conocer valores y ambientes; y captar lo constructivo y lo <strong>de</strong>structivo <strong>de</strong> cada ambiente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> el punto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> la<br />
mejora personal; <strong>de</strong>scubrir en cada situación qué es valioso y qué no lo es. De este modo, se evitará la aceptación o<br />
el rechazo indiscriminados <strong>de</strong> un ambiente, respecto a la educación. En segundo lugar, la acción educativa tiene<br />
como finalidad incrementar lo que es funcional en cada ambiente a la mejora personal y contrarrestar lo que es<br />
disfuncional a esa misma mejora. Con visión optimista, el educador necesita captar las posibilida<strong>de</strong>s y las<br />
limitaciones <strong>de</strong> cada ambiente y actuar en consecuencia. Es acelerador <strong>de</strong> procesos educativos en cuanto <strong>de</strong>sarrollo<br />
<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s y superación <strong>de</strong> limitaciones – personales y ambientales. (OTERO, 1990b, p. 64-65)<br />
59
Hoz também mostra esta preocupação com o ambiente, mostrando que é necessário<br />
observar e diferenciar cada ambiente e também perceber cada valor. Vivendo-se num mundo tão<br />
mutável, <strong>de</strong>ve-se educar proporcionando elementos positivos aos alunos, como os valores e<br />
alertando sobre aquilo que é mutável, falso, transitório ou aparente:<br />
[...] se o homem tem <strong>de</strong> mover-se em uma socieda<strong>de</strong> complexa e mutável, o<br />
problema está em fazê-lo capaz <strong>de</strong> distinguir o importante do trivial, o permanente<br />
do transitório, o real do aparente. Apenas assim po<strong>de</strong>rá o homem ir seguro por um<br />
mundo propício à confusão, apenas assim será capaz <strong>de</strong> encontrar “caminho no<br />
mar e entre as ondas senda segura (SABEDORIA, 16,3 apud HOZ, 1988, p. 43) 44<br />
Esta tarefa investigativa e informativa <strong>de</strong>veria ser uma das ações educativas dos<br />
professores, mas sobre este aspecto, a influência do ambiente, do contexto, parece não ser tão<br />
consi<strong>de</strong>rada hoje pela educação atual. É como uma lacuna, pois os professores parecem não<br />
i<strong>de</strong>ntificar ambientes propícios e não se aproveitar das oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada ambiente para gerar<br />
oportunida<strong>de</strong>s pessoais. Também aparece a falta <strong>de</strong> percepção das diversas limitações ou<br />
potenciais <strong>de</strong>strutivos dos ambientes, ou seja, falta perspicácia dos professores para proteger e<br />
alertar os alunos para que não facilitem ou proporcionem limitações pessoais.<br />
3.1.6. EDUCAÇÃO COMO HARMONIA DAS POTÊNCIAS INTELECTIVAS E SENSÍVEIS<br />
Os personalistas também expressam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma harmonia (do todo),<br />
alegando que o <strong>de</strong>senvolvimento pessoal <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> “do a<strong>de</strong>quado controle das tendências e dos<br />
sentimentos e da a<strong>de</strong>quada integração do inconsciente na vida consciente”(STORK;<br />
ECHEVARRÍA, 2005, p.. 73).<br />
44 [...] si el hombre se há <strong>de</strong> mover en una sociedad compleja y cambiante, el problema está en hacerle capaz <strong>de</strong><br />
distinguir lo importante <strong>de</strong> lo trivial, lo permanente <strong>de</strong> lo transitorio, lo real <strong>de</strong> lo aparente. Sólo así podrá el hombre<br />
ir seguro por un mundo propicio a la confusión, sólo así será capaz <strong>de</strong> encontrar “camino en el mar y entre las olas<br />
senda segura (SABEDORIA, 16,3 apud HOZ, 1988, p. 43)<br />
60
Há duas maneiras <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar a harmonia da alma: por fora e por <strong>de</strong>ntro. A<br />
consi<strong>de</strong>ração exterior nos diz que o único modo <strong>de</strong> conseguir essa harmonia e<br />
equilíbrio <strong>de</strong> ações é graças a um objetivo, um alvo (skopós), que unifique as<br />
tendências. Falamos então <strong>de</strong> um fim ou <strong>de</strong> alguns objetivos predominantes que<br />
dão sentido a todas as outras ações. Alcançá-los é conseguir a auto-realização, a<br />
vida realizada, a felicida<strong>de</strong>. A consi<strong>de</strong>ração da harmonia interna precisa, em<br />
primeiro lugar, que a pessoa esteja reconciliada com seu próprio inconsciente.<br />
(STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 72-73)<br />
A harmonia, segundo STORK e ECHEVARRÍA (2005, p, 77), em gran<strong>de</strong> parte,<br />
situa-se nas mãos <strong>de</strong> cada sujeito, das coisas que faça, que adquira é, pois, conquistada através da<br />
prática, dos hábitos e das habilida<strong>de</strong>s adquiridas e o caminho para essa harmonia, segundo a<br />
Antropologia é a ética, pois esta:<br />
[...] consiste em alcançar um ponto intermediário <strong>de</strong> equilíbrio a respeito dos<br />
sentimentos: ter os sentimentos a<strong>de</strong>quados, a respeito dos objetos a<strong>de</strong>quados, com<br />
a intensida<strong>de</strong> e o modo a<strong>de</strong>quados, evitando o <strong>de</strong>feito e o excesso. Esse ter<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das habilida<strong>de</strong>s (virtu<strong>de</strong>s, hábitos) que a cada pessoa tenha adquirido.<br />
Assim, a covardia é o medo excessivo e exagerado, que leva à imobilida<strong>de</strong>; a<br />
temerida<strong>de</strong> é não temer nada, nem sequer aquilo que se <strong>de</strong>ve temer, quando se<br />
<strong>de</strong>ve, com a intensida<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>ve.(STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 77)<br />
Para Cifuentes – que foi quem mais tratou do tema harmonia - esta harmonia humana<br />
se conquista com a formação do caráter, isto é do relacionamento harmônico entre a inteligência,<br />
a vonta<strong>de</strong> e os sentimentos:<br />
O costume ou hábito <strong>de</strong> que a vonta<strong>de</strong> siga ao sentimento, e a conseqüente atrofia<br />
da inteligência, constitui em muitos casos o centro dos maus hábitos e das<br />
condutas <strong>de</strong>sacertadas. A aquisição do caráter gira em boa parte ao redor <strong>de</strong>sse<br />
centro, para tirar sua força gravitacional. A luta contra o sentimentalismo (ou para<br />
dizer <strong>de</strong> forma mais exata: a conquista da harmonia humana coloca o sentimento<br />
no lugar que lhe correspon<strong>de</strong>). (CIFUENTES, 2000, p. 118) 45<br />
45 La costumbre o hábito <strong>de</strong> que la voluntad siga al sentimiento, y la consecuente atrofia <strong>de</strong> la inteligencia, constituye<br />
en muchos casos el centro <strong>de</strong> los malos hábitos y <strong>de</strong> las conductas <strong>de</strong>sacertadas. La adquisición <strong>de</strong>l carácter gira en<br />
buena parte alre<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> ese centro, para quitarle su fuerza gravitatoria. La lucha contra el sentimentalismo (o para<br />
<strong>de</strong>cirlo <strong>de</strong> forma más exacta: el logro <strong>de</strong> la armonía humana, ubicando al sentimiento en el lugar que le correspon<strong>de</strong>).<br />
(CIFUENTES, 2000, p. 118)<br />
61
3.1.7 EDUCAÇÃO E ÉTICA<br />
A ética para os educadores personalistas é o parâmetro para a harmonia, para<br />
conseguir uma vida realizada:<br />
A visão que se propõe aqui é: a aprendizagem ética consiste em otimizar os<br />
sentimentos e as tendências; quer dizer, ajudá-los a alcançar seu máximo<br />
fortalecimento e intensida<strong>de</strong>, resultando <strong>de</strong>les a máxima harmonia psíquica, a<br />
máxima riqueza e firmeza anteriores (...) Por isso, po<strong>de</strong>mos insistir em que ter<br />
equilíbrio interior e harmonia psíquica é o único modo <strong>de</strong> ser feliz. O método mais<br />
eficaz para alcançar a harmonia psíquica é a educação dos sentimentos, e isso<br />
coinci<strong>de</strong> com a ética. Logo, o único modo <strong>de</strong> se ser feliz, é vivendo eticamente. A<br />
ética não é um conjunto <strong>de</strong> proibições, mas, sim, a afirmação da possibilida<strong>de</strong> do<br />
homem <strong>de</strong> ser homem. (STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 78)<br />
Esta aprendizagem ou aquisição <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s pelos hábitos, também chama a ética <strong>de</strong><br />
“ética <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s”. Segundo a Antropologia, a ética está radicada em bens e valores que<br />
orientam, se houver seu cumprimento, em direção à plenitu<strong>de</strong> humana. “Assim, a ética consiste<br />
em: adquirir alguns hábitos chamados virtu<strong>de</strong>s, mediante o respeito a algumas normas que<br />
capacitem para se possuir os bens que façam o homem ser feliz.” (STORK; ECHEVARRÍA,<br />
2005, p. 78-79)<br />
[...] ter hábitos é o modo mais perfeito <strong>de</strong> ter, porque os hábitos aperfeiçoam o<br />
próprio homem, ficam nele <strong>de</strong> modo estável, configurando seu modo <strong>de</strong> ser.<br />
Quando o homem atua, o que faz o melhora ou o piora, e, <strong>de</strong>finitivamente, o<br />
transforma. A ação humana é o meio pelo qual a pessoa se realiza como tal,<br />
porque com isso adquire hábitos. Os hábitos, a partir <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong> vista, se<br />
po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>finir como uma segunda natureza: <strong>de</strong> saída, todos somos bastante<br />
parecidos; a realida<strong>de</strong> final <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> em boa parte do <strong>de</strong>senvolvimento que<br />
saibamos administrar em nós mesmos. São adquiridos pela repetição <strong>de</strong> atos,<br />
produzindo o costume que dá facilida<strong>de</strong> para a execução da ação própria.<br />
(STORK; ECHEVARRÍA, p. 102)<br />
62
3.1.8 EDUCAÇÃO E HÁBITOS<br />
Seguindo o caminho da ética, a referência aos hábitos faz-se constante em todos os<br />
autores analisados, pois todos concordam com a Antropologia que a aprendizagem é necessária e<br />
esta se faz também (ressaltando que não apenas) pela prática dos hábitos.<br />
Embora cada autor personalista apresente justificativas, objetivos e estratégias<br />
(relativamente) diferentes para a prática dos hábitos, estes são citados por todos os autores<br />
pesquisados, afirmando que uma ação educativa exige “criar hábitos”. Como nos afirma STORK<br />
e ECHEVARRÍA (2005, p. 45) a importância dos hábitos está intimamente ligada à educação,<br />
pois tem o objetivo <strong>de</strong> melhora da pessoa” e que o educar implica também “acostumar-se a<br />
praticar”, afinal os hábitos se adquirem com a prática, para os personalistas não existe outra<br />
maneira:<br />
O hábito seria uma inclinação, não natural, mas adquirida para realizar certos atos<br />
que, dada a infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s às quais as tendências humanas se<br />
inclinam, está nas mãos <strong>de</strong> cada um para concretizar. Os hábitos po<strong>de</strong>m ser bons<br />
ou maus, favoráveis ou prejudiciais para o <strong>de</strong>senvolvimento do homem. Essa<br />
aprendizagem <strong>de</strong>sloca o instinto. O <strong>de</strong>cisivo no homem é a aprendizagem: em nós,<br />
o instinto biológico é incipiente e limitado. Estar vivo apenas não nos basta, é<br />
necessário que aprendamos a viver e, por isso, a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do<br />
nível da aprendizagem.<br />
Esta constante nas propostas personalistas relaciona-se à conscientização dos<br />
benefícios que os hábitos bons geram. Os hábitos se planejados e bons, são úteis e auxiliam a<br />
dinâmica da vida, do cotidiano, fazem compreen<strong>de</strong>r a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rotina, <strong>de</strong> organização, <strong>de</strong><br />
constância, <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e colaboram para a eficiência <strong>de</strong> algumas ativida<strong>de</strong>s entre outras<br />
coisas.<br />
63
O objetivo <strong>de</strong> fazer com que o aluno pratique <strong>de</strong>terminados hábitos envolve o aspecto<br />
<strong>de</strong> “apren<strong>de</strong>r a ser”, pois ao invés <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar que os hábitos surjam, inclusive os maus hábitos, a<br />
orientação é que os professores ensinem na prática o que é ter “bons hábitos” e façam com que o<br />
próprio educando perceba a importância e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> continuar com alguns hábitos além do<br />
período escolar.<br />
A Antropologia apresenta que “os hábitos são importantes porque modificam o<br />
sujeito que os adquire, modulando sua natureza <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada maneira, fazendo-o <strong>de</strong> um<br />
<strong>de</strong>terminado modo” (STORK; ECHEVARRÍA, 2005, p. 103) e justificam a necessida<strong>de</strong> dos<br />
hábitos pela própria natureza humana, afinal, “o homem é um animal <strong>de</strong> costumes”:<br />
A repetição <strong>de</strong> atos se transforma em costume e o costume é como uma segunda<br />
natureza, uma continuação da natureza humana que permite a realização, o<br />
aperfeiçoamento do próprio homem. O homem é um animal <strong>de</strong> costumes, porque<br />
sua natureza se <strong>de</strong>senvolve mediante a aquisição <strong>de</strong> hábitos. (STORK;<br />
ECHEVARRÍA, 2005, p. 103)<br />
3.1.9 EDUCAÇÃO COMO BUSCA DE UM SENTIDO PARA VIDA OU DE UM<br />
PROJETO VITAL<br />
Em todos os autores personalistas percebeu-se a referência à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
estabelecer ou <strong>de</strong> orientar um “sentido para a vida”, ou um “projeto vital”, justificando que<br />
muitos dos problemas dos jovens e adultos <strong>de</strong> hoje dizem respeito a esta falta <strong>de</strong> sentido:<br />
Não se pergunta por uma utilida<strong>de</strong> material, mas pelo „sentido‟ da vida da pessoa,<br />
que é o que em última instância importa, tem esta multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagens<br />
<strong>de</strong>sconexas nos que se têm empregado tantas energias e tantos esforços <strong>de</strong><br />
64
professores e estudantes, e que têm provocado tantas preocupações nos pais.<br />
(HOZ, 1988, p. 56) 46<br />
Estes conceitos são comum nas obras personalistas e é possível, inclusive, i<strong>de</strong>ntificar<br />
seu autor, citado por Otero, como sendo Victor Frankl, que com exemplarida<strong>de</strong> resgata:<br />
Há um vazio espiritual; sinto-me sem apoio; tudo parece absurdo; o que me tem<br />
feito bem tem sido sempre ter que me ocupar <strong>de</strong> alguém; mas agora me encontro<br />
sozinha; quisera eu encontrar outra vez um sentido para a minha vida. (FRANKL,<br />
apud OTERO, 1990b, p. 57) 47<br />
As palavras <strong>de</strong> Frankl, inspiração para os autores personalistas pesquisados revela-se<br />
nas várias orientações para planejar e firmar objetivos concretos entre eles pelo menos um como<br />
principal e a longo prazo: o sentido para a vida. Aplicado à educação, os autores personalistas<br />
abordam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se ter objetivos, se possível com metas altas. Esse gran<strong>de</strong> objetivo, a<br />
busca por um sentido para a vida ou a elaboração <strong>de</strong> um projeto vital, <strong>de</strong>ve ser respaldado, ou<br />
construído sob pequenos objetivos, também chamados <strong>de</strong> metas com curto prazo <strong>de</strong> realização.<br />
Percebeu-se neste enfoque, um discurso bem diferente do que a socieda<strong>de</strong> imediatista prega, pois<br />
estes autores consi<strong>de</strong>ram que as gran<strong>de</strong>s vitórias não ocorrem <strong>de</strong> repente, mas com o primeiro<br />
passo seguido <strong>de</strong> pequenos passos, aliás, inúmeros e firmes passos em uma direção <strong>de</strong>terminada<br />
anteriormente, pois não se caminha sem rumo. Assim como Frankl apresenta esta superação das<br />
fraquezas, das <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s e das limitações ambientais e pessoais, percebeu-se a preocupação em<br />
46 No se pregunta por una utilidad material, sino por el „sentido‟ que para la vida <strong>de</strong> la persona, que es lo que en<br />
última instancia importa, tiene esta multitud <strong>de</strong> aprendizajes inconexos en los que se han empleado tantas energías y<br />
tantos esfuerzos <strong>de</strong> profesores y estudiantes, y que han provocado tantas preocupaciones en los padres. (HOZ, 1988,<br />
p. 56)<br />
47 Hay um vacío espiritual; me siento sin apoyo; todo me parece absurdo; lo que más bien me ha hecho siempre ha<br />
sido el tener que ocuparme <strong>de</strong> alguien; pero ahora me encuentro sola; yo quisiera hallar otra vez un sentido a mi vida.<br />
(FRANKL, apud OTEROS, 1990b, p. 57)<br />
65
superar para po<strong>de</strong>r atingir ou mesmo para continuar firme nos objetivos propostos, pois segundo<br />
a Antropologia Filosófica:<br />
[...] o homem sempre anda em busca do sentido, pois não cessa <strong>de</strong> se fazer<br />
perguntas e sua felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das respostas que obtenha. Perguntar-se é fazêlo<br />
pelo fim.; e o fim nos indica para on<strong>de</strong> <strong>de</strong>vemos dirigir nossa ação prática,<br />
nossa vida. Não se po<strong>de</strong> ficar quieto, conformar-se com ser. O <strong>de</strong>ver ser é uma<br />
exigência <strong>de</strong> todo o homem (ainda que a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> – <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Maquiavel – não o<br />
tenha assim compreendido). Essa é a resposta que a ética <strong>de</strong>ve oferecer. A<br />
antropologia precisa <strong>de</strong>la para se conhecer, mas da ética se exige o saber quem<br />
somos. No final das contas, os dois assuntos se unem. (STORK; ECHEVARRÍA,<br />
2005, p. 20)<br />
Analisando a palavra polissêmica “sentido”, dada pelos personalistas, chega-se à<br />
conclusão que tanto po<strong>de</strong> servir como indicação do rumo, da direção, da caminho, isto, é po<strong>de</strong><br />
adquirir um significado <strong>de</strong> processo e <strong>de</strong> presente, como po<strong>de</strong> servir para um significado mais a<br />
longo prazo e mais concreto, significando um alvo, um objetivo, uma meta futura.<br />
Assim como o Relatório Jacques Delors propõe a Educação por toda a vida, a<br />
educação personalista também consi<strong>de</strong>ra a melhora pessoal como um processo que rompe as<br />
barreiras do espaço e do tempo da escola: “A educação po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada como um processo<br />
ou seja, como uma mudança que se realiza através do tempo” (HOZ, apud OTERO, 1990a, p.<br />
28). 48 A proposta dos hábitos bons e do exercício com as virtu<strong>de</strong>s é justamente por consi<strong>de</strong>rar a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preparação para o futuro, no entanto com um “sentido”, um “norte”, uma “meta<br />
pessoal” ou um “projeto vital”.<br />
48 “La educación pue<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada como un proceso es <strong>de</strong>cir, como un cambio que se realiza a través <strong>de</strong>l<br />
tiempo” (HOZ, apud OTERO, 1990a, p. 28).<br />
66
4. PROPOSTAS GERAIS DA EDUCAÇÃO PERSONALISTA PARA O APRENDER A SER<br />
Após uma <strong>de</strong>talhada análise das publicações escolhidas, foram <strong>de</strong>tectadas propostas<br />
comuns em todos os autores. Percebeu-se, pela representativida<strong>de</strong>, que são como que<br />
características fundamentais para que a Educação seja consi<strong>de</strong>rada como personalista. Estas<br />
propostas não foram consi<strong>de</strong>radas neste trabalho como fundamentos ou características por não<br />
correspon<strong>de</strong>rem diretamente à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> pessoa (marcas, dimensão...), ou seja, não são<br />
colocadas como condições para a educação da pessoa. Optou-se por <strong>de</strong>fini-las como Propostas<br />
Gerais da Educação Personalista pelo fato <strong>de</strong> serem coinci<strong>de</strong>ntes ou semelhantes entre os autores<br />
personalistas.<br />
4.1. EDUCAÇÃO DA VONTADE<br />
Por consi<strong>de</strong>rarem a vonta<strong>de</strong> como algo inerente à pessoa humana, todos os<br />
personalistas propõem sua valorização, respeito, mas sob orientação, principalmente durante a<br />
fase escolar, isto porque percebeu-se nas falas dos autores o alerta <strong>de</strong> que não se po<strong>de</strong> confiar<br />
apenas na vonta<strong>de</strong>. Segundo suas argumentações os atos movidos pela vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da<br />
inteligência, e <strong>de</strong> como esta foi formada (para o bem, para a verda<strong>de</strong> ou não). Por isso, a<br />
“formação da inteligência”, citada por Cifuentes, é tão importante. Assim, constatou-se que para<br />
os personalistas a pessoa humana é um ser aberto, que po<strong>de</strong> querer qualquer coisa, mas a<br />
vonta<strong>de</strong> não surge pré-<strong>de</strong>terminada em direção a um bem ou outro, encontra-se aberta ao bem em<br />
geral, e é neste sentido que a educação <strong>de</strong>ve assumir o seu papel na orientação do educando.<br />
67
Na investigação, <strong>de</strong>tectou-se que Cifuentes foi quem mais abordou este assunto. Ele<br />
afirma que quando se tem uma visão integral da pessoa, compreen<strong>de</strong>-se suas “vonta<strong>de</strong>s”, e as<br />
conduz pelo caminho da responsabilida<strong>de</strong>, fazendo com que a escolha não privilegie o “fim”, mas<br />
observe os “meios” que serão utilizados para este “fim”. Cifuentes classifica este assunto como<br />
“formação da vonta<strong>de</strong>” <strong>de</strong>dicando inclusive um capítulo especial para este tema. Embora não se<br />
tenha penetrado neste capítulo <strong>de</strong> Cifuentes, preferindo permanecer apenas no capítulo sobre a<br />
“formação do caráter”, tem-se que suas principais consi<strong>de</strong>rações sobre a Educação da Vonta<strong>de</strong><br />
são:<br />
[...] mais virtuosa é a ação quando o amor da vonta<strong>de</strong> está unido ao querer do<br />
apetite sensível, especialmente quando este tem sido suscitado pela mesma<br />
vonta<strong>de</strong>. A razão ganha a docilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus súditos mediante um inteligente<br />
controle dos apetites, especialmente dispondo-os mediante uma virtuosa<br />
constância a firmar que segue o reto querer da vonta<strong>de</strong>. Mas em última instância,<br />
quando essa docilida<strong>de</strong> não se ganha, é a razão e a vonta<strong>de</strong> que têm <strong>de</strong> prevalecer.<br />
[...] À vonta<strong>de</strong>, com a ajuda do entendimento, cabe exercer um governo político,<br />
persuasivo ou <strong>de</strong> convencimento às tendências sensíveis do ser humano e a isto se<br />
<strong>de</strong>ve circunscrever: quando não as po<strong>de</strong> orientar para o bem <strong>de</strong>ve transcen<strong>de</strong>r,<br />
passar por cima <strong>de</strong>las. (CIFUENTES, 2000, p. 141-142) 49<br />
Segundo Cifuentes, o dinamismo das relações entre a vonta<strong>de</strong>, a inteligência e os<br />
apetites sensíveis formam os quatro principais pontos do caráter, resumidamente tem-se:<br />
O entendimento não po<strong>de</strong> mover eficientemente a vonta<strong>de</strong>, apenas limita-se a apresentar-<br />
lhe na forma <strong>de</strong> propostas ou sugestões.<br />
49 [...] más virtuosa la acción cuando al amor <strong>de</strong> la voluntad va unido el querer <strong>de</strong>l apetito sensible, especialmente<br />
cuando éste ha sido suscitado por la misma voluntad. La razón se gana la docilidad <strong>de</strong> sus súbditos mediante un<br />
inteligente control <strong>de</strong> los apetitos, especialmente disponiéndolos mediante una habituación virtuosa a secundar el<br />
recto querer <strong>de</strong> la voluntad. Pero en último término, cuando esa docilidad no se gana, son la razón y la voluntad<br />
quienes han <strong>de</strong> prevalecer. [...] La voluntad, con ayuda <strong>de</strong>l entendimiento, cabe ejercer un gobierno político,<br />
persuasivo o <strong>de</strong> convencimiento a las ten<strong>de</strong>ncias sensibles <strong>de</strong>l ser humano y a ello tiene que circunscribirse: cuando<br />
no las pue<strong>de</strong> orientar hacia el bien <strong>de</strong>be transcen<strong>de</strong>rlas, pasar por encima <strong>de</strong> ellas. (CIFUENTES, 2000, p. 141-142)<br />
68
As relações entre entendimento e a vonta<strong>de</strong> são assimétricas, pois a vonta<strong>de</strong> po<strong>de</strong> mover o<br />
entendimento, ou seja, po<strong>de</strong> or<strong>de</strong>nar-lhe que exercite ou pense sobre um <strong>de</strong>terminado<br />
assunto, ou proibi-lo.<br />
A vonta<strong>de</strong> po<strong>de</strong> mover o entendimento em seu exercício, po<strong>de</strong> mover também<br />
<strong>de</strong>spoticamente a outras potências, especialmente as motrizes, realizadas com<br />
movimentos do corpo.<br />
As tendências sensíveis são incapazes <strong>de</strong> mover à vonta<strong>de</strong>, ainda que possam <strong>de</strong> algum<br />
modo arrastá-la, incluso com uma sorte <strong>de</strong> violência concupiscente, em sua própria<br />
direção, mas não <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong>finitivo ou eficaz.<br />
A Educação da vonta<strong>de</strong> parece receber <strong>de</strong>staque para Cifuentes que coloca a vonta<strong>de</strong><br />
como ponto principal inclusive para a formação do caráter, e conseqüentemente para o “apren<strong>de</strong>r<br />
a ser”.<br />
[...] todas as forças vetoras do caráter concorrem para a vonta<strong>de</strong> e se centram na<br />
vonta<strong>de</strong>, e são apenas secundária e periféricas ao entendimento e à sensibilida<strong>de</strong>.<br />
É a vonta<strong>de</strong> que, por sua própria <strong>de</strong>cisão autônoma, <strong>de</strong>ixa-se mover pelo<br />
entendimento ou <strong>de</strong>ixa-se mover pelos sentimentos, ou por ambos quando há entre<br />
eles paz ou harmonia. (CIFUENTES, 2000, p. 142) 50<br />
50 [...] todas las fuerzas vectoras <strong>de</strong>l carácter concurren y se centran en la voluntad, y sólo sencundaria y<br />
periféricamente en el entendimiento y la sensibilidad. Es la voluntad la que, por su propia <strong>de</strong>cisión autónoma, o bien<br />
se <strong>de</strong>ja mover por el entendimiento o bien se <strong>de</strong>ja mover por los sentimientos, o por ambos cuando hay entre ellos<br />
concordia o armonia. (CIFUENTES, 2000, p. 142)<br />
69
4.2. EDUCAÇÃO DA LIBERDADE (para a liberda<strong>de</strong>, na liberda<strong>de</strong>)<br />
Detectou-se em todos os autores pesquisados uma gran<strong>de</strong> preocupação com a <strong>de</strong>fesa<br />
da liberda<strong>de</strong> humana e com a idéia <strong>de</strong> educar “na liberda<strong>de</strong>”. Quanto à utilização do termo<br />
“educação da liberda<strong>de</strong>” refere-se a toda a abordagem educativa que se volta para a prática da<br />
liberda<strong>de</strong>. Com HOZ (1988, p. 34) que apresenta que: “[...] a máxima expressão <strong>de</strong> autonomia, à<br />
que justamente faz referência sua significação etimológica, é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> governo <strong>de</strong> si<br />
mesmo, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser lei <strong>de</strong> si mesmo, a possessão e uso efetivo da liberda<strong>de</strong>.” 51<br />
Ao <strong>de</strong>finir a liberda<strong>de</strong>, HOZ (1988, p. 34) estabelece a diferença entre a “liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>” da “liberda<strong>de</strong> para”, conferindo a esta “um sentido positivo <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> auto-<br />
<strong>de</strong>terminar nossas ações, ou seja, <strong>de</strong> eleger em cada momento da ação ou modo <strong>de</strong> realizar que se<br />
consi<strong>de</strong>re melhor entre as distintas possibilida<strong>de</strong>s que a situação oferece” 52 . Quanto à “liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>” Hoz confere o sentido <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência ou ausência <strong>de</strong> coação referindo-se à ausência <strong>de</strong><br />
obstáculos que impe<strong>de</strong>m ou possam impedir uma ação e faz o alerta que a liberda<strong>de</strong> se faz<br />
fecunda quando o sujeito elige entre várias possibilida<strong>de</strong>s.<br />
A “educação na liberda<strong>de</strong>”, também chamada por Otero <strong>de</strong> “participação dirigida”, é<br />
a própria interação entre toda a comunida<strong>de</strong> escolar com a abertura da escola para a participação,<br />
a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e iniciativas dos alunos, sempre sob orientação do professor, em ativida<strong>de</strong>s<br />
51 “[...] la máxima expresión <strong>de</strong> la autonomía, a la que justamente hace referencia su significación etimológica, es la<br />
capacidad <strong>de</strong> gobierno <strong>de</strong> sí mismo, la capacidad <strong>de</strong> ser ley <strong>de</strong> sí mismo, la posesión y uso efectivo <strong>de</strong> la libertad.”<br />
(HOZ, 1988, p. 34)<br />
52 “un sentido positivo <strong>de</strong> capacidad, <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>terminar nuestras acciones, es <strong>de</strong>cir, <strong>de</strong> elegir en cada momento la<br />
obra o el modo <strong>de</strong> obrar que se consi<strong>de</strong>re mejor entre las distintas posibilida<strong>de</strong>s que la situación ofrece” (HOZ, 1988,<br />
p. 34)<br />
70
na sala <strong>de</strong> aula, ou do diretor, em ativida<strong>de</strong>s que envolvam toda a escola, através ações educativas<br />
próprias para que o educando aprenda a usar aquilo que possui, a liberda<strong>de</strong>.<br />
OTERO (1990a,p. 57-58) expressa o pensamento dos personalistas sobre a liberda<strong>de</strong><br />
ao afirmar que a liberda<strong>de</strong> se conquista exercendo-a no espaço humano, ou seja, no trabalho e na<br />
convivência e que não é apenas procurar o domínio <strong>de</strong> umas técnicas, mas <strong>de</strong> acostumar a<br />
executá-la, após o planejamento e fazendo ao final uma avaliação. Ressalta ainda que<br />
convivência humana – por ser uma relação humana – <strong>de</strong>veria ser baseada em atitu<strong>de</strong>s positivas,<br />
com espírito <strong>de</strong> serviço e <strong>de</strong> justiça e que o trabalho e as relações são meios e ocasiões <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento da própria liberda<strong>de</strong>. Assim a conquista da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> muito do modo<br />
<strong>de</strong> trabalhar e <strong>de</strong> se relacionar com os <strong>de</strong>mais.<br />
A “educação para a liberda<strong>de</strong>” é a proposta feita para o futuro. Todos os autores<br />
pesquisados unanimente alertam para a necessida<strong>de</strong> da educação da liberda<strong>de</strong> no cotidiano<br />
escolar, exercendo-a no espaço humano escolar, no trabalho e na convivência para que se aprenda<br />
a viver plenamente a liberda<strong>de</strong> “ganha” com a maiorida<strong>de</strong> (já que quando adulto torna-se<br />
responsável por si mesmo) ou para que goze com responsabilida<strong>de</strong> a sua liberda<strong>de</strong> sem<br />
confrontar com a liberda<strong>de</strong> alheia, sem atingir ou ferir outras pessoas. OTERO (1990a, p. 57)<br />
enten<strong>de</strong> a educação da liberda<strong>de</strong> também como “capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> soltura” e que “por se tratar <strong>de</strong><br />
uma liberda<strong>de</strong> em <strong>de</strong>senvolvimento – equivale à conquista da própria liberda<strong>de</strong>. Esta conquista é<br />
71
função do que se quer conseguir com ela. Apenas a partir do “para que” tem caráter positivo a<br />
conquista da liberda<strong>de</strong>.” 53<br />
É recorrente também em Hoz o termo “auto-governo” dos escolares é <strong>de</strong>stacada sua<br />
importância nas suas ações educativas porque para ele do eleger e do aceitar surge a iniciativa<br />
pessoal, que retira o aspecto <strong>de</strong> reação da vida humana e fortalece-a, pois:<br />
[...] a vida humana não é apenas reação. É, sobretudo, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ir<br />
<strong>de</strong>scobrindo, inventando possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que tanto se po<strong>de</strong>m<br />
manifestar na produção <strong>de</strong> coisas materiais como na concepção e realização <strong>de</strong> um<br />
estilo peculiar <strong>de</strong> vida que <strong>de</strong>ste modo virá a ser fruto da iniciativa pessoal. (HOZ,<br />
1988, p. 40) 54<br />
Os três juntos - a eleição, a aceitação e a iniciativa - são consi<strong>de</strong>rados pela educação<br />
personalista, como atos fundamentais da pessoa humana, cujo <strong>de</strong>senvolvimento com eficácia<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma ação educativa personalizada, ou seja, voltada para a reflexão e para a<br />
<strong>de</strong>liberação, classificados por Hoz como “atos imprescindíveis”. A liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> iniciativa, a<br />
liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> eleição e a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aceitação são claros objetivos da educação personalista<br />
aparecendo, inclusive, como diferenciais da educação tradicional, já que o alto grau <strong>de</strong><br />
participação e <strong>de</strong> iniciativa dos educandos é <strong>de</strong>staque nesta perspectiva:<br />
Quando em uma instituição escolar, as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> eleição e iniciativa dos<br />
alunos são suficientemente extensas como para constituir um entramado que influi<br />
na ativida<strong>de</strong> inteira da escola, então se po<strong>de</strong> falar em rigor da existência <strong>de</strong> uma<br />
53 “por tratar-se <strong>de</strong> una libertad en <strong>de</strong>sarrollo – equivale a la conquista <strong>de</strong> la propia libertad. Esta conquista es función<br />
<strong>de</strong> lo que se quiere conseguir con ella. Sólo a partir <strong>de</strong>l “para qué” tiene carácter positivo la conquista <strong>de</strong> la libertad.”<br />
OTERO (1990a, p. 57)<br />
54 [...] la vida humana no es sólo reacción. Es, sobre todo, capacidad <strong>de</strong> ir <strong>de</strong>scubriendo, inventando, posibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
actividad que tanto se pue<strong>de</strong>n manifestar en la producción <strong>de</strong> cosas materiales cuanto en la concepción y realización<br />
<strong>de</strong> un estilo peculiar <strong>de</strong> vida que <strong>de</strong> este modo vendrá a ser fruto <strong>de</strong> la iniciativa personal. (HOZ, 1988, p. 40)<br />
72
participação dos alunos no governo da instituição escolar. Esta participação é uma<br />
das típicas conquistas da educação personalizada. (HOZ, 1988, p. 40) 55<br />
Otero <strong>de</strong>dica alguns capítulos <strong>de</strong> seu livro “Educação e Manipulação” especialmente<br />
sobre a educação da liberda<strong>de</strong>, procurando mostrar que a liberda<strong>de</strong> exige aprendizado para não<br />
ser manipulada e para não manipular. Na ampla abordagem que faz, Otero consi<strong>de</strong>ra que a<br />
educação da liberda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser resumida em capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autodomínio e <strong>de</strong> serviço, visto que<br />
nestas duas capacida<strong>de</strong>s humanas estão incluídas a responsabilida<strong>de</strong> e a autonomia, exigências<br />
para a conquista das capacida<strong>de</strong>s anteriores. OTERO (1990a, p. 65) apresenta ainda a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se estabelecer uma relação <strong>de</strong> interno e externo, com a autonomia e com a<br />
responsabilida<strong>de</strong>, fala na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se abrir “zonas <strong>de</strong> autonomia” ou “áreas <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>”<br />
para que a colaboração aconteça:<br />
[...] é aquele âmbito no qual posso atuar segundo meu leal saber e enten<strong>de</strong>r,<br />
po<strong>de</strong>ndo eleger entre as distintas alternativas a que consi<strong>de</strong>ro mais a<strong>de</strong>quada para<br />
conseguir meu objetivo. Correspon<strong>de</strong> esta autonomia externa com a expressão „lar<br />
liberda<strong>de</strong>‟. A responsabilida<strong>de</strong> externa equivale a responsabilizar a alguém por<br />
algo. Ambas são necessárias, ao menos em certa medida, para educar a liberda<strong>de</strong>.<br />
Privar <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> autonomia é não <strong>de</strong>ixar aos filhos nenhuma<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixá-los prestar contas, por tanto, nenhuma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
opção em seu trabalho, em sua colaboração. (OTERO, 1990a, p. 65) 56<br />
O ambiente escolar personalista é um ambiente aberto, que propõe e estimula o<br />
exercício da liberda<strong>de</strong> em todas as ações educativas propostas, sempre sob orientação para se<br />
evitar abusos relativos a esta abertura.<br />
55 Cuando en una instituición escolar, las posibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> elección e iniciativa <strong>de</strong> los alumnos son suficientemente<br />
extensas como para constituir un entramado que influye en la actividad entera <strong>de</strong> la escuela, entonces se pue<strong>de</strong> hablar<br />
en rigor <strong>de</strong> la existencia <strong>de</strong> una participación <strong>de</strong> los alumnos en el gobierno <strong>de</strong> la institución escolar. Esta<br />
participación es uno <strong>de</strong> los típicos logros <strong>de</strong> la educación personalizada. (HOZ, 1988, p. 40)<br />
56 [...] es aquel ámbito en el que puedo actuar según mi leal saber y enten<strong>de</strong>r, pudiendo elegir entre las distintas<br />
alternativas la que consi<strong>de</strong>re más a<strong>de</strong>cuada para conseguir mi objetivo. Correspon<strong>de</strong> esta autonomía externa con la<br />
expresión „lar libertad‟. La responsabilidad externa equivale a responsabilizar a alguien por algo. Ambas son<br />
necesarias, al menos en cierta medida, para educar la libertad. Privar <strong>de</strong> responsabilidad y <strong>de</strong> autonomía es no<br />
<strong>de</strong>jarles a los hijos ninguna posibilidad <strong>de</strong> rendir cuentas ni <strong>de</strong>jarles, por tanto, ninguna posibilidad <strong>de</strong> opción en su<br />
trabajo, en su colaboración. (OTERO, 1990a, p. 65)<br />
73
Assim, tem-se que a educação “da liberda<strong>de</strong>” é, uma educação que tem como<br />
objetivo a própria liberda<strong>de</strong> através do exercício com a mesma. Este exercício é feito através <strong>de</strong><br />
estímulos em situações, planejadas ou não, <strong>de</strong> escolhas, <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e <strong>de</strong> enfrentamento das<br />
escolhas, o que conduz à responsabilida<strong>de</strong>, seja este enfrentamento a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aceitação<br />
dos fracassos, <strong>de</strong> arrependimento diante do mal uso da liberda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> correção <strong>de</strong> alguns dos<br />
efeitos <strong>de</strong> escolhas e <strong>de</strong>cisões pouco refletidas ou mesmo mal feitas.<br />
Otero também faz menção à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transcendência como capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser<br />
livre, lembrando e citando fundamentos da Antropologia Filosófica “Não somos liberda<strong>de</strong>, temos<br />
liberda<strong>de</strong>, e, ao mesmo tempo, uma essência permanente recebida <strong>de</strong> Deus” (OTERO, 1990a, p.<br />
68) 57 . Sem a intenção <strong>de</strong> aprofundar sobre este tema, conforme justificado, “a educação da fé, na<br />
fé e para fé” é outra proposta personalista, aliás, uma condição, para que a educação seja<br />
realmente “personalista”. A Religião é para a escola personalista pauta educativa, é exemplo pela<br />
atitu<strong>de</strong> dos professores, diretores e funcionários e é vivência da família. Procurando explicar o<br />
que só po<strong>de</strong> ser compreendido por quem tem fé, Otero faz referência às palavras <strong>de</strong> Leonardo<br />
Pólo, filósofo espanhol, “A liberda<strong>de</strong> é, em último caso, não a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> auto-fazer-se, mas<br />
<strong>de</strong> auto-transcen<strong>de</strong>r-se. E este auto-transcen<strong>de</strong>r-se apenas é possível quando se prefere ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
Deus a ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong> si” (PÓLO apud OTERO, 1990a, p. 69). 58<br />
57<br />
“no somos libertad, tenemos libertad, y, al mismo tiempo, una esencia permanente recibida <strong>de</strong> Dios” (OTEROS,<br />
1990a, p. 68)<br />
58<br />
“La libertad es, en último término, no ya la capacidad <strong>de</strong> autohacerse, sino <strong>de</strong> autotrascen<strong>de</strong>rse. Y este<br />
autotrascen<strong>de</strong>rse sólo es posible cuando uno prefiere ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Dios a ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sí” (PÓLO apud OTEROS, 1990a, p.<br />
69).<br />
74
4.3. EDUCAÇÃO E FAMÍLIA<br />
O conceito <strong>de</strong> educação como “melhora da pessoa” ou “melhora pessoal” parte da<br />
afirmativa primeira que a família é o âmbito natural da educação, sendo, portanto, o ambiente<br />
mais a<strong>de</strong>quado protagonista <strong>de</strong>sta “melhora pessoal”. Ficando, pois, que “Na educação dos filhos,<br />
como é sabido, a responsabilida<strong>de</strong> titular é dos pais; a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajuda é dos<br />
professores – colaboradores qualificados” (OTERO, 1990b, p. 15). 59<br />
Cifuentes também <strong>de</strong>staca a importância da família no processo educativo,<br />
principalmente no que tange o tema caráter, aliás caracterizando a família como responsável pela<br />
formação do caráter. Afirma que a ausência <strong>de</strong> caráter produz a ausência do valor familiar e vice-<br />
versa. “Diria que nos encontramos em um círculo vicioso, porque o valor da família, lugar <strong>de</strong><br />
formação do caráter, parece estar perdido precisamente pela falta <strong>de</strong> caráter <strong>de</strong> seus integrantes”<br />
(CIFUENTES, 2000, p. 129). 60 Assim, Cifuentes coloca a família como âmbito ou lugar <strong>de</strong><br />
formação do caráter, caracterizando esta como a primordial finalida<strong>de</strong> da família e consi<strong>de</strong>rando<br />
a incisivida<strong>de</strong> do entorno social na formação do caráter:<br />
[...] tal incisivida<strong>de</strong> não é fruto tanto do po<strong>de</strong>r dos meios condicionantes, mas do<br />
vazio do po<strong>de</strong>r criado com a dissolução da família e dos valores familiares<br />
(insistimos: fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, confiança e responsabilida<strong>de</strong>). São as famílias as<br />
responsáveis pelo fato <strong>de</strong> outros meios <strong>de</strong> influência terem ou não peso na<br />
formação do caráter dos cidadãos. (CIFUENTES, 2000, p. 128) 61<br />
59 “En la educación <strong>de</strong> los hijos, como es sabido, la responsabilidad titular es <strong>de</strong> los padres; la responsabilidad <strong>de</strong><br />
ayuda es <strong>de</strong> los profesores – colaboradores cualificados” (OTERO, 1990b, p. 15).<br />
60 “Se diria que nos encontramos en un círculo vicioso, porque el valor <strong>de</strong> la familia, lugar <strong>de</strong> formación <strong>de</strong>l carácter,<br />
parece haberse perdido precisamente por la falta <strong>de</strong> carácter <strong>de</strong> sus integrantes.” (CIFUENTES, 2000, p. 129).<br />
61 [...] tal incisividad no es fruto tanto <strong>de</strong>l po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> los medios condicionantes, sino <strong>de</strong>l vacío <strong>de</strong>l po<strong>de</strong>r creado con la<br />
disolución <strong>de</strong> la familia y los valores familiares (insistimos: fi<strong>de</strong>lidad, confianza y responsabilidad). Son las familias<br />
las responsables <strong>de</strong> que los otros medios <strong>de</strong> influencia tengan o no peso en la formación <strong>de</strong>l carácter <strong>de</strong> los<br />
ciudadanos. (CIFUENTES, 2000, p. 128)<br />
75
No capítulo específico sobre a aquisição <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s, Cifuente ressalta que em<br />
nenhum caso <strong>de</strong>ve marginar a família e utiliza consi<strong>de</strong>rações do Papa João Paulo II:<br />
[a família] tem um papel <strong>de</strong>cisivo na configuração das notas próprias do caráter,<br />
ao ponto <strong>de</strong> „a família... ser o âmbito on<strong>de</strong> a vida po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver-se segundo as<br />
exigências <strong>de</strong> um autêntico crescimento humano‟, pois „o papel da família na<br />
edificação da cultura da vida é <strong>de</strong>terminante e insubstituível‟. E se mencionam<br />
importantes virtu<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>vem e po<strong>de</strong>m adquirir-se na família: autêntica<br />
liberda<strong>de</strong>, entrega sincera <strong>de</strong> si, respeito ao outro, sentido <strong>de</strong> justiça, acolhida<br />
cordial, diálogo, serviço generoso, solidarieda<strong>de</strong> (<strong>de</strong>terminação firme <strong>de</strong><br />
empenhar-se pelo bem comum), atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong>, assistência e participação<br />
em direção aos fracos, aos necessitados e aos enfermos... (CIFUENTES, 2000, p.<br />
179) 62<br />
Hoz (1988, p. 77-78) ressalta o valor da família no <strong>de</strong>senvolvimento humano,<br />
consi<strong>de</strong>ra crucial suas participações e interferências na escola e propõe que a Associação <strong>de</strong> Pais<br />
e Mestres <strong>de</strong>ve somar-se à escola e à família, formando as três entida<strong>de</strong>s necessárias à<br />
comunida<strong>de</strong> educativa:<br />
Assim, os filhos-alunos estão na escola e na família; os pais estão na família e na<br />
associação <strong>de</strong> pais e mestres; os mestres estão na escola e na associação<br />
mencionada. Nesta situação, à parte das relações institucionais que possam ter<br />
entre si as entida<strong>de</strong>s escola-família-associação, há entre elas uma comunicação<br />
vital contínua, porque os membros vivem constantemente implicados em duas<br />
entida<strong>de</strong>s distintas. Po<strong>de</strong>m influir-se mutuamente <strong>de</strong> um modo continuado, sem<br />
interferências, cada um <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua peculiar situação. (HOZ, 1988, p. 77-78) 63<br />
62 [la familia] tiene un papel <strong>de</strong>cisivo en la configuracíon <strong>de</strong> las notas propias <strong>de</strong>l carácter, al punto <strong>de</strong> que „la<br />
familia... es el ámbito don<strong>de</strong> la vida pue<strong>de</strong> <strong>de</strong>sarrollarse según las exigencias <strong>de</strong> un auténtico crecimiento humano‟,<br />
pues „el papel <strong>de</strong> la familia en la edificación <strong>de</strong> la cultura <strong>de</strong> la vida es <strong>de</strong>terminante e insustituible‟. Y se mencionan<br />
importantes virtu<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>ben y pue<strong>de</strong>n adquirirse en la familia: auténtica libertad, entrega sincera <strong>de</strong> sí respecto<br />
<strong>de</strong>l otro, sentido <strong>de</strong> la justicia, acogida cordial, diálogo, servicio generoso, solidaridad (<strong>de</strong>terminación firme <strong>de</strong><br />
empeñarse por el bien común), actitud <strong>de</strong> cercanía, asistencia y participación hacia los débiles, necesitados o<br />
enfermos... (CIFUENTES, 2000, p. 179)<br />
63 Así los hijos-alumnos están en la escuela y en la familia; los padres están en la familia y en la asociación padresmaestros;<br />
los maestros están en la escuela y en la asociación mencionada. En esta situación, aparte da las relaciones<br />
institucionales que puedan tener entre sí las entida<strong>de</strong>s escuela-familia-asociación, hay entre ellas una comunicación<br />
vital continua, porque miembros viven constantemente implicados en dos entida<strong>de</strong>s distintas. Pue<strong>de</strong>n influirse<br />
mutuamente <strong>de</strong> un modo continuado, sin interferencias, cada uno <strong>de</strong>s<strong>de</strong> su peculiar situación. (HOZ, 1988, p. 77-78)<br />
76
5. PROPOSTA DE CARLOS LLANO CIFUENTES: FORMAÇÃO DA INTELIGÊNCIA, DA<br />
VONTADE E DO CARÁTER<br />
Por ser o mais filosófico entre os três autores pesquisados, percebemos que Cifuentes também foi<br />
quem mais fez referência à Antropologia Filosófica. “A formação não é um processo técnico, não<br />
se fundamenta numa psicologia barata ou em um pragmatismo <strong>de</strong> via estreita. A formação do<br />
homem ou é - evi<strong>de</strong>ntemente – um problema da antropologia filosófica ou não é mais do que um<br />
sucedâneo <strong>de</strong> feria” (CIFUENTES, 2000, p. 7). 64<br />
Cifuentes trabalha com a idéia <strong>de</strong> “formação da pessoa” e tem como principal<br />
argumentação que “A formação não po<strong>de</strong> praticar-se sobre o ser humano diretamente mas sobre<br />
suas faculda<strong>de</strong>s básicas” (CIFUENTES, 2000, p. 8). 65<br />
Assim, em seu livro “Formação <strong>de</strong> la inteligência, la voluntad y el carácter” apresenta que a<br />
formação da pessoa não é apenas a soma da formação da inteligência + formação da vonta<strong>de</strong> + a<br />
formação do caráter, “A formação da pessoa, portanto, converte-se na formação da inteligência,<br />
da vonta<strong>de</strong> e das relações <strong>de</strong>stas com os sentimentos” (CIFUENTES, 2000, p. 5). 66<br />
[...] O empenho da forja do caráter em relação ao sentimentalismo há <strong>de</strong> seguir um<br />
roteiro mais claro: que a vonta<strong>de</strong> se acostume a atuar <strong>de</strong> acordo com os juízos da<br />
inteligência e que a inteligência se habitue a consi<strong>de</strong>rar as coisas – planos,<br />
projetos e ações concretas – com visão objetiva do que somos e <strong>de</strong>vemos ser. Uma<br />
boa parte das técnicas, conselhos ou receitas psicológicas tratam <strong>de</strong> suprir a falta<br />
64<br />
“La formación no es un proceso técnico, no se funda en una psicología barata o en un pragmatismo <strong>de</strong> vía<br />
estrecha. La formación <strong>de</strong>l hombre o es- evi<strong>de</strong>ntemente – un problema <strong>de</strong> la antropología filosófica o no es más que<br />
sucedáneo <strong>de</strong> feria” (CIFUENTES, 2000, p. 7).<br />
65<br />
“la formación no pue<strong>de</strong> praticarse sobre el ser humano directamente sino sobre sus faculta<strong>de</strong>s básicas”<br />
(CIFUENTES, 2000, p. 8).<br />
66<br />
“la formación <strong>de</strong> la persona, pues, se convierte en la formación <strong>de</strong> la inteligencia, la voluntad y la relación <strong>de</strong> estas<br />
con los sentimientos” (CIFUENTES, 2000, p. 5).<br />
77
<strong>de</strong>stes, dos hábitos humanos: o <strong>de</strong> pensar bem e o <strong>de</strong> querer o pensado<br />
(CIFUENTES, 2000, p. 119). 67<br />
Encontrou-se em Cifuentes características <strong>de</strong> divulgador da educação como harmonia<br />
das faculda<strong>de</strong>s básicas, já que explica que a harmonia humana ou o que chama <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> ou<br />
bom governo <strong>de</strong> si mesmo, se conquista colocando o sentimento no lugar que lhe correspon<strong>de</strong>:<br />
5.1. A FORMAÇÃO DO CARÁTER<br />
Este domínio dos sentimentos é o traço mais importante do caráter, da<br />
personalida<strong>de</strong>. Apenas quem atua seguindo a razão – sem racionalizações – tem<br />
objetivida<strong>de</strong> e sentido panorâmico da vida (“alma é o horizonte e a distância”,<br />
disse Machado). Os sentimentos são subjetivos, pontuais, cegos, caprichosos. O<br />
mais difícil <strong>de</strong> vencer são os sentimentos porque, <strong>de</strong>pois da vonta<strong>de</strong>, é o mais<br />
intimamente nosso, ao ponto <strong>de</strong> haver uma natural resistência à manifestá-los com<br />
impudícia. (CIFUENTES, 2000 p. 121) 68<br />
Ao tratar da formação do caráter, interessante seu alerta para as três formas <strong>de</strong> ser:<br />
racionalismo, on<strong>de</strong> a razão predomina sobre os <strong>de</strong>mais aspectos do homem; voluntarismo, on<strong>de</strong><br />
se aposta todas as cartas da existência na força da vonta<strong>de</strong>; e o sentimentalismo, que <strong>de</strong>monstra a<br />
falta <strong>de</strong> caráter por <strong>de</strong>ixar a parte inferior, aspecto sensível do homem, predominar sobre as<br />
67 [...] el empeño <strong>de</strong> la forja <strong>de</strong>l carácter en relación con el sentimentalismo ha <strong>de</strong> seguir un <strong>de</strong>rrotero más claro: que<br />
la voluntad se acostumbre a actuar <strong>de</strong> acuerdo con los juicios <strong>de</strong> la inteligencia y que la inteligencia se habitúe a<br />
consi<strong>de</strong>rar las cosas – planes, proyectos y acciones concretas – con visión objetiva <strong>de</strong> lo que somos y <strong>de</strong>bemos ser.<br />
Una buena parte <strong>de</strong> las técnicas, consejos o recetas psicológicas tratan <strong>de</strong> suplir la falta <strong>de</strong> estos dos hábitos<br />
humanos: el <strong>de</strong> pensar bien y el <strong>de</strong> querer lo pensado (CIFUENTES, 2000, p. 119).<br />
68 Este dominio <strong>de</strong> los sentimientos es el trazo más importante <strong>de</strong>l carácter, <strong>de</strong> la personalidad. Sólo quien actúa<br />
siguiendo a la razón – sin racionalizaciones – tiene objetividad y sentido panorámico <strong>de</strong> la vida (“el ama es horizonte<br />
y distancia”, dijo Machado). Los sentimientos son subjetivos, puntiformes, ciegos, caprichosos. Lo más difícil <strong>de</strong><br />
vencer son los sentimientos porque, <strong>de</strong>spués <strong>de</strong> la voluntad, son lo más íntimamente nuestro, al punto <strong>de</strong> que hay una<br />
natural resistencia a manifestarlos con impudicia. (CIFUENTES, 2000 p. 121)<br />
78
faculda<strong>de</strong>s superiores (a inteligência e a vonta<strong>de</strong>), que distinguem o homem <strong>de</strong> animal. Estas<br />
três formas são consi<strong>de</strong>radas por Cifuentes como <strong>de</strong>formações unilaterais do caráter, e percebeu-<br />
se que este problema inicia-se no âmbito dos sentimentos e na influência.<br />
Por sua parte, a formação do caráter é, <strong>de</strong> certa forma, a conjugação <strong>de</strong> uma<br />
inteligência clara e <strong>de</strong> uma vonta<strong>de</strong> firme ante a escorregadia e assistemática<br />
sensibilida<strong>de</strong> (ou sentimentalismo). Não se <strong>de</strong>ve seguir cegamente os sentimentos,<br />
não utilizá-los <strong>de</strong> forma errada, mas encaminhá-los para o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> melhora –<br />
melhora não da sensibilida<strong>de</strong> ou sentimentalida<strong>de</strong>, mas do homem -, do homem<br />
que sente, que enten<strong>de</strong> e que quer. O caráter é a harmônica inter-relação <strong>de</strong>stas<br />
três dimensões que se encontram no ser humano para que se chegue a ser<br />
realmente tal, não para que se faça mais pequeno (pensar superficial, querer<br />
inconstante, sentir indômito) ou monstruoso (sensibilida<strong>de</strong> hipertrofiada,<br />
inteligência chata e vonta<strong>de</strong> improce<strong>de</strong>nte; ou inteligência profunda mais<br />
sensibilida<strong>de</strong> dormida e vonta<strong>de</strong> inepta; ou vonta<strong>de</strong> férrea, sensibilida<strong>de</strong><br />
endurecida e inteligência unívoca). (CIFUENTES, 2000, p. 7) 69<br />
Importante alerta, Cifuentes também faz ao dizer que não é questão <strong>de</strong> negar os<br />
sentimentos como na Filosofia Oriental, pois posiciona-se diferente <strong>de</strong>les, mas que <strong>de</strong>vem ser<br />
cultivados. Ressalta e justifica que este “bom governo <strong>de</strong> si mesmo” tem origem na Filosofia<br />
Clássica <strong>de</strong> Aristóteles e Filosofia Cristã e dá exemplos concretos do modo <strong>de</strong> conduta sugerido:<br />
Na filosofia oriental se persegue não ter sentimentos (estado <strong>de</strong> nirvana que<br />
equivale ao que os gregos <strong>de</strong>nominavam ataraxia, ou imperturbalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ânimo).<br />
Na filosofia aristotélica, mais realista, e na filosofia moral cristã não se persegue<br />
ilusoriamente o apaziguamento dos estados <strong>de</strong> ânimo, mas o atuar por cima <strong>de</strong>les,<br />
impregná-los <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> para que operem a nosso favor; mas insistimos que<br />
apenas o atuar, não o sentir, encontra-se diretamente em nossas mãos. Se nos pe<strong>de</strong><br />
assim, por exemplo, que na tribulação nos comportemos como se estivéssemos<br />
69 Por su parte, la formación <strong>de</strong>l carácter es, en cierto modo, la conjugación <strong>de</strong> una inteligencia clara y <strong>de</strong> una<br />
voluntad firme ante la escurridiza y asistemática sensibilidad (o sentimentalismo). No han <strong>de</strong> seguirse ciegamente los<br />
sentimientos, no machacarlos <strong>de</strong> mala manera, sino encauzarlos hacia el i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> mejora – mejora no <strong>de</strong> la<br />
sensibilidad o sentimentalidad sino <strong>de</strong>l hombre -, <strong>de</strong>l hombre que siente, que entien<strong>de</strong> y que quiere. El carácter es la<br />
armónica interrelación <strong>de</strong> estas tres dimensiones que se encuentran en el ser humano para que llegue a ser realmente<br />
tal, no para que se haga más pequeño (pensar superficial, querer inconstante, sentir indómito) o monstruoso<br />
(sensibilidad hipertrofiada, inteligencia chata y voluntad en<strong>de</strong>ble; o bien inteligencia profunda pero sensibilidad<br />
dormida y voluntad inepta; o bien voluntad férrea, sensibilidad endurecida e inteligencia unívoca). (CIFUENTES,<br />
2000, p. 7)<br />
79
alegres, ainda estando atribulados. A este modo <strong>de</strong> conduta chamamos têmpera,<br />
ou ponto <strong>de</strong> dureza e flexibilida<strong>de</strong> que adquirem os bons metais. (CIFUENTES,<br />
2000, p. 120) 70<br />
Cifuentes faz consi<strong>de</strong>rações do caráter admitindo e elencando seis pontos chaves para<br />
a formação do caráter: caráter como autodomínio; caráter como harmonia; caráter como<br />
domínio, orientação, resistência ou luta; caráter como <strong>de</strong>sprendimento; caráter como possessão <strong>de</strong><br />
virtu<strong>de</strong>s; caráter como aquisição <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s<br />
5.1.1. AUTODOMÍNIO<br />
O domínio das tendências é o mesmo que autodomínio, ou seja, o senhorio <strong>de</strong> si<br />
mesmo diante das tendências, estas e outras que possam surgir, que forma segundo Cifuentes a<br />
parte nuclear ou central do caráter:<br />
Po<strong>de</strong> afirmar que o domínio do medo <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r a vida, o domínio da tendência ao<br />
prazer da comida e da bebida, o domínio da tendência ao prazer sexual e o<br />
domínio da tendência à manifestação <strong>de</strong> raiva constituem quatro formas<br />
elementares ou básicas <strong>de</strong> domínio que preparam ao homem para o senhorio sobre<br />
qualquer outra eventual tendência. Se está formando assim a parte nuclear ou<br />
central do caráter. Isto, repetimos, porque em tais casos, paradigmaticamente, não<br />
se trata <strong>de</strong> império ou senhorio sobre tendências <strong>de</strong>terminadas, império ou<br />
senhorio que criaria hábitos também <strong>de</strong>terminados, mas que a mesma intensida<strong>de</strong><br />
das tendências influi e se interpenetra <strong>de</strong> tal maneira no sujeito que o faz pa<strong>de</strong>cer,<br />
que sua orientação, mando, império, domínio, ou transcendência se convertem em<br />
atos perfeitamente reflexivos. Não é que o homem domine <strong>de</strong> forma transitiva<br />
<strong>de</strong>terminadas tendências específicas, mas que é o homem mesmo quem se domina<br />
70 En la filosofía oriental se persigue no tener sentimientos (estado <strong>de</strong> nirvana que equivale a lo que los griegos<br />
<strong>de</strong>nominaban ataraxia, o imperturbalidad vale a lo que los griegos <strong>de</strong>nominaban ataraxia o imperturbalidad <strong>de</strong><br />
ánimo). En la filosofía aristotélica, más realista, y en la filosofía moral cristiana no se persigue ilusoriamente el<br />
apaciguamiento <strong>de</strong> los estados <strong>de</strong> ánimo, sino el actuar por encima <strong>de</strong> ellos, impregnar-los <strong>de</strong> racionalidad para que<br />
operen a nuestro favor; pero insistimos que sólo el actuar, no el sentir, se encuentra directamente en nuestras manos.<br />
Se nos pi<strong>de</strong> así, por ejemplo, que en la tribulación nos comportemos como si estuviéramos alegres, aun estando<br />
atribulados. A este modo <strong>de</strong> conducta le llamamos temple, o punto <strong>de</strong> dureza y flexibilidad que adquieren los buenos<br />
metales. (CIFUENTES, 2000, p. 120)<br />
80
ante elas, habituando-se assim, <strong>de</strong> maneira privilegiada, para qualquer outra sorte<br />
<strong>de</strong> domínio. (CIFUENTES, 2000, p. 137) 71<br />
Também aparecem consi<strong>de</strong>rações sobre a possibilida<strong>de</strong> e necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> domínio das<br />
tendências não intelectuais e volitivas. Entre os “impulsos” cuja dominação é <strong>de</strong>cisiva para<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar o próprio senhorio, tem-se: o medo da morte, a tendência ao prazer <strong>de</strong> comer e <strong>de</strong><br />
beber, a tendência ao prazer sexual, a tendência a manifestação <strong>de</strong> raiva. Observou-se que cada<br />
domínio citado tem conseqüência positiva para outras atitu<strong>de</strong>s, e por isso procurou-se <strong>de</strong>stacar<br />
que entre eles o domínio do medo em sua expressão máxima é o medo da morte e que, se<br />
dominado, reveste a pessoa <strong>de</strong> uma coragem para o senhorio <strong>de</strong> si ante qualquer outro<br />
sentimento, que dificilmente po<strong>de</strong>rá alcançar o vigor da coragem: “Quem é capaz <strong>de</strong> dominar o<br />
temor da morte adquire a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dominar qualquer outro sentimento” (CIFUENTES,<br />
2000, p. 132). 72<br />
Quanto ao domínio da tendência ao prazer <strong>de</strong> comer e <strong>de</strong> beber, Cifuentes alerta que<br />
não consiste em suprimir a tendência aos prazeres nem cancelar o prazer, mas não <strong>de</strong>ixar-se<br />
arrastar pelo apetite. É buscar manter nossa própria condição espiritual humana e também é um<br />
exercício que nos prepara também para qualquer outra sorte <strong>de</strong> senhorio.<br />
71 Pue<strong>de</strong> afirmarse ya que el dominio Del miedo a per<strong>de</strong>r la vida, el dominio <strong>de</strong> la ten<strong>de</strong>ncia al placer <strong>de</strong> la comida y<br />
la bebida, el dominio <strong>de</strong> la ten<strong>de</strong>ncia al placer sexual u el dominio <strong>de</strong> la ten<strong>de</strong>ncia a la manifestación <strong>de</strong>l enojo<br />
constituyen cuatro formas elementales o básicas <strong>de</strong> dominio que preparan al hombre para el señorio sobre cualquier<br />
otra eventual ten<strong>de</strong>ncia. Se esta formando así la parte nuclear o central <strong>de</strong>l carácter. Ello, repetimos, porque en tales<br />
casos, paradigmáticamente, no se trata <strong>de</strong> in imperio o señorio sobre ten<strong>de</strong>ncias <strong>de</strong>terminadas, imperio o señorio que<br />
crearía hábitos también <strong>de</strong>terminados, sino que la misma intensidad <strong>de</strong> las ten<strong>de</strong>ncias influye y se interpenetra <strong>de</strong> tal<br />
manera en el sujeto que la pa<strong>de</strong>ce, que su orientación, mando, imperio, dominio, o trascen<strong>de</strong>ncia se convierten en<br />
actos perfectamente reflexivos. No es que el hombre domine transitivamente <strong>de</strong>terminadas ten<strong>de</strong>ncias específicas,<br />
sino que es el hombre mismo quien se domina ante ellas, habituándose así, <strong>de</strong> manera privilegiada, para cualquier<br />
otra suerte <strong>de</strong> dominio. (CIFUENTES, 2000, p. 137)<br />
72 “Quién es capaz <strong>de</strong> dominar el temor a la muerte há adquirido la capacidad <strong>de</strong> dominar cualquier otro sentimiento”<br />
(CIFUENTES, 2000, p. 132).<br />
81
Embora o domínio da tendência ao prazer sexual não tenha nas palavras <strong>de</strong> Cifuentes<br />
o enfoque educacional, pois direciona-se mais a cônjuges, o aprendizado sobre o assunto é<br />
pertinente a nós educadores para que possamos esclarecer sobre o tema do “relacionamento<br />
sexual”, quando necessário. Cifuentes apresenta que o domínio <strong>de</strong>sta tendência é não esgotar o<br />
amor carnal em si mesmo, ou seja, não se <strong>de</strong>ixar coisificar colocando o prazer na sua altura ou<br />
<strong>de</strong>ixando-se ser arrastado por ele sem conservar o senhorio sobre si. O autor explica que não<br />
afogar o amor espiritual, que como pessoas se tem e se possuem a si mesmas:<br />
A união corporal do homem e da mulher tem um claro sentido racional que nunca<br />
<strong>de</strong>ve per<strong>de</strong>r-se. Por um lado, é a expressão material <strong>de</strong> um amor espiritual e<br />
pessoal que reveste a mesma força, intimida<strong>de</strong>, totalida<strong>de</strong> e profundida<strong>de</strong> que o<br />
amor carnal materializado nessa união corporal. (CIFUENTES, 2000, p. 134) 73<br />
Ao tratar do domínio da tendência percebeu-se a aversão à tendência <strong>de</strong> tratar as<br />
pessoas como coisa, posição unânime entre os personalistas. Cifuentes explica que apesar <strong>de</strong> não<br />
po<strong>de</strong>mos reprimir o sentimento <strong>de</strong> irritação, po<strong>de</strong>mos dominá-lo, justamente para não coisificar o<br />
outro ainda mais se o outro, não tiver culpa da irritação. Mas também ressalta que alguns tipos<br />
<strong>de</strong> irritações como <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> cansaço e on<strong>de</strong> a relação é mais estreita são consi<strong>de</strong>radas<br />
comuns.<br />
Este exercício do auto-domínio po<strong>de</strong> facilmente ser incluído na escola a<strong>de</strong>quando à ida<strong>de</strong>.<br />
Como incentivar a comer e fazer coisas que não gosta, combinar <strong>de</strong> guardar coisas, tentar não<br />
beber água ou comer <strong>de</strong>mais... coisas simples, mas que não incentivam fazer o que dá prazer, mas<br />
o que é custoso.<br />
73 La unión corporal <strong>de</strong>l hombre y la mujer tiene un claro sentido racional que nunca <strong>de</strong>be per<strong>de</strong>rse. Por un lado, es la<br />
expresión material <strong>de</strong> un amor espiritual y personal que reviste la misma fuerza, intimidad, totalidad y profundidad<br />
que el amor carnal materializado en esa unión corporal. (CIFUENTES, 2000, p. 134)<br />
82
5.1.2. HARMONIA<br />
A formação do caráter também é vista como recuperação da natural harmonia<br />
perdida, ou busca do estado <strong>de</strong> paz, estado <strong>de</strong> espírito ou <strong>de</strong> harmonia da alma. A harmonia é a<br />
conquista do completo paralelismo <strong>de</strong> todas as forças e tendências humanas.<br />
Cifuentes apresenta três estados da alma: o estado <strong>de</strong> paz, é quando o apetite sensível<br />
(sentimento) ten<strong>de</strong>m vivamente junto com a vonta<strong>de</strong>, até o mesmo objeto; o estado <strong>de</strong> ari<strong>de</strong>z, é<br />
quando o apetite sensível não se move senão com dificulda<strong>de</strong> até o bem que ten<strong>de</strong> a vonta<strong>de</strong>; e o<br />
estado <strong>de</strong> conflito interior ou <strong>de</strong>sassossego, inquietu<strong>de</strong> ou angústia, que é quando o apetite<br />
sensível ten<strong>de</strong> a um objeto incompatível ou contrário com o que lhe correspon<strong>de</strong> a tendência da<br />
vonta<strong>de</strong>.<br />
Segundo a apresentação <strong>de</strong> Cifuentes, muitas das agitações dos alunos po<strong>de</strong>m ser<br />
conflitos ou <strong>de</strong>sassossegos interiores. É preciso investigá-los orientá-los ao estado <strong>de</strong> paz para<br />
que possam ter, ou voltar a ter, o domínio <strong>de</strong> si.<br />
5.1.3. DOMÍNIO, ORIENTAÇÃO, RESISTÊNCIA OU LUTA<br />
Aristóteles apresenta que a verda<strong>de</strong>ira paz da alma é a possessão do bem, que se<br />
encontra fora <strong>de</strong> si mesmo e que po<strong>de</strong> somar-se a esta paz interior, quando os sentimentos unem-<br />
se às tendências da vonta<strong>de</strong> e se combinam com elas. Cifuentes chama também <strong>de</strong> sentido <strong>de</strong><br />
luta, <strong>de</strong> resistência ou combate.<br />
83
A instituição aristotélica parece ser paradoxal no sentido <strong>de</strong> que a verda<strong>de</strong>ira paz<br />
da alma se conquista quando a vonta<strong>de</strong> ten<strong>de</strong> ao bem, ainda que os apetites<br />
sensíveis contradigam esta tendência; e mais paradoxal ainda a intuição <strong>de</strong> que<br />
essa paz é mais válida e mais alta não quando empata ou concorda com os afetos<br />
sensíveis, mas inclusive quando se alcança com eles em contra. O domínio dos<br />
afetos sensíveis, como já foi dito, quando é requerido para a conquista do bem,<br />
não implica cancelamento ou apaziguamento, mas estreita e rigorosa supremacia e<br />
prepon<strong>de</strong>rância. Por esta causa, a antinomia entre o bem volitivamente <strong>de</strong>sejado e<br />
o bem <strong>de</strong>sejado sensivelmente não <strong>de</strong>ve receber o qualificativo <strong>de</strong> conflito<br />
interior, <strong>de</strong>sassossego, inquietu<strong>de</strong> ou angústia, mas <strong>de</strong> luta. O caráter do homem<br />
se forja não na harmonia, mas no combate. (CIFUENTES, 2000 p. 140) 74<br />
Esta paz entendida como harmonia é o equilíbrio entre as apetências intelectuais ou<br />
sensíveis do homem, mas difere do conceito <strong>de</strong> sabedoria dado por Aristóteles. Esta harmonia<br />
po<strong>de</strong> ser um dom natural, po<strong>de</strong> também ser conseguida com uma técnica psicológica específica,<br />
mas po<strong>de</strong> ser cultivada com a prepon<strong>de</strong>rância da vonta<strong>de</strong> sobre os afetos sensíveis, mas ressalta<br />
que “não consiste em que os sentimentos <strong>de</strong>sapareçam, mas que não prevaleçam. As paixões são<br />
importantíssimas, mas se seguem seu próprio rumo, <strong>de</strong>stroem o indivíduo. Sem paixão não<br />
haveria aventura, empresa, poesia....” (CIFUENTES, 2000, p. 140-141). 75<br />
5.1.4. DESPRENDIMENTO<br />
Ao tratar do caráter como <strong>de</strong>sprendimento, Cifuentes ressalta o aspecto <strong>de</strong> que o<br />
caráter além da possessão <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> atributos, naturais ou adquiridos, que constituem o<br />
74 La instituición aristotélica parece ser paradójica en el sentido <strong>de</strong> que la verda<strong>de</strong>ra paz <strong>de</strong>l alma se logra cuando la<br />
voluntad tien<strong>de</strong> al bien, aunque los apetitos sensibles contradigan esta ten<strong>de</strong>ncia; y más paradójica aún la intuición <strong>de</strong><br />
que esa paz es más vale<strong>de</strong>ra y más alta no cuando empata o concuerda con los afectos sensibles sino incluso cuando<br />
se logra en contra <strong>de</strong> ellos. El dominio <strong>de</strong> los afectos sensibles, como ya se dijo, cuando es requerido para el logro<br />
<strong>de</strong>l bien, no implica cancelación o apaciguamiento, sino estricta y rigurosa supremacía y prepon<strong>de</strong>rancia. Por esta<br />
causa, la antinomia entre el bien volitivamente apetecido y el bien apetecido sensiblemente no <strong>de</strong>be recibir el<br />
calificativo <strong>de</strong> conflicto interior, <strong>de</strong>sasosiego, inquietud o angustia, sino <strong>de</strong> lucha. El carácter <strong>de</strong>l hombre se fragua<br />
no en la armonía, sino en el combate. (CIFUENTES, 2000 p. 140)<br />
75 “no consiste en que los sentimientos <strong>de</strong>saparezcan, sino en que no prevalezcan. Las pasiones son importantísimas,<br />
pero si siguen su propio rumbo <strong>de</strong>struyen al individuo. Sin pasión no habría aventura, empresa, poesía.<br />
(CIFUENTES, 2000, p. 140-141)<br />
84
modo <strong>de</strong> ser e a personalida<strong>de</strong>, constrói-se também pela atitu<strong>de</strong> que adotamos frente a eles. Como<br />
exemplo explica:<br />
[...] uma pessoa se encontra naturalmente dotada <strong>de</strong> simpatia [...] partindo <strong>de</strong>ssa<br />
simpatia natural o indivíduo que goza <strong>de</strong>la po<strong>de</strong> adotar uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviço,<br />
utilizando este dom natural para fazer o bem às pessoas frente as quais aparece<br />
simpático[...] Mas, em sentido contrário, a pessoa dotada <strong>de</strong> simpatia po<strong>de</strong> usar<br />
<strong>de</strong>la para seus fins egoístas, buscando a própria atração e vanglória(CIFUENTES,<br />
2000, p. 143). 76<br />
O <strong>de</strong>sprendimento é apresentado como a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapego e <strong>de</strong> isenção como a<br />
melhor maneira <strong>de</strong> adquirir, manter e <strong>de</strong>senvolver os dons ou atributos próprios:<br />
[...] os bens <strong>de</strong> mais fácil <strong>de</strong>sprendimento são aqueles cujo <strong>de</strong>sprendimento é<br />
menos importante para a aquisição do domínio <strong>de</strong> si e do caráter; e, ao contrário,<br />
a categoria <strong>de</strong> bens cujo <strong>de</strong>sprendimento contém um maior nível <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> é<br />
aquela precisamente cujo <strong>de</strong>sprendimento é mais <strong>de</strong>cisivo na formação do caráter.<br />
Tradicionalmente se estabeleceu a seguinte escala <strong>de</strong> bens: temporais, naturais,<br />
sensuais e morais. (CIFUENTES, 2000, p. 147). 77<br />
Os bens temporais são as riquezas, as posições, os ofícios, os títulos e os filhos. Se<br />
chamam temporais porque não têm permanência. Sua duração é geralmente mais curta que a<br />
biológica do indivíduo que os possui e porque sua caducida<strong>de</strong> é patente. “O erro caracterológico<br />
<strong>de</strong> supeditar, em lugar <strong>de</strong> ter uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprendimento, diante dos bens temporais, provém<br />
<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar o caduco como se fosse permanente” (CIFUENTES, 2000, p. 146). 78<br />
76 [...] una persona se encuentra naturalmente dotada <strong>de</strong> simpatía [...] partiendo <strong>de</strong> esa simpatía natural el individuo<br />
que goza <strong>de</strong> ella pue<strong>de</strong> adoptar una actitud <strong>de</strong> servicio, utilizando este don natural para hacer el bien <strong>de</strong> las personas<br />
ante las que resulta simpático [...] Pero, en sentido contrario, la persona dotada <strong>de</strong> simpatía pue<strong>de</strong> usar <strong>de</strong> ella para<br />
sus fines egoístas, buscando la propia atracción y lucimiento. (CIFUENTES, 2000, p. 143).<br />
77 [...] los bienes <strong>de</strong> más fácil <strong>de</strong>sprendimiento son aquellos cuyos <strong>de</strong>sprendimiento es menos importante para la<br />
adquisición <strong>de</strong>l domínio <strong>de</strong> sí y <strong>de</strong>l carácter; y, al contrario, el rango <strong>de</strong> bienes cuyo <strong>de</strong>sprendimiento contiene un<br />
mayor nível <strong>de</strong> dificultad es aquél precisamente cuyo <strong>de</strong>sprendimiento es más <strong>de</strong>cisivo en la formación <strong>de</strong>l carácter.<br />
Se ha estabelecido tradicionalmente, la siguiente escala <strong>de</strong> bienes: temporales, naturales, sensuales y morales.<br />
(CIFUENTES, 2000, p. 147)<br />
78 “El error caracterológico <strong>de</strong> supeditarse, en lugar <strong>de</strong> tener una actitud <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprendimiento, ante los bienes<br />
temporales, proviene <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar lo caduco como si fuera permanente” (CIFUENTES, 2000, p. 146).<br />
85
Os bens naturais como a formosura, os dons e a simpatia, a compreensão natural, a<br />
inteligência e o acerto diferem dos bens temporais por guardar maior proximida<strong>de</strong> com a pessoa<br />
<strong>de</strong> quem são bens, ao ponto <strong>de</strong> constituir a mesma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong>la. Os resultados da falta <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sprendimento, <strong>de</strong>sapego e isenção ante tais bens segundo Cifuentes são nefastos, são eles: a<br />
vanglória, o narcisismo, e o <strong>de</strong>bilitamento do espírito, porque o espírito, mais que inteligência, é<br />
<strong>de</strong>sprendimento.<br />
Os bens sensuais são aqueles sentimentos agradáveis, também chamados <strong>de</strong> prazeres<br />
que seguem ao exercício dos sentidos internos, da imaginação e da memória e dos sentidos<br />
externos. Consi<strong>de</strong>rando que os prazeres sensíveis, internos e externos, não são e não <strong>de</strong>vem ser a<br />
finalida<strong>de</strong> dos atos, neste sentido o <strong>de</strong>sprendimento pretendido adquire a forma <strong>de</strong> domínio ou<br />
senhorio. Exemplificando, Cifuentes lembra que os hedonistas são aqueles que não tem este<br />
domínio ou senhorio sobre os prazeres sensíveis, fazendo <strong>de</strong>stes a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus atos. “Os<br />
prazeres sensuais <strong>de</strong>vem ser, no melhor dos casos, conseqüência da boa obra, mas não a<br />
finalida<strong>de</strong> da obra, que <strong>de</strong>ixa então <strong>de</strong> ser boa” (CIFUENTES, 2000, p. 147). 79<br />
<strong>de</strong>sprendimento pois:<br />
Os bens morais são os bons hábitos ou virtu<strong>de</strong>s, mas também necessitam <strong>de</strong><br />
[...] na medida em que são apreendidos no homem como possessão individualista<br />
sua, também tem frutos contraproducentes ainda em sua mesma condição <strong>de</strong><br />
hábitos bons em si. [...] Seguem sendo bens, e os morais o são sem dúvida, mas<br />
não fazem bem ao homem se este não se relaciona bem com eles. Assim, a relação<br />
com nosso próprio caráter é mais importante que o caráter mesmo. (CIFUENTES,<br />
2000, 148) 80<br />
79 “Los placeres sensuales <strong>de</strong>ben ser, em el mejor caso, consecuencia <strong>de</strong>l buen obrar, pero no finalidad <strong>de</strong> la obra,<br />
que <strong>de</strong>ja entonces <strong>de</strong> ser buena” (CIFUENTES, 2000, p. 147).<br />
80 [...] na medida que son aprehendidos en el hombre como posesión individualista suya, también tiene frutos<br />
contraproducentes aun en su misma condición <strong>de</strong> hábitos buenos en sí. [...] Siguen siendo bienes, y los morales lo<br />
86
5.1.5. POSSESSÃO DE VIRTUDES<br />
Antes <strong>de</strong> tratar da essência da virtu<strong>de</strong>, Cifuentes faz a consi<strong>de</strong>ração fundamental do<br />
caráter: “[...] o caráter como possessão <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s. é esta a consi<strong>de</strong>ração fundamental do caráter:<br />
se faz um caráter quem se incorpora a si mesmo um modo <strong>de</strong> ser e um modo <strong>de</strong> ser virtuoso”<br />
(CIFUENTES, 2000 p. 149). 81<br />
Consi<strong>de</strong>rando que a Antropologia e a Ética Contemporânea têm aproximado <strong>de</strong><br />
maneira visível os conceitos <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong> e <strong>de</strong> caráter, CIFUENTES (2000 p. 150) afirma que ter<br />
caráter e ser virtuoso são agora expressões coinci<strong>de</strong>ntes.<br />
[...] a virtu<strong>de</strong> faz mais homem ao homem [...] a virtu<strong>de</strong>, por outro lado, não<br />
consiste propriamente em um ato, nem ainda em muitos atos, mas em um estado<br />
ou condição, um modo <strong>de</strong> ser que brota (com naturalida<strong>de</strong>, facilida<strong>de</strong>, gozo e<br />
prontidão) um modo <strong>de</strong> fazer ou <strong>de</strong> conduzir-se [...] Este estado ou disposição em<br />
que consiste a virtu<strong>de</strong>, afeta, prepara ou inclina para um <strong>de</strong>terminado sentido – até<br />
o bem – as eleições e a conduta do homem em cujo estado se encontra. A virtu<strong>de</strong>,<br />
em última instância, é um modo <strong>de</strong> vida, não pertencente propriamente ao âmbito<br />
do fazer, mas do ser. E, enquanto que nos impulsiona até nosso próprio bem <strong>de</strong><br />
homens, a virtu<strong>de</strong> é um modo <strong>de</strong> vida alcançado (Spaermann). 82<br />
O autor chama-as <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s capitais ou clássicas aquelas que se <strong>de</strong>screvem pelos<br />
vícios que se opõem. “Humilda<strong>de</strong>, magnanimida<strong>de</strong> para empreen<strong>de</strong>r gran<strong>de</strong>s obras, castida<strong>de</strong>,<br />
amor ao próximo, temperança, paciência (mansidão) e diligência (ou laboriosida<strong>de</strong>) constituem<br />
son sin duda, pero no hacen bueno al hombre si éste no se relaciona bien con ellos. Así, la relación con nuestro<br />
propio carácter es más importante que el carácter mismo. (CIFUENTES, 2000, 148)<br />
81 “[...] o carácter como posesión <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s. Es ésta la consi<strong>de</strong>ración fundamental <strong>de</strong>l carácter: se hace un carácter<br />
quien se incorpora a sí mismo un modo <strong>de</strong> ser y un modo <strong>de</strong> ser virtuoso” (CIFUENTES, 2000 p. 149).<br />
82 [...] la virtu<strong>de</strong> hace más hombre al hombre [...] la virtud, por otra parte, no consiste propiamente en un acto, ni aun<br />
en muchos actos, sino en un estado o condición, un modo <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>l que brota (con naturalidad, facilidad, gozo y<br />
prontitud) un modo <strong>de</strong> hacer o <strong>de</strong> conducirse [...] Este estado o disposición en que consiste la virtud, afecta, prepara o<br />
inclina en un <strong>de</strong>terminado sentido – hacia el bien – las elecciones y la conducta <strong>de</strong>l hombre en cuyo estado se halla.<br />
La virtud, en último término, es un modo <strong>de</strong> vida, no pertenece propiamente al ámbito <strong>de</strong>l hacer, sino <strong>de</strong>l ser. Y, en<br />
cuando que nos impulsa hacia nuestro propio bien <strong>de</strong> hombres, la virtud es un modo <strong>de</strong> vida lograda (Spaermann)<br />
87
os sete traços principais, fundamentais ou mínimos <strong>de</strong> um homem com caráter” (CIFUENTES,<br />
p. 151-152) 83 . E os lista:<br />
A humilda<strong>de</strong>, que domina – no sentido antes precisado – ou combate à<br />
tendência <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada à própria excelência, <strong>de</strong>nominada soberba;<br />
A magnanimida<strong>de</strong>, que brota da justiça e domina ou combate a tendência<br />
<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada à possessão <strong>de</strong> riquezas, chamada avareza, e que nos capacita para aspirar a<br />
metas altas;<br />
A castida<strong>de</strong>, que domina ou combate a tendência <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada aos <strong>de</strong>leites<br />
sexuais, chamada luxúria;<br />
O amor ao próximo, que domina ou combate a tendência a entristecer-nos<br />
do bem alheio alegrar-nos <strong>de</strong> seu mal, que se chama inveja;<br />
A temperança, que domina ou combate a tendência <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada ao <strong>de</strong>leite<br />
sensível do comer e beber, cujo nome é gula;<br />
A paciência (ou mansidão), que domina ou combate a tendência<br />
<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> nos vingar ou agravar a quem pensamos que nos tem ofendido, ao qual se<br />
chama ira;<br />
A diligência (ou laboriosida<strong>de</strong>), que domina ou combate a fraqueza ou o<br />
<strong>de</strong>caimento para fazer o que <strong>de</strong>vemos, que se chama preguiça.<br />
83 “Humildad, magnanimidad para empren<strong>de</strong>r gran<strong>de</strong>s obras, castidad, amor al prójimo, templanza, paciencia<br />
(mansedumbre) y diligencia (o laboriosidad) constituyen los siete rasgos capitales, fundamentales o mínimos <strong>de</strong> un<br />
hombre con carácter” (CIFUENTES, p. 151-152).<br />
88
Entre estas virtu<strong>de</strong>s CIFUENTES (2000, p. 153-154) <strong>de</strong>staca a resistência ou<br />
discordância na aceitação unânime das virtu<strong>de</strong>s da humilda<strong>de</strong> e da castida<strong>de</strong>. Para tanto<br />
argumenta que:<br />
[...] ocorre que a humilda<strong>de</strong> constitui o abatimento máximo do espírito próprio, e a<br />
castida<strong>de</strong> o abatimento máximo do próprio corpo [...] <strong>de</strong> modo e maneira que<br />
tanto a ausência da humilda<strong>de</strong> como a da castida<strong>de</strong> apontam para a <strong>de</strong>sintegração<br />
do caráter. Não se trata, pois, <strong>de</strong> dois traços caracterológicos banais, mas<br />
principalíssimos, porque constituem condições <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> do caráter [...] e<br />
ele é assim porque com a marginalização da humilda<strong>de</strong> e da castida<strong>de</strong> se tem<br />
amputado as bases radicais – espiritual à uma e corporal à outra – do caráter. 84<br />
Ao falar da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> humilda<strong>de</strong>, lembra da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> domínio do centro <strong>de</strong><br />
si mesmo, ou seja, do “domínio da vonta<strong>de</strong>” que ela lhe correspon<strong>de</strong> a auto-dominar-se. “O<br />
autodomínio conduz ao abatimento da própria excelência em que resi<strong>de</strong> a essência da humilda<strong>de</strong><br />
(tendência do homem ao húmus, à terra, da que <strong>de</strong>riva e da qual está intramundanamente<br />
<strong>de</strong>stinado)” (CIFUENTES, 2000, p. 154). 85<br />
Fazendo um jogo com as palavras apresenta que o contrário, a “vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> domínio”,<br />
gera egoísmo, egolatria, soberba e vaida<strong>de</strong>.<br />
Cifuentes diz que a aquisição <strong>de</strong> uma virtu<strong>de</strong> se encontra condicionada à conquista <strong>de</strong><br />
outras virtu<strong>de</strong>s que lhe prece<strong>de</strong>m ou a preparam diante da gran<strong>de</strong> lista <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s. Para se fazer a<br />
escolha da virtu<strong>de</strong> que se consi<strong>de</strong>ram configuradoras do caráter ou fundamentais para a<br />
84 [...] ocurre que la humildad constituye el abatimiento máximo <strong>de</strong>l espíritu propio, y la castidad el abatimiento<br />
máximo <strong>de</strong>l propio cuerpo [...] <strong>de</strong> modo y manera que tanto la ausencia <strong>de</strong> la humildad como la <strong>de</strong> la castidad<br />
apuntan a la <strong>de</strong>sintegración <strong>de</strong>l carácter. No se trata, pues, <strong>de</strong> dos rasgos caracterológicos banales, sino<br />
principalísimos, porque se constituyen en condiciones <strong>de</strong> posibilidad <strong>de</strong>l carácter [...] y ello es así porque con la<br />
marginación <strong>de</strong> la humildad y la castidad se han amputado las bases radicales – espiritual la una y corporal la otra –<br />
<strong>de</strong>l carácter.<br />
85 “El autodomínio conduce al abatimiento <strong>de</strong> la propia excelência en que resi<strong>de</strong> la esencia <strong>de</strong> la humildad (tendência<br />
<strong>de</strong>l hombre ao humus, a la tierra, <strong>de</strong> la que <strong>de</strong>riva y a la que está intramundanamente <strong>de</strong>stinado)” (CIFUENTES,<br />
2000, p. 154).<br />
89
construção <strong>de</strong>le é necessário que se responda que tipo <strong>de</strong> caráter <strong>de</strong>sejamos que conquistem hoje<br />
os integrantes da comunida<strong>de</strong> que queremos viver. Sem arriscar-se numa resposta <strong>de</strong>finitiva,<br />
Cifuentes prefere apresentar “sugestões orientadoras. Entre elas cita, pois a Declaração <strong>de</strong> Aspen<br />
(1992) apresentando seis elementos medulares do caráter que um grupo <strong>de</strong> educadores <strong>de</strong>finiram<br />
como sendo os que <strong>de</strong>veriam inculcar as instituições que influem sobre a juventu<strong>de</strong><br />
(CIFUENTES, 2000, p. 156):<br />
Integrida<strong>de</strong> (que inclui a sincerida<strong>de</strong> e a lealda<strong>de</strong>)<br />
Respeito;<br />
Responsabilida<strong>de</strong> (que inclui a autodisciplina e o esforço)<br />
Igualda<strong>de</strong><br />
Atenção (ao ser humano, no sentido hoje relacionado com a compaixão);<br />
Cidadania (no sentido <strong>de</strong> civismo, incluindo a obediência às leis, obrigação <strong>de</strong> estar<br />
informados, <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> votar...).<br />
Mas conforme apresenta entre parênteses, admite a inclusão <strong>de</strong> algumas virtu<strong>de</strong>s e<br />
alerta que sobre o tema virtu<strong>de</strong>s não é recomendável fazer uma lista fechada, pois sempre falta<br />
algum traço não incluído e que po<strong>de</strong> ser importante e exemplifica com o Livro das Virtu<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
Bennett, on<strong>de</strong> não aparece a fé num sentido religioso, mas como reverência, acreditando que<br />
exista casos <strong>de</strong> pessoas virtuosas sem fé em Deus, fato este que Cifuentes discorda e justifica “o<br />
homem, sendo imagem <strong>de</strong> Deus, se acercará mais a ele na medida em que seja mais plenamente<br />
homem” (CIFUENTES, 2000, p. 156). 86<br />
86 “el hombre, siendo imagen <strong>de</strong> Dios, se acercará más a él en la medida en que sea más plenamente hombre”<br />
(CIFUENTES, 2000, p. 156)<br />
90
Além da difícil discussão sobre a ética e a religião, Cifuentes admite haver ainda<br />
maiores dificulda<strong>de</strong>s quando o assunto diz respeito às responsabilida<strong>de</strong>s pela configuração ou<br />
pela construção do caráter dos cidadãos, pois há diferentes posturas, cada uma responsabilizando<br />
um ou outro setor. CIFUENTES (2000, p. 158) as apresenta, mais conclui que esta questão se<br />
interrelaciona com a questão <strong>de</strong> quais virtu<strong>de</strong>s se <strong>de</strong>vem configurar hoje, e com a questão do<br />
caráter <strong>de</strong>sejável e que, portanto:<br />
5.1.6. AQUISIÇÃO DE VIRTUDES<br />
[...] já que o modo <strong>de</strong> educar o caráter e as virtu<strong>de</strong>s que o constituem se<br />
condicionam e retroalimentam entre si. Todavia, em uma tarefa <strong>de</strong> tal magnitu<strong>de</strong><br />
não <strong>de</strong>vemos apontar a uma só força: as comunida<strong>de</strong>s naturais, as socieda<strong>de</strong>s<br />
voluntárias, o Estado e suas escolas públicas, assim como as igrejas, po<strong>de</strong>m e<br />
<strong>de</strong>vem concorrer para uma mesma finalida<strong>de</strong>, e po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>vem coincidir nela.<br />
(CIFUENTES, 2000, p. 158) 87<br />
Cifuentes apresenta a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aquisição das virtu<strong>de</strong>s, mas acrescenta que se<br />
exige além <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> uma pessoa que possa realizar a ação diretiva, pessoas como<br />
professores, pais, diretores. Também lembra que para se adquirir virtu<strong>de</strong>s requer à pessoa<br />
adquirente um trabalho diário e a conseqüente constância e paciência, duas virtu<strong>de</strong>s que<br />
normalmente faltam ao homem virtuoso. Desta forma, estabelece-se o dilema <strong>de</strong> que para se ter<br />
outras virtu<strong>de</strong>s é preciso adquirir primeiramente estas duas. Lembra ainda que não se é dono dos<br />
próprios sentimentos e sim da aquisição <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s, ou seja, da ação da inteligência e da vonta<strong>de</strong>.<br />
87 [...] ya que el modo <strong>de</strong> educar el carácter y las virtu<strong>de</strong>s que lo constituyen se condicionan y retroalimentan entre sí.<br />
Sin embargo, en una tarea <strong>de</strong> tal magnitud no <strong>de</strong>bemos apuntar a una sola fuerza: las comunida<strong>de</strong>s naturales, las<br />
socieda<strong>de</strong>s voluntarias, el Estado y sus escuelas públicas, así como las iglesias, pue<strong>de</strong>n y <strong>de</strong>ben concurrir en una<br />
misma finalidad, y pue<strong>de</strong>n y <strong>de</strong>ben coincidir en ella.<br />
91
Mas alerta para a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instalar <strong>de</strong>ntro das órbitas das potências superiores do espírito,<br />
a inteligência e a vonta<strong>de</strong>, os elementos da órbita sentimental que sejam favoráveis, como por<br />
exemplo o amor e a generosida<strong>de</strong>.<br />
Adquirida a virtu<strong>de</strong> pretendida, Cifuentes consi<strong>de</strong>ra, ainda que diferentemente da<br />
mentalida<strong>de</strong> contemporânea, que “[...] tão importante como a aquisição <strong>de</strong> uma virtu<strong>de</strong> é sua<br />
manutenção. Ocorre que no homem é mais fácil contrair um vício que manter uma virtu<strong>de</strong>”<br />
(CIFUENTES, 2000, p. 183). 88 Assim sugere a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mantê-la e <strong>de</strong> progredir no seu<br />
<strong>de</strong>senvolvimento apresentando o adágio clássico da ascética cristã “ou avança ou retroce<strong>de</strong>, ou<br />
cresce ou morre”. Também justifica que “o simples manter-se sem avançar provoca a in<strong>de</strong>fectível<br />
queda” (CIFUENTES, 2000, p. 184) 89 , compara com o andar <strong>de</strong> bicicleta “apenas nos<br />
sustentamos nela se estamos nos movimentando” (CIFUENTES, 2000, p. 184). 90 Comparando<br />
também com a metáfora apresentada por Augustín <strong>de</strong> Hipona <strong>de</strong> remar contra a corrente e<br />
consi<strong>de</strong>rada insuportável na atualida<strong>de</strong>, CIFUENTES (2000, P. 184) argumenta que:<br />
A mentalida<strong>de</strong> contemporânea não admite sem objeção esta metáfora tão direta.<br />
Mas a metáfora parece necessária porque há sentimentos que nunca se juntarão<br />
aos ditames da razão e aos conseqüentes propósitos da vonta<strong>de</strong>, e que constituem<br />
uma po<strong>de</strong>rosa corrente que arrasta em uma direção com forte rebeldia: a ataraxia<br />
total e o nirvana permanente é um i<strong>de</strong>al (se o é) inexeqüível. (CIFUENTES, 2000,<br />
p. 184) 91<br />
88 “tan importante como la adquisición <strong>de</strong> una virtud es su mantenimiento. Ocurre que en el hombre es más fácil<br />
contraer un vicio que mantener una virtud” (CIFUENTES, 2000, p. 183).<br />
89 “el simple mantenerse sin avanzar provoca la in<strong>de</strong>fectible caída” (CIFUENTES, 2000, p. 184)<br />
90 “solo nos sostenemos en ella mientras estamos en marcha” (CIFUENTES, 2000, p. 184).<br />
91 La mentalidad contemporânea no admite sin objeción esta metáfora tan directa. Pero la metáfora parece necesaria<br />
por cuanto que hay sentimientos que nunca se avendrán a los dictámenes <strong>de</strong> la razón y a los consecuentes propósitos<br />
<strong>de</strong> la voluntad, y que constituyen una po<strong>de</strong>rosa corriente que arrasta en una dirección con encarnizada contumacia: la<br />
ataraxia total y el nirvana permanente es un i<strong>de</strong>al (si lo es) inasequible. (CIFUENTES, 2000, p. 184)<br />
92
Para se adquirir virtu<strong>de</strong>s didaticamente revela que é necessário avistar as dificulda<strong>de</strong>s<br />
que impe<strong>de</strong>m sua aquisição e procurar superá-las: a ignorância ou a carência da virtu<strong>de</strong>, a falta <strong>de</strong><br />
reconhecimento da carência virtuosa ou da possessão do vício; a falta <strong>de</strong> valoração da virtu<strong>de</strong> ou<br />
<strong>de</strong> razões fortes que motivam a vonta<strong>de</strong>, repugnância ao esforço; sensação <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> ou<br />
sentimento <strong>de</strong> frustração ou <strong>de</strong>salento ante os fracassos. Sensações estas que impe<strong>de</strong>m que se<br />
avance na virtu<strong>de</strong> ou que se contribua com a rapi<strong>de</strong>z do retrocesso.<br />
Pontuando as possíveis soluções para cada dificulda<strong>de</strong>, Cifuentes relaciona<br />
respectivamente a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> confiança em outras pessoas para romper com a ignorância;<br />
humilda<strong>de</strong> para reconhecer o vício e a falta <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>; razões fortes e propósitos firmes para<br />
motivar a vonta<strong>de</strong>; fortaleza para sustentar o esforço; constância para evitar a estagnação da<br />
virtu<strong>de</strong> ou o retrocesso. Resume CIFUENTES (2000, p. 182) que adquirir virtu<strong>de</strong>s é evitar o vício e<br />
procurar a virtu<strong>de</strong>, e cita o vício do egoísmo e a virtu<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>nte a da generosida<strong>de</strong>:<br />
Havendo feito efetivas várias vezes e em assuntos substanciais, nossa reflexão a<br />
priori e nosso propósito <strong>de</strong> modificar a conduta, esta mudança <strong>de</strong> signo muda <strong>de</strong><br />
sinal: se translada da intenção <strong>de</strong> evitar uma ação egoísta à intenção <strong>de</strong> procurar<br />
uma generosa, ou seja, aquela que provém <strong>de</strong> um juízo da inteligência, o qual,<br />
antes <strong>de</strong> analisar o que po<strong>de</strong> servir para meu proveito, estuda com precedência o<br />
que contribui ao proveito dos <strong>de</strong>mais; e se <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia a partir daí uma conduta<br />
generosa. 92<br />
Conclui que adquirir virtu<strong>de</strong>s é, pois, ir contra a corrente, se possível em outra<br />
direção e que temos que contar com nossas carências e limitações, mas também com as aptidões<br />
para superá-las e afirma que todos po<strong>de</strong>mos fazer isso porque “estamos em possessão <strong>de</strong> nossa<br />
92 Habiendo hecho efectivas varias veces, y en asuntos sustanciales, nuestra reflexión a priori y nuestro propósito <strong>de</strong><br />
modificar la conducta, ésta cambia <strong>de</strong> signo: se traslada <strong>de</strong>l intento <strong>de</strong> evitar una acción egoísta al intento <strong>de</strong><br />
procurar una generosa, esto es, aquella que proviene <strong>de</strong> un juicio <strong>de</strong> la inteligencia, el cual, antes <strong>de</strong> analizar lo que<br />
pue<strong>de</strong> servir para mi provecho, estudia con prece<strong>de</strong>ncia lo que contribuye al provecho <strong>de</strong> los <strong>de</strong>más; y se<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>na a partir <strong>de</strong> ahí una conducta generosa..<br />
93
liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser homens (ou <strong>de</strong> não sê-lo). Como o diz Millán Puelles, somos livres, não estamos<br />
feitos do todo; mas somos, ou seja, não temos tudo por fazer.” (apud CIFUENTES, 2000, p.<br />
185) 93<br />
Para Cifuentes, a ajuda externa é extremamente importante, chamando essa “ajuda”<br />
<strong>de</strong> ação diretiva, é a ação <strong>de</strong> alguém que se preste a ajudar e que possua aquelas qualida<strong>de</strong>s que<br />
se necessita no arranque do processo e que são justamente as que faltam como as primeiras,<br />
paciência e constância. Na educação escolar cabe a este papel, os professores, pais, diretores ou<br />
mesmo os tutores, professores conselheiros dos alunos.<br />
5.2. AÇÕES EDUCATIVAS E AUTO-EDUCATIVAS POSSÍVEIS<br />
Buscar o autodomínio: “o domínio em que resi<strong>de</strong> o caráter humano consiste em<br />
comportar-se como senhor em meio da tendência e do prazer mesmo” (CIFUENTES,<br />
2000, p. 133) 94 ;<br />
Dominar o medo <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r a vida: exercitar-se encarando o pensamento da morte pessoal<br />
e não pensando que “um dia haverei <strong>de</strong> morrer”, mas que “estou morrendo já, neste<br />
momento”;<br />
Dominar a tendência ao prazer <strong>de</strong> comer e <strong>de</strong> beber: manter-se como homem ante as<br />
coisas <strong>de</strong> que necessita, isto é, não <strong>de</strong>ixar que as coisas o dominem por seu atrativo; não<br />
93 “estamos en posesión <strong>de</strong> nuestra libertad <strong>de</strong> ser hombres (o <strong>de</strong> no serlo). Como lo dice Millán Puelles, somos<br />
libres, no estamos hechos <strong>de</strong>l todo; pero somos, esto es, no lo tenemos todo por hacer.” (apud CIFUENTES, 2000, p.<br />
185)<br />
94 “o dominio en que resi<strong>de</strong> el carácter humano consiste en comportarse como señor en medio <strong>de</strong> la ten<strong>de</strong>ncia y <strong>de</strong>l<br />
placer mismo” (CIFUENTES, 2000, p. 133)<br />
94
ser possuído por aquilo que lhe é necessário, não aceitar ficar coisificado; comer com a<br />
cabeça, isto é, não per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista que a comida e a bebida são um instrumento para a<br />
própria subsistência e tem <strong>de</strong> pôr-se a serviço <strong>de</strong>la (da subsistência), “servir-se da comida<br />
e da bebida como um instrumento para o próprio subsistir (como para viver) e não uma<br />
finalida<strong>de</strong> sua (vivo para comer)” (CIFUENTES, p. 133) 95 ;<br />
Dominar a tendência ao prazer sexual: respeitar seu cônjuge, não afogar o amor<br />
espiritual; consi<strong>de</strong>rar a pessoa como tal, com sua dignida<strong>de</strong> e respeito inerentes; não<br />
per<strong>de</strong>r o claro sentido racional da união corporal do homem e da mulher; dominar o ato<br />
sexual, ou seja, no momento <strong>de</strong> seu irrefreável impulso, não coisificar seu cônjuge<br />
convertendo a pessoa que é, em um objeto <strong>de</strong> prazer; não substituir ou <strong>de</strong>sprezar, por<br />
conta do prazer, lembrar da finalida<strong>de</strong> da união conjugal <strong>de</strong> propagação da espécie<br />
humana, <strong>de</strong>vido à fecundação própria <strong>de</strong>ssa união;<br />
Dominar a tendência à manifestação <strong>de</strong> raiva: não converter as pessoas em coisa<br />
apresentando manifestações como irritado, rabugento, mal-humorado, afiado,<br />
introvertido, triste; lembrar que não se po<strong>de</strong> reprimir o sentimento <strong>de</strong> irritação, mas que se<br />
po<strong>de</strong> agir como se não estivesse irritado; não irritar-se com pessoas movido por<br />
circunstância alheias a ela ou por motivos que são estranhos a ela; pensar “não sou dono<br />
<strong>de</strong> minha ira, um produto sentimental, mas sou dono do meu amor”; procurar transformar<br />
95 “servirse <strong>de</strong> la comida y la bebida como un instrumento para el propio subsistir (como para vivir) y no una<br />
finalidad suya (vivo para comer)” (CIFUENTES, p. 133);<br />
95
a raiva em sorriso; “convencer-se a si mesmo que a pessoa <strong>de</strong>stinatária da irritação é mais<br />
profundamente objeto <strong>de</strong> seu amor do que <strong>de</strong> sua ira” (CIFUENTES, 2000, p. 136) 96<br />
Buscar a harmonia humana, o estado <strong>de</strong> paz mais a harmonia interior. Equilibrar <strong>de</strong><br />
forma a<strong>de</strong>quada as apetências intelectuais e sensíveis do homem (vonta<strong>de</strong>, inteligência,<br />
sentimentos):<br />
Acabar com o conflito interior ou vencê-lo;<br />
Transitar até o estado <strong>de</strong> ari<strong>de</strong>z ou ao menos <strong>de</strong> indiferença e <strong>de</strong>ste estado, ir ao estado <strong>de</strong><br />
paz ou harmonia entre as forças sensíveis e as forças espirituais;<br />
Objetivar a conquista do estado <strong>de</strong> paz ou harmonia, prepon<strong>de</strong>rando a vonta<strong>de</strong> sobre os<br />
apetites sensíveis;<br />
Educar a vonta<strong>de</strong>, pois a vonta<strong>de</strong> move o entendimento (a inteligência), mas não o<br />
contrário;<br />
Fazer a vonta<strong>de</strong> prepon<strong>de</strong>rar sobre os afetos sensíveis (sobre este tema Cifuentes <strong>de</strong>dica<br />
um capítulo á parte “Formação da vonta<strong>de</strong>”;<br />
Colocar os sentimentos on<strong>de</strong> lhe correspon<strong>de</strong>m;<br />
Não abolir a sensibilida<strong>de</strong>, mas cultivá-la;<br />
Fazer com que os sentimentos e paixões prevaleçam, mas que não <strong>de</strong>struam o indivíduo;<br />
Dominar os afetos sensíveis;<br />
Or<strong>de</strong>nar os sentimentos para que contribuam positivamente à boa ativida<strong>de</strong> do homem;<br />
96 “[...] se convence a sí mismo <strong>de</strong> que la persona <strong>de</strong>stinatária <strong>de</strong>l enojo es más profundamente objeto <strong>de</strong> su amor que<br />
<strong>de</strong> su ira.” (CIFUENTES, 2000, p. 136)<br />
96
Agir com <strong>de</strong>sprendimento frente aos atributos e bens que se possui:<br />
Adquirir uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> distância e <strong>de</strong>sapego, <strong>de</strong>sprendimento e <strong>de</strong> isenção ante aos<br />
próprios dons;<br />
Ter senhorio e domínio ante as qualida<strong>de</strong>s que se possui;<br />
“Não consi<strong>de</strong>rar tais dons como próprios em sua origem (pois não seriam possíveis sem<br />
nossa natureza; que é para nós um dom, que não temos dado a nós mesmos)”<br />
(CIFUENTES, 2000, p. 144) 97 ;<br />
“Consi<strong>de</strong>rar que tais dons ainda que tivessem sido adquiridos por nós, se encontram<br />
<strong>de</strong>stinados não ao serviço próprio, mas ao dos <strong>de</strong>mais” (CIFUENTES, 2000, p. 144) 98 ;<br />
Não reter as qualida<strong>de</strong>s que se possui ou encará-las como exclusivamente próprias.<br />
Lembrar que “é sua entrega o melhor modo <strong>de</strong> possuí-las. E às avessas, sua retenção<br />
produz sua perda” (CIFUENTES, 2000, p. 144) 99 ;<br />
Consi<strong>de</strong>rar os graus <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> que o <strong>de</strong>sprendimento exige e procurar atingir o<br />
domínio das tendências (ou autodomínio), o senhorio <strong>de</strong> si e a in<strong>de</strong>pendência própria;.<br />
Conhecer os atributos do <strong>de</strong>sprendimento e escala <strong>de</strong> bens: temporais, naturais, sensuais e<br />
morais;<br />
Lembrar que a escala <strong>de</strong> importância cresce <strong>de</strong> modo inverso, ou seja, lembrar <strong>de</strong>ntre a<br />
escala <strong>de</strong> bens temporais, naturais, sensuais e morais que os últimos citados são os que<br />
contêm maior nível <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> e também são os mais <strong>de</strong>cisivos para a formação do<br />
caráter, os mais importantes, portanto;<br />
97 “No consi<strong>de</strong>rar tales dones como propios en su origen (pues no nos serían posibles sin nuestra naturaleza; que es<br />
para nosotros un don que no nos hemos dado a nosotros)” (CIFUENTES, 2000, p. 144);<br />
98 “Consi<strong>de</strong>rar que tales dones aunque hubieran sido adquiridos por nosotros, se encuentran <strong>de</strong>stinados no al servicio<br />
propio sino al <strong>de</strong> los <strong>de</strong>más” (CIFUENTES, 2000, p. 144);<br />
99 “es su entrega el mejor modo <strong>de</strong> poseerlas. Y al revés, su retención produce su pérdida” (CIFUENTES, 2000, p.<br />
144);<br />
97
Quanto aos bens temporais: atuar com equilíbrio e lisura quanto aos bens temporais, ou<br />
seja, comportar-se em sua mais interna mesmice como se já não possuísse os bens<br />
temporais <strong>de</strong> que goza;<br />
Ter <strong>de</strong>sprendimento quanto aos bens naturais, evitando a vanglória, o narcisismo e o<br />
<strong>de</strong>bilitamento do espírito;<br />
Quanto aos bens sensuais: não <strong>de</strong>ixar os sentidos externos, como a imaginação e a<br />
memória <strong>de</strong>satarem-se (imaginações do que não existe e memória que revive os instantes<br />
<strong>de</strong> êxito) e enterrar mais a<strong>de</strong>ntro os fracassos reais assim como os sentidos externos<br />
(escutar coisas inúteis, ver imagens provocantes, entre outras coisas relacionadas aos<br />
prazeres da comida (comidas exuberantes), do toque (suavida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>licadas) e dos cheiros.<br />
Ou seja, não obscurecer a posição dos verda<strong>de</strong>iros cinco sentidos: sentido comum, sentido<br />
<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, sentido <strong>de</strong> urgência, sentido transcen<strong>de</strong>nte da vida e sentido do<br />
humor;<br />
Quanto aos bens morais: apesar <strong>de</strong> serem qualificados os bens morais, <strong>de</strong> bons hábitos do<br />
homem, ou <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s, Cifuentes alerta que é necessário que sejam realmente bons.<br />
Consi<strong>de</strong>rar que “o <strong>de</strong>sprendimento diante da virtu<strong>de</strong> é o ato próprio <strong>de</strong> uma virtu<strong>de</strong> básica<br />
que chamamos humilda<strong>de</strong> e que – como teremos ocasião <strong>de</strong> ver continuamente – não goza<br />
<strong>de</strong> predileção em nosso tempo.” (CIFUENTES, 2000, p. 148) 100 .<br />
Adquirir virtu<strong>de</strong>s:<br />
Ter como primeiro passo pôr a confiança nos outros, ou simplesmente a confiança em<br />
alguém a quem pedir conselho e do qual po<strong>de</strong> receber ânimo;<br />
100 “El <strong>de</strong>sprendimiento ante la virtud es el acto propio <strong>de</strong> una virtud básica que llamamos humildad y que – como<br />
tendremos ocasión <strong>de</strong> ver seguidamente – no goza <strong>de</strong> predilección en nuestro tiempo.” (CIFUENTES, 2000, p. 148).<br />
98
Eleger a virtu<strong>de</strong> pedindo conselho para uma pessoa – amigo, professor, diretor, pai, tio –<br />
que possa ajudar a eleger os critérios <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> qual virtu<strong>de</strong> se quer conquistar: “se é a<br />
virtu<strong>de</strong> mais fundamental na or<strong>de</strong>m das virtu<strong>de</strong>s; se é a mais importante para o<br />
interessado; se é a mais útil para aqueles com quem convive; se é a mais fácil (a fim <strong>de</strong><br />
animar-se a adquirir virtu<strong>de</strong>s subseqüentes); se são as mais árduas (para abrir caminho ao<br />
alcance das <strong>de</strong>mais); se são as virtu<strong>de</strong>s acima, <strong>de</strong>nominamos virtu<strong>de</strong>s possibilitantes...”<br />
(CIFUENTES, 2000, p. 179-180) 101 ;<br />
Eleita a virtu<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>ve adquirir, ter em conta o que é esta virtu<strong>de</strong> convivendo com<br />
pessoas com esta virtu<strong>de</strong>. Perceber a virtu<strong>de</strong> exemplicada pessoalmente. Melhor ainda se<br />
a pessoa é efetivamente próxima;<br />
Evitar a dispersão; concentrar o esforço na virtu<strong>de</strong>; buscar a fortaleza.<br />
Fazer curto o trâmite do processo não adquirindo várias virtu<strong>de</strong>s, escolher primeiro uma;<br />
Simplificar o processo mediante uma avaliação periódica dos avanços (ou retrocessos)<br />
sem esperar o término (êxito ou fracasso);<br />
Admitir ou tomar conta que se possui o vício contrário à virtu<strong>de</strong> que se quer adquirir;<br />
fazer-se consciente do vício; Fazer reflexão a posteriori, ou seja, reconhecer o vício em<br />
uma ação realizada, enxergar e assumir que a atuação é viciosa. Isto é, ser solidário com a<br />
virtu<strong>de</strong> da humilda<strong>de</strong>, uma virtu<strong>de</strong> que proporciona outras virtu<strong>de</strong>s;<br />
Fazer <strong>de</strong>ste vício o ponto <strong>de</strong> arranque do caminho para a disposição arraigada para a<br />
conduta, ou seja, refletir buscando proveito da inteligência, fazendo explícito o vício na<br />
conduta e o prejuízo ou juízo preparado <strong>de</strong> antemão que este lhe suscita;<br />
101 “si la virtud más fundamental en el or<strong>de</strong>n <strong>de</strong> las virtu<strong>de</strong>s; si la más importante para el interesado; si la más útil<br />
para aquellos con quienes convive; si la más fácil (a fin <strong>de</strong> animarse a adquirir virtu<strong>de</strong>s subsiguientes); si las más<br />
arduas (para abrir camino al logro <strong>de</strong> las <strong>de</strong>más); si las que arriba <strong>de</strong>nominamos virtu<strong>de</strong>s posibilitantes...”<br />
(CIFUENTES, 2000, p. 179-180);<br />
99
Lembrar que é mais fácil cobrar ânimo <strong>de</strong>pois do primeiro êxito. Por isso é importante<br />
procurar adquirir a experiência <strong>de</strong> ter conquistado a primeira virtu<strong>de</strong>;<br />
Fazer reflexão a priori: dar-se conta antecipadamente <strong>de</strong> que a ação que se dispõe a<br />
empreen<strong>de</strong>r é viciosa para que seja possível modificar a ação;<br />
Mesmo sabendo que se trata <strong>de</strong> uma ação viciosa, se não houver seu domínio, se for<br />
arrastado pelo prévio costume ou propensão, fazer a consciência tomar parte da falha<br />
nesta ação;<br />
Decidir por não falhar na próxima vez. Ter o propósito <strong>de</strong> não ser vencido na próxima<br />
conjuntura. O propósito está no âmbito da vonta<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da firmeza e reiteração e <strong>de</strong><br />
todas as etapas que se seguem;<br />
Já não é necessário mais uma consciência tão refletida, o protagonismo da inteligência<br />
começa a <strong>de</strong>clinar, pois <strong>de</strong>scobre-se a possibilida<strong>de</strong> concreta da virtu<strong>de</strong> antes do vício por<br />
exemplo <strong>de</strong> ser generoso antes <strong>de</strong> ser egoísta. Por exemplo, a vonta<strong>de</strong> vai inclinando com<br />
maior prontidão para a virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser generoso com espontaneida<strong>de</strong>;<br />
Cifuentes aconselha que habituemos a atuar virtuosamente, e exemplifica generosamente<br />
com os sentimentos favoráveis e pelos sentimentos favoráveis se não acabamos por<br />
omitir a ação virtuosa quando nos faltam estes sentimentos. Exemplifica que a<br />
generosida<strong>de</strong> normalmente é acompanhada pelo sentimento <strong>de</strong> carinho;<br />
Manter a virtu<strong>de</strong>. Com a persistente recorrência do entendimento e da vonta<strong>de</strong> e com o<br />
esforço pela constância.<br />
Progredir na virtu<strong>de</strong>, avançar e crescer nela, ou seja, buscar o seu <strong>de</strong>senvolvimento<br />
progressivo.<br />
100
6. PROPOSTA DE OLIVEROS FERNANDEZ OTERO: REBELDIA EDUCATIVA<br />
6.1. REBELDIA EDUCATIVA E EDUCAÇÃO EM VALORES<br />
Conforme justificativa apresentada, diante <strong>de</strong> toda a argumentação <strong>de</strong> Otero sobre a<br />
manipulação, constata-se que Otero foi entre os autores personalistas, quem mais <strong>de</strong>nunciou os<br />
problemas cujos efeitos são nocivos ao aspecto “apren<strong>de</strong>r a ser”, pois reduzem a pessoa humana<br />
ou mesmo pela superabundância do ter sobre o ser na atualida<strong>de</strong>.<br />
Na investigação sobre Otero, percebeu-se também que o autor expressa a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma reação, principalmente por parte da Educação, e que sugere aos educadores a<br />
a<strong>de</strong>são a uma Rebeldia Educativa. Otero com sua facilida<strong>de</strong> com a linguagem e com a<br />
argumentação parece convencer os educadores apresentando os perigos eminentes: “todos,<br />
portanto, corremos o perigo não apenas <strong>de</strong> ser manipulados, mas <strong>de</strong> colaborar ingênua mas<br />
eficazmente com a ação <strong>de</strong> quem tem organizado esta manipulação dos valores”. (OTERO,<br />
1990a, p. 104) 102<br />
Em meio a estas <strong>de</strong>núncias e argumentações, Otero revela que a manipulação também<br />
atinge os professores, porta-vozes <strong>de</strong> juízos arbitrários, ainda que através <strong>de</strong> ingênua colaboração,<br />
ressalta que muitas pessoas, inclusive os professores:<br />
101<br />
Por ignorância ou por ingenuida<strong>de</strong>, colaboram com esta manipulação, sem saber,<br />
aqueles que menos se podia esperar. O clima <strong>de</strong> confucionismo paralizador em<br />
102 “Todos por tanto, corremos el peligro no solo <strong>de</strong> ser manipulados, sino <strong>de</strong> colaborar ingênua pero eficazmente con<br />
la acción <strong>de</strong> quienes han organizado esta manipulación <strong>de</strong> los valores”. (OTERO, 1990a, p. 104)
102<br />
que esta ação manipuladora tem lugar, gera <strong>de</strong>sorientação – inclusive em quem<br />
<strong>de</strong>veria orientar – insegurança, claudicações pessoais. Muitas pessoas nessa<br />
situação se limitam a repetir <strong>de</strong>terminadas expressões – manipuladas<br />
semanticamente, a recomendar a leitura <strong>de</strong> livros concretos, a ser porta-vozes <strong>de</strong><br />
juízos arbitrários, etc.: essa é sua ingênua colaboração. (OTERO, 1990a, 103-<br />
104) 103<br />
No entanto, percebe-se também que ao utilizar a palavra “ingenuida<strong>de</strong>” o autor acaba<br />
retirando o professor da situação <strong>de</strong> vilão, <strong>de</strong> “manipulador” ainda que tenha ocorrido a<br />
manipulação. Isto ocorre porque conclui que se o manipulador não está consciente <strong>de</strong> sua atuação<br />
manipulativa, se não há intencionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta “função” (ou “disfunção”), não há manipulador:<br />
Po<strong>de</strong> haver maior ou menor intencionalida<strong>de</strong> em quem manipula. Po<strong>de</strong> faltar, em<br />
outros casos, o manipulador consciente. Os efeitos do reducionismo operado se<br />
produzirão igualmente nos possíveis – ainda que não previstos – <strong>de</strong>stinatários;<br />
mas não cabe falar em sentido estrito <strong>de</strong> manipulação se falta a intencionalida<strong>de</strong>.<br />
[...] há pessoas que transmitem, inconscientemente, slogans e modas com efeitos<br />
redutores em outros seres humanos. Estritamente, não manipulam, mas sua<br />
ingênua colaboração é, com freqüência, o resultado <strong>de</strong> uma omissão: a <strong>de</strong> não<br />
pensar ou a <strong>de</strong> não informar-se acerca do fundo <strong>de</strong>sses slogans e modas. É dizer,<br />
cabe o perigo <strong>de</strong> atuar ou <strong>de</strong> expressar-se com um mal entendido otimismo que<br />
consiste em substituir a realida<strong>de</strong> pelos bons <strong>de</strong>sejos. Em alguns casos, falta<br />
previsão das possíveis conseqüências, nocivas para outros, da própria conduta.<br />
(OTERO, 1990b, p. 21-22) 104<br />
103 Por ignorancia o por ingenuidad, colaboran en esta manipulación, sin saberlo, aquellos <strong>de</strong> quienes menos pudiera<br />
esperarse. El clima <strong>de</strong> confucionismo paralizador en que esta acción manipulativa tiene lugar genera <strong>de</strong>sorientación –<br />
incluso en quienes <strong>de</strong>bieran orientar – inseguridad, claudicaciones personales. Muchas personas en esa situación se<br />
limitan a repetir <strong>de</strong>terminadas expresiones – manipuladas semánticamente, a recomendar la lectura <strong>de</strong> libros<br />
concretos, a ser portavoces <strong>de</strong> juicios arbitrarios, etc.: ésa es su ingenua colaboración. (OTERO, 1990a, 103-104)<br />
104 Pue<strong>de</strong> haber mayor o menos intencionalidad en quien manipula. Pue<strong>de</strong> faltar, en otros casos, el manipulador<br />
consciente. Lo efectos <strong>de</strong>l reduccionismo operado se producirán igualmente en los posibles – aunque no previstos –<br />
<strong>de</strong>stinatarios; pero no cabe hablar, en sentido estricto, <strong>de</strong> manipulación, si falta la intencionalidad. [...] hay personas<br />
que transmiten, inconscientemente, slogans y modas con efectos reductores en otros seres humanos. Estrictamente,<br />
no manipulan, pero su ingenua colaboración es, con frecuencia, el resultado <strong>de</strong> una omisión: la <strong>de</strong> no pensar o la <strong>de</strong><br />
no informarse acerca <strong>de</strong>l trasfondo <strong>de</strong> esos slogans y modas. Es <strong>de</strong>cir, cabe el peligro <strong>de</strong> actuar o <strong>de</strong> expresarse con<br />
un mal entendido optimismo que consiste en sustituir la realidad por los buenos <strong>de</strong>seos. En algunos casos, falta<br />
previsión <strong>de</strong> las posibles consecuencias, nocivas para otros, <strong>de</strong> la propia conducta. (OTEROS, 1990b, p. 21-22)
A proposta <strong>de</strong> OTERO (1990b, p. 93) é mostrada como a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rebelar-se –<br />
como fase inicial do processo educativo – frente às próprias cumplicida<strong>de</strong>s na <strong>de</strong>gradação da<br />
pessoa humana; frente aos efeitos da manipulação; frente às idéias e aos costumes redutores. A<br />
Rebeldia em sua principal <strong>de</strong>finição:<br />
103<br />
É uma rebeldia <strong>de</strong> talante educativo que se apóia , ao menos, em diferentes<br />
virtu<strong>de</strong>s humanas: honra<strong>de</strong>z, nobreza, sincerida<strong>de</strong>, otimismo, or<strong>de</strong>m,<br />
generosida<strong>de</strong>, entre outras. Quem vive estas virtu<strong>de</strong>s saberá rebelar-se contra as<br />
idéias, os costumes e os „valores‟ <strong>de</strong> moda que contribuem ao reducionismo atual.<br />
Serão processos <strong>de</strong> rebeldia distintos, dadas as circunstâncias <strong>de</strong> cada ser humano,<br />
coinci<strong>de</strong>ntes em repelir o que massifica. (OTERO, 1990b, p. 67) 105<br />
Mas antes <strong>de</strong> propor ao professor a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Rebeldia Educativa em função dos<br />
valores e <strong>de</strong> apresentar as possibilida<strong>de</strong>s concretas <strong>de</strong> ação educativa, Otero chama a atenção dos<br />
professores impondo-lhes uma condição importante para a esta proposta: a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
conhecimento sobre manipulação, pois se há <strong>de</strong>sconhecimento sobre o que se vai rebelar, não<br />
po<strong>de</strong> haver rebeldia e conseqüentemente não po<strong>de</strong> haver ações educativas com o efeito contrário<br />
à <strong>de</strong>gradação: a melhora da pessoa.<br />
Outra condição para a eficácia da ação educativa é em relação ao ambiente educativo:<br />
Se nos ambientes em que a educação tem lugar – o familiar, o institucional ou o<br />
escolar e a rua – estão vigentes, ainda que seja por moda valores importantes e<br />
verda<strong>de</strong>iros, talvez não necessite o educador fomentar a rebeldia. Quando estes<br />
ambientes estão saturados <strong>de</strong> <strong>de</strong>svalores ou <strong>de</strong> contravalores – como ocorre na<br />
atualida<strong>de</strong>, a causa <strong>de</strong> diversas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reducionismo – a rebeldia é<br />
necessária, ao menos, como uma força inicial que <strong>de</strong>sperte do sono do<br />
105 És una rebeldía <strong>de</strong> talante educativo que se apoya , al menos, en diferentes virtu<strong>de</strong>s humanas: honra<strong>de</strong>z, nobleza,<br />
sinceridad, optimismo, or<strong>de</strong>n, generosidad, entre otras. Quienes vivan estas virtu<strong>de</strong>s sabrán rebelarse contra las i<strong>de</strong>as,<br />
las costumbres y los „valores‟ <strong>de</strong> moda que contribuyen al reduccionismo actual. Serán procesos <strong>de</strong> rebeldía<br />
distintos, dadas las circunstancias <strong>de</strong> cada ser humano, coinci<strong>de</strong>ntes en rechazar lo que masifica. (OTERO, 1990b, p.<br />
67)
104<br />
conformismo materialista – em suas diferentes modalida<strong>de</strong>s consumistas e<br />
i<strong>de</strong>ológicas. (OTERO, 1990b, p. 65) 106<br />
Após a <strong>de</strong>cisão individual por rebelar-se, Otero convida então o professor a<br />
i<strong>de</strong>ntificar a manipulação e para isso contrapõe manipulação e educação. De uma forma mais<br />
resumida estabelece que o perigo está que ambas se referem à pessoa e que uma diferença<br />
importante é sobre o que ocorre com a liberda<strong>de</strong> humana:<br />
Educação e manipulação se referem à pessoa. A educação é, entre outras coisas,<br />
crescer em liberda<strong>de</strong>. A manipulação entra na categoria <strong>de</strong>ssas múltiplas forças ou<br />
influências que se opõem à tensão do homem até a liberda<strong>de</strong>‟. Coisificar,<br />
instrumentalizar, ou inclusive planificar ao homem em uma tentativa – mais ou<br />
menos eficaz – <strong>de</strong> privá-lo da liberda<strong>de</strong> humana. (OTERO, 1990b, p. 37) 107<br />
Estabelecendo as diferenças, alerta o professor e o coloca em posição <strong>de</strong> “vigia” para<br />
saber i<strong>de</strong>ntificar com facilida<strong>de</strong> o que é educação e distinguir do é manipulação. A fim <strong>de</strong> ensinar<br />
esta diferenciação aos seus alunos para que eles também possam “enxergá-la” e distanciar-se<br />
<strong>de</strong>la. Sobre estas diferenças, OTERO (1990b, p.33-34) resume:<br />
[...] a manipulação se apóia na ambigüida<strong>de</strong>; a educação na clarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> idéias. A<br />
manipulação fomenta a incongruência; a educação, os comportamentos humanos<br />
congruentes. A manipulação busca a cumplicida<strong>de</strong> dos pontos débeis do<br />
manipulado; a educação se apóia nos pontos fortes, nas melhores possibilida<strong>de</strong>s<br />
dos educandos. A manipulação promove comportamentos humanos pobres,<br />
106 Si en los ambientes en los que la educación tiene lugar – el familiar, el institucional o escolar y el <strong>de</strong> la calle –<br />
están vigentes, aunque sea por moda, valores importantes y verda<strong>de</strong>ros, quizá no necesite el educador fomentar la<br />
rebeldía. Cuando estos ambientes están saturados <strong>de</strong> disvalores o <strong>de</strong> contravalores – como ocurre en la actualidad, a<br />
causa <strong>de</strong> diversas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reduccionismo – la rebeldía es necesaria, al menos, como una fuerza inicial que<br />
<strong>de</strong>spierte <strong>de</strong>l sueño <strong>de</strong>l conformismo materialista – en sus diferentes modalida<strong>de</strong>s consumistas e i<strong>de</strong>ológicas.<br />
(OTERO, 1990b, p. 65)<br />
107 Educación y manipulación se refieren a la persona. La educación es, entre otras cosas, crecer en libertad. La<br />
manipulación entra en la categoría <strong>de</strong> esas múltiples fuerzas o influencias que se oponen a „la tensión <strong>de</strong>l hombre<br />
hacia la libertad‟. Cosificar, instrumentalizar, o incluso planificar al hombre en un intento – más o menos eficaz – <strong>de</strong><br />
privarlo <strong>de</strong> la libertad humana. (OTERO, 1990b, p. 37)
105<br />
massificados, com <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> escassa qualida<strong>de</strong>; a educação, atuações autônomas<br />
e responsáveis a partir <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iras <strong>de</strong>cisões pessoais. A manipulação é uma<br />
tirania dissimulada que instrumentaliza a pessoa humana ao serviço do lucrativo<br />
ou do i<strong>de</strong>ológico; a educação é um serviço <strong>de</strong> melhora que finaliza sua ação na<br />
pessoa – em cada pessoa -, respeitando seu modo <strong>de</strong> ser. A manipulação é uma<br />
ação redutora, cuja finalida<strong>de</strong> é a <strong>de</strong>terioração humano; a educação é um processo<br />
<strong>de</strong> melhora pessoal e uma ajuda necessária para a conquista <strong>de</strong>sta plenitu<strong>de</strong> do ser<br />
humano. A manipulação é em função <strong>de</strong> contravalores; a educação é em função <strong>de</strong><br />
valores. 108<br />
Embora seu tom <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong> sua rebeldia educativa lembre o tom incisivo e<br />
persuasivo da “educação libertária marxista”, a rebeldia proposta por Otero, ao invés <strong>de</strong> se<br />
preocupar com as minorias oprimidas, se preocupa com a maioria “manipulada” e com a<br />
multiplicação rápida <strong>de</strong> “manipuladores”. Contudo, consi<strong>de</strong>ra também que os professores são<br />
rápidos multiplicadores e que po<strong>de</strong>m evitar que outras gerações “surjam” manipuladas ou<br />
manipuladoras, sem conhecimentos sobre a verda<strong>de</strong> e sobre o bem.<br />
Para muitas pessoas <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong> – mas <strong>de</strong>sorientadas o esclarecimento <strong>de</strong>stas<br />
questões po<strong>de</strong> ajudá-los a <strong>de</strong>scobrir, ao menos, o que é um beco sem saída,<br />
porque, “em nosso tempo, os homens estão experimentando o que acontece em<br />
um mundo sem Deus e sem amor‟. Evi<strong>de</strong>ntemente, diante <strong>de</strong> uma vida sem<br />
sentido tem que se rebelar buscando a verda<strong>de</strong> e o bem” (KÖNIG apud OTERO,<br />
1990B, p. 26-27) 109<br />
108 [...] la manipulación se apoya en la ambigüedad; la educación en la claridad <strong>de</strong> i<strong>de</strong>as. La manipulación fomenta a<br />
incongruencia; la educación, los comportamientos humanos congruentes. La manipulación busca la complicidad <strong>de</strong><br />
los puntos débiles <strong>de</strong>l manipulado; la educación se apoya en los puntos fuertes, en las mejores posibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> los<br />
educandos. La manipulación promueve comportamientos humanos pobres, masificados, con <strong>de</strong>cisiones <strong>de</strong> escasa<br />
calidad; la educación, actuaciones autónomas y responsables a partir <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ras <strong>de</strong>cisiones personales. La<br />
manipulación es una tiranía solapada que instrumentaliza a la persona humana al servicio <strong>de</strong> lo lucrativo o <strong>de</strong> lo<br />
i<strong>de</strong>ológico; la educación es un servicio <strong>de</strong> mejora que finaliza su acción en la persona – en cada persona -, respetando<br />
su modo <strong>de</strong> ser. La manipulación es una acción reductora, cuya finalidad es el <strong>de</strong>terioro humano; la educación es un<br />
proceso <strong>de</strong> mejora personal y una ayuda necesaria para el logro <strong>de</strong> esta plenitud <strong>de</strong>l ser humano. La manipulación es<br />
función <strong>de</strong> contravalores; la educación es función <strong>de</strong> valores. OTERO (1990b, p.33-34)<br />
109 Para muchas personas <strong>de</strong> buena voluntad – pero <strong>de</strong>sorientadas el esclarecimiento <strong>de</strong> estas cuestiones pue<strong>de</strong><br />
ayudarles a <strong>de</strong>scubrir, al menos, lo que es un callejón sin salida, porque, “en nostro tiempo, los hombres están<br />
experimentando lo que acontece en un mundo sin Dios y sin amor‟. Evi<strong>de</strong>ntemente, ante una vida sin sentido hay que<br />
rebelarse buscando la verdad y el bien” (KÖNIG apud OTERO 1990B, p. 26-27)
Otero confessa ter tido inspiração na rebeldia adolescente “ser do contra”, ser “contra<br />
a maioria”, buscar educadores que aceitem o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> uma “rebeldia educativa”, mesmo<br />
sabendo que serão “a minoria”, ou como os adolescentes, trata-se da busca por um grupo <strong>de</strong><br />
mesma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, uma “tribo” que tenha os mesmos objetivos: colaborar para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento integral, da pessoa, do aluno:<br />
106<br />
Rebelar-se é o menos que po<strong>de</strong> fazer quem <strong>de</strong>scobre o engano do reducionismo<br />
em suas múltiplas modalida<strong>de</strong>s e em suas diversas combinações. Neste sentido, e<br />
em suas diversas combinações. Neste sentido, a rebelião juvenil – ainda que<br />
incompleta, <strong>de</strong>sorientada, instrumentalizada às vezes – é uma lição. A uns filhos<br />
rebel<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ve correspon<strong>de</strong>r a ajuda <strong>de</strong> uns pais verda<strong>de</strong>iramente rebel<strong>de</strong>s, não<br />
mimeticamente rebel<strong>de</strong>s. (OTERO, 1990b, p. 65) 110<br />
Como bom educador, Otero <strong>de</strong>monstra ao professor que uma das estratégias para<br />
<strong>de</strong>scobrir a manipulação é fazendo comparações, <strong>de</strong>senvolvendo no professor a observação, a<br />
reflexão e aguçando seu senso crítico.<br />
É possível comparar, pois, o bem físico com o bem moral, por exemplo? Para o<br />
educador, sim, porque sua ação é ajuda necessária para a melhora pessoal <strong>de</strong><br />
outros, ou seja, para crescer em bonda<strong>de</strong>. E “a primeira nota do bem moral, que já<br />
seria suficiente para dar-lhe a primazia sobre o bem físico, é a <strong>de</strong> fazer bom quem<br />
a possui... Segunda nota do bem moral, que lhe dá assim mesmo a primazia sobre<br />
o bem físico, é a <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r jamais ser objeto <strong>de</strong> abuso (KÖNIG, apud OTERO,<br />
1990b, p. 27) 111<br />
110 Rebelarse es lo menos que pue<strong>de</strong> hacer quien <strong>de</strong>scubre el engaño <strong>de</strong>l reduccionismo en sus múltiples modalida<strong>de</strong>s<br />
y en sus diversas combinaciones. En este sentido, y en sus diversas combinaciones. En este sentido, la rebelión<br />
juvenil – aunque incompleta, <strong>de</strong>sorientada, instrumentalizada a veces – es una lección. A unos hijos rebel<strong>de</strong>s <strong>de</strong>be<br />
correspon<strong>de</strong>r la ayuda <strong>de</strong> unos padres verda<strong>de</strong>ramente rebel<strong>de</strong>s, no miméticamente rebel<strong>de</strong>s. (OTERO, 1990b, p. 65)<br />
111 ¿Es posible comparar, todavía, al bien físico con el bien moral, por ejemplo? Para el educador, sí, porque su<br />
acción es ayuda necesaria para la mejora personal <strong>de</strong> otros, es <strong>de</strong>cir, para crecer en bondad. Y “la primera nota <strong>de</strong>l<br />
bien moral, que ya sería suficiente para darle la primacía sobre el bien físico, el la <strong>de</strong> hacer bueno al que lo posee...<br />
La segunda nota <strong>de</strong>l bien moral, que le da asimismo la primacía sobre el bien físico, es la <strong>de</strong> no po<strong>de</strong>r jamás ser<br />
objeto <strong>de</strong> abuso (KÖNIG, apud OTERO, 1990b, p. 27)
Percebe-se em Otero que é imprescindível a percepção dos reducionismos, da<br />
massificação e da manipulação, pois é através <strong>de</strong>sta habilida<strong>de</strong> que se pauta a proposta <strong>de</strong><br />
mudança <strong>de</strong> posicionamento, um a um, adquirindo a consciência da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rebelar-se.<br />
Constata-se que Otero não incita uma rebeldia em massa, mas cada um ao seu tempo, <strong>de</strong> acordo<br />
com a sua responsabilida<strong>de</strong> e consciência:<br />
107<br />
É uma rebeldia que não requer a atuação em massa. Cada um responsavelmente se<br />
rebela, porque não quer participar da atual neurose coletiva. Em todo caso,<br />
contagia sua rebeldia, mediante o exemplo e a palavra. (OTERO, 1990b, p. 6) 112<br />
A rebeldia é a reação inicial <strong>de</strong> quem toma consciência <strong>de</strong> influências ambientais<br />
que preten<strong>de</strong>m reduzi-lo, <strong>de</strong>teriorar sua personalida<strong>de</strong>, impedir o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> sua liberda<strong>de</strong> responsável, apoiando-se em suas próprias cumplicida<strong>de</strong>s. É a<br />
atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> oposição a um ataque suave, persistente, e inclusive prazeroso, que<br />
procura fazer <strong>de</strong> si mesmo o próprio e pior inimigo. É um modo <strong>de</strong> superar a<br />
própria passivida<strong>de</strong> frente a um engano feito <strong>de</strong> bem dizer e <strong>de</strong> bem estar.[...] Em<br />
uma socieda<strong>de</strong> permissiva saturada <strong>de</strong> irresponsabilida<strong>de</strong>, se rebela quem quer<br />
seguir sendo responsável. (OTERO, 1990b, p. 65-66) 113<br />
Desta forma tem-se que ao colocar manipulação em confronto com a “educação”,<br />
Otero mostra que a “educação” precisa assegurar-se como “educação” e não se <strong>de</strong>ixar manipular<br />
ou mais grave ainda, inconscientemente, também ser manipuladora. Referindo-se às rebeldias<br />
pedagógicas da atualida<strong>de</strong> e às pedagogias rebel<strong>de</strong>s <strong>de</strong> outros, Otero propõe uma Rebeldia<br />
Educativa crítica e fértil, mas à longo prazo, paciente, sutil e discreta:<br />
112 Es una rebeldía que no requiere la actuación en masa. Cada uno responsablemente se rebela, porque no quiere<br />
participar <strong>de</strong> la actual neurosis colectiva. En todo caso, contagia su rebeldía, mediante el ejemplo y la palabra.<br />
(OTERO, 1990b, p. 6)<br />
113 La rebeldía es la reacción inicial <strong>de</strong> quien toma conciencia <strong>de</strong> influencias ambientales que preten<strong>de</strong>n reducirlo,<br />
<strong>de</strong>teriorar su personalidad, impedir el <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> su libertad responsable, apoyándose en sus propias<br />
complicida<strong>de</strong>s. Es la actitud <strong>de</strong> oposición a un ataque suave, persistente, e incluso placentero, que procura hacer <strong>de</strong><br />
uno mismo el propio y peor enemigo. Es un modo <strong>de</strong> superar la propia pasividad frente a un engaño hecho <strong>de</strong> bien<br />
<strong>de</strong>cir y <strong>de</strong> bien estar.[...] En una sociedad permisiva, saturada <strong>de</strong> irresponsabilidad, se rebelan quienes quieren seguir<br />
siendo responsables. (OTERO, 1990b, p. 65-66)
108<br />
Em síntese, a rebeldia dos educadores frente à ação manipulada e aos efeitos da<br />
manipulação se caracteriza bem ao contrário das rebeldias em exercício. Não é<br />
aparente, nem conformista, nem estéril, nem impaciente, nem aparatosa, porque<br />
nenhuma <strong>de</strong>stas notas correspon<strong>de</strong> a uma verda<strong>de</strong>ira ação educativa. É uma<br />
rebeldia a longo prazo que não se <strong>de</strong>ixa apressar pelas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma filosofia<br />
subjetiva e imanente. É um <strong>de</strong>sacordo ativo e respeitoso. (OTERO, 1990b, p.<br />
67) 114<br />
Cabe explicar também que Otero ressalta os seguintes temas: Educação e<br />
Manipulação, Rebeldia Educativa e Ação Educativa; e apresenta quatro passos importantes como<br />
ação: conhecer sobre a manipulação e distinguir bem do conceito <strong>de</strong> educação; assumir no<br />
processo educativo uma rebeldia educativa a<strong>de</strong>rindo às suas pautas e objetivando uma educação<br />
em valores; realizar uma ação educativa voltada para a pessoa, o que resumidamente é “educar a<br />
liberda<strong>de</strong> na fé para o amor”.<br />
6.2. PAUTAS PARA A REBELDIA EDUCATIVA<br />
Rebeldia dos pais, da família: oferecer uma gran<strong>de</strong> base para pais rebel<strong>de</strong>s, para que<br />
possam apren<strong>de</strong>r e ensinar a lutar contra o que <strong>de</strong>grada, contra o que perverte e contra o<br />
escraviza a pessoa humana. Como? “[...] pensando, informando-se, <strong>de</strong>cidindo e servindo.”<br />
(OTEROS, 1990b, p. 68) 115 ;<br />
Rebeldia contra a inversão <strong>de</strong> valores: “A ação educativa começa por rebelar-se contra<br />
esta <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, cujos diversos sintomas „provém do mesmo mal: a idolátrica inversão <strong>de</strong><br />
114 En síntesis, la rebeldía <strong>de</strong> los educadores frente a la acción manipulada y a los efectos <strong>de</strong> la manipulación se<br />
caracteriza por lo contrario <strong>de</strong> las rebeldías al uso. No es aparente, ni conformista, ni estéril, ni impaciente, ni<br />
aparatosa, porque ninguna <strong>de</strong> estas notas correspon<strong>de</strong> a una verda<strong>de</strong>ra acción educativa. Es una rebeldía a largo plazo<br />
que no se <strong>de</strong>ja apresar en las re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> una filosofía subjetiva e inmanente. Es un <strong>de</strong>sacuerdo activo y respetuoso.<br />
(OTERO, 1990b, p. 67)<br />
115 “[...] pensando, informándose, <strong>de</strong>cidiendo y sirviendo.” (OTERO, 1990b, p. 68)
valores que converte os meios em fim e substitui o todo pela parte‟.(THIBON;<br />
LOVINFOSSE apud OTERO, 1990b, p. 25) 116 ;<br />
Rebeldia contra o confucionismo e contra o que é <strong>de</strong>strutivo:<br />
109<br />
A ação educativa relaciona – <strong>de</strong> modo diverso cada dia – o mutável <strong>de</strong> cada<br />
ambiente e o permanente <strong>de</strong> cada valor em processos <strong>de</strong> maturação pessoal.<br />
Estabelecer esta relação – um pouco nova em cada jornada – requer conhecer<br />
valores e ambientes; e captar o construtivo e o <strong>de</strong>strutivo <strong>de</strong> cada ambiente <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
o ponto <strong>de</strong> vista da melhora pessoal; <strong>de</strong>scobrir em cada situação o que é valioso e<br />
o que não é. Deste modo, se evitará a aceitação ou a resistência indiscriminadas<br />
<strong>de</strong> um ambiente com relação à educação. (OTERO, 1990b, p. 64) 117<br />
Rebeldia contra o ídolo do bem físico:<br />
O educador se rebela contra a norma política <strong>de</strong> ação, tornar agudo em nossos<br />
dias, „que obriga ao homem a <strong>de</strong>smantelar-se diante do ídolo do bem físico e<br />
venerá-lo como se fosse o único e absoluto bem‟ [...] “Como é óbvio, os bens<br />
físicos são importantes, mas „são sempre menos importantes que os bens morais,<br />
ainda que a aceitação <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong> tão trivial cause <strong>de</strong>sagrado a nossa<br />
imperfeição. (OTERO, 1990b, p. 27) 118<br />
Rebeldia contra a redução materialista:<br />
A rebeldia educativa se exerce, neste caso frente ao abuso do bem físico, <strong>de</strong>stas<br />
coisas materiais – úteis, se não se absolutizam – que, por si mesmas, „não fazem<br />
bem ao homem, não lhe aperfeiçoam nem edificam, e são como a água do mar,<br />
que aumenta a se<strong>de</strong> do que a bebe‟. Mas é admissível esta rebeldia educativa em<br />
uma socieda<strong>de</strong> na qual todas as estruturas conduzem ao materialismo; na qual<br />
116 “La acción educativa empieza por rebelar-se contra este <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>n, cuyos diversos síntomas „aprovienen <strong>de</strong>l<br />
mismo mal: la idolátrica inversión <strong>de</strong> valores que convierte a los medios en fin y sustituye al todo por la<br />
parte‟.(THIBON; LOVINFOSSE apud OTERO, 1990b, p. 25)<br />
117 La acción educativa relaciona – <strong>de</strong> modo diverso cada día – lo cambiante <strong>de</strong> cada ambiente y lo permanente <strong>de</strong><br />
cada valor en procesos <strong>de</strong> maduración personal. Establecer esta relación – un poco nueva en cada jornada – requiere<br />
conocer valores y ambientes; y captar lo constructivo y lo <strong>de</strong>structivo <strong>de</strong> cada ambiente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> el punto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> la<br />
mejora personal; <strong>de</strong>scubrir en cada situación qué es valioso y qué no lo es. De este modo, se evitará la aceptación o<br />
el rechazo indiscriminados <strong>de</strong> un ambiente, respecto a la educación. (OTERO, 1990b, p. 64)<br />
118 O educador se rebela contra la norma política <strong>de</strong> acción, agudizada en nuestros días, „que obliga al hombre a<br />
<strong>de</strong>rribarse ante el ídolo <strong>de</strong>l bien físico y venerarlo como si fuese el único y absoluto bien‟. [...] Como es obvio, los<br />
bienes físicos son importantes, pero „son siempre menos importantes que los bienes morales, aunque la aceptación <strong>de</strong><br />
una verdad tan trivial cause <strong>de</strong>sagrado a nuestra imperfección. (OTERO, 1990b, p. 27)
110<br />
todas as i<strong>de</strong>ologias totalitárias – do partido político que sejam – coinci<strong>de</strong>m em<br />
uma redução materialista? (OTERO, 1990b, p. 28) 119<br />
Rebeldia à palavra “bem” do mundo atual como bem material: “Sempre será permitido ao<br />
educador distinguir entre o bem físico e o bem moral para <strong>de</strong>svanecer o engano nascido<br />
da confusão que entranha a palavra „bem‟ no mundo atual” (OTERO, 1990b, p. 28) 120 ;<br />
Rebeldia contra a violência: - “Ao longo do caminho da insatisfação ao bem, a ação<br />
educativa é uma rebeldia pacífica, em contraste radical com a i<strong>de</strong>ologia da violência [...]<br />
a violência é um instrumento mais ao serviço dos valores materiais” (OTERO, 1990b, p.<br />
28) 121 ;<br />
Rebeldia contra o acomodamento dos professores e contra a superficialida<strong>de</strong> educativa:<br />
Quase ninguém quer ser enganado menos ainda em assuntos que afetam<br />
gravemente o seu <strong>de</strong>senvolvimento pessoal [...] Na prática, esta informação não<br />
basta, porque a clarida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve acrescentar a fortaleza. É necessário – para<br />
contrapor tão graves influências – uma profunda ação educativa, centrada no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento das mais importantes capacida<strong>de</strong>s humanas e na superação das<br />
principais limitações do ser humano (OTERO, 1990a, p. 104) 122<br />
119 La rebeldía educativa se ejerce, en este caso frente al abuso <strong>de</strong>l bien físico, <strong>de</strong> estas cosas materiales – útiles, si no<br />
se absolutizan – que, por sí mismas, „no hacen bueno al hombre, no le perfeccionan ni edifican, y son como el agua<br />
<strong>de</strong>l mar, que aumenta la sed <strong>de</strong>l que la bebe‟. Pero, ¿es admisible esta rebeldía educativa en una sociedad en la que<br />
todas las estructuras conducen al materialismo; en la que todas las i<strong>de</strong>ologías totalitarias – <strong>de</strong>l signo político que sean<br />
– coinci<strong>de</strong>n en una reducción materialista? (OTERO, 1990b, p. 28)<br />
120 “Siempre se le permitirá al educador distinguir entre el bien físico y el bien moral para <strong>de</strong>svanecer el engaño<br />
nacido <strong>de</strong> la confusión que entraña la palabra „bien‟ en el mundo actual” (OTERO, 1990b, p. 28);<br />
121 “No largo camino <strong>de</strong> la insatisfacción al bien, la acción educativa es una rebeldía pacífica, en contraste radical<br />
con la i<strong>de</strong>ología <strong>de</strong> la violencia [...] a violencia es un instrumento más al servicio <strong>de</strong> los valores materiales”<br />
(OTERO, 1990b, p. 28);<br />
122 Casi nadie quiere ser engañado y menos en asuntos que afectan gravemente a su <strong>de</strong>sarrollo personal [...] En la<br />
práctica, esta información no basta, porque a la claridad <strong>de</strong>be añadirse la fortaleza. Es necesario – para contrarrestar<br />
tan graves influencias – una profunda acción educativa, centrada en el <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> las más importantes capacida<strong>de</strong>s<br />
humanas y en la superación <strong>de</strong> las principales limitaciones <strong>de</strong>l ser humano (OTERO, 1990a, p. 104)
Otero oferece ao professor condições <strong>de</strong> se auto-avaliar e <strong>de</strong> avaliar sua atuação como<br />
ação educativa ou (inocentemente) manipuladora, afinal, percebeu-se em Otero uma extrema<br />
preocupação com a conscientização, com a auto-crítica e o senso crítico dos educadores.<br />
6.3. AÇÕES EDUCATIVAS POSSÍVEIS<br />
Para facilitar a compreensão das propostas <strong>de</strong> Otero, suas idéias foram organizadas e<br />
classificadas em quatro grupos, que estão dispostas numa seqüência, que também foi interpretada<br />
durante a análise. Cabe dizer aqui que os títulos e a seqüência apresentados abaixo não estão<br />
dispostos e nem apresentados <strong>de</strong>sta forma nos livros <strong>de</strong> Otero, a apresentação abaixo estabeleceu-<br />
se após um <strong>de</strong>talhado levantamento e uma criteriosa interpretação <strong>de</strong> suas idéias e propostas. As<br />
ações educativas possíveis <strong>de</strong>tectadas durante a análise ficaram divididas em: conhecer sobre a<br />
manipulação; esclarecer sobre o conceito <strong>de</strong> educação; diferenciar manipulação <strong>de</strong> educação;<br />
a<strong>de</strong>rir à Rebeldia Educativa; realizar a rebeldia - o que seria para ele as ações para a melhora<br />
pessoal do aluno.<br />
6.3.1 CONHECER SOBRE A MANIPULAÇÃO<br />
Enten<strong>de</strong>r que manipulação é um processo <strong>de</strong> reducionismo do ser humano que tem por<br />
finalida<strong>de</strong> o domínio e a <strong>de</strong>terioração humana; que se apóia na ambigüida<strong>de</strong> e que é em<br />
função <strong>de</strong> contra-valores;<br />
Perceber outras características da manipulação: fomenta a incongruência, busca<br />
cumplicida<strong>de</strong> dos pontos débeis do manipulado; promove comportamentos humanos<br />
111
pobres, massificados, com <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> escassa qualida<strong>de</strong>; instrumentaliza a pessoa<br />
humana ao serviço do lucrativo, domínio do tipo econômico, ou do i<strong>de</strong>ológico, domínio<br />
do tipo i<strong>de</strong>ológico;<br />
Perceber as três linhas fundamentais <strong>de</strong> redução (e conseqüentemente <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração<br />
humana) apresentadas por OTERO (1990B, p. 35-36) :<br />
a) uma <strong>de</strong> tipo permissivo: no conceito <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, por exemplo (reduzida a<br />
“in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>svinculada”); no conceito <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> educativa (reduzida a<br />
autorida<strong>de</strong> anônima) – na educação permissiva, tipo Summerhill – ou a autorida<strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ológica – na politização da educação etc;<br />
b) outra <strong>de</strong> tipo materialista: no conceito <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> (reduzida a “liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter”); na<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida (reduzida a bem-estar material); na felicida<strong>de</strong> humana (reduzida à<br />
felicida<strong>de</strong> natural material), etc;<br />
c) uma última <strong>de</strong> tipo coletivista ou massificadora: no conceito <strong>de</strong> pessoa humana (reduzida<br />
a “mera condição <strong>de</strong> sobrevivência das socieda<strong>de</strong>s”); no conceito <strong>de</strong> educação (reduzida a<br />
“instrumento <strong>de</strong> ação social ou política”), etc. (OTERO, 1990b, p. 35-36);<br />
Estudar os efeitos da manipulação e as causas apresentadas por OTERO (1990b, p. 35-<br />
36), pois, segundo ele, o estudo <strong>de</strong>sses efeitos – e suas causas – serve <strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> partida<br />
para o estabelecimento <strong>de</strong> zonas prioritárias em uma ação educativa realista e o estudo<br />
da relação ação-educativa-efeitos da manipulação põe <strong>de</strong> manifesto uma nova faceta na<br />
ação do educador: o estímulo – mediante o exemplo e a palavra – <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong><br />
rebeldia em quem se educa, frente ao reducionismo e suas conseqüências. Ou seja, é o<br />
próprio exercício da educação como rebeldia;<br />
112
Perceber que no conceito <strong>de</strong> manipulação se <strong>de</strong>staca o “engano” e também que se tem<br />
ponto <strong>de</strong> apoio no negativo, observar o exemplo dado por OTERO (1990b, p. 44) que<br />
toda situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontentamento favorece a manipulação, principalmente a <strong>de</strong>gradação<br />
das condições <strong>de</strong> vida cotidianas como métodos <strong>de</strong> trabalho, moradia, tempo livre,<br />
condições <strong>de</strong> trabalho da mulher casada, discriminação <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados grupos<br />
estrangeiros, particularismos étnicos, etc.;<br />
Lembrar o que disse OTERO (1990b, p. 44) sobre a ação manipuladora: que ela aproveita<br />
todos os meios ao seu alcance, lícitos ou ilícitos, que em muitos casos, utiliza-se <strong>de</strong> meios<br />
lícitos para fins ilícitos, normalmente gerando resultados que lhe são muito úteis, por<br />
exemplo, o álibi <strong>de</strong> toda uma série <strong>de</strong> progressos tecnológicos e científicos;<br />
Distinguir os elementos <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong>ira manipulação, dados por Cervós Navarro: a)<br />
um sujeito manipulador consciente; b) uma pessoa humana como objeto manipulado; c)<br />
um objeto – ou sujeito passivo – <strong>de</strong> manipulação não consciente <strong>de</strong> que se atua sobre ele;<br />
Consi<strong>de</strong>rar e perceber também o caráter muitas vezes inconsciente do manipulador, pois,<br />
segundo Otero, “muitas vezes quem manipula não tem em conta o dano que ocasiona nos<br />
<strong>de</strong>stinatários <strong>de</strong> sua ação: eles simplesmente se propõem a uns fins sem reparar na licitu<strong>de</strong><br />
ou ilicitu<strong>de</strong> dos meios e sem projetar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respeitar nem a liberda<strong>de</strong> nem a<br />
dignida<strong>de</strong> do ser humano” (OTERO, 1990b, p. 41-42) 123 ;<br />
123 “muchas veces quienes manipulan no tienen en cuenta el daño que ocasionan en los <strong>de</strong>stinatarios <strong>de</strong> su acción:<br />
ellos simplemente se proponen unos fines sin reparar en la licitud o ilicitud <strong>de</strong> los medios y sin planearse, la<br />
necesidad <strong>de</strong> respetar ni la libertad ni la dignidad <strong>de</strong>l ser humano” (OTERO, 1990b, p. 41-42);<br />
113
Lembrar das palavras <strong>de</strong> OTERO (1990b, p. 41) da possibilida<strong>de</strong> dupla (positiva e<br />
negativa) como professores, e ter consciência que “todos levamos <strong>de</strong>ntro um educador e<br />
um manipulador em potência, ainda que a ação manipuladora não seja a única forma <strong>de</strong><br />
dominar, nem a ação educativa, a única maneira <strong>de</strong> servir 124 ;<br />
6.3.2 ESCLARECER SOBRE O CONCEITO EDUCAÇÃO<br />
Compreen<strong>de</strong>r que educação é um processo <strong>de</strong> melhora pessoal que tem por finalida<strong>de</strong> o<br />
serviço e a conquista da plenitu<strong>de</strong> do ser humano; que a educação se apóia na clarida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
idéias e que é em função dos valores;<br />
Perceber outras características da educação: fomenta os comportamentos congruentes; se<br />
apóia nos pontos fortes, nas melhores possibilida<strong>de</strong>s dos educandos; promove atuações<br />
autônomas e responsáveis a partir <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iras <strong>de</strong>cisões pessoais; é um serviço <strong>de</strong><br />
melhora que finaliza sua ação na pessoa – em cada pessoa – respeitando seu modo <strong>de</strong> ser;<br />
Medir a qualida<strong>de</strong> da educação, como serviço <strong>de</strong> melhora, usando a medição proposta por<br />
OTERO (1990b, p. 41), lembrar que é maior à medida que se <strong>de</strong>senvolve a liberda<strong>de</strong> e o<br />
amor em quem educa.<br />
124 “todos llevamos <strong>de</strong>ntro un educador y un manipulador en potencia, aunque la acción manipuladora no sea la<br />
única forma <strong>de</strong> dominar, ni la acción educativa , la única manera <strong>de</strong> servir (OTERO, 1990b, p. 41).<br />
114
6.3.3 DIFERENCIAR MANIPULAÇÃO DE EDUCAÇÃO<br />
Diferenciar e perceber o radical contraste entre manipulação e educação, buscando<br />
esclarecimento;<br />
Distinguir entre o bem físico e o bem moral para acabar com a confusão da palavra Bem<br />
no mundo atual;<br />
6.3.4 ADERIR À REBELDIA EDUCATIVA<br />
Oferecer valores como ponto <strong>de</strong> referência, <strong>de</strong>scobrir e re<strong>de</strong>scobrir valores como os<br />
propostos por OTERO (1990b, p. 61), os valores da liberda<strong>de</strong>, da inteligência, do amor,<br />
da responsabilida<strong>de</strong> e da verda<strong>de</strong>, afinal, apenas assim se percebe a verda<strong>de</strong>ira rebeldia;<br />
Ter cuidado com outros pontos <strong>de</strong> referência (contra-valores). Não fazer passar por<br />
valores ou pontos <strong>de</strong> referência as “in<strong>de</strong>pendências”, as “liberações”, e as “curiosida<strong>de</strong>s”–<br />
se quer ver tudo, saber tudo e ensaiá-lo todo;<br />
Não reduzir os valores, não os inverter, nem os <strong>de</strong>struir;<br />
Não fomentar os efeitos da manipulação: o individualismo, o culto ao bem-estar, o<br />
predomínio da imagem sobre o pensamento, o consumismo; e o principal <strong>de</strong>les, o<br />
confusionismo;<br />
115
Estar atento para a mudança dos valores nas fases <strong>de</strong> crises pessoais. Em alguns casos, os<br />
que aparecem são valores substitutos que contribuem para a instrumentalização da pessoa<br />
humana. Otero exemplifica a fase da adolescência, cujos valores se reduzem a uma<br />
in<strong>de</strong>pendência utópica, absoluta, distinta, o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> ser in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e on<strong>de</strong> o querer<br />
muitas vezes confun<strong>de</strong>-se com caprichos “É um querer absolutamente não se sabe o que.<br />
É um saber o que não se quer. Como vocês são, nós não queremos ser [...] ser<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte para realizar todos meus caprichos”. (OTERO, 1990, p. 53) 125 .<br />
Lembrar o alerta feito por OTERO (1990b, p. 54) que estes “valores substitutos” acabam<br />
por colaborar para a instrumentalização da cultura e da rebeldia juvenil como mundo dos<br />
negócios e que a juventu<strong>de</strong> é um mercado muito procurado e muito rentável; ficar atento<br />
ao que contribui para fomentar a rebeldia juvenil e ao que se inventa e se ven<strong>de</strong> como<br />
cultura juvenil.<br />
Rebelar-se contra suas próprias cumplicida<strong>de</strong>s; contra os efeitos da manipulação:<br />
confusionismo, massificação (ou igualitarismo), infantilismo (ou irresponsabilida<strong>de</strong>);<br />
contra as idéias redutoras;<br />
Não substituir valores por um rechaço ou por umas <strong>de</strong>terminadas atitu<strong>de</strong>s ou postulados.<br />
Por exemplo “Be yourself!” (Seja você mesmo!), não serve quando se pergunta “O que<br />
<strong>de</strong>vo ser?”;<br />
125 “Es un querer absolutamente no se sabe qué. Es un saber lo que no se quiere. Como uste<strong>de</strong>s son, nosotros no<br />
queremos ser [...] ser in<strong>de</strong>pendiente para realizar todos mis caprichos”. (OTERO, 1990, p. 53).<br />
116
Buscar a verda<strong>de</strong> e o bem: “Diante <strong>de</strong> uma vida sem sentido tem que rebelar-se buscando<br />
a verda<strong>de</strong> e o bem” (OTERO, 1990b, p. 27) 126 ;<br />
Não realimentar o obscurecimento da inteligência, lembrar o que ensina OTERO (1990b,<br />
p. 49) sobre o <strong>de</strong>senvolvimento da estupi<strong>de</strong>z: “À estupi<strong>de</strong>z importa a negação do limite;<br />
reduzir tudo ao que se vê e lhe serve ou ao representado – mera „representação‟ ao per<strong>de</strong>r<br />
o “ser”; a sua pequenez e mediocrida<strong>de</strong>; a sua „mesquinhez insignificante‟ ” 127 ;<br />
Consi<strong>de</strong>rar o <strong>de</strong>sarme ético e <strong>de</strong>sarme estético, lembrando a explicação <strong>de</strong> OTERO sobre<br />
estes dois temas:<br />
117<br />
Muitas pessoas não estabelecem a priorida<strong>de</strong> dos valores éticos a respeito dos<br />
estéticos; e mais: nem sequer tomam em consi<strong>de</strong>ração os valores estéticos. Elas<br />
per<strong>de</strong>m feminilida<strong>de</strong>; eles se afeminam. A elegância <strong>de</strong>saparece. A moda<br />
„unissex‟ gera um certo confusionismo. “E em muitas ocasiões, o efêmero, o<br />
passageiro, a moda, o caprichoso assume o papel <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong>ira catequese,<br />
que tenta vulgarizar e impor uma concepção intranscen<strong>de</strong>nte do ser humano com<br />
os métodos e com o estilo tosco <strong>de</strong> uma ditadura <strong>de</strong> trapo”. (OTERO, 1990b,<br />
39) 128<br />
Dar primazia ao bem moral ante ao bem físico;<br />
126 “Ante una vida sin sentido hay que rebelarse buscando la verdad y el bien” (OTERO, 1990b, p. 27);<br />
127 “A la estupi<strong>de</strong>z le importa, negado el límite, reducirlo todo a lo que ve y le sirve o a lo representado – mera<br />
„representación‟, perdido el ser –, a su pequeñez y mediocridad, a su „mezquindad insignificante‟ ”. (OTERO, 1990b,<br />
p. 49)<br />
128 Muchas personas no se plantean la prioridad <strong>de</strong> los valores éticos respectos a los estéticos; es más: ni siquiera<br />
toman en consi<strong>de</strong>ración los valores estéticos. Ellas pier<strong>de</strong>n feminidad; ellos se afeminan. La elegancia <strong>de</strong>saparece.<br />
La moda „unissex‟ genera un cierto confucionismo. “Y en muchas ocasiones, lo efímero, lo pasajero, la moda, lo<br />
caprichoso asumen el papel <strong>de</strong> una verda<strong>de</strong>ra catequesis, que intenta vulgarizar e imponer una concepción<br />
intrascen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>l ser humano con los métodos y el estilo tosco <strong>de</strong> una dictadura <strong>de</strong> trapo”. (OTERO, 1990b, 39)
Distinguir entre o bem físico e o bem moral para, segundo o que nos apresentou OTERO<br />
(1990b, p. 28) <strong>de</strong>svanecer o engano nascido da confusão que penetra a palavra “bem” no<br />
mundo atual;<br />
Rebelar-se contra a norma política <strong>de</strong> ação, exposta por PALACIOS (apud OTERO,<br />
1990b, p. 27), que obriga ao homem <strong>de</strong>rrubar-se diante do ídolo do bem físico e venerá-lo<br />
como se fosse o único e absoluto bem;<br />
Rebelar-se frente ao abuso do bem físico, das coisas materiais que se absolutizadas, que<br />
segundo explicação <strong>de</strong> OTERO (1990b, p. 28) quando absolutizadas não fazem bem ao<br />
homem, não lhe aperfeiçoam e nem o edificam;<br />
Pôr ênfase na família, concordando com a opinião <strong>de</strong> OTERO (1990b, p. 26) que é<br />
necessário rebelar-se frente ao pouco respeito com que se trata hoje a família, ainda mais<br />
sabendo que é a peça mais importante da socieda<strong>de</strong>.<br />
Alimentar o amor nas famílias, não <strong>de</strong>ixar que o amor morra, colaborar para que a família<br />
se corrompa, afinal como nos afirma OTERO (1990b, p. 25) [...] é na família on<strong>de</strong> o<br />
homem apren<strong>de</strong> a dar e a compartilhar, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolve a estima e a dignida<strong>de</strong>, o respeito<br />
e o carinho. “O amor é incapaz <strong>de</strong> sobreviver se não é alimentado na família. Não<br />
po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar que a família se apodreça e se corrompa; do contrário, se extinguirá o<br />
amor no mundo. 129 ”<br />
129 El amor es incapaz <strong>de</strong> sobrevivir si no es alimentado en la familia. No po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>jar que la familia se pudra y se<br />
corrompa; <strong>de</strong> lo contrario, se extinguirá el amor en el mundo. (OTERO, 1990b, p. 25)<br />
118
6.3.5 REALIZAR A REBELDIA: AÇÕES EDUCATIVAS VOLTADA PARA A MELHORA<br />
PESSOAL DO ALUNO<br />
ações concretas:<br />
Além do que já foi exposto sobre “melhora pessoal”, Otero lembra mais algumas<br />
Crescer em bonda<strong>de</strong> e ser pacífico; contrastar radicalmente com a i<strong>de</strong>ologia da violência –<br />
concordar com OTERO (1990b, p. 27) que a violência é um instrumento a serviço dos<br />
valores materiais e que “A rebeldia não tem por que adotar, necessariamente,<br />
manifestações violentas. Será, no melhor dos casos, violência interior, violência consigo<br />
mesmo”. (OTERO, 1990b, p. 52) 130 ;<br />
Ser estímulo mediante o exemplo e a palavra, concordando com OTERO (1990b, p. 38)<br />
que o caminho a percorrer é o caminho da motivação respeitosa com a liberda<strong>de</strong><br />
responsável <strong>de</strong> quem vai se educar;<br />
Utilizar as estratégias <strong>de</strong> OTERO (1990, p. 52) <strong>de</strong> ter como ponto <strong>de</strong> apoio o positivo,<br />
utilizando um tom humano positivo, dominando a agressivida<strong>de</strong>, estabelecendo um<br />
energia interior, não tendo manifestações violentas, principalmente diante dos alunos. do<br />
Desenvolver bem a liberda<strong>de</strong> e não menosprezar a liberda<strong>de</strong> alheia, como nos ensina<br />
OTERO (1990a, p. 60-61):<br />
130 “La rebeldía no tiene por qué adoptar, necesariamente, manifestaciones violentas. Será, en el mejor <strong>de</strong> los casos,<br />
violencia interior, violencia consigo mismo”. (OTERO, 1990b, p. 52);<br />
119
120<br />
Uma liberda<strong>de</strong> que po<strong>de</strong> crescer como <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s humanas<br />
e como superação <strong>de</strong> limitações e condicionamentos. Uma liberda<strong>de</strong> para amar<br />
com um amor verda<strong>de</strong>iro, bom, bonito, or<strong>de</strong>nado. Uma liberda<strong>de</strong> responsável.<br />
Trata-se, <strong>de</strong>finitivamente, <strong>de</strong> uma liberda<strong>de</strong> conectada com a verda<strong>de</strong>, que é uma<br />
possibilida<strong>de</strong> sempre aberta e uma tarefa histórica. Para isto, necessita-se: a) o uso<br />
da inteligência – que „é o cumprimento da se<strong>de</strong> ou <strong>de</strong>sejo natural <strong>de</strong> dar com a<br />
verda<strong>de</strong> das coisas, <strong>de</strong> encontrar respostas às perguntas fundamentais sobre a<br />
existência humana‟; b) o <strong>de</strong>scobrimento do amor verda<strong>de</strong>iro –porque „a liberda<strong>de</strong><br />
é inseparável da pessoa, mas a pessoa não alcança a maturida<strong>de</strong> que não <strong>de</strong>scubra<br />
ao Outro, até que o ame e se entregue a ele‟. Por conseguinte, é também<br />
prioritário o valor do amor. (OTERO, 1990a, p. 60-61) 131<br />
Partir do conhecimento <strong>de</strong> seus limites e limitações reais do ser humano, aceitá-las e<br />
procurar a superação <strong>de</strong> algumas;<br />
Perceber quando por sua liberda<strong>de</strong> responsável po<strong>de</strong>-se chegar a ser mais;<br />
Não apoiar-se na cumplicida<strong>de</strong> do ser humano, ou seja, em suas próprias tendências<br />
<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadas;<br />
Não admitir a tendência <strong>de</strong> limitar o ser humano ao secundário; ao artificial; a objeto <strong>de</strong><br />
consumo (pelo sexo, novida<strong>de</strong>, moda, valor , contravalor);<br />
Não reduzir a relação do homem com o mundo ao nível técnico; não “super-editar” o<br />
principal ao secundário; não aprofundar o superficial; não tornar superficial o profundo;<br />
131 Una libertad que pue<strong>de</strong> crecer como <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s humanas y como superación <strong>de</strong> limitaciones y<br />
condicionamientos. Una libertad para amar con un amor verda<strong>de</strong>ro, bueno, hermoso, or<strong>de</strong>nado. Una libertad<br />
responsable. Se trata , en <strong>de</strong>finitiva, <strong>de</strong> una libertad conectada con la verdad, que es una posibilidad siempre abierta y<br />
una tarea histórica. Para ello se necesita: a) el uso <strong>de</strong> la inteligencia – que „es el cumplimiento <strong>de</strong> la sed o <strong>de</strong>seo<br />
natural <strong>de</strong> dar con la verdad <strong>de</strong> las cosas, <strong>de</strong> encontrar respuestas a las preguntas fundamentales sobre la existencia<br />
humana‟; b) el <strong>de</strong>scubrimiento <strong>de</strong>l amor verda<strong>de</strong>ro –porque „la libertad es inseparable <strong>de</strong> la persona, pero la persona<br />
no alcanza la madurez hasta que no <strong>de</strong>scubre al Otro, lo ama y se entrega a él‟. Por consiguiente, es también<br />
prioritario el valor <strong>de</strong>l amor. (OTERO, 1990a, p. 60-61)
Romper com respeito cego do limite, percebendo o perigo das palavras <strong>de</strong> SCIACCA<br />
(apud OTERO, 1990b, p. 48) quando diz que “on<strong>de</strong> está o limite, ali está o sinal da<br />
inteligência; on<strong>de</strong> o limite é negado, está o sinal da estupi<strong>de</strong>z” 132 . Lembrar o alerta <strong>de</strong><br />
OTERO (1990b, p. 48) que “nestas condições <strong>de</strong> cegueira, o ser humano, paradoxalmente,<br />
nega seus limites cada vez que incrementa suas limitações. 133 ”<br />
132<br />
“En estas condiciones <strong>de</strong> ceguera, el ser humano, paradójicamente, niega sus límites a la vez que incrementa sus<br />
limitaciones.” (OTERO, 1990, p. 48).<br />
133<br />
“Don<strong>de</strong> está el límite, allí está el signo <strong>de</strong> la inteligencia; don<strong>de</strong> el límite es negado, está el signo <strong>de</strong> la estupi<strong>de</strong>z”<br />
(SCIACCA, apud OTERO, 1990, p. 48)<br />
121
7 PROPOSTA DE VITOR GARCÍA HOZ: EDUCAÇÃO PERSONALIZADA<br />
Vitor García Hoz <strong>de</strong>talha a prática educativa escolar. Fundamenta sua proposta como<br />
uma metodologia específica, ou seja, atribuindo assim o título <strong>de</strong> Educação ou metodologia à sua<br />
proposta: a Educação Personalizada.<br />
Em termos gerais, a Educação Personalizada <strong>de</strong> Hoz difere-se da Educação<br />
Tradicional, pois tem como fundamento a visão do aluno como “pessoa” e por isso procura<br />
trabalhar com a totalida<strong>de</strong> da pessoa humana através <strong>de</strong> uma educação integral, e o acréscimo <strong>de</strong><br />
uma “educação individual” planejada junto à já conhecida “educação coletiva”. Apresenta como<br />
principais preocupações “a eficácia do ensino, a <strong>de</strong>mocratização da socieda<strong>de</strong> e das instituições<br />
escolares e a especial atenção à dignida<strong>de</strong> humana” (HOZ, 1988, p. 37) 134 . Há ainda o<br />
reconhecimento da dignida<strong>de</strong> que se estabelece pela consi<strong>de</strong>ração do homem como “pessoa”,<br />
dotado <strong>de</strong> uma vida plenamente humana, autêntica, adquirida com o exercício <strong>de</strong> sua liberda<strong>de</strong>. A<br />
educação da liberda<strong>de</strong> e da vonta<strong>de</strong> também é pauta educativa para Hoz.<br />
Hoz apresenta ao final do seu livro um “Código da Educação Personalizada”<br />
(anexo 2). Neste código, <strong>de</strong>staca como fundamentos da Educação Personalizada a singularida<strong>de</strong>,<br />
a autonomia e a abertura. Estes princípios serão apresentados no final <strong>de</strong>ste capítulo como ações<br />
educativas, mas resume o que já foi apresentado como características gerais da Educação<br />
Personalista, e o que foi visto como propostas dos outros autores. Aparecem enfocados <strong>de</strong> forma<br />
mais didática e metodológica, com possível aplicação na realida<strong>de</strong> escolar.<br />
134 “la eficacia <strong>de</strong> la enseñanza, la <strong>de</strong>mocratización <strong>de</strong> la sociedad y <strong>de</strong> las instituciones escolares y la especial<br />
atención a la dignidad humana” (HOZ, 1988, p. 37).<br />
122
Entre as maiores contribuições <strong>de</strong> HOZ, talvez estão a “cristalização” dos conceitos<br />
“educação integral”, ou seja a educação da pessoa, e o conceito “educação individual”<br />
valorizando cada pessoa em sua singularida<strong>de</strong>. A abertura à expressivida<strong>de</strong> através das<br />
participações e <strong>de</strong>cisões, e o conhecimento <strong>de</strong> si com os diagnósticos. Também o projetar-se, pois<br />
buscando metas altas, consi<strong>de</strong>ra a excelência da pessoa e a conduz para alcançá-las.<br />
7.1. EDUCAÇÃO PERSONALIZADA COMO EDUCAÇÃO INTEGRAL<br />
Partindo <strong>de</strong> toda a investigação sobre Hoz po<strong>de</strong>ria se dizer que propõe uma educação<br />
completa, integral, ou seja, o mais planejada e perfeita possível, pelo menos como teoria ou como<br />
metodologia, propõe o que <strong>de</strong>veria ser o conceito “educação”, uma educação que visa a educação<br />
da pessoa como um todo.<br />
Neste trabalho muito se investigou sobre as idéias procurando apreendê-las e entendê-<br />
las, tamanha sua complexida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>talhes. Numa tentativa – tentativa, pois analisamos<br />
preferencialmente o que diz respeito ao aspecto “apren<strong>de</strong>r a ser” - <strong>de</strong> apresentar as linhas gerais<br />
do que propõe Hoz, cabe salientar que este é um dos livros em que ele procurou <strong>de</strong>senvolver uma<br />
metodologia própria com objetivos e estratégias para <strong>de</strong>senvolver todos os aspectos humanos,<br />
resumidamente po<strong>de</strong>-se dizer que <strong>de</strong>senvolve-se: a inteligência através da compreensão dos<br />
termos latinos Educare e Educere; a vonta<strong>de</strong> através <strong>de</strong> metas altas e dos hábitos; a liberda<strong>de</strong><br />
através da abertura da escola e do professor para o seu exercício e a sua conquista; o caráter<br />
através <strong>de</strong> aquisições <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s e do auto-domínio; a personalida<strong>de</strong> através da educação<br />
individual, do conhecimento sobre si mesmo e dos diagnósticos e prognósticos que se faz <strong>de</strong> cada<br />
123
um; a alma, <strong>de</strong>senvolvendo <strong>de</strong> maneira concreta e natural a religiosida<strong>de</strong>, pela fé e pelo amor<br />
transmitidos.<br />
Os adjetivos complexa e completa para a Educação Personalizada <strong>de</strong> Hoz talvez sejam<br />
porque Hoz explora inclusive como <strong>de</strong>ve ser a administração e a estrutura física da escola, entre<br />
muitas outras coisas. Mas em termos metodológicos parece ser a mais completa entre os autores<br />
personalistas citados por abordar além <strong>de</strong> todos os aspectos educativos, a totalida<strong>de</strong> da pessoa.<br />
Hoz apresenta um gráfico interessante que exemplifica bem esta concretização do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da pessoa como um todo, mas como <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início propôs-se privilegiar o<br />
aspecto “apren<strong>de</strong>r a ser”, não se preten<strong>de</strong> neste trabalho analisá-lo (ver anexo3).<br />
7.2. EDUCAÇÃO PERSONALIZADA COMO EDUCAÇÃO INDIVIDUAL acrescida à<br />
educação coletiva<br />
A eficácia do <strong>de</strong>senvolvimento pessoal ocorre pela educação individualizada que evita<br />
os efeitos negativos que surgem da falta <strong>de</strong> atenção às características peculiares <strong>de</strong> cada sujeito,<br />
efeitos como “o surmenage, o aborrecimento, as perturbações nervosas, os maus hábitos, a<br />
passivida<strong>de</strong>, o <strong>de</strong>sgosto no trabalho, a superficialida<strong>de</strong> da leitura, a falta <strong>de</strong> originalida<strong>de</strong>” (HOZ,<br />
1988, p. 37). 135 Além <strong>de</strong>sses efeitos, a falta <strong>de</strong> motivação e a ineficácia, consi<strong>de</strong>rado por Hoz<br />
como os efeitos principais, e a mediocrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caráter e o anarquismo que são adquiridos pelas<br />
relações com a socieda<strong>de</strong>.<br />
135 “el surmenage, el aburrimiento, las perturbaciones nerviosas, los malos hábitos, la pasividad, el disgusto en el<br />
trabajo, la superficialidad <strong>de</strong> la lectura, la falta <strong>de</strong> originalidad” (HOZ, 1988, p. 37);<br />
124
7.3. PROPOSTAS DA EDUCAÇÃO PERSONALIZADA POSSÍVEIS PARA O<br />
APRENDER A SER<br />
Procurou-se para este trabalho recortar apenas as propostas que pu<strong>de</strong>ssem contribuir<br />
diretamente ao aspecto do apren<strong>de</strong>r a ser, <strong>de</strong>stacaram-se as seguintes propostas: favorecer e<br />
valorizar a abertura e a comunicação; consi<strong>de</strong>rar a importância <strong>de</strong> se respeitar e <strong>de</strong>senvolver a<br />
expressivida<strong>de</strong> do aluno na ação educativa, ou seja, incentivar a expressão <strong>de</strong> sua interiorida<strong>de</strong>;<br />
estimular a criativida<strong>de</strong> mas tão importante quanto estimulá-la é orientá-la; buscar a compreensão<br />
da excelência pessoal e elaborar objetivos para alcançá-la; elaborar projetos <strong>de</strong> trabalho para se<br />
compreen<strong>de</strong>r o aluno e para que o aluno possa também realizar, trabalhar, participar -<br />
diagnósticos e prognósticos -; estimular a formulação do projeto <strong>de</strong> vida e ajudar, se necessário e<br />
se possível, no início <strong>de</strong> sua realização.<br />
7.3.1. PROPORCIONAR ABERTURA E COMUNICAÇÃO<br />
Apesar <strong>de</strong> fazer parte do assunto sobre interação e sobre outro pilar, o “apren<strong>de</strong>r a<br />
viver juntos”, toda a proposta educativa <strong>de</strong> Hoz se faz apoiada pela interação, pois <strong>de</strong>staca a<br />
importância <strong>de</strong>la em todo processo educativo. É <strong>de</strong>stacado que toda relação humana é<br />
comunicação da pessoa humana:<br />
125<br />
[...] a comunicação implica tanto na vida pessoal (pensamento e sentimento)<br />
quanto na vida social. Na atual teoria da comunicação, a ativida<strong>de</strong> pensante tem<br />
como ponto <strong>de</strong> apoio a comunicação intrapessoal. A ativida<strong>de</strong> social é a posteriori
126<br />
ativida<strong>de</strong> comunicativa. No conjunto não apenas a cultura, mas a vida total do<br />
homem se concebe „como comunicação‟ (HALL apud HOZ, 1988, p. 57) 136<br />
Hoz apresenta a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abertura consi<strong>de</strong>rada como mais uns dos objetivos<br />
educacionais da Educação Personalizada, justamente por haver o paradoxo <strong>de</strong> uma<br />
incomunicabilida<strong>de</strong> absoluta <strong>de</strong>ntro do ser “a educação personalizada, na medida que respon<strong>de</strong> à<br />
abertura da pessoa, <strong>de</strong>semboca no <strong>de</strong>senvolvimento da capacida<strong>de</strong> comunicativa” (HOZ, 1988,<br />
p. 36) 137 .<br />
Participam <strong>de</strong>sta abertura principalmente: a família, que é consi<strong>de</strong>rada uma socieda<strong>de</strong><br />
coadjuvante e cujas relações afetivas são especiais e que não se dão em outro tipo <strong>de</strong><br />
comunida<strong>de</strong>; as amiza<strong>de</strong>s, que como relações sociais mantém-se livres <strong>de</strong> maneira constante; e<br />
por último as relações religiosas ou a abertura para Deus, que coroa a vida <strong>de</strong> relações do homem<br />
que, como homem, tem uma apelação à transcendência.<br />
Englobando estas três relações, os objetivos da capacida<strong>de</strong> comunicativa na pessoa<br />
são: “preparação do homem para as relações <strong>de</strong> colaboração na vida econômica, na vida política,<br />
na vida social e especialmente no mundo do trabalho, as relações familiares, as relações <strong>de</strong><br />
amiza<strong>de</strong> e as relações que constituem a vida religiosa” (HOZ, 1988, p. 36) 138 .<br />
136 [...] la comunicación implica tanto la vida personal (pensamiento y sentimiento) cuanto la vida social. En la<br />
actual teoría <strong>de</strong> la comunicación, la actividad pensante tiene como punto <strong>de</strong> apoyo la comunicación intrapersonal. La<br />
actividad social es a posteriori actividad comunicativa. En conjunto no sólo la cultura, sino la vida total <strong>de</strong>l hombre<br />
se concibe „como comunicación‟ (HALL apud HOZ, 1988, p. 57)<br />
137 “la educación personalizada, en la medida que respon<strong>de</strong> a la apertura <strong>de</strong> la persona, <strong>de</strong>semboca en el<br />
<strong>de</strong>senvolvimiento <strong>de</strong> la capacidad comunicativa” (HOZ, 1988, p. 36)<br />
138 “preparación <strong>de</strong>l hombre para las relaciones <strong>de</strong> colaboración en la vida económica, en la vida política, en la vida<br />
social y especialmente en el mundo <strong>de</strong>l trabajo, las relaciones familiares, las relaciones <strong>de</strong> amistad y las relaciones<br />
que constituyen la vida religiosa” (HOZ, 1988, p. 36)
Na Educação Personalizada proposta por Hoz, o aluno também exerce a função<br />
diretiva, o comando <strong>de</strong> ações que afetam a sua própria ativida<strong>de</strong> e colaboram igualmente nas<br />
<strong>de</strong>cisões que afetam as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seus companheiros ainda que surjam fracassos, pois faz<br />
parte da educação enfrentar fracassos, suportá-los e fazer-se capaz <strong>de</strong> não repetir os mesmos<br />
erros.<br />
127<br />
Se a autonomia da pessoa humana <strong>de</strong>senvolve-se na or<strong>de</strong>m afetiva mediante o<br />
exercício da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, na or<strong>de</strong>m do conhecimento também se<br />
fortalece a personalida<strong>de</strong> quando não apenas se recebe a ensino do professor, mas<br />
quando se coloca no aluno a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentar-se com o <strong>de</strong>sconhecido sem<br />
a ajuda constante do professor, ou seja, na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investigar. Harmonizase<br />
com a educação personalizada a concepção da instituição escolar não apenas<br />
como centro docente, mas também, dando sua justa medida à palavras, como um<br />
centro <strong>de</strong> investigação. (HOZ, 1988, p. 71) 139<br />
7.3.2. CONSIDERAR A IMPORTÂNCIA DA EXPRESSIVIDADE NA ATIVIDADE<br />
EDUCATIVA<br />
Partindo da afirmação <strong>de</strong> que estamos no “século da comunicação” e <strong>de</strong> que a<br />
“comunicação implica tanto a vida pessoal (pensamento e sentimento) quanto a vida social.”<br />
(HOZ, 1988, p. 57). 140 Hoz <strong>de</strong>staca a íntima necessida<strong>de</strong> que o homem tem <strong>de</strong> expressar sua<br />
interiorida<strong>de</strong> e ressaltar o <strong>de</strong>ver da Educação <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver no homem primordialmente sua<br />
capacida<strong>de</strong> expressiva e compreensiva, ou seja, sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação. HOZ (1988, p.<br />
60) coloca a idéia <strong>de</strong> centrar o trabalho escolar na ativida<strong>de</strong> expressiva e para isso apresenta o que<br />
para ele são as linguagens da ativida<strong>de</strong> mental. Apresenta três tipos básicos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los, o<br />
139 Si la autonomía <strong>de</strong> la persona humana se <strong>de</strong>senrrolla en el or<strong>de</strong>n afectivo mediante lê ejercicio <strong>de</strong> la capacidad <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cisión, en el or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>l conocimiento también se fortalece la personalidad cuando no sólo se recibe la enseñanza <strong>de</strong>l<br />
maestro, sino que se coloca al alumno en la necesidad <strong>de</strong> enfrentarse con lo <strong>de</strong>sconocido sin la ayuda constante <strong>de</strong>l<br />
maestro, es <strong>de</strong>cir, en la necesidad <strong>de</strong> investigar. Armoniza con la educación personalizada la concepción <strong>de</strong> la<br />
institución escolar no sólo como centro docente, sino también, dando su justa medida a las palabras, como un centro<br />
<strong>de</strong> investigación. (HOZ, 1988, p. 71)<br />
140 “comunicación implica tanto la vida personal (pensamiento y sentimiento) cuanto la vida social” (HOZ, 1988, p.<br />
57),
icônico, o análogo e o simbólico fazendo referência aos possíveis tipos <strong>de</strong> linguagem que se po<strong>de</strong><br />
utilizar para expressar a realida<strong>de</strong>.<br />
Segundo Hoz, o icônico utiliza uma linguagem plástica, pictorial ou direta na qual se<br />
percebe sensivelmente a relação entre o mo<strong>de</strong>lo e a realida<strong>de</strong>; o mo<strong>de</strong>lo análogo utiliza também<br />
uma linguagem gráfica ou plástica, mas implica já em uma certa abstração, maior generalida<strong>de</strong><br />
que o icônico, e com ele é possível representar sistemas dinâmicos; e o mo<strong>de</strong>lo simbólico é o<br />
mais abstrato, nele se utilizam as linguagens matemática e verbal. Explica ainda que se o uso <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>los simbólicos implica num maior risco <strong>de</strong> formalismo docente, é, todavia, o que exige uma<br />
maior ativida<strong>de</strong> intelectual para ser empregado corretamente, ao mesmo tempo que oferece<br />
maiores possibilida<strong>de</strong>s expressivas.<br />
Dentre os trabalhos expressivos apresentados, HOZ chama a atenção para a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver a linguagem dinâmica apesar <strong>de</strong> admitir ser a linguagem dinâmica, a<br />
mais complexa e a mais difícil <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir que qualquer um dos outros tipos <strong>de</strong> linguagem. Destaca<br />
que é uma linguagem particularmente a<strong>de</strong>quada para a expressão das vivências estéticas, das<br />
produções artísticas e das vivências afetivas. Caracteriza-a como qualquer ativida<strong>de</strong> dinâmica<br />
como gesto, movimento, dança, ativida<strong>de</strong>s cuja expressivida<strong>de</strong> é mais intuitiva e diretamente o<br />
que é a pessoa, representando os fatores subjetivos da vida. Para <strong>de</strong>ixar mais claro o que é a<br />
linguagem dinâmica Hoz contrapõe com a linguagem verbal e a matemática mostrando que estas<br />
são caminhos mais a<strong>de</strong>quados para expressar a realida<strong>de</strong> do mundo objetivo tal como é ou po<strong>de</strong><br />
ser conhecido pelo homem.<br />
128
Isto por consi<strong>de</strong>rar que “na expressão dinâmica o sistema <strong>de</strong> signos utilizados está<br />
constituído em gran<strong>de</strong> parte pelo próprio organismo do sujeito que se expressa.” (HOZ, 1988, p.<br />
62) 141 e também por consi<strong>de</strong>rar que enquanto as linguagens verbal, matemática e plástica têm um<br />
interesse fundamental no <strong>de</strong>senvolvimento e na vida intelectual, a linguagem dinâmica, e <strong>de</strong> certo<br />
modo, a plástica também, têm um maior interesse nas manifestações da vida afetiva, pelas<br />
ativida<strong>de</strong>s intuitivas e afetivas que proporcionam.<br />
Apesar <strong>de</strong> pôr a linguagem dinâmica em <strong>de</strong>staque, por consi<strong>de</strong>rá-la a mais ausente na<br />
educação escolar, percebe-se, que Hoz estabelece a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver na educação<br />
escolar os quatro tipos <strong>de</strong> linguagem: verbal, matemática, plástica e dinâmica. Assim, “as<br />
distintas zonas <strong>de</strong> conhecimentos cobrarão maior valor expressivo e maior rigor quando todas e<br />
cada uma <strong>de</strong>las forem apreendidas como algo que po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser expressado verbal, matemática,<br />
plástica e dinamicamente” (HOZ, 1988, p. 63) 142<br />
129<br />
A ativida<strong>de</strong> lingüística em função da expressão verbal, a ativida<strong>de</strong> matemática em<br />
função da expressão numérica, a ativida<strong>de</strong> técnica e artística em função da<br />
expressão plástica e a ativida<strong>de</strong> musical, dramática e rítmica em geral em função<br />
da expressão dinâmica. (HOZ, 1988, p. 64) 143<br />
HOZ (1988, p. 64) faz uma breve exposição do que é a expressão aparece ao lado do<br />
trabalho intelectual, ao dizer que o valor educativo da expressão firma-se na culminância <strong>de</strong> um<br />
141<br />
“en la expresión dinámica el sistema <strong>de</strong> signos utilizado está constituido en gran parte por el propio organismo<br />
<strong>de</strong>l sujeto que se expresa.” (HOZ, 1988, p. 62),<br />
142<br />
“las distintas zonas <strong>de</strong> conocimientos cobrarán mayor valor expresivo y mayor rigor cuando todas y cada una <strong>de</strong><br />
ellas sean aprendidas como algo que pue<strong>de</strong> y <strong>de</strong>be ser expresado verbal, matemática, plástica y dinámicamente”<br />
(HOZ, 1988, p. 63)<br />
143<br />
La actividad lingüística en función <strong>de</strong> la expresión verbal, la actividad matemática en función <strong>de</strong> la expresión<br />
numérica, la actividad técnica y artística en función <strong>de</strong> la expresión plástica y la actividad musical, dramática y<br />
rítmica en general en función <strong>de</strong> la expresión dinámica. (HOZ, 1988, p. 64)
processo intelectual que <strong>de</strong>semboca em um conhecimento ou em uma habilida<strong>de</strong>, assim como o<br />
trabalho intelectual no que tem <strong>de</strong> técnica e esforço é condicionante da expressão, e que,<br />
portanto, uma expressão aceitável necessita previamente um trabalho eficaz.<br />
Hoz alerta ainda que estão incluídas outras matérias, as matérias clássicas, mas que<br />
giram em torno das citadas e quanto aos conteúdos <strong>de</strong>stes trabalhos, que estes são dados pelos<br />
complementos que se incorporam que tratam <strong>de</strong> expressar a realida<strong>de</strong> natural, humana e<br />
transcen<strong>de</strong>ntal.<br />
Assim, exemplificando HOZ (1988, p. 65) explica que é da mesma forma que os<br />
clássicos planos <strong>de</strong> estudos, mas o que antes era um tempo para cada disciplina, na programação<br />
proposta e chamada por ele <strong>de</strong> “nova programação” há um tempo para cada trabalho expressivo.<br />
7.3.3. ESTIMULAR E ORIENTAR A CRIATIVIDADE<br />
Para Hoz, a criativida<strong>de</strong> é “o resultado da convergência <strong>de</strong> uma mente bem nutrida <strong>de</strong><br />
conhecimentos, <strong>de</strong> uma suficiente capacida<strong>de</strong> combinatória e <strong>de</strong> uma certa fineza <strong>de</strong> percepção. É<br />
um gravíssimo erro pensar que qualquer um po<strong>de</strong> realizar uma obra criadora sem uma prévia<br />
aprendizagem” (HOZ, 1988, p. 33) 144 .<br />
144 “el resultado <strong>de</strong> la convergencia <strong>de</strong> una mente bien nutrida <strong>de</strong> conocimientos, <strong>de</strong> una suficiente capacidad<br />
combinatoria y <strong>de</strong> una cierta finura <strong>de</strong> percepción. Es un gravíssimo error pensar que cualquiera pue<strong>de</strong> realizar una<br />
obra creadora sin un previo aprendizaje” (HOZ, 1988, p. 33).<br />
130
O cultivo da criativida<strong>de</strong> colabora para que cada homem seja quem é, diferente dos<br />
<strong>de</strong>mais, ou seja, está intimamente ligada à idéia <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>. A criativida<strong>de</strong> é uma<br />
proprieda<strong>de</strong> que se tem em maior ou menor grau e seu <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> estímulo e<br />
orientação, o que ele também chama <strong>de</strong> aprendizagem e <strong>de</strong> outros fatores como “o sentido que<br />
tem na vida, a atuação <strong>de</strong> tal capacida<strong>de</strong> por parte do sujeito, a avaliação da mudança ou<br />
<strong>de</strong>senvolvimento, o método que se <strong>de</strong>ve usar e as relações pessoais que influem no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento” (HOZ, 1988, p. 31) 145 .<br />
7.3.4. ELABORAR OBJETIVOS EM BUSCA DA EXCELÊNCIA PESSOAL<br />
Uma tarefa educativa <strong>de</strong>ve assinalar objetivos comuns e individuais ou particulares:<br />
131<br />
[...] objetivos comuns que hão <strong>de</strong> ser perseguidos e alcançados por todos os<br />
sujeitos, porque eles garantem o fundamento universal da educação e a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação entre os homens, e objetivos individuais ou<br />
particulares, próprios <strong>de</strong> cada estudante e que hão <strong>de</strong> ser alcançados a fim <strong>de</strong> que a<br />
vida do homem <strong>de</strong>senvolva a singularida<strong>de</strong> própria <strong>de</strong> qualquer pessoa, a<br />
eminência particular po<strong>de</strong> constituir, <strong>de</strong>ve constituir, um critério para a<br />
formulação dos objetivos individuais. (HOZ, 1988, p. 46) 146<br />
145 “el sentido que tiene en la vida, la actuación <strong>de</strong> tal capacidad por parte <strong>de</strong>l sujeto, la evaluación <strong>de</strong>l cambio o<br />
<strong>de</strong>sarrollo, el método que <strong>de</strong>be usarse y las relaciones personales que influyen en el <strong>de</strong>sarrollo” (HOZ, 1988, p. 31).<br />
146 [...] objetivos comunes que han <strong>de</strong> ser perseguidos y alcanzados por todos los sujetos, porque ellos garantizan el<br />
fundamento universal <strong>de</strong> la educación y la posibilidad <strong>de</strong> comunicación entre los hombres, y objetivos individuales o<br />
particulares, propios <strong>de</strong> cada estudiante y que han <strong>de</strong> ser alcanzados a fin <strong>de</strong> que la vida <strong>de</strong>l hombre <strong>de</strong>sarrolle la<br />
singularidad propia <strong>de</strong> cualquier persona, la eminencia particular pue<strong>de</strong> constituir, <strong>de</strong>be constituir, un criterio para la<br />
formulación <strong>de</strong> los objetivos individuales. (HOZ, 1988, p. 46)
Os objetivos individuais:<br />
132<br />
[...] se agrupariam em torno <strong>de</strong>ssa eminência ou traço particular <strong>de</strong> tal sorte que<br />
ela seria como o centro, e a cada vez estímulo, <strong>de</strong> toda a ocupação livre do<br />
estudante. Assim, por exemplo, se um jovem é aficionado por cavalos, por indicar<br />
algum assunto que aparentemente não tem nada a ver com a vida do colégio,<br />
po<strong>de</strong>-se tomar os cavalos como objeto <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s matemáticas (problemas<br />
relativos a cavalos). (HOZ, 1988, p. 46) 147<br />
No entanto há duas preocupações importantes: evitar que todos sejam excelentes na<br />
mesma coisa, pois tira o caráter excepcional que normalmente se atribui às qualida<strong>de</strong>s eminentes;<br />
e evitar o <strong>de</strong>spertar e o fortalecimento do distanciamento produzido pela característica <strong>de</strong><br />
singularida<strong>de</strong> que a excelência pessoal produz, pois:<br />
[...] para que uma excelência tenha valor educativo há <strong>de</strong> ser suscetível <strong>de</strong><br />
comunicação. Não no sentido estrito <strong>de</strong> que a excelência possa comunicar-se aos<br />
<strong>de</strong>mais, mas que se possa comunicar com os <strong>de</strong>mais sobre a excelência. Ou seja, a<br />
qualida<strong>de</strong> eminente possibilita que o sujeito se comunique e preste um serviço aos<br />
<strong>de</strong>mais. (HOZ, 1988, p. 46-47) 148<br />
Hoz consi<strong>de</strong>rando ainda que ...<br />
Todos e cada um dos homens tem uma particular habilida<strong>de</strong> nascida <strong>de</strong> uma<br />
especial aptidão ou <strong>de</strong> um interesse acusado por um <strong>de</strong>terminada ocupação que<br />
não entretém. A mais <strong>de</strong>licada tarefa do diagnóstico pedagógico consiste<br />
precisamente em <strong>de</strong>scobrir essa peculiar excelência pessoal daquele a quem se<br />
quer educar. Concretamente, numa instituição escolar, o diagnóstico pedagógico,<br />
com o que se tenta não „classificar‟, mas „valorar‟ o estudante, há <strong>de</strong> incluir as<br />
147 [...] se agruparían en torno <strong>de</strong> esa eminencia o rasgo particular <strong>de</strong> tal suerte que ella sería como e centro, y a la<br />
vez estímulo, <strong>de</strong> todo el quehacer libre <strong>de</strong>l estudiante. Así, por ejemplo, si un muchacho es aficionado a los caballos,<br />
por señalar algo que aparentemente no tiene nada que ver con la vida <strong>de</strong>l colegio, se pue<strong>de</strong>n tomar los caballos como<br />
objeto <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s matemáticas (problemas relativos a caballos). (HOZ, 1988, p. 46)<br />
148 [...] para que una excelencia tenga valor educativo ha <strong>de</strong> ser susceptible <strong>de</strong> comunicación. No en el sentido<br />
estricto <strong>de</strong> que la excelencia pueda comunicarse a los <strong>de</strong>más, sino que pueda comunicarse con los <strong>de</strong>más<br />
acerca <strong>de</strong> la excelencia. Es <strong>de</strong>cir, que la cualidad eminente haga posible que el sujeto se comunique y<br />
preste un servicio a los <strong>de</strong>más. (HOZ, 1988, p. 46-47)
133<br />
tantas vezes mencionadas a eminência ou a excelência peculiar do escolar. (HOZ,<br />
1988, p. 46) 149<br />
7.3.5. ELABORAR PROJETOS DE TRABALHO (DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO)<br />
Toda a educação personalizada se apóia necessariamente em um diagnóstico do<br />
sujeito, uma exploração científica que estabelece acerca das possibilida<strong>de</strong>s e limitações que um<br />
sujeito apresenta em seu <strong>de</strong>senvolvimento educativo:<br />
O diagnóstico não exclui nenhum dos instrumentos, técnicas ou métodos que<br />
possam contribuir razoavelmente com algum dado para conhecer a um sujeito.<br />
Nele cabe tanto a observação continuada <strong>de</strong> um professor sobre a conduta e o<br />
rendimento <strong>de</strong> seus alunos quanto os resultados da exploração objetiva. O<br />
diagnóstico do escolar há <strong>de</strong> cumprir todos os aspectos <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong> se<br />
verda<strong>de</strong>iramente queremos personalizar a educação. Isto vale tanto como dizer<br />
que as atitu<strong>de</strong>s, os interesses e a sociabilida<strong>de</strong> do escolar foram tidos em conta;<br />
mas também e juntamente a estes traços, as <strong>de</strong>ficiências, as inibições, a<br />
sociabilida<strong>de</strong> negativa; porque também as imperfeições hão <strong>de</strong> ser incluídas no<br />
marco total da personalida<strong>de</strong>. (HOZ, 1988, p. 41) 150<br />
Partindo do diagnóstico do sujeito estabelece-se um prognóstico, que fornece abertura<br />
a projeções a respeito do que se po<strong>de</strong> fazer e dos objetivos que se po<strong>de</strong> alcançar. Estes projetos <strong>de</strong><br />
trabalho são realizados e respaldados na convicção <strong>de</strong> que: “qualquer homem, apesar <strong>de</strong> suas<br />
limitações, po<strong>de</strong> dar um sentido a sua vida e perceber que um rendimento aceitado talvez como<br />
149 Todos y cada uno <strong>de</strong> los hombres tenemos una particular habilidad nacida <strong>de</strong> una especial aptitud o <strong>de</strong> un interés<br />
acusado por un <strong>de</strong>terminado quehacer que no entretiene. La más fina tarea <strong>de</strong>l diagnóstico pedagógico consiste<br />
precisamente en <strong>de</strong>scubrir esa peculiar excelencia personal <strong>de</strong> aquel a quien se quiere educar. Concretamente, en una<br />
institución escolar, el diagnóstico pedagógico, con el que se intenta no „clasificar‟, sino „valorar‟ al estudiante, ha <strong>de</strong><br />
incluir las tantas veces mencionadas eminencia o excelencia peculiar <strong>de</strong>l escolar. (HOZ, 1988, p. 46)<br />
150 El diagnóstico no excluye ninguno <strong>de</strong> los instrumentos, técnicas o métodos que puedan aportar razonablemente<br />
algún dato para conocer a un sujeto. En él tienen cabida tanto la observación continuada <strong>de</strong> u maestro sobre la<br />
conducta y el rendimiento <strong>de</strong> sus alumnos cuanto los resultados <strong>de</strong> la exploración objetiva. El diagnóstico <strong>de</strong>l escolar<br />
ha <strong>de</strong> cubrir todos los aspectos <strong>de</strong> su personalidad si verda<strong>de</strong>ramente queremos personalizar la educación. Esto vale<br />
tanto como <strong>de</strong>cir que las aptitu<strong>de</strong>s, los intereses y la sociabilidad <strong>de</strong>l escolar han <strong>de</strong> ser tenidos en cuenta; pero<br />
también, y junto a estos rasgos, las <strong>de</strong>ficiencias, las inhibiciones, la sociabilidad negativa; porque también las<br />
imperfecciones han <strong>de</strong> ser incluidas en el marco total <strong>de</strong> la personalidad. (HOZ, 1988, p. 41)
suficiente pela socieda<strong>de</strong>, não po<strong>de</strong> ser aceitado como tal se o sujeito for capaz <strong>de</strong> dar mais do<br />
que tem dado.” (HOZ, 1988, p. 41) 151<br />
Esses projetos <strong>de</strong> trabalho divi<strong>de</strong>m-se em: aqueles que se po<strong>de</strong> realizar<br />
individualmente, aqueles que são divididos para aten<strong>de</strong>r aos diferentes grupos da comunida<strong>de</strong><br />
escolar e aqueles que são da escola como um todo, enquanto instituição.<br />
7.3.6. ESTIMULAR A FORMULAÇÃO DO PROJETO DE VIDA<br />
A formulação <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> trabalho que aparece como ênfase na educação<br />
personalista <strong>de</strong> Hoz também aparece como forma <strong>de</strong> se exercitar a elaboração do projeto <strong>de</strong> vida.<br />
Há sempre uma reflexão por parte do aluno sobre os conteúdos e os meios <strong>de</strong> trabalho possíveis e<br />
exige-se sua plena participação. Esta participação <strong>de</strong>senvolve no educando hábitos <strong>de</strong> trabalho<br />
intelectual, como o estabelecimento <strong>de</strong> critérios <strong>de</strong> seleção dos meios <strong>de</strong> trabalho, sistematização<br />
e <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> objetivos, proporciona-lhe também conhecimentos <strong>de</strong> conteúdos <strong>de</strong> trabalho e<br />
suas relações, relações estas que se tem que estabelecer em sua existência. Ensina, pois, a projetar<br />
sua vida, seu futuro, pois ten<strong>de</strong> à elaboração <strong>de</strong> projeto pessoal, que, segundo Hoz, po<strong>de</strong> justificar<br />
a vida inteira <strong>de</strong> um homem, servindo-lhe como projeto <strong>de</strong> vida ou projeto vital.<br />
134<br />
A educação personalizada se justifica como estímulo e ajuda a um sujeito para a<br />
formulação <strong>de</strong> seu projeto pessoal <strong>de</strong> vida e para o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> levá-lo a cabo. Isto significa não apenas or<strong>de</strong>nar todos os objetivos<br />
da educação em função do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cada pessoa humana, com suas<br />
notas <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>, autonomia e abertura, mas organizar todas as ativida<strong>de</strong>s<br />
151 “cualquier hombre, a pesar <strong>de</strong> sus limitaciones, pue<strong>de</strong> dar un sentido a su vida y la <strong>de</strong> que un rendimiento,<br />
aceptado tal vez como suficiente por la sociedad, no pue<strong>de</strong> ser aceptado como tal si el sujeto es capaz <strong>de</strong> dar más <strong>de</strong><br />
lo que ha dado.” (HOZ, 1988, p. 41)
7.4. AÇÕES EDUCATIVAS POSSÍVEIS<br />
135<br />
escolares sobre a base do trabalho e da pessoal liberda<strong>de</strong> responsável <strong>de</strong> cada<br />
aluno. (HOZ, 1988, p. 44) 152<br />
Procurando <strong>de</strong>ixar as propostas <strong>de</strong> Vitor García Hoz mais possíveis e viáveis, as<br />
propostas estão sendo apresentadas abaixo com um enfoque mais prático e direto, como pautas<br />
educativas para o professor po<strong>de</strong>r utilizar em sala <strong>de</strong> aula. O último item chamado <strong>de</strong> “Princípios<br />
metodológicos <strong>de</strong> organização e ações educativas” é a compilação do Código da Educação<br />
Personalizada (v. anexo2) que também se encaixa nesta classificação “ações educativas<br />
possíveis”.<br />
Abertura, comunicação e Educação da liberda<strong>de</strong>:<br />
Desenvolver no aluno a abertura como pessoa humana, ou seja, sua capacida<strong>de</strong><br />
comunicativa;<br />
Consi<strong>de</strong>rar neste processo <strong>de</strong> abertura e <strong>de</strong> comunicação as relações familiares, sociais ou<br />
<strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e religiosas, relações com Deus, observando como a abertura e a comunicação<br />
se dão nestas relações e fomentando-as ainda mais;<br />
Deixar que o aluno também exerça ações diretivas na sala e na escola;<br />
Desenvolver a virtu<strong>de</strong> da autonomia fazendo com que o aluno tome posse da liberda<strong>de</strong> e<br />
assuma o governo <strong>de</strong> si mesmo em <strong>de</strong>terminadas situações e ativida<strong>de</strong>s possíveis a sua<br />
ida<strong>de</strong> – sem subestimá-lo;<br />
152 La educación personalizada se justifica como estímulo y ayuda a un sujeto para la formulación <strong>de</strong> su proyecto<br />
personal <strong>de</strong> vida y para el <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> la capacidad <strong>de</strong> llevarle a cabo. Esta significa no solamente or<strong>de</strong>nar todos los<br />
objetivos <strong>de</strong> la educación en función <strong>de</strong>l <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> cada persona humana, con sus notas <strong>de</strong> singularidad,<br />
autonomía y apertura, sino organizar todas las activida<strong>de</strong>s escolares sobre la base <strong>de</strong>l trabajo y <strong>de</strong> la personal libertad<br />
responsable <strong>de</strong> cada alumno. (HOZ, 1988, p. 44)
Fomentar e valorizar a iniciativa entre os alunos como <strong>de</strong>senvolver pequenos (e gran<strong>de</strong>s)<br />
projetos ou mesmo organizar ou promover pequenos (e gran<strong>de</strong>s) eventos;<br />
Oportunizar ativida<strong>de</strong>s e situações que o aluno possa eleger entre várias possibilida<strong>de</strong>s<br />
(ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eleição);<br />
Favorecer a aceitação <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas situações, como situações <strong>de</strong> perda, <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrota, <strong>de</strong><br />
dificulda<strong>de</strong>s, relacionadas às suas escolhas ou escolhas <strong>de</strong> outros (ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aceitação);<br />
Motivar a participação dos alunos inclusive no governo da instituição escolar<br />
(participação em escolhas e <strong>de</strong>cisões do cronograma <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> planejamentos <strong>de</strong><br />
conteúdos, <strong>de</strong> eventos, <strong>de</strong> mudanças...);<br />
Possibilitar situações em que a reflexão seja seguida pela <strong>de</strong>liberação;<br />
Possibilitar que o aluno vá <strong>de</strong>scobrindo, inventando possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> que tanto<br />
se po<strong>de</strong>m manifestar na produção <strong>de</strong> coisas materiais quanto na concepção e realização <strong>de</strong><br />
um estilo peculiar <strong>de</strong> vida que <strong>de</strong>ste modo virá a ser fruto da iniciativa pessoal.<br />
Estimular e orientar a criativida<strong>de</strong>:<br />
Nutrir a mente <strong>de</strong> conhecimentos; <strong>de</strong> uma suficiente capacida<strong>de</strong> combinatória e <strong>de</strong> uma<br />
certa finura <strong>de</strong> percepção;<br />
Escolher <strong>de</strong> bons métodos para se trabalhar a criativida<strong>de</strong>;<br />
Estimular a criativida<strong>de</strong> com as interações entre os indivíduos.<br />
Elaborar em conjunto e orientar a execução dos projetos <strong>de</strong> trabalho:<br />
Observar cada aluno individualmente;<br />
Elaborar o diagnóstico do sujeito; (habilida<strong>de</strong>s, limitações, <strong>de</strong>ficiências, personalida<strong>de</strong>,<br />
família, amigos...);<br />
136
Elaborar as projeções ou do prognóstico sobre o sujeito (possibilida<strong>de</strong>s);<br />
Favorecer a participação da elaboração <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> trabalho;<br />
Contribuir para a melhora do rendimento do aluno, apesar <strong>de</strong> suas limitações;<br />
Fomentar a idéia <strong>de</strong> que o aluno <strong>de</strong>ve dar um sentido à sua vida ou pensar em um sentido<br />
para a sua vida;<br />
Incentivar a se dar mais do que lhe foi dado, o mesmo que produzir, ren<strong>de</strong>r como pessoa..<br />
Orientar a elaboração e verificar as condições para realização do projeto vital:<br />
Suscitar reflexões sobre os conteúdos dos projetos <strong>de</strong> trabalho (apren<strong>de</strong>r a fazer);<br />
Suscitar reflexões sobre meios <strong>de</strong> trabalho possíveis;<br />
Exigir e cobrar participação na elaboração dos projetos <strong>de</strong> trabalho;<br />
Desenvolver no educando hábitos <strong>de</strong> trabalho intelectual: estabelecer critérios <strong>de</strong> seleção<br />
dos meios <strong>de</strong> trabalho, sistematizar e <strong>de</strong>terminar objetivos;<br />
Proporcionar-lhes conhecimentos <strong>de</strong> conteúdos <strong>de</strong> trabalho e suas relações;<br />
Estimular e ajudar a formulação <strong>de</strong> projeto <strong>de</strong> vida pessoal, para que ele <strong>de</strong>senvolva a<br />
capacida<strong>de</strong> para que o educando leve a cabo tal projeto;<br />
Or<strong>de</strong>nar todos os objetivos da educação em função do <strong>de</strong>senvolvimento da pessoa<br />
humana com suas notas <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>, autonomia e abertura;<br />
Organizar todas as ativida<strong>de</strong>s escolares sobre a base do trabalho e da liberda<strong>de</strong><br />
responsável <strong>de</strong> cada aluno;<br />
Princípios metodológicos <strong>de</strong> organização e ações educativas (ver anexo2):<br />
Organização comunitária das instituições;<br />
Participação <strong>de</strong> todos os elementos que constituem a comunida<strong>de</strong> educativa;<br />
137
Unida<strong>de</strong> do fim e do processo educativo aos sistemas <strong>de</strong> objetivos fundamentais e<br />
individuais;<br />
Conteúdos e ativida<strong>de</strong>s expressivas partindo da experiência pessoal do aluno e orientando<br />
à cultura e ao mundo profissional;<br />
Programação das ativida<strong>de</strong>s utilizando em seu tempo expressões <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> interior,<br />
cognitiva e <strong>de</strong>liberativa como as <strong>de</strong> conduta manifesta verbalmente e não verbalmente;<br />
Emprego <strong>de</strong> técnicas da educação;<br />
Determinação dos objetivos da orientação em base <strong>de</strong> uma formulação explícita dos<br />
valores que vão ser estimulados pelos alunos;<br />
Programação explícita <strong>de</strong> valores técnicos, professores especializados, e valores humanos<br />
em toda a ativida<strong>de</strong> educativa.<br />
Diagnóstico <strong>de</strong> cada escolar e utilização <strong>de</strong>ste diagnóstico por todos, inclusive, pelos pais;<br />
Prognóstico <strong>de</strong> rendimento do aluno, fundado em diagnóstico prévio e utilizado em<br />
avaliação posterior;<br />
Atuação do professor como estímulo, orientação e controle do trabalho e inclusive se<br />
ausentando para que trabalhem sozinhos;<br />
Prática <strong>de</strong> docência <strong>de</strong> equipe;<br />
Agrupamento flexível <strong>de</strong> alunos;<br />
Utilização <strong>de</strong> todas as situações <strong>de</strong> aprendizagem, po<strong>de</strong>ndo especialmente o trabalho em<br />
equipe e o trabalho individual dos escolares;<br />
Avaliação e promoção contínuas;<br />
Auto-avaliação pelo estudante e exigência <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s pelas <strong>de</strong>cisões tomadas e<br />
pelo cumprimento das ativida<strong>de</strong>s iniciadas;<br />
Participação da família e da comunida<strong>de</strong> nas ativida<strong>de</strong>s escolares;<br />
138
Avaliação permanente <strong>de</strong> todos os condicionantes e elementos da educação, para ir<br />
<strong>de</strong>scobrindo novos estímulos e métodos que cada vez façam eficaz a tarefa da<br />
comunida<strong>de</strong> educativa;<br />
Desenvolvimento e uso da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interação educativa entre os alunos<br />
139
8 DISCUSSÃO<br />
8.1 SOBRE A PERSPECTIVA PERSONALISTA<br />
8.1.1 OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO PERSONALISTA<br />
140<br />
[...] se po<strong>de</strong> dizer que a educação <strong>de</strong> hoje tem como tarefa própria a <strong>de</strong> preparar homens<br />
que saibam trabalhar, mas que sejam capazes <strong>de</strong> transcen<strong>de</strong>r ao trabalho mesmo para<br />
encontrar nele sua profunda significação humana, homens capazes <strong>de</strong> viver em<br />
comunida<strong>de</strong> sem converterem-se em massa, <strong>de</strong> participar na vida e nos problemas da<br />
socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> hoje <strong>de</strong> acordo com seu próprio critério e fazendo uso <strong>de</strong> sua responsável<br />
liberda<strong>de</strong> pessoal. E junto à vida social e <strong>de</strong> trabalho, a educação terá também que<br />
<strong>de</strong>senvolver e fortalecer a capacida<strong>de</strong> do homem para sua vida <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e <strong>de</strong> família<br />
num mundo em que os grupos pequenos têm cada vez menos força e <strong>de</strong>senvolver para a<br />
vida <strong>de</strong> fé em um mundo secularizado. Ou seja, a educação tem lugar na realização <strong>de</strong><br />
ativida<strong>de</strong>s e na comunicação pessoal com os outros. E, cada vez, <strong>de</strong>ve preparar ao<br />
homem para fazer e para relacionar-se com maior liberda<strong>de</strong> e responsabilida<strong>de</strong> pessoal.<br />
Quando essas relações são relações familiares e <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, compreen<strong>de</strong>-se muito bem<br />
que não se busca apenas, no próprio processo educativo, uma maior liberda<strong>de</strong><br />
responsável, mas também uma maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amar. O mesmo ocorre nas relações<br />
do homem com Deus. (OTERO, 1990a, p. 43-44) 153<br />
Os objetivos da Educação Personalista não são objetivos políticos ou sociais, mas<br />
objetivos humanos, e apresentam uma preocupação clara e concreta preocupação com cada<br />
pessoa, em sua totalida<strong>de</strong>: em sua individualida<strong>de</strong>, em sua intimida<strong>de</strong>, em sua personalida<strong>de</strong>, com<br />
seus sentimentos, com a sua inteligência, físico e alma, ou seja, “A finalida<strong>de</strong> educativa é<br />
facilmente compreensível: finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhora pessoal, <strong>de</strong> elevação do ser humano, <strong>de</strong><br />
153 [...] se pudiera <strong>de</strong>cir que la educación <strong>de</strong> hoy tiene como tarea propia la <strong>de</strong> preparar hombres que sepan trabajar,<br />
pero que sean capaces <strong>de</strong> trascen<strong>de</strong>r al trabajo mismo para encontrar en él su profunda significación humana,<br />
hombres capaces <strong>de</strong> vivir en comunidad sin convertirse en masa, <strong>de</strong> participar en la vida y en los problemas <strong>de</strong> la<br />
sociedad <strong>de</strong> hoy <strong>de</strong> acuerdo con su propio criterio y haciendo uso <strong>de</strong> su responsable libertad personal. Y junto a la<br />
vida social y <strong>de</strong> trabajo, la educación tendrá también que <strong>de</strong>sarrollar y fortalecer la capacidad <strong>de</strong>l hombre para su<br />
vida <strong>de</strong> amistad y <strong>de</strong> familia en un mundo en el que los grupos pequeños tienen cada vez menos fuerza, y para su<br />
vida <strong>de</strong> fe en un mundo secularizado. Es <strong>de</strong>cir, la educación tiene lugar en la realización <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s y en la<br />
comunicación personal con otros. Y, a la vez, <strong>de</strong>be preparar al hombre para hacer y para relacionarse con mayor<br />
libertad y responsabilidad personal. Cuando esas relaciones son relaciones familiares y <strong>de</strong> amistad, se compren<strong>de</strong><br />
muy bien que no se busca sólo, en el propio proceso educativo, una mayor libertad responsable, sino también una<br />
mayor capacidad <strong>de</strong> amar. Lo mismo ocurre en las relaciones <strong>de</strong>l hombre con Dios. (OTEROS, 1990a, p. 43-44)
superabundância <strong>de</strong> ser” (OTERO, 1990b, p. 41) 154 . Para Hoz “[...] o papel da escola não é<br />
fornecer cada vez mais <strong>de</strong> conhecimentos, mas selecionar do vasto conjunto dos saberes o que é<br />
essencial, e <strong>de</strong>senvolver a atitu<strong>de</strong> para adquirir e utilizar conhecimentos continuamente...” (HOZ,<br />
1988, p. 56-57) 155 .<br />
O objetivo do exercício pleno da cidadania também é apresentado por todos e é<br />
somado a este objetivo a formação do caráter, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s, resumidamente<br />
proposto por Otero como “educação da liberda<strong>de</strong> na fé para o amor”.<br />
8.1.2 A INSTITUIÇÃO ESCOLAR PERSONALISTA<br />
Por ser o autor que tratou especificamente do ambiente escolar, <strong>de</strong>ntre os<br />
pesquisadores analisados foi que mais procurou <strong>de</strong>finir e conceituar a escola. Hoz <strong>de</strong>staca a idéia<br />
<strong>de</strong> instituição escolar como comunida<strong>de</strong> educativa:<br />
141<br />
[...] na qual ao professor lhe toca falar e ao aluno escutar fica transbordada pela<br />
noção <strong>de</strong> uma escola como comunida<strong>de</strong> na qual professores e alunos apren<strong>de</strong>m, e,<br />
cada um em seu próprio plano, não apenas realiza <strong>de</strong>terminadas ativida<strong>de</strong>s, como<br />
também as or<strong>de</strong>nam. (HOZ, 1988, p, 70) 156<br />
[...] comunida<strong>de</strong> educativa, em que a iniciativa e o trabalho pessoal dos alunos<br />
constituem o centro das preocupações e cujo trabalho seja fruto da convergência<br />
não apenas das preocupações e trabalhos <strong>de</strong> alunos e professores, como também<br />
154 “La finalidad educativa es fácilmente comprensible: finalidad <strong>de</strong> mejora personal, <strong>de</strong> elevación <strong>de</strong>l ser humano,<br />
<strong>de</strong> sobreabundancia <strong>de</strong> ser” (OTEROS, 1990b, p. 41)<br />
155 [...] el papel <strong>de</strong> la escuela no es suministrar cada vez más conocimientos, sino seleccionar <strong>de</strong>l vasto conjunto <strong>de</strong><br />
los saberes lo que es esencial, y <strong>de</strong>sarrollar la aptitud para adquirir y utilizar conocimientos continuamente... (HOZ,<br />
1988, p. 56-57)<br />
156 [...] en la cual al maestro lê toca hablar y al alumno escuchar queda <strong>de</strong>sbordada por la noción <strong>de</strong> una escuela como<br />
comunidad en la cual maestros y alumnos apren<strong>de</strong>n, y, cada uno en su propio plano, no sólo realizan <strong>de</strong>terminadas<br />
activida<strong>de</strong>s, sino que las or<strong>de</strong>nan. (HOZ, 1988, p, 70)
142<br />
das preocupações, estímulos e possibilida<strong>de</strong>s das famílias e do ambiente social.<br />
(HOZ, 1988, p. 77) 157<br />
O ambiente educativo é percebido da seguinte forma:<br />
Se nos ambientes em que a educação tem lugar – o familiar, o institucional ou o<br />
escolar e o da rua – estão vigentes, ainda que seja por moda, valores importantes e<br />
verda<strong>de</strong>iros, talvez não necessite o educador fomentar a rebeldia. Quando estes<br />
ambientes estiverem saturados <strong>de</strong> <strong>de</strong>svalores ou <strong>de</strong> contravalores – como ocorre<br />
na atualida<strong>de</strong>, a causa <strong>de</strong> diversas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reducionismo – a rebeldia é<br />
necessária, ao menos, como uma força inicial que <strong>de</strong>sperte do sono do<br />
conformismo materialista – em suas diferentes modalida<strong>de</strong>s consumistas e<br />
i<strong>de</strong>ológicas. (OTERO, 1990a, p. 65) 158<br />
“A educação personalizada é uma educação aberta em uma comunida<strong>de</strong> escolar<br />
também aberta” (HOZ, 1988, p. 75). 159 A abertura da instituição escolar dada como personalista<br />
também recebe <strong>de</strong>staque entre as obras citadas sendo, inclusive, condição para a educação<br />
personalista, chamada por Hoz <strong>de</strong> “personalizada”. Há abertura da instituição escolar no sentido<br />
<strong>de</strong> receber influências da socieda<strong>de</strong> e também influir nela “o mundo em torno da escola ajuda à<br />
escola, mas a escola também ajuda ao mundo que a ro<strong>de</strong>ia. Mais concretamente, a socieda<strong>de</strong><br />
„educa‟ à escola e a escola „educa‟ a socieda<strong>de</strong>. (HOZ, 1988, p. 72) 160<br />
157<br />
[...] comunidad educativa, en la que la iniciativa y el trabajo personal <strong>de</strong> los alumnos constituyan el centro <strong>de</strong> las<br />
preocupaciones y en la que el trabajo sea fruto <strong>de</strong> la convergencia no sólo <strong>de</strong> las preocupaciones y trabajos <strong>de</strong><br />
alumnos y profesores, sino también <strong>de</strong> las preocupaciones, estímulos e posibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> las familias y <strong>de</strong>l ambiente<br />
social. (HOZ, 1988, p. 77)<br />
158<br />
Si en los ambientes en los que la educación tiene lugar – el familiar, el institucional o escolar y el <strong>de</strong> la calle –<br />
están vigentes, aunque sea por moda, valores importantes y verda<strong>de</strong>ros, quizá no necesite el educador fomentar la<br />
rebeldía. Cuando estos ambientes están saturados <strong>de</strong> disvalores o <strong>de</strong> contravalores – como ocurre en la actualidad, a<br />
causa <strong>de</strong> diversas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reduccionismo – la rebeldía es necesaria, al menos, como una fuerza inicial que<br />
<strong>de</strong>spierte <strong>de</strong>l sueño <strong>de</strong>l conformismo materialista – en sus diferentes modalida<strong>de</strong>s consumistas e i<strong>de</strong>ológicas.<br />
(OTEROS, 1990a, p. 65)<br />
159<br />
La educación personalizada es una educación abierta en una comunidad escolar también abierta. (HOZ, 1988, p.<br />
75)<br />
160<br />
“el mundo en torno <strong>de</strong> la escuela ayuda a la escuela, pero la escuela también ayuda al mundo que la ro<strong>de</strong>a. Más<br />
concretamente, la sociedad „educa‟ a la escuela y la escuela „educa‟ a la sociedad. (HOZ, 1988, p. 72)
8.1.3 O PROFESSOR PERSONALISTA<br />
O professor personalista é visto como colaborador, como a ajuda necessária para o<br />
pleno <strong>de</strong>senvolvimento do aluno e também como motivador:<br />
143<br />
A educação é, como protagonismo e como ajuda, um complexo e <strong>de</strong>licado<br />
processo que requer um continuado esforço pessoal e um imenso <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong><br />
recursos humanos e materiais. Portanto, <strong>de</strong>vem correspon<strong>de</strong>r a este processo<br />
educativo uns resultados suficientemente valiosos para motivar a promoção <strong>de</strong><br />
uma verda<strong>de</strong>ira educação – própria e alheia. (OTERO, 1990a, p. 44-45) 161<br />
Também é visto como estimulador e guia do processo reflexivo, para a tomada <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cisões e para a crítica:<br />
Na qual o mestre é um estímulo e guia do processo reflexivo e valorativo que<br />
haverá <strong>de</strong> realizar o próprio aluno para chegar a adquirir um critério objetivo e<br />
próprio que lhe faça capaz <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> avaliar a realida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> tomar <strong>de</strong>cisões<br />
fundadas legítimas e eficazes. (HOZ, 1988, p. 70) 162<br />
O conhecimento, a visão observadora e crítica dos professores é consi<strong>de</strong>rada essencial<br />
pelos autores personalistas, como para Otero que incentiva a ativida<strong>de</strong> observadora da realida<strong>de</strong><br />
da socieda<strong>de</strong> e suas limitações ambientais, reducionismos e manipulação, e também a observação<br />
da realida<strong>de</strong> escolar e propõe a auto-crítica do professor, apresentando como uma função<br />
161 La educación es, como protagonismo y como ayuda, un complejo y <strong>de</strong>licado proceso que requiere un continuado<br />
esfuerzo personal y un inmenso <strong>de</strong>rroche <strong>de</strong> recursos humanos y materiales. Por tanto, a este proceso educativo<br />
<strong>de</strong>ben correspon<strong>de</strong>r unos resultados suficientemente valiosos para motivar la promoción <strong>de</strong> una verda<strong>de</strong>ra educación<br />
– propia y ajena. (OTERO, 1990a, p. 44-45)<br />
162 En la cual el maestro es un estímulo y guía <strong>de</strong>l proceso reflexivo y valorativo que ha <strong>de</strong> realizar el propio alumno<br />
para llegar a adquirir un criterio objetivo y propio que le haga capaz <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r y valorar la realidad y <strong>de</strong> tomar<br />
<strong>de</strong>cisiones fundadas legítimas y eficaces. (EP, p. 70)
primordial do educador “avaliar o mutável” (OTERO, 1990b, p. 117) 163 . Esta necessida<strong>de</strong> da<br />
característica observadora e auto-crítica é justamente para que o professor tenha condições <strong>de</strong><br />
orientar os alunos para a “ativida<strong>de</strong> crítica”, principalmente sobre o que diz respeito à<br />
manipulação e aos reducionismos, consi<strong>de</strong>rados contra-educação.<br />
Tanta é sua preocupação com estas características ou capacida<strong>de</strong>s do professor, que<br />
Otero mostra a necessida<strong>de</strong> e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma observação dos professores por parte dos<br />
diretores e da própria socieda<strong>de</strong>, verificando o que fazem os educadores em cada organização<br />
educativa a fim <strong>de</strong> comprovar o que sabem sobre a pessoa, sobre a educação, sobre o espaço<br />
educativo, o que sabem sobre o conceito da liberda<strong>de</strong> e do amor na educação. Sua argumentação<br />
para esta condições ou características do professor é que “quando, por ignorância ou por prejuízo,<br />
estes conceitos não estiverem claros para os educadores, sua ação educativa será <strong>de</strong>feituosa, ou<br />
inclusive inútil ou contraproducente, pois falta uma verda<strong>de</strong>ira melhora pessoal”(OTERO, 1990a,<br />
p.14) 164 .<br />
144<br />
[...] apenas tratando a fundo sua ativida<strong>de</strong> educativa encontrará motivos<br />
suficientes para continuar se ocupando da educação dos outros. Tem que evitar, a<br />
todo custa, puerilizar a educação. Porque um enfoque educativo <strong>de</strong> tipo<br />
reducionista, consistente em consi<strong>de</strong>rar o trabalho educativo, mais ou menos,<br />
como um conjunto <strong>de</strong> truques ou <strong>de</strong> procedimentos, que po<strong>de</strong>m utilizar-se<br />
indiscriminadamente, conduz, como é lógico, à ineficácia e ao abandono. A<br />
singularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada ser humano, em qualquer ida<strong>de</strong>, exige tomar a sério sua<br />
educação. Ou seja, oferecer-lhe uma ajuda, na forma <strong>de</strong> exemplo e <strong>de</strong> estímulo,<br />
<strong>de</strong> máxima qualida<strong>de</strong>. E isto supõe no educador, ante tudo, um certo esforço <strong>de</strong><br />
reflexão sobre sua própria ativida<strong>de</strong> educativa à luz <strong>de</strong> algumas questões <strong>de</strong> fundo.<br />
(OTERO, 1990a, p. 22) 165<br />
163 “valorar o cambiante” (OTERO, 1990b, p. 117).<br />
164 “quando, por ignorância o por prejuicio, estos conceptos no estuvieran claros para los educadores, su acción<br />
educativa sería <strong>de</strong>fectuosa, o incluso inútil o contraproducente, puesto que faltaría una verda<strong>de</strong>ra mejora<br />
personal”(OTERO, 1990a, p.14).<br />
165 [...] sólo tratando a fondo su quehacer educativo encontrará motivos suficientes para seguir ocupándose <strong>de</strong> la<br />
educación <strong>de</strong> otros. Hay que evitar, a toda costa, puerizar la educación. Porque un enfoque educativo <strong>de</strong> tipo<br />
reduccionista, consistente en consi<strong>de</strong>rar la labor educativa, más o menos, como un conjunto <strong>de</strong> trucos o <strong>de</strong><br />
procedimientos, que pue<strong>de</strong>n utilizarse indiscriminadamente, conduce, como es lógico, a la ineficacia y al<br />
abandonismo. La singularidad <strong>de</strong> cada ser humano, a cualquier edad, exige tomar en serio su educación. Es <strong>de</strong>cir,
Cifuentes, ao tratar das virtu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> quem dirige, apresenta as qualida<strong>de</strong> das pessoas<br />
diretivas, portanto necessárias ao educador personalista, dirigindo-se também ao diretor, pais e<br />
funcionários, são elas: objetivida<strong>de</strong> frente às oportunida<strong>de</strong>s e às ameaças; humilda<strong>de</strong> frente às<br />
próprias capacida<strong>de</strong>s; magnanimida<strong>de</strong> ou afã <strong>de</strong> conquista; audácia ou capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reagir a<br />
riscos; constância, confiança nos <strong>de</strong>mais e fortaleza. No entanto, a maior característica exigida ao<br />
professor como condição <strong>de</strong> toda ação educativa, apresentando-se inclusive como unanimida<strong>de</strong><br />
em todos os personalistas, é <strong>de</strong>stacada por Otero, o amor :<br />
145<br />
De fato, a tarefa educativa apenas chega a compreen<strong>de</strong>r-se a partir do amor. Se<br />
faltar o amor nos educadores, a educação ficaria reduzida a projeção, a satisfação<br />
própria, a a<strong>de</strong>stramento humano. (OTERO, 1990a, p.51) 166<br />
Hoz propõe com a sua “educação personalizada” algumas posturas importantes do<br />
professor, ou atitu<strong>de</strong>s gerais, que o professor <strong>de</strong>ve ter em suas ações educativas. Buscar sempre:<br />
Escutar e aten<strong>de</strong>r o aluno;<br />
Oferecer campo para a iniciativa do aluno: para que ele possa eleger e or<strong>de</strong>nar;<br />
Tornar-se aprendiz, pois quando é conhecedor das necessida<strong>de</strong>s dos alunos, <strong>de</strong> suas<br />
falhas na programação e do <strong>de</strong>senvolvimento do seu trabalho e na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />
situações anormais nas famílias, inclusive se surpreen<strong>de</strong> com os alunos com<br />
conhecimentos inesperados, idéias originais, manifestações originais <strong>de</strong> imaginação e <strong>de</strong><br />
talento dos alunos;<br />
ofrecerle una ayuda, en forma <strong>de</strong> ejemplo y <strong>de</strong> estímulo, <strong>de</strong> la máxima calidad. Y ello supone en el educador, ante<br />
todo, un cierto esfuerzo <strong>de</strong> reflexión sobre su propia actividad educativa a la luz <strong>de</strong> algunas cuestiones <strong>de</strong> fondo.<br />
(OTERO, 1990a, p. 22)<br />
166 De hecho, la tarea educativa sólo llega a compren<strong>de</strong>rse a partir <strong>de</strong>l amor. Si faltar el amor en los educadores, la<br />
educación quedaría reducida a proyección, a satisfacción propia, a adiestramiento humano. (OTERO, 1990a, p.51)
Abrir-se para o novo, para a reciclagem ou readaptação exigidos pelas rápidas mudanças<br />
da ciência e da socieda<strong>de</strong>;<br />
Tornar sua ação docente uma ativida<strong>de</strong> cooperativa. O professor não tem que se<br />
consi<strong>de</strong>rar educador único, mas membro <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> educadores. Deve <strong>de</strong>ixar,<br />
inclusive que professores e diretores assistam as aulas uns dos outros;<br />
Dividir os trabalhos em grupos, em equipes docentes e <strong>de</strong>partamentos;<br />
Entre os distintos grupos existentes, dividir em equipe docente e <strong>de</strong>partamento:<br />
146<br />
A equipo docente se especifica porque aten<strong>de</strong> a um <strong>de</strong>terminado grupo <strong>de</strong> alunos,<br />
e reflete com precisão e clarida<strong>de</strong> a idéia <strong>de</strong> que a ativida<strong>de</strong> educativa <strong>de</strong> hoje vai<br />
se organizar <strong>de</strong> tal sorte que dois ou mais professores trabalhem juntos, e dividam<br />
a responsabilida<strong>de</strong> na educação do mesmo grupo <strong>de</strong> estudantes. O <strong>de</strong>partamento<br />
fica constituído por um grupo <strong>de</strong> professores que aten<strong>de</strong>m a uma mesma zona<br />
cultural. (HOZ, 1988, p. 84) 167<br />
8.2 SOBRE O APRENDER A SER E A EDUCAÇÃO PERSONALISTA ...<br />
As propostas educacionais personalistas, tanto as gerais como as específicas <strong>de</strong> cada<br />
autor, vêm mais que preencher as “lacunas” metodológicas sobre o “apren<strong>de</strong>r a ser” na educação<br />
escolar, vem enriquecer este tema ajudando-o a cumprir melhor sua função, como pilar<br />
educacional, pois “sustenta” as ativida<strong>de</strong>s do professor dando elementos para que este possa<br />
estudar ainda mais sobre o tema e possa colaborar eficazmente com o <strong>de</strong>senvolvimento do aluno<br />
para que ele possa “apren<strong>de</strong>r a ser pessoa”.<br />
167 El equipo docente se especifica porque atien<strong>de</strong> a un <strong>de</strong>terminado grupo <strong>de</strong> alumnos, y refleja con precisión y<br />
claridad la I<strong>de</strong>a <strong>de</strong> que la actividad educativa <strong>de</strong> hoy se ha <strong>de</strong> organizar <strong>de</strong> tal suerte que dos o más maestros trabajen<br />
juntos, y compartan la responsabilidad en la educación <strong>de</strong>l mismo grupo <strong>de</strong> estudiantes. El <strong>de</strong>partamento está<br />
constituido por un grupo <strong>de</strong> profesores que atien<strong>de</strong>n a una misma zona cultural. (HOZ, 1988, p. 84)
Este complemento ao pilar educacional, “apren<strong>de</strong>r a ser”, proporciona a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos estudos, pois se <strong>de</strong>scobriu por orientação da Perspectiva Personalista que<br />
não é possível simplesmente “ser”. O conceito “apren<strong>de</strong>r a ser”, como está, mostra-se reduzido<br />
apenas à oposição a ter – apren<strong>de</strong>r a pensar em valores e no espiritual - ou à oposição <strong>de</strong> estar –<br />
apren<strong>de</strong>r a manifestar-se e a permanecer como ser humano -, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo única e exclusivamente<br />
da interpretação assumida, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar o professor in<strong>de</strong>ciso ou mesmo liberando para diversas<br />
possibilida<strong>de</strong>s, pois fica diante <strong>de</strong> uma pergunta “apren<strong>de</strong>r a ser o quê?”<br />
Po<strong>de</strong>-se inferir que a Educação Personalista não se opõe a estas interpretações,<br />
concorda com esta necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar em valores e no espiritual e com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
assumir-se e manifestar-se como humano. Mas <strong>de</strong>vido à insistente lembrança nas publicações<br />
analisadas <strong>de</strong> que quem <strong>de</strong>ve ser “melhorada”, “construída”, “<strong>de</strong>senvolvida” e “formada” é a<br />
pessoa, conclui-se que este conceito “apren<strong>de</strong>r a ser”, para a Perspectiva Personalista, é<br />
incompleto, e ao invés <strong>de</strong> se opor, os autores resolveriam esta imprecisão do termo completando-<br />
o com o conceito “pessoa”, fazendo da Antropologia Filosófica a norteadora <strong>de</strong>ssa necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> melhora do “ser”.<br />
Assim tem-se que o termo “apren<strong>de</strong>r a ser pessoa”, ainda não trabalhado em literatura<br />
educacional, não reduz e nem contradiz o conceito <strong>de</strong> “apren<strong>de</strong>r a ser”, apenas o amplia, o<br />
sustenta, com o embasamento na Antropologia Filosófica, e oferece condições inclusive <strong>de</strong><br />
explicá-lo proporcionando novos e amplos estudos sobre o este novo conceito “apren<strong>de</strong>r a ser<br />
pessoa”.<br />
147
É importante consi<strong>de</strong>rar que embora tenha-se percebido as relações acima, este<br />
trabalho, conforme objetivo, procurou permanecer no pilar “apren<strong>de</strong>r a ser” justamente para não<br />
ter <strong>de</strong> penetrar em toda a Educação Personalista, pois o comentado “apren<strong>de</strong>r a ser pessoa” diria<br />
respeito a tudo o que a Educação Personalista propõe, pois “educar a pessoa” é a sua essência, a<br />
sua proposta.<br />
Embora não tenha tido como objetivo comparar o Relatório Jacques Delors com a<br />
Educação Personalista, mas buscar as contribuições <strong>de</strong>sta última para o pilar “apren<strong>de</strong>r a ser” do<br />
Relatório, faz-se necessário uma breve consi<strong>de</strong>ração sobre algumas diferenças importantes.<br />
Ambos, no que se refere ao pilar “apren<strong>de</strong>r a ser”, têm o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>svincular ou pelo menos<br />
amenizar a priorização da visão materialista do “ter” e suas ramificações presentes no mundo<br />
mo<strong>de</strong>rno: liberalismo, individualismo, consumismo, materialismo, competitivida<strong>de</strong>,<br />
superficialida<strong>de</strong>, falta <strong>de</strong> valores morais, éticos e cristãos e mesmo a falta <strong>de</strong> sentido da vida (da<br />
própria existência). Entre as diferenças po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar:<br />
Apesar <strong>de</strong> o Relatório apresentar consi<strong>de</strong>rações sobre o termo “pessoa” e sobre o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento total, a idéia <strong>de</strong> pessoa apresentada pelo Relatório Jacques Delors não<br />
representa TODO o significado assumido pela Educação Personalista, cuja <strong>de</strong>nominação<br />
já admite um maior aprofundamento sobre este conceito <strong>de</strong> pessoa.<br />
As idéias do Relatório são enfocadas mais para o social e para o global, fala-se muito em<br />
“cooperação internacional”, “papel social” e “al<strong>de</strong>ia global”; já a Educação Personalista,<br />
pelo próprio nome trata mais sobre o individual e o pessoal. Entre os termos e conceitos<br />
148
mais usados tem-se “<strong>de</strong>senvolvimento pessoal”, “melhora pessoal” e “educação da<br />
pessoa”, “limitações pessoais”, “educação pessoal”.<br />
Enquanto o Relatório apresenta a supervalorização do ter ao ser; os personalistas<br />
nomeiam materialismo e consumismo e vão mais a fundo verificando as causas, a<br />
manipulação e os reducionismos e seus efeitos, a redução do ser humano ou<br />
reducionismos, da pessoa mostrando que as pessoas estão <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ser pessoa para<br />
serem objetos, ou pessoas coisificadas, <strong>de</strong>gradadas;<br />
A Educação Personalista preza cautela, pela argumentação e pela explicação <strong>de</strong>talhada <strong>de</strong><br />
conceitos buscando sempre justificar, exemplificar ou mesmo comprovar suas idéias e<br />
propostas. Ao contrário disso, o Relatório apresenta conceitos e orientações vagas e que<br />
geram diversas interpretações, como “construir uma cultura pessoal” – não <strong>de</strong>fine ou<br />
esclarece sobre este termo “cultura”; “viagem interior rumo ao conhecimento” - as<br />
palavras “viagem” e “interior” não são explicadas ; “buscar raízes ou referência”, - não<br />
oferece mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> referência ou <strong>de</strong> raízes; Procurando mostrar a contraposição é preciso<br />
consi<strong>de</strong>rar que se fossem propostas apresentadas pela Educação Personalista todos estes<br />
termos seriam arduamente refletidos, comentados e repetidos. No Relatório eles aparecem<br />
como citações ou orientações gerais, sem muita cautela com sua interpretação com o<br />
contexto <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando a amplitu<strong>de</strong> e a abrangência do seu significado.<br />
A Educação Personalista é respaldada pela Antropologia Filosófica, enquanto o Relatório<br />
Jacques Delors, apesar <strong>de</strong> utilizar conceitos <strong>de</strong>sta, por ser um parecer <strong>de</strong> uma comissão <strong>de</strong><br />
149<br />
vários países, não estabelece uma teoria, mas apresenta-se como uma mistura <strong>de</strong> várias
concepções teórico-filosóficas <strong>de</strong> vários países, como que afirmando sua idéia <strong>de</strong> al<strong>de</strong>ia<br />
global;<br />
Enquanto a Educação Personalista aprofunda e explora os temas mostrando inclusive sua<br />
relevância e importância educativa, algumas orientações do Relatório po<strong>de</strong>m ser<br />
consi<strong>de</strong>radas não-educativas ou até anti-éticas, pois esbarram em temas que dizem<br />
respeito à manipulação ou <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ram a ética <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s: tem-se a valorização da<br />
“provocação” como manifestação da criativida<strong>de</strong>: “A diversida<strong>de</strong> das personalida<strong>de</strong>s, a<br />
autonomia e o espírito <strong>de</strong> iniciativa, até mesmo o gosto pela provocação, são os suportes<br />
da criativida<strong>de</strong> e da inovação.” (DELORS, 1990, p. 100); e a aprovação <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s<br />
“segundo as tradições e convicções <strong>de</strong> cada um”;<br />
A importância da expressivida<strong>de</strong>, dada por Hoz, também tem sua amplitu<strong>de</strong> maior que a<br />
manifestação da imaginação e da criativida<strong>de</strong>. Enquanto a imaginação e a criativida<strong>de</strong><br />
aparecem como objetivos a serem atingidos, o expressar-se não têm objetivos tão<br />
específicos, abre-se também à expressão dos sentimentos, das angústias, da própria<br />
personalida<strong>de</strong> e individualida<strong>de</strong>. A abertura para a expressivida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser instrumento<br />
para <strong>de</strong>senvolver a criativida<strong>de</strong>, aliás, ao conceito <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> está ligado o conceito da<br />
própria manifestação da singularida<strong>de</strong> da pessoa humana. O conceito <strong>de</strong> imaginação<br />
recebe mais cautela por parte dos personalistas mesmo porque amparado pela<br />
Antropologia Filosófica, é vista pertencente às faculda<strong>de</strong>s humanas inferiores, ou seja,<br />
<strong>de</strong>ve ser “dominada” pela vonta<strong>de</strong>, “amparada” pela inteligência e “orientada” pelo o<br />
150<br />
caráter, associando inclusive à ética <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s. Desta forma, tem-se que enquanto a
criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser “estimulada”, a imaginação <strong>de</strong>ve ser “cultivada” sob orientação do<br />
professor;<br />
A rebeldia do Relatório é pensada <strong>de</strong> forma “global” e apresenta-se como <strong>de</strong>fesa do<br />
indivíduo, das diversida<strong>de</strong>s e se embasa em quatro objetivos, os pilares. Já a Rebeldia<br />
Personalista aposta na “singularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada pessoa” propondo a auto-<strong>de</strong>fesa do<br />
indivíduo que utilizando-se <strong>de</strong> suas capacida<strong>de</strong>s e conhecendo suas dificulda<strong>de</strong>s<br />
individuais e as dificulda<strong>de</strong>s coletivas da socieda<strong>de</strong> – manipulação, reducionismos....-<br />
po<strong>de</strong> melhorar-se a cada dia e colaborar com a socieda<strong>de</strong> como um todo, embasa-se, pois,<br />
no conceito <strong>de</strong> “pessoa” e em suas possibilida<strong>de</strong>s educativas. Ambas as propostas<br />
propõem a melhora da pessoa, a primeira vê nela isso, um instrumento da educação,<br />
apresentado como uma parte dos objetivos, enquanto a outra vê esta postura como a<br />
principal a orientadora das outras, afinal é o seu principal objetivo;<br />
O Relatório reporta-se a “cultura <strong>de</strong> paz” enquanto a Educação Personalista aprofunda o<br />
tema “harmonia interior” e “paz interior”, nas palavras <strong>de</strong> Cifuentes;<br />
O Relatório cita muitas virtu<strong>de</strong>s educacionais: responsabilida<strong>de</strong>, justiça, amor, fé..., mas<br />
não faz nenhuma consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> como consegui-las; Esta abordagem é muito bem<br />
explicada e aprofundada por Cifuentes;<br />
Sobre as tensões apresentadas pelo Relatório, em linhas gerais comprovam a sintonia<br />
<strong>de</strong> idéias e a preocupação e percepção <strong>de</strong> problemas semelhantes:<br />
151
A tensão entre “a tradição e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>” aproxima-se com a problemática <strong>de</strong>ste<br />
trabalho, pois caracteriza, ainda que indiretamente, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento<br />
pessoal e científico sem proporcionar a <strong>de</strong>gradação ou redução <strong>de</strong> nenhum outro homem,<br />
inclusive <strong>de</strong> si mesmo.<br />
A tensão entre “soluções a curto e a longo prazo” ainda que estejam enfocadas sobre a<br />
política educacional, na sua citação no Relatório Jacques Delors, i<strong>de</strong>ntifica com o alerta<br />
<strong>de</strong> Otero sobre o imediatismo característico da socieda<strong>de</strong> atual, e porque não dizer, da<br />
própria pessoa. Esta tensão também justifica o que outros autores, como Hoz e Cifuentes,<br />
chamam <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> sentido na vida, também citado pelo Relatório.<br />
A tensão entre “a indispensável competição e o cuidado com a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
oportunida<strong>de</strong>s”, equivale ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> dois valores fundamentais: a liberda<strong>de</strong> e<br />
o amor. Estes são valores que todos os autores personalistas concordam que <strong>de</strong>vem haver<br />
na educação como meio educativo (na liberda<strong>de</strong> e no amor) e como objetivos (para a<br />
liberda<strong>de</strong> e para o amor), pois há que se ter justiça, cooperação, solidarieda<strong>de</strong> em meio à<br />
competição. Isto <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> como foi educada a liberda<strong>de</strong> do educando e se este<br />
educando foi educado no amor e para o amor.<br />
A tensão entre “o extraordinário <strong>de</strong>senvolvimento dos conhecimentos e as capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
assimilação pelo homem” po<strong>de</strong>-se partir <strong>de</strong> toda a argumentação <strong>de</strong> Otero, pois a própria<br />
manipulação é o efeito da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> assimilação pelo homem, também se relaciona,<br />
ainda que indiretamente, com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> superação <strong>de</strong> <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s e<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s, entre elas a reflexão a crítica. O conhecimento <strong>de</strong> si<br />
152
mesmo também colabora, com esta assimilação, pois com a assimilação <strong>de</strong> si próprio<br />
apren<strong>de</strong>-se a ser, já que “ser” não se ensina, se apren<strong>de</strong>. Já que é a própria pessoa que se<br />
“<strong>de</strong>senvolve”, se “constrói” <strong>de</strong> acordo com sua vonta<strong>de</strong> e suas escolhas utilizando-se a<br />
conquista <strong>de</strong> sua liberda<strong>de</strong> e a orientação e colaboração <strong>de</strong> uma pessoa com ação<br />
directiva, seja o professor, os pais ou até profissionais como “psicólogos” e “orientadores<br />
familiares”.<br />
Já a tensão entre “o espiritual e o material” que é sutilmente <strong>de</strong>finida como “se<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>al<br />
e <strong>de</strong> valores morais”, apesar <strong>de</strong> aparecer indiretamente nos temas ética e virtu<strong>de</strong>s, é<br />
expressamente assumida pela Educação Personalista como ativida<strong>de</strong> religiosa ou ação<br />
educativa para a religiosida<strong>de</strong>. A educação personalista é pautada, além da Antropologia<br />
Filosófica, na Educação Moral Cristã. Um ponto interessante percebido na escola visitada<br />
(apresentada na justificativa) é que se respeita o pluralismo religioso, aceitando a entrada<br />
<strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> outras religiões – judias, muçulmanas. Mas assim como há o respeito e a<br />
valorização <strong>de</strong> outras religiões, há também a preocupação em não romper ou abalar a<br />
prática religiosa da família. Com o consenso dos pais, é <strong>de</strong>cidido não trabalhar a religião<br />
contrária à da criança – na escola visitada, a religião católica - a criança <strong>de</strong>senvolve<br />
ativida<strong>de</strong>s alternativas com durante o horário das ativida<strong>de</strong>s religiosas da escola.<br />
8.3 SOBRE AS PROPOSTAS GERAIS DA EDUCAÇÃO PERSONALISTA ...<br />
Ainda que algumas diferenças ou ressalvas sejam feitas, diante da aproximação <strong>de</strong>stas<br />
duas concepções “apren<strong>de</strong>r a ser” e “educação personalista” tem-se que a Educação Personalista<br />
aten<strong>de</strong>, ainda que indiretamente, aos anseios do pilar “apren<strong>de</strong>r a ser”, indiretamente, pois o<br />
153
Relatório foi concebido e elaborado in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da Educação Personalista. Pela exposição<br />
chega-se à conclusão que este aten<strong>de</strong>r não significa apenas concordância com as idéias contidas<br />
nele, com algumas ressalvas expostas acima, mas ampliação, complementarida<strong>de</strong> e também<br />
enriquecimento. Isto se comprova pelas propostas aqui apresentadas, pois muitas <strong>de</strong>las foram<br />
sugeridas, citadas e comentadas pelo Relatório e particularmente pelo pilar “apren<strong>de</strong>r a ser”, mas<br />
apenas analisando as idéias e as propostas da Educação Personalista que se pô<strong>de</strong> compreendê-<br />
las, aprofundá-las, diferenciá-las e po<strong>de</strong>ndo até ser aplicadas <strong>de</strong>vido a amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> propostas,<br />
estratégias e ações educativas propostas aqui levantadas. Entre estes termos ampliados aparecem:<br />
“totalida<strong>de</strong> da pessoa humana”, “processo para toda a vida”, “construção contínua”,<br />
“projeto vital”, “sentido da vida”, “melhora pessoal”, “educação permanente”, sobre este<br />
último, o relatório coloca a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ampliar a idéia.<br />
Outros termos aparecem aplicados, exemplificados ou metodologicamente explicados<br />
pela Educação Personalista, são eles:<br />
“valores”- a Educação Personalista alerta para a importância em diferenciá-los em<br />
permanentes e mutáveis ou transitórios;<br />
“talentos” ou “tesouros escondidos no interior do ser humano” - Educação<br />
Personalista propõe sua i<strong>de</strong>ntificação através dos diagnósticos e sua potencialização<br />
através dos projetos <strong>de</strong> trabalho e da valorização da expressivida<strong>de</strong>;<br />
“consciência individual e coletiva” - é proporcionada pela oportunização através <strong>de</strong><br />
ambientes favoráveis e construtivos;<br />
“metas <strong>de</strong> auto-aperfeiçoamento” - são tratadas e explicadas como prognósticos e<br />
concretizados através dos planos <strong>de</strong> trabalho;<br />
154
“aquisição <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s diversas” - são pontuadas e claramente i<strong>de</strong>ntificadas como<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s e aquisição <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s;<br />
“interacionismo” - é apresentado como instrumento e não apenas como viver junto ou<br />
viver em socieda<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> apresentar o que <strong>de</strong>senvolve: a comunicação, a abertura e a<br />
expressivida<strong>de</strong>, a Educação Personalista amplia os agentes comunicativos ao estabelecer a<br />
escola como uma comunida<strong>de</strong> educativa, on<strong>de</strong> a família tem o seu papel, on<strong>de</strong> uma ação<br />
diretiva – professor orientador ou tutor – faz-se necessária e on<strong>de</strong> a ausência do professor<br />
também é consi<strong>de</strong>rada como importante e é, inclusive, planejada para que o<br />
interacionismo natural entre os alunos também se realize;<br />
Deixando as comparações filosóficas e as contradições <strong>de</strong> lado, como recomendação<br />
para novos estudos sobre o tema, optou-se neste trabalho por permanecer no tema “apren<strong>de</strong>r a<br />
ser” <strong>de</strong>ntro da Perspectiva Personalista, ou seja, buscou-se não contradizer, mas ampliar o tema<br />
“apren<strong>de</strong>r a ser” e mostrando formas <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver e melhorar esta aprendizagem, ainda que<br />
tenha que a todo momento se resgatar o conceito <strong>de</strong> pessoa, que justifica toda a fundamentação<br />
da Educação Personalista.<br />
Procurando discutir sobre as contribuições da Perspectiva Personalista para o aspecto<br />
“apren<strong>de</strong>r a ser” e cumprir com os objetivos propostos <strong>de</strong>stacam-se abaixo alguns conceitos e<br />
propostas que enriqueceram o aspecto do “apren<strong>de</strong>r a ser” ou que pelo menos proporcionam<br />
reflexão e po<strong>de</strong>m causar novas discussões e estudos. Entre as propostas gerais apresentadas,<br />
alguns termos citados como “educação integral” e “educação individual”, embora conhecidos<br />
pela Pedagogia, ganham um outro significado já explicitados no <strong>de</strong>correr do trabalho; o primeiro<br />
155
por ter como embasamento na totalida<strong>de</strong> da “pessoa” e o segundo por consi<strong>de</strong>rar a “intimida<strong>de</strong>”,<br />
“a singularida<strong>de</strong>”, a “alma”, “os sentimentos” e “excelência pessoal” <strong>de</strong> cada aluno.<br />
Outras propostas po<strong>de</strong>m causar estranheza e até polêmica, mas sem a preocupação em<br />
iniciar um natural <strong>de</strong>bate sobre o assunto, procurou-se perceber a relevância <strong>de</strong> cada proposta<br />
para o aspecto do “apren<strong>de</strong>r a ser” e entendê-las como contribuição para a realida<strong>de</strong> escolar atual.<br />
Percebeu-se que a educação da vonta<strong>de</strong>, a educação da liberda<strong>de</strong> (na liberda<strong>de</strong> e para a<br />
liberda<strong>de</strong>), os hábitos, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s e superação <strong>de</strong> <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s e limitações<br />
e a elaboração <strong>de</strong> um projeto vital mais do que propostas é uma necessida<strong>de</strong>, não apenas do<br />
aluno, mas também do professor e da própria socieda<strong>de</strong>. Por isso algumas consi<strong>de</strong>rações sobre<br />
estas propostas em específico antes <strong>de</strong> apresentar as contribuições <strong>de</strong> cada autor aqui investigado.<br />
8.3.1 EDUCAÇÃO DA LIBERDADE<br />
A liberda<strong>de</strong> aparece vista como necessária <strong>de</strong> educação, ou seja, como um conteúdo<br />
que precisa ser trabalhado, ser ensinado. A liberda<strong>de</strong> precisa ser educada (educação da liberda<strong>de</strong>)<br />
e tem um objetivo interessante que é a conquista <strong>de</strong>la própria (educação para a liberda<strong>de</strong>”) o que<br />
po<strong>de</strong>ria ser compreendido como seu uso pleno, sem orientação. A princípio, o termo “educação<br />
para a liberda<strong>de</strong>” causa estranheza, pois parece que o aluno está “aprisionado” na escola<br />
almejando sua liberda<strong>de</strong>, mas com uma leitura apurada percebeu-se que é justamente o contrário,<br />
pois a liberda<strong>de</strong> é tanta que até supera a muitas escolas tradicionais, além <strong>de</strong> ser pauta educativa<br />
(educação na liberda<strong>de</strong>) e <strong>de</strong> ser compreendida como direito do aluno, como pessoa que é. O<br />
professor, diferente do que se imaginava não é o “vigia” do aluno, apresenta-se na forma <strong>de</strong><br />
orientador <strong>de</strong>sta liberda<strong>de</strong>, caso haja necessida<strong>de</strong>, pois a abertura para o aluno é tanta que ele<br />
156
influi inclusive no governo da própria escola, porque a própria escola sabe que ele tem condições<br />
para usar a sua liberda<strong>de</strong> sem atingir a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ninguém.<br />
Esta confiança <strong>de</strong>positada no aluno juntamente com a “conduta” <strong>de</strong> escuta,<br />
compreensão das necessida<strong>de</strong>s e abertura total para a participação do aluno, gera possibilida<strong>de</strong>s<br />
múltiplas <strong>de</strong> escolhas, <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e contribui para o fomento <strong>de</strong> iniciativas e da prática concreta<br />
da autonomia e responsabilida<strong>de</strong>, tão necessárias na educação atual. Além <strong>de</strong>stes “treinos” ou<br />
“exercícios” quanto ao uso <strong>de</strong> sua liberda<strong>de</strong>, também há a preocupação em ensinar o aluno a<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se contra a manipulação para que não seja, inclusive, instrumentalizado pela falsa idéia<br />
<strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> “tudo po<strong>de</strong>r”, sem se importar com os meios e com as pessoas que estão no<br />
caminho para se conseguir algo, pelo simples fato <strong>de</strong> saber-se livre. Resumindo ensina-se o aluno<br />
a SER LIVRE numa socieda<strong>de</strong> tão liberal e instrumentalizada.<br />
8.3.2 EDUCAÇÃO DA VONTADE<br />
Talvez a lacuna mais interessante existente no aspecto “apren<strong>de</strong>r a ser” seja<br />
justamente a educação da vonta<strong>de</strong>. Pensa-se na memória, na inteligência, na imaginação, na<br />
linguagem, no físico, no psicológico, no emocional, na afetivida<strong>de</strong>, mas e na vonta<strong>de</strong>? Se a<br />
vonta<strong>de</strong> faz parte do ser humano, por que não a <strong>de</strong>senvolver também? Aliás, os problemas <strong>de</strong><br />
“imaturida<strong>de</strong>”, “passivida<strong>de</strong>” e “morbi<strong>de</strong>z” dos jovens <strong>de</strong> hoje, sem ânimo para nada,<br />
<strong>de</strong>sanimando na primeira queda e reclamando <strong>de</strong> tudo, não se esforçando por aquilo que é bom<br />
para ele e para o que não “parece” ser bom, mas que a maioria das pessoas sabem que é. Estes<br />
problemas parecem ocorrer justamente por não se educar a vonta<strong>de</strong> e não orientá-la para a<br />
responsabilida<strong>de</strong> e para o respeito. Afinal, não se po<strong>de</strong> mais pensar no objetivo (a vonta<strong>de</strong>) e no<br />
157
fim (o po<strong>de</strong>r), mas nos meios que se utilizou para concretizar esta vonta<strong>de</strong> e se chegar a esse fim.<br />
Embora tenha sido investigado colocado o olhar apenas sobre sua investigação sobre a Educação<br />
do caráter, o tema educação da vonta<strong>de</strong> é retomado no tema caráter, argumentando que mais do<br />
que o caráter, tem-se que refletir sobre como educar a vonta<strong>de</strong>.<br />
8.3.3 EDUCAÇÃO E HÁBITOS<br />
Muitos dirão tratar-se <strong>de</strong> condicionamentos, sem entrar no mérito <strong>de</strong>sta discussão.<br />
Mas os personalistas apoiando-se na ética das virtu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Aristóteles como explicação, expõe que<br />
nada melhor do que o ambiente escolar para praticar-se o que se apren<strong>de</strong>u.<br />
O problema talvez seja justamente aquilo que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ensinar, por exemplo, o<br />
respeito aos professores, a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, a autonomia em certas ativida<strong>de</strong>s, a<br />
responsabilida<strong>de</strong> em outras... Algumas práticas estão sendo <strong>de</strong>ixadas <strong>de</strong> lado na escola e estão<br />
sendo esquecidas ou abandonadas em casa e também pela família.<br />
Os personalistas apresentam que a escola po<strong>de</strong> proporcionar outros hábitos além <strong>de</strong><br />
fazer a tarefa e estudar para a prova, po<strong>de</strong> ensinar responsabilida<strong>de</strong>, autonomia, respeito,<br />
iniciativa, aceitação entre outras virtu<strong>de</strong>s que, segundo a ética, são adquiridas pelos hábitos. Por<br />
que não acrescentar ao pilar “apren<strong>de</strong>r a fazer” ou aos projetos educacionais que realizam este<br />
“apren<strong>de</strong>r a fazer”? A prática das virtu<strong>de</strong>s ao invés <strong>de</strong> apenas ser assunto teórico ou <strong>de</strong> aparecer<br />
apenas em forma <strong>de</strong> “sermão” na sala da diretoria, po<strong>de</strong> ser largamente utilizada e explorada<br />
pelos professores, segundo os personalistas.<br />
158
Mostram a posição privilegiada dos professores como colaboradores e a importância<br />
<strong>de</strong>sse instrumento educacional utilizado por poucos, normalmente os classificados como<br />
professores tradicionais ou retrógrados.<br />
Os personalistas <strong>de</strong>smistificam a utilização dos hábitos como tradicional,<br />
condicionante, anti-construtivista, repressora ou mesmo retrógrada e apresentam-nos como<br />
estratégia imprescindível para que se evite as conseqüências geradas pela falta <strong>de</strong> hábitos ou pela<br />
“lacuna” <strong>de</strong> ensinamentos para atitu<strong>de</strong>s rotineiras ou do cotidiano. Os hábitos são importantes e<br />
necessários para acabar ou diminuir problemas relacionados ao “apren<strong>de</strong>r a ser”. Sua utilização<br />
contribui para que não se “reclame” <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s não educadas como: a falta <strong>de</strong> respeito para com<br />
o professor, para com o hino nacional, para com a zeladora, para com os pais; a falta <strong>de</strong><br />
responsabilida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> pontualida<strong>de</strong>; a falta <strong>de</strong> iniciativa; a falta <strong>de</strong> autonomia em casa; o<br />
respeito aos mais velhos; a habitual briga pelo lugar na fila; a bagunça ao visitar museus e<br />
exposições; o barulho ao assistirem um filme...<br />
8.3.4 DESENVOLVIMENTO DE CAPACIDADES E SUPERAÇÃO DE LIMITAÇÕES<br />
Muito mais complexo do que se possa parecer, a educação personalista não tem o<br />
objetivo <strong>de</strong> educar para a socieda<strong>de</strong> atual, ou para uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> convicções <strong>de</strong>terminadas,<br />
mas para uma socieda<strong>de</strong> cujas condições são mutáveis, consi<strong>de</strong>rando inclusive os sérios<br />
problemas que aparecem, pois:<br />
159<br />
[...] se o homem tem <strong>de</strong> se mover em uma socieda<strong>de</strong> complexa e mutável, o<br />
problema está em fazê-lo capaz <strong>de</strong> distinguir o importante do trivial, o permanente<br />
do transitório, o real do aparente. Apenas assim po<strong>de</strong>rá o homem seguir seguro
160<br />
por um mundo propício à confusão, apenas assim será capaz <strong>de</strong> encontrar<br />
“caminho no mar e entre as ondas senda segura. (Sabedoria 16,3 apud HOZ, p.<br />
43) 168<br />
Tem que haver cuidado com a interpretação dos termos “limitações” como limites. A<br />
socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna aproxima os dois termos transformando as duas atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> “romper limites”<br />
e “acabar com as limitações”, como padrão. Os autores personalistas diferenciam bem o que se<br />
preten<strong>de</strong> superar, dos limites que não se po<strong>de</strong>m superar. Abordam a interessante metodologia <strong>de</strong><br />
diferenciar o que é permanente daquilo que é cambiante, o que é <strong>de</strong>strutivo do que é construtivo.<br />
O permanente, explica-se com o próprio nome, é aquilo que não po<strong>de</strong> ser mudado, como os<br />
valores. O que é cambiante <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma sábia observação e averiguação, para confirmar<br />
como limitação que se <strong>de</strong>ve evitar. Quando falam em limitações passíveis <strong>de</strong> superação referem-<br />
se às limitações pessoais. Já a importância <strong>de</strong> se captar o <strong>de</strong>strutivo e o construtivo <strong>de</strong> cada<br />
ambiente acrescenta-se à análise do contexto ou diagnóstico ou sondagem que se faz pela<br />
educação tradicional. Assim, além <strong>de</strong> analisar e mais do que compreen<strong>de</strong>r é saber diferenciar,<br />
exercitar a classificação e o senso crítico.<br />
O senso crítico é exigido para diferenciar ambientes e valores. Os ambientes po<strong>de</strong>m<br />
ser internos, como a própria comunida<strong>de</strong> escolar, ou externo, como a socieda<strong>de</strong>. Quanto aos<br />
valores são <strong>de</strong>vidamente <strong>de</strong>stacados como valor, para que se conheça e se diferencie daquilo que<br />
não é.<br />
168 [...]si el hombre se ha <strong>de</strong> mover en una sociedad compleja y cambiante, el problema está en hacerle capaz <strong>de</strong><br />
distinguir lo importante <strong>de</strong> lo trivial, lo permanente <strong>de</strong> lo transitorio, lo real <strong>de</strong> lo aparente. Sólo así podrá el hombre<br />
ir seguro por un mundo propicio a la confusión, sólo así será capaz <strong>de</strong> encontrar “camino en el mar y entre las olas<br />
senda segura. (Sabedoria 16,3 apud HOZ, p. 43)
Otero é quem mais aborda a relação com o ambiente, com o meio que se vive e é<br />
quem confere certos cuidados ao educar no positivo. Apresenta que não é retirar o aluno do<br />
mundo real ou construir um mundo i<strong>de</strong>al na escola. Otero é quem alerta para a banalização do<br />
conceito “valores” e é <strong>de</strong>fensor da idéia <strong>de</strong> que se <strong>de</strong>ve educar em valores, mas diferenciando-o<br />
dos “valores mutáveis”, ou transitórios e alertando os alunos sobre seus problemas, para que o<br />
aluno também se revolte contra eles e se proteja, não se <strong>de</strong>ixando manipular e se <strong>de</strong>gradar como<br />
pessoa.<br />
Já o termo “superação <strong>de</strong> limitações” causa uma certa preocupação entre os<br />
personalistas que temem que seja entendido como “liberda<strong>de</strong> incondicional”, “quebra <strong>de</strong> regras”<br />
ou mesmo “libertinagem”. Sendo bem explicado pelos autores, refere-se a limitações ambientais<br />
e a limitações pessoais que impe<strong>de</strong>m que a pessoa cresça, se <strong>de</strong>senvolva, melhore. Estas<br />
limitações ou condicionamentos ambientais são como “amarras” que aprisionam a pessoa<br />
humana impedindo que se <strong>de</strong>senvolva. A sua superação ocorre através da compreensão da<br />
manipulação e reducionismos, da “valoração do cambiante” ou transitório, da rebeldia educativa,<br />
da educação em valores, da conscientização, da reflexão e do senso crítico. Assim se diferem das<br />
limitações físicas, naturais, das relacionadas ao Direito ou mesmo daquilo que é permanente e<br />
que não se po<strong>de</strong> e não se <strong>de</strong>ve superar ou contradizer, como os valores e a ética.<br />
Por esta perspectiva a superação das limitações também po<strong>de</strong> ser vista como<br />
“agüentar” os limites necessários ou enxergá-los, já que Otero alerta para a cegueira, que inva<strong>de</strong><br />
os limites dos outros e as limitações e limites necessários para a vida em socieda<strong>de</strong>. Além das<br />
limitações ocasionadas pela cegueira e pela ignorância e pela falta <strong>de</strong> orientação necessária, há a<br />
idéia <strong>de</strong> superação das limitações pessoais. Estas são superadas principalmente pela proposta <strong>de</strong><br />
161
Cifuentes <strong>de</strong> formação do caráter, como autodomínio, harmonia interior, <strong>de</strong>sprendimento e<br />
aquisição <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da eficácia da colaboração do professor.<br />
Percebeu-se que além da metodologia lúdica do construtivismo para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s já utilizado pela educação tradicional, entre os personalistas<br />
aparece uma estratégia educativa interessante: o educar no positivo. Esta educação tem três<br />
vertentes: priorizar nos projetos <strong>de</strong> trabalho individuais e coletivos as qualida<strong>de</strong>s e habilida<strong>de</strong>s<br />
individuais <strong>de</strong> cada um potencializando-as; valorizar a pessoa do aluno, através <strong>de</strong> elogios,<br />
parabenizações, e suas qualida<strong>de</strong>s naturais, virtu<strong>de</strong>s adquiridas e mesmo suas atitu<strong>de</strong>s positivas; e<br />
proporcionar a motivação, a autonomia e a iniciativa através do olhar e fala expressivos do<br />
professor e conseqüentemente aumentar a auto-estima do aluno e colaborar com o fortalecimento<br />
ou a formação da vonta<strong>de</strong>.<br />
8.3.5. PROJETO VITAL<br />
Percebe-se que a expressão “sentido da vida” expressa durante o trabalho po<strong>de</strong> ser<br />
ampliada pelas palavras do psiquiatra Victor Frankl, a quem Otero faz referência. Tendo o<br />
contato com sua obra durante esta especialização em “Desenvolvimento Pessoal e Familiar”, cabe<br />
salientar que Frankl foi quem “inaugurou” esta expressão, em seu livro “O sentido da vida”, para<br />
ele tem um sentido mais profundo pois foi buscada e vivenciada com tamanha intensida<strong>de</strong>, com o<br />
sentido <strong>de</strong> não querer morrer, ou o sentido literal para continuar a vida. Este livro mostra o que<br />
Frankl procurou e <strong>de</strong>scobriu ao sobreviver aos horrores <strong>de</strong> um campo <strong>de</strong> concentração nazista.<br />
No seu caso buscou o seu “sentido da vida” no pensamento <strong>de</strong> sua mulher, sua amada, foi<br />
literalmente “o sentido para manter a sua vida”. Sendo ju<strong>de</strong>u, <strong>de</strong>scobriu a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
162
transcendência, isto é, <strong>de</strong> buscar motivos ou motivações interiores para ações concretas e i<strong>de</strong>ais<br />
concretos, no seu caso, “viver”. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> sua esposa estar viva ou morta, já que não sabia,<br />
firmou-se na idéia <strong>de</strong> que tinha que viver por ela, pois ela esperava <strong>de</strong>le essa luta, essa coragem,<br />
essa fortaleza, essa perseverança ainda que estivesse morta, e mais ainda se ainda estivesse viva...<br />
Po<strong>de</strong>-se dizer que a Psicoterapia <strong>de</strong> Frankl, outro conceito utilizado por ele, vem<br />
complementar o que afirma a Antropologia sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um projeto vital ou mesmo<br />
sobre o conceito <strong>de</strong> sentido da vida. A relevância <strong>de</strong>ste e <strong>de</strong> outros livros <strong>de</strong> Frankl além <strong>de</strong><br />
científica, pois se trata <strong>de</strong> um médico psiquiatra, é justamente pelo testemunho, pela<br />
concretização “in persona” da expressão “buscar um sentido para a vida”. Frankl passou por<br />
situações, como a maioria que morreu nos campos <strong>de</strong> concentração nazistas, em que era latente a<br />
entrega à morte, tamanhas dores, tamanha humilhação, tamanha fraqueza, tamanho sofrimento.<br />
O relato <strong>de</strong> Frankl é tão extremo, a situação <strong>de</strong> morte era tão certa, que transforma qualquer outro<br />
objetivo, como realizável.<br />
Este conceito e suas explicações aprofundadas na obra <strong>de</strong> Victor Frankl são<br />
contribuições importantes por mostrar concretamente sua aplicação, e sua importância para a<br />
manutenção da vida e para o <strong>de</strong>senvolvimento e melhora pessoal. Além <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r servir para<br />
compreen<strong>de</strong>r a baixa-estima, a <strong>de</strong>pressão, a falta <strong>de</strong> iniciativa, a passivida<strong>de</strong> e o comodismo <strong>de</strong><br />
muitos jovens e <strong>de</strong> servir como ponto <strong>de</strong> partida para muitas ações educativas <strong>de</strong> reflexão, <strong>de</strong><br />
discussão, <strong>de</strong> interação para a <strong>de</strong>scoberta e elaboração <strong>de</strong> um sentido na vida, um projeto vital,<br />
que <strong>de</strong>senvolve e leva o aluno à utilização <strong>de</strong> sua excelência pessoal, com metas altas e<br />
valorização e potencialização <strong>de</strong> suas capacida<strong>de</strong>s.<br />
163
8.4 SOBRE AS PROPOSTAS E AÇÕES EDUCATIVAS DOS AUTORES...<br />
Em se tratando da pessoa em seu sentido antropológico pela liberda<strong>de</strong>, vonta<strong>de</strong> e<br />
dignida<strong>de</strong> que possui não é tudo que se apren<strong>de</strong> <strong>de</strong> outro, ou mesmo “vivendo junto” como nos<br />
propõe muitas pedagogias da atualida<strong>de</strong>, muito do <strong>de</strong>senvolvimento ou da melhora ocorre<br />
sozinho inclusive fora dos limites do espaço e do tempo <strong>de</strong> vida estudantil, através<br />
principalmente dos hábitos e da formação da vonta<strong>de</strong> que exige <strong>de</strong>cisão e atitu<strong>de</strong> da própria<br />
pessoa.<br />
8.4.1 SOBRE CARLOS LLANO CIFUENTES ...<br />
Cifuentes com um profundo olhar filosófico conduz o leitor à reflexão sobre a figura<br />
do educando, ou seja, <strong>de</strong> todas as pessoas que se admitem em formação. Utilizando-se <strong>de</strong> uma<br />
<strong>de</strong>nsa, porém, sábia linguagem filosófica utiliza-se o termo “formação do caráter”. Suas<br />
análises e suas argumentações filosóficas sustentam ações educativas, porque proporcionam o<br />
conhecimento sobre as possibilida<strong>de</strong>s e perigos educativos na formação não só na formação do<br />
caráter, mas da pessoa como um todo.<br />
Cifuentes conduz o leitor, não necessariamente o professor, à reflexão, a conhecer<br />
como se “forma” como se “produz” como se “<strong>de</strong>senvolve” uma pessoa, não necessariamente o<br />
aluno, mas a todos nós, inclusive leitores <strong>de</strong> seu livro.<br />
Embora preten<strong>de</strong>sse tratar, no capítulo citado, apenas do caráter, Cifuentes aborda<br />
com profundida<strong>de</strong> outros aspectos da pessoa, todos interligados, como a inteligências, a vonta<strong>de</strong><br />
164
e os sentimentos. Estrutura em um interessante gráfico (anexo1) e expõe a relação entre eles: que<br />
a harmonia entre as potências superiores e as potências inferiores e o domínio das tendências<br />
sensíveis, referindo-se aos sentimentos, é tão importante quanto o próprio <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
outras potências como a inteligência, o caráter ou mesmo a vonta<strong>de</strong>.<br />
Em sua apresentação acaba por convencer através dos seus argumentos filosóficos,<br />
que os sentimentos embora muitas “pedagogias” digam o contrário, <strong>de</strong>vem ser controlados e<br />
dominados e que a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve receber o foco educacional, pois ela tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mover a<br />
inteligência e os sentimentos, se <strong>de</strong>senvolvida. Mas faz o alerta que os sentimentos não <strong>de</strong>vem ser<br />
eliminados, mas cultivados e controlados pela própria pessoa.<br />
Cifuentes coloca esta como condição para o <strong>de</strong>senvolvimento, segundo ele quem não<br />
consegue “se dominar” diante <strong>de</strong> uma mesa farta ou <strong>de</strong> uma dúzia <strong>de</strong> cerveja, ou respeitar o<br />
cônjuge num ato sexual, não tem gran<strong>de</strong>s oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver, porque são atitu<strong>de</strong>s<br />
que reduzem o ser humano e que afetam inclusive à vonta<strong>de</strong>, o motor que move as outras<br />
potências do ser humano.<br />
A falta <strong>de</strong> formação do caráter uma das gran<strong>de</strong>s “lacunas” educacionais relacionadas<br />
ao aspecto “apren<strong>de</strong>r a ser‟. Otero explica que a falta <strong>de</strong> autodomínio leva à sua própria redução e<br />
a falta da inteligência leva à falta <strong>de</strong> caráter ou a más atitu<strong>de</strong>s, como os consi<strong>de</strong>rados “normais”<br />
posicionamentos e ativida<strong>de</strong>s anti-éticas. Porém ao dar tamanha importância para a formação da<br />
vonta<strong>de</strong> apresenta outra lacuna que também po<strong>de</strong> ser vista como possibilida<strong>de</strong> para o aspecto<br />
“apren<strong>de</strong>r a ser” ou como a chave para a “formação do caráter”: a inteligência.<br />
165
Embora o assunto inteligência não tenha sido tratado neste capítulo, quando Cifuentes<br />
refere-se ao <strong>de</strong>senvolvimento da inteligência, além do <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo através da<br />
construção do conhecimento, da motivação e dos estímulos, refere-se ao direcionamento da<br />
inteligência para o bem, para a verda<strong>de</strong>, para o bem comum, referindo-se, portanto, a uma<br />
condição para se adquirir virtu<strong>de</strong>s e, portanto, para se formar o caráter.<br />
Servindo <strong>de</strong> certa forma como escudo e também como impulsionadores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />
objetivos, a educação da vonta<strong>de</strong> e a educação do caráter com o autodomínio, a harmonia<br />
interior, propostas por Cifuentes oferecem condições para que o aluno se entenda como pessoa,<br />
não se <strong>de</strong>ixe “atingir” como pessoa que é, ou seja, impõe-se o respeito e não se <strong>de</strong>ixa “<strong>de</strong>gradar”.<br />
8.4.2 SOBRE OLIVEROS F. OTERO ...<br />
Otero, mais crítico e revolucionário, vai direto ao ponto, investiga o professor: faz<br />
<strong>de</strong>núncias, <strong>de</strong>tecta falhas, faz comparações, argumenta e absolve o professor dando-lhe a<br />
sentença da rebeldia, a rebeldia educativa. Voltado única e exclusivamente para o professor<br />
<strong>de</strong>tecta falhas educativas e propõe mudanças radicais em suas ações educativas, muda inclusive<br />
conceitos sobre a socieda<strong>de</strong> e sobre a própria atuação do professor.<br />
Em meio aos efeitos da manipulação e “revoltado” com a manipulação e com os<br />
reducionismos, Otero põe com <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za à mostra as feridas da educação, apresentando que a<br />
contra-educação está arraigada naquela que <strong>de</strong>veria educar, a escola. E gentilmente rasga o<br />
coração do professor ao colocá-lo como culpado e ao <strong>de</strong>fendê-lo da acusação alegando sua<br />
166
inocência, pela falta <strong>de</strong> intencionalida<strong>de</strong>. Também indiretamente revela ao professor a falta <strong>de</strong><br />
consciência sobre a manipulação e sobre os reducionismos e a falta <strong>de</strong> visão crítica.<br />
Diante das “lacunas” relacionadas ao aspecto do “apren<strong>de</strong>r a ser” e aos <strong>de</strong>slizes da<br />
educação, Otero resgata a figura do professor e o coloca como herói, direciona-se diretamente ao<br />
professor e coloca nas mãos do professor a solução. O professor passa então <strong>de</strong> culpado a herói.<br />
E como herói que se preza precisa se REBELAR contra o MAL da manipulação e dos<br />
reducionismos e ter atitu<strong>de</strong> e audácia para uma rebeldia educativa em função do salvamento dos<br />
valores. Mostra ao professor que sua arma é diferenciar claramente o certo do errado, os acertos<br />
dos erros, a educação e da manipulação. No entanto, ressalta que para isso ocorra é preciso<br />
preparar-se, observar e buscar as forças do conhecimento, da reflexão e do aguçado senso crítico.<br />
Depois <strong>de</strong> feitas inúmeras orientações, revelações e explicar suas estratégias <strong>de</strong> ação, o professor<br />
po<strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar preparado e po<strong>de</strong> então partir para a ação, através das ações educativas<br />
propostas por ele e pelos outros personalistas aqui citados.<br />
Ressalta-se pela ilustração acima, que a linguagem <strong>de</strong> seu texto é persuasiva (ele é<br />
muito expressivo e convincente), é ilustrada e sonhadora (ele tudo exemplifica, compara ou<br />
ilustra) ao tratar da Educação da pessoa a linguagem é “revoltada” e incisiva, porém <strong>de</strong>licada<br />
lembra a “educação libertária <strong>de</strong> Paulo Freire” ao tratar dos problemas da manipulação e da<br />
redução e <strong>de</strong>gradação da pessoa humana. Mas bem diferente <strong>de</strong>sta “pedagogia libertária”, a<br />
rebeldia proposta por Otero, ao invés <strong>de</strong> se preocupar com as minorias oprimidas, se preocupa<br />
com a maioria “manipulada” e com a multiplicação rápida <strong>de</strong> “manipuladores”. Suas <strong>de</strong>núncias<br />
longe <strong>de</strong> tratarem <strong>de</strong> Sociologia ou <strong>de</strong> Política como Freire, foram feitas com o olhar <strong>de</strong><br />
educador, aproximando-se <strong>de</strong> Freire ao direcionar-se diretamente ao professor com <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za e<br />
167
com firmeza ao retratar-se sobre as causas e os efeitos da manipulação. Sua persuasão era<br />
intencionalmente para motivar o professor a a<strong>de</strong>rir à idéia da Rebeldia Educativa, e colocar a sua<br />
ação educativa em função dos valores em sala <strong>de</strong> aula. O seu lado sonhador se revela ao retratar-<br />
se poeticamente sua educação como “educação da liberda<strong>de</strong>, na fé e para o amor”.<br />
Otero aten<strong>de</strong> a expectativa <strong>de</strong> muitos professores, pois respon<strong>de</strong> diretamente a muitas<br />
dúvidas <strong>de</strong> educadores: Como educar melhor meu aluno? R: Educando a liberda<strong>de</strong> na fé e para o<br />
amor. O que estou fazendo <strong>de</strong> errado? R: não está enxergando a manipulação, falta<br />
conscientização que ela existe. Como i<strong>de</strong>ntifico isso? R: contrapondo educação e manipulação.<br />
O que fazer após conseguir enxergar? R: Tornar-se rebel<strong>de</strong>, mudar <strong>de</strong> postura: rebeldia educativa.<br />
Rebeldia contra o quê? Contra a manipulação e os reducionismos, como a libertinagem, o aborto,<br />
a inseminação artificial, a falta <strong>de</strong> pudor no se vestir, certos programas <strong>de</strong> televisão, certas<br />
músicas, certa danças.... Rebeldia em favor do quê? R: Em favor da melhora da “pessoa”<br />
Rebeldia a favor <strong>de</strong> quê? R: Dos valores – educação em valores. Que valores? Valores morais,<br />
éticos e cristãos. Como posso orientar melhor meu aluno e não <strong>de</strong>ixá-lo ser levado ou levar-se<br />
pela manipulação? R: Observando, adquirindo conhecimentos, <strong>de</strong>senvolvendo a reflexão,<br />
<strong>de</strong>senvolvendo senso crítico, discutindo com outros professores e pessoas que possam ajudar a<br />
<strong>de</strong>senvolver este senso crítico. Como <strong>de</strong>senvolver o senso crítico do meu aluno? R:<br />
Desenvolvendo ações educativas que também proporcionem este objetivo. Mas e se fora da<br />
escola ele não pôr em prática o que apren<strong>de</strong>r na escola? R: Eduque a sua liberda<strong>de</strong>. Como? R:<br />
Dando-lhe autonomia para que ele seja capaz <strong>de</strong> ser livre, <strong>de</strong>ixando-o tomar <strong>de</strong>cisões, fazer<br />
escolhas, participar, ensinando a aceitar e enfrentar suas escolhas e <strong>de</strong>cisões, ou seja ensinando a<br />
ter responsabilida<strong>de</strong>. Como posso saber se o meu aluno apren<strong>de</strong>u? R: Se ele for capaz <strong>de</strong><br />
transcen<strong>de</strong>r, através do amor.<br />
168
Portanto, a rebeldia apresentada por Otero, não é contra nenhum tipo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, mas<br />
contra este po<strong>de</strong>r invisível da manipulação que corrói rapidamente, com a multiplicação <strong>de</strong> seus<br />
efeitos, a base da socieda<strong>de</strong> que é “a pessoa do cidadão”. Otero se rebela e convida os educadores<br />
a se rebelarem como rápidos multiplicadores que são, contra as causas e contra os efeitos da<br />
manipulação, a fim <strong>de</strong> evitar que outras gerações “surjam” manipuladas ou manipuladoras.<br />
Sua rebeldia é: <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e valorizar a pessoa e os valores; conscientizar e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a<br />
pessoa das manipulações; ensiná-las a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se contra a <strong>de</strong>gradação e reducionismos; ensinar<br />
o aluno a usar a liberda<strong>de</strong>, não a oferecendo como presente ou direito, mas orientando para sua<br />
conquista; <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e promover objetivos educacionais e ambientes educativos pautados na fé e<br />
no amor.<br />
8.4.3 SOBRE VICTOR GARCÍA HOZ ...<br />
Hoz sendo o mais metodológico apresenta toda uma visão da escola, apesar <strong>de</strong><br />
recortar-se <strong>de</strong>le neste trabalho apenas aquilo que diretamente pu<strong>de</strong>sse contribuir ao aspecto<br />
apren<strong>de</strong>r a ser. A leitura do seu livro “Educação Personalizada” oferece uma sistematização das<br />
idéias da Antropologia Filosófica somadas a estratégias educacionais e outras metodologias já<br />
conhecidas como o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> todas as potencialida<strong>de</strong>s humanas, o que hoje se chama<br />
<strong>de</strong> inteligências múltiplas e a utilização clara do construtivismo piagetiano somado às estratégias<br />
sócio-interacionistas mais <strong>de</strong>talhadas. O conhecimento pedagógico faz-se presente em sua obra<br />
além <strong>de</strong> exigi-lo do professor que <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>stacar-se por sua competência, o que costuma chamar<br />
<strong>de</strong> eficácia educativa. Entre os três autores, Hoz quem aborda o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s<br />
169
com mais <strong>de</strong>talhes, especialmente quanto ao <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo, físico e lógico-<br />
matemático.<br />
Sua proposta <strong>de</strong> Educação Personalizada é, pois, a mais completa, abrange a essência<br />
educativa da Educação Personalizada, cujos conceitos foram apresentados durante a apresentação<br />
<strong>de</strong>sta investigação. Hoz <strong>de</strong>talha e amplia o conceito filosófico <strong>de</strong> Educação Personalista<br />
personalizando uma metodologia própria. O seu conceito <strong>de</strong> Educação Personalizada apresenta<br />
intrínseca a idéia <strong>de</strong> “educação individual”, com o objetivo claro <strong>de</strong> se respeitar e <strong>de</strong>senvolver a<br />
singularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um, e a idéia <strong>de</strong> “educação integral”, que com o objetivo claro <strong>de</strong> atingir a<br />
totalida<strong>de</strong> da pessoa humana, não há formas <strong>de</strong> resumi-lo pois expressa-se com a completu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
sua metodologia. Hoz procura “abordar” e “prover” todos os elementos da pessoa humana. Por<br />
isso, sua Educação Personalizada po<strong>de</strong> ser apresentada como sinônimo <strong>de</strong> Educação Personalista,<br />
inclusive expandindo o conceito para a área pedagógica.<br />
Apesar <strong>de</strong> parecer utópico almejar a educação individual e ainda mais a educação<br />
integral, sua metodologia é consi<strong>de</strong>rada possível, aliás, concretamente possível, pois é a<br />
metodologia <strong>de</strong> Victor García Hoz que é utilizada pelo Colégio citado na justificativa, com muito<br />
sucesso. Neste livro Hoz apresenta sua metodologia <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>talhada, numa linguagem simples<br />
e incentivando sua aplicação. Abrange aspectos filosóficos, administrativos, curriculares,<br />
didáticos e metodológicos, como que fazendo uma <strong>de</strong>monstração geral <strong>de</strong> sua proposta e como<br />
que comprovando que ela “aborda” a totalida<strong>de</strong> da pessoa humana. Nela relata fins e objetivos<br />
educacionais; conceito <strong>de</strong> escola e <strong>de</strong> professor, apresentados no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste trabalho,<br />
conteúdos e programação escolar, situações <strong>de</strong> aprendizagem e variáveis do programa, além <strong>de</strong><br />
relatar orientações sobre a administração, organização, material escolar e avaliação.<br />
170
Entre os objetivos da Educação Personalizada estão os objetivos apresentados pela<br />
Antropologia Filosófica: conhecer-se no espaço e no tempo, incluindo aí a sua família e a<br />
socieda<strong>de</strong> em que vive; conhecer-se interiormente, com o conhecimento <strong>de</strong> si mesmo; <strong>de</strong> suas<br />
capacida<strong>de</strong>s; e <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s e limitações pessoais, através dos diagnósticos e prognósticos;<br />
<strong>de</strong> sua alma, através da religiosida<strong>de</strong>; dos seus sentimentos, através da expressivida<strong>de</strong>; projetar-<br />
se, através dos diagnósticos e prognósticos e visando sempre a excelência pessoal, buscando<br />
<strong>de</strong>senvolver capacida<strong>de</strong>s e habilida<strong>de</strong>s; buscando a elaboração e a concretização do seu projeto<br />
pessoal, meio necessário para o seu <strong>de</strong>senvolvimento, sua melhora pessoa e promotora da busca<br />
pela perfeição.<br />
As idéias relacionadas ao aspecto apren<strong>de</strong>r a ser voltam o conhecimento do aluno à<br />
interação, à abertura para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s, à percepção através do diagnóstico<br />
e prognóstico e dos projetos <strong>de</strong> trabalho. Toda a sua metodologia é uma contribuição, por ser a<br />
mais completa e <strong>de</strong>talhada.<br />
Além <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>le os conceitos apresentados <strong>de</strong> “educação integral” e <strong>de</strong> “educação<br />
individual”, já comentados, tem-se que o termo diagnóstico, longe da famosa sondagem feita<br />
pelos professores atuais, explora conhecimentos sobre caracteriologia buscando inclusive<br />
i<strong>de</strong>ntificar e trabalhar a personalida<strong>de</strong> do aluno, além <strong>de</strong> conhecer suas <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s e limitações<br />
para po<strong>de</strong>r concretamente e ajudá-lo, as suas capacida<strong>de</strong>s mais do que compreendidas são<br />
estimuladas e <strong>de</strong>senvolvidas; as ativida<strong>de</strong>s individuais são mais do que ativida<strong>de</strong>s, são projetos<br />
<strong>de</strong> trabalho, que buscam favorecer as habilida<strong>de</strong>s e capacida<strong>de</strong>s individuais, pois são<br />
diversificadas e divididas em níveis e modalida<strong>de</strong>s. Tem-se o objetivo também <strong>de</strong> que cada um<br />
171
colabore com o que tem <strong>de</strong> melhor, mostrando a complementarida<strong>de</strong>. Também é solicitado o<br />
exercício <strong>de</strong> funções diretivas, a fim <strong>de</strong> estabelecer e <strong>de</strong>senvolver virtu<strong>de</strong>s próprias dos lí<strong>de</strong>res.<br />
Os prognósticos são mais do que programas ou objetivos, estabelecem altas metas<br />
direcionando para a excelência pessoal do aluno e procurando fortalecer e <strong>de</strong>senvolver a vonta<strong>de</strong>.<br />
Não é preciso dizer que tudo o que foi dito pelos outros autores é confirmado por<br />
Hoz, mas <strong>de</strong> maneira mais clara, objetiva e pedagógica. Hoz parece ser o sistematizador da<br />
Educação Personalista, pois em sua publicação contém todos os conceitos apresentados.<br />
Suas propostas resumem-se em <strong>de</strong>senvolver a pessoa em sua integralida<strong>de</strong> (todos os<br />
aspectos como pessoa – físico, volitivo, moral, sentimental, espiritual e cognitivo, este último<br />
explorando seu potencial lingüístico, matemático, espacial (artes plásticas, escultura) e inclusive<br />
o dinâmico (música, dança, teatro) e orientá-la para a busca e para a concretização do seu projeto<br />
vital, que vai dar sentido à sua vida. O papel do professor mais do que o <strong>de</strong> ensinar é o <strong>de</strong><br />
potencializar suas habilida<strong>de</strong>s e colaborar para sua melhora inclusive auxiliando o aluno a superar<br />
suas limitações, diferenciando e ensinando diferenciar os valores mutáveis dos permanentes,<br />
ensinado a perceber um ambiente <strong>de</strong>strutivo e a manipulação, sempre naquela postura <strong>de</strong> serviço<br />
e naquele que “<strong>de</strong> repente apren<strong>de</strong>”.<br />
Ver os alunos felizes é o objetivo maior - mas como educadores, sabem que a<br />
felicida<strong>de</strong> não é apenas momentânea com “aulas divertidas” e “brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong>scoladas”, mesmo<br />
porque senão estaria indo <strong>de</strong> acordo com o hedonismo - vê-lo se <strong>de</strong>senvolver, melhorando a cada<br />
dia, <strong>de</strong>senvolvendo autonomia e responsabilida<strong>de</strong> para em toda a sua vida ser feliz, e não apenas<br />
172
na escola. Portanto, a perspectiva personalizada não alimenta uma falsa felicida<strong>de</strong>, mas colabora<br />
para que a felicida<strong>de</strong> seja conquistada através do próprio <strong>de</strong>senvolvimento do aluno, dia-a-dia.<br />
Percebeu-se nesta Educação Personalizada assim com também nos outros autores,<br />
que os professores são colaboradores do <strong>de</strong>senvolvimento pessoal do aluno e assumem uma<br />
postura <strong>de</strong> serviço, sempre tendo algo a dar, orientando com eficácia cada aluno, sempre<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo, valorizando e promovendo a pessoa em qualquer situação. Reconhecem a pessoa<br />
concreta, a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, suas diferença das outras, sua biografia, sua situação espacial,<br />
temporal e cultural e sua necessida<strong>de</strong> do exercício <strong>de</strong> sua liberda<strong>de</strong>.<br />
A Educação Personalizada, juntamente com os outros autores, mostram que as ações<br />
e os projetos <strong>de</strong> vida das pessoas é que se transformam em meios <strong>de</strong> se melhorar a socieda<strong>de</strong>, e<br />
que esta melhora social não é vista como objetivo, mas como natural conseqüência <strong>de</strong> uma eficaz<br />
educação da pessoa e do seu processo <strong>de</strong> melhora que é contínuo, além do período escolar.<br />
Enquanto a maioria das escolas propõe-se a educar para a cidadania e algumas para a<br />
solidarieda<strong>de</strong>, outras se propõem a potencializar as inteligências múltiplas dos indivíduos, para<br />
que sejam reflexivos e críticos. A superabundância <strong>de</strong> cidadãos, que só lembram <strong>de</strong> exercer a<br />
cidadania reivindicando direitos; <strong>de</strong> indivíduos, individualistas; e <strong>de</strong> sujeitos reflexivos e críticos,<br />
com reflexões e críticas apenas do externo; <strong>de</strong>monstra talvez um “erro” - com a permissão <strong>de</strong><br />
Edgar Morin - a ausência <strong>de</strong> pessoas felizes, é só averiguar o fato que os consultórios<br />
psicológicos e psiquiátricos estão em sua maioria lotados <strong>de</strong> clientes.<br />
173
CONCLUSÃO<br />
Sobre o confronto feito entre o aspecto do “apren<strong>de</strong>r a ser” do Relatório Jacques<br />
Delors e a Educação Personalista, percebeu-se que enquanto o relatório Jacques Delors faz a<br />
apresentação do pilar “apren<strong>de</strong>r a ser” como oposição ao “apren<strong>de</strong>r a ter”, a perspectiva<br />
personalista apresenta como “apren<strong>de</strong>r a ser”, o próprio <strong>de</strong>senvolvimento da pessoa humana, a<br />
sua busca ininterrupta por melhorar. Para a educação personalista a única e melhor forma <strong>de</strong> ser é<br />
mesmo sendo pessoa, por isso a preocupação em explicar o conceito <strong>de</strong> pessoa no início <strong>de</strong>ste<br />
trabalho.<br />
Muitas foram as contribuições da Educação Personalista para o aspecto apren<strong>de</strong>r a<br />
ser, po<strong>de</strong>m-se <strong>de</strong>stacar aqui contribuições quanto aos conteúdos, aos objetivos, metodologias e<br />
também filosofia educacional. Pelo próprio conceito <strong>de</strong> “pessoa” assumido pela Educação<br />
Personalista e embasada pela Antropologia Filosófica, o conceito “apren<strong>de</strong>r a ser” se amplia e se<br />
aprofunda. Detalhes são fornecidos sobre conceitos e sobre objetivos antes vagos e imprecisos,<br />
estratégias foram explicadas e exemplificadas, <strong>de</strong>núncias e alertas <strong>de</strong> cuidados foram feitos tanto<br />
sobre a utilização <strong>de</strong> certos termos quanto sobre a aplicação <strong>de</strong> algumas propostas.<br />
O que parecia um confronto, transforma-se em complementarida<strong>de</strong>, pois ambos tem a<br />
proposta <strong>de</strong> tornar-se melhor, <strong>de</strong>senvolver-se em sua totalida<strong>de</strong> e buscar uma melhora do aluno e<br />
orientando-o para a busca por um sentido para a vida. Os assuntos “pessoa” e “apren<strong>de</strong>r a ser” e<br />
suas ampliações são tratados com muita cautela pela Educação Personalista, sempre mostrando<br />
argumentos, justificativas e exemplos. Justifica-se tal “excelência” no assunto pelo próprio<br />
174
enfoque educacional <strong>de</strong>sta perspectiva, o enfoque na pessoa, enquanto o Relatório por ser o<br />
resultado <strong>de</strong> um consenso internacional, apresenta enfoque mais social e também político.<br />
Talvez as diferenças mais importantes sejam que: a Educação Personalista não vê o<br />
“apren<strong>de</strong>r a ser” como uma parte, mas assume como sua proposta educativa ao completar com o<br />
conceito “pessoa” dado pela Antropologia Filosófica; e que da Educação Personalista não vê a<br />
pessoa como um meio para se melhorar a socieda<strong>de</strong>, mas a enxerga como um fim, como um fim<br />
em si mesma, que tem como objetivo a melhora pessoal que conduz ao seu fim último como<br />
pessoa, a perfeição.<br />
Quanto às contribuições, tem-se que todos os autores, cada qual ao seu modo,<br />
contribuíram para o aspecto do “apren<strong>de</strong>r a ser”: Cifuentes como que apresentando objetivos<br />
para o “apren<strong>de</strong>r a ser”, em sua pesquisa filosófica, ressaltou a importância da formação do<br />
caráter e da vonta<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> se voltar a inteligência para a verda<strong>de</strong> e para o bem comum; Otero<br />
com a sua pesquisa uma mistura <strong>de</strong> filosofia crítica educacional e metodologia da ação docente<br />
<strong>de</strong>monstra a preocupação com os conteúdos ensinados, e leva o professor à reflexão, à<br />
conscientização, à critica e à auto-crítica e convence o professor a uma mudança <strong>de</strong> pensamento,<br />
uma verda<strong>de</strong>ira Rebeldia Educativa em função dos valores, inserindo nos conteúdos e nas ações<br />
educativas os valores éticos e cristãos, dados como os verda<strong>de</strong>iramente permanentes e<br />
construtivos; Hoz, justifica porque a educação da pessoa é a mais completa, e porque a consi<strong>de</strong>ra<br />
como a verda<strong>de</strong>ira educação integral ao apresentar uma metodologia completa.<br />
Percebeu-se uma integração e coerência entre suas idéias, pois todos se completavam<br />
e concordavam com as idéias: educação integral; educação como <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
175
capacida<strong>de</strong>s e superação <strong>de</strong> <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s e limitações pessoais; educação como diferenciadora e<br />
orientadora para a diferenciação <strong>de</strong> ambientes e <strong>de</strong> valores, educação como harmonia das<br />
potências intelectivas e sensíveis; educação como busca <strong>de</strong> um sentido para a vida e elaboração<br />
<strong>de</strong> um projeto vital.<br />
Mas as suas contribuições talvez sejam mais compreendidas nas <strong>de</strong>núncias e alertas<br />
que fazem, proporcionadores <strong>de</strong> reflexão e cujos temas se abrem para novas discussões,<br />
principalmente se relacionado à realida<strong>de</strong> da educação escolar brasileira. Cifuentes alerta para a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se educar a vonta<strong>de</strong> tão esquecida na educação atual e <strong>de</strong> se dominar as<br />
tendências sensíveis, tão confundida e abandonada pela valorização do sentimentalismo e pela<br />
compreensão errônea <strong>de</strong> que afetivida<strong>de</strong> é “tudo <strong>de</strong>ixar” e “tudo ce<strong>de</strong>r”; Otero, relacionando a<br />
educação às limitações ambientais e pessoais, chama a atenção para o conceito <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> dado<br />
pela Antropologia Filosófica, alerta para os reducionismos da socieda<strong>de</strong>; <strong>de</strong>nuncia a manipulação<br />
na educação e ressalta a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> superar as limitações ambientais e pessoais e <strong>de</strong> se educar<br />
a liberda<strong>de</strong>, na fé e para o amor; Hoz alerta para os conceitos “educação individual” e “educação<br />
integral” que ainda não são compreendidos e nem trabalhados <strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>quada pela<br />
educação tradicional, pois está se promovendo o individualismo ao invés <strong>de</strong> associá-lo à<br />
educação coletiva com diagnósticos, prognósticos e planos <strong>de</strong> trabalho individuais e está se<br />
usando o termo “integral” como uma somatória <strong>de</strong> conteúdos, habilida<strong>de</strong>s, capacida<strong>de</strong>s ou<br />
mesmo <strong>de</strong> múltiplas inteligências, mas que não está se realizando uma verda<strong>de</strong>ira educação<br />
integral, pois a educação apenas é integral se educa enxergando o aluno como pessoa, e se faz<br />
como Oteros afirma fazer em seus livros, <strong>de</strong> uma forma espiral, não apenas somando conteúdos,<br />
ou repetindo hábitos ou <strong>de</strong>senvolvendo capacida<strong>de</strong>s, mas com voltas mais profundas.<br />
176
Além da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> planejamento e <strong>de</strong> empenho dos professores, percebeu-se<br />
através das propostas encontradas que as ações educativas personalistas apresentam diferentes<br />
objetivos, úteis ferramentas, estratégias interessantes, um ambiente favorável e professores<br />
especiais e ações educativas que levam à consciência, à reflexão, ao senso crítico, ao<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua totalida<strong>de</strong> e à superação. a) objetivos: que o aluno aprenda a distinguir<br />
entre o cambiante e o permanente; que se proteja dos efeitos da manipulação; que evite os<br />
reducionismos e a <strong>de</strong>gradação da pessoa humana; que sejam crianças seguras, tranqüilas e felizes;<br />
que elaborem o projeto vital e para a busca da melhora pessoal b) ferramentas: hábitos;<br />
diagnósticos, prognósticos, planos <strong>de</strong> trabalhos individuais em grupo; c) estratégias: a educação<br />
da liberda<strong>de</strong> e da vonta<strong>de</strong> e não apenas do caráter; a formação e aquisição <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s e não<br />
educação moral; a superação <strong>de</strong> <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s e limitações ambientais e pessoais, além da educação<br />
positiva que auxilia no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s d) ambiente escolar: <strong>de</strong> abertura,<br />
sempre prevalecendo a confiança ao aluno e altamente interativo, motivador, <strong>de</strong> respeito às regras<br />
e principalmente <strong>de</strong> respeito a qualquer pessoa que incorpore-se ou visite a comunida<strong>de</strong> escolar.<br />
Uma verda<strong>de</strong>ira comunida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se vive e se apren<strong>de</strong> pelo exemplo e pela prática, viver a<br />
liberda<strong>de</strong>, a fé e o amor. e) professor é competência, tem excelente nível <strong>de</strong> conhecimento, fé e o<br />
amor; f) ações educativas: sempre conduzindo à participação, à autonomia, à iniciativa e à<br />
responsabilida<strong>de</strong>; proporcionam a aquisição <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s; a conquista da liberda<strong>de</strong> e o<br />
fortalecimento da vonta<strong>de</strong> além <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolverem e estimularem a inteligência.<br />
Quanto aos conceitos “educação do caráter” <strong>de</strong> Carlos Llano Cifuentes percebeu-se<br />
que é o resultado <strong>de</strong> uma vonta<strong>de</strong> forte, somado a uma inteligência voltada para o bem e para a<br />
verda<strong>de</strong> e num terreno humano <strong>de</strong> harmonia interior, ou seja, <strong>de</strong> harmonia entre as potências<br />
inferiores e superiores; quanto ao conceito “rebeldia educativa” tem realmente a intenção <strong>de</strong><br />
177
tornar os educadores rebel<strong>de</strong>s, através <strong>de</strong> sua ação educativa pautada nos valores e através do<br />
combate à manipulação e reducionismo que se faz única e exclusivamente diferenciando-os do<br />
conceito <strong>de</strong> educação. A Educação Personalizada embora pareça sinônimo <strong>de</strong> “Educação<br />
Personalista”, aparece como uma metodologia específica <strong>de</strong> um autor Vítor García Hoz, mas que<br />
complementa e auxilia as falas dos outros autores, inclusive sendo a contribuição mais<br />
diretamente aplicável.<br />
Todas as ações educativas propostas embora com diferentes, abordagens,<br />
intensida<strong>de</strong>s e estratégias, almejam que o aluno aprenda a ser autônomo; que aprenda a ser<br />
<strong>de</strong>cidido; que aprenda a ser estudioso, que analise e construa conhecimentos voltados para o bem<br />
comum; que aprenda a ser reflexivo, e que argumente, discuta e perceba a verda<strong>de</strong> e exercite<br />
com orientação, e posteriormente com proprieda<strong>de</strong>, o senso crítico; que aprenda a ter iniciativa e<br />
exercite, e planeje e execute ações que envolvam toda a comunida<strong>de</strong> escolar; que seja<br />
responsável pelos atos, inclusive pelos fracassos; que seja capaz <strong>de</strong> ir em busca da sua excelência<br />
pessoal; que busque sempre a compreensão <strong>de</strong> si mesmo; e que projete a sua vida percebendo seu<br />
sentido; que realize seu projeto vital, que seja feliz.<br />
178
REFERÊNCIAS<br />
CIFUENTES, Carlos Llano. Formación <strong>de</strong> la inteligencia, la voluntad y el carácter. México:<br />
Trillas, 2000.<br />
CHOZA, J. Antropologia filosófica. Madrid: Rialp, 1989.<br />
DELORS, Jacques; MUFTI, In Am Al; AMAGI, Isao. Educação um tesouro a <strong>de</strong>scobrir:<br />
relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI.Cortez:<br />
São Paulo, 1996,<br />
HOZ, Víctor García. Educacion personalizada. 8.ed. Madrid: Rialp, 1988.<br />
STORK, Yepes Ricardo; ECHEVARRÍA, Javier Aranguren. Fundamentos <strong>de</strong> Antropologia:<br />
um i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> excelência humana. São Paulo: <strong>Instituto</strong> Brasileiro <strong>de</strong> Filosofia e Ciência “Raimundo<br />
Lúlio” (Ramon Llull), 2005.<br />
OTERO, Oliveros F. Educación y manipulación. 4. ed. Pamplona, EUNSA, 1990A.<br />
OTERO, Oliveros F. La educación como rebeldía. 4.ed. Pamplona: EUNSA, 1990B.<br />
179
ANEXO 1<br />
180
181
ANEXO 2<br />
182
183
ANEXO 3<br />
184
185