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ressignificando a teia de relações - Instituto de Ensino e Fomento

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA<br />

UNIVERSIDAD DE LA SABANA<br />

INSTITUTO DE ENSINO E FOMENTO<br />

ELIANE TRAMONTIN SILVEIRA MOLETA<br />

ELIZABET TRAMONTIN SILVEIRA CAMARGO<br />

RESSIGNIFICANDO A TEIA DE RELAÇÕES:<br />

ESCOLA, DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E FAMÍLIA<br />

PONTA GROSSA<br />

2006


ELIANE TRAMONTIN SILVEIRA MOLETA<br />

ELIZABET TRAMONTIN SILVEIRA CAMARGO<br />

RESSIGNIFICANDO A TEIA DE RELAÇÕES:<br />

ESCOLA, DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E FAMÍLIA<br />

Monografia apresentada como requisito parcial para<br />

obtenção do título <strong>de</strong> Especialista em<br />

Desenvolvimento Pessoal e Familiar pela<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Ponta Grossa /<br />

Universidad <strong>de</strong> La Sabana / IEF.<br />

Orientadora: Profa. Ms. Marinê Fecci Batistão Leite.<br />

PONTA GROSSA<br />

2006


A todos aqueles, que como nós,<br />

acreditam na força das <strong>relações</strong>.


AGRADECIMENTOS<br />

A Deus, por ter nos dado o dom da vida, oportunizando nosso encontro com<br />

essas pessoas com quem convivemos e com as crianças que por suas atitu<strong>de</strong>s nos<br />

proporcionaram condições para a concretização <strong>de</strong>ste estudo.<br />

Aos nossos pais Alceu e Arlete, que nos incentivaram para o estudo<br />

orientando-nos para as responsabilida<strong>de</strong>s frente às nossas escolhas e<br />

principalmente ao compromisso em relação ao próximo.<br />

Aos nossos esposos e filhos por terem compreendido o que significou para<br />

nós o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> terminar este trabalho, pelos momentos que compartilharam a<br />

nossa experiência, muitas vezes roubados <strong>de</strong> nossas horas <strong>de</strong> lazer, e também, pelo<br />

apoio e estímulo nas horas <strong>de</strong> <strong>de</strong>salento.<br />

A nossa orientadora Professora Ms. Marinê Fecci Batistão Leite pela amiza<strong>de</strong><br />

e competência com quem nos orientou e que com seu exemplo e experiências<br />

inspirou-nos a sermos educadoras que primam pela competência e <strong>de</strong>dicação.<br />

A todos os alunos e seus familiares participantes da pesquisa com quem<br />

tivemos a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conviver e, através <strong>de</strong>les apren<strong>de</strong>r.<br />

do estudo.<br />

Aos professores que nos colocaram suas salas a disposição para a realização<br />

Ao CAIC, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvemos nossas ativida<strong>de</strong>s profissionais, e por<br />

oportunizar nosso encontro com essas crianças, fundamento <strong>de</strong>ste estudo.


A unida<strong>de</strong> familiar se consegue quando<br />

a família tem os mesmos valores, ainda<br />

que com enfoques diferentes.<br />

(Sávio Ferreira <strong>de</strong> Souza – IEF)


RESUMO<br />

Este trabalho, numa abordagem qualitativa, enfoca a relação da escola com famílias <strong>de</strong><br />

alunos que vêm apresentando dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem. A pesquisa foi <strong>de</strong>senvolvida<br />

no CAIC – Centro <strong>de</strong> Atenção a Criança e ao adolescente Reitor Álvaro Augusto Cunha<br />

Rocha, da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Ponta Grossa, Paraná, com alunos do Nível III,<br />

segunda fase, que equivale a quarta série do <strong>Ensino</strong> Fundamental, os quais apresentaram<br />

<strong>de</strong>fasagem <strong>de</strong> conteúdos e participaram do apoio pedagógico fora <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula. Objetiva<br />

compreen<strong>de</strong>r como se dá a relação entre escola e família, i<strong>de</strong>ntificando suas implicações<br />

para a melhoria dos resultados escolares. As questões norteadoras do estudo foram: as<br />

dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagens mais comuns, os encaminhamentos utilizados pela escola,<br />

i<strong>de</strong>ntificação do olhar do professor e da escola em relação a essa questão, o contexto<br />

familiar em que vive o aluno e o comportamento familiar frente tal problemática. Para a<br />

coleta <strong>de</strong> dados fez-se uso <strong>de</strong> questionários e entrevistas semi-estruturadas aplicadas aos<br />

alunos, professores, equipe pedagógica e aos pais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z alunos envolvidos na pesquisa;<br />

análise documental dos alunos em questão e levantamento bibliográfico pertinente ao tema.<br />

Apontam-se estratégias <strong>de</strong> trabalhos, mediante a literatura pesquisada e práticas<br />

vivenciadas, que ressignificam a <strong>teia</strong> <strong>de</strong> <strong>relações</strong> da referida escola. Dentro <strong>de</strong> uma<br />

perspectiva relacional sistêmica, constatou-se que a inserção da família na escola e o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> práticas coletivas <strong>de</strong> integração dos mesmos promovem o crescimento<br />

e o bem estar <strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong> que apresenta dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem. A família e a<br />

escola se inseriram neste contexto como complemento uma da outra, com objetivos,<br />

metodologias e campos <strong>de</strong> atuação distintos. A formação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong>, para além da família<br />

nuclear, permite ao aluno <strong>de</strong>senvolver uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> grupal, um sentimento <strong>de</strong><br />

pertencimento, <strong>de</strong> validação, e ao mesmo tempo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferenciação e <strong>de</strong><br />

crescimento. Sendo assim, a dificulda<strong>de</strong> na aprendizagem se transforma em oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> aprendizagem para a família, no tocante a seus processos <strong>de</strong> relacionamento<br />

interpessoais, e para os professores e a escola refletirem sobre os resultados <strong>de</strong> sua ação<br />

educacional, repensando a prática pedagógica e inscrevendo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos<br />

procedimentos.<br />

Palavras-chave: Escola – Dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem – Família.


SUMÁRIO<br />

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 7<br />

CAPÍTULO 1 – O CAIC – CENTRO DE ATENÇÃO INTEGRAL A CRIANÇA<br />

E AO ADOLESCENTE.................................................................................... 12<br />

1.1 A Proposta Pedagógica e os seus Princípios Filosóficos, Epistemológicos e<br />

Didáticos Pedagógicos ..........................................................................................17<br />

CAPÍTULO 2 – ESCOLA, FAMÍLIA E AS DIFICULDADES DE<br />

APRENDIZAGEM............................................................................................ 32<br />

2.1 A Aprendizagem ..............................................................................................42<br />

2.2 As Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Aprendizagem ...................................................................54<br />

CAPÍTULO 3 – A PESQUISA EMPÍRICA ...................................................... 64<br />

3.1 Encaminhamentos Metodológicos ...................................................................66<br />

3.2 Análise dos Dados...........................................................................................73<br />

3.2.1 Olhar do Professor ....................................................................................75<br />

3.2.2 Olhar da Família........................................................................................83<br />

3.2.3 Olhar do Aluno ..........................................................................................93<br />

3.2.4 Olhar das Pesquisadoras ........................................................................101<br />

CONCLUSÃO................................................................................................ 110<br />

REFERÊNCIAS ............................................................................................. 115<br />

ANEXOS........................................................................................................ 117<br />

Anexo 1 – Fotos do CAIC ....................................................................................118<br />

Anexo 2 – Ficha Utilizada na Caracterização das Famílias.................................119<br />

Anexo 3 – Ficha Utilizada no Conselho <strong>de</strong> Avaliação da Escola .........................121<br />

APÊNDICES.................................................................................................. 122<br />

Apêndice 1 – Roteiro da Entrevista com as Famílias ..........................................123<br />

Apêndice 2 – Parecer dos Professores – Início e Final da Pesquisa...................124


7<br />

INTRODUÇÃO<br />

Neste estudo preocupou-se em compreen<strong>de</strong>r a participação dos pais na<br />

escola, não somente ligada à tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e sob a forma <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong><br />

serviços ou contribuição financeira, mas prioritariamente a a<strong>de</strong>são dos alunos, seus<br />

pais ou responsáveis aos propósitos educativos que contribuam para o bom<br />

<strong>de</strong>sempenho estudantil.<br />

A inquietação para conhecer essa relação surgiu diante da constatação das<br />

dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem enfrentadas pelas crianças e nosso questionamento.<br />

É possível melhorar o rendimento escolar com uma maior aproximação da escola e<br />

a família? Quais as estratégias mais favoráveis a essa aproximação?<br />

Para o referido estudo foi utilizado os procedimentos da pesquisa qualitativa e<br />

a abordagem da pesquisa-ação, na qual investigou-se como se <strong>de</strong>u a relação entre<br />

escola e família, tendo por amostragem <strong>de</strong>z alunos do Nível III, segunda fase,<br />

equivalente a quarta série, que apresentavam dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem no<br />

período letivo <strong>de</strong> 2005.<br />

Buscando um caminho específico ao problema central da pesquisa, formulouse<br />

os seguintes objetivos: <strong>de</strong>screver e analisar quais as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

aprendizagem mais comuns; i<strong>de</strong>ntificar o olhar do professor e da escola em relação<br />

à criança com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem; analisar em que contexto familiar vive o<br />

aluno com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem; analisar o comportamento familiar frente a<br />

essa problemática; <strong>de</strong>screver e analisar encaminhamentos utilizados pela escola<br />

para contribuir no <strong>de</strong>senvolvimento das crianças com dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem;


8<br />

apontar estratégias <strong>de</strong> trabalhos com crianças com dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem<br />

através da literatura pesquisada e práticas vivenciadas.<br />

Para tanto, aborda-se num primeiro momento, no capítulo um, O CAIC –<br />

Centro <strong>de</strong> Atenção Integral a Criança e ao Adolescente, traçando brevemente a<br />

trajetória <strong>de</strong> um sonho que virou realida<strong>de</strong> para a Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Ponta<br />

Grossa: ter uma escola <strong>de</strong> Educação Infantil e <strong>Ensino</strong> Fundamental que se<br />

constituísse em campo <strong>de</strong> pesquisa para os diversos cursos e em especial as<br />

licenciaturas. Escola essa que vem se <strong>de</strong>stacando no cenário nacional com suas<br />

produções escritas, práticas pedagógicas e qualificação profissional. Além da<br />

caracterização da escola, são mencionados dados do perfil sócio-econômico e<br />

educacional das famílias dos alunos da escola, os princípios que nor<strong>teia</strong>m a<br />

Proposta Pedagógica, os quais direcionam todas as ações à construção do<br />

conhecimento <strong>de</strong> forma crítica e contextualizada, portanto com significado para o<br />

aluno, valorizando o aprendizado que ele traz consigo.<br />

Visto que é uma escola <strong>de</strong> período integral, é <strong>de</strong>svelada a dinâmica dos<br />

espaços e tempos dos alunos num exercício <strong>de</strong> autonomia. A interação é constante<br />

na escola, estimulando aspectos lógicos e racionais da criança, bem como a<br />

formação global <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong>, permitindo o pensar, o sentir e o agir.<br />

Na busca da compreensão das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem aborda-se no<br />

capítulo dois A Escola, a Família e as Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Aprendizagem. Sabe-se<br />

que sendo o aluno parte integrante do processo ensino aprendizagem é preciso<br />

compreen<strong>de</strong>r o contexto on<strong>de</strong> ele está inserido, a escola e a família, fazendo-se<br />

necessário uma estreita relação entre ambos. Estuda-se a Aprendizagem para que<br />

se tenha elementos que favoreçam a compreensão <strong>de</strong>sse processo,<br />

conceitualizando-a, <strong>de</strong>screvendo-a em suas teorias, potencialida<strong>de</strong>s e implicações.


9<br />

A aprendizagem escolar neste trabalho é entendida como condição vinculada ao<br />

funcionamento familiar. A complexida<strong>de</strong> do processo ensino aprendizagem em suas<br />

não poucas implicações, foi e continua sendo objeto <strong>de</strong> análise para os que<br />

procuram enten<strong>de</strong>r melhor a prática ou preten<strong>de</strong>m contribuir com quem enfrenta os<br />

mais diferentes <strong>de</strong>safios pedagógicos em seu fazer.<br />

Nas Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Aprendizagem é imprescindível um esforço reflexivo a<br />

partir dos vários enfoques teóricos e práticos que se entrecruzam, se interpõem e se<br />

completam, alargando horizontes para que se possa contemplar a complexida<strong>de</strong> da<br />

não aprendizagem na busca do melhor encaminhamento, visando saná-las.<br />

Para um melhor envolvimento da escola com vistas aos problemas na<br />

aprendizagem, aborda-se a teoria relacional sistêmica. Investida <strong>de</strong>sse olhar<br />

sistêmico, a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida na pesquisa permite convidar todos os<br />

envolvidos da escola e família a constituírem uma solução. Precisam organizar-se<br />

para buscar soluções conjuntas para os problemas que se apresentam, neste caso,<br />

as dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem. A escola não abre mão <strong>de</strong> sua responsabilida<strong>de</strong>,<br />

apenas redimensiona o seu olhar para a <strong>teia</strong> <strong>de</strong> <strong>relações</strong> que se constrói entre<br />

escola e família.<br />

No âmbito das famílias, foi privilegiado o contato com os membros adultos,<br />

especificamente os pais ou responsáveis, para ter acesso a seus esquemas <strong>de</strong><br />

representações a respeito da relação estabelecida com a escola e professores, bem<br />

como das concepções que têm do processo <strong>de</strong> aprendizagem vivenciado pelo filho.<br />

A relação estabelecida entre a escola, os professores, os alunos e os pais da<br />

instituição pesquisada é analisada no capítulo três A Pesquisa Empírica, quando se<br />

relata a participação das famílias na escola, fazendo um paralelo sobre a<br />

participação ou não da família e sobre esse envolvimento para o <strong>de</strong>senvolvimento


10<br />

da aprendizagem do aluno. Pelo olhar da escola, dos professores e coor<strong>de</strong>nadores,<br />

e pelo olhar dos alunos, <strong>de</strong> seus familiares e das pesquisadoras, <strong>de</strong>svela-se neste<br />

estudo o processo ensino aprendizagem, a integração família e escola e o<br />

enfrentamento às dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem.<br />

A escola que se preocupa em levar o aluno a querer apren<strong>de</strong>r, precisa ter<br />

presente a continuida<strong>de</strong> entre a educação familiar e a escolar, buscando formas <strong>de</strong><br />

conseguir a a<strong>de</strong>são da família para sua tarefa <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver nos educandos<br />

atitu<strong>de</strong>s positivas e duradouras com relação ao apren<strong>de</strong>r e ao estudar, edificando<br />

uma perspectiva preventiva das dificulda<strong>de</strong>s escolares. É no início da escolarização<br />

e não no fim, que se <strong>de</strong>ve otimizar o potencial <strong>de</strong> aprendizagem das crianças.<br />

Essa percepção vem ao encontro dos anseios <strong>de</strong> todos os educadores e<br />

educadoras que, convivendo no dia-a-dia com alunos que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da sua forma<br />

<strong>de</strong> conduzir as <strong>relações</strong>, po<strong>de</strong>m estar <strong>de</strong>terminando o quanto serão ou não bem<br />

sucedidos na vida escolar e conseqüentemente na vida como um todo. O ser<br />

humano é imbuído <strong>de</strong> sentimentos, e é preciso atenção em relação a eles e na<br />

busca <strong>de</strong> estratégias que permitam resgatar a auto-estima e valorizar as<br />

capacida<strong>de</strong>s individuais em prol <strong>de</strong> toda a coletivida<strong>de</strong>.<br />

Sugere-se o fator resiliência que, segundo Grünspun (2003), po<strong>de</strong> ser um dos<br />

meios que po<strong>de</strong> minimizar os efeitos negativos do ambiente e da herança genética e<br />

<strong>de</strong>ixar que a individualida<strong>de</strong> da criança floresça, apesar das adversida<strong>de</strong>s da vida.<br />

As <strong>de</strong>cepções geradas pela incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolver as contradições, conduzem o<br />

indivíduo ao sentimento <strong>de</strong> impotência diante às adversida<strong>de</strong>s que lhe são impostas.<br />

Esses <strong>de</strong>safios e dificulda<strong>de</strong>s que cotidianamente se apresentam, faz com que o ser<br />

humano precise ser formado e se auto-formar para preservar-se psicologicamente,<br />

para reagir e organizar o seu mundo, suas carências, suas priorida<strong>de</strong>s, seus anseios


11<br />

e suas ações, <strong>de</strong> modo a não <strong>de</strong>ixar que as eventualida<strong>de</strong>s sobressaiam e que não<br />

possam, em dado momento e em <strong>de</strong>terminadas situações, controlar e dar respostas<br />

exigidas. A formação neste contexto exprimiria a sua resiliência, isto é, sua<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma mais consciente aos <strong>de</strong>safios e dificulda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong><br />

reagir com flexibilida<strong>de</strong> e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recuperação diante <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>safios e<br />

circunstâncias <strong>de</strong>sfavoráveis, tendo uma atitu<strong>de</strong> otimista, positiva e perseverante,<br />

conseguindo manter um equilíbrio eficaz durante e após os embates. Um atributo <strong>de</strong><br />

personalida<strong>de</strong> que ativada e <strong>de</strong>senvolvida, possibilita ao sujeito superar-se às<br />

pressões <strong>de</strong> seu mundo, a <strong>de</strong>senvolver o autoconceito realista, a autoconfiança e<br />

um senso <strong>de</strong> autoproteção que não <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra a abertura ao novo, à mudança,<br />

ao outro e à realida<strong>de</strong> subjacente fazendo seguir adiante.<br />

Po<strong>de</strong>-se inferir que a resiliência tem a ver com o vínculo afetivo <strong>de</strong> cada<br />

dinâmica familiar ou social. Faz-se necessário que os alunos e todos os envolvidos<br />

no processo ensino aprendizagem sejam queridos e que possam contar com<br />

pessoas que os levem a busca das necessida<strong>de</strong>s básicas e que os façam sentir-se<br />

únicos, úteis e importantes, favorecendo a construção do conhecimento, a<br />

transformação da realida<strong>de</strong> e a elevação como ser humano.


12<br />

CAPÍTULO 1<br />

O CAIC – CENTRO DE ATENÇÃO INTEGRAL A CRIANÇA E AO<br />

ADOLESCENTE<br />

O Centro <strong>de</strong> Atenção Integral à Criança e ao Adolescente Reitor Alvaro<br />

Augusto Cunha Rocha – CAIC – é um órgão suplementar da Universida<strong>de</strong> Estadual<br />

<strong>de</strong> Ponta Grossa, situado à rua Alameda Coronel Camisão s/ n.º, Campus<br />

Universitário, no bairro <strong>de</strong> Uvaranas, no município <strong>de</strong> Ponta Grossa/Paraná (fotos no<br />

Anexo 1).<br />

No inicio da década <strong>de</strong> 1990, um grupo <strong>de</strong> professores dos <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong><br />

Educação e Métodos e Técnicas <strong>de</strong> <strong>Ensino</strong> da UEPG – Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong><br />

Ponta Grossa 1 , elaborou um projeto para criação <strong>de</strong> um Centro Educacional, cujo<br />

objetivo era o <strong>de</strong> organizar uma escola <strong>de</strong> Educação Infantil e <strong>Ensino</strong> Fundamental,<br />

que se constituísse campo <strong>de</strong> estágio para os Cursos <strong>de</strong> Licenciaturas.<br />

O projeto possibilitou a conquista junto ao Projeto Minha Gente, do Governo<br />

Fe<strong>de</strong>ral, a implantação <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> física mo<strong>de</strong>lo CAIC – Centro <strong>de</strong> Atenção<br />

Integral a Criança e ao Adolescente no Campus da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Ponta<br />

Grossa.<br />

Na época, foi conquistado um excelente espaço físico, com aproximadamente<br />

15.000 metros quadrados <strong>de</strong> área ver<strong>de</strong> com uma área construída <strong>de</strong> 5.000 metros<br />

quadrados, conforme mo<strong>de</strong>lo CIACs 12. O governo Collor no início <strong>de</strong> 1991 adota a<br />

proposta dos Centros Integrados <strong>de</strong> Educação Pública – CIEPs do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

criando em todo país os Centros Integrados <strong>de</strong> Apoio à Criança – CIACs, que se<br />

1 Para aprofundamento consultar o Projeto <strong>de</strong> Implantação do Caic Reitor Álvaro Augusto Cunha<br />

Rocha, nos Arquivos da escola pesquisada.


13<br />

constituíram na base física do Projeto Minha Gente, cuja finalida<strong>de</strong> era o bem estar<br />

da criança e do adolescente. No caso específico do CAIC Reitor Álvaro Augusto<br />

Cunha Rocha <strong>de</strong> Ponta Grossa, é importante salientar que a proposta pedagógica<br />

implementada não era a mesma do Projeto Minha Gente, mas apenas a estrutura<br />

física, conquistada pela reitoria da UEPG da época, para a criação da escola 2 .<br />

A unida<strong>de</strong> abrigou o Centro Educacional, criado através da resolução<br />

Universitária Nº. 16, <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1990, que começou a se tornar realida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> CAIC.<br />

Em 1996, foi homologada a criação do Centro <strong>de</strong> Atenção Integral a Criança e<br />

ao Adolescente – CAIC, o qual se caracteriza como um espaço educativo cultural<br />

que pela proposta político-filosófica e a abrangência <strong>de</strong> ação, propõe a integração<br />

<strong>de</strong> serviços essenciais ao <strong>de</strong>senvolvimento integral da criança nos aspectos: físico,<br />

psíquico, intelectual e social.<br />

No referido espaço, os serviços sociais básicos estão organizados em Seções<br />

<strong>de</strong> Apoio: Alimentação, Cultura, Esportes e Promoção a Saú<strong>de</strong> da Criança e do<br />

Adolescente. Cada uma das Seções procura auxiliar no <strong>de</strong>senvolvimento integral do<br />

aluno.<br />

A construção forma um conjunto arquitetônico organizado em três blocos: o<br />

primeiro, abriga o espaço da Educação Infantil apropriado para aten<strong>de</strong>r as crianças<br />

<strong>de</strong> 3 a 6 anos. O segundo bloco, formado pela biblioteca, auditório, salas para os<br />

Ateliês e uma área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> constituída por consultório médico e odontológico. O<br />

terceiro bloco é formado por dois andares. No andar inferior encontram-se: cozinha,<br />

refeitório, banheiros equipados com chuveiros, área administrativa composta por<br />

direção geral, sala <strong>de</strong> convivência (para funcionários e professores), almoxarifado,<br />

2 Para aprofundamento sobre CIEPs, CIACs, CAICs consultar o livro Escolas Especiais e visão<br />

classista: bases históricas das concepções <strong>de</strong> atenção integral à criança e ao adolescente,<br />

publicação da Editora UEPG 1998.


14<br />

tesouraria, secretaria, sala <strong>de</strong> reuniões e <strong>de</strong> esportes. No andar superior encontramse:<br />

salas <strong>de</strong> aula, sala <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação pedagógica e orientação educacional.<br />

Além dos blocos, há um ginásio <strong>de</strong> esportes, uma quadra externa, pátios<br />

interno e externo, um campo <strong>de</strong> futebol suíço, cancha <strong>de</strong> areia, brinquedoteca,<br />

ludoteca, parques infantis e uma extensa área ver<strong>de</strong>. Os alunos também po<strong>de</strong>m<br />

usufruir <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>pendências do Campus Universitário como: pista <strong>de</strong><br />

atletismo, piscina, laboratórios para palestras com acadêmicos.<br />

No CAIC estão alocadas duas Escolas: a escola que funcionava <strong>de</strong>ntro do<br />

espaço conquistado, a qual recebeu o nome <strong>de</strong> Escola Reitor Álvaro Augusto Cunha<br />

Rocha em homenagem ao professor Álvaro Augusto Cunha Rocha 3 – Educação<br />

Infantil e <strong>Ensino</strong> Fundamental, contando atualmente com 368 alunos; e a Escola<br />

Estadual Professora Hália Terezinha Gruba 4 , <strong>Ensino</strong> Fundamental <strong>de</strong> 5ª a 8ª série,<br />

mantida pela Secretaria <strong>de</strong> Estado da Educação, contando com 250 alunos<br />

matriculados.<br />

Além dos funcionários lotados nas duas escolas, o CAIC oferece aos alunos<br />

atendimento <strong>de</strong> profissionais como: nutricionista, cozinheiras, auxiliares <strong>de</strong><br />

enfermagem e técnicas em higiene bucal, <strong>de</strong>ntista e médico.<br />

A Escola na qual foi <strong>de</strong>senvolvida a pesquisa, funciona nas <strong>de</strong>pendências do<br />

CAIC Reitor Álvaro Augusto Cunha Rocha, iniciou suas ativida<strong>de</strong>s através da<br />

resolução nº. 856/93 <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1993. Caracteriza-se como uma escola <strong>de</strong><br />

período integral, permanecendo das 8 às 16 horas, exceto na quarta-feira,cuja saída<br />

ocorre às doze horas. As tar<strong>de</strong>s <strong>de</strong> quarta-feira são <strong>de</strong>stinadas a formação<br />

continuada dos professores e funcionários do CAIC, visto que os alunos não<br />

permanecem na escola.<br />

3 Primeiro Reitor da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Ponta Grossa, cuja gestão foi no período <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong><br />

maio <strong>de</strong> 1970 a 20 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1974; faleceu no dia 26 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1992.<br />

4 Professora do Departamento <strong>de</strong> Métodos e Técnicas <strong>de</strong> <strong>Ensino</strong> da UEPG.


15<br />

Os alunos são provenientes <strong>de</strong> famílias em sua maioria <strong>de</strong> classe econômica<br />

média baixa, on<strong>de</strong> o casal está inserido no mercado <strong>de</strong> trabalho para garantir o<br />

sustento, como é percebido nos dados do perfil socioeconômico educacional,<br />

possibilitando uma melhor compreensão da comunida<strong>de</strong> escolar. A renda familiar <strong>de</strong><br />

acordo com dados <strong>de</strong> 2004, está entre um e dois salários mínimos 48,8%, sendo<br />

que 63,7% <strong>de</strong> pais e 60,7% <strong>de</strong> mães trabalham para manter a família. Em relação a<br />

inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho com remuneração fixa temos 46,5% dos pais e<br />

38,5% das mães. É significativo o percentual <strong>de</strong> pais 17,2% e <strong>de</strong> 22,9% <strong>de</strong> mães<br />

que são funcionários públicos. A taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego é <strong>de</strong> 66,7%, e neste caso para<br />

o sustento da família, as mães trabalham <strong>de</strong> diarista e os pais fazem trabalhos<br />

temporários. Em relação ao <strong>de</strong>slocamento até a escola 31,3% dos alunos chegam a<br />

pé, 32% utilizam transporte coletivo e os <strong>de</strong>mais, são levados pelos pais com<br />

condução própria. No que se refere ao método <strong>de</strong> ensino 64,6% dos pais estão<br />

satisfeitos com a proposta pedagógica da escola. Em termos <strong>de</strong> alimentação, a<br />

escola oferece três refeições diárias, sendo que após o almoço há um intervalo <strong>de</strong><br />

uma hora, on<strong>de</strong> os alunos po<strong>de</strong>m participar <strong>de</strong> diversas ativida<strong>de</strong>s recreativas,<br />

esportivas e artísticas, po<strong>de</strong>ndo administrar seu tempo da maneira como quiserem<br />

sob a orientação da Seção <strong>de</strong> Cultura, estagiários e coor<strong>de</strong>nação pedagógica. A<br />

escola está organizada em níveis I, II e III, aten<strong>de</strong>ndo uma clientela com faixa etária<br />

<strong>de</strong> 4 a 10 anos. Os professores <strong>de</strong>sta escola são cedidos pela Prefeitura Municipal<br />

<strong>de</strong> Ponta Grossa, através <strong>de</strong> Convênio com a Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação –<br />

SME. A coor<strong>de</strong>nação pedagógica, e os <strong>de</strong>mais funcionários fazem parte do quadro<br />

funcional da UEPG.<br />

É uma Escola da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Ponta Grossa, on<strong>de</strong> é possível<br />

perceber que existem práticas e experiências educacionais em curso, mostrando


16<br />

que é possível ser diferente, que é possível construir um espaço educativo em que<br />

se possam produzir diferentes e múltiplos significados.<br />

Os profissionais que atuam no CAIC são os sujeitos, autores, atores e<br />

construtores <strong>de</strong> suas práticas, cumprindo sua função social, atingindo o objetivo <strong>de</strong><br />

sua implantação. I<strong>de</strong>alizada como escola pesquisa, hoje, <strong>de</strong>staca-se por sua<br />

qualificação profissional e suas produções. Os projetos <strong>de</strong> extensão <strong>de</strong>senvolvidos<br />

evi<strong>de</strong>nciam-se, e os mais recentes, foram publicados na 1ª Edição da Revista<br />

Conexão da UEPG (2005). Muitos dos professores que atuaram, no CAIC, assumem<br />

coor<strong>de</strong>nações <strong>de</strong> escolas da Re<strong>de</strong> Municipal <strong>de</strong> <strong>Ensino</strong> e contribuem com sua<br />

bagagem <strong>de</strong> conhecimentos, forjados no CAIC, para elevar qualitativamente a<br />

educação do município.<br />

O CAIC possui publicações anuais <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2002, constituídas em ANAIS do<br />

Encontro Interdisciplinar <strong>de</strong> Práticas Pedagógicas, resultado das experiências que<br />

são efetivadas no cotidiano escolar das referidas escolas e seções <strong>de</strong> apoio. O<br />

evento caracteriza-se num momento <strong>de</strong> diálogo, <strong>de</strong> reflexão, <strong>de</strong> socialização <strong>de</strong><br />

experiências, pesquisas e práticas escolares, e <strong>de</strong> busca <strong>de</strong> novos saberes e<br />

fazeres em educação. A especificida<strong>de</strong> da ação educativa é marcada pelo trabalho e<br />

pelas <strong>relações</strong> que se dão em sala <strong>de</strong> aula e estabelecidas no convívio entre<br />

educadores(as)/educandos na escola, acontecendo portanto nos tempos e espaços<br />

<strong>de</strong> convívio pedagógico que preten<strong>de</strong>-se partilhar com as famílias.


17<br />

1.1 A Proposta Pedagógica e os seus Princípios Filosóficos, Epistemológicos e<br />

Didáticos Pedagógicos<br />

A proposta da escola, em sua originalida<strong>de</strong> e caráter inovador foi reconhecida<br />

nacionalmente, já em 1994, pelo Centro <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas em Educação,<br />

Cultura e Ação Comunitária – CENPEC, como uma <strong>de</strong>ntre <strong>de</strong>zesseis melhores<br />

propostas do País 5 . Mais tar<strong>de</strong>, em 1998, a escola, recebeu também o prêmio<br />

Nacional <strong>de</strong> Referência em Gestão Escolar, promovido pela Secretaria <strong>de</strong> Estado da<br />

Educação do Paraná – SEED, em parceria com o Conselho Nacional dos<br />

Secretários <strong>de</strong> Educação – CONSED e a União Nacional dos Dirigentes Municipais<br />

<strong>de</strong> Educação – UNDIME, ficando em quarto lugar <strong>de</strong>ntre as <strong>de</strong>z escolhidas no<br />

Estado do Paraná.<br />

A proposta pedagógica é <strong>de</strong>nsa e bastante original, preten<strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong><br />

romper com a exclusão, com a concepção fragmentária <strong>de</strong> conhecimento e com uma<br />

visão pragmática, imediatista, reducionista e parcial da educação, cuja ruptura<br />

implica a criação <strong>de</strong> uma efetiva capacida<strong>de</strong> pedagógica <strong>de</strong> incorporar os saberes<br />

iniciados na cultura, nas práticas sociais, no mundo vivido das crianças e<br />

adolescentes, nas respectivas comunida<strong>de</strong>s.<br />

Em seus pressupostos filosóficos 6 , as transformações culturais, econômicas,<br />

sociais e políticas vividas nestes últimos anos, levaram o homem a buscar novas<br />

alternativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>de</strong> organização social e mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> <strong>relações</strong><br />

5 Na publicação do CENPEC intitulada Projeto Raízes e Asas a proposta da escola é apresentada e<br />

avaliada em diferentes aspectos. Para maiores informações consultar o volume: Qualida<strong>de</strong> para<br />

todos: o caminho <strong>de</strong> cada escola. São Paulo: CENPEC, 1994. (Existem nos arquivos da escola<br />

pesquisada).<br />

6 Para aprofundamento, consultar o Projeto <strong>de</strong> Implantação do CAIC Reitor Álvaro Augusto Cunha<br />

Rocha, nos arquivos da escola pesquisada.


18<br />

sociais. Para enfrentar os <strong>de</strong>safios <strong>de</strong>ste novo milênio é então necessário superar o<br />

<strong>de</strong>scrédito da socieda<strong>de</strong> em relação à educação, assinalando-lhes novos objetivos<br />

em função <strong>de</strong>sse novo homem que se quer e precisa formar.<br />

A educação, nesse contexto, é chamada a formar um homem capaz <strong>de</strong> atuar<br />

neste mundo em transformação como sujeito histórico competente, organizado,<br />

crítico e criativo, abrindo possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> avanços para um mundo mais<br />

humanizado. A preparação para o mundo do trabalho atualmente, requer o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento nas novas gerações além <strong>de</strong> conhecimentos, idéias, habilida<strong>de</strong>s e<br />

capacida<strong>de</strong>s formais, a formação também <strong>de</strong> disposições, atitu<strong>de</strong>s, interesses e<br />

comportamentos que se ajustem às exigências contemporâneas da socieda<strong>de</strong>.<br />

Nessa perspectiva, há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma nova escola, uma escola crítica<br />

que possibilite a construção do conhecimento, on<strong>de</strong> o indivíduo seja capaz <strong>de</strong><br />

adaptar-se às mudanças, <strong>de</strong> saber pensar, <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r.<br />

Formar o cidadão, preparando-o para a convivência na comunida<strong>de</strong> humana<br />

é também competência da escola. Sua função educativa, imersa na tensão dialética<br />

entre reprodução e mudança, po<strong>de</strong> utilizar o conhecimento social e historicamente<br />

produzido para explicitar o sentido das mudanças e das influências que o indivíduo<br />

recebe na escola e na socieda<strong>de</strong>.<br />

Para tal, a escola aponta que a educação <strong>de</strong>ve organizar-se em torno <strong>de</strong><br />

quatro aprendizagens fundamentais, consi<strong>de</strong>radas como os pilares do conhecimento<br />

para o próximo século: “apren<strong>de</strong>r a conhecer, apren<strong>de</strong>r a fazer, apren<strong>de</strong>r a conviver<br />

e apren<strong>de</strong>r a ser” (DELORS, 1998) citado na própria Proposta Pedagógica da<br />

Escola.


19<br />

Através dos quatro pilares da Educação, busca-se a formação integral do ser<br />

humano, on<strong>de</strong> aprendizagens <strong>de</strong>vem traduzir-se em aquisição <strong>de</strong> competências, <strong>de</strong><br />

conhecimentos, <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> aprimoramento da personalida<strong>de</strong>.<br />

A escola terá que se sintonizar com as reais aspirações do ser humano,<br />

tornando-se <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adora <strong>de</strong>sse processo, através da integração entre o<br />

conhecimento intelectual e a sabedoria do espírito, revelando assim o papel do<br />

homem na construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> mais justa, mais humana e<br />

verda<strong>de</strong>iramente <strong>de</strong>mocrática.<br />

Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o <strong>Ensino</strong> Fundamental, conforme<br />

resolução CEB nº 2 <strong>de</strong> 07/04/1998 estão <strong>de</strong>finidos os princípios, fundamentos e<br />

procedimentos da educação básica, que estão baseados nas concepções<br />

mencionadas anteriormente. Os princípios norteadores das ações pedagógicas das<br />

escolas são: a) os princípios éticos da autonomia, da responsabilida<strong>de</strong>, da<br />

solidarieda<strong>de</strong> e do respeito ao bem comum; b) os princípios dos direitos e <strong>de</strong>veres<br />

da cidadania, do exercício da criticida<strong>de</strong> e do respeito à or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>mocrática; c) os<br />

princípios estéticos da sensibilida<strong>de</strong>, da criativida<strong>de</strong>, e da diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

manifestações artísticas e culturais. Com referência a competência das escolas está<br />

posto nos incisos III e V:<br />

III – As escolas <strong>de</strong>verão reconhecer que as aprendizagens são<br />

constituídas pela interação dos processos <strong>de</strong> conhecimentos com os<br />

<strong>de</strong> linguagem e os afetivos, em conseqüência das <strong>relações</strong> entre as<br />

distintas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s dos vários participantes do contexto<br />

escolarizado; as diversas experiências <strong>de</strong> vida dos alunos,<br />

professores e <strong>de</strong>mais participantes do ambiente escolar, expressas<br />

através <strong>de</strong> múltiplas formas <strong>de</strong> diálogo, <strong>de</strong>vem contribuir para a<br />

constituição <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> afirmativas, persistentes e capazes <strong>de</strong><br />

protagonizar ações autônomas e solidárias em relação a<br />

conhecimentos e valores indispensáveis a vida cidadã.<br />

V – As escolas <strong>de</strong>verão explicitar em suas propostas curriculares<br />

processos e ensino voltados para as <strong>relações</strong> com sua comunida<strong>de</strong><br />

local, regional e planetária, visando à interação entre a educação<br />

fundamental e a vida cidadã; os alunos, ao apren<strong>de</strong>rem os


20<br />

conhecimentos e valores da base nacional comum e da parte<br />

diversificada, estarão também constituindo sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como<br />

cidadãos, capazes <strong>de</strong> serem protagonistas <strong>de</strong> ações responsáveis,<br />

solidárias e autônomas em relação a si próprios, às suas famílias e<br />

às comunida<strong>de</strong>s. (BRASIL, 1998).<br />

O novo paradigma, a partir da LDB, supõe a articulação da Educação<br />

Fundamental com a Vida Cidadã. Vida Cidadã entendida como o exercício <strong>de</strong><br />

direitos e <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> pessoas, grupos e instituições na socieda<strong>de</strong>, que em sinergia,<br />

em movimento cheio <strong>de</strong> energias que se trocam e se articulam, influem sobre<br />

múltiplos aspectos, po<strong>de</strong>ndo assim viver bem e transformar a convivência para<br />

melhor.<br />

Fundamentados nessas reflexões, a escola preten<strong>de</strong> adotar uma postura<br />

filosófica progressista, colaborando no preparo do indivíduo para a cidadania,<br />

propiciando experiências <strong>de</strong> aprendizagens significativas. Constituir-se-á num<br />

espaço <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> múltiplos sujeitos e saberes, <strong>de</strong> experiências <strong>de</strong><br />

aprendizagens, enfim um espaço <strong>de</strong> ensinar e apren<strong>de</strong>r que dê condições para que<br />

o indivíduo possa formar-se, construir-se, “fazer-se fazendo”.<br />

Em seus pressupostos epistemológicos, o <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

caracteriza-se por ser um processo contínuo e abrangente no que diz respeito aos<br />

vários aspectos constitutivos do homem, sejam eles físicos, afetivos, sociais ou<br />

intelectuais.<br />

Ao mesmo tempo, o <strong>de</strong>senvolvimento humano, que pressupõe sucessivas<br />

transformações, não po<strong>de</strong> ser entendido se dissociado do processo <strong>de</strong><br />

aprendizagem, já que, <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem são processos da mesma<br />

unida<strong>de</strong>. Isso significa a existência <strong>de</strong> mútuas influências que fazem a totalida<strong>de</strong> do<br />

humano. Nessas influências, estabelecem-se a importância do aprendizado no<br />

<strong>de</strong>spertar <strong>de</strong> variados processos internos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.


21<br />

Em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa unida<strong>de</strong>, põe-se <strong>de</strong> lado a concepção dicotômica <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem que sugere a possibilida<strong>de</strong> do indivíduo<br />

<strong>de</strong>senvolver-se <strong>de</strong>svinculado das aprendizagens vivenciadas. Está presente nessa<br />

idéia a própria dialética da humanida<strong>de</strong>.<br />

A criança e o adolescente interagem, inter-relacionam-se com o mundo,<br />

através da mediação <strong>de</strong> outras pessoas membros mais experientes <strong>de</strong> sua cultura.<br />

Pelo processo sócio-interativo da vida, Vygotsky (1989), o aprendizado<br />

humano pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual<br />

as crianças penetram na vida intelectual daquelas que as cercam, formando suas<br />

funções mentais que emergirão do plano biológico, transformando-se <strong>de</strong> processos<br />

elementares em processos superiores. Ocorre que essas transformações é que<br />

fazem o <strong>de</strong>senvolvimento humano, o qual é erguido sobre o plano das interações.<br />

Uma ação partilhada se torna uma ação internalizada. O processo segue o<br />

sentido do social para o individual, presumindo sempre a relação com "o outro”.<br />

O aprendiz reconstrói no plano <strong>de</strong> sua individualida<strong>de</strong>, as operações do plano<br />

da intersubjetivida<strong>de</strong>. Na expressão vygotskyana (apud P. P. P.): "um processo<br />

interpessoal é transformado num processo intrapessoal. Todas as funções do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível social, e<br />

<strong>de</strong>pois, no nível individual”.<br />

Tal pressuposto acarreta certa <strong>de</strong>pendência no que se refere à qualida<strong>de</strong> das<br />

experiências interativas, já que as regulações <strong>de</strong> outras pessoas são substituídas<br />

por auto-regulações.<br />

No contexto cultural da criança e do adolescente, a regulação externa realizase<br />

pela ação dos adultos ou companheiros que permitirão as primeiras apropriações<br />

dos conhecimentos constituídos por aquele grupo social. A criança e o adolescente


22<br />

vão incorporando o mundo físico e social as suas estruturas. Esses conhecimentos<br />

serão filtrados pelos grupos sociais, elementos mediadores das concepções que ela<br />

formará <strong>de</strong> mundo, <strong>de</strong> homem, <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> e das <strong>relações</strong> entre os mesmos.<br />

Os signos como a fala, a escrita, a matemática, os gestos, o <strong>de</strong>senho e<br />

outros, compõem o instrumental cultural da humanida<strong>de</strong>. É por meio <strong>de</strong>les que se<br />

organiza o pensamento e o comportamento humano.<br />

No contexto escolar, a regulação externa revela-se como função pedagógica<br />

e diz respeito à atitu<strong>de</strong> do professor. Freire (1996, p. 29) nos diz que “ensinar não é<br />

transferir conhecimento, mas criar as possibilida<strong>de</strong>s para a sua produção ou a sua<br />

construção”.<br />

Assim a aprendizagem escolar é uma força que direciona e <strong>de</strong>termina o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da criança e lhe permite tornar-se consciente <strong>de</strong> suas operações<br />

mentais.<br />

A escola foi historicamente constituída como instituição on<strong>de</strong> se dá a<br />

transmissão do conhecimento elaborado pela humanida<strong>de</strong>. Mas, essa função<br />

atualmente se ampliou. Ela tem também outro papel: é o espaço on<strong>de</strong> as <strong>relações</strong><br />

humanas são moldadas, avaliadas. Deve ser usada para aprimorar valores e<br />

atitu<strong>de</strong>s, além <strong>de</strong> capacitar o indivíduo na busca <strong>de</strong> informações, on<strong>de</strong> quer que elas<br />

estejam, para usá-las no seu cotidiano.<br />

O conhecimento, nessa acepção, <strong>de</strong>ver ser entendido como uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>relações</strong>, na qual o educador ajuda os alunos a fazer as conexões necessárias. As<br />

competências não são conhecimentos; elas utilizam, integram, ou mobilizam os<br />

conhecimentos. Portanto, a abordagem por competências não rejeita nem os<br />

conteúdos, nem as disciplinas, mas sim acentua sua implementação.


23<br />

Isso pressupõe que, um programa <strong>de</strong> formação na escola orientado pelo<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competências, terá um po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> gerenciamento sobre os<br />

conhecimentos disciplinares. Formulando os objetivos da formação em termos <strong>de</strong><br />

competências, estaremos lutando abertamente contra a tentação da escola <strong>de</strong><br />

ensinar por ensinar, <strong>de</strong> marginalizar as referências às situações da vida e <strong>de</strong> não<br />

reservar tempo para a mobilização dos saberes adquiridos para situações mais<br />

complexas.<br />

A transposição didática, isto é, a transformação dos conhecimentos científicos<br />

em conhecimentos escolares é fundamental nesse processo <strong>de</strong> mudança das<br />

finalida<strong>de</strong>s da escola. Para isso, há que se modificar as práticas pedagógicas<br />

através da organização <strong>de</strong> situações didáticas e <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que tenham sentido<br />

para os alunos, envolvendo-os e, ao mesmo, gerando aprendizagens fundamentais.<br />

Trabalhar com pesquisas, com <strong>de</strong>safios, por resolução <strong>de</strong> problemas, por projetos,<br />

com tarefas complexas propicia a construção/reconstrução do conhecimento e <strong>de</strong><br />

novos saberes, ao mesmo tempo em que geram uma interação <strong>de</strong> aprendizagens<br />

facilitadoras do <strong>de</strong>senvolvimento das competências fundamentais à pessoa humana.<br />

Vale dizer, portanto, que a criança e o adolescente vão à escola para<br />

apropriar-se <strong>de</strong> instrumentos que <strong>de</strong>verão permitir-lhe tanto a sobrevivência como o<br />

exercício <strong>de</strong> sua cidadania, entendida enquanto qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições materiais<br />

que viabilizem o papel <strong>de</strong> sujeito <strong>de</strong> suas <strong>relações</strong> sociais.<br />

Para tamanha tarefa, é importante que o professor leve em conta os conceitos<br />

espontâneos provindos do cotidiano da criança e do adolescente, como pontos <strong>de</strong><br />

partida para a apropriação dos conceitos científicos, que só ganham significado<br />

quando enriquecidos pela concretu<strong>de</strong> da experiência e vivência da criança. Ao<br />

mesmo tempo, como aponta Vygotsky (op cit), esses conceitos espontâneos


24<br />

precisam ser objetos da "consciência reflexiva" e do "controle <strong>de</strong>liberado", o que tem<br />

sido historicamente colocado como papel da escola.<br />

Dentro <strong>de</strong>ssa perspectiva, situamos o processo uno que faz o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e a aprendizagem humana. O aprendiz precisa encontrar na escola<br />

as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apropriação dos conhecimentos acumulados pela humanida<strong>de</strong>,<br />

tendo em vista sua emancipação. Nessa trajetória, ele se constituirá sujeito na<br />

medida em que os conhecimentos acumulados integrem-se a sua própria vida.<br />

Partindo <strong>de</strong> uma aprendizagem que seja vinculada com o conhecimento teórico,<br />

partindo <strong>de</strong> um ensino contextualizado.<br />

Em seus pressupostos didáticos pedagógicos, para a efetivação <strong>de</strong> uma<br />

pedagogia com enfoque crítico e contextualizado, reconhecedora das diferenças<br />

existentes entre os alunos e buscando levá-los à apropriação <strong>de</strong> conhecimentos<br />

essenciais ao exercício da cidadania, faz-se necessário traçar princípios básicos que<br />

nortearão o seu encaminhamento metodológico.<br />

É preciso ressaltar, que antes <strong>de</strong> pensarmos em uma metodologia préelaborada,<br />

é importante ter em mente que a metodologia <strong>de</strong>ve ser, sobretudo,<br />

construída na prática pedagógica pelos agentes educacionais.<br />

Entretanto, válidas serão as propostas, jamais acabadas, para <strong>de</strong>flagrar a<br />

organização inicial do processo metodológico.<br />

A escola e o agir pedagógico têm uma função social específica, na medida<br />

em que existem, para criar as oportunida<strong>de</strong>s básicas às morfogêneses do<br />

conhecimento. Educar é fazer emergir vivências do processo <strong>de</strong> conhecimento.<br />

Concebida como um local propício à iniciação em vivências personalizadas do<br />

apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r, a escola <strong>de</strong>ve centrar suas ações pedagógicas, oportunizando


25<br />

situações <strong>de</strong> aprendizagem com experiências que levem ao prazer <strong>de</strong> estar<br />

apren<strong>de</strong>ndo e conhecendo, <strong>de</strong> construir/reconstruir o conhecimento.<br />

Partindo <strong>de</strong>ssa premissa, o encaminhamento didático-pedagógico adotado<br />

pela escola, está fundamentado nas teorias dos educadores: Pedro Demo no<br />

enfoque educar pela pesquisa; Philippe Perrenoud e Luckesi, na avaliação; e<br />

Célestin Freinet, no método <strong>de</strong> encaminhamento metodológico.<br />

Basear a educação escolar na pesquisa, e não somente na aula ou nos<br />

ambientes escolares, ou ainda no mero contato com o professor é a proposta <strong>de</strong><br />

Pedro Demo. Ela parte dos seguintes pressupostos:<br />

- a convicção <strong>de</strong> que a educação pela pesquisa é a especificida<strong>de</strong><br />

mais própria da educação escolar e acadêmica,<br />

- o reconhecimento <strong>de</strong> que o questionamento reconstrutivo com<br />

qualida<strong>de</strong> formal e política é o cerne do processo <strong>de</strong> pesquisa,<br />

- a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer da pesquisa atitu<strong>de</strong> cotidiana no professor e<br />

no aluno,<br />

- e a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> educação como processo <strong>de</strong> formação da<br />

competência humana. (DEMO, 1997, p. 5).<br />

Sabemos que a pesquisa incorpora necessariamente a prática ao lado da<br />

teoria, e conhecer é uma das formas mais competentes <strong>de</strong> intervir no processo <strong>de</strong><br />

formação do sujeito crítico e criativo, sendo o conhecimento o meio mais potente <strong>de</strong><br />

inovação.<br />

Segundo o autor, existe entre educação e pesquisa um trajeto coinci<strong>de</strong>nte,<br />

pois a característica emancipatória da educação exige a pesquisa como seu método<br />

formativo. Nessa perspectiva o aluno não é objeto <strong>de</strong> ensino, mas sujeito do<br />

processo, parceiro do trabalho.<br />

As estratégias didáticas, do ponto <strong>de</strong> vista metodológico, facilitadoras do<br />

questionamento reconstrutivo, isto é, da educação pela pesquisa, <strong>de</strong>vem fazer parte<br />

do ambiente didático cotidiano, cultivando a consciência crítica nos alunos e a


26<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervir na realida<strong>de</strong>. As motivações lúdicas, o hábito da leitura, o<br />

manejo eletrônico, apoio familiar e o uso intensivo do tempo escolar, são estratégias<br />

didáticas essenciais nesse processo.<br />

Também, a educação pela pesquisa "funda-se em procedimentos<br />

metodológicos que cercam e fecundam o conhecimento para torná-lo inovador em<br />

termos teóricos e práticos” (DEMO, 1997, p. 32). Isto é, preparam o aluno para<br />

receber o ensino, supõe cuidados propedêuticos como: <strong>de</strong>senvolver a capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> saber pensar; cultivar o apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r; saber avaliar-se e avaliar a<br />

realida<strong>de</strong> como forma <strong>de</strong> consciência crítica; unir qualida<strong>de</strong> formal e política, ou seja,<br />

adotar procedimentos metodológicos com ética, que possibilitem a construção <strong>de</strong><br />

saberes, através da inovação, participação, e da articulação teoria e prática.<br />

Organizar e dirigir situações <strong>de</strong> aprendizagem, numa perspectiva <strong>de</strong> uma<br />

escola <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> para todos, segundo o sociólogo suíço Philippe Perrenoud,<br />

significa acentuar a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> conceber situações didáticas ótimas, que "as<br />

didáticas contemporâneas encaram como situações amplas, abertas, carregadas <strong>de</strong><br />

sentido e <strong>de</strong> regulação, as quais requerem um método <strong>de</strong> pesquisa, <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação<br />

e <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> problemas" (PERRENOUD, 2000, p. 25).<br />

Aliada a essa competência geral, os professores, nesse contexto; terão que<br />

mobilizar várias competências mais específicas que contribuam para a concepção,<br />

organização e animação <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> aprendizagem, assim apontadas pelo<br />

autor:<br />

- Conhecer, para <strong>de</strong>terminada disciplina, os conteúdos a serem<br />

ensinados e sua tradução em objetivos <strong>de</strong> aprendizagem;<br />

- trabalhar a partir das representações dos alunos;<br />

- trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à aprendizagem;<br />

- construir e planejar dispositivos e seqüências didáticas;<br />

- envolver os alunos em ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa, em projetos <strong>de</strong><br />

conhecimento. (PERRENOUD, 2000, p. 26).


27<br />

Para <strong>de</strong>senvolver um trabalho por competências, há que se reconstruir a<br />

transposição didática, e atenuar as divisões disciplinares com propostas <strong>de</strong><br />

integração e interdisciplinarida<strong>de</strong>, com projetos enriquecedores ao currículo e<br />

ativida<strong>de</strong>s voltadas para o interesse das crianças.<br />

A pedagogia proposta por Freinet, que se caracteriza como uma pedagogia<br />

centralizada na criança, também propicia situações <strong>de</strong> aprendizagem que privilegiam<br />

a construção do conhecimento e a formação <strong>de</strong> competências. Com uma prática<br />

pedagógica fundamentada nos princípios: do senso <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, do senso<br />

cooperativo, da sociabilida<strong>de</strong>, do julgamento pessoal, da autonomia, da expressão,<br />

da criativida<strong>de</strong>, da comunicação, da reflexão individual e coletiva, e da afetivida<strong>de</strong>;<br />

favorecem a formação <strong>de</strong> indivíduo crítico, criativo e autônomo, capaz <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a<br />

apren<strong>de</strong>r.<br />

Mediante o exposto, a escola traça princípios básicos que nor<strong>teia</strong>m o seu<br />

encaminhamento metodológico, alguns são <strong>de</strong>fendidos pelas orientações didáticas<br />

contemporâneas: autonomia, diversida<strong>de</strong>, interação e cooperação, disponibilida<strong>de</strong><br />

para a aprendizagem, organização do tempo, organização do espaço e seleção do<br />

material. Percebe-se que todos os encaminhamentos do professor direcionam-se à<br />

construção do conhecimento e conseqüentemente auxiliam no trabalho com os<br />

alunos com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem. São eles: o trabalho por projetos, on<strong>de</strong><br />

os alunos se envolvem na ativida<strong>de</strong> significativa; a organização das salas <strong>de</strong> aula<br />

constituir-se-á uma prática pedagógica resultante do coletivo <strong>de</strong> ensinar e apren<strong>de</strong>r,<br />

on<strong>de</strong> alunos e professores serão parceiros <strong>de</strong> aprendizagem; o planejamento<br />

a<strong>de</strong>quado que favoreça a organização e utilização <strong>de</strong>sses espaços, buscando o<br />

equilíbrio entre as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino/aprendizagem e da integração dos<br />

componentes curriculares; uso da biblioteca; participação dos alunos nos ateliês <strong>de</strong>


28<br />

artes, culinária, música, brinquedoteca e ludoteca; trabalho individual, visando o<br />

atendimento e acompanhamento individualizado ao aluno, sendo priorida<strong>de</strong> do<br />

trabalho do professor, principalmente quando o professor integrador estiver no<br />

grupo; trabalho diversificado on<strong>de</strong> os alunos são distribuídos em grupos para a<br />

realização <strong>de</strong> diferentes ativida<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>ndo ser <strong>de</strong> diferentes áreas, constituindo-se<br />

numa ferramenta que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> organização e planejamento do professor para<br />

que possa aten<strong>de</strong>r às diferentes necessida<strong>de</strong>s dos alunos; planejamento<br />

cooperativo é realizado para organização <strong>de</strong> qualquer ativida<strong>de</strong> extra-classe, aulapasseio<br />

e outros, bem como, antes <strong>de</strong> todos os conteúdos a serem investigados,<br />

possibilita ao aluno a clareza a respeito do que vai investigar, para que, quando,<br />

on<strong>de</strong> e como; texto cooperativo é realizado com a participação do grupo mediante<br />

investigações, on<strong>de</strong> construirão o texto com informações coletivas; assuntos <strong>de</strong><br />

interesse que são levantados no início do ano e investigados no <strong>de</strong>correr do ano<br />

letivo, po<strong>de</strong>ndo ser <strong>de</strong>senvolvidos em forma <strong>de</strong> projetos; compromissos (tarefas) que<br />

são importante instrumento pedagógico utilizados somente nas quartas-feiras e<br />

sextas-feiras, <strong>de</strong>vem ser condizentes com o que o aluno está apren<strong>de</strong>ndo em sala<br />

<strong>de</strong> aula, <strong>de</strong>verá ser uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fixação <strong>de</strong> conteúdo já trabalhado e ou que ele<br />

tenha autonomia para realizá-lo.<br />

O trabalho acontece <strong>de</strong> forma crítica e contextualizada, tem significado, não<br />

se ignora aquilo que a criança traz consigo, aspecto que fica evi<strong>de</strong>nte na fala dos<br />

professores ao serem questionados sobre o encaminhamento metodológico.<br />

A coor<strong>de</strong>nação pedagógica está distribuída aos níveis contando com quatro<br />

pedagogas para 368 alunos, com uma carga horária semanal <strong>de</strong> 40 horas,<br />

realizando um trabalho extremamente integrado. O trabalho <strong>de</strong>senvolvido pelas<br />

pedagogas aten<strong>de</strong> às necessida<strong>de</strong>s da escola a todo o momento. São


29<br />

extremamente preocupadas e comprometidas com as questões pedagógicas,<br />

organizam e realizam os planejamentos sistematicamente com os professores. Cada<br />

pedagoga coor<strong>de</strong>na um nível <strong>de</strong> aprendizagem, tornando-se o pedagogo unitário,<br />

aten<strong>de</strong>ndo todas as necessida<strong>de</strong>s do nível <strong>de</strong> aprendizagem. Preocupa-se em<br />

acompanhar continuamente os professores e alunos, propondo novas ações,<br />

estratégias e ativida<strong>de</strong>s que redimensionem o trabalho em sala <strong>de</strong> aula. Cada nível<br />

conta com três professores, sendo que duas são as regentes dos grupos e a<br />

terceira, a integradora dos dois grupos. Esse trabalho se dá <strong>de</strong> modo que as<br />

mesmas criem um espírito <strong>de</strong> equipe, consi<strong>de</strong>rem-se elementos-chaves <strong>de</strong>ntro do<br />

processo, resultando um gran<strong>de</strong> sentimento <strong>de</strong> compromisso recíproco.<br />

O grupo <strong>de</strong> professores possui uma carga horária semanal <strong>de</strong> quarenta horas,<br />

sendo que trinta horas <strong>de</strong>stinadas ao trabalho efetivo com alunos e <strong>de</strong>z horas<br />

<strong>de</strong>stinadas ao planejamento, correção <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, organização do trabalho e<br />

formação contínua, o que oportuniza as condições básicas para alçarem aos cursos<br />

<strong>de</strong> pós-graduação com pesquisas e divulgação do trabalho.<br />

Assim, professores e coor<strong>de</strong>nação pedagógica se organizam para a partilha<br />

<strong>de</strong> idéias, pela reflexão-ação-reflexão, pelo planejamento em conjunto e o trabalho<br />

que <strong>de</strong>senvolvem com os pais, <strong>de</strong>vido ao profissionalismo e comprometimento <strong>de</strong><br />

todos, buscam uma escola melhor.<br />

Outro ponto importante é o conselho <strong>de</strong> avaliação, que na referida escola,<br />

acontece por Nível, reunindo os professores. Quando há necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>tectadas<br />

pelos professores ou coor<strong>de</strong>nação pedagógica, acontece somente com o grupo que<br />

apresenta a dificulda<strong>de</strong>.<br />

Com a efetivação que ocorre na escola do conselho <strong>de</strong> avaliação, o professor<br />

se situa historicamente, e a partir daí po<strong>de</strong> comprometer-se com a transformação da


30<br />

realida<strong>de</strong>. Mediante um formulário preenchido antecipadamente, o professor emite<br />

parecer em relação ao trabalho realizado em <strong>de</strong>corrência das sugestões da equipe,<br />

apresentando os resultados e dificulda<strong>de</strong>s; bem como as linhas <strong>de</strong> ações para as<br />

possíveis soluções. Emite também o parecer do grupo <strong>de</strong> alunos expondo as<br />

dificulda<strong>de</strong>s, as necessida<strong>de</strong>s e as linhas <strong>de</strong> ações que, propondo-as mediante sua<br />

experiência e vínculo estabelecido com o grupo. O professor po<strong>de</strong> sugerir<br />

livremente, sobre todo e qualquer aspecto que envolva as especificida<strong>de</strong>s que a<br />

escola <strong>de</strong> período integral possa apresentar e interferir no ensino aprendizagem.<br />

Também especificam as necessida<strong>de</strong>s individuais dos alunos apresentadas no<br />

processo ensino-aprendizagem, expondo seus comentários em relação às<br />

dificulda<strong>de</strong>s, o que foi trabalhado e como o aluno respon<strong>de</strong>u às expectativas<br />

apontando as linhas <strong>de</strong> ações; necessárias em cada caso e em cada área do<br />

conhecimento. Os avanços dos alunos também são valorizados neste momento,<br />

pois é muito significativo o registro da evolução do processo ensino aprendizagem<br />

dos mesmos.<br />

Mediante os dados do conselho <strong>de</strong> avaliação, professor e equipe pedagógica<br />

juntos, <strong>de</strong>senvolvem as linhas <strong>de</strong> ações propostas no conselho <strong>de</strong> avaliação. Os<br />

alunos citados com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem passam a ser foco <strong>de</strong> atenção<br />

específica. O atendimento individualizado a esses alunos é intensificado em sala <strong>de</strong><br />

aula e no apoio pedagógico fora <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula. A equipe pedagógica volta-se aos<br />

pontos elencados em conselho que necessitam <strong>de</strong> encaminhamentos e estratégias.<br />

Nos planejamentos semanais da equipe com os professores do nível são planejadas<br />

as ações que possam vir a suprir as dificulda<strong>de</strong>s levantadas. A coor<strong>de</strong>nação nesse<br />

momento atua organizando, planejando o <strong>de</strong>senrolar da proposta curricular bem<br />

como estratégias, encaminhamentos que favoreçam o processo ensino


31<br />

aprendizagem. Também se torna o elo entre escola e família aten<strong>de</strong>ndo as linhas <strong>de</strong><br />

ações levantadas, orientando as famílias e os alunos no processo ensino<br />

aprendizagem, bem como mediando situações <strong>de</strong> conflitos entre alunos e orientando<br />

professores.<br />

Após as reflexões realizadas, todos os envolvidos no processo possuem<br />

consciência das questões da escola como um todo, e realizam as reuniões<br />

pedagógicas bimestrais. Acredita-se que assim como coloca Paulo Freire (1996), “a<br />

prática <strong>de</strong> pensar a prática é a melhor maneira <strong>de</strong> pensar o certo”.<br />

O contato com os pais inicia-se nas entrevistas realizadas pela coor<strong>de</strong>nação,<br />

quando os alunos são matriculados na escola. Outros momentos <strong>de</strong> integração<br />

acontecem nas reuniões pedagógicas, quando os pais participam <strong>de</strong> projetos ou<br />

quando são chamados pela coor<strong>de</strong>nação. Os dados relevantes do histórico familiar,<br />

levantados nas entrevistas, são passados aos professores que tomam conhecimento<br />

do ambiente familiar do aluno.<br />

A <strong>de</strong>finição do sujeito do conhecimento, nessa perspectiva, dá-se a partir dos<br />

saberes dos sujeitos. Tal horizonte <strong>de</strong> trabalho pedagógico resulta, inclusive, um<br />

efetivo e permanente trabalho interdisciplinar, em que a ação dos educadores busca<br />

re<strong>de</strong>finir o papel da escola frente às exigências do atual momento histórico e<br />

acreditar que a tarefa político social é a <strong>de</strong> formar cidadãos capazes <strong>de</strong> transformar<br />

o meio on<strong>de</strong> vivem.


32<br />

CAPÍTULO 2<br />

ESCOLA, FAMÍLIA E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM<br />

No atual contexto sócio-histórico-cultural capitalista, marcado por mudanças<br />

vertiginosas no campo da tecnologia, da comunicação e avanços científicos; a<br />

família e a escola não ficam imunes a essas mudanças. Estão em processo <strong>de</strong><br />

a<strong>de</strong>quação, tanto em relação as suas funções quanto à estrutura e administração. A<br />

escola é questionada e reestruturada, no intuito <strong>de</strong> ressignificar a educação e o seu<br />

papel sociopedagógico, porque contribui para inserção da diversida<strong>de</strong> cultural que a<br />

circunda e a constitui, sendo espaço <strong>de</strong> significar, <strong>de</strong> dar sentido, <strong>de</strong> produzir<br />

conhecimentos, valores, competências fundamentais para formação dos que<br />

ensinam e dos que apren<strong>de</strong>m.<br />

A família por sua vez, pressionada por fatores internos e externos a ela, <strong>de</strong><br />

acordo com Orsolon (2003), vem <strong>de</strong>legando à escola, responsabilida<strong>de</strong>s que<br />

historicamente vinha exercendo, necessitando repensar suas funções educadoras,<br />

bem como as funções sociais dos sistemas com os quais mantém uma relação <strong>de</strong><br />

apoio, para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> seus membros, nesse caso, a escola.<br />

A escola e a família vêm se conscientizando da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar<br />

<strong>de</strong>mocraticamente nesse processo <strong>de</strong> cidadania que tem a aprendizagem do aluno<br />

como centro. Vive-se uma crise que envolve família e escola que não estão<br />

habituadas a partilhar <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> co-responsabilida<strong>de</strong> na educação das<br />

novas gerações. O caminho para essa parceria é a integração dos atores da<br />

comunida<strong>de</strong> escolar: pais, alunos, professores e coor<strong>de</strong>nação pedagógica, numa


33<br />

ação intencional em conexão com a gestão escolar para a organização do trabalho<br />

coletivo <strong>de</strong> parceria na proposta pedagógica.<br />

Orsolon (2003, p. 179) ressalta que<br />

... a relação família e escola <strong>de</strong>ve ser uma relação <strong>de</strong> parceria. A<br />

parceria constitui o encontro <strong>de</strong> diferentes para realizar um projeto<br />

em comum. A parceira em questão é a educação da criança e do<br />

adolescente, filho e aluno, o que significa assumir juntos essa<br />

educação. A relação <strong>de</strong> parceria supõe confiança mutua e<br />

cumplicida<strong>de</strong>.<br />

Para conseguir esse intento a escola precisa se organizar, para <strong>de</strong>senvolver a<br />

integração com todas as famílias, acolhendo as dúvidas e buscando soluções<br />

conjuntas para os problemas que se apresentam.<br />

Sabe-se, que é pela aprendizagem, que o sujeito é inserido <strong>de</strong> forma mais<br />

organizada ao mundo cultural e simbólico que incorpora. A família é o primeiro<br />

núcleo organizado da criança e a instituição escolar, responsável por gran<strong>de</strong> parte<br />

das aprendizagens. Propiciar um estado <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> inter-<strong>relações</strong>, permite<br />

ao grupo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca, reflexões e crescimento. Isto também ocorre nas<br />

famílias. Os pais ao serem incluídos no processo pedagógico da escola, abandonam<br />

a posição <strong>de</strong> expectadores e passam a ser parceiros nas buscas <strong>de</strong> soluções.<br />

Delimitar funções, responsabilida<strong>de</strong>s, trabalhar com a ansieda<strong>de</strong> e com a aceitação,<br />

contar com o apoio <strong>de</strong> um sistema mais amplo e, sobretudo ter a quem recorrer.<br />

Essas são algumas possibilida<strong>de</strong>s em re<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da instituição escolar. Quando a<br />

família vislumbra caminhos para se reestruturar, na escola encontra melhores<br />

condições <strong>de</strong> soluções das dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem dos filhos, todos ganham.<br />

A aprendizagem, neste contexto, é um processo, que inclui a construção do<br />

aprendiz e a interação, entendida como a participação <strong>de</strong> um mediador, que se


34<br />

interpõe entre o sujeito e o conhecimento. É consi<strong>de</strong>rada como resultado da ação do<br />

aprendiz porque<br />

... o salto importante que se <strong>de</strong>u no conhecimento, produzido sobre<br />

as questões do ensino e da aprendizagem, já permite que o<br />

professor olhe para aquilo que o aluno produziu, enxergue aí o que<br />

ele já sabe, e i<strong>de</strong>ntifique, que tipo <strong>de</strong> informação é necessária para<br />

que seu conhecimento avance. (WEISZ, 2002, p. 22).<br />

O conhecimento é visto como produto da ação e reflexão, é construído<br />

mediante situações problemas on<strong>de</strong> a ação, e a especificida<strong>de</strong> da aprendizagem <strong>de</strong><br />

cada conteúdo, faz com que os encaminhamentos direcionem para que o aluno<br />

coloque em jogo o que ele sabe, sendo que ao realizar as ativida<strong>de</strong>s, mobiliza<br />

conhecimentos que já tem, usando-os <strong>de</strong> tal forma que constrói a solução não<br />

previamente <strong>de</strong>terminada.<br />

O professor é quem precisa i<strong>de</strong>ntificar as informações e as ativida<strong>de</strong>s<br />

que permitam a ele avançar do patamar <strong>de</strong> conhecimento que já<br />

conquistou para outro mais evoluído. Ou seja, não é o processo <strong>de</strong><br />

aprendizagem que <strong>de</strong>ve adaptar ao ensino, mas o processo <strong>de</strong><br />

ensino é que tem <strong>de</strong> se adaptar a aprendizagem. (id ibid, p. 65).<br />

Nesse diálogo entre ensino e aprendizagem, o professor organiza as<br />

situações, com intenções que favoreçam a ação do aluno para o apren<strong>de</strong>r, pondo<br />

em jogo tudo o que sabem e pensam sobre o conteúdo, com problemas a serem<br />

resolvidos, com a máxima circulação <strong>de</strong> informações possíveis. Nessa perspectiva, a<br />

função do professor passa a ser a <strong>de</strong> criar condições para que o aluno possa<br />

exercer a sua ação <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r.<br />

O aluno é parte integrante do processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem, é preciso<br />

compreen<strong>de</strong>r o que ele tentou produzir. No caso da percepção <strong>de</strong> um erro, o<br />

professor levantará hipóteses sobre o processo percorrido pela criança, interferindo<br />

e mediando a situação, consi<strong>de</strong>rando o estágio <strong>de</strong> aprendizagem do aluno.


35<br />

Mediante o exposto, e consi<strong>de</strong>rando que a construção do conhecimento é um<br />

processo com certa duração, a compreensão do professor po<strong>de</strong>ria aliviar o fardo da<br />

culpa da criança por não apren<strong>de</strong>r ou <strong>de</strong> se ter dificulda<strong>de</strong>s para apren<strong>de</strong>r. Só que<br />

da mesma forma, se abre possibilida<strong>de</strong>s para se pensar em alternativas para o<br />

processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem em uma nova concepção.<br />

É preciso que os educadores se questionem sobre as razões dos<br />

resultados escolares insatisfatórios... não é suficiente constatar e<br />

i<strong>de</strong>ntificar resultados insatisfatórios, mas é preciso diagnosticar a<br />

insuficiência e <strong>de</strong>terminar os contingentes que ocorreu para produzila.<br />

(SISTO, 1996, p. 72).<br />

A escola <strong>de</strong>ve conscientizar-se que em alguns casos o que se percebe ao<br />

contatar a criança com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem é a dificulda<strong>de</strong> na ensinagem<br />

... aqueles problemas advindos <strong>de</strong> uma abordagem ina<strong>de</strong>quada do<br />

professor, da falta <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> e inflexibilida<strong>de</strong> em perceber os<br />

caminhos mais livres para se chegar ao sujeito. Muitos professores<br />

são os gran<strong>de</strong>s contribuidores <strong>de</strong> rótulos e profecias autocumpridoras,<br />

fazendo um coro com as vozes familiares, <strong>de</strong>ixando a<br />

criança sem nenhuma possibilida<strong>de</strong> ou saída para reverter a<br />

situação. Cabe a eles muitas vezes o agravo do fracasso escolar, a<br />

<strong>de</strong>sistência, a baixa estima e a perturbação das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

aprendizagem, que com bom senso e conhecimento a<strong>de</strong>quado da<br />

profissão, po<strong>de</strong>riam conduzir <strong>de</strong> outra forma. (POLITY, 2004, p. 91).<br />

Ou seja, a realida<strong>de</strong> do fracasso escolar diz respeito aos responsáveis pelo<br />

aluno <strong>de</strong> forma geral, pela freqüência do aluno, dos responsáveis pelas<br />

metodologias <strong>de</strong> ensino, aos responsáveis pela implementação dos recursos que<br />

viabilizam o processo educativo, aos responsáveis pela análise dos modos<br />

diferenciados <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r. “O fracasso do aluno explica-se por sua incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

adaptar-se, ajustar-se ao que lhe é oferecido” (GRINSPUN, 2002, p. 75).


36<br />

Enfim, responsabilizar é fácil, porque são muitos os envolvidos, é possível até<br />

dividir responsabilida<strong>de</strong>s. O que se torna difícil é refletir sobre a responsabilida<strong>de</strong> em<br />

promover o sucesso escolar.<br />

Os professores <strong>de</strong>vem clarificar aos pais que a construção do conhecimento<br />

não se dá da mesma forma para todas as pessoas. Para muitos, apren<strong>de</strong>r se torna<br />

um <strong>de</strong>safio, o que não se caracteriza necessariamente dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

Alguns têm gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assimilar informações ouvindo, outros vendo e<br />

outros lendo e fazendo.<br />

A aprendizagem fica difícil quando é apresentada somente <strong>de</strong> uma forma, e<br />

que às vezes, é aquela forma, em que a criança mais tem dificulda<strong>de</strong>:<br />

Uma dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem não significa necessariamente<br />

uma <strong>de</strong>ficiência mental ou orgânica. Indica, outrossim, uma condição<br />

específica, na qual existem aspectos que precisam ser trabalhados<br />

para se obter melhor rendimento intelectual. (POLITY, 2004, p. 89).<br />

A diferença da forma <strong>de</strong> aquisição do conhecimento entre as pessoas, tem<br />

um leque amplo <strong>de</strong> causas, mas sua forma evolutiva, o modo como será trabalhado<br />

com/no e pelo aluno está intimamente relacionado com o contexto familiar,<br />

educacional e social no qual a criança está inserida. Ou seja, <strong>de</strong> como o seu grupo<br />

social vive, consegue seu sustento, valores vivenciados nessa cultura.<br />

O insucesso em sala <strong>de</strong> aula contribui para <strong>de</strong>sestimular os alunos. É preciso<br />

consi<strong>de</strong>rar os efeitos emocionais que as dificulda<strong>de</strong>s acarretam, agravando o<br />

problema. Em muitos casos, a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem, faz com que muitas<br />

<strong>de</strong>ssas crianças <strong>de</strong>senvolvam uma auto-estima negativa, que po<strong>de</strong>ria ser evitada<br />

com o auxílio da família e da escola.<br />

A ligação da família com as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem das crianças po<strong>de</strong><br />

ser ocasião para ressignificar as questões do grupo familiar e enfatizar os processos


37<br />

relacionais positivos, entre eles. Crianças com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem po<strong>de</strong>m<br />

ser beneficiadas com uma intervenção familiar ao receber ajuda <strong>de</strong> toda a família, a<br />

fim <strong>de</strong> construir uma nova relação com o saber. Isso porque, o grupo familiar é um<br />

fator <strong>de</strong>cisivo para a condução e ou resolução <strong>de</strong>ssa situação. Assim, “é essencial<br />

que as crianças recebam apoio dos pais, pois quando os pais dão suporte<br />

emocional, a criança <strong>de</strong>senvolve uma base sólida e um senso <strong>de</strong> competência que a<br />

leva a uma auto-estima satisfatória” (POLITY, 2004, p. 90).<br />

Ao freqüentar a escola o aluno é iniciado num conjunto <strong>de</strong> regras, normas,<br />

costumes, rituais, que farão parte do seu cotidiano, pois a escola é um local gerador<br />

<strong>de</strong> novas experiências relacionais tanto para a criança quanto para a família.<br />

Possibilita a ampliação <strong>de</strong> sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>relações</strong> e a escola passa a fazer parte da<br />

re<strong>de</strong> relacional familiar, marcando significativamente a sua presença, pois “o<br />

processo <strong>de</strong> aprendizagem é altamente beneficiado quando houver uma troca<br />

coerente e conjunta entre família e a escola” (CHUSTER, 2004, p. 195).<br />

Se <strong>de</strong> um lado a escola exerce uma significativa influência na dinâmica<br />

familiar, a família, por meio da criança (aluno), também exerce uma significativa<br />

influência na instituição escolar. Participa do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento como<br />

matriz <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> formação, on<strong>de</strong> o elo <strong>de</strong> ligação é a criança. Quando<br />

a escola passa a integrar a re<strong>de</strong> familiar são múltiplos os resultados obtidos. O aluno<br />

é parte integrante <strong>de</strong>sses dois contextos, o seu potencial individual ganha um<br />

precioso material <strong>de</strong> apoio e auxílio no processo <strong>de</strong> construção do seu<br />

conhecimento.<br />

É necessária uma estreita relação entre escola e família no <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong><br />

suas tarefas comuns voltadas ao <strong>de</strong>senvolvimento da criança, que não se restringe


38<br />

somente a ela, ao apren<strong>de</strong>nte, mas sim aos que a ro<strong>de</strong>iam, mobilizando-os para as<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> nova construção.<br />

Segundo Capra (2000), a questão da participação dos pais junto a seus filhos<br />

e na escola, com vistas a um <strong>de</strong>sempenho melhor, po<strong>de</strong> suscitar dúvidas,<br />

necessitando <strong>de</strong> uma maior compreensão. Enten<strong>de</strong>-se que a função <strong>de</strong> ensinar é da<br />

escola, não cabendo aos pais arcar com os seus encargos, e há os que acreditam<br />

que os pais têm direitos a uma boa educação a seus filhos sem ter que trabalhar<br />

para isso e ajudar a escola.<br />

Já Paro (2000, p. 25), apresenta visão ampla da responsabilida<strong>de</strong> da escola<br />

afirmando:<br />

Por um lado, o fato da escola ter funções específicas não a isenta <strong>de</strong><br />

levar em conta a continuida<strong>de</strong> entre a educação familiar e a escolar;<br />

por outro, é possível imaginar um tipo <strong>de</strong> relação entre pais e escola<br />

que não esteja fundada na exploração dos primeiros pela<br />

segunda...um tipo <strong>de</strong> relação que não consista simplesmente <strong>de</strong> uma<br />

ajuda gratuita dos pais a escola. Po<strong>de</strong>-se pensar numa integração<br />

dos pais com a escola, em que ambos se apropriem <strong>de</strong> uma<br />

concepção elaborada <strong>de</strong> educação que, por um lado é um bem<br />

cultural para ambos e, por outro, po<strong>de</strong> favorecer a educação escolar<br />

e reverter-se em benefício dos pais, na forma da melhoria da<br />

educação <strong>de</strong> seus filhos. (PARO, 2000, p. 25).<br />

Ou seja, a escola hoje, não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar o meio on<strong>de</strong> o aluno está<br />

inserido, e uma estratégia po<strong>de</strong> ser essa integração dos pais à escola. Pois do<br />

ambiente familiar vêm as questões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m emocional e social, que introduzem<br />

parâmetros <strong>de</strong> relacionamento, ética, valores que permitem que a criança li<strong>de</strong> com<br />

seus impulsos, suas competências, suas dificulda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>svelando a relação<br />

particular do sujeito com o crescimento e o significado <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r.<br />

Assim, para uma melhor adaptação e a<strong>de</strong>quação à escola e a superação dos<br />

problemas <strong>de</strong> aprendizagem, e tendo como referência o construtivismo, faz-se


39<br />

necessário uma abordagem relacional sistêmica 7 . Nas palavras <strong>de</strong> Capra (1997, p.<br />

48),<br />

o universo material é visto como uma <strong>teia</strong> dinâmica <strong>de</strong> eventos interrelacionados.<br />

Nenhuma das proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> qualquer parte <strong>de</strong>ssa<br />

<strong>teia</strong> é fundamental; todas elas resultam das proprieda<strong>de</strong>s das outras<br />

partes, e a consistência global <strong>de</strong> suas inter-<strong>relações</strong> <strong>de</strong>termina a<br />

estrutura da <strong>teia</strong> toda.<br />

Acredita-se que as inter-<strong>relações</strong> dos envolvidos, possibilitarão a construção<br />

do conhecimento, que é vista como re<strong>de</strong> <strong>de</strong> concepções e <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los na qual<br />

nenhuma parte é mais fundamental do que as outras. Reconhece-se o valor do ser<br />

humano, como transformador e participante, <strong>de</strong> maneira especial e particular, como<br />

sujeito sócio-histórico-cultural. E, nesse contexto,<br />

é importante que se <strong>de</strong> estruturas, fundamentação teórica, ao<br />

profissional da educação para lidar com essas questões, por meio <strong>de</strong><br />

subsídios, <strong>de</strong>finir os limites e as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua ação, a fim <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>tectar os casos que realmente necessitam <strong>de</strong> um atendimento<br />

individual. (POLITY, 2004, p. 31).<br />

Para tanto, urge mudar o padrão <strong>de</strong> ver o mundo, o indivíduo, a socieda<strong>de</strong> e a<br />

natureza; reelaborar o pensamento, atos e atitu<strong>de</strong>s, em relação ao ser e ao fazer;<br />

que a escola e a família se dêem a conhecer, mediante o exercício do diálogo, a fim<br />

<strong>de</strong> estabelecer estratégias educativas comuns; compreen<strong>de</strong>r as diferentes<br />

configurações <strong>de</strong>ssa re<strong>de</strong>; conhecer o lugar social das famílias; i<strong>de</strong>ntificar mo<strong>de</strong>los<br />

educativos <strong>de</strong>ixando claro o espaço previsto <strong>de</strong> participação da família na escola; e,<br />

possibilitar encaminhamentos que favoreçam a aprendizagem.<br />

Assim, far-se-á com que todos os envolvidos no processo <strong>de</strong> ensino e<br />

aprendizagem consi<strong>de</strong>rem as especificida<strong>de</strong>s e as complexida<strong>de</strong>s dos universos<br />

7 Vi<strong>de</strong> Isabel Parolin (2005) em sua obra “Professores Formadores: a relação entre a família, a escola<br />

e a aprendizagem”.


40<br />

escolar e familiar, pois “à medida que a realida<strong>de</strong> é percebida como uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>relações</strong>, as <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> um indivíduo formam, igualmente, uma re<strong>de</strong> interconexa<br />

representando os fenômenos observados” (GASPARIN, 2004, p. 41).<br />

Para o autor, a escola é entendida como um sistema aberto em movimento,<br />

pois recebe e <strong>de</strong>volve informações, permitindo-lhe reajustar-se para corrigir<br />

eventuais falhas no processo. Em relação a isso, o mesmo autor coloca que:<br />

... todos os elementos <strong>de</strong> um dado processo, no caso da instituição<br />

escolar, os membros em interação, movem-se juntos. A <strong>de</strong>scrição do<br />

processo é, então feita em termos <strong>de</strong> <strong>relações</strong>, informações e<br />

organização entre esses membros. (GASPARIAN, 2004, p. 44).<br />

Mediante o exposto, os pais farão parte do processo, participarão ativamente,<br />

po<strong>de</strong>ndo auxiliar a escola nesse movimento, pois ao se <strong>de</strong>slocar a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

aprendizagem do aluno às <strong>de</strong>mais re<strong>de</strong>s envolvidas, ampliam-se as possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> intervenções e potencializam-se os esforços na busca <strong>de</strong> soluções. Ninguém é<br />

excluído do trabalho. Todos são responsáveis e têm a contribuir. Todos apren<strong>de</strong>m. A<br />

visão centrada apenas no aluno empobrece a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ampliação <strong>de</strong><br />

recursos pedagógicos que <strong>de</strong>vem ser disponibilizados para se fazer frente aos novos<br />

<strong>de</strong>safios.<br />

Para compreen<strong>de</strong>r as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, <strong>de</strong>manda-se uma<br />

perspectiva ampla, complexa e <strong>de</strong> constante interação, visto que é um processo<br />

<strong>de</strong>lineado por meio <strong>de</strong> múltiplos contornos: o biológico, o psicológico, o social, o<br />

cultural, o histórico, o político e o i<strong>de</strong>ológico. Sendo assim, a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

aprendizagem se transforma em oportunida<strong>de</strong>: oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem para<br />

a família, no tocante a seus processos <strong>de</strong> relacionamento interpessoal, oportunida<strong>de</strong><br />

para os professores e para a escola refletirem sobre os resultados <strong>de</strong> sua ação


41<br />

educacional, repensando a prática pedagógica e inscrevendo as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

novos procedimentos.<br />

A aprendizagem nesse contexto é entendida como uma condição atrelada ao<br />

funcionamento familiar. Investida <strong>de</strong> um olhar sistêmico, permite convidar todos os<br />

inseridos nesse contexto a construírem juntos uma solução, é uma proposta<br />

diferente que fará a diferença (POLITY, 2004).<br />

Dentro da perspectiva relacional sistêmica, a inserção da família e o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> práticas coletivas promovem o crescimento e o bem-estar <strong>de</strong>ssa<br />

comunida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve enfrentar a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem. A re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio<br />

formada favorece a ação pedagógica uma vez que orienta para as ações<br />

transformadoras no âmbito familiar e educacional, dando suporte aos professores,<br />

alunos e as famílias dos alunos.<br />

Partindo das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem chega-se a possibilida<strong>de</strong> do<br />

apren<strong>de</strong>r. Da valorização escolar do produto e do resultado, chega-se à importância<br />

da transformação e compreensão do processo. É o encontro <strong>de</strong> quem apren<strong>de</strong> com<br />

quem ensina, é com <strong>de</strong>sejos e história em contextos diferentes e complementares;<br />

possibilitando que cada um, família e escola, se aprofun<strong>de</strong>m e entendam seu próprio<br />

processo <strong>de</strong> aprendizagem e <strong>de</strong>scubram que se dá numa trama relacional, interativa<br />

e humana, consi<strong>de</strong>rando as especificida<strong>de</strong>s e complexida<strong>de</strong>s, <strong>ressignificando</strong> essa<br />

<strong>teia</strong> <strong>de</strong> <strong>relações</strong>, favorecendo a todos, especificamente aos alunos que apresentam<br />

<strong>de</strong> modo temporário ou permanente dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem.


42<br />

2.1 A Aprendizagem<br />

Antes <strong>de</strong> tratar-se das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, faz-se necessário uma<br />

breve retrospectiva teórica sobre os processos intervenientes na aprendizagem: as<br />

influências das práticas educativas; a reconstrução do conhecimento e as formas <strong>de</strong><br />

intervir na sala <strong>de</strong> aula, para que se tenham elementos que favoreçam o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> ensinagem para a compreensão. Para tanto, o<br />

conceito <strong>de</strong> aprendizagem é um requisito indispensável para a elaboração <strong>de</strong>ste<br />

estudo.<br />

Segundo Drouet (1997), a aprendizagem é parte <strong>de</strong> um processo social <strong>de</strong><br />

comunicação que apresenta os seguintes elementos: comunicador ou emissor,<br />

mensagem, receptor da mensagem e meio ambiente. Sendo muito importante o<br />

papel <strong>de</strong>sses quatro elementos. Se qualquer um <strong>de</strong>les falhar, haverá um obstáculo<br />

na comunicação, o que po<strong>de</strong>rá causar problemas <strong>de</strong> aprendizagem, pois,<br />

o comunicador tem participação ativa no processo educativo,<br />

<strong>de</strong>vendo estar motivado e ter pleno conhecimento da mensagem que<br />

irá transmitir aos seus alunos... a mensagem <strong>de</strong>ve ser a<strong>de</strong>quada a<br />

ida<strong>de</strong> mental do educando. Deve ser clara e precisa para ser bem<br />

entendida. O receptor não tem um papel passivo, <strong>de</strong>ve ser um<br />

recebedor crítico dos conhecimentos e informações que lhe são<br />

transmitidos... o meio ambiente <strong>de</strong>ve ser estimulador da<br />

aprendizagem e, portanto, propicio ao bom <strong>de</strong>senvolvimento do<br />

processo educativo. (op cit, p. 7).<br />

Para o autor, a aprendizagem é um processo gradual, constante, contínuo,<br />

pessoal e individual. Cada indivíduo tem seu ritmo próprio <strong>de</strong> aprendizagem (ritmo<br />

biológico) que, aliado ao seu esquema próprio <strong>de</strong> ação, irá construir sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />

Tem fundo genético e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> vários fatores: dos esquemas <strong>de</strong> ação inatos do<br />

individuo; do estágio <strong>de</strong> maturação <strong>de</strong> seu sistema nervoso; <strong>de</strong> seu tipo psicológico


43<br />

constitucional (introvertido ou extrovertido); <strong>de</strong> seu grau <strong>de</strong> envolvimento, seu<br />

esforço e interesse.<br />

As aprendizagens <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> experiências anteriores, as primeiras servem<br />

<strong>de</strong> pré-requisitos para as próximas construindo assim uma bagagem cultural. E<br />

assim, a cada nova aprendizagem, reorganizam-se os conhecimentos<br />

estabelecendo <strong>relações</strong>, construindo o conhecimento.<br />

Drouet (1997) coloca que existem pelo menos sete fatores fundamentais para<br />

que a aprendizagem se efetive, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da teoria da aprendizagem: saú<strong>de</strong><br />

física e mental, motivação, prévio domínio (experiências anteriores), inteligência,<br />

maturação (diferenciações estruturais e funcionais do organismo), concentração ou<br />

atenção, memória.<br />

Já Gómes (1998) diz que a maioria das teorias <strong>de</strong> aprendizagem são mo<strong>de</strong>los<br />

explicativos que foram obtidos em situações experimentais e se referem a<br />

aprendizagens <strong>de</strong> laboratório, que só relativamente po<strong>de</strong>m explicar o funcionamento<br />

real dos processos naturais da aprendizagem. Segundo o mesmo autor, essas<br />

teorias <strong>de</strong>veriam enfrentar esses processos como elementos <strong>de</strong> uma situação <strong>de</strong><br />

intercâmbio, <strong>de</strong> comunicação, entre o indivíduo e seu meio físico e sócio-cultural,<br />

on<strong>de</strong> estabelecem <strong>relações</strong> concretas e produzem fenômenos específicos que<br />

modificam o sujeito.<br />

A compreensão dos fenômenos <strong>de</strong> aprendizagem, suas potencialida<strong>de</strong>s e<br />

implicações na escola, segundo Gómes (1998), po<strong>de</strong>m ser extraídas das teorias <strong>de</strong><br />

aprendizagem mais significativas:<br />

1) As teorias associacionistas, <strong>de</strong> condicionamento, <strong>de</strong> E—R (estímulo e<br />

resposta), <strong>de</strong>ntro das quais há duas correntes: a) Condicionamento Clássico: Pavlov,


44<br />

Watson, Gthrie, e; b) Condicionamento Instrumental ou operante: Hull, Thorndike,<br />

Skinner.<br />

2) As teorias mediacionais: <strong>de</strong>ntro das quais se po<strong>de</strong>m distinguir múltiplas<br />

correntes com importantes matizes diferenciadoras: a) Aprendizagem Social,<br />

condicionamento por imitação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los: Bandura, Lorenz, Tinbergen, Rosenthal;<br />

b) Teorias cognitivas, <strong>de</strong>ntro das quais distinguiremos várias correntes ao mesmo<br />

tempo: –Teoria Gestalt e psicologia fenomenológica: Kofka, köhler, Whert-heimer,<br />

Maslow, Rogers. –Psicologia genético-cognitiva: Piaget, Bruner, Ausubel, Inhel<strong>de</strong>r. –<br />

Psicologia genético-dialética: Vygotsky, Luria, Leontiev, Rubinstein, Wallon; c) A<br />

Teoria do processamento <strong>de</strong> informação: Gagné, Newell, Simon, Mayer, Pascual<br />

Leone.<br />

Mediante as teorias expostas, <strong>de</strong>ntro da perspectiva mediacional, é que se<br />

apóia a proposta pedagógica da escola pesquisada.<br />

Nas Teorias Mediacionais, apesar <strong>de</strong> haver importantes e significativas<br />

diferenças entre elas, possuem em comum pontos fundamentais: a importância das<br />

variáveis internas; a consi<strong>de</strong>ração da conduta como totalida<strong>de</strong>; a supremacia da<br />

aprendizagem significativa que supõe reorganização cognitiva e ativida<strong>de</strong> interna.<br />

Ou seja, consi<strong>de</strong>ram a aprendizagem como<br />

um processo <strong>de</strong> doação <strong>de</strong> sentido, <strong>de</strong> significado, às situações em<br />

que o individuo se encontra... transforma-se num instrumento <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento do aperfeiçoamento das capacida<strong>de</strong>s intelectuais e<br />

da sobrevivência que permitem a expansão criadora da vida<br />

individual e coletiva. (GÓMES, 1998, p. 33).<br />

Sabe-se que o indivíduo reage à realida<strong>de</strong> tal como a percebe<br />

subjetivamente, ou seja, sua conduta respon<strong>de</strong> <strong>de</strong> acordo com sua compreensão da<br />

situação. A motivação emerge das solicitações e exigências da própria existência, da<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem para compreen<strong>de</strong>r e agir racionalmente na troca


45<br />

adaptativa com o meio sócio-histórico e natural, ao levar em conta a sua dimensão<br />

global e subjetiva.<br />

O autor ressalta que as contribuições ricas, estruturadas e fecundas da<br />

psicologia psico-cognitiva dos trabalhos <strong>de</strong> Piaget e da Escola <strong>de</strong> Genebra, são<br />

imprescindíveis para compreen<strong>de</strong>r a complexida<strong>de</strong> da aprendizagem humana.<br />

Explica que após a Gestalt, veio a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esclarecer o funcionamento da<br />

estrutura interna do organismo como mediadora dos processos <strong>de</strong> aprendizagem,<br />

pois<br />

a aprendizagem provoca a modificação e transformação das<br />

estruturas que, ao mesmo tempo, uma vez modificadas, permitem a<br />

realização <strong>de</strong> novas aprendizagens <strong>de</strong> maior riqueza e<br />

complexida<strong>de</strong>. A gênese mental po<strong>de</strong> ser representada como<br />

movimento dialético <strong>de</strong> evolução em espiral. No centro <strong>de</strong>ste<br />

processo encontra-se a ativida<strong>de</strong>. (GÓMES,1998, p. 35).<br />

Assim, a aprendizagem é tanto um fator, como um produto do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento. É um processo <strong>de</strong> aquisição no intercâmbio com o meio, mediadas<br />

por estruturas <strong>de</strong> início hereditárias e posteriormente construídas com a intervenção<br />

<strong>de</strong> aquisições passadas.<br />

As estruturas cognitivas são os mecanismos reguladores aos quais se<br />

subordina a influência do meio. São construídas, com processos <strong>de</strong> troca, que são<br />

resultado dos processos genéticos. Essas posições são <strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong> construção<br />

genética, explicadas por dois movimentos: a assimilação 8 e acomodação 9 . Ambos os<br />

movimentos constituem adaptação ativa do indivíduo que atua e reage para<br />

compensar perturbações em seu equilíbrio interno pela estimulação do ambiente.<br />

8 Assimilação: processo <strong>de</strong> integração, inclusive forçada e <strong>de</strong>formada, dos objetos ou conhecimentos<br />

novos as estruturas velhas, anteriormente construídas pelo individuo (GÓMES, 1998, p. 32).<br />

9 Acomodação: a reformulação e a elaboração <strong>de</strong> estruturas novas como conseqüência da<br />

incorporação prece<strong>de</strong>nte (id ibid, p. 32).


46<br />

O conhecimento não é uma mera cópia do real, é uma elaboração subjetiva<br />

que <strong>de</strong>semboca na aquisição <strong>de</strong> representações organizadas do real e na formação<br />

<strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> conhecimento. Ao distinguir os aspectos figurativos (conteúdo)<br />

dos aspectos operativos (formais) e ao subordinar os primeiros aos segundos.<br />

Piaget estabelece uma concepção com base nas ações sensório motoras,<br />

nas operações mentais concretas e formais, que subordinam a imagem e a intuição<br />

à ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> operação; já que as formas do conhecimento e as estruturas lógicas<br />

que po<strong>de</strong>m se aprofundar nas transformações do real são o resultado não dos<br />

objetos, mas da coor<strong>de</strong>nação das ações que o indivíduo exerce ao manipular e<br />

explorar a realida<strong>de</strong> objetiva.<br />

Segundo Piaget (apud GÓMES, 1998, p. 33), “são quatro fatores que<br />

intervem no <strong>de</strong>senvolvimento das estruturas cognitivas e que a regulação normativa<br />

da aprendizagem não po<strong>de</strong> ignorar: maturação, experiência física, interação social e<br />

equilíbrio”.<br />

Mediante essas colocações, cabe <strong>de</strong>stacar sete importantes conclusões<br />

apresentadas por Gómes (1998), para facilitar e orientar a regulação dos processos<br />

<strong>de</strong> ensino aprendizagem:<br />

• o caráter construtivo e dialético <strong>de</strong> todo o processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento individual;<br />

• a enorme significação que tem para o <strong>de</strong>senvolvimento das<br />

capacida<strong>de</strong>s cognitivas superiores a ativida<strong>de</strong> do aluno <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as<br />

ativida<strong>de</strong>s sensório motoras <strong>de</strong> discriminação e manipulação <strong>de</strong><br />

objetos, até as complexas operações formais;<br />

• O espaço central que ocupa a linguagem como instrumento<br />

insubstituível das operações intelectuais mais complexas;<br />

• A importância do conflito cognitivo para provocar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do aluno;<br />

• A significação da cooperação para o <strong>de</strong>senvolvimento das<br />

estruturas cognitivas;<br />

• A distinção e a vinculação entre <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem;<br />

a estreita veiculação das dimensões estrutural e afetiva da<br />

conduta. (op cit, p. 37).


47<br />

Para reforçar a regulação dos processos <strong>de</strong> aprendizagens, Gómes (1998, p.<br />

38) referencia Piaget (1970): “não existe estrutura alguma (cognição) sem um<br />

elemento ativador (motivação) e vice-versa. A motivação está sempre conectada<br />

com um nível estrutural (cognoscitivo) <strong>de</strong>terminado”.<br />

Assim, nota-se que a motivação é ativida<strong>de</strong> do sujeito, e ao educador cabe<br />

incentivar para que aflore.<br />

Já Ausubel mostra que as Aprendizagens Significativas são importantes para<br />

a prática didática. Ele aborda a aprendizagem como<br />

um tipo <strong>de</strong> aprendizagem que se refere a corpos organizados <strong>de</strong><br />

material significativo. É a pedra fundamental do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

cognitivo do homem e o objeto prioritário da prática didática<br />

(AUSUBEL apud GÓMES,1998, p. 38).<br />

A aprendizagem significativa opõe-se à aprendizagem mecânica, repetitiva,<br />

pois compreen<strong>de</strong> a aquisição <strong>de</strong> novos significados, os quais requerem certas<br />

condições precisas. Ausubel se <strong>de</strong>tém nelas:<br />

A essência da aprendizagem significativa resi<strong>de</strong> em que as idéias<br />

expressadas simbolicamente são relacionadas <strong>de</strong> modo não<br />

arbitrário, mas substancial, com o que o aluno já sabe. O material<br />

que apren<strong>de</strong> é potencialmente significativo para ele. (id ibid, p. 38).<br />

O mesmo autor distingue duas dimensões na significação potencial do<br />

material <strong>de</strong> aprendizagem: significação lógica 10 e significação psicológica 11 .<br />

10 Significação lógica: coerência na estrutura interna do material, seqüência lógica nos processos e<br />

conseqüência nas <strong>relações</strong> entre seus elementos componentes (GÓMES, 1989, p. 38).<br />

11 Significação psicológica: que seus conteúdos sejam compreensíveis <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a estrutura cognitiva<br />

que o sujeito que apren<strong>de</strong> possui (id ibid, p. 32).


48<br />

Ausubel consi<strong>de</strong>ra que,<br />

cada estrutura cognitiva <strong>de</strong> cada sujeito evi<strong>de</strong>ncia uma organização<br />

hierárquica e lógica, on<strong>de</strong> cada conceito ocupa um lugar <strong>de</strong>terminado<br />

em função do seu nível <strong>de</strong> abstração, <strong>de</strong> generalização e capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> incluir outros conceitos. Assim, na aprendizagem significativa<br />

adquire-se o significado <strong>de</strong> idéias e proposições num processo <strong>de</strong><br />

inclusão correlativa em estruturas mais genéricas. (AUSUBEL apud<br />

GÓMES, 1989, p. 38).<br />

Dessa maneira, a aprendizagem significativa produz a estruturação do<br />

conhecimento prévio e a extensão <strong>de</strong> sua potencialida<strong>de</strong> explicativa e operativa,<br />

provocando sua organização, pois,<br />

o material aprendido <strong>de</strong> forma significativa é menos sensível as<br />

interferências a curto prazo e muito mais resistente ao esquecimento,<br />

porque não se encontra isolado, mas assimilado a uma organização<br />

hierárquica dos conhecimentos que se referem a própria área<br />

temática. (GÓMES, 1998, p. 38).<br />

De acordo com a bibliografia pesquisada, o problema da aprendizagem<br />

significativa, abordado por Ausubel, é a explicação por <strong>de</strong>scoberta, afirmando que o<br />

processo <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> significados é um processo ativo, mas que segundo<br />

Gómes (1998), requer um tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> intelectual diferente da aprendizagem por<br />

<strong>de</strong>scoberta, já que, para ambas são exigidos princípios explicativos e condições para<br />

realização diferentes. As habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> investigação requerem a prática, a<br />

participação do indivíduo, a busca real, e não a mera organização do recebido<br />

significativamente.<br />

Já a Teoria da Aprendizagem, sob o ponto <strong>de</strong> vista dialético, recebeu<br />

contribuições sob orientações dos princípios do materialismo dialético. Para a<br />

psicologia soviética, a aprendizagem está em função da comunicação e do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento. Para compreen<strong>de</strong>r qualquer fenômeno <strong>de</strong> aprendizagem, será<br />

necessário <strong>de</strong>terminar o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento alcançado pelas experiências. O


49<br />

nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento alcançado, não é estável, mas um amplo e reflexivo<br />

intervalo.<br />

Para Vygosty (apud GÓMES, 1998) é muito importante a compreensão da<br />

área <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento potencial ou zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento proximal, pois é o<br />

eixo da relação dialética entre aprendizagem e <strong>de</strong>senvolvimento. O que a criança<br />

po<strong>de</strong> fazer com ajuda hoje, favorece e facilita que o faça sozinha amanhã.<br />

Segundo Gómes (op. cit), em evi<strong>de</strong>nte oposição a Piaget, Vygotsky chega a<br />

afirmar que o <strong>de</strong>senvolvimento segue a aprendizagem, já que essa é quem cria a<br />

área <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento potencial. É essa concepção dialética da aprendizagem e<br />

do <strong>de</strong>senvolvimento que produz a divergência em relação à teoria genética <strong>de</strong><br />

Piaget e as etapas do <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Não é somente a ativida<strong>de</strong> e a coor<strong>de</strong>nação das ações que o indivíduo realiza<br />

as responsáveis pela formação das estruturas formais da mente, mas também a<br />

apropriação da bagagem cultural, que é produto da evolução histórica da<br />

humanida<strong>de</strong> transmitida na relação educativa. A escola soviética conce<strong>de</strong> uma<br />

importância fundamental ao <strong>de</strong>senvolvimento da linguagem, pois a palavra é o<br />

instrumento mais rico para transmitir a experiência histórica da humanida<strong>de</strong>.<br />

Também, em conseqüência <strong>de</strong> seu caráter construtivista, a ativida<strong>de</strong> do indivíduo é<br />

o motor fundamental do <strong>de</strong>senvolvimento. Não se concebe a ativida<strong>de</strong> única, nem<br />

principalmente, como o intercâmbio isolado <strong>de</strong> seu meio físico, mas como<br />

participação em processos, geralmente em grupo; <strong>de</strong> busca cooperativa, <strong>de</strong><br />

intercâmbio <strong>de</strong> idéias e concepções <strong>de</strong> ajuda na aprendizagem, na aquisição da<br />

riqueza cultural da humanida<strong>de</strong>.<br />

Reafirmando os principais postulados da escola soviética, a psicologia<br />

genético-dialética francesa <strong>de</strong> Wallon consi<strong>de</strong>ra que a aprendizagem é


50<br />

incompreensível fora do <strong>de</strong>senvolvimento, e o <strong>de</strong>senvolvimento torna-se um conceito<br />

metafísico se não explicado nesse processo <strong>de</strong> aprendizagens do organismo com o<br />

meio. Assim, “a diferenciação progressiva do psiquismo, que constitui o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, é função dos fenômenos da aprendizagem” (WALLON apud<br />

GÓMES, 1998, p. 42).<br />

O importante para Wallon é explicar a passagem do organismo para o<br />

psicológico. Uma transmissão que acontece mediante a impregnação do social<br />

psíquico, pela emoção, a imitação e a motricida<strong>de</strong>.<br />

Dentro <strong>de</strong>ssa teoria é particularmente importante o papel atribuído à emoção<br />

enquanto constitui o vínculo do orgânico e do social para gerar o psiquismo. De uma<br />

expressão corporal, um estado interno, adquire o caráter <strong>de</strong> comunicação. Essa<br />

passagem provoca as primeiras representações que adquirirão consistência e<br />

ampliação da imitação, pois a emoção comunicada exige uma relação conduzindo a<br />

aprendizagem.<br />

Des<strong>de</strong> a origem, o pensamento vincula-se com aspectos emotivos,<br />

afetivos, com os quais estabelecerá um discurso permanentemente<br />

cheio <strong>de</strong> contradições e apoios... toda a ativida<strong>de</strong> cognitiva da<br />

criança implica, em sua origem, seu <strong>de</strong>senvolvimento, ou sua<br />

conclusão, inevitáveis componentes afetivos que por si mesmos<br />

impulsionam a aprendizagem. (WALLON apud GÓMES, 1998, p. 42).<br />

Essa é uma importante contribuição, visto que, a tendência da escola em<br />

supervalorizar o aspecto intelectual parece ignorar a emoção e afetivida<strong>de</strong> da<br />

conduta do aluno. Segundo Wallon, pela emoção temos o melhor modo <strong>de</strong> provocar<br />

no aluno a aprendizagem.<br />

Já os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> aprendizagem, baseados na perspectiva da Teoria do<br />

Processamento <strong>de</strong> Informação e simulação do comportamento, são relativamente<br />

recentes. Em 1958 surgem os novos precursores <strong>de</strong> uma nova orientação cognitiva


51<br />

nos trabalhos e nas pesquisas sobre os processos <strong>de</strong> aprendizagem. Nessa teoria, o<br />

homem é o processador <strong>de</strong> informação, cuja ativida<strong>de</strong> fundamental é recebê-la,<br />

elaborá-la e agir <strong>de</strong> acordo com ela. Nas palavras <strong>de</strong> Gómes (1998, p. 44), isso<br />

significa que “todo ser humano é um ativo processador <strong>de</strong> sua experiência mediante<br />

um complexo sistema no qual a informação é recebida, transformada, acumulada,<br />

recuperada e utilizada”.<br />

Assim, o organismo não respon<strong>de</strong> diretamente ao mundo real, são mediados<br />

pela representação que se tem <strong>de</strong>le; selecionando, transformando e até distorcendo<br />

os estímulos recebidos. Os elementos estruturais mais importantes (as instâncias<br />

internas, tanto estruturais quanto funcionais), que me<strong>de</strong>iam a aprendizagem <strong>de</strong><br />

acordo com esse enfoque são: Registro sensitivo, que recebe informação interna e<br />

externa; Memória a curto prazo: que oferece breve armazenamento <strong>de</strong> informações<br />

selecionadas; Memória a longo prazo, que organiza e conserva disponível a<br />

informação durante períodos mais longos.<br />

As quatro categorias <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> processamento <strong>de</strong> informação são:<br />

Atenção, que trabalha com orientações seletivas e assimilações <strong>de</strong> estímulos<br />

específicos; Codificação, que implica na tradução <strong>de</strong> símbolos dos estímulos;<br />

Armazenamento, retenção organizada da informação codificada; Recuperação<br />

implica na utilização posterior da informação armazenada para os resultados e as<br />

respostas.<br />

O processo <strong>de</strong> informação começa com os processos <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong><br />

estímulos. Uma vez selecionada a informação, codifica-se e armazena-se por breves<br />

períodos <strong>de</strong> tempo na memória a curto prazo. A retenção e a recuperação são dois<br />

programas <strong>de</strong> controle que <strong>de</strong>terminam o processamento da informação a longo<br />

prazo. A retenção é um fenômeno que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do modo como a informação foi


52<br />

codificada e assimilada. A recuperação implica ativos processos <strong>de</strong> reconstrução e<br />

organização do material recuperado.<br />

A organização e significação do material são amplamente ressaltadas, pois, o<br />

armazenamento não se realiza <strong>de</strong> forma isolada e arbitrária, mas por assimilação<br />

significativa dos novos conhecimentos aos previamente construídos. Ou seja,<br />

os componentes internos dos processos <strong>de</strong> aprendizagem constroem<br />

um sistema cognitivo organizado, <strong>de</strong> tal maneira que tanto as<br />

características das instancias estruturais como os mecanismos dos<br />

processos <strong>de</strong> controle se criam e se transformam em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu<br />

próprio funcionamento ao processar as informações em intercambio<br />

com o meio. (GÓMES, 1998, p. 46).<br />

Assim, os esquemas, os conhecimentos, as especialida<strong>de</strong>s e habilida<strong>de</strong>s se<br />

formam num processo genético, alterando-se ao longo do tempo pelos resultados<br />

dos processos posteriores <strong>de</strong> aprendizagem nos quais intervêm. Ou seja, a teoria do<br />

processamento <strong>de</strong> informação (GÓMES, 1998), recupera a noção <strong>de</strong> mente,<br />

reintegra a informação subjetiva como um dado útil para a investigação e coloca em<br />

evi<strong>de</strong>ncia o estudo da memória como explicação da elaboração <strong>de</strong> informação e da<br />

ativida<strong>de</strong> humana.<br />

O estudo realizado contribui tanto para compreen<strong>de</strong>r como para orientar a<br />

escola sobre os fenômenos que <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados no processo <strong>de</strong> ensinoaprendizagem.<br />

Como postulados para a escola, pontuamos que o aluno precisa apren<strong>de</strong>r a<br />

apren<strong>de</strong>r, dominando os conteúdos <strong>de</strong> diferentes naturezas; precisa ter flexibilida<strong>de</strong><br />

e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se lançar com autonomia nos <strong>de</strong>safios da construção do<br />

conhecimento.<br />

Uma peculiarida<strong>de</strong> importante no processo ensino aprendizagem é o querer<br />

apren<strong>de</strong>r. Para que produza o conhecimento, o aluno tem que querer. E, como nas


53<br />

palavras <strong>de</strong> Paro (2000), cabe à escola essa tarefa que se constitui em uma das<br />

mais importantes:<br />

Ora o querer apren<strong>de</strong>r é também um valor cultivado historicamente<br />

pelo homem e, portanto, um conteúdo cultural que precisa ser<br />

apropriado pelas novas gerações, por meio do processo educativo.<br />

Por isso, não cabe a escola, na condição agencia encarregada da<br />

educação sistematizada, renunciar a essa tarefa. Por isso é que não<br />

tem sentido a alegação <strong>de</strong> que, se o aluno não quer apren<strong>de</strong>r, não<br />

cabe a escola a responsabilida<strong>de</strong> por seu fracasso... Levar o aluno a<br />

querer a apren<strong>de</strong>r é o <strong>de</strong>safio mais importante da didática, do qual<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m todas as <strong>de</strong>mais iniciativas. (op cit, p. 14)<br />

Nessa perspectiva, a escola hoje tem uma tripla função: “levar os alunos a<br />

apren<strong>de</strong>r, dar-lhes os fundamentos acadêmicos e, sem perda <strong>de</strong> tempo, equalizar as<br />

enormes diferenças no repertório do conhecimento com que eles chegam”. (WEISZ,<br />

2002, p. 36).<br />

Vindas <strong>de</strong> universos culturais diferentes, o repertório <strong>de</strong> conhecimentos faz<br />

com que as crianças saibam coisas diferentes.<br />

As <strong>de</strong> origem mais humil<strong>de</strong>s, por exemplo, a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida é outra que a<br />

dos professores e muitos colegas. Delas é exigida <strong>de</strong>senvoltura em capacida<strong>de</strong>s que<br />

lhes permitam aten<strong>de</strong>r na família necessida<strong>de</strong>s diárias como aten<strong>de</strong>r dos irmãos e<br />

cozinhar. Elas não dispõem do tipo <strong>de</strong> conhecimento com o qual a escola<br />

habitualmente conta, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo exclusivamente <strong>de</strong>ssa para apren<strong>de</strong>r os<br />

conteúdos escolares, pois não tem a quem recorrer.<br />

Já as crianças que vêm <strong>de</strong> um universo semelhante ao que é valorizado na<br />

escola já chegam com enormes vantagens em relação às <strong>de</strong>mais. A escola será<br />

muito mais fácil <strong>de</strong>vido à consonância da cultura da família e do seu ambiente. Pois,<br />

como coloca Weisz (2002, p. 48), “tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do valor que <strong>de</strong>terminadas<br />

aprendizagens assumem nas comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> origem <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las”.


54<br />

Mediante o exposto, a escola precisa refletir sobre seus pressupostos, bases<br />

teóricas e suas práticas, porque <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> como as <strong>de</strong>senvolve, po<strong>de</strong><br />

estigmatizar as crianças, prejudicando sua auto-estima e dificultando com isso o seu<br />

envolvimento com as situações <strong>de</strong> aprendizagem, cuidando para evitar uma<br />

pedagogia compensatória. Pois, é preciso “educar o olhar para enxergar o que<br />

sabem as crianças que aparentemente não sabem nada... a escola tem um papel<br />

equalizador das oportunida<strong>de</strong>s” (id ibid, p. 49).<br />

A escola precisa socializar, fundamentalmente os conteúdos pertencentes ao<br />

mundo da cultura, da literatura, da ciência, da arte, da informação tecnológica e<br />

tantas mais.Toda a criança tem direito a isso. É condição <strong>de</strong> inserção social. E ter<br />

essa clareza faz toda a diferença quando há comprometimento com uma educação<br />

para todos, que nunca será total, mas não servirá <strong>de</strong> instrumento <strong>de</strong> exclusão social.<br />

2.2 As Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Aprendizagem<br />

Em todos os tempos, a humanida<strong>de</strong> tem se preocupado com as diferenças,<br />

embora sempre tenha prevalecido como método <strong>de</strong> ensino o tradicional, o qual<br />

utiliza as mesmas estratégias para todos, como se todos os alunos apren<strong>de</strong>ssem da<br />

mesma maneira. O interesse nas possíveis causas e conseqüências das diferenças<br />

individuais e no funcionamento mental, remota ao início da civilização. Ao longo do<br />

tempo, a origem dos estados patológicos da aprendizagem, segundo Guimarães e<br />

Morais (1991), po<strong>de</strong>m ser agrupados em períodos. Foram concebidos durante o<br />

primeiro período, que vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da humanida<strong>de</strong>, período pré-histórico até o


55<br />

final do século XVIII. A concepção vigente era relativa à gênese da doença mental e,<br />

conseqüentemente, das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem foi a <strong>de</strong>monológica 12 .<br />

Na etapa seguinte, que abrange até os últimos períodos do século XIX e<br />

começo do século XX, os <strong>de</strong>terminismos das dificulda<strong>de</strong>s não foram mais<br />

concebidos como uma causa sobrenatural e sim, <strong>de</strong> origens ambientais e biológicos,<br />

sendo concepções naturais da origem da doença. Também, nesse período, <strong>de</strong>vido<br />

aos avanços nos estudos, nos diagnósticos e tratamentos direcionados à criança, o<br />

século XX foi <strong>de</strong>nominado, segundo Elen Key, o “século da criança” (DROUET,<br />

1997, p. 89).<br />

O período seguinte, século XX, iniciou com o aparecimento das escolas<br />

psicológicas contemporâneas: o funcionalismo, a psicanálise, a reflexologia, a<br />

gestalt, a topologia, o behaviorismo e os subprodutos psicológicos da escola<br />

piagetiana. Todas apresentam aspectos em comum, pois possuem sistemas teóricos<br />

altamente consistentes e aceitam o <strong>de</strong>terminismo psicológico como causa da origem<br />

das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem. Em relação a esse <strong>de</strong>terminismo são radicais:<br />

‘’sua causa’’ – o inconsciente, o estímulo, a estrutura, –são causas únicas e<br />

suficientes.<br />

A epistemologia convergente, assim <strong>de</strong>nominada, é a etapa seguinte, que<br />

tenta integrar os aportes em três correntes <strong>de</strong> pensamento: a psicanalítica, a<br />

piagetiana e a psicologia social, que se originou, do progressivo <strong>de</strong>clínio <strong>de</strong>ssas<br />

posições, a princípio irredutíveis; e a aceitação <strong>de</strong> que os condicionantes da conduta<br />

po<strong>de</strong>m ser diversos, e até coexistirem no tempo. Seu início acontece a partir do<br />

momento em que alguns cientistas penetram no conhecimento um do outro.<br />

12 Tratado da natureza ou influência dos <strong>de</strong>mônios. De acordo com ela, tanto as dificulda<strong>de</strong>s mentais<br />

quanto as <strong>de</strong> aprendizagem eram resultado <strong>de</strong> castigo divino (GUIMARÃES e MORAIS, 1991).


56<br />

Alguns conceitos psicanalíticos foram sendo introduzidos na área médica,<br />

modificando a visão dominante da doença mental, como também, as concepções<br />

das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem. O conceito <strong>de</strong> anomalias genéticas foi<br />

progressivamente sendo substituído pela psicologia clínica.<br />

Em Paris, 1905, dois psicólogos franceses, Alfred Binet e Teodoro Simon,<br />

criaram a primeira escala em <strong>de</strong>senvolvimento intelectual, a Escala Binet-Simon:<br />

teste usado para medir o quociente intelectual (QI) quociente <strong>de</strong> inteligência dos<br />

alunos, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> selecionar àqueles que po<strong>de</strong>riam ingressar na escola<br />

fundamental. É utilizado até hoje, com algumas modificações e acréscimos.<br />

Além das publicações dos trabalhos psicométricos <strong>de</strong> Binet e Simon, na<br />

primeira década do século XX, Freud, médico psicanalista, consi<strong>de</strong>rou as<br />

experiências emocionais da primeira infância como as mais importantes para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento posterior do indivíduo até a fase adulta. Beers, médico psiquiatra,<br />

enfatizou o valor da saú<strong>de</strong> mental na infância, para que os indivíduos evoluíssem<br />

equilibrados e ajustados emocionalmente.<br />

Segundo Weisz (2002), somente em 1920 chega ao Brasil a visão <strong>de</strong> criança<br />

não como adulto-em-miniatura, mas como um ser com características cognitivas<br />

distintas, uma visão do aprendiz como um ser atento que constrói seu conhecimento.<br />

Idéias da Escola Ativa – Escola Nova, nome que se <strong>de</strong>u aos vários movimentos<br />

<strong>de</strong>ntro da educação que tiveram como cabeças pensadoras: Dewey, Claparë<strong>de</strong>,<br />

Decroly, Montessory, Freinet. Eles tinham divergências entre si, mas um princípio<br />

norteador: “a valorização do indivíduo como ser livre, ativo e social” (WEISZ, 2002,<br />

p. 30).<br />

Somente por volta <strong>de</strong> 1930, criaram-se os primeiros centros <strong>de</strong> orientação<br />

educacional infantil com médicos, psicólogos, educadores e assistentes sociais.


57<br />

Passaram a estudar além do retardo mental, outros problemas como as dificulda<strong>de</strong>s<br />

apresentadas na fala, na leitura, na escrita e na motricida<strong>de</strong>; iniciando a construção<br />

<strong>de</strong> novos métodos educativos para sanar esses problemas <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

Surgiram também, nessa época, as primeiras associações <strong>de</strong> pais <strong>de</strong> excepcionais,<br />

num trabalho integrado para maior compreensão dos problemas e das dificulda<strong>de</strong>s<br />

das crianças e dos familiares.<br />

Em 1940, os métodos <strong>de</strong> psicoterapia, baseados na interpretação freudiana,<br />

começam a ser usados com pacientes com <strong>de</strong>ficiência mental. Em 1945 foram<br />

fundados os primeiros centros psicopedagógicos com o intuito <strong>de</strong> beneficiar os pais,<br />

crianças e educadores em um trabalho integrando lar-escola. Unindo conhecimentos<br />

psicológicos e pedagógicos, esses centros procuravam tratar comportamentos<br />

socialmente ina<strong>de</strong>quados, tanto na escola como no lar, objetivando a readaptação<br />

da criança. Em 1946, a equipe <strong>de</strong>sses centros passou a ser integrada por psiquiatra,<br />

neurologistas e psicanalistas, além dos psicólogos e pedagogos (DROUET, 1997, p.<br />

90).<br />

Na década <strong>de</strong> 1960, segundo a autora citada, chega ao Brasil a abordagem<br />

psiconeurológica <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano, que trouxe consigo noções <strong>de</strong><br />

Disfunção Cerebral Mínima e <strong>de</strong> Dislexia. Daí em diante, muitos educadores,<br />

pedagogos, psicólogos educacionais e psicopedagogos começaram a ficar atentos<br />

para o peso das condições mais amplas da socieda<strong>de</strong> na <strong>de</strong>terminação dos<br />

problemas <strong>de</strong> aprendizagens.<br />

De acordo com a pesquisa realizada, Drouet (1997), foi em 1977 que surgiu<br />

um outro campo educacional, a chamada pedagogia <strong>de</strong> apoio. Nas salas <strong>de</strong> aula<br />

pelos professores, visando dar uma complementação ao estudo regular para alunos<br />

que tenham encontrado dificulda<strong>de</strong> em acompanhar a classe.


58<br />

Na literatura investigada, em se tratando <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, o<br />

termo distúrbio, que significa perturbação ou alteração no comportamento habitual<br />

<strong>de</strong> uma pessoa, vem sendo usado na literatura especializada em várias acepções.<br />

Para alguns médicos, psicólogos ou educadores, segundo Drouet, distúrbios são<br />

problemas ou dificulda<strong>de</strong>s no processo ensino-aprendizagem, perturbações <strong>de</strong><br />

origem biológica, neurológica, intelectual, psicológica, sócio –econômica ou<br />

educacional, encontradas em escolares. Aspectos esses, que po<strong>de</strong>m se transformar<br />

em problemas na aprendizagem da criança.<br />

Um segundo grupo, por sugestão <strong>de</strong> Kirk e Bateman (1962) prefere reservar a<br />

expressão distúrbios <strong>de</strong> aprendizagem apenas para aqueles casos <strong>de</strong> crianças com<br />

“dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong> causas <strong>de</strong>sconhecidas, uma vez que essas<br />

crianças não apresentam <strong>de</strong>feitos físicos, sensoriais, emocionais ou intelectuais <strong>de</strong><br />

espécie alguma” (apud DROUET, 1997, p. 92). Até então essas crianças tinham sido<br />

maltratadas, ignoradas ou permanecidas sem diagnóstico. Suas dificulda<strong>de</strong>s<br />

recebiam várias <strong>de</strong>signações, tais como: hiperativida<strong>de</strong>, hipercinesia, disfunção<br />

cerebral mínima, dificulda<strong>de</strong> ou disfunção na aprendizagem.<br />

Já, Sara Pain (apud DROUET, 1997) chama <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> aprendizagem<br />

a todos os distúrbios psicopedagógicos que interferem diretamente na<br />

aprendizagem.<br />

A posição <strong>de</strong> Drouet (1997, p 93) em relação a conceituação é que:<br />

todos os distúrbios da fala da audição, emocionais, do<br />

comportamento etc... têm sua origem em causas diversas, porém<br />

todos eles se constituem em obstáculos a aprendizagem,<br />

prejudicando-a ou mesmo impedindo-a. São, portanto, problemas do<br />

processo <strong>de</strong> ensino aprendizagem... cabe ao professor observar as<br />

criança, perceber aquelas que apresentam problemas <strong>de</strong><br />

aprendizagem e encaminhá-las a especialista a<strong>de</strong>quado para<br />

diagnóstico e tratamento.


59<br />

No século XX acontece consi<strong>de</strong>rável salto na evolução do pensar<br />

educacional, ao levar-se em conta os aspectos cognitivos, afetivos emocionais e<br />

sociais do aluno como fundamentais ao seu <strong>de</strong>senvolvimento. A visão do homem<br />

como um todo, segundo Capra (1982), veio a partir da década <strong>de</strong> 1930, com a<br />

concepção sistêmica que vê o mundo em termos <strong>de</strong> <strong>relações</strong> e integração. “Os<br />

sistemas são totalida<strong>de</strong>s integradas, cujas proprieda<strong>de</strong>s não po<strong>de</strong>m ser reduzidas às<br />

unida<strong>de</strong>s menores. Em vez <strong>de</strong> se concentrar nos elementos... a abordagem<br />

sistêmica enfatiza princípios básicos <strong>de</strong> organização” (op cit, p. 45).<br />

O autor complementa essa abordagem sistêmica afirmando que:<br />

A nova visão da realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> que vimos falando, baseia-se na<br />

consciência do estado <strong>de</strong> inter-<strong>relações</strong> e inter<strong>de</strong>pendência essencial<br />

<strong>de</strong> todos os fenômenos –físicos, biológicos, psicológicos, sociais e<br />

culturais. Essa visão transcen<strong>de</strong> as atuais fronteiras disciplinares e<br />

conceituais. (id ibid, p. 62).<br />

É indiscutível o valor <strong>de</strong> tal concepção global, a qual traz argumentos que<br />

orientam e apelam para que várias facetas do problema sejam investigadas, e não<br />

se remeta a uma parte apenas a origem <strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

aprendizagem.<br />

Fez-se necessário conceituar o que são dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem,<br />

mesmo sabendo que as <strong>de</strong>finições construídas ao longo da história do seu estudo<br />

são muitas e receberam contribuições das mais variadas áreas do conhecimento e<br />

que hoje se fun<strong>de</strong>m para melhor compreen<strong>de</strong>r suas variáveis, orientando as<br />

intervenções pedagógicas.<br />

Nesse particular, a coor<strong>de</strong>nação pedagógica da escola <strong>de</strong>ve estar atenta aos<br />

encaminhamentos <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula, tendo assim segurança em relação aos<br />

procedimentos a serem adotados em cada situação. Segundo Drouet (1997), os


60<br />

pedagogos foram os primeiros a se preocuparem com os distúrbios apresentados<br />

por crianças com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

Em relação às causas prováveis das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, o termo<br />

refere-se não a um único distúrbio, mas uma ampla gama <strong>de</strong> problemas que po<strong>de</strong>m<br />

afetar qualquer área do <strong>de</strong>sempenho acadêmico. As crianças com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

aprendizagem têm em comum um baixo <strong>de</strong>sempenho inesperado (SMITH e<br />

STRICK, 2001).<br />

Muitos fatores contribuem para as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem. Pesquisas<br />

vêm sendo <strong>de</strong>senvolvidas e produzem informações úteis sobre as estruturas e<br />

funcionamento do cérebro humano. O que não é fácil é aplicar tais informações a um<br />

indivíduo; porque irregularida<strong>de</strong>s no funcionamento cerebral são apenas parte da<br />

história. Segundo Smith e Strick (2001, p. 20), “o <strong>de</strong>senvolvimento individual das<br />

crianças é maciçamente influenciado por sua família, pela escola e pelo ambiente da<br />

comunida<strong>de</strong>... é o ambiente da criança que <strong>de</strong>termina a gravida<strong>de</strong> do impacto da<br />

dificulda<strong>de</strong>”.<br />

As crianças também lutam com transtornos <strong>de</strong> comportamento, o que<br />

complica suas dificulda<strong>de</strong>s na escola. A mais saliente é a hiperativida<strong>de</strong> – TDAH,<br />

que afeta <strong>de</strong> 15% a 20% das crianças com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem<br />

(FERNÁNDES, 2001). Quando esses comportamentos das crianças oriundos <strong>de</strong><br />

síndromes não são compreendidos pensa-se que a mesma não está colaborando ou<br />

prestando atenção. Em muitos casos, as crianças <strong>de</strong>senvolvem problemas<br />

emocionais relacionados manifestando <strong>de</strong> várias formas, pondo para fora<br />

fisicamente tal sensação, tornando-se agressivos, ansiosos, <strong>de</strong>primidos, isolam-se<br />

sofrendo solidão, bem como, baixa auto-estima.


61<br />

Segundo Fernán<strong>de</strong>s (2001), o apren<strong>de</strong>r ocorre no seio <strong>de</strong> um vínculo<br />

humano, cuja matriz toma forma no primeiro vínculo que a criança tem mãe-pai-filhoirmão,<br />

pois, “a aprendizagem é um processo cuja a matriz é vincular e lúdica e sua<br />

raiz corporal; seu <strong>de</strong>sdobramento criativo põe-se em jogo através da articulação<br />

inteligência-<strong>de</strong>sejo e do equilíbrio assimilação-acomodação” (op cit, p. 48).<br />

Somente observando como apren<strong>de</strong>, e a originalida<strong>de</strong> da sua dificulda<strong>de</strong> é<br />

que, estaremos no caminho <strong>de</strong> elucidar porque a criança não apren<strong>de</strong>.<br />

Necessariamente na aprendizagem entram em jogo, numa maneira individual <strong>de</strong><br />

relação, pelo menos quatro níveis em um processo vincular pelo ensinante e<br />

apren<strong>de</strong>nte, dois personagens e um vínculo entre ambos.<br />

Fernán<strong>de</strong>s (1991), coloca a implicação <strong>de</strong> quatro níveis no processo <strong>de</strong><br />

aprendizagem:<br />

Em todo processo <strong>de</strong> aprendizagem estão implicados os quatro<br />

níveis: organismo, inteligência, <strong>de</strong>sejo e corpo e não se po<strong>de</strong> falar <strong>de</strong><br />

aprendizagem excluindo algum <strong>de</strong>les, também nas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

aprendizagem, necessariamente estarão em jogo os quatro níveis<br />

em diferente grau <strong>de</strong> compromisso. (op cit, p. 57).<br />

Ou seja, na concepção da autora, para apren<strong>de</strong>r, o ser humano põe em jogo<br />

o seu organismo individual herdado; seu corpo construído especularmente, sua<br />

inteligência construída interacionalmente e a arquitetura do <strong>de</strong>sejo, <strong>de</strong>sejo que é<br />

sempre <strong>de</strong>sejo do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> outro. Para dar conta do não apren<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>nominado por<br />

Fernan<strong>de</strong>s (1991), <strong>de</strong> fraturas no apren<strong>de</strong>r, necessitamos aten<strong>de</strong>r aos processos, à<br />

dinâmica e o movimento, às tendências e não somente aos resultados ou<br />

rendimentos.<br />

Partindo <strong>de</strong>sse pressuposto, então, as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem<br />

apresentadas em sala <strong>de</strong> aula, po<strong>de</strong>m ser vistas também, como dificulda<strong>de</strong>s da<br />

escola, (MAINARDES, 1999), dos professores e <strong>de</strong>mais envolvidos. E, atentos ao


62<br />

movimento escolar como um todo, possam enfrentar quaisquer eventualida<strong>de</strong>s,<br />

sabendo e apren<strong>de</strong>ndo a lidar com elas por meio <strong>de</strong> estratégias a<strong>de</strong>quadas. O que<br />

muitas vezes é percebido nas escolas é uma tendência à supervalorização das<br />

dificulda<strong>de</strong>s, das carências afetivas, dos problemas familiares ou <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou<br />

emocionais, das atitu<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> comportamentos.<br />

Deixam-se <strong>de</strong> lado os avanços conseguidos, per<strong>de</strong>ndo-se uma oportunida<strong>de</strong>,<br />

mecanismo excelente para auxiliar nas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem:<br />

... percebemos que o reconhecimento explicito dos avanços –<br />

mesmo que aparentemente sutis – colaborou muito para o resgate<br />

e/ou elevação do auto-conceito e continuida<strong>de</strong> do processo ensino<br />

aprendizagem. A idéia <strong>de</strong> que a criança “ainda não sabe” permitenos<br />

compreen<strong>de</strong>r a aprendizagem como processo dinâmico e rico <strong>de</strong><br />

possibilida<strong>de</strong>s. (MAINARDES, 1999, p. 42).<br />

Várias teorias acerca do funcionamento psíquico afirmam que nós nascemos<br />

com uma tendência inata para a aprendizagem. O processo <strong>de</strong> aprendizagem inicia<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascimento e garantirá a sobrevivência e a humanização. Bossa (2000) diz<br />

que a aprendizagem e a construção do conhecimento são processos naturais e<br />

espontâneos na nossa espécie e, se não estão ocorrendo, certamente existe uma<br />

razão, pois uma lei da natureza está sendo contrariada.<br />

Mediante o exposto, existem muitos fatores que po<strong>de</strong>m interferir na<br />

aprendizagem, isto faz com que recriem novos contextos que se adaptem às<br />

individualida<strong>de</strong>s dos alunos, partindo do que cada um sabe, <strong>de</strong> suas potencialida<strong>de</strong>s<br />

e não <strong>de</strong> suas dificulda<strong>de</strong>s. Deve-se ter em mente que nem todos apren<strong>de</strong>m da<br />

mesma maneira, que cada um apren<strong>de</strong> a seu ritmo e em seu nível.<br />

A escola pública brasileira tem produzido altos índices <strong>de</strong> reprovação e <strong>de</strong><br />

evasão e o baixo nível <strong>de</strong> conhecimento, mesmo dos que são aprovados. A culpa na<br />

maioria das vezes cai sobre o professor, acusado <strong>de</strong> incompetência e <strong>de</strong> pouco


63<br />

empenho profissional, que em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> sua auto-estima põe a culpa no aluno<br />

acusando-o <strong>de</strong> não querer apren<strong>de</strong>r. Segundo Paro (2000), tal justificativa precisa<br />

ser combatida <strong>de</strong> forma radical porque:<br />

implica a própria renuncia da escola a uma <strong>de</strong> suas funções mais<br />

essenciais. Os equívocos a esse respeito geralmente advêm da<br />

atitu<strong>de</strong> errônea <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar a “aula” como o produto do trabalho<br />

escolar. Nessa concepção, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o professor <strong>de</strong>u uma boa aula,<br />

a escola cumpriu sua obrigação, apresentou o seu produto, tudo o<br />

mais sendo responsabilida<strong>de</strong> do aluno. Mas, se consi<strong>de</strong>rarmos o<br />

conceito <strong>de</strong> trabalho humano como “ativida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quada a um fim” a<br />

aula ou a “situação <strong>de</strong> ensino” constitui o próprio trabalho, não seu<br />

produto. Se a escola tem <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r por produtos, estes só po<strong>de</strong>m<br />

ser o resultado da apropriação do saber pelos alunos. (op cit, p. 13).<br />

A escola para exercer a sua função social <strong>de</strong> garantir a todos as condições <strong>de</strong><br />

viver plenamente a cidadania, cumprindo seus <strong>de</strong>veres e usufruindo seus direitos,<br />

precisa conscientizar-se <strong>de</strong> sua responsabilida<strong>de</strong> em propiciar a todos os seus<br />

alunos o sucesso escolar no prazo legalmente estabelecido, por meio <strong>de</strong> um<br />

envolvimento maior <strong>de</strong> todos no processo, porque como coloca Grinspun (2002, p.<br />

69): “a questão do fracasso é um problema <strong>de</strong> concepção, <strong>de</strong> estrutura, que po<strong>de</strong><br />

chegar a um bom termo se todos estiverem comprometidos no mesmo sentido em<br />

superá-lo”.<br />

É preciso <strong>de</strong>smistificar as causas geradoras do fracasso da aprendizagem<br />

<strong>de</strong>svinculada <strong>de</strong> patologias, visões distorcidas e equivocadas como justificativas que<br />

buscam omitir os envolvidos no processo educativo <strong>de</strong> suas competências em<br />

promoverem o sucesso dos alunos na escola, conseqüentemente na vida, pois “se<br />

estes não apren<strong>de</strong>ram, a escola não foi produtiva. Dizer que a escola é produtiva<br />

porque <strong>de</strong>u boa aula, mas o aluno não apren<strong>de</strong>u é o mesmo que dizer que a cirurgia<br />

foi um sucesso, mas o paciente morreu” (PARO, 2000, p. 15).


64<br />

CAPÍTULO 3<br />

A PESQUISA EMPÍRICA<br />

A revisão da literatura embasou o encaminhamento metodológico da<br />

pesquisa-ação, estratégia a<strong>de</strong>quada ao trabalho proposto. Os encaminhamentos<br />

foram facilitados, uma vez que uma pesquisadora é pedagoga da escola e a outra,<br />

educadora infantil do estabelecimento. Somos parte integrante da instituição e<br />

anteriormente <strong>de</strong>senvolvemos trabalho teórico-prático do Curso <strong>de</strong> Especialização<br />

em Desenvolvimento Pessoal e Familiar, junto às famílias cujos filhos estudam no<br />

CAIC (Anexo 2), o qual ajudou na i<strong>de</strong>ntificação do contexto familiar, para atingir-se<br />

os objetivos traçados, <strong>de</strong>talhando-se as questões e o tipo <strong>de</strong> pesquisa.<br />

Em termos gerais, o objetivo da pesquisa foi o <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r como se dá a<br />

relação entre escola e família com alunos que vêm apresentando dificulda<strong>de</strong>s na<br />

aprendizagem. Optou-se pelo estudo <strong>de</strong> duas turmas do Nível III, 2ª Fase,<br />

correspon<strong>de</strong>nte a 4ª série, num total <strong>de</strong> sessenta alunos na faixa etária <strong>de</strong> 9 a 10<br />

anos, por ser a etapa final do nível.<br />

Os objetivos específicos que embasaram o estudo formulado <strong>de</strong> acordo com<br />

as experiências docentes vivenciadas pelas pesquisadoras e a revisão da literatura<br />

foram:<br />

− Descrever e analisar quais as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem mais<br />

comuns;<br />

− I<strong>de</strong>ntificar o olhar das professoras e da escola em relação às crianças<br />

com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem;<br />

− Analisar em que contexto familiar vive o aluno que apresenta dificulda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> aprendizagem;


65<br />

− Analisar o comportamento familiar frente a essa problemática;<br />

− Descrever e analisar encaminhamentos utilizados pela escola para<br />

contribuir no <strong>de</strong>senvolvimento das crianças que apresentam dificulda<strong>de</strong>s<br />

na aprendizagem;<br />

− Apontar estratégias validadas <strong>de</strong> trabalhos com as famílias <strong>de</strong> crianças<br />

que apresentam dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem.<br />

Mediante os objetivos propostos e as questões, é possível melhorar o<br />

rendimento escolar com maior aproximação da escola com a família? Quais as<br />

estratégias mais favoráveis a essa aproximação?<br />

A investigação que mais se a<strong>de</strong>quou para a realida<strong>de</strong> foi a pesquisa-ação<br />

que, segundo Engel (2000), surgiu para superar a lacuna entre teoria e prática, pois,<br />

uma das características <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> pesquisa é que através <strong>de</strong>la se<br />

procura intervir na prática <strong>de</strong> modo inovador já no <strong>de</strong>correr do próprio<br />

processo <strong>de</strong> pesquisa e não apenas como possível conseqüência <strong>de</strong><br />

uma recomendação na etapa do processo. (op cit, p. 183).<br />

Dentre as características essenciais <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> investigação apresentada<br />

pelo autor, pontuamos:<br />

− A pesquisa-ação é situacional: procura diagnosticar um problema<br />

específico numa situação também específica, com fim <strong>de</strong> atingir<br />

uma relevância prática dos resultados.<br />

− No ensino, a pesquisa-ação tem por objeto <strong>de</strong> pesquisa as ações<br />

humanas em situações que são percebidas pelo professor como<br />

sendo inaceitáveis sob certos aspectos, que são suscetíveis <strong>de</strong><br />

mudança e que exigem resposta prática. A situação problemática<br />

é interpretada a partir do ponto <strong>de</strong> vista das pessoas envolvidas;<br />

baseando-se, portanto, sobre as representações que os diversos<br />

atores (professores, alunos, diretores etc) têm da situação.<br />

− O processo <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong>ve tornar-se um processo <strong>de</strong><br />

aprendizagem para todos os participantes, e a separação entre<br />

sujeito e objeto <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong>ve ser superada.<br />

− Como critério <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> dos resultados da pesquisa-ação<br />

sugere-se a utilida<strong>de</strong> dos dados para os clientes: as estratégias e<br />

produtos serão úteis para os envolvidos e o pesquisador neste<br />

contexto, se parece a um praticante social.


66<br />

− A pesquisa-ação é auto-avaliativa, isto é, as modificações<br />

introduzidas na prática são constantemente avaliadas no <strong>de</strong>correr<br />

do processo <strong>de</strong> intervenção e o feedback obtido do monitoramento<br />

da prática é traduzido em modificações, mudanças <strong>de</strong> direção e<br />

re<strong>de</strong>finições, conforme necessário, trazendo benefícios para o<br />

próprio processo, isto é, para a prática, sem ter em vista, em<br />

primeira linha, o benefício <strong>de</strong> situações futuras.<br />

− A pesquisa-ação é cíclica: as fases finais são usadas para<br />

aprimorar os resultados das fases anteriores.<br />

Participaram da pesquisa três professores que atuavam diretamente com os<br />

grupos, as duas pedagogas responsáveis pela coor<strong>de</strong>nação pedagógica do Nível, os<br />

<strong>de</strong>z alunos apontados que apresentavam dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem em sala <strong>de</strong><br />

aula, as três mães e dois casais, pais dos referidos alunos.<br />

3.1 Encaminhamentos Metodológicos<br />

Como procedimento inicial foi solicitado aos professores do Nível que<br />

fizessem a i<strong>de</strong>ntificação dos alunos que apresentaram dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem<br />

em sala <strong>de</strong> aula no <strong>de</strong>correr do 2º Bimestre, visto que estava iniciando o 3º Bimestre<br />

do ano letivo <strong>de</strong> 2005.<br />

Para tanto, os professores recorreram aos registros e observações diárias do<br />

<strong>de</strong>sempenho dos alunos. Posteriormente foi organizando, junto com a coor<strong>de</strong>nação<br />

pedagógica, uma seleção dos alunos, segundo seu percentual final <strong>de</strong><br />

aproveitamento, <strong>de</strong> acordo com o sistema <strong>de</strong> avaliação adotado pela escola. Os<br />

alunos que estavam no índice <strong>de</strong> 0% a 20% <strong>de</strong> aproveitamento, segundo os<br />

objetivos propostos, participariam do apoio pedagógico duas vezes na semana.<br />

Perfizeram aqui um total <strong>de</strong> <strong>de</strong>z alunos.


67<br />

Em relação aos alunos pesquisados, nenhum <strong>de</strong>les necessitou passar por<br />

avaliação <strong>de</strong> especialistas para diagnósticos, portanto, não são alunos que<br />

apresentam quadro <strong>de</strong> déficit <strong>de</strong> atenção, hiperativida<strong>de</strong>, saú<strong>de</strong> mental ou outros.<br />

Segundo dados obtidos com a coor<strong>de</strong>nação pedagógica, as crianças possuem<br />

<strong>de</strong>fasagens <strong>de</strong> conteúdos que se acumularam no <strong>de</strong>correr da escolarização.<br />

Ao analisar os dados, percebe-se que dos <strong>de</strong>z alunos selecionados, por<br />

estarem participando do apoio pedagógico, somente cinco famílias aten<strong>de</strong>ram a<br />

solicitação da escola para o trabalho a ser realizado. Para tanto, a análise dos<br />

dados, foi completa em todas as etapas da pesquisa com cinco alunos e suas<br />

respectivas famílias, e dos <strong>de</strong>mais alunos não se pô<strong>de</strong> contar com a participação da<br />

família, pois os mesmos não aten<strong>de</strong>ram as solicitações das pesquisadoras e da<br />

escola.<br />

Para não expor o nome dos envolvidos na pesquisa, optou-se pela seguinte<br />

nomenclatura:<br />

Coor<strong>de</strong>nação pedagógica – C. P.<br />

Professora do Nível III 2ª Fase A – P. A<br />

Professora do Nível III 2ª Fase B – P. B<br />

Professora integradora do Nível III 2 –P. I.<br />

Dos que participaram <strong>de</strong> todas as etapas:<br />

Alunos – A1, A2, A3, A4, A7; e Famílias: F1, F2, F3, F4, F7.<br />

Dos alunos que as famílias não participaram:<br />

Alunos: A5, A6, A8, A9, A10; e Famílias: F5, F6, F8, F9, F10.


68<br />

A ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reforço pedagógica <strong>de</strong>senvolvida pela escola tinha duração <strong>de</strong><br />

uma hora e com a inserção das pesquisadoras, passou a ser diariamente. Po<strong>de</strong>-se<br />

contar com o auxílio <strong>de</strong> um estagiário do curso <strong>de</strong> matemática, cuja função era <strong>de</strong><br />

assistir individualmente os alunos. Essa ativida<strong>de</strong> contribui com a aprendizagem das<br />

crianças que não conseguiam acompanhar as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas em sala <strong>de</strong><br />

aula. No CAIC, o aluno é sempre avaliado no sentido <strong>de</strong> que sejam percebidos seus<br />

avanços e necessida<strong>de</strong>s, como também é valorizado tendo noção das metas que<br />

precisa alcançar, procurando fazer com que se sintam bem consigo mesmo.<br />

Foram feitos acompanhamentos no ambiente escolar, bem como diretamente<br />

nas salas <strong>de</strong> aula <strong>de</strong>sses alunos, para que fossem observadas as condições em que<br />

se dava o processo <strong>de</strong> aprendizagem das crianças. Também foi possível ter contato<br />

com esses alunos na hora das refeições, momento livre, aulas <strong>de</strong> educação física,<br />

ateliês e ativida<strong>de</strong>s externas para verificar suas reações nos <strong>de</strong>mais ambientes da<br />

escola e em contato com outros professores.<br />

As salas <strong>de</strong> aula observadas, inclusive a sala <strong>de</strong> apoio pedagógico,<br />

evi<strong>de</strong>nciam essa questão, pois em suas pare<strong>de</strong>s encontravam-se vários cartazes<br />

com produções coletivas, construídas primeiro oralmente e <strong>de</strong>pois constituídas em<br />

registro escrito, cujos temas remetiam às vivências das crianças.<br />

As salas <strong>de</strong> aula eram bastante confortáveis, abastecidas <strong>de</strong> luz natural e<br />

bem arejadas. As carteiras eram individuais, mas dispostas em grupo <strong>de</strong> quatro ou<br />

<strong>de</strong> dois alunos. A mesa da professora ficava no canto esquerdo da sala e ao lado<br />

havia um espaço reservado para a realização da assembléia (ativida<strong>de</strong> diária em<br />

que as crianças e o docente utilizam-se para conversarem no início e final das<br />

ativida<strong>de</strong>s diárias). As pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cor clara, sustentavam produções coletivas e<br />

individuais das crianças, bem como cartazes e painéis. As salas contavam ainda


69<br />

com um Cantinho <strong>de</strong> Leitura, com livros que os alunos trazem no início do ano,<br />

caracterizado com <strong>de</strong>senhos na pare<strong>de</strong> e almofadas no chão e continham alguns<br />

materiais pedagógicos; como lápis <strong>de</strong> cor, giz, lápis preto, algumas cartilhas, cola,<br />

tesoura, entre outros para uso das crianças, e jogos pedagógicos à disposição dos<br />

professores e dos alunos.<br />

Nessa dinâmica dos espaços utilizados pelos alunos, mostra que os<br />

professores buscavam a todo o momento valorizar as ações das crianças,<br />

consi<strong>de</strong>rando-as construtoras <strong>de</strong> seu conhecimento, e não apenas, meras<br />

receptoras, postura essa que possibilitava trabalhar conteúdos trazidos pelos alunos<br />

<strong>de</strong> sua vivência. Assim, enquanto levava em consi<strong>de</strong>ração os conhecimentos prévios<br />

e os contextos sociais das crianças, estavam permitindo que elas significassem seus<br />

aprendizados.<br />

Os alunos exercitam a autonomia na realização das ativida<strong>de</strong>s em grupo,<br />

observada na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> situações problema, favorecendo assim, a interação<br />

social entre os alunos, <strong>de</strong>ixando que esses formulassem suas hipóteses e se<br />

ajudassem num primeiro momento sem a intervenção da professora. Foi bastante<br />

comum esse movimento em sala <strong>de</strong> aula, também em outras ativida<strong>de</strong>s, as crianças<br />

andavam livremente nos pequenos grupos, comparando respostas, construindo suas<br />

lógicas e discutindo entre si.<br />

Com esse tipo <strong>de</strong> autonomia propiciada aos alunos, as professoras<br />

<strong>de</strong>monstraram ter consciência <strong>de</strong> que a autonomia grupal tem como objetivo a<br />

in<strong>de</strong>pendência e o amadurecimento, não só do processo <strong>de</strong> aprendizagem, mas da<br />

própria formação cognitiva, estimulando-se os aspectos lógicos e racionais da<br />

criança, bem como <strong>de</strong> suas personalida<strong>de</strong>s.


70<br />

A liberda<strong>de</strong> vivenciada pelos alunos condiz também com os pressupostos<br />

espistemlógicos, filosóficos e didáticos pedagógicos da proposta pedagógica da<br />

escola e é tida como condição para o <strong>de</strong>senvolvimento e a aprendizagem, pois<br />

permite ao indivíduo vasto horizonte para pensar, sentir e agir, <strong>de</strong> forma que<br />

<strong>de</strong>sempenhe suas tarefas com espontaneida<strong>de</strong> e responsabilida<strong>de</strong>.<br />

Os alunos trabalham <strong>de</strong> forma lúdica, que é a preocupação constante das<br />

professoras, visto que os alunos passam o dia todo na escola. Várias foram as<br />

oportunida<strong>de</strong>s em que se presenciou brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> roda, músicas, parlendas,<br />

teatro <strong>de</strong> fantoches, competições. Os conteúdos eram previamente planejados pelas<br />

professoras, iam sendo criadas situações que levavam os alunos a investigarem<br />

outras possíveis soluções e a fazerem novas <strong>de</strong>scobertas. Realizando, assim, um<br />

trabalho interdisciplinar que, além <strong>de</strong> flexível, mostrou-se muito produtivo.<br />

Num grupo heterogêneo, com níveis diferentes <strong>de</strong> aprendizagem, a<br />

professora conseguia explorar as diferenças, fazendo com que essas fossem<br />

aliadas, e não entraves no processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem.<br />

Um exemplo disso era a formação dos grupos <strong>de</strong> trabalho em que alunos <strong>de</strong><br />

níveis diferentes eram colocados na mesma mesa <strong>de</strong> forma que aqueles mais<br />

adiantados mediassem o aprendizado daqueles mais atrasados. Isso era possível<br />

<strong>de</strong>vido a uma postura <strong>de</strong> muito respeito pelo <strong>de</strong>senvolvimento do aluno. Essa<br />

interação entre os alunos, juntamente com as mediações entre eles e da professora,<br />

é um gran<strong>de</strong> instrumento no processo <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

Segundo Vigotski (1989), existem dois níveis evolutivos: um nível real, que<br />

indica aquilo que o indivíduo é capaz <strong>de</strong> fazer sozinho; e um nível potencial,<br />

abrangendo tudo aquilo que o sujeito realiza ajudado ou mediado por outro. A partir<br />

<strong>de</strong>sses dois conceitos, Vigotski <strong>de</strong>fine o que chama <strong>de</strong> "zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento


71<br />

proximal – ZDP”, que vem a ser a distância entre esses dois níveis <strong>de</strong> evolução da<br />

criança. A ZPD é o potencial para uma aprendizagem posterior, mas que já está<br />

presente nesse espaço.<br />

Acreditando nesse potencial existente nas crianças, o processo ensinoaprendizagem<br />

em uma turma heterogênea se torna possível, uma vez que as<br />

diferenças po<strong>de</strong>m ser trabalhadas no grupo. Aqueles alunos que se encontram em<br />

um nível inferior po<strong>de</strong>m ser mediados por aqueles mais avançados e seus potenciais<br />

estimulados <strong>de</strong> forma que a aprendizagem se torne concreta.<br />

A valorização para os avanços pessoais também foi característica marcante<br />

na prática observada. Era comum escutar palavras <strong>de</strong> incentivo aos alunos, como:<br />

"Parabéns, que <strong>de</strong>lícia, como você está lendo bem!"; "Que coisa boa! Fico feliz <strong>de</strong><br />

todos terem cumprido a tarefa!”; "Vocês estão craques na leitura e dizem que não<br />

sabem!"; "Olhem o ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> A. como está bonito!”.<br />

É em seu seio familiar que a criança <strong>de</strong>senvolve prioritariamente suas<br />

habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> socialização, bem como conceitos que serão percebidos em todo o<br />

seu posicionamento social.<br />

Desse modo, para conhecer o olhar da família sobre a escola, os pais das<br />

crianças selecionadas para o apoio foram chamados e ouvidos nas <strong>de</strong>pendências da<br />

escola.<br />

A apuração das entrevistas (Apêndice 1) foi em forma <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong> uma<br />

síntese e posteriormente a elaboração do texto <strong>de</strong> cada família entrevistada, o qual<br />

foi <strong>de</strong>senhado ao longo do contato com os envolvidos.<br />

Os dados foram coletados junto à escola, através dos alunos do apoio,<br />

professores do Nível e os pais dos alunos envolvidos. O material dirigido aos<br />

professores (Apêndice 2) contou inicialmente com dados em relação aos alunos


72<br />

selecionados, as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, o que conheciam sobre as famílias,<br />

participação da família na escola; dados dos conselhos <strong>de</strong> avaliação do 3º e 4º<br />

Bimestres (Anexo 3); registros <strong>de</strong>scritivos do <strong>de</strong>senvolvimento escolar dos alunos<br />

do 3º e 4º Bimestres, em relação ao professor, anos <strong>de</strong> magistério, grau <strong>de</strong> instrução<br />

e sua visão frente os problemas <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

Foi possível, durante a pesquisa, acompanhar algumas ações da<br />

coor<strong>de</strong>nação como seções <strong>de</strong> orientação no grupo, planejamentos, conversas com<br />

professores, atendimento aos pais e alunos e a realização do conselho <strong>de</strong> avaliação<br />

que é um momento extraordinário que ocorre na escola pelo encaminhamento dado.<br />

Durante a pesquisa o trabalho foi sendo construído e reconstruído passo a<br />

passo com o grupo envolvido. As mudanças, os ajustes e as reformulações foram<br />

sempre discutidos, com base nas questões observadas no <strong>de</strong>correr da pesquisa, no<br />

contato com os professores, alunos e seus familiares, e sustentadas pelo suporte<br />

teórico <strong>de</strong> autores que travam sobre dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem e família. Dentre<br />

eles <strong>de</strong>stacam-se: Weisz (2002); Corinn & Smith e Strck (2001); Bossa (2000);<br />

Mainar<strong>de</strong>s (1999); Drouet (1997); Visca, Morais e Guimarães (1991); e Capra<br />

(1982).<br />

É o momento em que a teoria e a prática se travavam para iluminar o novo<br />

caminho. Evi<strong>de</strong>ntemente, não existe prática que não esteja ligada a alguma teoria.<br />

De acordo com Paulo Freire (1996), ”nada mais prático que uma boa teoria”.<br />

Mediante as reflexões que se faziam entre os professores nos encontros,<br />

sobre as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem dos alunos, percebia-se a inquietu<strong>de</strong> dos<br />

professores em estarem reorganizando suas práticas, refletindo sobre a forma com<br />

que a encaminhavam em sala <strong>de</strong> aula.


73<br />

Foi então sugerido a coor<strong>de</strong>nação pedagógica da escola, como tema para<br />

formação continuada <strong>de</strong> professores, “a construção do conhecimento”, para aten<strong>de</strong>r<br />

a necessida<strong>de</strong> dos professores em enten<strong>de</strong>r como se dava o processo <strong>de</strong> aquisição<br />

do conhecimento como um todo. Ao ser colocado ao grupo <strong>de</strong> professores, do<br />

Projeto <strong>de</strong> Formação Continuada, <strong>de</strong>senvolvido no CAIC, eles gostaram do tema e<br />

se dispuseram a participar.<br />

Nesse sentido, parte-se do pressuposto <strong>de</strong> que trabalhar a partir dos interesses<br />

dos professores, possibilita maior garantia <strong>de</strong> sucesso ao trabalho. O encontro<br />

aconteceu <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>scontraída e natural, on<strong>de</strong> todos colocaram seus pontos <strong>de</strong><br />

vista e aprofundaram seus conhecimentos. Juntamente com o referencial teórico<br />

para subsidiar o trabalho em sala <strong>de</strong> aula, os professores refletiam, apontavam os<br />

pensamentos, compartilhavam angústias, dúvidas, <strong>de</strong>scobertas; sempre<br />

socializando com o grupo os encaminhamentos adotados no dia a dia.<br />

3.2 Análise dos Dados<br />

Foram utilizados os procedimentos da pesquisa qualitativa, pois segundo<br />

Lüdke e Andre (1986), o estudo qualitativo é aquele que se <strong>de</strong>senvolve numa<br />

situação natural, é rico em dados <strong>de</strong>scritivos, tem um plano aberto e flexível e lança<br />

um olhar sobre a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma complexa e contextualizada.<br />

Na pesquisa qualitativa o pesquisador atua no meio em que <strong>de</strong>senvolve a<br />

pesquisa com o todo. E pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlar a investigação, tem um foco<br />

<strong>de</strong> estudo.


74<br />

Bogdan e Biklen (1994) apresentam cinco características básicas que<br />

configuram esse tipo <strong>de</strong> estudo: na investigação qualitativa a fonte direta <strong>de</strong> dados é<br />

o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal; a<br />

investigação qualitativa é <strong>de</strong>scritiva; os investigadores qualitativos interessam-se<br />

pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos.<br />

Como instrumento mais viável para a coleta <strong>de</strong> dados, consi<strong>de</strong>rou-se a<br />

entrevista semi-estruturada, pois como coloca Lüdke (1986, p. 34): “permite a<br />

captação imediata e corrente da informação <strong>de</strong>sejada, praticamente com qualquer<br />

tipo <strong>de</strong> informante e sobre os mais variados tópicos”.<br />

Porém, <strong>de</strong>ve-se levar em consi<strong>de</strong>ração o alerta do mesmo autor para o<br />

momento da entrevista:<br />

O entrevistador precisa estar atento não apenas (e não rigidamente,<br />

sobretudo) ao roteiro pré-estabelecido e às respostas verbais que vai<br />

obtendo ao longo da interação... e que é muito importante para a<br />

validação do que foi efetivamente dito. (LÜDKE,1986, p. 36).<br />

Assim, o entrevistador estabelece um momento <strong>de</strong> interação com o<br />

entrevistado, po<strong>de</strong>ndo ser um momento autêntico <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> informações. Para<br />

<strong>de</strong>limitação do objeto <strong>de</strong> estudo, consi<strong>de</strong>rou-se o apontamento da escola e dos<br />

professores acerca <strong>de</strong> quais seriam os casos <strong>de</strong> Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Aprendizagem em<br />

seus grupos.<br />

O material coletado exigiu uma síntese dos dados principais <strong>de</strong> cada aluno,<br />

conforme objetivos propostos para <strong>de</strong>senvolver o trabalho.<br />

Adotou-se um olhar sistêmico, on<strong>de</strong> as partes só po<strong>de</strong>m ser entendidas a<br />

partir do todo numa <strong>teia</strong> inseparável <strong>de</strong> <strong>relações</strong>.<br />

Procurou-se tecer o olhar dos professores, o olhar da família, o olhar do<br />

aluno, o olhar das pesquisadoras. As questões abordadas com os professores e


75<br />

coor<strong>de</strong>nação registram a postura do educador frente aos alunos com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

aprendizagem, bem como, a importância conferida aos mesmos na práxis<br />

pedagógica. Também a participação da família na escola, e se houve articulação<br />

entre professores e família.<br />

Nas entrevistas realizadas com as famílias, as respostas mostram se<br />

percebem os problemas <strong>de</strong> aprendizagem dos filhos e as razões que atribuem a<br />

essas dificulda<strong>de</strong>s. Como é o ambiente familiar e se esse ambiente propicia a<br />

aprendizagem em relação ao trabalho realizado pela escola, e como é a relação<br />

escola e família.<br />

As falas dos alunos esclarecem se reconhecem as suas dificulda<strong>de</strong>s e o que<br />

as causou, suas necessida<strong>de</strong>s e sugestões sobre as suas famílias, <strong>de</strong> como<br />

estudam em casa, como são na escola, como recebem a ajuda das professoras e o<br />

que foi estudar no CAIC em 2005.<br />

Mediante a pesquisa realizada, apontam-se estratégias validadas <strong>de</strong> trabalho<br />

com as famílias <strong>de</strong> crianças com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem numa abordagem <strong>de</strong><br />

relação sistêmica entendida como aquela em que todos os envolvidos no processo<br />

são co-responsáveis pelo <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem dos alunos.<br />

3.2.1 Olhar do Professor<br />

A estrutura atual do sistema educativo coloca o professor como um<br />

profissional que <strong>de</strong>ve pertencer e agir em diferentes subsistemas ao mesmo tempo.<br />

O fato <strong>de</strong> estar em uma escola pressupõe estar inserido em uma comunida<strong>de</strong> com<br />

suas características peculiares. Da mesma forma, a ação educativa da escola, não<br />

po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>svinculada das funções educativas dos pais dos alunos, e


76<br />

conseqüentemente, o professor também <strong>de</strong>ve manter contato com eles, numa ação<br />

conjunta, cada um <strong>de</strong>sempenhando sua função, auxiliando nas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

aprendizagem das crianças.<br />

As dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem i<strong>de</strong>ntificadas como as mais comuns foram:<br />

na compreensão dos conteúdos e textos na falta <strong>de</strong> concentração e atenção,<br />

dificulda<strong>de</strong> na leitura e na escrita, na lentidão e raciocínio lógico. Aspectos<br />

constatados em sala <strong>de</strong> aula e no apoio pedagógico.<br />

Pu<strong>de</strong>ram-se observar os avanços e dificulda<strong>de</strong>s dos alunos frente ao seu<br />

processo <strong>de</strong> ensino aprendizagem. Sem o intuito <strong>de</strong> julgar a prática dos professores.<br />

No quarto bimestre, em relação às dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem e avanços,<br />

registrou-se o processo:<br />

“Seu tempo <strong>de</strong> concentração é pequeno. Compreen<strong>de</strong> as mensagens dos textos<br />

lidos e escritos, somente das questões simples, necessitando <strong>de</strong> auxílio. Na<br />

matemática, seu raciocínio lógico melhorou, compreen<strong>de</strong>u as quatro operações.<br />

Necessita <strong>de</strong> acompanhamento do professor para um bom andamento <strong>de</strong> sua<br />

aprendizagem. Teve um avanço significativo no segundo semestre. Suas<br />

dificulda<strong>de</strong>s eram relevantes em todas as áreas.” (P. B –A4)<br />

“Ficou claro após a apresentação e <strong>de</strong>senvolvimento dos conteúdos que a aluna,<br />

em Língua Portuguesa lê com ritmo, fluência e baixa entonação. Produz textos<br />

sem coerência e conteúdo. Somente com o auxílio dos professores ela<br />

compreen<strong>de</strong> o sentido <strong>de</strong> mensagens orais e escritas e realiza análise gramatical<br />

<strong>de</strong> palavra e frases. Na Matemática, realiza as quatro operações com números<br />

inteiros e <strong>de</strong>cimais sob interferência das professoras, ocorrendo o mesmo com a<br />

interpretação <strong>de</strong> problemas, i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> massa, capacida<strong>de</strong> e<br />

diferença entre perímetro e área.” (P. B –A 3)<br />

“Em Língua Portuguesa lê sem ritmo, pouca fluência e baixa entonação. Seus<br />

textos têm pouca coerência e conteúdo, a compreensão <strong>de</strong> mensagens e textos<br />

só acontece em muitas vezes com a interferência das professoras, ocorrendo o<br />

mesmo com sua análise gramatical. Em matemática a aluna apresentou<br />

progressos quanto a compreensão das quatro operações e o uso <strong>de</strong> números<br />

<strong>de</strong>cimais nas mesmas, mostrando-se aquém no referente a interpretação <strong>de</strong><br />

problemas, i<strong>de</strong>ntificando parcialmente as medidas <strong>de</strong> massa e capacida<strong>de</strong> e a<br />

diferença entre perímetro e área.” (P. A –A2)<br />

“Em Língua Portuguesa melhorou o ritmo, a fluência e a entonação em suas<br />

leituras, sendo necessário ainda aprimorá-los; seus textos apresentam conteúdo,<br />

mas pouca coerência; a compreensão <strong>de</strong> mensagens orais e escritas muitas<br />

vezes ocorre com a interferência dos professores, ocorrendo o mesmo com a<br />

análise gramatical. Na matemática, a aluna apresentou progressos quanto a<br />

compreensão das quatro operações e o uso <strong>de</strong> números <strong>de</strong>cimais nas mesmas,<br />

necessitando do auxílio dos professores quanto a interpretação <strong>de</strong> alguns


77<br />

problemas. I<strong>de</strong>ntificando as medidas <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> e massa e compreen<strong>de</strong>ndo<br />

parcialmente a diferença entre perímetro e área.” (P. A – A1)<br />

“Em Língua Portuguesa lê sem ritmo, fluência e entonação. Produz textos<br />

coerentes e <strong>de</strong> pouco conteúdo. Interpreta o sentido <strong>de</strong> mensagens orais,<br />

necessitando <strong>de</strong> auxílio do professor quanto à escrita, ocorrendo o mesmo com<br />

sua análise gramatical e <strong>de</strong> palavras e frases. Em matemática realiza as quatro<br />

operações com números inteiros e fracionários, necessitando por vezes da<br />

interferência dos professores quanto a interpretação dos problemas.” (P. A – A 7)<br />

“Em Língua Portuguesa lê com ritmo, pouca fluência e baixa entonação. Produz<br />

textos por vezes coerentes, sendo impossível fazer um diagnóstico mais preciso<br />

uma vez que os mesmos nunca são concluídos em tempos além dos<br />

<strong>de</strong>terminados. Compreen<strong>de</strong> mensagens orais e escritas e realiza parcialmente a<br />

análise gramatical <strong>de</strong> palavras e frases. Na matemática, resolve as quatro<br />

operações com números inteiros e fracionários mediante o auxílio direto dos<br />

professores, ocorrendo o mesmo com problemas, i<strong>de</strong>ntificação das medidas <strong>de</strong><br />

massa e capacida<strong>de</strong> e diferença <strong>de</strong> área e perímetro.” (P. A – A 6)<br />

“Em Língua Portuguesa lê sem ritmo, tem pouca fluência e baixa entonação,<br />

produz textos com pouca coerência e conteúdo; a compreensão <strong>de</strong> mensagens<br />

orais e escritas por vezes só acontece mediante interferência dos professores,<br />

ocorrendo o mesmo com sua análise gramatical. Na matemática, a aluna<br />

apresentou progressos quanto a compreensão das quatro operações e o uso <strong>de</strong><br />

números <strong>de</strong>cimais nas mesmas, no entanto <strong>de</strong>ixou a <strong>de</strong>sejar no referente a<br />

interpretação <strong>de</strong> problemas. I<strong>de</strong>ntificando parcialmente as medidas <strong>de</strong> massa e<br />

capacida<strong>de</strong> e a diferença entre perímetro e área.” (P. A – A 5)<br />

“Em Língua Portuguesa lê com pouca fluência, ritmo e entonação, apresentando<br />

textos fracos <strong>de</strong> conteúdo e sem coerência. Compreen<strong>de</strong> o sentido <strong>de</strong> mensagens<br />

orais e escritas somente com interferência dos professores o mesmo com a<br />

interferência dos professores o mesmo com análise gramatical <strong>de</strong> frases.Na<br />

Matemática resolve as quatro operações com números inteiros e <strong>de</strong>cimais, com<br />

interferência dos professores. O mesmo se proce<strong>de</strong>ndo com a interpretação dos<br />

problemas, a i<strong>de</strong>ntificação das medidas <strong>de</strong> massa e capacida<strong>de</strong> e a diferença<br />

entre perímetro e área.” (P. B- A 8)<br />

“Em Língua Portuguesa lê sem ritmo, pouca fluência e baixa entonação, não<br />

<strong>de</strong>monstrando interesse pela leitura. Fato esse que interfere nas suas produções<br />

<strong>de</strong> textos, as quais são ricas <strong>de</strong> vocabulário, coerência e conteúdo, estando<br />

aquém no referente à gramática e ortografia. Compreen<strong>de</strong> parcialmente o sentido<br />

<strong>de</strong> mensagens orais e escritas, ocorrendo o mesmo com análise gramatical das<br />

palavras e frases. Na Matemática só resolve as quatro operações com auxílio das<br />

professoras, ocorrendo o mesmo com sua interpretação <strong>de</strong> texto. I<strong>de</strong>ntifica<br />

parcialmente as medidas <strong>de</strong> massa e capacida<strong>de</strong> e diferencia área <strong>de</strong> perímetro.”<br />

(P. B – A 9)<br />

“Em Língua Portuguesa lê com pouca fluência, ritmo e entonação, apresentando<br />

textos Coerentes mas com pouco conteúdo, interpreta o sentido <strong>de</strong> mensagens<br />

orais e escritas na maioria das vezes com auxílio dos professores,ocorrendo o<br />

mesmo com análise gramatical das palavras. Em matemática melhorou o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das quatro operações, necessitando por vezes da interferência<br />

dos professores quando as mesmas envolvem números <strong>de</strong>cimais e situações<br />

problema. Não sendo diferente quanto a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> massa e<br />

capacida<strong>de</strong> e a diferença entre perímetro e área.” (P. B – A 10)


78<br />

As queixas sobre os alunos que participaram do apoio pedagógico são várias.<br />

Não conseguem parar quietos e nem acabar as ativida<strong>de</strong>s, não têm concentração,<br />

não conseguem pren<strong>de</strong>r a atenção em <strong>de</strong>terminada ativida<strong>de</strong> por muito tempo e<br />

recusam-se a fazer, interferindo assim na apropriação do conhecimento. Como<br />

expressam a seguir os professores sobre os seus alunos:<br />

“É uma aluna difícil <strong>de</strong> se trabalhar, não pára quieta. No início do ano não aceitava<br />

a interferência das professoras.” (P. B – A2)<br />

“A maior dificulda<strong>de</strong> que encontro é na atenção e produção <strong>de</strong> textos com relação<br />

a responsabilida<strong>de</strong> e conclusão das ativida<strong>de</strong>s.” (P. B –A1)<br />

O trabalho realizado com essas crianças exige um esforço coor<strong>de</strong>nado entre<br />

os profissionais da escola que po<strong>de</strong>m contar com a ajuda da família, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong><br />

uma boa orientação, a todos os envolvidos.<br />

Nesse contexto, faz-se necessário que a escola esteja preparada para<br />

trabalhar com essas crianças e orientar os professores, pois, nas palavras <strong>de</strong><br />

McLaren (1977, p. 253): “a voz dos professores reflete valores, i<strong>de</strong>ologias e<br />

princípios estruturais, que os professores usam para enten<strong>de</strong>r e mediar histórias<br />

culturas e subjetivida<strong>de</strong>s dos estudantes”.<br />

Para que os alunos tenham aprendizado proveitoso, os professores precisam<br />

compreen<strong>de</strong>r as várias maneiras que eles dispõem para constituir suas percepções<br />

e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. Ou seja, os professores precisam enten<strong>de</strong>r como as experiências<br />

produzidas nos vários domínios da vida cotidiana produzem, por sua vez, as<br />

diferentes vozes que os alunos empregam para dar sentido ao seu mundo e,<br />

conseqüentemente, a sua existência na socieda<strong>de</strong>. É crucial que os professores<br />

consi<strong>de</strong>rem como o ambiente em que estão inseridos, é experienciado, mediado e<br />

produzido pelos alunos, uma falha nesse ponto impedirá não apenas que os<br />

professores penetrem nas motivações, emoções e interesses que constituem a


79<br />

singularida<strong>de</strong> da voz dos alunos, mas também dificultará a criação do próprio<br />

momento <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

Ser professor, portanto, tem um novo significado. Exige ter consciência da<br />

intencionalida<strong>de</strong> do ato <strong>de</strong> ensinar, para planejar uma intervenção eficiente e eficaz<br />

no nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento em que o aluno se encontra, <strong>de</strong>safiando-o a superar<br />

seus próprios limites. É saber do contexto familiar do aluno. É ser capaz <strong>de</strong><br />

organizar situações <strong>de</strong> aprendizagem que envolvam a todos os alunos, sem se<br />

<strong>de</strong>scuidar daqueles que apresentam qualquer tipo <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong><br />

que os impeçam <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r. É ter coragem <strong>de</strong> tomar <strong>de</strong>cisões conscientes no<br />

sentido <strong>de</strong> comprometer-se com todos e com cada um.<br />

A integração das famílias e dos professores ocorreu durante as reuniões<br />

pedagógicas bimestrais, e nos momentos em que foram chamados pela<br />

coor<strong>de</strong>nação on<strong>de</strong> os professores participam da conversa, como no <strong>de</strong>poimento<br />

abaixo:<br />

“Eram nas reuniões pedagógicas que tínhamos contato com as famílias. Em<br />

outros momentos o contato quase não ocorreu.” (P. B)<br />

“Não conheço a maioria das famílias dos alunos, não tinha essa visão.” (P. I.)<br />

Constatou-se pelos relatos, que os professores não conheciam aspectos<br />

relevantes da vida familiar dos alunos e evi<strong>de</strong>nciaram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer<br />

essa relação com a família, porque esperam que os pais colaborem nos estudos em<br />

casa:<br />

“É <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para a aprendizagem, os pais que tomam consciência<br />

das dificulda<strong>de</strong>s procuram juntos com os professores uma maneira <strong>de</strong> ajudar seus<br />

filhos em casa.” (P. B)


80<br />

As dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem po<strong>de</strong>m aparecer quando se exige que a<br />

criança realize ativida<strong>de</strong>s para as quais ainda não está capacitada, apresentando-se<br />

lentas para respon<strong>de</strong>r às solicitações dos professores. Porém, quando recebem<br />

atenções pedagógicas a<strong>de</strong>quadas, essas dificulda<strong>de</strong>s ten<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>saparecer, ou<br />

mesmo seus efeitos.<br />

As dificulda<strong>de</strong>s mais comuns citadas pelos professores são também as<br />

dificulda<strong>de</strong>s encontradas na maioria das vezes em todas as salas <strong>de</strong> aula. Portanto<br />

o professor <strong>de</strong>ve estar sempre atento para conhecer o seu aluno, <strong>de</strong>tectar as<br />

dificulda<strong>de</strong>s, investigar as causas; enfim, ter conhecimento <strong>de</strong>ssas dificulda<strong>de</strong>s, o<br />

que facilitará o avanço da criança na aprendizagem.<br />

Após diagnosticado, a real dificulda<strong>de</strong> do aluno, todos passaram a estar<br />

cientes do seu papel, buscando subsídios teóricos metodológicos, refletindo em<br />

conjunto com a coor<strong>de</strong>nação para a utilização <strong>de</strong> estratégias que pu<strong>de</strong>ssem<br />

melhorar o ensino aprendizagem das crianças com dificulda<strong>de</strong>s.<br />

Observa-se que as professoras procuraram dar atendimento individual, dando<br />

atenção maior aos alunos que necessitavam. Sentiam-se integradas com o trabalho<br />

<strong>de</strong>senvolvido na sala <strong>de</strong> aula e no apoio pedagógico proporcionado pela escola.<br />

Estavam em contato constantemente com as pesquisadoras para <strong>de</strong>senvolver ações<br />

que possibilitassem o crescimento dos alunos, afirmando quando em encontros para<br />

avaliação que:<br />

“Possibilito bastante diálogo, valorização do trabalho, atendimento das<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada aluno.” (P. A)<br />

“Valorizo a relação com o aluno, assim passam a ser seguros e participativos.” (P.<br />

B)<br />

“Procuro <strong>de</strong>spertar o interesse dos alunos pelos estudos, partindo <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ele<br />

sabe.” (P. I)


81<br />

Sobre os encaminhamentos adotados parecem estar seguras, pois enquanto<br />

refletem sobre a questão explicitam:<br />

“O professor que aten<strong>de</strong> melhor os alunos com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem é<br />

aquele que busca <strong>de</strong>senvolver o potencial <strong>de</strong> cada um, perceber os pontos fortes<br />

e superar os pontos fracos.” (P. B)<br />

“Deve ter disponibilida<strong>de</strong> e boa vonta<strong>de</strong> para discutir, pesquisar, buscar<br />

estratégias, trabalhar em equipe, estar sempre em contato com a família e a<br />

coor<strong>de</strong>nação pedagógica.” (P. B)<br />

Nessas falas percebe-se o envolvimento dos professores com as questões <strong>de</strong><br />

ensino aprendizagem.<br />

Ao serem questionadas sobre os pontos fortes dos alunos, alvo da ação<br />

intensiva, os professores reconheceram a complexida<strong>de</strong> do apren<strong>de</strong>r, suas<br />

qualida<strong>de</strong>s, seu esforço, a forma que cada um tem para apren<strong>de</strong>r; o respeito pelos<br />

professores, o interesse e <strong>de</strong>sejo em apren<strong>de</strong>r e caprichar, a afetivida<strong>de</strong> que<br />

<strong>de</strong>monstram e a alegria ao apren<strong>de</strong>r. Expondo assim, a visão sobre a aprendizagem.<br />

Nessa situação, Perrenoud (2001, p. 24) coloca:<br />

Apren<strong>de</strong>r é uma ativida<strong>de</strong> complexa, frágil, que mobiliza a imagem<br />

<strong>de</strong> si mesmo, o fantasma, a confiança, a criativida<strong>de</strong>, o gosto pelo<br />

risco, e pela exploração, a angústia, o <strong>de</strong>sejo, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, aspectos<br />

fundamentais no âmbito pessoal e cultural.<br />

Isto po<strong>de</strong> ser percebido nas falas dos professores:<br />

“A aluna apesar <strong>de</strong> suas dificulda<strong>de</strong>s que são muitas, <strong>de</strong>monstra atenção e<br />

interesse pelos estudos, motiva-se com os <strong>de</strong>safios nas ativida<strong>de</strong>s.” (P. I.)<br />

“As dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste aluno não o impe<strong>de</strong>m <strong>de</strong> ser caprichoso com seu material<br />

ele é muito afetivo, é uma criança que busca pelo esforço a construção do<br />

conhecimento.” (P. A)<br />

“Quando conseguem terminar as ativida<strong>de</strong>s correm mostrar, ficam alegres pelo<br />

avanço, e eu fico feliz junto com eles, às vezes uns auxiliam os outros.” (P. B)


82<br />

Nesse contexto é preciso consi<strong>de</strong>rar que essas crianças possuem atenção<br />

especial, um atendimento individualizado. É trabalho da escola, ou <strong>de</strong>veria ser,<br />

exatamente, <strong>de</strong>spertar seus alunos a apreciarem as alegrias do conhecimento e a<br />

curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> querer conhecer, pois é o conhecimento que permite uma melhor<br />

compreensão dos diversos aspectos do ambiente, favorecendo a curiosida<strong>de</strong><br />

intelectual, estimulando o senso crítico, o que é fundamental para a aquisição da<br />

autonomia e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão. Como afirma Delors (2001, p. 90):<br />

“Este tipo <strong>de</strong> aprendizagem que visa não tanto a aquisição <strong>de</strong> um repertório <strong>de</strong><br />

saberes codificados, mas antes o domínio dos próprios instrumentos do<br />

conhecimento po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado, simultaneamente, como meio e como uma<br />

finalida<strong>de</strong> da vida humana”.<br />

Faz-se necessário um professor que tenha um olhar insistentemente ético e<br />

responsável sobre o seu fazer e sobre o que <strong>de</strong>vem conhecer e fazer seus alunos.<br />

Com trabalhos que tenham significado, sem ignorar o que a criança já sabe, aspecto<br />

que fica evi<strong>de</strong>nte na fala dos professores ao serem questionadas sobre o<br />

encaminhamento metodológico para fechar os objetivos:<br />

"O meu objetivo, o objetivo principal... a partir <strong>de</strong> suas realida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um<br />

contexto significativo para eles.” (P. B)<br />

O professor estará insistindo na aprendizagem <strong>de</strong> seus alunos e vibrando<br />

com suas conquistas, porque também são suas. Investindo assim, no que acredita<br />

que seus alunos são capazes <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r e transformar a realida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> estão<br />

inseridos.<br />

Um momento essencial que ocorre na escola e po<strong>de</strong> colaborar com o<br />

encaminhamento dos professores, sendo muito valorizado na fala das professoras, é


83<br />

a formação continuada, on<strong>de</strong> se trabalhou com todos os professores e coor<strong>de</strong>nação<br />

pedagógica sobre a construção do conhecimento:<br />

“Eu acredito no trabalho que eu faço, eu gosto do que eu faço, porque, às vezes,<br />

as pessoas estão professoras, mas não são professoras por vonta<strong>de</strong> só, porque é<br />

a oportunida<strong>de</strong>. No meu caso, não. Des<strong>de</strong> pequenina, eu brincava era <strong>de</strong><br />

professora, me encontro na profissão. Busco significar o ensino para meu aluno...<br />

este espaço <strong>de</strong> formação que temos me ajuda a crescer.” (P. A)<br />

Por esse <strong>de</strong>poimento, é possível verificar a ligação que a professora faz entre<br />

a profissão e a realização pessoal, confirmando o que dizem vários teóricos que<br />

quanto mais uma pessoa gostar <strong>de</strong> seu trabalho, maior será sua satisfação pessoal<br />

e maior será seu empenho para realizá-lo da melhor maneira possível. Ao dizer que<br />

"se encontra na profissão", indica o quanto está envolvida na docência ao ponto <strong>de</strong><br />

se refletir e se i<strong>de</strong>ntificar como pessoa quando está trabalhando.<br />

3.2.2 Olhar da Família<br />

O encontro dos pais com a escola se <strong>de</strong>u em momentos <strong>de</strong> reuniões ou<br />

quando foram chamados pela coor<strong>de</strong>nação. Os encontros eram agradáveis e os<br />

pais eram atraídos <strong>de</strong> forma simpática para eles. Na semana que antecedia a<br />

reunião os alunos levavam para casa avisos, recadinhos, bilhetes e carinhos para os<br />

pais e combinavam on<strong>de</strong> colocariam tais avisos. Uns eram colocados na gela<strong>de</strong>ira,<br />

outros <strong>de</strong> baixo do prato antes das refeições e teve até a sugestão <strong>de</strong> ser colocado<br />

no sapato dos pais antes <strong>de</strong> saírem para o trabalho.<br />

A respeito do comparecimento dos pais às reuniões, observou-se presença<br />

bem elevada; acontecem <strong>de</strong> forma amistosa, todos se respeitam, os pais tem vez e


84<br />

voz. As reuniões pedagógicas prece<strong>de</strong>m <strong>de</strong> uma pauta pré-estabelecida, uma<br />

mensagem e assuntos levantados pelos pais. Acontecem bimestralmente, sendo<br />

que no terceiro bimestre foi por agendamento. Os grupos são divididos em três subgrupos<br />

<strong>de</strong> acordo com as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>tectadas no <strong>de</strong>correr do bimestre, tendo<br />

assim pautas e dinâmicas específicas para serem tratadas na reunião com os pais.<br />

No quarto bimestre a reunião, foi geral, on<strong>de</strong> todos os pais participam nos primeiros<br />

momentos juntos. Posteriormente, seguem para as salas <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> seus filhos para<br />

tratarem questões específicas.<br />

O que se percebe é que são poucos os pais que faltam às reuniões. Sendo<br />

que segundo a coor<strong>de</strong>nação, são precisamente aqueles pais que <strong>de</strong>veriam estar<br />

presentes porque seus filhos estão com problemas nos estudos. Esses pais, só vêm<br />

se convocados. É que a escola faz após as reuniões. Acontecendo uma segunda<br />

chamada aos que não compareceram. Existe um incentivo aos pais, o que faz a<br />

diferença.<br />

Para perceber o contexto familiar on<strong>de</strong> o aluno vive, realizou-se a<br />

caracterização das famílias, sua situação sócio-econômica, composição, religião,<br />

relacionamentos, os objetivos da família, a interação, como acontece a autorida<strong>de</strong>, o<br />

respeito, a comunicação, a afetivida<strong>de</strong>, os conflitos e fortalezas, pois,<br />

ao analisarmos a família como um todo, estamos valorizando o<br />

aspecto da globalida<strong>de</strong> do sistema que difere do somatório das<br />

partes (teoria geral dos sistemas) e o aspecto <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong>, em<br />

que cada membro influencia e é influenciado pelo comportamento do<br />

outro. (POLITY, 2004, p. 98).<br />

Dos <strong>de</strong>z alunos que participavam do apoio pedagógico, os quais foram foco<br />

da pesquisa somente cinco famílias aten<strong>de</strong>ram a solicitação, sendo que, em duas<br />

famílias compareceu o casal e nas <strong>de</strong>mais somente a mãe. Os dados levantados<br />

com essas famílias serão abordados primeiramente. E em seguida, abordar-se-á, os


85<br />

dados das famílias que não compareceram à escola, os quais foram obtidos através<br />

<strong>de</strong> análise documental e com a coor<strong>de</strong>nação pedagógica.<br />

A – Pais que aten<strong>de</strong>ram as solicitações da escola<br />

Os pais entrevistados são católicos e todos se casaram muito jovens, com<br />

ida<strong>de</strong> entre quinze e vinte anos. O tempo <strong>de</strong> casamento varia <strong>de</strong> onze a trinta e um<br />

anos. O relacionamento em família é valorizado, buscam um no outro a força para<br />

continuar em frente, o que esteve muito presente nas falas:<br />

“Nosso relacionamento <strong>de</strong> confiança é mutuo, um não faz nada sem o outro saber,<br />

nosso alicerce é a nossa união” (F4)<br />

“O vinculo existente em nossa relação é muito forte. Um sente a falta do outro para<br />

realizar o que já é <strong>de</strong> costume durante muitos anos <strong>de</strong> convivência.” (F3)<br />

O número <strong>de</strong> filhos na família varia <strong>de</strong> um a oito. O nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> é<br />

bastante diversificado e a maioria possui o ensino fundamental incompleto. Uma<br />

família é analfabeta e outra os pais voltaram a estudar para completar o ensino<br />

médio. A renda familiar é baixa, varia <strong>de</strong> um a dois salários mínimos provenientes <strong>de</strong><br />

aposentadorias, empregos como enfermeiro, mecânico, mensalista e diarista e<br />

serviços gerais. A maioria das famílias possui casa própria financiada pelo governo e<br />

prefeitura, apenas uma paga aluguel. O lazer e os passeios não são presentes nas<br />

famílias. Possuem como objetivos uma boa educação, investir na espiritualida<strong>de</strong>,<br />

convivência harmoniosa, sucesso nos estudos, assegurar um futuro melhor aos<br />

filhos e empregos fixos, revelados em falas do tipo:<br />

“Ver os filhos crescerem educados com formação, porque o mundo está difícil<br />

(drogas, violência) porque cada vez mais está difícil conviver com os outros<br />

(precisa saber o que fala e para quem fala e escolher muito bem as amiza<strong>de</strong>s),<br />

para que meus filhos sejam felizes e que tenham orgulho da família para dizer<br />

“valeu a pena.” (F1)


86<br />

“Conseguir terminar meus estudos para acompanhar o filho e também para<br />

garantir emprego melhor. Sem estudo não tem emprego, ter emprego fixo,<br />

terminar <strong>de</strong> pagar a casa. E ter mais tempo para cuidar da educação do filho.” (F7)<br />

Percebe-se que a interação entre os membros familiares acontece pelo<br />

vínculo conseguido pelas famílias, mediante o diálogo, pois se auto-afirmam nos<br />

princípios estipulados na mesma. E, nas palavras <strong>de</strong> Polity (2004, p. 183), “nas<br />

famílias em que existe uma maior circulação do conhecimento, há um estímulo e<br />

uma autorização na busca do apren<strong>de</strong>r”.<br />

A autorida<strong>de</strong> está voltada na figura da mãe, sendo a comunicação mediada<br />

por elas. Não <strong>de</strong>monstraram dificulda<strong>de</strong>s em estar estabelecendo limites, porém,<br />

reconhecem a necessida<strong>de</strong> do maior envolvimento do pai. Os filhos são obedientes<br />

e a i<strong>de</strong>ntificação e o respeito pelos pais parece existir. Em relação às fortalezas, fica<br />

explícito, que as encontram no convívio familiar, pela união, nos pais pelo exemplo,<br />

na fé em Deus e no amor. Como transparece nas falas a seguir:<br />

“Converso muito com o meu esposo para que entenda a importância <strong>de</strong> ser mais<br />

firme com nosso filho pois acredito ser necessário estabelecer limites <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo<br />

para que consiga resolver conflitos mais tar<strong>de</strong>... Procuramos <strong>de</strong>sfrutar os<br />

momentos juntos. O amor é a base que une nossa família. Quando temos tempo,<br />

procuramos estar juntos estimulando os nossos filhos o respeito pelas pessoas,<br />

procuramos divertimento sadio passeando e convivendo em família. Transmitimos<br />

a importância <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> confiança, aberta espontânea com muita<br />

sincerida<strong>de</strong>.” (F7)<br />

”A comunicação acontece lá em casa, mas tem que saber a hora para conversar<br />

sobre problemas, é que as vezes o “seu Luiz” se estressa por pouca coisa.” (F1)<br />

“Nossos filhos participam das <strong>de</strong>cisões familiares, <strong>de</strong>ixando bem claro como são<br />

as coisas, cobram a boa educação, preferem ficar calados à brigar. Não proibimos<br />

nada, mas eles sabem das regras se aprontar não vão mais.” (F2)<br />

“Os filhos i<strong>de</strong>ntificam-se com o pai vendo nele o exemplo para o trabalho.” (F4)<br />

“Só po<strong>de</strong>mos educar nossos filhos pelo nosso exemplo, um conversando e<br />

respeitando o outro e quando há brigas tentamos se resolver, o que não po<strong>de</strong> é<br />

ficar <strong>de</strong> mal, com muita fé em Deus nos fortalecemos para viver.” (F3)


87<br />

As imagens das famílias precisavam ser tecidas para olhá-las mais <strong>de</strong> perto.<br />

Aproximando-se das questões familiares que possam interferir no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da aprendizagem. O ser humano é gerado numa união, mas para reconhecer-se<br />

como indivíduo precisa-se <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> porque “a família é o contexto natural para<br />

crescer e receber auxílio, ela cumpre o seu papel <strong>de</strong> garantir a pertença e, ao<br />

mesmo tempo promove a individuação do sujeito” (POLITY, 2004, p. 37).<br />

Os papéis da família precisam estar bem <strong>de</strong>finidos para não interferir na<br />

elaboração da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> que se dá pela conquista da autonomia e individualida<strong>de</strong>.<br />

Des<strong>de</strong> muito cedo a família coloca expectativas em relação à criança. Os pais<br />

inquietam-se com o <strong>de</strong>sempenho dos filhos na escola. Essas situações <strong>de</strong><br />

expectativas po<strong>de</strong>m marcar profundamente o <strong>de</strong>senvolvimento futuro da criança,<br />

exigindo o que não está ao alcance <strong>de</strong> suas capacida<strong>de</strong>s, aptidões ou <strong>de</strong>sejos.<br />

No sistema familiar, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proporcionar um continente seguro para<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento intelectual está primariamente ligada à habilida<strong>de</strong> dos membros<br />

da família (em especial os pais) <strong>de</strong> separarem seus próprios conflitos às realizações<br />

das expectativas e conflitos dos filhos (POLITY 2004). Essa capacida<strong>de</strong>,<br />

evi<strong>de</strong>ntemente, está intrinsecamente enraizada no grau <strong>de</strong> satisfação, ou pelo<br />

menos <strong>de</strong> resolução, nas questões intelectuais/profissionais que afetam os próprios<br />

pais.<br />

A importância da participação dos pais na vida escolar dos filhos tem<br />

apresentado um papel significativo no <strong>de</strong>sempenho escolar. O diálogo entre a<br />

família e a escola, ten<strong>de</strong> a colaborar para um equilíbrio no <strong>de</strong>sempenho dos alunos.<br />

A relação familia e escola são mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa para a criança. Possuem a<br />

função essencial, <strong>de</strong> oferecer segurança nessa interação; caminham para a<br />

construção <strong>de</strong>sse vínculo, pois, “em ambos os casos, lidamos com processos a


88<br />

serem construídos e, portanto, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir no início aquilo que se po<strong>de</strong><br />

ocorrer no fim” (POLITY, 2004, p. 125).<br />

Observa-se que existe um discurso dos pais em relação à qualida<strong>de</strong> da<br />

escola, o tempo integral que possibilita o <strong>de</strong>senvolvimento integral da criança e a<br />

segurança no sentido <strong>de</strong> passarem o dia todo na escola, que parece constituir-se um<br />

ponto <strong>de</strong> referência no ensino aprendizagem.<br />

Os pais participam e colaboraram com a escola, quando solicitados e quando<br />

sentem necessida<strong>de</strong>. Fazem referências da importância, das vantagens nessa<br />

colaboração, valorizaram o fato <strong>de</strong> terem percebido que os filhos gostam muito <strong>de</strong><br />

estar na escola e <strong>de</strong> estar apren<strong>de</strong>ndo. O envolvimento dos filhos com a escola é<br />

explicitado claramente pelos pais:<br />

“Está em uma escola boa, <strong>de</strong>vido ao tempo integral, aproveita o máximo do tempo<br />

em que ele está na escola para ter oportunida<strong>de</strong> melhor para ter um bom<br />

emprego.” (F4)<br />

“As crianças se criaram aqui se alimentaram aqui, espero que continuem cuidando<br />

da minha filha.” (F3)<br />

“Em vista <strong>de</strong> outra é excelente, que continuem assim, exigente. Por ser período<br />

integral, ele gosta da escola.” (F7)<br />

“A escola é excelente, ensino e horário que favorece a família, ensino bom, chega<br />

em casa <strong>de</strong>scansa.” (F2)<br />

“A escola é excelente todos os filhos estudaram aqui. É a melhor que conheço.<br />

Estuda para ser alguém na vida. Porque o estudo é importante. A diferença está<br />

em quem estuda consegue ter mais clareza das coisas.” (F1)<br />

Em relação à percepção dos problemas <strong>de</strong> aprendizagem, observou-se que<br />

reconhecem a dificulda<strong>de</strong> que os filhos apresentam para apren<strong>de</strong>r, principalmente<br />

em Português e Matemática. Em relação ao que venha a ser dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

aprendizagem, os pais <strong>de</strong>monstram estar um pouco confusos. Revelam que não<br />

sabem ou sabem muito pouco como <strong>de</strong>finir a questão, e que após contato com a<br />

escola pu<strong>de</strong>ram estar acompanhando o que possibilitou melhoras. Em relação às


89<br />

razões das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, colocam que é <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> atenção,<br />

<strong>de</strong> interesse, por passarem muito tempo longe dos pais, coisas da ida<strong>de</strong> e às vezes<br />

seus filhos parecem não escutar. Como colocam nos <strong>de</strong>poimentos abaixo:<br />

“Melhorou bastante <strong>de</strong>pois do contato do pai com a escola. Agora está mais ligado<br />

em suas responsabilida<strong>de</strong>s por que sabemos o que cobrar, É muito <strong>de</strong>sligado, fica<br />

sozinho só assistindo TV não estudava.” (F4)<br />

“Deduzimos que seja falta <strong>de</strong> atenção, hoje enten<strong>de</strong>mos essas dificulda<strong>de</strong>s, antes<br />

pensávamos que era o trabalho da professora, foi preciso ter a noção <strong>de</strong> que é<br />

necessário os encaminhamentos adotados pela escola. Suas dificulda<strong>de</strong>s são em<br />

português.” (F7)<br />

“Falta <strong>de</strong> interesse por causa da ida<strong>de</strong> não presta atenção gosta da escola e das<br />

professoras.” (F2)<br />

Quando os pais tomam conhecimento das reais dificulda<strong>de</strong>s dos filhos<br />

divi<strong>de</strong>m as ansieda<strong>de</strong>s e responsabilida<strong>de</strong>s:<br />

Pensando na aprendizagem e consi<strong>de</strong>rando-a sob perspectivas das<br />

<strong>relações</strong> familiares, contanto que muitas vezes, a compreensão<br />

<strong>de</strong>sses problemas não torna a criança mais inteligente mas permite<br />

que ela utilize melhor seu potencial pois tira <strong>de</strong> seu ombro, toda a<br />

carga <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e a distribui por todos aqueles envolvidos:<br />

família, professores, comunida<strong>de</strong> escolar, meio social, etc...<br />

(POLITY, 2004, p. 135).<br />

A história escolar está voltada para a relação que as crianças fazem entre o<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, o <strong>de</strong>sempenho escolar satisfatório. A maioria dos alunos conta<br />

com o auxílio dos pais nas tarefas escolares. As mães são mais presentes no auxílio<br />

às ativida<strong>de</strong>s, apresentam um cuidado maior, dão mais atenção e se mostram mais<br />

participativas na realização das tarefas <strong>de</strong> casa.<br />

Os pais <strong>de</strong>monstram conhecer o <strong>de</strong>sempenho escolar, mas não o<br />

compreen<strong>de</strong> e nem conseguem <strong>de</strong>fini-lo. A maioria <strong>de</strong>sses pais parece ter<br />

uma visão bastante realista da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem do filho, inclusive,<br />

<strong>de</strong>screvendo estratégias e saídas para solucionar o problema. A participação da


90<br />

família nas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem resgata aos pais a função <strong>de</strong> ensinar e<br />

cuidar:<br />

Esse aspecto não apenas abrevia o tempo <strong>de</strong> tratamento como<br />

produz resultados mais afetivos e duradouros, na medida que<br />

possibilita a familia <strong>de</strong>senvolver novos recursos para resolver seus<br />

impasses. (POLITY, 2004, p. 183).<br />

A presença dos pais nas tarefas escolares é bastante ativa, mas permeada<br />

por dificulda<strong>de</strong>s, ou seja, os pais tentam auxiliar, buscam estratégias, mas não<br />

conseguem atingir os objetivos, muitas vezes por falta <strong>de</strong> entendimento pedagógico<br />

ou mesmo orientações específicas. Além disso, auxiliam e acompanham as tarefas<br />

com base no nível escolar que tiveram, o que na maioria é baixo ou até mesmo<br />

ausente, o que torna difícil o auxílio. Dentro <strong>de</strong>ssa perspectiva, os pais se<br />

prontificam a auxiliar e participar das explicações das tarefas, utilizando recursos<br />

tradicionais da sua própria vida escolar trazidos pela memória, mas parece evi<strong>de</strong>nte<br />

a dificulda<strong>de</strong> dos pais diante dos problemas <strong>de</strong> aprendizagem. Enquanto algumas<br />

famílias se sentem perdidas diante das dificulda<strong>de</strong>s dos filhos, outras utilizam várias<br />

tentativas, esperando conseguir atingir os objetivos do <strong>de</strong>sempenho bem sucedido,<br />

persistindo na questão do acompanhamento do filho com o pouco tempo que<br />

possuem, como mencionam nos relatos:<br />

“A mãe ajuda na medida do possível à noite, o pai fala da dificulda<strong>de</strong> e orienta<br />

para estudar realizar mais vezes, aproveitar a escola.” (F4)<br />

“Somente as vezes ela é ajudada. Ultimamente ninguém está ajudando ela é<br />

sozinha.” (F3)<br />

“Há participação durante a noite tomamos texto, não temos preparo para trabalhar<br />

com isso.” (F2)<br />

“Todos colaboram, com o pouco que sabem auxiliando com exemplos, auxiliando<br />

nas pesquisas.” (F1)


91<br />

Em geral os pais valorizam o <strong>de</strong>sempenho do professor e como esse, realiza<br />

as ativida<strong>de</strong>s pedagógicas na medida do que conhecem, também valorizando o<br />

<strong>de</strong>sempenho dos seus filhos. Esses pais parecem perceber que estar<br />

acompanhando o processo ensino aprendizagem é uma forma <strong>de</strong> estarem vigilantes<br />

no <strong>de</strong>sempenho, e acreditam na idéia <strong>de</strong> que sua participação favorece<br />

<strong>de</strong>senvolvimento escolar. Algumas famílias relatam sobre as dificulda<strong>de</strong>s que<br />

possuem para propiciar um ambiente familiar com condições necessárias para a<br />

aprendizagem, outras <strong>de</strong>monstram interesse em ajudar:<br />

“Não auxilia, não temos jornal nem revistas, livros e não po<strong>de</strong>mos auxiliar muito.”<br />

(F3)<br />

“Temos interesse com que ele aprenda, mas não tem muitas condições nem<br />

materiais para pesquisa.” (F4)<br />

“Temos interesse em ajudar nossa filha, pois convive com muitos adolescentes ela<br />

se interessa, as irmãs brincam <strong>de</strong> escolinha. A avó conversa bastante passa<br />

bastante exercícios.” (F2)<br />

Os pais percebem a importância <strong>de</strong> um ambiente que favoreça a<br />

aprendizagem, porém essa questão não é muito clara a eles.<br />

Acredita-se que o papel da escola não é só esclarecer sobre dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

aprendizagem das crianças, como chamar a atenção dos pais no sentido <strong>de</strong> estarem<br />

trabalhando juntos, imbuídos na construção do mesmo bem comum, o aluno.<br />

Permitindo, assim, que a família amplie seu olhar em relação à escola, po<strong>de</strong>ndo<br />

transformar sua realida<strong>de</strong>, interferindo em sua forma <strong>de</strong> atuar na construção da<br />

aprendizagem <strong>de</strong> seu filho.<br />

Em relação às cinco famílias que não aten<strong>de</strong>ram às solicitações das<br />

pesquisadoras e nem da escola, a pedagoga relatou que as mesmas só<br />

comparecem à escola, quando são convocadas e com muita insistência, às vezes,<br />

com a interferência da assistente social da instituição.


92<br />

B – Pais que não aten<strong>de</strong>ram as solicitações da escola<br />

O quadro familiar foi completado com auxílio da coor<strong>de</strong>nação pedagógica,<br />

com base em registros feitos em fichas próprias e entrevistas no momento da<br />

matrícula. Far-se-á um relato geral dos dados obtidos em relação aos referidos<br />

alunos.<br />

“Os pais são separados e não possuem um bom relacionamento. Um culpa o outro<br />

pela separação. A mãe do aluno não é muito aceita pelos familiares do marido. O<br />

aluno às vezes fica os finais <strong>de</strong> semana na casa dos avós paternos, e é ai<br />

segundo a pedagoga que o caos se instala. Algo ocorre porque é perceptível na<br />

escola a mudança <strong>de</strong> comportamento quando passa o final <strong>de</strong> semana longe da<br />

mãe. A avó paterna esteve na escola e teceu comentários sobre o neto que <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

pequeno <strong>de</strong>monstra sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão. Recusa-se a tudo e a todos. Chegando<br />

em muitas vezes escon<strong>de</strong>r-se <strong>de</strong> baixo da mesa para não se aproximar <strong>de</strong><br />

pessoas. É muito resistente as colocações dos professores e da equipe. É uma<br />

criança que dorme muito tar<strong>de</strong> o que prejudica seu <strong>de</strong>sempenho pois a escola é<br />

<strong>de</strong> período integral. Vive com a mãe e uma irmã. Ultimamente estava revoltado<br />

pois a mãe tem um novo namorado.” (A 9)<br />

“Os pais nem chegaram a se conhecer. Ora está com a mãe que tem autorida<strong>de</strong><br />

sobre ela, ora está com a avó que <strong>de</strong>ixa ficar direto brincando na rua. Mora com<br />

várias pessoas, a casa é tipo uma república <strong>de</strong> parentes. A mãe aten<strong>de</strong> as<br />

solicitações da escola, mas <strong>de</strong>monstra dificulda<strong>de</strong>s em administrar as questões<br />

familiares. Quando acontecem dificulda<strong>de</strong>s os filhos vão para a casa da avó. A<br />

mãe está no terceiro relacionamento e teve filhos em cada um <strong>de</strong>sses<br />

relacionamentos.” (A 8)<br />

“Os pais são <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> é uma filha temporona que convive com tias sobrinhos e<br />

irmãs mais velhas. O pai trabalha e a mãe é doente com vários problemas <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>. A familia tem pouca escolarização, sendo que os pais são analfabetos, não<br />

po<strong>de</strong>ndo auxiliar a filha em casa em seus compromissos. Os pais aparentam ter<br />

uma união estável.” (A 5)<br />

“Os pais após muitas crises e idas e vindas em seu casamento se separaram<br />

<strong>de</strong>finitivamente neste ano. Quando o aluno fica com o pai dorme muito tar<strong>de</strong><br />

porque o pai é dono <strong>de</strong> um comércio. A nova esposa do pai está grávida. O aluno<br />

mora com a mãe e uma irmã.” (A 6)<br />

“A mãe dificilmente vem à escola <strong>de</strong>vido ao seu horário <strong>de</strong> trabalho. Trabalha em<br />

dois locais. A aluna não tem contato com o pai.” (A10)<br />

Mediante a caracterização <strong>de</strong>ssas famílias, observa-se que das cinco,<br />

somente uma é constituída pelo casal on<strong>de</strong> o filho po<strong>de</strong> contar com a presença do<br />

pai e da mãe. Nas <strong>de</strong>mais, a <strong>de</strong>sestrutura familiar impera, esquecem-se <strong>de</strong> que


93<br />

mesmo com o rompimento da união os filhos, precisam ser levados em<br />

consi<strong>de</strong>ração; pois o modo como os pais enfrentam a vida, tem influência <strong>de</strong>cisiva<br />

na formação dos filhos.<br />

3.2.3 Olhar do Aluno<br />

Até o momento <strong>de</strong> entrar na escola, a criança é reconhecida socialmente a<br />

partir <strong>de</strong> seu pertencimento a uma família, se reconhece como membro da mesma.<br />

Ao freqüentar a escola, a criança é o referencial da família para a escola, e nessa<br />

relação vincula-se a instituição. A criança passa a ser o elo <strong>de</strong> ligação entre ambas,<br />

como protagonista <strong>de</strong> uma experiência que não é conhecida por nenhuma das<br />

instâncias, e assim: “a criança po<strong>de</strong> colocar-se no lugar <strong>de</strong> ensinante frente a sua<br />

familia sobre o acontecido na escola e, por sua vez, como ensinante frente à escola<br />

sobre a história ou experiências familiares“ (FERNANDEZ, 2001, p. 105).<br />

Quando a criança está na escola precisa ter espaço para expor sua história<br />

<strong>de</strong> vida num processo interativo <strong>de</strong> ressignificação e autoria. Ao situar-se como<br />

apren<strong>de</strong>nte em relação às experiências e a história da criança, o professor permitirá<br />

ao aluno que se situe como ensinante. A voz do aluno não é um reflexo do mundo, é<br />

uma força que exerce o papel <strong>de</strong> mediadora, dando forma a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do<br />

contexto on<strong>de</strong> está inserido. Cada aluno tem sua voz individual construída<br />

historicamente: ”a voz, então, sugere os sentidos que os alunos têm a seu dispor<br />

para se ‘fazerem ouvir’ e para <strong>de</strong>finirem-se como participantes ativos no mundo”<br />

(MCLAREN, 1977, p. 252).<br />

Assim, na ação <strong>de</strong> se fazerem ouvir, percebeu-se no contato com os alunos<br />

que todos os que participam do apoio pedagógico tem noção <strong>de</strong> suas dificulda<strong>de</strong>s, e


94<br />

o porquê <strong>de</strong> estarem participando <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>. Isso <strong>de</strong>monstra que reconhecem<br />

suas diferenças, percebem que necessitam <strong>de</strong> auxílio para apren<strong>de</strong>r e do que é<br />

necessário para apren<strong>de</strong>r. Nesse sentido as respostas foram:<br />

“Eu não sei fazer contas nem ler direito. As contas não acerto porque não sei a<br />

tabuada... Minha mãe não po<strong>de</strong> me ajudar porque não lê.” (A3)<br />

“Matemática que era legal <strong>de</strong> fazer.” (A1)<br />

“Eu quero fazer, só que eu não consigo. Você me ensina? (falou para a<br />

pesquisadora).”(A10)<br />

“Essas aulas foram muito importantes para mim.” (A2)<br />

“Não consigo acabar as ativida<strong>de</strong>s quando a professora pe<strong>de</strong>, acho que sou muito<br />

lento, só gosto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar, meu ca<strong>de</strong>rno é cheio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos.” (A6)<br />

“Eu vou vencer todos os objetivos até o final do ano, e vou passar, estou<br />

apren<strong>de</strong>ndo.” (A9)<br />

Em relação à maneira como a professora ajuda a apren<strong>de</strong>r, os alunos<br />

respon<strong>de</strong>ram:<br />

“A professora ensina muito bem.” (A7)<br />

“É bom ficar no apoio, tem bastante materiais e poucos alunos.” (A4)<br />

“Eu gosto quando vocês (as pesquisadoras) vêm aqui, tem mais professores.” (A5)<br />

Mediante o exposto, percebe-se o quanto as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem<br />

po<strong>de</strong>m influenciar no <strong>de</strong>senvolvimento da vida da criança. Se não forem feitas as<br />

<strong>de</strong>vidas intervenções, se a escola ignorar, discriminar, <strong>de</strong>sprezar esses alunos; eles<br />

po<strong>de</strong>m se convencer <strong>de</strong> que não têm capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> que são menos<br />

que os outros e serão, sem dúvidas, adultos revoltados ou submissos. Assim,<br />

salienta-se a necessida<strong>de</strong> das intervenções dos professores envolvidos sem ignorar,<br />

discriminar ou <strong>de</strong>sprezar os alunos, investindo na prática pedagógica com atitu<strong>de</strong><br />

consciente <strong>de</strong> todos.


95<br />

As respostas dos alunos trazem à tona as questões cruciais no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do processo ensino aprendizagem. Ao aluno sentir-se visto e<br />

ouvido pelo professor é primordial para a aprendizagem. O aluno que se sente<br />

ignorado pelo professor, fecha-se, torna-se ausente, ou exige por meio da<br />

indisciplina a atenção que lhe foi negada. A disciplina é fator importante para a<br />

prática em sala <strong>de</strong> aula, porém consegui-la não é tarefa fácil. Relacionamento<br />

afetivo, baseado no respeito mútuo torna o andamento das aulas mais prazeroso,<br />

tanto para o aluno quanto para o professor.<br />

Quando solicitado aos alunos sugestões que pu<strong>de</strong>ssem colaborar com a<br />

aprendizagem <strong>de</strong>les, expressaram o seguinte:<br />

“A professora dar mais atenção aos alunos.” (A2)<br />

“Que a professora trouxesse mais coisas novas.” (A7)<br />

“Que os alunos não fizessem barulho.” (A1)<br />

“Que a aula fosse na quadra.” (A9)<br />

Está nestas falas um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio ao educador. De nada adianta saber das<br />

dificulda<strong>de</strong>s dos alunos, atendê-lo individualmente, se as ativida<strong>de</strong>s trabalhadas são<br />

sempre as mesmas. Ativida<strong>de</strong>s chatas, repetitivas e sem sentido. Não há progresso<br />

em repetir inúmeras vezes a mesma explicação, a mesma ativida<strong>de</strong>. O evoluir está<br />

justamente na inovação, no surpreen<strong>de</strong>nte, na <strong>de</strong>scoberta, na exposição <strong>de</strong> vários<br />

caminhos para que o aluno possa escolher qual é melhor e torna-se um construtor<br />

<strong>de</strong> seu conhecimento.<br />

Quando na sala do apoio no início do terceiro bimestre, num momento<br />

coletivo, dirigido pelas pesquisadoras, em uma assembléia com os alunos, foram<br />

elencadas as dificulda<strong>de</strong>s e o que po<strong>de</strong>riam fazer para melhorá-las. Em outro


96<br />

momento, realizou-se a avaliação e o que melhoraram como <strong>de</strong>monstra no quadro a<br />

seguir.<br />

Quadro 1 – Assembléia com Alunos do Apoio Pedagógico – 3º Bimestre<br />

DIFICULDADES<br />

COMO MELHORAR<br />

• Leitura • Ler mais<br />

• Armar as contas • Treinar<br />

• Divisão e multiplicação • Estudar a tabuada<br />

• Tabuada • Decorar<br />

• Prestar atenção • Parar <strong>de</strong> conversar<br />

• Resolver problemas • Prestar atenção ao ler<br />

• Criar textos • Ler mais<br />

• Terminar as ativida<strong>de</strong>s • Ser mais rápido<br />

• Fazer os compromissos • Ter mais responsabilida<strong>de</strong><br />

Mediante as colocações expostas pelo grupo, traçaram-se as metas para o<br />

encaminhamento metodológico, aten<strong>de</strong>ndo às necessida<strong>de</strong>s específicas <strong>de</strong> cada<br />

aluno no apoio pedagógico. As normas disciplinares foram retomadas na sala <strong>de</strong><br />

apoio e na sala <strong>de</strong> aula, investindo no contrato didático para o cumprimento dos<br />

compromissos a efetivação das ativida<strong>de</strong>s, realizando-as com maior atenção e<br />

responsabilida<strong>de</strong> no tempo previsto.<br />

Detectou-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma maior compreensão do valor posicional<br />

dos números, para que as contas fossem armadas corretamente. Fez-se uso <strong>de</strong><br />

material concreto como: caixa valor e lugar (unida<strong>de</strong>-<strong>de</strong>zena-centena), ábaco,<br />

material dourado individual e coletivo. Para compreensão do processo <strong>de</strong> construção<br />

da tabuada, afim <strong>de</strong> que conseguissem solucionar as divisões e multiplicações, fezse<br />

a construção da tábua operatória junto com os alunos, como também, jogos que<br />

os estimulassem estudarem, para saber brincar.


97<br />

A interpretação e resolução <strong>de</strong> situações problemas, envolvendo as quatro<br />

operações foram trabalhadas partindo <strong>de</strong> situações reais trazidas pelos próprios<br />

alunos, facilitando a compreensão e a interpretação. Para as produções escritas,<br />

priorizaram-se ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> compreensão e interpretação <strong>de</strong> textos, leituras <strong>de</strong><br />

vários gêneros; possibilitando unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentido e criativida<strong>de</strong> ao escrever.<br />

Com a mediação das pesquisadoras e dos envolvidos no processo, foi<br />

possível o direcionamento às dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>tectadas, à sistematização e o<br />

atendimento individual aos alunos, possibilitando medidas educacionais<br />

significativas e motivadoras, estimulando o trabalho e a alegria <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r,<br />

melhorando assim a auto-estima, o que refletiu diretamente no potencial <strong>de</strong><br />

aprendizagem.<br />

No final do quarto bimestre, realizou-se uma assembléia avaliativa com os<br />

<strong>de</strong>z alunos pesquisados para verificar em que melhoraram. Como <strong>de</strong>monstram as<br />

falas a seguir:


98<br />

Quadro 2 – Assembléia Avaliativa com Alunos do Apoio Pedagógico – 4º Bimestre<br />

O QUE EU MELHOREI<br />

• Acabamos as ativida<strong>de</strong>s no tempo previsto;<br />

• Prestamos mais atenção;<br />

• Resolvemos as divisões simples sozinhos;<br />

• Diminuímos as conversas;<br />

• Lemos mais;<br />

• Nossos textos estão mais criativos;<br />

• Fechamos a tabuada;<br />

• Fazemos os compromissos.<br />

Qualquer que seja o potencial da criança, quanto mais se trabalha no sucesso<br />

da aprendizagem, quanto mais apren<strong>de</strong>, ela não se sente isolada; a criança ganha<br />

reconhecimento, maturida<strong>de</strong>, respeito, amor, sentimento <strong>de</strong> pertencimento e<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> positiva. Sendo assim, é possível o <strong>de</strong>senvolvimento da responsabilida<strong>de</strong><br />

e da auto-valorização com auto confiança necessária para superar as exigências<br />

escolares contando ou não com a família.<br />

Porém, as crianças que po<strong>de</strong>m contar com a família segundo Fonseca (1995,<br />

p. 356), ”Num envolvimento familiar a<strong>de</strong>quado e qualitativamente estimulador<br />

<strong>de</strong>senvolvem aptidões que terão um papel imprescindível na aprendizagem”. Em<br />

relação à família dos alunos que os pais participaram da pesquisa, registram:<br />

“Quase não vejo o meu pai, mas é ele que vem às reuniões, ele quase não vê<br />

meus ca<strong>de</strong>rnos.” (A4)<br />

“Fico com minha tia à noite, porque minha mãe e meu pai estudam. Faço as tarefa<br />

na oficina <strong>de</strong> meu pai.” (A7)


99<br />

“Minha mãe disse que sou muito inteligente e esforçada, ela me ajuda nas<br />

ativida<strong>de</strong>s em casa e lê para mim.” (A1)<br />

“Tenho ajuda só quando minhas irmãs vão na minha casa, ninguém sabe ler lá em<br />

casa.” (A3)<br />

Já os alunos que os pais não participaram da pesquisa colocam:<br />

“Meu pai agora tem outra família, vou ter um irmãozinho. Minha mãe trabalha à<br />

noite, quem me ajuda é minha irmã.” (A 6)<br />

“Minha mãe trabalha em dois lugares. Meu pai, nem sei <strong>de</strong>le, nunca mais vi. Faço<br />

sozinha meus compromissos.” (A 10)<br />

“Só tenho meu tio, minhas irmãs e minha mãe para me ajudar.” (A 8)<br />

“Eu moro com meu pai e minha mãe, mas ninguém me ajuda, ninguém sabe.” (A<br />

5)<br />

“Moro com minha mãe e minha irmã. Mas queria ficar com a avó, mas minha mãe<br />

não <strong>de</strong>ixa.” (A 9)<br />

Percebe-se que os alunos não po<strong>de</strong>m contar muito com o auxílio dos pais,<br />

nem os alunos cujas famílias participaram da pesquisa, nem os que as famílias não<br />

participaram. Fica evi<strong>de</strong>nte que os motivos são vários, às vezes <strong>de</strong>vido ao trabalho,<br />

outras vezes <strong>de</strong>vido a questões culturais. No segundo grupo <strong>de</strong> alunos, percebe-se<br />

que a <strong>de</strong>sestrutura familiar é peculiar a quase todos, somente um dos alunos tem<br />

pais que vivem juntos. Segundo Fonseca (1995), crianças que não po<strong>de</strong>m contar<br />

com a família, em envolvimento sócio familiar ina<strong>de</strong>quado e frustrado, com pouca<br />

estimulação e interação sociolingüística, as aptidões das crianças po<strong>de</strong>m não atingir<br />

a maturação exigida para superar as situações problemas da escolarida<strong>de</strong>.<br />

Mediante o exposto, ensinar o aluno a ter uma postura positiva e recobrar-se<br />

diante <strong>de</strong> situações difíceis talvez seja um dos objetivos mais importantes da escola.<br />

Principalmente quando ela aten<strong>de</strong>, como é o caso da escola pública brasileira, a<br />

alunos que por sua origem pobre po<strong>de</strong>rão encontrar mais dificulda<strong>de</strong>s para realizar<br />

um projeto <strong>de</strong> vida. Essa meta será alcançada mais facilmente se a escola for capaz


100<br />

<strong>de</strong> proporcionar a todos, experiências bem sucedidas <strong>de</strong> aprendizagem. É fazer bem<br />

o que tem <strong>de</strong> fazer: ensinar a todos, em clima <strong>de</strong> acolhimento e confiança,<br />

educando-os para a resiliência 13 , sem ser necessário a criação <strong>de</strong> programas,<br />

projetos especiais ou assistenciais.<br />

Quando perguntado aos alunos como estão na escola e o que foi estudar no<br />

CAIC em 2005 foram expressivos em se colocar:<br />

“Eu sou muito bom em matemática, quero ser professor <strong>de</strong> matemática... Estudar<br />

no CAIC foi muito legal, principalmente a semana dos jogos que teve na escola, as<br />

professoras são muito legais, não gosto <strong>de</strong> Português.” (A7)<br />

“Eu estou muito fraca nas matérias, mas vou melhorar estou me<br />

esforçando...Estudar no CAIC foi muito bom, eu pu<strong>de</strong> ser aluna com a professora<br />

P. A e fiquei muito feliz.” (A.2)<br />

“Eu aprendi bastante, consegui melhorar em tudo...Esse ano foi muito bom, a<br />

gente apren<strong>de</strong>u muitas coisas, mas a parte <strong>de</strong> Educação Física e Ciências foram<br />

as mais legais. A professora foi muito legal com a gente.” (A4)<br />

“Eu melhorei em tudo, acho que vou passar <strong>de</strong> ano, já sei fazer as contas, quero<br />

apren<strong>de</strong>r mais...Eu gosto do CAIC porque fiz bastante amiza<strong>de</strong>s e aprendi muito<br />

com as professoras.” (A1)<br />

“Eu estou bem, consigo copiar e terminar as ativida<strong>de</strong>s...Estudar no CAIC foi bom,<br />

gosto muito <strong>de</strong> ficar aqui o dia inteiro, gosto da comida e dos lanches.” (A 3)<br />

“Eu cumpro todas as ativida<strong>de</strong>s do meu jeito, mas cumpro...Estudar no CAIC é<br />

bom, gosto dos jogos e do momento livre (ativida<strong>de</strong> livre após o almoço).” (A 9)<br />

“Esse ano fizemos muita Matemática, eu fui legal. É bom ficar no apoio, a<br />

professora ensina muito bem.” (A10)<br />

“Eu estou bem, mas acho que vou reprovar. Gosto dos jogos do CAIC.” (A 6)<br />

“Foi muito bom, a gente apren<strong>de</strong>u muita coisa. A professora foi muito legal, apesar<br />

das brigas esse ano foi melhor.” (A 5)<br />

“Achei massa, melhor que a escola on<strong>de</strong> eu estudava que era muito fraca, por isso<br />

que eu não fecho objetivo.” (A 8)<br />

Observa-se mediante as falas que os alunos interagem com os colegas <strong>de</strong><br />

sala, gostam muito do ambiente escolar e respon<strong>de</strong>m às solicitações dos<br />

professores na medida em que conseguem resolver as ativida<strong>de</strong>s. Evi<strong>de</strong>ncia-se a<br />

13 Resiliência é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recuperar e se superar, ou ser imune psicologicamente quando se é<br />

submetido à violência <strong>de</strong> outros seres humanos ou a estresses das catástrofes da natureza<br />

(GRÜNSPUN, 2003).


101<br />

questão do período integral, pelo tempo <strong>de</strong> permanência na escola, bem como as<br />

refeições que fazem no colégio. A afetivida<strong>de</strong> dos alunos pelos professores é<br />

expressiva, o que é um fator <strong>de</strong>terminante na aprendizagem. São crianças que<br />

<strong>de</strong>monstram ser felizes e que estão na busca da construção do conhecimento.<br />

3.2.4 Olhar das Pesquisadoras<br />

Quando se iniciou este trabalho, algumas noções sobre a importância do<br />

estudo das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, principalmente no que diz respeito ao<br />

processo ensino-aprendizagem e a inter-relação contínua da escola e da família, já<br />

faziam parte da essência das pesquisadoras, que vivenciam a prática <strong>de</strong> ensinar e<br />

apren<strong>de</strong>r nas suas contradições, nas suas dificulda<strong>de</strong>s, mas também no seu prazer,<br />

com o entusiasmo experiente <strong>de</strong> quem, há muito tempo, está construindo um<br />

caminho que era sonho e hoje vem se tornando realida<strong>de</strong>.<br />

... a minha, que é a prática docente, exige <strong>de</strong> mim um alto nível <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong> ética <strong>de</strong> que a minha própria capacitação científica<br />

faz parte. É que lido com gente. Lido, por isso mesmo,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do discurso i<strong>de</strong>ológico negador dos sonhos e<br />

das utopias, com os sonhos, as esperanças tímidas, às vezes, mas<br />

às vezes, fortes dos educandos. Se não posso, <strong>de</strong> um lado, estimular<br />

os sonhos impossíveis, não <strong>de</strong>vo, <strong>de</strong> outro, negar a quem sonha o<br />

direito <strong>de</strong> sonhar. Lido com gente e não com coisas. (FREIRE, 1996,<br />

p. 163).<br />

Entretanto, educar é uma prática humana, por isso exige sonhos, utopias,<br />

sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado a realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma que promova a realização da pessoa em<br />

sua totalida<strong>de</strong>.<br />

As reflexões acerca da família e da escola trazem indicadores que po<strong>de</strong>m<br />

auxiliar outras práticas <strong>de</strong> ensino aprendizagem com possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interação


102<br />

<strong>de</strong>sses sujeitos na ação pedagógica. Ao inserir-se no contexto sócio-cultural dos<br />

envolvidos na pesquisa, se consi<strong>de</strong>ra as representações <strong>de</strong> cada esfera,<br />

aproveitando seus conhecimentos para <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um processo significativo.<br />

Posiciona-se neste contexto como mediadores, utilizando-se da relação escola e<br />

família como espaço <strong>de</strong> construção do conhecimento.<br />

Para aten<strong>de</strong>r os objetivos elencados, verificou-se as representações <strong>de</strong> cada<br />

esfera investigada, a família, a escola e o aluno; registrando o olhar <strong>de</strong> cada um<br />

sobre os aspectos que envolvem essa relação.<br />

Dos alunos citados com dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem, percebe-se pelo<br />

histórico analisado, que apresentam <strong>de</strong>fasagem <strong>de</strong> conteúdo que foram<br />

acumulando-se no <strong>de</strong>correr da escolarida<strong>de</strong>. Das dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem<br />

i<strong>de</strong>ntificadas, constatou-se que as mais comuns são: a compreensão dos conteúdos<br />

e textos, falta <strong>de</strong> concentração e atenção, dificulda<strong>de</strong> na leitura e na escrita, lentidão<br />

e raciocínio lógico. Pu<strong>de</strong>ram-se observar os avanços e dificulda<strong>de</strong>s dos alunos<br />

frente ao seu processo <strong>de</strong> ensino aprendizagem. Em relação à percepção dos<br />

problemas <strong>de</strong> aprendizagem, observou-se que os alunos percebem e reconhecem<br />

suas dificulda<strong>de</strong>s.<br />

Sobre o olhar do professor e da escola às crianças com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

aprendizagem, percebe-se que as dificulda<strong>de</strong>s mais comuns citadas pelos<br />

professores, são também as dificulda<strong>de</strong>s encontradas na maioria das vezes nas<br />

salas <strong>de</strong> aula. Observa-se que as professoras procuram dar atendimento individual,<br />

dando atenção maior aos alunos que necessitam. Trabalham juntas em sala <strong>de</strong> aula<br />

e no apoio pedagógico sob orientação da coor<strong>de</strong>nação. Parecem estar seguras dos<br />

encaminhamentos adotados e envolvidas com as questões <strong>de</strong> ensino aprendizagem.<br />

Sobre os pontos fortes dos alunos, os professores reconhecem suas qualida<strong>de</strong>s, seu


103<br />

esforço, a forma que cada um tem para apren<strong>de</strong>r, o respeito pelos professores, o<br />

interesse e <strong>de</strong>sejo em apren<strong>de</strong>r e caprichar, a afetivida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>monstram e a<br />

alegria ao apren<strong>de</strong>r.<br />

Verificou-se que as crianças com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem possuem<br />

atenção especial e atendimento individualizado, on<strong>de</strong> a afetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrou-se<br />

presente em um ritmo próprio.<br />

A análise obtida na caracterização do contexto familiar do aluno com<br />

dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem, (Anexo 2), revela que em geral possui casa própria,<br />

renda baixa. O contexto familiar é harmonioso, possuem interação entre os membros<br />

familiares, com objetivos claros e concisos em relação à educação dos filhos; a<br />

escolarida<strong>de</strong> é diversificada. O lazer e os passeios não são presentes nas famílias.<br />

A autorida<strong>de</strong> familiar está voltada na figura da mãe. Não <strong>de</strong>monstraram dificulda<strong>de</strong>s<br />

em estar estabelecendo limites, porém reconhece a necessida<strong>de</strong> do maior<br />

envolvimento do pai.<br />

A concepção do saber, da construção do conhecimento, tanto da escola<br />

quanto das famílias, tem na maioria das vezes conotação utilitária, somente os<br />

professores apresentam o saber como um valor em si, que vale a pena apropriar-se<br />

<strong>de</strong>le. Ficou evi<strong>de</strong>nte que a justificativa para apren<strong>de</strong>r e adquirir conhecimento está<br />

associado à aquisição <strong>de</strong> um bom emprego.<br />

Dos <strong>de</strong>z alunos que fizeram parte da pesquisa, somente cinco das famílias<br />

participaram do processo aten<strong>de</strong>ndo a solicitação da escola para comparecerem aos<br />

encontros. Os <strong>de</strong>mais não estiveram presentes. Evi<strong>de</strong>nciou-se que os alunos não<br />

po<strong>de</strong>m contar muito com o auxílio dos pais, pois o comportamento familiar frente às<br />

dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem fica a <strong>de</strong>sejar; às vezes <strong>de</strong>vido ao trabalho, outras


104<br />

vezes, <strong>de</strong>vido à questões culturais, por não terem condições <strong>de</strong> auxiliar os filhos. Os<br />

pais que participaram, <strong>de</strong>monstram-se esforçados e querem auxiliar os filhos.<br />

Mediante as situações analisadas, o que permeou a pesquisa foi<br />

compreen<strong>de</strong>r como se dá a relação entre escola e família com alunos que vêm<br />

apresentando dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem. Observa-se que existe um discurso dos<br />

pais em relação à qualida<strong>de</strong> da escola, o tempo integral que possibilita o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento integral da criança e a segurança no sentido <strong>de</strong> passarem o dia<br />

todo na escola, e que parece constituir-se um ponto <strong>de</strong> referência no ensino<br />

aprendizagem. A participação e colaboração dos pais estão presentes nessa<br />

relação. Constatou-se que os professores não conheciam aspectos relevantes da<br />

vida familiar dos alunos, pois a integração das famílias e dos professores ocorre<br />

somente nas reuniões pedagógicas bimestrais ou quando são chamadas pela<br />

coor<strong>de</strong>nação para tratarem <strong>de</strong> questões específicas. O <strong>de</strong>sempenho do professor é<br />

valorizado pelos pais, por mais que não compreendam muito bem os<br />

encaminhamentos adotados.<br />

Os encaminhamentos utilizados pela escola para contribuir no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das crianças com dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem possuem um<br />

enfoque crítico e contextualizado, reconhecedor das diferenças existentes entre os<br />

alunos e busca levá-los à apropriação <strong>de</strong> conhecimentos essenciais ao exercício da<br />

cidadania.<br />

O trabalho crítico e contextualizado tem significado, o professor <strong>de</strong>monstra<br />

não ignorar aquilo que a criança traz consigo, aspecto que fica evi<strong>de</strong>nte na fala dos<br />

professores ao serem questionadas sobre os encaminhamentos em sala <strong>de</strong> aula.


105<br />

Na dinâmica dos espaços utilizados pelos alunos, mostra que os professores<br />

buscavam a todo o momento valorizar as ações das crianças, postura que se<br />

observou ao ser trabalhado conteúdos trazidos pelos alunos <strong>de</strong> suas vivências.<br />

A liberda<strong>de</strong> vivenciada pelos alunos é tida como condição para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e a aprendizagem, condiz também, com os pressupostos<br />

espistemlógicos, filosóficos e didáticos pedagógicos da proposta pedagógica da<br />

escola; pois permite ao aluno pensar, sentir e ser, <strong>de</strong> forma que <strong>de</strong>sempenhe suas<br />

tarefas com espontaneida<strong>de</strong> e responsabilida<strong>de</strong>.<br />

Os professores colocam que po<strong>de</strong>m contar com a coor<strong>de</strong>nação pedagógica<br />

para a realização do trabalho frente às dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seus alunos. Afirmaram que<br />

estão sempre em diálogo. Em sala <strong>de</strong> aula, alguns fazem o que po<strong>de</strong>m para ver<br />

seus alunos <strong>de</strong>senvolverem-se. Algumas professoras <strong>de</strong>monstram carinho e afeto<br />

por seus alunos. Procuram agir sempre com bom senso e conversando muito,<br />

promovem ativida<strong>de</strong>s diferentes para o grupo, são dinâmicas em seus<br />

encaminhamentos. A escola <strong>de</strong>monstra um clima <strong>de</strong> envolvimento dos professores<br />

com seu trabalho e uma relação <strong>de</strong> cordialida<strong>de</strong> com seus alunos, professores,<br />

funcionários e comunida<strong>de</strong> em geral. Demonstram-se interessados na participação<br />

<strong>de</strong> pais e mães na escola, não só como usuários a um serviço público, mas como<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar contando com a colaboração dos mesmos numa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

abertura e <strong>de</strong> apoio aos filhos nos estudos. O animador na escola não é só que a<br />

participação dos pais na escola seja generalizada, mas que o envolvimento que já<br />

existe é resultado <strong>de</strong> efetiva abertura para a participação.<br />

Os dados evi<strong>de</strong>nciaram que a escola po<strong>de</strong> ter fortes aliados das dificulda<strong>de</strong>s<br />

na aprendizagem se investir na relação família e escola. É um processo que precisa<br />

ser construído, aprimorado com a participação <strong>de</strong> todos os envolvidos no contexto


106<br />

on<strong>de</strong> o aluno está inserido. Acredita-se que a permanência <strong>de</strong> um clima favorável à<br />

participação dos pais possa colaborar para a concretização positiva <strong>de</strong> uma<br />

experiência e criar uma cultura <strong>de</strong> participação favorável a um processo escolar <strong>de</strong><br />

maior qualida<strong>de</strong> e proveito para os objetivos do ensino. A mediação docente<br />

caracteriza-se como um dos elementos fundamentais para o estreitamento entre<br />

escola e família e a superação problemática das dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem.<br />

Nesse processo, o papel da família e da escola se <strong>de</strong>fine à medida que ambos<br />

executam seus papéis <strong>de</strong>ntro do ambiente escolar.<br />

Quanto às estratégias validadas <strong>de</strong> trabalhos com as famílias <strong>de</strong> crianças que<br />

apresentam dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem, aponta-se um novo olhar na efetivação<br />

da relação família e escola on<strong>de</strong> todos se tornam co-responsáveis na construção<br />

<strong>de</strong>ssa caminhada. É uma busca compartilhada pelas alternativas <strong>de</strong> intervenção<br />

para essa realida<strong>de</strong>. O aluno que apresenta dificulda<strong>de</strong> na aprendizagem influencia<br />

e é influenciado nas <strong>relações</strong> do contexto on<strong>de</strong> está inserido, tanto na escola como<br />

na família. Quando a família é chamada a discutir as dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem,<br />

há a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma flexibilização da dinâmica familiar, abrindo novos<br />

horizontes; <strong>ressignificando</strong> questões do grupo com ênfase nos processos relacionais<br />

e com a aprendizagem, favorecendo ajuda <strong>de</strong> todo o sistema familiar. Outro fator<br />

importante é a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontros periódicos e sistematizados com os pais,<br />

abordando questões específicas sobre os alunos, com os professores e<br />

coor<strong>de</strong>nação pedagógica em formação continuada, e com os alunos na busca <strong>de</strong><br />

novas estratégias para o crescimento <strong>de</strong> todos. Adotar sistemáticas para ter os pais<br />

participando da escola, seja em preparativos para festas ou como colaboradores<br />

facilitando a interação, é o que ajudará agir coletivamente para possibilitar o<br />

planejamento <strong>de</strong> mudanças em conjunto.


107<br />

Tentar mostrar aos professores encaminhamentos metodológicos<br />

diferenciados, estratégias diferentes que façam a diferença no processo e tornem o<br />

ensino cada vez mais significativo ao aluno e à escola, para que cumpra sua função<br />

fazendo com que o aluno se aproprie do conhecimento.<br />

Para enten<strong>de</strong>r o processo educativo é necessário dominar os conteúdos, as<br />

teorias educacionais e uma gama <strong>de</strong> informações que se acumulam durante a<br />

história da vida das pessoas. Para tanto, a formação continuada dos profissionais é<br />

fundamental, buscando compreen<strong>de</strong>r o que permeia essas informações para tornálas<br />

em conhecimento, adquirindo uma visão crítica que possibilite analisar o<br />

cotidiano da escola como espaço inclusivo.<br />

É preciso compreen<strong>de</strong>r o processo educativo como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

restaurar a autenticida<strong>de</strong>, a afetivida<strong>de</strong> e a humilda<strong>de</strong> das <strong>relações</strong> humanas. O<br />

papel da escola <strong>de</strong>ve ser o <strong>de</strong> organizar propostas que privilegiem o acesso ao<br />

conhecimento e sua reelaboração através <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s diferentes, <strong>de</strong> acordo<br />

com as diferenças individuais e sociais dos alunos revelados no cotidiano <strong>de</strong> sala <strong>de</strong><br />

aula para evitar o fracasso escolar. Quando a escola homogeneiza a construção do<br />

conhecimento, ocorre o processo <strong>de</strong> exclusão, visto que, o que se constata no<br />

cotidiano é a diversida<strong>de</strong>, e a mesma, não está preparada para aten<strong>de</strong>r o diferente,<br />

o que pensa diferente e o que apren<strong>de</strong> diferente.<br />

Na escola a criança <strong>de</strong>ve ser estimada, amada, pois só assim se consi<strong>de</strong>rará<br />

útil. Fonseca (1995) coloca que professores e alunos <strong>de</strong>vem apren<strong>de</strong>r a se<br />

respeitarem e se ajudarem mutuamente, combatendo antagonismos, no sentido <strong>de</strong><br />

resolverem cooperativamente os inúmeros problemas sociais e educacionais que se<br />

lhes <strong>de</strong>param. Os alunos que falham na escola ten<strong>de</strong>m a ser isolados na socieda<strong>de</strong>.<br />

Através do insucesso encobrem-se <strong>de</strong> angústias, frustrações, sofrimento. A escola e


108<br />

os professores <strong>de</strong>vem, portanto, transformar-se pedagógica e humanamente, até ao<br />

ponto, <strong>de</strong> permitirem as crianças à i<strong>de</strong>ntificação com os valores culturais e os<br />

valores humanos que lhes são inerentes.<br />

As crianças quando chegam à escola, encontram-se receptivas à<br />

aprendizagem, quer venham <strong>de</strong> envolvimento familiar favorecido ou <strong>de</strong>sfavorecidos.<br />

Para muitas crianças, e fundamentalmente para as mais <strong>de</strong>sfavorecidas econômica<br />

e familiarmente, a escola é um mundo <strong>de</strong> primeira importância. Deve-se lembrar que<br />

a criança ao perceber e assumir que não sabe, que falhou; po<strong>de</strong>rá levá-la a<br />

impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se afirmar em termos <strong>de</strong> pessoa. Se, ao contrário basearmos o<br />

ensino na otimização das áreas fortes da criança ganhamos sua a<strong>de</strong>são e não se<br />

per<strong>de</strong> nada do seu potencial.<br />

A educação <strong>de</strong>ve e tem que levar as crianças a pensar em sucesso e não em<br />

insucesso, mas só se po<strong>de</strong> atingir esse objetivo, segundo Fonseca (1995), se <strong>de</strong>ixar<br />

<strong>de</strong> usar encaminhamentos profundamente <strong>de</strong>spersonalizantes e <strong>de</strong>scoletivizantes.<br />

A função da escola é garantir apoio inestimável a todos os alunos,<br />

principalmente àqueles que só po<strong>de</strong>m contar com a escola. A razão da escola<br />

justifica-se pela transformação das crianças em seres humanos autônomos,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e pensadores, ou sejam capazes <strong>de</strong> iniciarem, elaborarem idéias.<br />

Pesquisas <strong>de</strong>monstram que, quando se tem apoio <strong>de</strong> alguém significativo,<br />

nesse caso po<strong>de</strong>ndo ser a escola, conseguem sobrepor-se à adversida<strong>de</strong>,<br />

construindo-se em adultas com possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> futuro. Desenvolver nas crianças<br />

condições para resistir e ter imunida<strong>de</strong> aos estressores, não se tornando vítima e<br />

sim resiliente, tendo como base para o êxito, o afeto e o amor sentido das pessoas<br />

que estão a sua volta.


109<br />

Resiliência é a habilida<strong>de</strong> para ressurgir da adversida<strong>de</strong>, adaptar-se,<br />

participar <strong>de</strong> uma vida ativa e significativa. De acordo com Grünspun (2003, p. 51),<br />

“é uma combinação <strong>de</strong> fatores que permite a uma criança enfrentar e superar<br />

problemas e a adversida<strong>de</strong> da vida e ser capaz <strong>de</strong> construir com isso”.<br />

As crianças resilientes à diversida<strong>de</strong> são reconhecidas como atores sociais,<br />

com estratégias, habilida<strong>de</strong>s válidas e competência para enfrentar as situações<br />

difíceis do dia a dia.<br />

É partindo <strong>de</strong>ssa analogia que se percebe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> também educar<br />

os seres humanos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> crianças a terem maior resistência e capacida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> não<br />

cair em estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão e ansieda<strong>de</strong> exagerados. É condição essencial à<br />

sobrevivência <strong>de</strong> maneira saudável, sem tornar a personalida<strong>de</strong> e a vida em<br />

verda<strong>de</strong>iras couraças para agüentar a pressão dos tempos mo<strong>de</strong>rnos.<br />

É indispensável que as famílias e as escolas se preparem. Segundo Valle<br />

(2003, p. 31), “para exercer função corretiva e educativa no sentido <strong>de</strong>sta resistência<br />

que não esmorece e sabe confiar nos outros seres humanos e em sua capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> construir um futuro diferente”.<br />

Mediante o exposto e pela pesquisa realizada, acredita-se ser possível<br />

melhorar o rendimento escolar com uma maior aproximação da escola com a família.<br />

A inovação po<strong>de</strong> ser dada, entretanto, ao nível da postura diante do ensino e<br />

da aprendizagem, que moverá novas <strong>relações</strong> no tratamento dispensado aos pais,<br />

ao professores, aos alunos e às responsabilida<strong>de</strong>s da escola.


110<br />

CONCLUSÃO<br />

O objetivo <strong>de</strong>sse estudo foi compreen<strong>de</strong>r como se dá a relação entre escola e<br />

família com alunos que vêm apresentando dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem partindo-se<br />

do pressuposto <strong>de</strong> que a família é parte integrante do <strong>de</strong>senvolvimento da criança. A<br />

investigação sob a forma <strong>de</strong> pesquisa-ação levou a constantes reflexões,<br />

observações, questionamentos e encaminhamentos envolvendo os partícipes<br />

visando à superação das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagens existentes. Essas<br />

dificulda<strong>de</strong>s caracterizaram-se como lacunas que foram se acumulando no <strong>de</strong>correr<br />

da escolarida<strong>de</strong> por serem básicas para que os alunos ingressem no IV ciclo<br />

correspon<strong>de</strong>nte a quinta série do ensino fundamental. Todos os profissionais do<br />

nível on<strong>de</strong> foi <strong>de</strong>senvolvida a pesquisa mobilizaram-se juntamente com as<br />

pesquisadoras e as famílias a<strong>de</strong>rindo a proposta <strong>de</strong> trabalho com os alunos com<br />

dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem.<br />

Tal processo reflexivo <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou a formulação <strong>de</strong> hipóteses: é possível<br />

melhorar o rendimento escolar com uma maior aproximação da escola e a família?<br />

Quais as estratégias mais favoráveis a essa aproximação?<br />

Inicialmente, buscou-se explicitar as questões teóricas e práticas relacionadas<br />

às dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem. As pesquisas nesse campo mostram que a<br />

terminologia e o conceito <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem sofreu influências <strong>de</strong><br />

várias áreas <strong>de</strong> conhecimento o que acabou, muitas vezes, por dificultar uma<br />

unanimida<strong>de</strong> ou unificação na <strong>de</strong>finição.<br />

Todavia, apesar dos estudos evi<strong>de</strong>nciarem diferentes enfoques para o tema,<br />

percebe-se que a gran<strong>de</strong> questão que <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada pelos educadores é se


111<br />

as dificulda<strong>de</strong>s dos seus alunos po<strong>de</strong>m, e até que ponto, ser superadas e quais as<br />

formas <strong>de</strong> intervenção que os docentes <strong>de</strong>vem utilizar.<br />

Esse é o gran<strong>de</strong> mérito da perspectiva construtivista, que não coloca somente<br />

nos sujeitos a responsabilida<strong>de</strong> do fracasso mas analisa as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

interação <strong>de</strong>sses sujeitos e as responsabilida<strong>de</strong>s do meio, que abre ou fecha tais<br />

possibilida<strong>de</strong>s. Isso, sem dúvida, evi<strong>de</strong>ncia o papel do professor e da escola quando<br />

os alunos apresentam dificulda<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>ndo ter como aliada à família.<br />

Viu-se que há várias possíveis explicações para os alunos que não apren<strong>de</strong>m<br />

e que diferentes formas <strong>de</strong> atuação po<strong>de</strong>m ser pensadas. Nesse sentido, o trabalho<br />

do coor<strong>de</strong>nador pedagógico torna-se bastante importante do ponto <strong>de</strong> vista do<br />

atendimento e orientação para o aluno e do assessoramento aos professores e as<br />

famílias.<br />

Salienta-se que atualmente se vê gran<strong>de</strong> ênfase em estudos sobre técnicas e<br />

procedimentos pedagógicos voltados para uma melhor atuação docente. Acredita-se<br />

que estes instrumentos são interessantes na medida em que se relacionam com o<br />

que tratamos no trabalho, tornando-se meios e não fins. Não seria útil buscar dicas e<br />

instruções sobre o fazer docente sem antes se consi<strong>de</strong>rar a real dificulda<strong>de</strong> do<br />

aluno. Assim, os professores precisam conhecer como seus alunos apren<strong>de</strong>m, como<br />

assimilam as informações a fim <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rem, a partir <strong>de</strong>sse conhecimento, direcionar<br />

sua prática pedagógica.<br />

Através da pesquisa bibliográfica e das experiências vivenciadas é possível<br />

pontuar alguns meios <strong>de</strong> contribuir para que novas estratégias <strong>de</strong> trabalho com<br />

crianças com dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem na escola, atitu<strong>de</strong>s simples tem<br />

funcionado com crianças cuja experiência na escola tem sido apenas fracasso. O<br />

sentimento <strong>de</strong> pertença <strong>de</strong>ve ser estimulado, alguém acuado, jamais vai <strong>de</strong>monstrar


112<br />

as potencialida<strong>de</strong>s que possui. Tornando o ambiente escolar acolhedor, aceitando a<br />

criança como ela é, oferecendo meios para que se <strong>de</strong>senvolva, já é uma garantia <strong>de</strong><br />

dar certo o trabalho em sala <strong>de</strong> aula. Conhecer o aluno e sua família po<strong>de</strong> ajudar a<br />

dar pistas sobre a maneira <strong>de</strong> agir com a criança diante <strong>de</strong> algumas dificulda<strong>de</strong>s na<br />

aprendizagem. A escola <strong>de</strong>veria comunicar-se mais com a família, insistir neste<br />

contato que po<strong>de</strong> esclarecer o porquê <strong>de</strong> certas atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alunos que não<br />

necessariamente tem dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem, mas po<strong>de</strong>m estar passando por<br />

momentos difíceis. A atenção às crianças, a motivação para apren<strong>de</strong>r está<br />

diretamente ligada com as emoções e a superação <strong>de</strong> barreiras.<br />

Ao final do processo, dos <strong>de</strong>z alunos envolvidos na pesquisa, três<br />

conseguiram fechar os objetivos básicos avançando para o nível seguinte. Dos<br />

alunos que avançaram, duas famílias a<strong>de</strong>riram a proposta <strong>de</strong> trabalho da pesquisa e<br />

uma não. Os <strong>de</strong>mais alunos <strong>de</strong>monstraram avanços significativos verificados no final<br />

do quarto bimestre, porém não fecharam os objetivos básicos permanecendo no<br />

nível. Pô<strong>de</strong>-se constatar, que os cinco alunos, cujas famílias envolveram-se no<br />

processo participando da vida escolar <strong>de</strong> seus filhos, <strong>de</strong>monstraram progresso<br />

<strong>de</strong>stacando-se dos <strong>de</strong>mais.<br />

Em relação aos alunos envolvidos na pesquisa verificou-se junto à escola no<br />

início do ano letivo <strong>de</strong> 2006, que os que passaram para o nível III, quinta série,<br />

conseguiram atingir a média estabelecida pela escola e dois contaram com a<br />

presença dos pais na reunião pedagógica e um não. E dos <strong>de</strong>mais que ficaram no<br />

nível III final, quarta série, todos contaram com a participação dos pais na reunião do<br />

primeiro bimestre. Cinco alunos estão acompanhando e avançando com o grupo e<br />

dois continuam no apoio pedagógico por ainda apresentarem dificulda<strong>de</strong>s na<br />

aprendizagem.


113<br />

Desses resultados qualitativos e quantitativos, infere-se indicadores:<br />

• A escola <strong>de</strong> tempo integral favorece o acompanhamento individual aos alunos<br />

oportunizando encaminhamentos que propiciam a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> lacunas na<br />

aprendizagem po<strong>de</strong>ndo contar com trabalho pedagógico específico.<br />

• Um clima favorável e comprometido em prol do ensino e aprendizagem que é<br />

construído no dia-a-dia on<strong>de</strong> professores e alunos são respeitados em sua<br />

individualida<strong>de</strong>.<br />

• A proposta pedagógica claramente <strong>de</strong>finida, com avaliações criteriosas <strong>de</strong><br />

todo o processo <strong>de</strong> ensino aprendizagem vivenciado favorece o engajamento<br />

<strong>de</strong> todos os profissionais e a a<strong>de</strong>são dos pais.<br />

• O ambiente favorável à pesquisa possibilita a ressignificação das práticas<br />

pedagógicas.<br />

• Espaço para a formação continuada reflete no encaminhamento metodológico<br />

para um ensino atraente.<br />

• O olhar diferenciado ao aluno com ritmo próprio favorece a auto-estima e a<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r.<br />

• O olhar sistêmico da família possibilita aos pais o entendimento dos<br />

relacionamentos, do processo acadêmico dos filhos e suas implicações.<br />

• A valorização da coletivida<strong>de</strong> num clima <strong>de</strong> respeito on<strong>de</strong> o companheirismo<br />

dos alunos melhorou permeando a afetivida<strong>de</strong>.<br />

• O apoio dado pela escola nas situações <strong>de</strong> adversida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> os alunos,<br />

mesmo sem a colaboração <strong>de</strong> suas famílias, conseguem a superação, não<br />

<strong>de</strong>ixando afetar-se pelas questões do dia a dia.<br />

• Um projeto como esse tem uma metodologia central baseada no diálogo que<br />

<strong>de</strong>verá ser aprimorado esten<strong>de</strong>ndo-se a todos os níveis.<br />

Assim, mediante os dados da pesquisa é fundamental traçar estratégias para<br />

a efetivação da participação da família na escola, visto que os pais participam em<br />

gran<strong>de</strong> número nas reuniões em final <strong>de</strong> bimestre. A formação contínua, a discussão<br />

conjunta, o aprofundamento teórico são formas <strong>de</strong> ajudar na aproximação <strong>de</strong> todos<br />

os envolvidos no processo. Por isso, cabe a coor<strong>de</strong>nação da escola, preocupadas e<br />

comprometidas com o processo <strong>de</strong> mudança, promover <strong>de</strong>ntro da instituição <strong>de</strong><br />

ensino maneiras <strong>de</strong> refletir sobre o tema. Só assim, através <strong>de</strong> uma reflexão sobre a


114<br />

realida<strong>de</strong> e embasada em referenciais teóricos sobre o assunto é que se<br />

transformará a realida<strong>de</strong> que se apresenta.<br />

Mediante o estudo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-se que a relação escola-família, vivenciada pela<br />

instituição pesquisada, caminha para uma relação <strong>de</strong> co-responsabilida<strong>de</strong> no<br />

processo ensino aprendizagem, on<strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>sempenha o seu papel.


115<br />

REFERÊNCIAS<br />

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116<br />

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WEISZ, T. O diálogo entre ensino e aprendizagem. São Paulo: Ática, 2002.


A N E X O S<br />

117


118<br />

Anexo 1 – Fotos do CAIC<br />

Fonte: Fotos produzidas pelas autoras.


119<br />

Anexo 2 – Ficha Utilizada na Caracterização das Famílias<br />

Estratégias <strong>de</strong> Diagnóstico e Intervenção na Família – Prática I e II<br />

FAMÍLIA : _______________________________________________________________________<br />

1. Descrição da família, dados <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação:<br />

NOMES PARENTESCO IDADE SEXO ESTADO CIVIL ESCOLARIDADE OCUPAÇÃO<br />

2. Nome do(s) entrevistado(s): ________________________________________________________<br />

3. En<strong>de</strong>reço: ______________________________________________________________________<br />

4.Nome dos familiares do entrevistado:<br />

a) Paternos: ____________________________ b) Maternos: _____________________________<br />

c) Número <strong>de</strong> irmãos paternos e maternos: ______________________________________________<br />

5. A família pratica alguma religião? ____________________________________________________<br />

6. Como é o relacionamento conjugal?(intimida<strong>de</strong>, comunicação,vínculo, confiança)<br />

________________________________________________________________________________<br />

________________________________________________________________________________<br />

7. Renda Familiar: (melhorou após o casamento?) ________________________________________<br />

________________________________________________________________________________<br />

8. Características <strong>de</strong> cada membro familiar: (<strong>de</strong> todos que moram no lar)<br />

Membros da Família Características Interação<br />

9. Objetivos da família: ______________________________________________________________<br />

10. Como a família exerce a autorida<strong>de</strong>? (respeito, obediência, flexibilida<strong>de</strong>)<br />

________________________________________________________________________________


120<br />

11. Que virtu<strong>de</strong>s conseguem <strong>de</strong>senvolver na família?<br />

SIM NÁO SIM NÁO SIM NÁO<br />

Generosida<strong>de</strong> Humilda<strong>de</strong> Paciência<br />

Fortaleza Perseverança Justiça<br />

Otimismo Or<strong>de</strong>m Obediência<br />

Pudor Responsabilida<strong>de</strong> Sociabilida<strong>de</strong><br />

Sobrieda<strong>de</strong> Respeito Amiza<strong>de</strong><br />

Flexibilida<strong>de</strong> Sincerida<strong>de</strong> Compreensão<br />

Prudência Lealda<strong>de</strong> Resiliencia<br />

Audácia Laboriosida<strong>de</strong> Sencilez<br />

12. Quais objetivos educativos que propõe como pais?<br />

________________________________________________________________________________<br />

13. Como é trabalhada a educação da afetivida<strong>de</strong> na família?<br />

________________________________________________________________________________<br />

14. Como acontece a comunicação, a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, como dirigem a família?<br />

________________________________________________________________________________<br />

15. Cite 3 razões da importância da educação <strong>de</strong> seus filhos para o trabalho frente a uma socieda<strong>de</strong><br />

que <strong>de</strong>svirtua seu sentido:<br />

________________________________________________________________________________<br />

16. Quais são as fortalezas na família?<br />

________________________________________________________________________________<br />

17. Já vivenciaram um momento <strong>de</strong> dor na família? Quando? Como tiveram forças para vivenciá-la?<br />

________________________________________________________________________________<br />

18. O que gostaria <strong>de</strong> melhorar em sua família?<br />

________________________________________________________________________________<br />

19. Como ocorre a interação familiar? (comunicação, <strong>relações</strong> familiares, família centro educativo,<br />

ponto <strong>de</strong> apoio, todos expressam suas necessida<strong>de</strong>s, há liberda<strong>de</strong>?)<br />

________________________________________________________________________________<br />

20. Como é o relacionamento dos pais com os filhos?<br />

________________________________________________________________________________<br />

21. Como é a atitu<strong>de</strong> dos pais perante os filhos? Mediante dificulda<strong>de</strong>s conflitos. É igual com todos?<br />

________________________________________________________________________________<br />

22. Como trabalha as situações <strong>de</strong> conflito na família?<br />

________________________________________________________________________________


121<br />

Anexo 3 – Ficha Utilizada no Conselho <strong>de</strong> Avaliação da Escola<br />

“A prática <strong>de</strong> pensar a prática é a melhor maneira <strong>de</strong> pensar o certo” (Paulo Freire)<br />

É na emersão, no surgimento da consciência que nos tornamos sujeitos. É o sujeito, tomando<br />

consciência <strong>de</strong> si e <strong>de</strong> sua circunstância (a realida<strong>de</strong> que está a sua volta e na qual está inserido,<br />

camuflada, velada ou claramente), se situa historicamente, e a partir daí po<strong>de</strong> comprometer-se com a<br />

transformação <strong>de</strong>sta realida<strong>de</strong>.<br />

Conselho <strong>de</strong> Avaliação: ______________________________________ Data: __________________<br />

Grupo: ________________________________ Professores: _______________ e _______________<br />

1. Parecer em relação ao trabalho realizado.<br />

Quais as sugestões dadas pela equipe que<br />

foram colocadas em prática? E sua?<br />

Quais<br />

resultados?<br />

Teve dificulda<strong>de</strong>s?<br />

Quais?<br />

Quais linhas<br />

<strong>de</strong> ação?<br />

2. Parecer geral do grupo.<br />

Avanços Dificulda<strong>de</strong>s Necessida<strong>de</strong>s<br />

Linhas <strong>de</strong><br />

ação<br />

3. Sugestões.<br />

________________________________________________________________________________<br />

________________________________________________________________________________<br />

________________________________________________________________________________<br />

4. Parecer <strong>de</strong> todos os alunos (especificar dificulda<strong>de</strong>s e avanços na aprendizagem e não somente a<br />

área <strong>de</strong> conhecimento).<br />

Alunos Comentários Dificulda<strong>de</strong>s O que foi trabalhado<br />

com o aluno<br />

Avanços<br />

Linhas <strong>de</strong><br />

ação


A P Ê N D I C E S<br />

122


123<br />

Apêndice 1 – Roteiro da Entrevista com as Famílias<br />

Família e escola<br />

Visão da escola<br />

Ambiente familiar<br />

Ambiente familiar para o aprendizado<br />

O aluno em casa<br />

Solicitações da escola<br />

Participação a escola<br />

Importância da participação<br />

Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem dos filhos<br />

Participação da familia nos compromissos e dificulda<strong>de</strong>s


124<br />

Apêndice 2 – Parecer dos Professores – Início e Final da Pesquisa<br />

PARECER DOS PROFESSORES INÍCIO DA PESQUISA<br />

ALUNOS<br />

Filiação/breve histórico<br />

(o que é importante saber)<br />

Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

aprendizagem<br />

Participação<br />

da família<br />

PARECER FINAL DOS PROFESSORES DA PESQUISA<br />

ALUNOS<br />

Como você<br />

viu a família<br />

do aluno?<br />

O que você<br />

fez <strong>de</strong>u<br />

resultado?<br />

Como você<br />

viu a escola?<br />

Pontos<br />

positivos do<br />

aluno?<br />

Qual é a<br />

maior<br />

dificulda<strong>de</strong>?<br />

Pelo esforço<br />

do aluno o que<br />

ele melhorou?<br />

Como percebe<br />

a relação<br />

professor e<br />

aluno?<br />

Responda as questões:<br />

1. Como percebe a relação pais e alunos?<br />

2. Como percebe a relação família e escola?

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