ressignificando a teia de relações - Instituto de Ensino e Fomento
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA<br />
UNIVERSIDAD DE LA SABANA<br />
INSTITUTO DE ENSINO E FOMENTO<br />
ELIANE TRAMONTIN SILVEIRA MOLETA<br />
ELIZABET TRAMONTIN SILVEIRA CAMARGO<br />
RESSIGNIFICANDO A TEIA DE RELAÇÕES:<br />
ESCOLA, DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E FAMÍLIA<br />
PONTA GROSSA<br />
2006
ELIANE TRAMONTIN SILVEIRA MOLETA<br />
ELIZABET TRAMONTIN SILVEIRA CAMARGO<br />
RESSIGNIFICANDO A TEIA DE RELAÇÕES:<br />
ESCOLA, DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E FAMÍLIA<br />
Monografia apresentada como requisito parcial para<br />
obtenção do título <strong>de</strong> Especialista em<br />
Desenvolvimento Pessoal e Familiar pela<br />
Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Ponta Grossa /<br />
Universidad <strong>de</strong> La Sabana / IEF.<br />
Orientadora: Profa. Ms. Marinê Fecci Batistão Leite.<br />
PONTA GROSSA<br />
2006
A todos aqueles, que como nós,<br />
acreditam na força das <strong>relações</strong>.
AGRADECIMENTOS<br />
A Deus, por ter nos dado o dom da vida, oportunizando nosso encontro com<br />
essas pessoas com quem convivemos e com as crianças que por suas atitu<strong>de</strong>s nos<br />
proporcionaram condições para a concretização <strong>de</strong>ste estudo.<br />
Aos nossos pais Alceu e Arlete, que nos incentivaram para o estudo<br />
orientando-nos para as responsabilida<strong>de</strong>s frente às nossas escolhas e<br />
principalmente ao compromisso em relação ao próximo.<br />
Aos nossos esposos e filhos por terem compreendido o que significou para<br />
nós o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> terminar este trabalho, pelos momentos que compartilharam a<br />
nossa experiência, muitas vezes roubados <strong>de</strong> nossas horas <strong>de</strong> lazer, e também, pelo<br />
apoio e estímulo nas horas <strong>de</strong> <strong>de</strong>salento.<br />
A nossa orientadora Professora Ms. Marinê Fecci Batistão Leite pela amiza<strong>de</strong><br />
e competência com quem nos orientou e que com seu exemplo e experiências<br />
inspirou-nos a sermos educadoras que primam pela competência e <strong>de</strong>dicação.<br />
A todos os alunos e seus familiares participantes da pesquisa com quem<br />
tivemos a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conviver e, através <strong>de</strong>les apren<strong>de</strong>r.<br />
do estudo.<br />
Aos professores que nos colocaram suas salas a disposição para a realização<br />
Ao CAIC, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvemos nossas ativida<strong>de</strong>s profissionais, e por<br />
oportunizar nosso encontro com essas crianças, fundamento <strong>de</strong>ste estudo.
A unida<strong>de</strong> familiar se consegue quando<br />
a família tem os mesmos valores, ainda<br />
que com enfoques diferentes.<br />
(Sávio Ferreira <strong>de</strong> Souza – IEF)
RESUMO<br />
Este trabalho, numa abordagem qualitativa, enfoca a relação da escola com famílias <strong>de</strong><br />
alunos que vêm apresentando dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem. A pesquisa foi <strong>de</strong>senvolvida<br />
no CAIC – Centro <strong>de</strong> Atenção a Criança e ao adolescente Reitor Álvaro Augusto Cunha<br />
Rocha, da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Ponta Grossa, Paraná, com alunos do Nível III,<br />
segunda fase, que equivale a quarta série do <strong>Ensino</strong> Fundamental, os quais apresentaram<br />
<strong>de</strong>fasagem <strong>de</strong> conteúdos e participaram do apoio pedagógico fora <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula. Objetiva<br />
compreen<strong>de</strong>r como se dá a relação entre escola e família, i<strong>de</strong>ntificando suas implicações<br />
para a melhoria dos resultados escolares. As questões norteadoras do estudo foram: as<br />
dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagens mais comuns, os encaminhamentos utilizados pela escola,<br />
i<strong>de</strong>ntificação do olhar do professor e da escola em relação a essa questão, o contexto<br />
familiar em que vive o aluno e o comportamento familiar frente tal problemática. Para a<br />
coleta <strong>de</strong> dados fez-se uso <strong>de</strong> questionários e entrevistas semi-estruturadas aplicadas aos<br />
alunos, professores, equipe pedagógica e aos pais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z alunos envolvidos na pesquisa;<br />
análise documental dos alunos em questão e levantamento bibliográfico pertinente ao tema.<br />
Apontam-se estratégias <strong>de</strong> trabalhos, mediante a literatura pesquisada e práticas<br />
vivenciadas, que ressignificam a <strong>teia</strong> <strong>de</strong> <strong>relações</strong> da referida escola. Dentro <strong>de</strong> uma<br />
perspectiva relacional sistêmica, constatou-se que a inserção da família na escola e o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> práticas coletivas <strong>de</strong> integração dos mesmos promovem o crescimento<br />
e o bem estar <strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong> que apresenta dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem. A família e a<br />
escola se inseriram neste contexto como complemento uma da outra, com objetivos,<br />
metodologias e campos <strong>de</strong> atuação distintos. A formação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong>, para além da família<br />
nuclear, permite ao aluno <strong>de</strong>senvolver uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> grupal, um sentimento <strong>de</strong><br />
pertencimento, <strong>de</strong> validação, e ao mesmo tempo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferenciação e <strong>de</strong><br />
crescimento. Sendo assim, a dificulda<strong>de</strong> na aprendizagem se transforma em oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> aprendizagem para a família, no tocante a seus processos <strong>de</strong> relacionamento<br />
interpessoais, e para os professores e a escola refletirem sobre os resultados <strong>de</strong> sua ação<br />
educacional, repensando a prática pedagógica e inscrevendo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos<br />
procedimentos.<br />
Palavras-chave: Escola – Dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem – Família.
SUMÁRIO<br />
INTRODUÇÃO .................................................................................................. 7<br />
CAPÍTULO 1 – O CAIC – CENTRO DE ATENÇÃO INTEGRAL A CRIANÇA<br />
E AO ADOLESCENTE.................................................................................... 12<br />
1.1 A Proposta Pedagógica e os seus Princípios Filosóficos, Epistemológicos e<br />
Didáticos Pedagógicos ..........................................................................................17<br />
CAPÍTULO 2 – ESCOLA, FAMÍLIA E AS DIFICULDADES DE<br />
APRENDIZAGEM............................................................................................ 32<br />
2.1 A Aprendizagem ..............................................................................................42<br />
2.2 As Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Aprendizagem ...................................................................54<br />
CAPÍTULO 3 – A PESQUISA EMPÍRICA ...................................................... 64<br />
3.1 Encaminhamentos Metodológicos ...................................................................66<br />
3.2 Análise dos Dados...........................................................................................73<br />
3.2.1 Olhar do Professor ....................................................................................75<br />
3.2.2 Olhar da Família........................................................................................83<br />
3.2.3 Olhar do Aluno ..........................................................................................93<br />
3.2.4 Olhar das Pesquisadoras ........................................................................101<br />
CONCLUSÃO................................................................................................ 110<br />
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 115<br />
ANEXOS........................................................................................................ 117<br />
Anexo 1 – Fotos do CAIC ....................................................................................118<br />
Anexo 2 – Ficha Utilizada na Caracterização das Famílias.................................119<br />
Anexo 3 – Ficha Utilizada no Conselho <strong>de</strong> Avaliação da Escola .........................121<br />
APÊNDICES.................................................................................................. 122<br />
Apêndice 1 – Roteiro da Entrevista com as Famílias ..........................................123<br />
Apêndice 2 – Parecer dos Professores – Início e Final da Pesquisa...................124
7<br />
INTRODUÇÃO<br />
Neste estudo preocupou-se em compreen<strong>de</strong>r a participação dos pais na<br />
escola, não somente ligada à tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e sob a forma <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong><br />
serviços ou contribuição financeira, mas prioritariamente a a<strong>de</strong>são dos alunos, seus<br />
pais ou responsáveis aos propósitos educativos que contribuam para o bom<br />
<strong>de</strong>sempenho estudantil.<br />
A inquietação para conhecer essa relação surgiu diante da constatação das<br />
dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem enfrentadas pelas crianças e nosso questionamento.<br />
É possível melhorar o rendimento escolar com uma maior aproximação da escola e<br />
a família? Quais as estratégias mais favoráveis a essa aproximação?<br />
Para o referido estudo foi utilizado os procedimentos da pesquisa qualitativa e<br />
a abordagem da pesquisa-ação, na qual investigou-se como se <strong>de</strong>u a relação entre<br />
escola e família, tendo por amostragem <strong>de</strong>z alunos do Nível III, segunda fase,<br />
equivalente a quarta série, que apresentavam dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem no<br />
período letivo <strong>de</strong> 2005.<br />
Buscando um caminho específico ao problema central da pesquisa, formulouse<br />
os seguintes objetivos: <strong>de</strong>screver e analisar quais as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
aprendizagem mais comuns; i<strong>de</strong>ntificar o olhar do professor e da escola em relação<br />
à criança com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem; analisar em que contexto familiar vive o<br />
aluno com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem; analisar o comportamento familiar frente a<br />
essa problemática; <strong>de</strong>screver e analisar encaminhamentos utilizados pela escola<br />
para contribuir no <strong>de</strong>senvolvimento das crianças com dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem;
8<br />
apontar estratégias <strong>de</strong> trabalhos com crianças com dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem<br />
através da literatura pesquisada e práticas vivenciadas.<br />
Para tanto, aborda-se num primeiro momento, no capítulo um, O CAIC –<br />
Centro <strong>de</strong> Atenção Integral a Criança e ao Adolescente, traçando brevemente a<br />
trajetória <strong>de</strong> um sonho que virou realida<strong>de</strong> para a Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Ponta<br />
Grossa: ter uma escola <strong>de</strong> Educação Infantil e <strong>Ensino</strong> Fundamental que se<br />
constituísse em campo <strong>de</strong> pesquisa para os diversos cursos e em especial as<br />
licenciaturas. Escola essa que vem se <strong>de</strong>stacando no cenário nacional com suas<br />
produções escritas, práticas pedagógicas e qualificação profissional. Além da<br />
caracterização da escola, são mencionados dados do perfil sócio-econômico e<br />
educacional das famílias dos alunos da escola, os princípios que nor<strong>teia</strong>m a<br />
Proposta Pedagógica, os quais direcionam todas as ações à construção do<br />
conhecimento <strong>de</strong> forma crítica e contextualizada, portanto com significado para o<br />
aluno, valorizando o aprendizado que ele traz consigo.<br />
Visto que é uma escola <strong>de</strong> período integral, é <strong>de</strong>svelada a dinâmica dos<br />
espaços e tempos dos alunos num exercício <strong>de</strong> autonomia. A interação é constante<br />
na escola, estimulando aspectos lógicos e racionais da criança, bem como a<br />
formação global <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong>, permitindo o pensar, o sentir e o agir.<br />
Na busca da compreensão das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem aborda-se no<br />
capítulo dois A Escola, a Família e as Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Aprendizagem. Sabe-se<br />
que sendo o aluno parte integrante do processo ensino aprendizagem é preciso<br />
compreen<strong>de</strong>r o contexto on<strong>de</strong> ele está inserido, a escola e a família, fazendo-se<br />
necessário uma estreita relação entre ambos. Estuda-se a Aprendizagem para que<br />
se tenha elementos que favoreçam a compreensão <strong>de</strong>sse processo,<br />
conceitualizando-a, <strong>de</strong>screvendo-a em suas teorias, potencialida<strong>de</strong>s e implicações.
9<br />
A aprendizagem escolar neste trabalho é entendida como condição vinculada ao<br />
funcionamento familiar. A complexida<strong>de</strong> do processo ensino aprendizagem em suas<br />
não poucas implicações, foi e continua sendo objeto <strong>de</strong> análise para os que<br />
procuram enten<strong>de</strong>r melhor a prática ou preten<strong>de</strong>m contribuir com quem enfrenta os<br />
mais diferentes <strong>de</strong>safios pedagógicos em seu fazer.<br />
Nas Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Aprendizagem é imprescindível um esforço reflexivo a<br />
partir dos vários enfoques teóricos e práticos que se entrecruzam, se interpõem e se<br />
completam, alargando horizontes para que se possa contemplar a complexida<strong>de</strong> da<br />
não aprendizagem na busca do melhor encaminhamento, visando saná-las.<br />
Para um melhor envolvimento da escola com vistas aos problemas na<br />
aprendizagem, aborda-se a teoria relacional sistêmica. Investida <strong>de</strong>sse olhar<br />
sistêmico, a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida na pesquisa permite convidar todos os<br />
envolvidos da escola e família a constituírem uma solução. Precisam organizar-se<br />
para buscar soluções conjuntas para os problemas que se apresentam, neste caso,<br />
as dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem. A escola não abre mão <strong>de</strong> sua responsabilida<strong>de</strong>,<br />
apenas redimensiona o seu olhar para a <strong>teia</strong> <strong>de</strong> <strong>relações</strong> que se constrói entre<br />
escola e família.<br />
No âmbito das famílias, foi privilegiado o contato com os membros adultos,<br />
especificamente os pais ou responsáveis, para ter acesso a seus esquemas <strong>de</strong><br />
representações a respeito da relação estabelecida com a escola e professores, bem<br />
como das concepções que têm do processo <strong>de</strong> aprendizagem vivenciado pelo filho.<br />
A relação estabelecida entre a escola, os professores, os alunos e os pais da<br />
instituição pesquisada é analisada no capítulo três A Pesquisa Empírica, quando se<br />
relata a participação das famílias na escola, fazendo um paralelo sobre a<br />
participação ou não da família e sobre esse envolvimento para o <strong>de</strong>senvolvimento
10<br />
da aprendizagem do aluno. Pelo olhar da escola, dos professores e coor<strong>de</strong>nadores,<br />
e pelo olhar dos alunos, <strong>de</strong> seus familiares e das pesquisadoras, <strong>de</strong>svela-se neste<br />
estudo o processo ensino aprendizagem, a integração família e escola e o<br />
enfrentamento às dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem.<br />
A escola que se preocupa em levar o aluno a querer apren<strong>de</strong>r, precisa ter<br />
presente a continuida<strong>de</strong> entre a educação familiar e a escolar, buscando formas <strong>de</strong><br />
conseguir a a<strong>de</strong>são da família para sua tarefa <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver nos educandos<br />
atitu<strong>de</strong>s positivas e duradouras com relação ao apren<strong>de</strong>r e ao estudar, edificando<br />
uma perspectiva preventiva das dificulda<strong>de</strong>s escolares. É no início da escolarização<br />
e não no fim, que se <strong>de</strong>ve otimizar o potencial <strong>de</strong> aprendizagem das crianças.<br />
Essa percepção vem ao encontro dos anseios <strong>de</strong> todos os educadores e<br />
educadoras que, convivendo no dia-a-dia com alunos que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da sua forma<br />
<strong>de</strong> conduzir as <strong>relações</strong>, po<strong>de</strong>m estar <strong>de</strong>terminando o quanto serão ou não bem<br />
sucedidos na vida escolar e conseqüentemente na vida como um todo. O ser<br />
humano é imbuído <strong>de</strong> sentimentos, e é preciso atenção em relação a eles e na<br />
busca <strong>de</strong> estratégias que permitam resgatar a auto-estima e valorizar as<br />
capacida<strong>de</strong>s individuais em prol <strong>de</strong> toda a coletivida<strong>de</strong>.<br />
Sugere-se o fator resiliência que, segundo Grünspun (2003), po<strong>de</strong> ser um dos<br />
meios que po<strong>de</strong> minimizar os efeitos negativos do ambiente e da herança genética e<br />
<strong>de</strong>ixar que a individualida<strong>de</strong> da criança floresça, apesar das adversida<strong>de</strong>s da vida.<br />
As <strong>de</strong>cepções geradas pela incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolver as contradições, conduzem o<br />
indivíduo ao sentimento <strong>de</strong> impotência diante às adversida<strong>de</strong>s que lhe são impostas.<br />
Esses <strong>de</strong>safios e dificulda<strong>de</strong>s que cotidianamente se apresentam, faz com que o ser<br />
humano precise ser formado e se auto-formar para preservar-se psicologicamente,<br />
para reagir e organizar o seu mundo, suas carências, suas priorida<strong>de</strong>s, seus anseios
11<br />
e suas ações, <strong>de</strong> modo a não <strong>de</strong>ixar que as eventualida<strong>de</strong>s sobressaiam e que não<br />
possam, em dado momento e em <strong>de</strong>terminadas situações, controlar e dar respostas<br />
exigidas. A formação neste contexto exprimiria a sua resiliência, isto é, sua<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma mais consciente aos <strong>de</strong>safios e dificulda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong><br />
reagir com flexibilida<strong>de</strong> e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recuperação diante <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>safios e<br />
circunstâncias <strong>de</strong>sfavoráveis, tendo uma atitu<strong>de</strong> otimista, positiva e perseverante,<br />
conseguindo manter um equilíbrio eficaz durante e após os embates. Um atributo <strong>de</strong><br />
personalida<strong>de</strong> que ativada e <strong>de</strong>senvolvida, possibilita ao sujeito superar-se às<br />
pressões <strong>de</strong> seu mundo, a <strong>de</strong>senvolver o autoconceito realista, a autoconfiança e<br />
um senso <strong>de</strong> autoproteção que não <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra a abertura ao novo, à mudança,<br />
ao outro e à realida<strong>de</strong> subjacente fazendo seguir adiante.<br />
Po<strong>de</strong>-se inferir que a resiliência tem a ver com o vínculo afetivo <strong>de</strong> cada<br />
dinâmica familiar ou social. Faz-se necessário que os alunos e todos os envolvidos<br />
no processo ensino aprendizagem sejam queridos e que possam contar com<br />
pessoas que os levem a busca das necessida<strong>de</strong>s básicas e que os façam sentir-se<br />
únicos, úteis e importantes, favorecendo a construção do conhecimento, a<br />
transformação da realida<strong>de</strong> e a elevação como ser humano.
12<br />
CAPÍTULO 1<br />
O CAIC – CENTRO DE ATENÇÃO INTEGRAL A CRIANÇA E AO<br />
ADOLESCENTE<br />
O Centro <strong>de</strong> Atenção Integral à Criança e ao Adolescente Reitor Alvaro<br />
Augusto Cunha Rocha – CAIC – é um órgão suplementar da Universida<strong>de</strong> Estadual<br />
<strong>de</strong> Ponta Grossa, situado à rua Alameda Coronel Camisão s/ n.º, Campus<br />
Universitário, no bairro <strong>de</strong> Uvaranas, no município <strong>de</strong> Ponta Grossa/Paraná (fotos no<br />
Anexo 1).<br />
No inicio da década <strong>de</strong> 1990, um grupo <strong>de</strong> professores dos <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong><br />
Educação e Métodos e Técnicas <strong>de</strong> <strong>Ensino</strong> da UEPG – Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong><br />
Ponta Grossa 1 , elaborou um projeto para criação <strong>de</strong> um Centro Educacional, cujo<br />
objetivo era o <strong>de</strong> organizar uma escola <strong>de</strong> Educação Infantil e <strong>Ensino</strong> Fundamental,<br />
que se constituísse campo <strong>de</strong> estágio para os Cursos <strong>de</strong> Licenciaturas.<br />
O projeto possibilitou a conquista junto ao Projeto Minha Gente, do Governo<br />
Fe<strong>de</strong>ral, a implantação <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> física mo<strong>de</strong>lo CAIC – Centro <strong>de</strong> Atenção<br />
Integral a Criança e ao Adolescente no Campus da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Ponta<br />
Grossa.<br />
Na época, foi conquistado um excelente espaço físico, com aproximadamente<br />
15.000 metros quadrados <strong>de</strong> área ver<strong>de</strong> com uma área construída <strong>de</strong> 5.000 metros<br />
quadrados, conforme mo<strong>de</strong>lo CIACs 12. O governo Collor no início <strong>de</strong> 1991 adota a<br />
proposta dos Centros Integrados <strong>de</strong> Educação Pública – CIEPs do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
criando em todo país os Centros Integrados <strong>de</strong> Apoio à Criança – CIACs, que se<br />
1 Para aprofundamento consultar o Projeto <strong>de</strong> Implantação do Caic Reitor Álvaro Augusto Cunha<br />
Rocha, nos Arquivos da escola pesquisada.
13<br />
constituíram na base física do Projeto Minha Gente, cuja finalida<strong>de</strong> era o bem estar<br />
da criança e do adolescente. No caso específico do CAIC Reitor Álvaro Augusto<br />
Cunha Rocha <strong>de</strong> Ponta Grossa, é importante salientar que a proposta pedagógica<br />
implementada não era a mesma do Projeto Minha Gente, mas apenas a estrutura<br />
física, conquistada pela reitoria da UEPG da época, para a criação da escola 2 .<br />
A unida<strong>de</strong> abrigou o Centro Educacional, criado através da resolução<br />
Universitária Nº. 16, <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1990, que começou a se tornar realida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> CAIC.<br />
Em 1996, foi homologada a criação do Centro <strong>de</strong> Atenção Integral a Criança e<br />
ao Adolescente – CAIC, o qual se caracteriza como um espaço educativo cultural<br />
que pela proposta político-filosófica e a abrangência <strong>de</strong> ação, propõe a integração<br />
<strong>de</strong> serviços essenciais ao <strong>de</strong>senvolvimento integral da criança nos aspectos: físico,<br />
psíquico, intelectual e social.<br />
No referido espaço, os serviços sociais básicos estão organizados em Seções<br />
<strong>de</strong> Apoio: Alimentação, Cultura, Esportes e Promoção a Saú<strong>de</strong> da Criança e do<br />
Adolescente. Cada uma das Seções procura auxiliar no <strong>de</strong>senvolvimento integral do<br />
aluno.<br />
A construção forma um conjunto arquitetônico organizado em três blocos: o<br />
primeiro, abriga o espaço da Educação Infantil apropriado para aten<strong>de</strong>r as crianças<br />
<strong>de</strong> 3 a 6 anos. O segundo bloco, formado pela biblioteca, auditório, salas para os<br />
Ateliês e uma área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> constituída por consultório médico e odontológico. O<br />
terceiro bloco é formado por dois andares. No andar inferior encontram-se: cozinha,<br />
refeitório, banheiros equipados com chuveiros, área administrativa composta por<br />
direção geral, sala <strong>de</strong> convivência (para funcionários e professores), almoxarifado,<br />
2 Para aprofundamento sobre CIEPs, CIACs, CAICs consultar o livro Escolas Especiais e visão<br />
classista: bases históricas das concepções <strong>de</strong> atenção integral à criança e ao adolescente,<br />
publicação da Editora UEPG 1998.
14<br />
tesouraria, secretaria, sala <strong>de</strong> reuniões e <strong>de</strong> esportes. No andar superior encontramse:<br />
salas <strong>de</strong> aula, sala <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação pedagógica e orientação educacional.<br />
Além dos blocos, há um ginásio <strong>de</strong> esportes, uma quadra externa, pátios<br />
interno e externo, um campo <strong>de</strong> futebol suíço, cancha <strong>de</strong> areia, brinquedoteca,<br />
ludoteca, parques infantis e uma extensa área ver<strong>de</strong>. Os alunos também po<strong>de</strong>m<br />
usufruir <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>pendências do Campus Universitário como: pista <strong>de</strong><br />
atletismo, piscina, laboratórios para palestras com acadêmicos.<br />
No CAIC estão alocadas duas Escolas: a escola que funcionava <strong>de</strong>ntro do<br />
espaço conquistado, a qual recebeu o nome <strong>de</strong> Escola Reitor Álvaro Augusto Cunha<br />
Rocha em homenagem ao professor Álvaro Augusto Cunha Rocha 3 – Educação<br />
Infantil e <strong>Ensino</strong> Fundamental, contando atualmente com 368 alunos; e a Escola<br />
Estadual Professora Hália Terezinha Gruba 4 , <strong>Ensino</strong> Fundamental <strong>de</strong> 5ª a 8ª série,<br />
mantida pela Secretaria <strong>de</strong> Estado da Educação, contando com 250 alunos<br />
matriculados.<br />
Além dos funcionários lotados nas duas escolas, o CAIC oferece aos alunos<br />
atendimento <strong>de</strong> profissionais como: nutricionista, cozinheiras, auxiliares <strong>de</strong><br />
enfermagem e técnicas em higiene bucal, <strong>de</strong>ntista e médico.<br />
A Escola na qual foi <strong>de</strong>senvolvida a pesquisa, funciona nas <strong>de</strong>pendências do<br />
CAIC Reitor Álvaro Augusto Cunha Rocha, iniciou suas ativida<strong>de</strong>s através da<br />
resolução nº. 856/93 <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1993. Caracteriza-se como uma escola <strong>de</strong><br />
período integral, permanecendo das 8 às 16 horas, exceto na quarta-feira,cuja saída<br />
ocorre às doze horas. As tar<strong>de</strong>s <strong>de</strong> quarta-feira são <strong>de</strong>stinadas a formação<br />
continuada dos professores e funcionários do CAIC, visto que os alunos não<br />
permanecem na escola.<br />
3 Primeiro Reitor da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Ponta Grossa, cuja gestão foi no período <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong><br />
maio <strong>de</strong> 1970 a 20 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1974; faleceu no dia 26 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1992.<br />
4 Professora do Departamento <strong>de</strong> Métodos e Técnicas <strong>de</strong> <strong>Ensino</strong> da UEPG.
15<br />
Os alunos são provenientes <strong>de</strong> famílias em sua maioria <strong>de</strong> classe econômica<br />
média baixa, on<strong>de</strong> o casal está inserido no mercado <strong>de</strong> trabalho para garantir o<br />
sustento, como é percebido nos dados do perfil socioeconômico educacional,<br />
possibilitando uma melhor compreensão da comunida<strong>de</strong> escolar. A renda familiar <strong>de</strong><br />
acordo com dados <strong>de</strong> 2004, está entre um e dois salários mínimos 48,8%, sendo<br />
que 63,7% <strong>de</strong> pais e 60,7% <strong>de</strong> mães trabalham para manter a família. Em relação a<br />
inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho com remuneração fixa temos 46,5% dos pais e<br />
38,5% das mães. É significativo o percentual <strong>de</strong> pais 17,2% e <strong>de</strong> 22,9% <strong>de</strong> mães<br />
que são funcionários públicos. A taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego é <strong>de</strong> 66,7%, e neste caso para<br />
o sustento da família, as mães trabalham <strong>de</strong> diarista e os pais fazem trabalhos<br />
temporários. Em relação ao <strong>de</strong>slocamento até a escola 31,3% dos alunos chegam a<br />
pé, 32% utilizam transporte coletivo e os <strong>de</strong>mais, são levados pelos pais com<br />
condução própria. No que se refere ao método <strong>de</strong> ensino 64,6% dos pais estão<br />
satisfeitos com a proposta pedagógica da escola. Em termos <strong>de</strong> alimentação, a<br />
escola oferece três refeições diárias, sendo que após o almoço há um intervalo <strong>de</strong><br />
uma hora, on<strong>de</strong> os alunos po<strong>de</strong>m participar <strong>de</strong> diversas ativida<strong>de</strong>s recreativas,<br />
esportivas e artísticas, po<strong>de</strong>ndo administrar seu tempo da maneira como quiserem<br />
sob a orientação da Seção <strong>de</strong> Cultura, estagiários e coor<strong>de</strong>nação pedagógica. A<br />
escola está organizada em níveis I, II e III, aten<strong>de</strong>ndo uma clientela com faixa etária<br />
<strong>de</strong> 4 a 10 anos. Os professores <strong>de</strong>sta escola são cedidos pela Prefeitura Municipal<br />
<strong>de</strong> Ponta Grossa, através <strong>de</strong> Convênio com a Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação –<br />
SME. A coor<strong>de</strong>nação pedagógica, e os <strong>de</strong>mais funcionários fazem parte do quadro<br />
funcional da UEPG.<br />
É uma Escola da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Ponta Grossa, on<strong>de</strong> é possível<br />
perceber que existem práticas e experiências educacionais em curso, mostrando
16<br />
que é possível ser diferente, que é possível construir um espaço educativo em que<br />
se possam produzir diferentes e múltiplos significados.<br />
Os profissionais que atuam no CAIC são os sujeitos, autores, atores e<br />
construtores <strong>de</strong> suas práticas, cumprindo sua função social, atingindo o objetivo <strong>de</strong><br />
sua implantação. I<strong>de</strong>alizada como escola pesquisa, hoje, <strong>de</strong>staca-se por sua<br />
qualificação profissional e suas produções. Os projetos <strong>de</strong> extensão <strong>de</strong>senvolvidos<br />
evi<strong>de</strong>nciam-se, e os mais recentes, foram publicados na 1ª Edição da Revista<br />
Conexão da UEPG (2005). Muitos dos professores que atuaram, no CAIC, assumem<br />
coor<strong>de</strong>nações <strong>de</strong> escolas da Re<strong>de</strong> Municipal <strong>de</strong> <strong>Ensino</strong> e contribuem com sua<br />
bagagem <strong>de</strong> conhecimentos, forjados no CAIC, para elevar qualitativamente a<br />
educação do município.<br />
O CAIC possui publicações anuais <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2002, constituídas em ANAIS do<br />
Encontro Interdisciplinar <strong>de</strong> Práticas Pedagógicas, resultado das experiências que<br />
são efetivadas no cotidiano escolar das referidas escolas e seções <strong>de</strong> apoio. O<br />
evento caracteriza-se num momento <strong>de</strong> diálogo, <strong>de</strong> reflexão, <strong>de</strong> socialização <strong>de</strong><br />
experiências, pesquisas e práticas escolares, e <strong>de</strong> busca <strong>de</strong> novos saberes e<br />
fazeres em educação. A especificida<strong>de</strong> da ação educativa é marcada pelo trabalho e<br />
pelas <strong>relações</strong> que se dão em sala <strong>de</strong> aula e estabelecidas no convívio entre<br />
educadores(as)/educandos na escola, acontecendo portanto nos tempos e espaços<br />
<strong>de</strong> convívio pedagógico que preten<strong>de</strong>-se partilhar com as famílias.
17<br />
1.1 A Proposta Pedagógica e os seus Princípios Filosóficos, Epistemológicos e<br />
Didáticos Pedagógicos<br />
A proposta da escola, em sua originalida<strong>de</strong> e caráter inovador foi reconhecida<br />
nacionalmente, já em 1994, pelo Centro <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas em Educação,<br />
Cultura e Ação Comunitária – CENPEC, como uma <strong>de</strong>ntre <strong>de</strong>zesseis melhores<br />
propostas do País 5 . Mais tar<strong>de</strong>, em 1998, a escola, recebeu também o prêmio<br />
Nacional <strong>de</strong> Referência em Gestão Escolar, promovido pela Secretaria <strong>de</strong> Estado da<br />
Educação do Paraná – SEED, em parceria com o Conselho Nacional dos<br />
Secretários <strong>de</strong> Educação – CONSED e a União Nacional dos Dirigentes Municipais<br />
<strong>de</strong> Educação – UNDIME, ficando em quarto lugar <strong>de</strong>ntre as <strong>de</strong>z escolhidas no<br />
Estado do Paraná.<br />
A proposta pedagógica é <strong>de</strong>nsa e bastante original, preten<strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong><br />
romper com a exclusão, com a concepção fragmentária <strong>de</strong> conhecimento e com uma<br />
visão pragmática, imediatista, reducionista e parcial da educação, cuja ruptura<br />
implica a criação <strong>de</strong> uma efetiva capacida<strong>de</strong> pedagógica <strong>de</strong> incorporar os saberes<br />
iniciados na cultura, nas práticas sociais, no mundo vivido das crianças e<br />
adolescentes, nas respectivas comunida<strong>de</strong>s.<br />
Em seus pressupostos filosóficos 6 , as transformações culturais, econômicas,<br />
sociais e políticas vividas nestes últimos anos, levaram o homem a buscar novas<br />
alternativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>de</strong> organização social e mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> <strong>relações</strong><br />
5 Na publicação do CENPEC intitulada Projeto Raízes e Asas a proposta da escola é apresentada e<br />
avaliada em diferentes aspectos. Para maiores informações consultar o volume: Qualida<strong>de</strong> para<br />
todos: o caminho <strong>de</strong> cada escola. São Paulo: CENPEC, 1994. (Existem nos arquivos da escola<br />
pesquisada).<br />
6 Para aprofundamento, consultar o Projeto <strong>de</strong> Implantação do CAIC Reitor Álvaro Augusto Cunha<br />
Rocha, nos arquivos da escola pesquisada.
18<br />
sociais. Para enfrentar os <strong>de</strong>safios <strong>de</strong>ste novo milênio é então necessário superar o<br />
<strong>de</strong>scrédito da socieda<strong>de</strong> em relação à educação, assinalando-lhes novos objetivos<br />
em função <strong>de</strong>sse novo homem que se quer e precisa formar.<br />
A educação, nesse contexto, é chamada a formar um homem capaz <strong>de</strong> atuar<br />
neste mundo em transformação como sujeito histórico competente, organizado,<br />
crítico e criativo, abrindo possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> avanços para um mundo mais<br />
humanizado. A preparação para o mundo do trabalho atualmente, requer o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento nas novas gerações além <strong>de</strong> conhecimentos, idéias, habilida<strong>de</strong>s e<br />
capacida<strong>de</strong>s formais, a formação também <strong>de</strong> disposições, atitu<strong>de</strong>s, interesses e<br />
comportamentos que se ajustem às exigências contemporâneas da socieda<strong>de</strong>.<br />
Nessa perspectiva, há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma nova escola, uma escola crítica<br />
que possibilite a construção do conhecimento, on<strong>de</strong> o indivíduo seja capaz <strong>de</strong><br />
adaptar-se às mudanças, <strong>de</strong> saber pensar, <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r.<br />
Formar o cidadão, preparando-o para a convivência na comunida<strong>de</strong> humana<br />
é também competência da escola. Sua função educativa, imersa na tensão dialética<br />
entre reprodução e mudança, po<strong>de</strong> utilizar o conhecimento social e historicamente<br />
produzido para explicitar o sentido das mudanças e das influências que o indivíduo<br />
recebe na escola e na socieda<strong>de</strong>.<br />
Para tal, a escola aponta que a educação <strong>de</strong>ve organizar-se em torno <strong>de</strong><br />
quatro aprendizagens fundamentais, consi<strong>de</strong>radas como os pilares do conhecimento<br />
para o próximo século: “apren<strong>de</strong>r a conhecer, apren<strong>de</strong>r a fazer, apren<strong>de</strong>r a conviver<br />
e apren<strong>de</strong>r a ser” (DELORS, 1998) citado na própria Proposta Pedagógica da<br />
Escola.
19<br />
Através dos quatro pilares da Educação, busca-se a formação integral do ser<br />
humano, on<strong>de</strong> aprendizagens <strong>de</strong>vem traduzir-se em aquisição <strong>de</strong> competências, <strong>de</strong><br />
conhecimentos, <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> aprimoramento da personalida<strong>de</strong>.<br />
A escola terá que se sintonizar com as reais aspirações do ser humano,<br />
tornando-se <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adora <strong>de</strong>sse processo, através da integração entre o<br />
conhecimento intelectual e a sabedoria do espírito, revelando assim o papel do<br />
homem na construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> mais justa, mais humana e<br />
verda<strong>de</strong>iramente <strong>de</strong>mocrática.<br />
Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o <strong>Ensino</strong> Fundamental, conforme<br />
resolução CEB nº 2 <strong>de</strong> 07/04/1998 estão <strong>de</strong>finidos os princípios, fundamentos e<br />
procedimentos da educação básica, que estão baseados nas concepções<br />
mencionadas anteriormente. Os princípios norteadores das ações pedagógicas das<br />
escolas são: a) os princípios éticos da autonomia, da responsabilida<strong>de</strong>, da<br />
solidarieda<strong>de</strong> e do respeito ao bem comum; b) os princípios dos direitos e <strong>de</strong>veres<br />
da cidadania, do exercício da criticida<strong>de</strong> e do respeito à or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>mocrática; c) os<br />
princípios estéticos da sensibilida<strong>de</strong>, da criativida<strong>de</strong>, e da diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
manifestações artísticas e culturais. Com referência a competência das escolas está<br />
posto nos incisos III e V:<br />
III – As escolas <strong>de</strong>verão reconhecer que as aprendizagens são<br />
constituídas pela interação dos processos <strong>de</strong> conhecimentos com os<br />
<strong>de</strong> linguagem e os afetivos, em conseqüência das <strong>relações</strong> entre as<br />
distintas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s dos vários participantes do contexto<br />
escolarizado; as diversas experiências <strong>de</strong> vida dos alunos,<br />
professores e <strong>de</strong>mais participantes do ambiente escolar, expressas<br />
através <strong>de</strong> múltiplas formas <strong>de</strong> diálogo, <strong>de</strong>vem contribuir para a<br />
constituição <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> afirmativas, persistentes e capazes <strong>de</strong><br />
protagonizar ações autônomas e solidárias em relação a<br />
conhecimentos e valores indispensáveis a vida cidadã.<br />
V – As escolas <strong>de</strong>verão explicitar em suas propostas curriculares<br />
processos e ensino voltados para as <strong>relações</strong> com sua comunida<strong>de</strong><br />
local, regional e planetária, visando à interação entre a educação<br />
fundamental e a vida cidadã; os alunos, ao apren<strong>de</strong>rem os
20<br />
conhecimentos e valores da base nacional comum e da parte<br />
diversificada, estarão também constituindo sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como<br />
cidadãos, capazes <strong>de</strong> serem protagonistas <strong>de</strong> ações responsáveis,<br />
solidárias e autônomas em relação a si próprios, às suas famílias e<br />
às comunida<strong>de</strong>s. (BRASIL, 1998).<br />
O novo paradigma, a partir da LDB, supõe a articulação da Educação<br />
Fundamental com a Vida Cidadã. Vida Cidadã entendida como o exercício <strong>de</strong><br />
direitos e <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> pessoas, grupos e instituições na socieda<strong>de</strong>, que em sinergia,<br />
em movimento cheio <strong>de</strong> energias que se trocam e se articulam, influem sobre<br />
múltiplos aspectos, po<strong>de</strong>ndo assim viver bem e transformar a convivência para<br />
melhor.<br />
Fundamentados nessas reflexões, a escola preten<strong>de</strong> adotar uma postura<br />
filosófica progressista, colaborando no preparo do indivíduo para a cidadania,<br />
propiciando experiências <strong>de</strong> aprendizagens significativas. Constituir-se-á num<br />
espaço <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> múltiplos sujeitos e saberes, <strong>de</strong> experiências <strong>de</strong><br />
aprendizagens, enfim um espaço <strong>de</strong> ensinar e apren<strong>de</strong>r que dê condições para que<br />
o indivíduo possa formar-se, construir-se, “fazer-se fazendo”.<br />
Em seus pressupostos epistemológicos, o <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />
caracteriza-se por ser um processo contínuo e abrangente no que diz respeito aos<br />
vários aspectos constitutivos do homem, sejam eles físicos, afetivos, sociais ou<br />
intelectuais.<br />
Ao mesmo tempo, o <strong>de</strong>senvolvimento humano, que pressupõe sucessivas<br />
transformações, não po<strong>de</strong> ser entendido se dissociado do processo <strong>de</strong><br />
aprendizagem, já que, <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem são processos da mesma<br />
unida<strong>de</strong>. Isso significa a existência <strong>de</strong> mútuas influências que fazem a totalida<strong>de</strong> do<br />
humano. Nessas influências, estabelecem-se a importância do aprendizado no<br />
<strong>de</strong>spertar <strong>de</strong> variados processos internos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.
21<br />
Em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa unida<strong>de</strong>, põe-se <strong>de</strong> lado a concepção dicotômica <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem que sugere a possibilida<strong>de</strong> do indivíduo<br />
<strong>de</strong>senvolver-se <strong>de</strong>svinculado das aprendizagens vivenciadas. Está presente nessa<br />
idéia a própria dialética da humanida<strong>de</strong>.<br />
A criança e o adolescente interagem, inter-relacionam-se com o mundo,<br />
através da mediação <strong>de</strong> outras pessoas membros mais experientes <strong>de</strong> sua cultura.<br />
Pelo processo sócio-interativo da vida, Vygotsky (1989), o aprendizado<br />
humano pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual<br />
as crianças penetram na vida intelectual daquelas que as cercam, formando suas<br />
funções mentais que emergirão do plano biológico, transformando-se <strong>de</strong> processos<br />
elementares em processos superiores. Ocorre que essas transformações é que<br />
fazem o <strong>de</strong>senvolvimento humano, o qual é erguido sobre o plano das interações.<br />
Uma ação partilhada se torna uma ação internalizada. O processo segue o<br />
sentido do social para o individual, presumindo sempre a relação com "o outro”.<br />
O aprendiz reconstrói no plano <strong>de</strong> sua individualida<strong>de</strong>, as operações do plano<br />
da intersubjetivida<strong>de</strong>. Na expressão vygotskyana (apud P. P. P.): "um processo<br />
interpessoal é transformado num processo intrapessoal. Todas as funções do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível social, e<br />
<strong>de</strong>pois, no nível individual”.<br />
Tal pressuposto acarreta certa <strong>de</strong>pendência no que se refere à qualida<strong>de</strong> das<br />
experiências interativas, já que as regulações <strong>de</strong> outras pessoas são substituídas<br />
por auto-regulações.<br />
No contexto cultural da criança e do adolescente, a regulação externa realizase<br />
pela ação dos adultos ou companheiros que permitirão as primeiras apropriações<br />
dos conhecimentos constituídos por aquele grupo social. A criança e o adolescente
22<br />
vão incorporando o mundo físico e social as suas estruturas. Esses conhecimentos<br />
serão filtrados pelos grupos sociais, elementos mediadores das concepções que ela<br />
formará <strong>de</strong> mundo, <strong>de</strong> homem, <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> e das <strong>relações</strong> entre os mesmos.<br />
Os signos como a fala, a escrita, a matemática, os gestos, o <strong>de</strong>senho e<br />
outros, compõem o instrumental cultural da humanida<strong>de</strong>. É por meio <strong>de</strong>les que se<br />
organiza o pensamento e o comportamento humano.<br />
No contexto escolar, a regulação externa revela-se como função pedagógica<br />
e diz respeito à atitu<strong>de</strong> do professor. Freire (1996, p. 29) nos diz que “ensinar não é<br />
transferir conhecimento, mas criar as possibilida<strong>de</strong>s para a sua produção ou a sua<br />
construção”.<br />
Assim a aprendizagem escolar é uma força que direciona e <strong>de</strong>termina o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da criança e lhe permite tornar-se consciente <strong>de</strong> suas operações<br />
mentais.<br />
A escola foi historicamente constituída como instituição on<strong>de</strong> se dá a<br />
transmissão do conhecimento elaborado pela humanida<strong>de</strong>. Mas, essa função<br />
atualmente se ampliou. Ela tem também outro papel: é o espaço on<strong>de</strong> as <strong>relações</strong><br />
humanas são moldadas, avaliadas. Deve ser usada para aprimorar valores e<br />
atitu<strong>de</strong>s, além <strong>de</strong> capacitar o indivíduo na busca <strong>de</strong> informações, on<strong>de</strong> quer que elas<br />
estejam, para usá-las no seu cotidiano.<br />
O conhecimento, nessa acepção, <strong>de</strong>ver ser entendido como uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>relações</strong>, na qual o educador ajuda os alunos a fazer as conexões necessárias. As<br />
competências não são conhecimentos; elas utilizam, integram, ou mobilizam os<br />
conhecimentos. Portanto, a abordagem por competências não rejeita nem os<br />
conteúdos, nem as disciplinas, mas sim acentua sua implementação.
23<br />
Isso pressupõe que, um programa <strong>de</strong> formação na escola orientado pelo<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competências, terá um po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> gerenciamento sobre os<br />
conhecimentos disciplinares. Formulando os objetivos da formação em termos <strong>de</strong><br />
competências, estaremos lutando abertamente contra a tentação da escola <strong>de</strong><br />
ensinar por ensinar, <strong>de</strong> marginalizar as referências às situações da vida e <strong>de</strong> não<br />
reservar tempo para a mobilização dos saberes adquiridos para situações mais<br />
complexas.<br />
A transposição didática, isto é, a transformação dos conhecimentos científicos<br />
em conhecimentos escolares é fundamental nesse processo <strong>de</strong> mudança das<br />
finalida<strong>de</strong>s da escola. Para isso, há que se modificar as práticas pedagógicas<br />
através da organização <strong>de</strong> situações didáticas e <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que tenham sentido<br />
para os alunos, envolvendo-os e, ao mesmo, gerando aprendizagens fundamentais.<br />
Trabalhar com pesquisas, com <strong>de</strong>safios, por resolução <strong>de</strong> problemas, por projetos,<br />
com tarefas complexas propicia a construção/reconstrução do conhecimento e <strong>de</strong><br />
novos saberes, ao mesmo tempo em que geram uma interação <strong>de</strong> aprendizagens<br />
facilitadoras do <strong>de</strong>senvolvimento das competências fundamentais à pessoa humana.<br />
Vale dizer, portanto, que a criança e o adolescente vão à escola para<br />
apropriar-se <strong>de</strong> instrumentos que <strong>de</strong>verão permitir-lhe tanto a sobrevivência como o<br />
exercício <strong>de</strong> sua cidadania, entendida enquanto qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições materiais<br />
que viabilizem o papel <strong>de</strong> sujeito <strong>de</strong> suas <strong>relações</strong> sociais.<br />
Para tamanha tarefa, é importante que o professor leve em conta os conceitos<br />
espontâneos provindos do cotidiano da criança e do adolescente, como pontos <strong>de</strong><br />
partida para a apropriação dos conceitos científicos, que só ganham significado<br />
quando enriquecidos pela concretu<strong>de</strong> da experiência e vivência da criança. Ao<br />
mesmo tempo, como aponta Vygotsky (op cit), esses conceitos espontâneos
24<br />
precisam ser objetos da "consciência reflexiva" e do "controle <strong>de</strong>liberado", o que tem<br />
sido historicamente colocado como papel da escola.<br />
Dentro <strong>de</strong>ssa perspectiva, situamos o processo uno que faz o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento e a aprendizagem humana. O aprendiz precisa encontrar na escola<br />
as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apropriação dos conhecimentos acumulados pela humanida<strong>de</strong>,<br />
tendo em vista sua emancipação. Nessa trajetória, ele se constituirá sujeito na<br />
medida em que os conhecimentos acumulados integrem-se a sua própria vida.<br />
Partindo <strong>de</strong> uma aprendizagem que seja vinculada com o conhecimento teórico,<br />
partindo <strong>de</strong> um ensino contextualizado.<br />
Em seus pressupostos didáticos pedagógicos, para a efetivação <strong>de</strong> uma<br />
pedagogia com enfoque crítico e contextualizado, reconhecedora das diferenças<br />
existentes entre os alunos e buscando levá-los à apropriação <strong>de</strong> conhecimentos<br />
essenciais ao exercício da cidadania, faz-se necessário traçar princípios básicos que<br />
nortearão o seu encaminhamento metodológico.<br />
É preciso ressaltar, que antes <strong>de</strong> pensarmos em uma metodologia préelaborada,<br />
é importante ter em mente que a metodologia <strong>de</strong>ve ser, sobretudo,<br />
construída na prática pedagógica pelos agentes educacionais.<br />
Entretanto, válidas serão as propostas, jamais acabadas, para <strong>de</strong>flagrar a<br />
organização inicial do processo metodológico.<br />
A escola e o agir pedagógico têm uma função social específica, na medida<br />
em que existem, para criar as oportunida<strong>de</strong>s básicas às morfogêneses do<br />
conhecimento. Educar é fazer emergir vivências do processo <strong>de</strong> conhecimento.<br />
Concebida como um local propício à iniciação em vivências personalizadas do<br />
apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r, a escola <strong>de</strong>ve centrar suas ações pedagógicas, oportunizando
25<br />
situações <strong>de</strong> aprendizagem com experiências que levem ao prazer <strong>de</strong> estar<br />
apren<strong>de</strong>ndo e conhecendo, <strong>de</strong> construir/reconstruir o conhecimento.<br />
Partindo <strong>de</strong>ssa premissa, o encaminhamento didático-pedagógico adotado<br />
pela escola, está fundamentado nas teorias dos educadores: Pedro Demo no<br />
enfoque educar pela pesquisa; Philippe Perrenoud e Luckesi, na avaliação; e<br />
Célestin Freinet, no método <strong>de</strong> encaminhamento metodológico.<br />
Basear a educação escolar na pesquisa, e não somente na aula ou nos<br />
ambientes escolares, ou ainda no mero contato com o professor é a proposta <strong>de</strong><br />
Pedro Demo. Ela parte dos seguintes pressupostos:<br />
- a convicção <strong>de</strong> que a educação pela pesquisa é a especificida<strong>de</strong><br />
mais própria da educação escolar e acadêmica,<br />
- o reconhecimento <strong>de</strong> que o questionamento reconstrutivo com<br />
qualida<strong>de</strong> formal e política é o cerne do processo <strong>de</strong> pesquisa,<br />
- a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer da pesquisa atitu<strong>de</strong> cotidiana no professor e<br />
no aluno,<br />
- e a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> educação como processo <strong>de</strong> formação da<br />
competência humana. (DEMO, 1997, p. 5).<br />
Sabemos que a pesquisa incorpora necessariamente a prática ao lado da<br />
teoria, e conhecer é uma das formas mais competentes <strong>de</strong> intervir no processo <strong>de</strong><br />
formação do sujeito crítico e criativo, sendo o conhecimento o meio mais potente <strong>de</strong><br />
inovação.<br />
Segundo o autor, existe entre educação e pesquisa um trajeto coinci<strong>de</strong>nte,<br />
pois a característica emancipatória da educação exige a pesquisa como seu método<br />
formativo. Nessa perspectiva o aluno não é objeto <strong>de</strong> ensino, mas sujeito do<br />
processo, parceiro do trabalho.<br />
As estratégias didáticas, do ponto <strong>de</strong> vista metodológico, facilitadoras do<br />
questionamento reconstrutivo, isto é, da educação pela pesquisa, <strong>de</strong>vem fazer parte<br />
do ambiente didático cotidiano, cultivando a consciência crítica nos alunos e a
26<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervir na realida<strong>de</strong>. As motivações lúdicas, o hábito da leitura, o<br />
manejo eletrônico, apoio familiar e o uso intensivo do tempo escolar, são estratégias<br />
didáticas essenciais nesse processo.<br />
Também, a educação pela pesquisa "funda-se em procedimentos<br />
metodológicos que cercam e fecundam o conhecimento para torná-lo inovador em<br />
termos teóricos e práticos” (DEMO, 1997, p. 32). Isto é, preparam o aluno para<br />
receber o ensino, supõe cuidados propedêuticos como: <strong>de</strong>senvolver a capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> saber pensar; cultivar o apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r; saber avaliar-se e avaliar a<br />
realida<strong>de</strong> como forma <strong>de</strong> consciência crítica; unir qualida<strong>de</strong> formal e política, ou seja,<br />
adotar procedimentos metodológicos com ética, que possibilitem a construção <strong>de</strong><br />
saberes, através da inovação, participação, e da articulação teoria e prática.<br />
Organizar e dirigir situações <strong>de</strong> aprendizagem, numa perspectiva <strong>de</strong> uma<br />
escola <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> para todos, segundo o sociólogo suíço Philippe Perrenoud,<br />
significa acentuar a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> conceber situações didáticas ótimas, que "as<br />
didáticas contemporâneas encaram como situações amplas, abertas, carregadas <strong>de</strong><br />
sentido e <strong>de</strong> regulação, as quais requerem um método <strong>de</strong> pesquisa, <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação<br />
e <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> problemas" (PERRENOUD, 2000, p. 25).<br />
Aliada a essa competência geral, os professores, nesse contexto; terão que<br />
mobilizar várias competências mais específicas que contribuam para a concepção,<br />
organização e animação <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> aprendizagem, assim apontadas pelo<br />
autor:<br />
- Conhecer, para <strong>de</strong>terminada disciplina, os conteúdos a serem<br />
ensinados e sua tradução em objetivos <strong>de</strong> aprendizagem;<br />
- trabalhar a partir das representações dos alunos;<br />
- trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à aprendizagem;<br />
- construir e planejar dispositivos e seqüências didáticas;<br />
- envolver os alunos em ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa, em projetos <strong>de</strong><br />
conhecimento. (PERRENOUD, 2000, p. 26).
27<br />
Para <strong>de</strong>senvolver um trabalho por competências, há que se reconstruir a<br />
transposição didática, e atenuar as divisões disciplinares com propostas <strong>de</strong><br />
integração e interdisciplinarida<strong>de</strong>, com projetos enriquecedores ao currículo e<br />
ativida<strong>de</strong>s voltadas para o interesse das crianças.<br />
A pedagogia proposta por Freinet, que se caracteriza como uma pedagogia<br />
centralizada na criança, também propicia situações <strong>de</strong> aprendizagem que privilegiam<br />
a construção do conhecimento e a formação <strong>de</strong> competências. Com uma prática<br />
pedagógica fundamentada nos princípios: do senso <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, do senso<br />
cooperativo, da sociabilida<strong>de</strong>, do julgamento pessoal, da autonomia, da expressão,<br />
da criativida<strong>de</strong>, da comunicação, da reflexão individual e coletiva, e da afetivida<strong>de</strong>;<br />
favorecem a formação <strong>de</strong> indivíduo crítico, criativo e autônomo, capaz <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a<br />
apren<strong>de</strong>r.<br />
Mediante o exposto, a escola traça princípios básicos que nor<strong>teia</strong>m o seu<br />
encaminhamento metodológico, alguns são <strong>de</strong>fendidos pelas orientações didáticas<br />
contemporâneas: autonomia, diversida<strong>de</strong>, interação e cooperação, disponibilida<strong>de</strong><br />
para a aprendizagem, organização do tempo, organização do espaço e seleção do<br />
material. Percebe-se que todos os encaminhamentos do professor direcionam-se à<br />
construção do conhecimento e conseqüentemente auxiliam no trabalho com os<br />
alunos com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem. São eles: o trabalho por projetos, on<strong>de</strong><br />
os alunos se envolvem na ativida<strong>de</strong> significativa; a organização das salas <strong>de</strong> aula<br />
constituir-se-á uma prática pedagógica resultante do coletivo <strong>de</strong> ensinar e apren<strong>de</strong>r,<br />
on<strong>de</strong> alunos e professores serão parceiros <strong>de</strong> aprendizagem; o planejamento<br />
a<strong>de</strong>quado que favoreça a organização e utilização <strong>de</strong>sses espaços, buscando o<br />
equilíbrio entre as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino/aprendizagem e da integração dos<br />
componentes curriculares; uso da biblioteca; participação dos alunos nos ateliês <strong>de</strong>
28<br />
artes, culinária, música, brinquedoteca e ludoteca; trabalho individual, visando o<br />
atendimento e acompanhamento individualizado ao aluno, sendo priorida<strong>de</strong> do<br />
trabalho do professor, principalmente quando o professor integrador estiver no<br />
grupo; trabalho diversificado on<strong>de</strong> os alunos são distribuídos em grupos para a<br />
realização <strong>de</strong> diferentes ativida<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>ndo ser <strong>de</strong> diferentes áreas, constituindo-se<br />
numa ferramenta que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> organização e planejamento do professor para<br />
que possa aten<strong>de</strong>r às diferentes necessida<strong>de</strong>s dos alunos; planejamento<br />
cooperativo é realizado para organização <strong>de</strong> qualquer ativida<strong>de</strong> extra-classe, aulapasseio<br />
e outros, bem como, antes <strong>de</strong> todos os conteúdos a serem investigados,<br />
possibilita ao aluno a clareza a respeito do que vai investigar, para que, quando,<br />
on<strong>de</strong> e como; texto cooperativo é realizado com a participação do grupo mediante<br />
investigações, on<strong>de</strong> construirão o texto com informações coletivas; assuntos <strong>de</strong><br />
interesse que são levantados no início do ano e investigados no <strong>de</strong>correr do ano<br />
letivo, po<strong>de</strong>ndo ser <strong>de</strong>senvolvidos em forma <strong>de</strong> projetos; compromissos (tarefas) que<br />
são importante instrumento pedagógico utilizados somente nas quartas-feiras e<br />
sextas-feiras, <strong>de</strong>vem ser condizentes com o que o aluno está apren<strong>de</strong>ndo em sala<br />
<strong>de</strong> aula, <strong>de</strong>verá ser uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fixação <strong>de</strong> conteúdo já trabalhado e ou que ele<br />
tenha autonomia para realizá-lo.<br />
O trabalho acontece <strong>de</strong> forma crítica e contextualizada, tem significado, não<br />
se ignora aquilo que a criança traz consigo, aspecto que fica evi<strong>de</strong>nte na fala dos<br />
professores ao serem questionados sobre o encaminhamento metodológico.<br />
A coor<strong>de</strong>nação pedagógica está distribuída aos níveis contando com quatro<br />
pedagogas para 368 alunos, com uma carga horária semanal <strong>de</strong> 40 horas,<br />
realizando um trabalho extremamente integrado. O trabalho <strong>de</strong>senvolvido pelas<br />
pedagogas aten<strong>de</strong> às necessida<strong>de</strong>s da escola a todo o momento. São
29<br />
extremamente preocupadas e comprometidas com as questões pedagógicas,<br />
organizam e realizam os planejamentos sistematicamente com os professores. Cada<br />
pedagoga coor<strong>de</strong>na um nível <strong>de</strong> aprendizagem, tornando-se o pedagogo unitário,<br />
aten<strong>de</strong>ndo todas as necessida<strong>de</strong>s do nível <strong>de</strong> aprendizagem. Preocupa-se em<br />
acompanhar continuamente os professores e alunos, propondo novas ações,<br />
estratégias e ativida<strong>de</strong>s que redimensionem o trabalho em sala <strong>de</strong> aula. Cada nível<br />
conta com três professores, sendo que duas são as regentes dos grupos e a<br />
terceira, a integradora dos dois grupos. Esse trabalho se dá <strong>de</strong> modo que as<br />
mesmas criem um espírito <strong>de</strong> equipe, consi<strong>de</strong>rem-se elementos-chaves <strong>de</strong>ntro do<br />
processo, resultando um gran<strong>de</strong> sentimento <strong>de</strong> compromisso recíproco.<br />
O grupo <strong>de</strong> professores possui uma carga horária semanal <strong>de</strong> quarenta horas,<br />
sendo que trinta horas <strong>de</strong>stinadas ao trabalho efetivo com alunos e <strong>de</strong>z horas<br />
<strong>de</strong>stinadas ao planejamento, correção <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, organização do trabalho e<br />
formação contínua, o que oportuniza as condições básicas para alçarem aos cursos<br />
<strong>de</strong> pós-graduação com pesquisas e divulgação do trabalho.<br />
Assim, professores e coor<strong>de</strong>nação pedagógica se organizam para a partilha<br />
<strong>de</strong> idéias, pela reflexão-ação-reflexão, pelo planejamento em conjunto e o trabalho<br />
que <strong>de</strong>senvolvem com os pais, <strong>de</strong>vido ao profissionalismo e comprometimento <strong>de</strong><br />
todos, buscam uma escola melhor.<br />
Outro ponto importante é o conselho <strong>de</strong> avaliação, que na referida escola,<br />
acontece por Nível, reunindo os professores. Quando há necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>tectadas<br />
pelos professores ou coor<strong>de</strong>nação pedagógica, acontece somente com o grupo que<br />
apresenta a dificulda<strong>de</strong>.<br />
Com a efetivação que ocorre na escola do conselho <strong>de</strong> avaliação, o professor<br />
se situa historicamente, e a partir daí po<strong>de</strong> comprometer-se com a transformação da
30<br />
realida<strong>de</strong>. Mediante um formulário preenchido antecipadamente, o professor emite<br />
parecer em relação ao trabalho realizado em <strong>de</strong>corrência das sugestões da equipe,<br />
apresentando os resultados e dificulda<strong>de</strong>s; bem como as linhas <strong>de</strong> ações para as<br />
possíveis soluções. Emite também o parecer do grupo <strong>de</strong> alunos expondo as<br />
dificulda<strong>de</strong>s, as necessida<strong>de</strong>s e as linhas <strong>de</strong> ações que, propondo-as mediante sua<br />
experiência e vínculo estabelecido com o grupo. O professor po<strong>de</strong> sugerir<br />
livremente, sobre todo e qualquer aspecto que envolva as especificida<strong>de</strong>s que a<br />
escola <strong>de</strong> período integral possa apresentar e interferir no ensino aprendizagem.<br />
Também especificam as necessida<strong>de</strong>s individuais dos alunos apresentadas no<br />
processo ensino-aprendizagem, expondo seus comentários em relação às<br />
dificulda<strong>de</strong>s, o que foi trabalhado e como o aluno respon<strong>de</strong>u às expectativas<br />
apontando as linhas <strong>de</strong> ações; necessárias em cada caso e em cada área do<br />
conhecimento. Os avanços dos alunos também são valorizados neste momento,<br />
pois é muito significativo o registro da evolução do processo ensino aprendizagem<br />
dos mesmos.<br />
Mediante os dados do conselho <strong>de</strong> avaliação, professor e equipe pedagógica<br />
juntos, <strong>de</strong>senvolvem as linhas <strong>de</strong> ações propostas no conselho <strong>de</strong> avaliação. Os<br />
alunos citados com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem passam a ser foco <strong>de</strong> atenção<br />
específica. O atendimento individualizado a esses alunos é intensificado em sala <strong>de</strong><br />
aula e no apoio pedagógico fora <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula. A equipe pedagógica volta-se aos<br />
pontos elencados em conselho que necessitam <strong>de</strong> encaminhamentos e estratégias.<br />
Nos planejamentos semanais da equipe com os professores do nível são planejadas<br />
as ações que possam vir a suprir as dificulda<strong>de</strong>s levantadas. A coor<strong>de</strong>nação nesse<br />
momento atua organizando, planejando o <strong>de</strong>senrolar da proposta curricular bem<br />
como estratégias, encaminhamentos que favoreçam o processo ensino
31<br />
aprendizagem. Também se torna o elo entre escola e família aten<strong>de</strong>ndo as linhas <strong>de</strong><br />
ações levantadas, orientando as famílias e os alunos no processo ensino<br />
aprendizagem, bem como mediando situações <strong>de</strong> conflitos entre alunos e orientando<br />
professores.<br />
Após as reflexões realizadas, todos os envolvidos no processo possuem<br />
consciência das questões da escola como um todo, e realizam as reuniões<br />
pedagógicas bimestrais. Acredita-se que assim como coloca Paulo Freire (1996), “a<br />
prática <strong>de</strong> pensar a prática é a melhor maneira <strong>de</strong> pensar o certo”.<br />
O contato com os pais inicia-se nas entrevistas realizadas pela coor<strong>de</strong>nação,<br />
quando os alunos são matriculados na escola. Outros momentos <strong>de</strong> integração<br />
acontecem nas reuniões pedagógicas, quando os pais participam <strong>de</strong> projetos ou<br />
quando são chamados pela coor<strong>de</strong>nação. Os dados relevantes do histórico familiar,<br />
levantados nas entrevistas, são passados aos professores que tomam conhecimento<br />
do ambiente familiar do aluno.<br />
A <strong>de</strong>finição do sujeito do conhecimento, nessa perspectiva, dá-se a partir dos<br />
saberes dos sujeitos. Tal horizonte <strong>de</strong> trabalho pedagógico resulta, inclusive, um<br />
efetivo e permanente trabalho interdisciplinar, em que a ação dos educadores busca<br />
re<strong>de</strong>finir o papel da escola frente às exigências do atual momento histórico e<br />
acreditar que a tarefa político social é a <strong>de</strong> formar cidadãos capazes <strong>de</strong> transformar<br />
o meio on<strong>de</strong> vivem.
32<br />
CAPÍTULO 2<br />
ESCOLA, FAMÍLIA E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM<br />
No atual contexto sócio-histórico-cultural capitalista, marcado por mudanças<br />
vertiginosas no campo da tecnologia, da comunicação e avanços científicos; a<br />
família e a escola não ficam imunes a essas mudanças. Estão em processo <strong>de</strong><br />
a<strong>de</strong>quação, tanto em relação as suas funções quanto à estrutura e administração. A<br />
escola é questionada e reestruturada, no intuito <strong>de</strong> ressignificar a educação e o seu<br />
papel sociopedagógico, porque contribui para inserção da diversida<strong>de</strong> cultural que a<br />
circunda e a constitui, sendo espaço <strong>de</strong> significar, <strong>de</strong> dar sentido, <strong>de</strong> produzir<br />
conhecimentos, valores, competências fundamentais para formação dos que<br />
ensinam e dos que apren<strong>de</strong>m.<br />
A família por sua vez, pressionada por fatores internos e externos a ela, <strong>de</strong><br />
acordo com Orsolon (2003), vem <strong>de</strong>legando à escola, responsabilida<strong>de</strong>s que<br />
historicamente vinha exercendo, necessitando repensar suas funções educadoras,<br />
bem como as funções sociais dos sistemas com os quais mantém uma relação <strong>de</strong><br />
apoio, para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> seus membros, nesse caso, a escola.<br />
A escola e a família vêm se conscientizando da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar<br />
<strong>de</strong>mocraticamente nesse processo <strong>de</strong> cidadania que tem a aprendizagem do aluno<br />
como centro. Vive-se uma crise que envolve família e escola que não estão<br />
habituadas a partilhar <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> co-responsabilida<strong>de</strong> na educação das<br />
novas gerações. O caminho para essa parceria é a integração dos atores da<br />
comunida<strong>de</strong> escolar: pais, alunos, professores e coor<strong>de</strong>nação pedagógica, numa
33<br />
ação intencional em conexão com a gestão escolar para a organização do trabalho<br />
coletivo <strong>de</strong> parceria na proposta pedagógica.<br />
Orsolon (2003, p. 179) ressalta que<br />
... a relação família e escola <strong>de</strong>ve ser uma relação <strong>de</strong> parceria. A<br />
parceria constitui o encontro <strong>de</strong> diferentes para realizar um projeto<br />
em comum. A parceira em questão é a educação da criança e do<br />
adolescente, filho e aluno, o que significa assumir juntos essa<br />
educação. A relação <strong>de</strong> parceria supõe confiança mutua e<br />
cumplicida<strong>de</strong>.<br />
Para conseguir esse intento a escola precisa se organizar, para <strong>de</strong>senvolver a<br />
integração com todas as famílias, acolhendo as dúvidas e buscando soluções<br />
conjuntas para os problemas que se apresentam.<br />
Sabe-se, que é pela aprendizagem, que o sujeito é inserido <strong>de</strong> forma mais<br />
organizada ao mundo cultural e simbólico que incorpora. A família é o primeiro<br />
núcleo organizado da criança e a instituição escolar, responsável por gran<strong>de</strong> parte<br />
das aprendizagens. Propiciar um estado <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> inter-<strong>relações</strong>, permite<br />
ao grupo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca, reflexões e crescimento. Isto também ocorre nas<br />
famílias. Os pais ao serem incluídos no processo pedagógico da escola, abandonam<br />
a posição <strong>de</strong> expectadores e passam a ser parceiros nas buscas <strong>de</strong> soluções.<br />
Delimitar funções, responsabilida<strong>de</strong>s, trabalhar com a ansieda<strong>de</strong> e com a aceitação,<br />
contar com o apoio <strong>de</strong> um sistema mais amplo e, sobretudo ter a quem recorrer.<br />
Essas são algumas possibilida<strong>de</strong>s em re<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da instituição escolar. Quando a<br />
família vislumbra caminhos para se reestruturar, na escola encontra melhores<br />
condições <strong>de</strong> soluções das dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem dos filhos, todos ganham.<br />
A aprendizagem, neste contexto, é um processo, que inclui a construção do<br />
aprendiz e a interação, entendida como a participação <strong>de</strong> um mediador, que se
34<br />
interpõe entre o sujeito e o conhecimento. É consi<strong>de</strong>rada como resultado da ação do<br />
aprendiz porque<br />
... o salto importante que se <strong>de</strong>u no conhecimento, produzido sobre<br />
as questões do ensino e da aprendizagem, já permite que o<br />
professor olhe para aquilo que o aluno produziu, enxergue aí o que<br />
ele já sabe, e i<strong>de</strong>ntifique, que tipo <strong>de</strong> informação é necessária para<br />
que seu conhecimento avance. (WEISZ, 2002, p. 22).<br />
O conhecimento é visto como produto da ação e reflexão, é construído<br />
mediante situações problemas on<strong>de</strong> a ação, e a especificida<strong>de</strong> da aprendizagem <strong>de</strong><br />
cada conteúdo, faz com que os encaminhamentos direcionem para que o aluno<br />
coloque em jogo o que ele sabe, sendo que ao realizar as ativida<strong>de</strong>s, mobiliza<br />
conhecimentos que já tem, usando-os <strong>de</strong> tal forma que constrói a solução não<br />
previamente <strong>de</strong>terminada.<br />
O professor é quem precisa i<strong>de</strong>ntificar as informações e as ativida<strong>de</strong>s<br />
que permitam a ele avançar do patamar <strong>de</strong> conhecimento que já<br />
conquistou para outro mais evoluído. Ou seja, não é o processo <strong>de</strong><br />
aprendizagem que <strong>de</strong>ve adaptar ao ensino, mas o processo <strong>de</strong><br />
ensino é que tem <strong>de</strong> se adaptar a aprendizagem. (id ibid, p. 65).<br />
Nesse diálogo entre ensino e aprendizagem, o professor organiza as<br />
situações, com intenções que favoreçam a ação do aluno para o apren<strong>de</strong>r, pondo<br />
em jogo tudo o que sabem e pensam sobre o conteúdo, com problemas a serem<br />
resolvidos, com a máxima circulação <strong>de</strong> informações possíveis. Nessa perspectiva, a<br />
função do professor passa a ser a <strong>de</strong> criar condições para que o aluno possa<br />
exercer a sua ação <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r.<br />
O aluno é parte integrante do processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem, é preciso<br />
compreen<strong>de</strong>r o que ele tentou produzir. No caso da percepção <strong>de</strong> um erro, o<br />
professor levantará hipóteses sobre o processo percorrido pela criança, interferindo<br />
e mediando a situação, consi<strong>de</strong>rando o estágio <strong>de</strong> aprendizagem do aluno.
35<br />
Mediante o exposto, e consi<strong>de</strong>rando que a construção do conhecimento é um<br />
processo com certa duração, a compreensão do professor po<strong>de</strong>ria aliviar o fardo da<br />
culpa da criança por não apren<strong>de</strong>r ou <strong>de</strong> se ter dificulda<strong>de</strong>s para apren<strong>de</strong>r. Só que<br />
da mesma forma, se abre possibilida<strong>de</strong>s para se pensar em alternativas para o<br />
processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem em uma nova concepção.<br />
É preciso que os educadores se questionem sobre as razões dos<br />
resultados escolares insatisfatórios... não é suficiente constatar e<br />
i<strong>de</strong>ntificar resultados insatisfatórios, mas é preciso diagnosticar a<br />
insuficiência e <strong>de</strong>terminar os contingentes que ocorreu para produzila.<br />
(SISTO, 1996, p. 72).<br />
A escola <strong>de</strong>ve conscientizar-se que em alguns casos o que se percebe ao<br />
contatar a criança com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem é a dificulda<strong>de</strong> na ensinagem<br />
... aqueles problemas advindos <strong>de</strong> uma abordagem ina<strong>de</strong>quada do<br />
professor, da falta <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> e inflexibilida<strong>de</strong> em perceber os<br />
caminhos mais livres para se chegar ao sujeito. Muitos professores<br />
são os gran<strong>de</strong>s contribuidores <strong>de</strong> rótulos e profecias autocumpridoras,<br />
fazendo um coro com as vozes familiares, <strong>de</strong>ixando a<br />
criança sem nenhuma possibilida<strong>de</strong> ou saída para reverter a<br />
situação. Cabe a eles muitas vezes o agravo do fracasso escolar, a<br />
<strong>de</strong>sistência, a baixa estima e a perturbação das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
aprendizagem, que com bom senso e conhecimento a<strong>de</strong>quado da<br />
profissão, po<strong>de</strong>riam conduzir <strong>de</strong> outra forma. (POLITY, 2004, p. 91).<br />
Ou seja, a realida<strong>de</strong> do fracasso escolar diz respeito aos responsáveis pelo<br />
aluno <strong>de</strong> forma geral, pela freqüência do aluno, dos responsáveis pelas<br />
metodologias <strong>de</strong> ensino, aos responsáveis pela implementação dos recursos que<br />
viabilizam o processo educativo, aos responsáveis pela análise dos modos<br />
diferenciados <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r. “O fracasso do aluno explica-se por sua incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
adaptar-se, ajustar-se ao que lhe é oferecido” (GRINSPUN, 2002, p. 75).
36<br />
Enfim, responsabilizar é fácil, porque são muitos os envolvidos, é possível até<br />
dividir responsabilida<strong>de</strong>s. O que se torna difícil é refletir sobre a responsabilida<strong>de</strong> em<br />
promover o sucesso escolar.<br />
Os professores <strong>de</strong>vem clarificar aos pais que a construção do conhecimento<br />
não se dá da mesma forma para todas as pessoas. Para muitos, apren<strong>de</strong>r se torna<br />
um <strong>de</strong>safio, o que não se caracteriza necessariamente dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
Alguns têm gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assimilar informações ouvindo, outros vendo e<br />
outros lendo e fazendo.<br />
A aprendizagem fica difícil quando é apresentada somente <strong>de</strong> uma forma, e<br />
que às vezes, é aquela forma, em que a criança mais tem dificulda<strong>de</strong>:<br />
Uma dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem não significa necessariamente<br />
uma <strong>de</strong>ficiência mental ou orgânica. Indica, outrossim, uma condição<br />
específica, na qual existem aspectos que precisam ser trabalhados<br />
para se obter melhor rendimento intelectual. (POLITY, 2004, p. 89).<br />
A diferença da forma <strong>de</strong> aquisição do conhecimento entre as pessoas, tem<br />
um leque amplo <strong>de</strong> causas, mas sua forma evolutiva, o modo como será trabalhado<br />
com/no e pelo aluno está intimamente relacionado com o contexto familiar,<br />
educacional e social no qual a criança está inserida. Ou seja, <strong>de</strong> como o seu grupo<br />
social vive, consegue seu sustento, valores vivenciados nessa cultura.<br />
O insucesso em sala <strong>de</strong> aula contribui para <strong>de</strong>sestimular os alunos. É preciso<br />
consi<strong>de</strong>rar os efeitos emocionais que as dificulda<strong>de</strong>s acarretam, agravando o<br />
problema. Em muitos casos, a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem, faz com que muitas<br />
<strong>de</strong>ssas crianças <strong>de</strong>senvolvam uma auto-estima negativa, que po<strong>de</strong>ria ser evitada<br />
com o auxílio da família e da escola.<br />
A ligação da família com as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem das crianças po<strong>de</strong><br />
ser ocasião para ressignificar as questões do grupo familiar e enfatizar os processos
37<br />
relacionais positivos, entre eles. Crianças com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem po<strong>de</strong>m<br />
ser beneficiadas com uma intervenção familiar ao receber ajuda <strong>de</strong> toda a família, a<br />
fim <strong>de</strong> construir uma nova relação com o saber. Isso porque, o grupo familiar é um<br />
fator <strong>de</strong>cisivo para a condução e ou resolução <strong>de</strong>ssa situação. Assim, “é essencial<br />
que as crianças recebam apoio dos pais, pois quando os pais dão suporte<br />
emocional, a criança <strong>de</strong>senvolve uma base sólida e um senso <strong>de</strong> competência que a<br />
leva a uma auto-estima satisfatória” (POLITY, 2004, p. 90).<br />
Ao freqüentar a escola o aluno é iniciado num conjunto <strong>de</strong> regras, normas,<br />
costumes, rituais, que farão parte do seu cotidiano, pois a escola é um local gerador<br />
<strong>de</strong> novas experiências relacionais tanto para a criança quanto para a família.<br />
Possibilita a ampliação <strong>de</strong> sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>relações</strong> e a escola passa a fazer parte da<br />
re<strong>de</strong> relacional familiar, marcando significativamente a sua presença, pois “o<br />
processo <strong>de</strong> aprendizagem é altamente beneficiado quando houver uma troca<br />
coerente e conjunta entre família e a escola” (CHUSTER, 2004, p. 195).<br />
Se <strong>de</strong> um lado a escola exerce uma significativa influência na dinâmica<br />
familiar, a família, por meio da criança (aluno), também exerce uma significativa<br />
influência na instituição escolar. Participa do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento como<br />
matriz <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> formação, on<strong>de</strong> o elo <strong>de</strong> ligação é a criança. Quando<br />
a escola passa a integrar a re<strong>de</strong> familiar são múltiplos os resultados obtidos. O aluno<br />
é parte integrante <strong>de</strong>sses dois contextos, o seu potencial individual ganha um<br />
precioso material <strong>de</strong> apoio e auxílio no processo <strong>de</strong> construção do seu<br />
conhecimento.<br />
É necessária uma estreita relação entre escola e família no <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong><br />
suas tarefas comuns voltadas ao <strong>de</strong>senvolvimento da criança, que não se restringe
38<br />
somente a ela, ao apren<strong>de</strong>nte, mas sim aos que a ro<strong>de</strong>iam, mobilizando-os para as<br />
possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> nova construção.<br />
Segundo Capra (2000), a questão da participação dos pais junto a seus filhos<br />
e na escola, com vistas a um <strong>de</strong>sempenho melhor, po<strong>de</strong> suscitar dúvidas,<br />
necessitando <strong>de</strong> uma maior compreensão. Enten<strong>de</strong>-se que a função <strong>de</strong> ensinar é da<br />
escola, não cabendo aos pais arcar com os seus encargos, e há os que acreditam<br />
que os pais têm direitos a uma boa educação a seus filhos sem ter que trabalhar<br />
para isso e ajudar a escola.<br />
Já Paro (2000, p. 25), apresenta visão ampla da responsabilida<strong>de</strong> da escola<br />
afirmando:<br />
Por um lado, o fato da escola ter funções específicas não a isenta <strong>de</strong><br />
levar em conta a continuida<strong>de</strong> entre a educação familiar e a escolar;<br />
por outro, é possível imaginar um tipo <strong>de</strong> relação entre pais e escola<br />
que não esteja fundada na exploração dos primeiros pela<br />
segunda...um tipo <strong>de</strong> relação que não consista simplesmente <strong>de</strong> uma<br />
ajuda gratuita dos pais a escola. Po<strong>de</strong>-se pensar numa integração<br />
dos pais com a escola, em que ambos se apropriem <strong>de</strong> uma<br />
concepção elaborada <strong>de</strong> educação que, por um lado é um bem<br />
cultural para ambos e, por outro, po<strong>de</strong> favorecer a educação escolar<br />
e reverter-se em benefício dos pais, na forma da melhoria da<br />
educação <strong>de</strong> seus filhos. (PARO, 2000, p. 25).<br />
Ou seja, a escola hoje, não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar o meio on<strong>de</strong> o aluno está<br />
inserido, e uma estratégia po<strong>de</strong> ser essa integração dos pais à escola. Pois do<br />
ambiente familiar vêm as questões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m emocional e social, que introduzem<br />
parâmetros <strong>de</strong> relacionamento, ética, valores que permitem que a criança li<strong>de</strong> com<br />
seus impulsos, suas competências, suas dificulda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>svelando a relação<br />
particular do sujeito com o crescimento e o significado <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r.<br />
Assim, para uma melhor adaptação e a<strong>de</strong>quação à escola e a superação dos<br />
problemas <strong>de</strong> aprendizagem, e tendo como referência o construtivismo, faz-se
39<br />
necessário uma abordagem relacional sistêmica 7 . Nas palavras <strong>de</strong> Capra (1997, p.<br />
48),<br />
o universo material é visto como uma <strong>teia</strong> dinâmica <strong>de</strong> eventos interrelacionados.<br />
Nenhuma das proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> qualquer parte <strong>de</strong>ssa<br />
<strong>teia</strong> é fundamental; todas elas resultam das proprieda<strong>de</strong>s das outras<br />
partes, e a consistência global <strong>de</strong> suas inter-<strong>relações</strong> <strong>de</strong>termina a<br />
estrutura da <strong>teia</strong> toda.<br />
Acredita-se que as inter-<strong>relações</strong> dos envolvidos, possibilitarão a construção<br />
do conhecimento, que é vista como re<strong>de</strong> <strong>de</strong> concepções e <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los na qual<br />
nenhuma parte é mais fundamental do que as outras. Reconhece-se o valor do ser<br />
humano, como transformador e participante, <strong>de</strong> maneira especial e particular, como<br />
sujeito sócio-histórico-cultural. E, nesse contexto,<br />
é importante que se <strong>de</strong> estruturas, fundamentação teórica, ao<br />
profissional da educação para lidar com essas questões, por meio <strong>de</strong><br />
subsídios, <strong>de</strong>finir os limites e as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua ação, a fim <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>tectar os casos que realmente necessitam <strong>de</strong> um atendimento<br />
individual. (POLITY, 2004, p. 31).<br />
Para tanto, urge mudar o padrão <strong>de</strong> ver o mundo, o indivíduo, a socieda<strong>de</strong> e a<br />
natureza; reelaborar o pensamento, atos e atitu<strong>de</strong>s, em relação ao ser e ao fazer;<br />
que a escola e a família se dêem a conhecer, mediante o exercício do diálogo, a fim<br />
<strong>de</strong> estabelecer estratégias educativas comuns; compreen<strong>de</strong>r as diferentes<br />
configurações <strong>de</strong>ssa re<strong>de</strong>; conhecer o lugar social das famílias; i<strong>de</strong>ntificar mo<strong>de</strong>los<br />
educativos <strong>de</strong>ixando claro o espaço previsto <strong>de</strong> participação da família na escola; e,<br />
possibilitar encaminhamentos que favoreçam a aprendizagem.<br />
Assim, far-se-á com que todos os envolvidos no processo <strong>de</strong> ensino e<br />
aprendizagem consi<strong>de</strong>rem as especificida<strong>de</strong>s e as complexida<strong>de</strong>s dos universos<br />
7 Vi<strong>de</strong> Isabel Parolin (2005) em sua obra “Professores Formadores: a relação entre a família, a escola<br />
e a aprendizagem”.
40<br />
escolar e familiar, pois “à medida que a realida<strong>de</strong> é percebida como uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>relações</strong>, as <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> um indivíduo formam, igualmente, uma re<strong>de</strong> interconexa<br />
representando os fenômenos observados” (GASPARIN, 2004, p. 41).<br />
Para o autor, a escola é entendida como um sistema aberto em movimento,<br />
pois recebe e <strong>de</strong>volve informações, permitindo-lhe reajustar-se para corrigir<br />
eventuais falhas no processo. Em relação a isso, o mesmo autor coloca que:<br />
... todos os elementos <strong>de</strong> um dado processo, no caso da instituição<br />
escolar, os membros em interação, movem-se juntos. A <strong>de</strong>scrição do<br />
processo é, então feita em termos <strong>de</strong> <strong>relações</strong>, informações e<br />
organização entre esses membros. (GASPARIAN, 2004, p. 44).<br />
Mediante o exposto, os pais farão parte do processo, participarão ativamente,<br />
po<strong>de</strong>ndo auxiliar a escola nesse movimento, pois ao se <strong>de</strong>slocar a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
aprendizagem do aluno às <strong>de</strong>mais re<strong>de</strong>s envolvidas, ampliam-se as possibilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> intervenções e potencializam-se os esforços na busca <strong>de</strong> soluções. Ninguém é<br />
excluído do trabalho. Todos são responsáveis e têm a contribuir. Todos apren<strong>de</strong>m. A<br />
visão centrada apenas no aluno empobrece a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ampliação <strong>de</strong><br />
recursos pedagógicos que <strong>de</strong>vem ser disponibilizados para se fazer frente aos novos<br />
<strong>de</strong>safios.<br />
Para compreen<strong>de</strong>r as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, <strong>de</strong>manda-se uma<br />
perspectiva ampla, complexa e <strong>de</strong> constante interação, visto que é um processo<br />
<strong>de</strong>lineado por meio <strong>de</strong> múltiplos contornos: o biológico, o psicológico, o social, o<br />
cultural, o histórico, o político e o i<strong>de</strong>ológico. Sendo assim, a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
aprendizagem se transforma em oportunida<strong>de</strong>: oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem para<br />
a família, no tocante a seus processos <strong>de</strong> relacionamento interpessoal, oportunida<strong>de</strong><br />
para os professores e para a escola refletirem sobre os resultados <strong>de</strong> sua ação
41<br />
educacional, repensando a prática pedagógica e inscrevendo as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
novos procedimentos.<br />
A aprendizagem nesse contexto é entendida como uma condição atrelada ao<br />
funcionamento familiar. Investida <strong>de</strong> um olhar sistêmico, permite convidar todos os<br />
inseridos nesse contexto a construírem juntos uma solução, é uma proposta<br />
diferente que fará a diferença (POLITY, 2004).<br />
Dentro da perspectiva relacional sistêmica, a inserção da família e o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> práticas coletivas promovem o crescimento e o bem-estar <strong>de</strong>ssa<br />
comunida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve enfrentar a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem. A re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio<br />
formada favorece a ação pedagógica uma vez que orienta para as ações<br />
transformadoras no âmbito familiar e educacional, dando suporte aos professores,<br />
alunos e as famílias dos alunos.<br />
Partindo das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem chega-se a possibilida<strong>de</strong> do<br />
apren<strong>de</strong>r. Da valorização escolar do produto e do resultado, chega-se à importância<br />
da transformação e compreensão do processo. É o encontro <strong>de</strong> quem apren<strong>de</strong> com<br />
quem ensina, é com <strong>de</strong>sejos e história em contextos diferentes e complementares;<br />
possibilitando que cada um, família e escola, se aprofun<strong>de</strong>m e entendam seu próprio<br />
processo <strong>de</strong> aprendizagem e <strong>de</strong>scubram que se dá numa trama relacional, interativa<br />
e humana, consi<strong>de</strong>rando as especificida<strong>de</strong>s e complexida<strong>de</strong>s, <strong>ressignificando</strong> essa<br />
<strong>teia</strong> <strong>de</strong> <strong>relações</strong>, favorecendo a todos, especificamente aos alunos que apresentam<br />
<strong>de</strong> modo temporário ou permanente dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem.
42<br />
2.1 A Aprendizagem<br />
Antes <strong>de</strong> tratar-se das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, faz-se necessário uma<br />
breve retrospectiva teórica sobre os processos intervenientes na aprendizagem: as<br />
influências das práticas educativas; a reconstrução do conhecimento e as formas <strong>de</strong><br />
intervir na sala <strong>de</strong> aula, para que se tenham elementos que favoreçam o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> ensinagem para a compreensão. Para tanto, o<br />
conceito <strong>de</strong> aprendizagem é um requisito indispensável para a elaboração <strong>de</strong>ste<br />
estudo.<br />
Segundo Drouet (1997), a aprendizagem é parte <strong>de</strong> um processo social <strong>de</strong><br />
comunicação que apresenta os seguintes elementos: comunicador ou emissor,<br />
mensagem, receptor da mensagem e meio ambiente. Sendo muito importante o<br />
papel <strong>de</strong>sses quatro elementos. Se qualquer um <strong>de</strong>les falhar, haverá um obstáculo<br />
na comunicação, o que po<strong>de</strong>rá causar problemas <strong>de</strong> aprendizagem, pois,<br />
o comunicador tem participação ativa no processo educativo,<br />
<strong>de</strong>vendo estar motivado e ter pleno conhecimento da mensagem que<br />
irá transmitir aos seus alunos... a mensagem <strong>de</strong>ve ser a<strong>de</strong>quada a<br />
ida<strong>de</strong> mental do educando. Deve ser clara e precisa para ser bem<br />
entendida. O receptor não tem um papel passivo, <strong>de</strong>ve ser um<br />
recebedor crítico dos conhecimentos e informações que lhe são<br />
transmitidos... o meio ambiente <strong>de</strong>ve ser estimulador da<br />
aprendizagem e, portanto, propicio ao bom <strong>de</strong>senvolvimento do<br />
processo educativo. (op cit, p. 7).<br />
Para o autor, a aprendizagem é um processo gradual, constante, contínuo,<br />
pessoal e individual. Cada indivíduo tem seu ritmo próprio <strong>de</strong> aprendizagem (ritmo<br />
biológico) que, aliado ao seu esquema próprio <strong>de</strong> ação, irá construir sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />
Tem fundo genético e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> vários fatores: dos esquemas <strong>de</strong> ação inatos do<br />
individuo; do estágio <strong>de</strong> maturação <strong>de</strong> seu sistema nervoso; <strong>de</strong> seu tipo psicológico
43<br />
constitucional (introvertido ou extrovertido); <strong>de</strong> seu grau <strong>de</strong> envolvimento, seu<br />
esforço e interesse.<br />
As aprendizagens <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> experiências anteriores, as primeiras servem<br />
<strong>de</strong> pré-requisitos para as próximas construindo assim uma bagagem cultural. E<br />
assim, a cada nova aprendizagem, reorganizam-se os conhecimentos<br />
estabelecendo <strong>relações</strong>, construindo o conhecimento.<br />
Drouet (1997) coloca que existem pelo menos sete fatores fundamentais para<br />
que a aprendizagem se efetive, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da teoria da aprendizagem: saú<strong>de</strong><br />
física e mental, motivação, prévio domínio (experiências anteriores), inteligência,<br />
maturação (diferenciações estruturais e funcionais do organismo), concentração ou<br />
atenção, memória.<br />
Já Gómes (1998) diz que a maioria das teorias <strong>de</strong> aprendizagem são mo<strong>de</strong>los<br />
explicativos que foram obtidos em situações experimentais e se referem a<br />
aprendizagens <strong>de</strong> laboratório, que só relativamente po<strong>de</strong>m explicar o funcionamento<br />
real dos processos naturais da aprendizagem. Segundo o mesmo autor, essas<br />
teorias <strong>de</strong>veriam enfrentar esses processos como elementos <strong>de</strong> uma situação <strong>de</strong><br />
intercâmbio, <strong>de</strong> comunicação, entre o indivíduo e seu meio físico e sócio-cultural,<br />
on<strong>de</strong> estabelecem <strong>relações</strong> concretas e produzem fenômenos específicos que<br />
modificam o sujeito.<br />
A compreensão dos fenômenos <strong>de</strong> aprendizagem, suas potencialida<strong>de</strong>s e<br />
implicações na escola, segundo Gómes (1998), po<strong>de</strong>m ser extraídas das teorias <strong>de</strong><br />
aprendizagem mais significativas:<br />
1) As teorias associacionistas, <strong>de</strong> condicionamento, <strong>de</strong> E—R (estímulo e<br />
resposta), <strong>de</strong>ntro das quais há duas correntes: a) Condicionamento Clássico: Pavlov,
44<br />
Watson, Gthrie, e; b) Condicionamento Instrumental ou operante: Hull, Thorndike,<br />
Skinner.<br />
2) As teorias mediacionais: <strong>de</strong>ntro das quais se po<strong>de</strong>m distinguir múltiplas<br />
correntes com importantes matizes diferenciadoras: a) Aprendizagem Social,<br />
condicionamento por imitação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los: Bandura, Lorenz, Tinbergen, Rosenthal;<br />
b) Teorias cognitivas, <strong>de</strong>ntro das quais distinguiremos várias correntes ao mesmo<br />
tempo: –Teoria Gestalt e psicologia fenomenológica: Kofka, köhler, Whert-heimer,<br />
Maslow, Rogers. –Psicologia genético-cognitiva: Piaget, Bruner, Ausubel, Inhel<strong>de</strong>r. –<br />
Psicologia genético-dialética: Vygotsky, Luria, Leontiev, Rubinstein, Wallon; c) A<br />
Teoria do processamento <strong>de</strong> informação: Gagné, Newell, Simon, Mayer, Pascual<br />
Leone.<br />
Mediante as teorias expostas, <strong>de</strong>ntro da perspectiva mediacional, é que se<br />
apóia a proposta pedagógica da escola pesquisada.<br />
Nas Teorias Mediacionais, apesar <strong>de</strong> haver importantes e significativas<br />
diferenças entre elas, possuem em comum pontos fundamentais: a importância das<br />
variáveis internas; a consi<strong>de</strong>ração da conduta como totalida<strong>de</strong>; a supremacia da<br />
aprendizagem significativa que supõe reorganização cognitiva e ativida<strong>de</strong> interna.<br />
Ou seja, consi<strong>de</strong>ram a aprendizagem como<br />
um processo <strong>de</strong> doação <strong>de</strong> sentido, <strong>de</strong> significado, às situações em<br />
que o individuo se encontra... transforma-se num instrumento <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento do aperfeiçoamento das capacida<strong>de</strong>s intelectuais e<br />
da sobrevivência que permitem a expansão criadora da vida<br />
individual e coletiva. (GÓMES, 1998, p. 33).<br />
Sabe-se que o indivíduo reage à realida<strong>de</strong> tal como a percebe<br />
subjetivamente, ou seja, sua conduta respon<strong>de</strong> <strong>de</strong> acordo com sua compreensão da<br />
situação. A motivação emerge das solicitações e exigências da própria existência, da<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem para compreen<strong>de</strong>r e agir racionalmente na troca
45<br />
adaptativa com o meio sócio-histórico e natural, ao levar em conta a sua dimensão<br />
global e subjetiva.<br />
O autor ressalta que as contribuições ricas, estruturadas e fecundas da<br />
psicologia psico-cognitiva dos trabalhos <strong>de</strong> Piaget e da Escola <strong>de</strong> Genebra, são<br />
imprescindíveis para compreen<strong>de</strong>r a complexida<strong>de</strong> da aprendizagem humana.<br />
Explica que após a Gestalt, veio a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esclarecer o funcionamento da<br />
estrutura interna do organismo como mediadora dos processos <strong>de</strong> aprendizagem,<br />
pois<br />
a aprendizagem provoca a modificação e transformação das<br />
estruturas que, ao mesmo tempo, uma vez modificadas, permitem a<br />
realização <strong>de</strong> novas aprendizagens <strong>de</strong> maior riqueza e<br />
complexida<strong>de</strong>. A gênese mental po<strong>de</strong> ser representada como<br />
movimento dialético <strong>de</strong> evolução em espiral. No centro <strong>de</strong>ste<br />
processo encontra-se a ativida<strong>de</strong>. (GÓMES,1998, p. 35).<br />
Assim, a aprendizagem é tanto um fator, como um produto do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento. É um processo <strong>de</strong> aquisição no intercâmbio com o meio, mediadas<br />
por estruturas <strong>de</strong> início hereditárias e posteriormente construídas com a intervenção<br />
<strong>de</strong> aquisições passadas.<br />
As estruturas cognitivas são os mecanismos reguladores aos quais se<br />
subordina a influência do meio. São construídas, com processos <strong>de</strong> troca, que são<br />
resultado dos processos genéticos. Essas posições são <strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong> construção<br />
genética, explicadas por dois movimentos: a assimilação 8 e acomodação 9 . Ambos os<br />
movimentos constituem adaptação ativa do indivíduo que atua e reage para<br />
compensar perturbações em seu equilíbrio interno pela estimulação do ambiente.<br />
8 Assimilação: processo <strong>de</strong> integração, inclusive forçada e <strong>de</strong>formada, dos objetos ou conhecimentos<br />
novos as estruturas velhas, anteriormente construídas pelo individuo (GÓMES, 1998, p. 32).<br />
9 Acomodação: a reformulação e a elaboração <strong>de</strong> estruturas novas como conseqüência da<br />
incorporação prece<strong>de</strong>nte (id ibid, p. 32).
46<br />
O conhecimento não é uma mera cópia do real, é uma elaboração subjetiva<br />
que <strong>de</strong>semboca na aquisição <strong>de</strong> representações organizadas do real e na formação<br />
<strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> conhecimento. Ao distinguir os aspectos figurativos (conteúdo)<br />
dos aspectos operativos (formais) e ao subordinar os primeiros aos segundos.<br />
Piaget estabelece uma concepção com base nas ações sensório motoras,<br />
nas operações mentais concretas e formais, que subordinam a imagem e a intuição<br />
à ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> operação; já que as formas do conhecimento e as estruturas lógicas<br />
que po<strong>de</strong>m se aprofundar nas transformações do real são o resultado não dos<br />
objetos, mas da coor<strong>de</strong>nação das ações que o indivíduo exerce ao manipular e<br />
explorar a realida<strong>de</strong> objetiva.<br />
Segundo Piaget (apud GÓMES, 1998, p. 33), “são quatro fatores que<br />
intervem no <strong>de</strong>senvolvimento das estruturas cognitivas e que a regulação normativa<br />
da aprendizagem não po<strong>de</strong> ignorar: maturação, experiência física, interação social e<br />
equilíbrio”.<br />
Mediante essas colocações, cabe <strong>de</strong>stacar sete importantes conclusões<br />
apresentadas por Gómes (1998), para facilitar e orientar a regulação dos processos<br />
<strong>de</strong> ensino aprendizagem:<br />
• o caráter construtivo e dialético <strong>de</strong> todo o processo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento individual;<br />
• a enorme significação que tem para o <strong>de</strong>senvolvimento das<br />
capacida<strong>de</strong>s cognitivas superiores a ativida<strong>de</strong> do aluno <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as<br />
ativida<strong>de</strong>s sensório motoras <strong>de</strong> discriminação e manipulação <strong>de</strong><br />
objetos, até as complexas operações formais;<br />
• O espaço central que ocupa a linguagem como instrumento<br />
insubstituível das operações intelectuais mais complexas;<br />
• A importância do conflito cognitivo para provocar o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do aluno;<br />
• A significação da cooperação para o <strong>de</strong>senvolvimento das<br />
estruturas cognitivas;<br />
• A distinção e a vinculação entre <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem;<br />
a estreita veiculação das dimensões estrutural e afetiva da<br />
conduta. (op cit, p. 37).
47<br />
Para reforçar a regulação dos processos <strong>de</strong> aprendizagens, Gómes (1998, p.<br />
38) referencia Piaget (1970): “não existe estrutura alguma (cognição) sem um<br />
elemento ativador (motivação) e vice-versa. A motivação está sempre conectada<br />
com um nível estrutural (cognoscitivo) <strong>de</strong>terminado”.<br />
Assim, nota-se que a motivação é ativida<strong>de</strong> do sujeito, e ao educador cabe<br />
incentivar para que aflore.<br />
Já Ausubel mostra que as Aprendizagens Significativas são importantes para<br />
a prática didática. Ele aborda a aprendizagem como<br />
um tipo <strong>de</strong> aprendizagem que se refere a corpos organizados <strong>de</strong><br />
material significativo. É a pedra fundamental do <strong>de</strong>senvolvimento<br />
cognitivo do homem e o objeto prioritário da prática didática<br />
(AUSUBEL apud GÓMES,1998, p. 38).<br />
A aprendizagem significativa opõe-se à aprendizagem mecânica, repetitiva,<br />
pois compreen<strong>de</strong> a aquisição <strong>de</strong> novos significados, os quais requerem certas<br />
condições precisas. Ausubel se <strong>de</strong>tém nelas:<br />
A essência da aprendizagem significativa resi<strong>de</strong> em que as idéias<br />
expressadas simbolicamente são relacionadas <strong>de</strong> modo não<br />
arbitrário, mas substancial, com o que o aluno já sabe. O material<br />
que apren<strong>de</strong> é potencialmente significativo para ele. (id ibid, p. 38).<br />
O mesmo autor distingue duas dimensões na significação potencial do<br />
material <strong>de</strong> aprendizagem: significação lógica 10 e significação psicológica 11 .<br />
10 Significação lógica: coerência na estrutura interna do material, seqüência lógica nos processos e<br />
conseqüência nas <strong>relações</strong> entre seus elementos componentes (GÓMES, 1989, p. 38).<br />
11 Significação psicológica: que seus conteúdos sejam compreensíveis <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a estrutura cognitiva<br />
que o sujeito que apren<strong>de</strong> possui (id ibid, p. 32).
48<br />
Ausubel consi<strong>de</strong>ra que,<br />
cada estrutura cognitiva <strong>de</strong> cada sujeito evi<strong>de</strong>ncia uma organização<br />
hierárquica e lógica, on<strong>de</strong> cada conceito ocupa um lugar <strong>de</strong>terminado<br />
em função do seu nível <strong>de</strong> abstração, <strong>de</strong> generalização e capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> incluir outros conceitos. Assim, na aprendizagem significativa<br />
adquire-se o significado <strong>de</strong> idéias e proposições num processo <strong>de</strong><br />
inclusão correlativa em estruturas mais genéricas. (AUSUBEL apud<br />
GÓMES, 1989, p. 38).<br />
Dessa maneira, a aprendizagem significativa produz a estruturação do<br />
conhecimento prévio e a extensão <strong>de</strong> sua potencialida<strong>de</strong> explicativa e operativa,<br />
provocando sua organização, pois,<br />
o material aprendido <strong>de</strong> forma significativa é menos sensível as<br />
interferências a curto prazo e muito mais resistente ao esquecimento,<br />
porque não se encontra isolado, mas assimilado a uma organização<br />
hierárquica dos conhecimentos que se referem a própria área<br />
temática. (GÓMES, 1998, p. 38).<br />
De acordo com a bibliografia pesquisada, o problema da aprendizagem<br />
significativa, abordado por Ausubel, é a explicação por <strong>de</strong>scoberta, afirmando que o<br />
processo <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> significados é um processo ativo, mas que segundo<br />
Gómes (1998), requer um tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> intelectual diferente da aprendizagem por<br />
<strong>de</strong>scoberta, já que, para ambas são exigidos princípios explicativos e condições para<br />
realização diferentes. As habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> investigação requerem a prática, a<br />
participação do indivíduo, a busca real, e não a mera organização do recebido<br />
significativamente.<br />
Já a Teoria da Aprendizagem, sob o ponto <strong>de</strong> vista dialético, recebeu<br />
contribuições sob orientações dos princípios do materialismo dialético. Para a<br />
psicologia soviética, a aprendizagem está em função da comunicação e do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento. Para compreen<strong>de</strong>r qualquer fenômeno <strong>de</strong> aprendizagem, será<br />
necessário <strong>de</strong>terminar o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento alcançado pelas experiências. O
49<br />
nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento alcançado, não é estável, mas um amplo e reflexivo<br />
intervalo.<br />
Para Vygosty (apud GÓMES, 1998) é muito importante a compreensão da<br />
área <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento potencial ou zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento proximal, pois é o<br />
eixo da relação dialética entre aprendizagem e <strong>de</strong>senvolvimento. O que a criança<br />
po<strong>de</strong> fazer com ajuda hoje, favorece e facilita que o faça sozinha amanhã.<br />
Segundo Gómes (op. cit), em evi<strong>de</strong>nte oposição a Piaget, Vygotsky chega a<br />
afirmar que o <strong>de</strong>senvolvimento segue a aprendizagem, já que essa é quem cria a<br />
área <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento potencial. É essa concepção dialética da aprendizagem e<br />
do <strong>de</strong>senvolvimento que produz a divergência em relação à teoria genética <strong>de</strong><br />
Piaget e as etapas do <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
Não é somente a ativida<strong>de</strong> e a coor<strong>de</strong>nação das ações que o indivíduo realiza<br />
as responsáveis pela formação das estruturas formais da mente, mas também a<br />
apropriação da bagagem cultural, que é produto da evolução histórica da<br />
humanida<strong>de</strong> transmitida na relação educativa. A escola soviética conce<strong>de</strong> uma<br />
importância fundamental ao <strong>de</strong>senvolvimento da linguagem, pois a palavra é o<br />
instrumento mais rico para transmitir a experiência histórica da humanida<strong>de</strong>.<br />
Também, em conseqüência <strong>de</strong> seu caráter construtivista, a ativida<strong>de</strong> do indivíduo é<br />
o motor fundamental do <strong>de</strong>senvolvimento. Não se concebe a ativida<strong>de</strong> única, nem<br />
principalmente, como o intercâmbio isolado <strong>de</strong> seu meio físico, mas como<br />
participação em processos, geralmente em grupo; <strong>de</strong> busca cooperativa, <strong>de</strong><br />
intercâmbio <strong>de</strong> idéias e concepções <strong>de</strong> ajuda na aprendizagem, na aquisição da<br />
riqueza cultural da humanida<strong>de</strong>.<br />
Reafirmando os principais postulados da escola soviética, a psicologia<br />
genético-dialética francesa <strong>de</strong> Wallon consi<strong>de</strong>ra que a aprendizagem é
50<br />
incompreensível fora do <strong>de</strong>senvolvimento, e o <strong>de</strong>senvolvimento torna-se um conceito<br />
metafísico se não explicado nesse processo <strong>de</strong> aprendizagens do organismo com o<br />
meio. Assim, “a diferenciação progressiva do psiquismo, que constitui o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento, é função dos fenômenos da aprendizagem” (WALLON apud<br />
GÓMES, 1998, p. 42).<br />
O importante para Wallon é explicar a passagem do organismo para o<br />
psicológico. Uma transmissão que acontece mediante a impregnação do social<br />
psíquico, pela emoção, a imitação e a motricida<strong>de</strong>.<br />
Dentro <strong>de</strong>ssa teoria é particularmente importante o papel atribuído à emoção<br />
enquanto constitui o vínculo do orgânico e do social para gerar o psiquismo. De uma<br />
expressão corporal, um estado interno, adquire o caráter <strong>de</strong> comunicação. Essa<br />
passagem provoca as primeiras representações que adquirirão consistência e<br />
ampliação da imitação, pois a emoção comunicada exige uma relação conduzindo a<br />
aprendizagem.<br />
Des<strong>de</strong> a origem, o pensamento vincula-se com aspectos emotivos,<br />
afetivos, com os quais estabelecerá um discurso permanentemente<br />
cheio <strong>de</strong> contradições e apoios... toda a ativida<strong>de</strong> cognitiva da<br />
criança implica, em sua origem, seu <strong>de</strong>senvolvimento, ou sua<br />
conclusão, inevitáveis componentes afetivos que por si mesmos<br />
impulsionam a aprendizagem. (WALLON apud GÓMES, 1998, p. 42).<br />
Essa é uma importante contribuição, visto que, a tendência da escola em<br />
supervalorizar o aspecto intelectual parece ignorar a emoção e afetivida<strong>de</strong> da<br />
conduta do aluno. Segundo Wallon, pela emoção temos o melhor modo <strong>de</strong> provocar<br />
no aluno a aprendizagem.<br />
Já os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> aprendizagem, baseados na perspectiva da Teoria do<br />
Processamento <strong>de</strong> Informação e simulação do comportamento, são relativamente<br />
recentes. Em 1958 surgem os novos precursores <strong>de</strong> uma nova orientação cognitiva
51<br />
nos trabalhos e nas pesquisas sobre os processos <strong>de</strong> aprendizagem. Nessa teoria, o<br />
homem é o processador <strong>de</strong> informação, cuja ativida<strong>de</strong> fundamental é recebê-la,<br />
elaborá-la e agir <strong>de</strong> acordo com ela. Nas palavras <strong>de</strong> Gómes (1998, p. 44), isso<br />
significa que “todo ser humano é um ativo processador <strong>de</strong> sua experiência mediante<br />
um complexo sistema no qual a informação é recebida, transformada, acumulada,<br />
recuperada e utilizada”.<br />
Assim, o organismo não respon<strong>de</strong> diretamente ao mundo real, são mediados<br />
pela representação que se tem <strong>de</strong>le; selecionando, transformando e até distorcendo<br />
os estímulos recebidos. Os elementos estruturais mais importantes (as instâncias<br />
internas, tanto estruturais quanto funcionais), que me<strong>de</strong>iam a aprendizagem <strong>de</strong><br />
acordo com esse enfoque são: Registro sensitivo, que recebe informação interna e<br />
externa; Memória a curto prazo: que oferece breve armazenamento <strong>de</strong> informações<br />
selecionadas; Memória a longo prazo, que organiza e conserva disponível a<br />
informação durante períodos mais longos.<br />
As quatro categorias <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> processamento <strong>de</strong> informação são:<br />
Atenção, que trabalha com orientações seletivas e assimilações <strong>de</strong> estímulos<br />
específicos; Codificação, que implica na tradução <strong>de</strong> símbolos dos estímulos;<br />
Armazenamento, retenção organizada da informação codificada; Recuperação<br />
implica na utilização posterior da informação armazenada para os resultados e as<br />
respostas.<br />
O processo <strong>de</strong> informação começa com os processos <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong><br />
estímulos. Uma vez selecionada a informação, codifica-se e armazena-se por breves<br />
períodos <strong>de</strong> tempo na memória a curto prazo. A retenção e a recuperação são dois<br />
programas <strong>de</strong> controle que <strong>de</strong>terminam o processamento da informação a longo<br />
prazo. A retenção é um fenômeno que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do modo como a informação foi
52<br />
codificada e assimilada. A recuperação implica ativos processos <strong>de</strong> reconstrução e<br />
organização do material recuperado.<br />
A organização e significação do material são amplamente ressaltadas, pois, o<br />
armazenamento não se realiza <strong>de</strong> forma isolada e arbitrária, mas por assimilação<br />
significativa dos novos conhecimentos aos previamente construídos. Ou seja,<br />
os componentes internos dos processos <strong>de</strong> aprendizagem constroem<br />
um sistema cognitivo organizado, <strong>de</strong> tal maneira que tanto as<br />
características das instancias estruturais como os mecanismos dos<br />
processos <strong>de</strong> controle se criam e se transformam em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu<br />
próprio funcionamento ao processar as informações em intercambio<br />
com o meio. (GÓMES, 1998, p. 46).<br />
Assim, os esquemas, os conhecimentos, as especialida<strong>de</strong>s e habilida<strong>de</strong>s se<br />
formam num processo genético, alterando-se ao longo do tempo pelos resultados<br />
dos processos posteriores <strong>de</strong> aprendizagem nos quais intervêm. Ou seja, a teoria do<br />
processamento <strong>de</strong> informação (GÓMES, 1998), recupera a noção <strong>de</strong> mente,<br />
reintegra a informação subjetiva como um dado útil para a investigação e coloca em<br />
evi<strong>de</strong>ncia o estudo da memória como explicação da elaboração <strong>de</strong> informação e da<br />
ativida<strong>de</strong> humana.<br />
O estudo realizado contribui tanto para compreen<strong>de</strong>r como para orientar a<br />
escola sobre os fenômenos que <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados no processo <strong>de</strong> ensinoaprendizagem.<br />
Como postulados para a escola, pontuamos que o aluno precisa apren<strong>de</strong>r a<br />
apren<strong>de</strong>r, dominando os conteúdos <strong>de</strong> diferentes naturezas; precisa ter flexibilida<strong>de</strong><br />
e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se lançar com autonomia nos <strong>de</strong>safios da construção do<br />
conhecimento.<br />
Uma peculiarida<strong>de</strong> importante no processo ensino aprendizagem é o querer<br />
apren<strong>de</strong>r. Para que produza o conhecimento, o aluno tem que querer. E, como nas
53<br />
palavras <strong>de</strong> Paro (2000), cabe à escola essa tarefa que se constitui em uma das<br />
mais importantes:<br />
Ora o querer apren<strong>de</strong>r é também um valor cultivado historicamente<br />
pelo homem e, portanto, um conteúdo cultural que precisa ser<br />
apropriado pelas novas gerações, por meio do processo educativo.<br />
Por isso, não cabe a escola, na condição agencia encarregada da<br />
educação sistematizada, renunciar a essa tarefa. Por isso é que não<br />
tem sentido a alegação <strong>de</strong> que, se o aluno não quer apren<strong>de</strong>r, não<br />
cabe a escola a responsabilida<strong>de</strong> por seu fracasso... Levar o aluno a<br />
querer a apren<strong>de</strong>r é o <strong>de</strong>safio mais importante da didática, do qual<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m todas as <strong>de</strong>mais iniciativas. (op cit, p. 14)<br />
Nessa perspectiva, a escola hoje tem uma tripla função: “levar os alunos a<br />
apren<strong>de</strong>r, dar-lhes os fundamentos acadêmicos e, sem perda <strong>de</strong> tempo, equalizar as<br />
enormes diferenças no repertório do conhecimento com que eles chegam”. (WEISZ,<br />
2002, p. 36).<br />
Vindas <strong>de</strong> universos culturais diferentes, o repertório <strong>de</strong> conhecimentos faz<br />
com que as crianças saibam coisas diferentes.<br />
As <strong>de</strong> origem mais humil<strong>de</strong>s, por exemplo, a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida é outra que a<br />
dos professores e muitos colegas. Delas é exigida <strong>de</strong>senvoltura em capacida<strong>de</strong>s que<br />
lhes permitam aten<strong>de</strong>r na família necessida<strong>de</strong>s diárias como aten<strong>de</strong>r dos irmãos e<br />
cozinhar. Elas não dispõem do tipo <strong>de</strong> conhecimento com o qual a escola<br />
habitualmente conta, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo exclusivamente <strong>de</strong>ssa para apren<strong>de</strong>r os<br />
conteúdos escolares, pois não tem a quem recorrer.<br />
Já as crianças que vêm <strong>de</strong> um universo semelhante ao que é valorizado na<br />
escola já chegam com enormes vantagens em relação às <strong>de</strong>mais. A escola será<br />
muito mais fácil <strong>de</strong>vido à consonância da cultura da família e do seu ambiente. Pois,<br />
como coloca Weisz (2002, p. 48), “tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do valor que <strong>de</strong>terminadas<br />
aprendizagens assumem nas comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> origem <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las”.
54<br />
Mediante o exposto, a escola precisa refletir sobre seus pressupostos, bases<br />
teóricas e suas práticas, porque <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> como as <strong>de</strong>senvolve, po<strong>de</strong><br />
estigmatizar as crianças, prejudicando sua auto-estima e dificultando com isso o seu<br />
envolvimento com as situações <strong>de</strong> aprendizagem, cuidando para evitar uma<br />
pedagogia compensatória. Pois, é preciso “educar o olhar para enxergar o que<br />
sabem as crianças que aparentemente não sabem nada... a escola tem um papel<br />
equalizador das oportunida<strong>de</strong>s” (id ibid, p. 49).<br />
A escola precisa socializar, fundamentalmente os conteúdos pertencentes ao<br />
mundo da cultura, da literatura, da ciência, da arte, da informação tecnológica e<br />
tantas mais.Toda a criança tem direito a isso. É condição <strong>de</strong> inserção social. E ter<br />
essa clareza faz toda a diferença quando há comprometimento com uma educação<br />
para todos, que nunca será total, mas não servirá <strong>de</strong> instrumento <strong>de</strong> exclusão social.<br />
2.2 As Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Aprendizagem<br />
Em todos os tempos, a humanida<strong>de</strong> tem se preocupado com as diferenças,<br />
embora sempre tenha prevalecido como método <strong>de</strong> ensino o tradicional, o qual<br />
utiliza as mesmas estratégias para todos, como se todos os alunos apren<strong>de</strong>ssem da<br />
mesma maneira. O interesse nas possíveis causas e conseqüências das diferenças<br />
individuais e no funcionamento mental, remota ao início da civilização. Ao longo do<br />
tempo, a origem dos estados patológicos da aprendizagem, segundo Guimarães e<br />
Morais (1991), po<strong>de</strong>m ser agrupados em períodos. Foram concebidos durante o<br />
primeiro período, que vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da humanida<strong>de</strong>, período pré-histórico até o
55<br />
final do século XVIII. A concepção vigente era relativa à gênese da doença mental e,<br />
conseqüentemente, das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem foi a <strong>de</strong>monológica 12 .<br />
Na etapa seguinte, que abrange até os últimos períodos do século XIX e<br />
começo do século XX, os <strong>de</strong>terminismos das dificulda<strong>de</strong>s não foram mais<br />
concebidos como uma causa sobrenatural e sim, <strong>de</strong> origens ambientais e biológicos,<br />
sendo concepções naturais da origem da doença. Também, nesse período, <strong>de</strong>vido<br />
aos avanços nos estudos, nos diagnósticos e tratamentos direcionados à criança, o<br />
século XX foi <strong>de</strong>nominado, segundo Elen Key, o “século da criança” (DROUET,<br />
1997, p. 89).<br />
O período seguinte, século XX, iniciou com o aparecimento das escolas<br />
psicológicas contemporâneas: o funcionalismo, a psicanálise, a reflexologia, a<br />
gestalt, a topologia, o behaviorismo e os subprodutos psicológicos da escola<br />
piagetiana. Todas apresentam aspectos em comum, pois possuem sistemas teóricos<br />
altamente consistentes e aceitam o <strong>de</strong>terminismo psicológico como causa da origem<br />
das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem. Em relação a esse <strong>de</strong>terminismo são radicais:<br />
‘’sua causa’’ – o inconsciente, o estímulo, a estrutura, –são causas únicas e<br />
suficientes.<br />
A epistemologia convergente, assim <strong>de</strong>nominada, é a etapa seguinte, que<br />
tenta integrar os aportes em três correntes <strong>de</strong> pensamento: a psicanalítica, a<br />
piagetiana e a psicologia social, que se originou, do progressivo <strong>de</strong>clínio <strong>de</strong>ssas<br />
posições, a princípio irredutíveis; e a aceitação <strong>de</strong> que os condicionantes da conduta<br />
po<strong>de</strong>m ser diversos, e até coexistirem no tempo. Seu início acontece a partir do<br />
momento em que alguns cientistas penetram no conhecimento um do outro.<br />
12 Tratado da natureza ou influência dos <strong>de</strong>mônios. De acordo com ela, tanto as dificulda<strong>de</strong>s mentais<br />
quanto as <strong>de</strong> aprendizagem eram resultado <strong>de</strong> castigo divino (GUIMARÃES e MORAIS, 1991).
56<br />
Alguns conceitos psicanalíticos foram sendo introduzidos na área médica,<br />
modificando a visão dominante da doença mental, como também, as concepções<br />
das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem. O conceito <strong>de</strong> anomalias genéticas foi<br />
progressivamente sendo substituído pela psicologia clínica.<br />
Em Paris, 1905, dois psicólogos franceses, Alfred Binet e Teodoro Simon,<br />
criaram a primeira escala em <strong>de</strong>senvolvimento intelectual, a Escala Binet-Simon:<br />
teste usado para medir o quociente intelectual (QI) quociente <strong>de</strong> inteligência dos<br />
alunos, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> selecionar àqueles que po<strong>de</strong>riam ingressar na escola<br />
fundamental. É utilizado até hoje, com algumas modificações e acréscimos.<br />
Além das publicações dos trabalhos psicométricos <strong>de</strong> Binet e Simon, na<br />
primeira década do século XX, Freud, médico psicanalista, consi<strong>de</strong>rou as<br />
experiências emocionais da primeira infância como as mais importantes para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento posterior do indivíduo até a fase adulta. Beers, médico psiquiatra,<br />
enfatizou o valor da saú<strong>de</strong> mental na infância, para que os indivíduos evoluíssem<br />
equilibrados e ajustados emocionalmente.<br />
Segundo Weisz (2002), somente em 1920 chega ao Brasil a visão <strong>de</strong> criança<br />
não como adulto-em-miniatura, mas como um ser com características cognitivas<br />
distintas, uma visão do aprendiz como um ser atento que constrói seu conhecimento.<br />
Idéias da Escola Ativa – Escola Nova, nome que se <strong>de</strong>u aos vários movimentos<br />
<strong>de</strong>ntro da educação que tiveram como cabeças pensadoras: Dewey, Claparë<strong>de</strong>,<br />
Decroly, Montessory, Freinet. Eles tinham divergências entre si, mas um princípio<br />
norteador: “a valorização do indivíduo como ser livre, ativo e social” (WEISZ, 2002,<br />
p. 30).<br />
Somente por volta <strong>de</strong> 1930, criaram-se os primeiros centros <strong>de</strong> orientação<br />
educacional infantil com médicos, psicólogos, educadores e assistentes sociais.
57<br />
Passaram a estudar além do retardo mental, outros problemas como as dificulda<strong>de</strong>s<br />
apresentadas na fala, na leitura, na escrita e na motricida<strong>de</strong>; iniciando a construção<br />
<strong>de</strong> novos métodos educativos para sanar esses problemas <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
Surgiram também, nessa época, as primeiras associações <strong>de</strong> pais <strong>de</strong> excepcionais,<br />
num trabalho integrado para maior compreensão dos problemas e das dificulda<strong>de</strong>s<br />
das crianças e dos familiares.<br />
Em 1940, os métodos <strong>de</strong> psicoterapia, baseados na interpretação freudiana,<br />
começam a ser usados com pacientes com <strong>de</strong>ficiência mental. Em 1945 foram<br />
fundados os primeiros centros psicopedagógicos com o intuito <strong>de</strong> beneficiar os pais,<br />
crianças e educadores em um trabalho integrando lar-escola. Unindo conhecimentos<br />
psicológicos e pedagógicos, esses centros procuravam tratar comportamentos<br />
socialmente ina<strong>de</strong>quados, tanto na escola como no lar, objetivando a readaptação<br />
da criança. Em 1946, a equipe <strong>de</strong>sses centros passou a ser integrada por psiquiatra,<br />
neurologistas e psicanalistas, além dos psicólogos e pedagogos (DROUET, 1997, p.<br />
90).<br />
Na década <strong>de</strong> 1960, segundo a autora citada, chega ao Brasil a abordagem<br />
psiconeurológica <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano, que trouxe consigo noções <strong>de</strong><br />
Disfunção Cerebral Mínima e <strong>de</strong> Dislexia. Daí em diante, muitos educadores,<br />
pedagogos, psicólogos educacionais e psicopedagogos começaram a ficar atentos<br />
para o peso das condições mais amplas da socieda<strong>de</strong> na <strong>de</strong>terminação dos<br />
problemas <strong>de</strong> aprendizagens.<br />
De acordo com a pesquisa realizada, Drouet (1997), foi em 1977 que surgiu<br />
um outro campo educacional, a chamada pedagogia <strong>de</strong> apoio. Nas salas <strong>de</strong> aula<br />
pelos professores, visando dar uma complementação ao estudo regular para alunos<br />
que tenham encontrado dificulda<strong>de</strong> em acompanhar a classe.
58<br />
Na literatura investigada, em se tratando <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, o<br />
termo distúrbio, que significa perturbação ou alteração no comportamento habitual<br />
<strong>de</strong> uma pessoa, vem sendo usado na literatura especializada em várias acepções.<br />
Para alguns médicos, psicólogos ou educadores, segundo Drouet, distúrbios são<br />
problemas ou dificulda<strong>de</strong>s no processo ensino-aprendizagem, perturbações <strong>de</strong><br />
origem biológica, neurológica, intelectual, psicológica, sócio –econômica ou<br />
educacional, encontradas em escolares. Aspectos esses, que po<strong>de</strong>m se transformar<br />
em problemas na aprendizagem da criança.<br />
Um segundo grupo, por sugestão <strong>de</strong> Kirk e Bateman (1962) prefere reservar a<br />
expressão distúrbios <strong>de</strong> aprendizagem apenas para aqueles casos <strong>de</strong> crianças com<br />
“dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong> causas <strong>de</strong>sconhecidas, uma vez que essas<br />
crianças não apresentam <strong>de</strong>feitos físicos, sensoriais, emocionais ou intelectuais <strong>de</strong><br />
espécie alguma” (apud DROUET, 1997, p. 92). Até então essas crianças tinham sido<br />
maltratadas, ignoradas ou permanecidas sem diagnóstico. Suas dificulda<strong>de</strong>s<br />
recebiam várias <strong>de</strong>signações, tais como: hiperativida<strong>de</strong>, hipercinesia, disfunção<br />
cerebral mínima, dificulda<strong>de</strong> ou disfunção na aprendizagem.<br />
Já, Sara Pain (apud DROUET, 1997) chama <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> aprendizagem<br />
a todos os distúrbios psicopedagógicos que interferem diretamente na<br />
aprendizagem.<br />
A posição <strong>de</strong> Drouet (1997, p 93) em relação a conceituação é que:<br />
todos os distúrbios da fala da audição, emocionais, do<br />
comportamento etc... têm sua origem em causas diversas, porém<br />
todos eles se constituem em obstáculos a aprendizagem,<br />
prejudicando-a ou mesmo impedindo-a. São, portanto, problemas do<br />
processo <strong>de</strong> ensino aprendizagem... cabe ao professor observar as<br />
criança, perceber aquelas que apresentam problemas <strong>de</strong><br />
aprendizagem e encaminhá-las a especialista a<strong>de</strong>quado para<br />
diagnóstico e tratamento.
59<br />
No século XX acontece consi<strong>de</strong>rável salto na evolução do pensar<br />
educacional, ao levar-se em conta os aspectos cognitivos, afetivos emocionais e<br />
sociais do aluno como fundamentais ao seu <strong>de</strong>senvolvimento. A visão do homem<br />
como um todo, segundo Capra (1982), veio a partir da década <strong>de</strong> 1930, com a<br />
concepção sistêmica que vê o mundo em termos <strong>de</strong> <strong>relações</strong> e integração. “Os<br />
sistemas são totalida<strong>de</strong>s integradas, cujas proprieda<strong>de</strong>s não po<strong>de</strong>m ser reduzidas às<br />
unida<strong>de</strong>s menores. Em vez <strong>de</strong> se concentrar nos elementos... a abordagem<br />
sistêmica enfatiza princípios básicos <strong>de</strong> organização” (op cit, p. 45).<br />
O autor complementa essa abordagem sistêmica afirmando que:<br />
A nova visão da realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> que vimos falando, baseia-se na<br />
consciência do estado <strong>de</strong> inter-<strong>relações</strong> e inter<strong>de</strong>pendência essencial<br />
<strong>de</strong> todos os fenômenos –físicos, biológicos, psicológicos, sociais e<br />
culturais. Essa visão transcen<strong>de</strong> as atuais fronteiras disciplinares e<br />
conceituais. (id ibid, p. 62).<br />
É indiscutível o valor <strong>de</strong> tal concepção global, a qual traz argumentos que<br />
orientam e apelam para que várias facetas do problema sejam investigadas, e não<br />
se remeta a uma parte apenas a origem <strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
aprendizagem.<br />
Fez-se necessário conceituar o que são dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem,<br />
mesmo sabendo que as <strong>de</strong>finições construídas ao longo da história do seu estudo<br />
são muitas e receberam contribuições das mais variadas áreas do conhecimento e<br />
que hoje se fun<strong>de</strong>m para melhor compreen<strong>de</strong>r suas variáveis, orientando as<br />
intervenções pedagógicas.<br />
Nesse particular, a coor<strong>de</strong>nação pedagógica da escola <strong>de</strong>ve estar atenta aos<br />
encaminhamentos <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula, tendo assim segurança em relação aos<br />
procedimentos a serem adotados em cada situação. Segundo Drouet (1997), os
60<br />
pedagogos foram os primeiros a se preocuparem com os distúrbios apresentados<br />
por crianças com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
Em relação às causas prováveis das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, o termo<br />
refere-se não a um único distúrbio, mas uma ampla gama <strong>de</strong> problemas que po<strong>de</strong>m<br />
afetar qualquer área do <strong>de</strong>sempenho acadêmico. As crianças com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
aprendizagem têm em comum um baixo <strong>de</strong>sempenho inesperado (SMITH e<br />
STRICK, 2001).<br />
Muitos fatores contribuem para as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem. Pesquisas<br />
vêm sendo <strong>de</strong>senvolvidas e produzem informações úteis sobre as estruturas e<br />
funcionamento do cérebro humano. O que não é fácil é aplicar tais informações a um<br />
indivíduo; porque irregularida<strong>de</strong>s no funcionamento cerebral são apenas parte da<br />
história. Segundo Smith e Strick (2001, p. 20), “o <strong>de</strong>senvolvimento individual das<br />
crianças é maciçamente influenciado por sua família, pela escola e pelo ambiente da<br />
comunida<strong>de</strong>... é o ambiente da criança que <strong>de</strong>termina a gravida<strong>de</strong> do impacto da<br />
dificulda<strong>de</strong>”.<br />
As crianças também lutam com transtornos <strong>de</strong> comportamento, o que<br />
complica suas dificulda<strong>de</strong>s na escola. A mais saliente é a hiperativida<strong>de</strong> – TDAH,<br />
que afeta <strong>de</strong> 15% a 20% das crianças com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem<br />
(FERNÁNDES, 2001). Quando esses comportamentos das crianças oriundos <strong>de</strong><br />
síndromes não são compreendidos pensa-se que a mesma não está colaborando ou<br />
prestando atenção. Em muitos casos, as crianças <strong>de</strong>senvolvem problemas<br />
emocionais relacionados manifestando <strong>de</strong> várias formas, pondo para fora<br />
fisicamente tal sensação, tornando-se agressivos, ansiosos, <strong>de</strong>primidos, isolam-se<br />
sofrendo solidão, bem como, baixa auto-estima.
61<br />
Segundo Fernán<strong>de</strong>s (2001), o apren<strong>de</strong>r ocorre no seio <strong>de</strong> um vínculo<br />
humano, cuja matriz toma forma no primeiro vínculo que a criança tem mãe-pai-filhoirmão,<br />
pois, “a aprendizagem é um processo cuja a matriz é vincular e lúdica e sua<br />
raiz corporal; seu <strong>de</strong>sdobramento criativo põe-se em jogo através da articulação<br />
inteligência-<strong>de</strong>sejo e do equilíbrio assimilação-acomodação” (op cit, p. 48).<br />
Somente observando como apren<strong>de</strong>, e a originalida<strong>de</strong> da sua dificulda<strong>de</strong> é<br />
que, estaremos no caminho <strong>de</strong> elucidar porque a criança não apren<strong>de</strong>.<br />
Necessariamente na aprendizagem entram em jogo, numa maneira individual <strong>de</strong><br />
relação, pelo menos quatro níveis em um processo vincular pelo ensinante e<br />
apren<strong>de</strong>nte, dois personagens e um vínculo entre ambos.<br />
Fernán<strong>de</strong>s (1991), coloca a implicação <strong>de</strong> quatro níveis no processo <strong>de</strong><br />
aprendizagem:<br />
Em todo processo <strong>de</strong> aprendizagem estão implicados os quatro<br />
níveis: organismo, inteligência, <strong>de</strong>sejo e corpo e não se po<strong>de</strong> falar <strong>de</strong><br />
aprendizagem excluindo algum <strong>de</strong>les, também nas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
aprendizagem, necessariamente estarão em jogo os quatro níveis<br />
em diferente grau <strong>de</strong> compromisso. (op cit, p. 57).<br />
Ou seja, na concepção da autora, para apren<strong>de</strong>r, o ser humano põe em jogo<br />
o seu organismo individual herdado; seu corpo construído especularmente, sua<br />
inteligência construída interacionalmente e a arquitetura do <strong>de</strong>sejo, <strong>de</strong>sejo que é<br />
sempre <strong>de</strong>sejo do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> outro. Para dar conta do não apren<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>nominado por<br />
Fernan<strong>de</strong>s (1991), <strong>de</strong> fraturas no apren<strong>de</strong>r, necessitamos aten<strong>de</strong>r aos processos, à<br />
dinâmica e o movimento, às tendências e não somente aos resultados ou<br />
rendimentos.<br />
Partindo <strong>de</strong>sse pressuposto, então, as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem<br />
apresentadas em sala <strong>de</strong> aula, po<strong>de</strong>m ser vistas também, como dificulda<strong>de</strong>s da<br />
escola, (MAINARDES, 1999), dos professores e <strong>de</strong>mais envolvidos. E, atentos ao
62<br />
movimento escolar como um todo, possam enfrentar quaisquer eventualida<strong>de</strong>s,<br />
sabendo e apren<strong>de</strong>ndo a lidar com elas por meio <strong>de</strong> estratégias a<strong>de</strong>quadas. O que<br />
muitas vezes é percebido nas escolas é uma tendência à supervalorização das<br />
dificulda<strong>de</strong>s, das carências afetivas, dos problemas familiares ou <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou<br />
emocionais, das atitu<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> comportamentos.<br />
Deixam-se <strong>de</strong> lado os avanços conseguidos, per<strong>de</strong>ndo-se uma oportunida<strong>de</strong>,<br />
mecanismo excelente para auxiliar nas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem:<br />
... percebemos que o reconhecimento explicito dos avanços –<br />
mesmo que aparentemente sutis – colaborou muito para o resgate<br />
e/ou elevação do auto-conceito e continuida<strong>de</strong> do processo ensino<br />
aprendizagem. A idéia <strong>de</strong> que a criança “ainda não sabe” permitenos<br />
compreen<strong>de</strong>r a aprendizagem como processo dinâmico e rico <strong>de</strong><br />
possibilida<strong>de</strong>s. (MAINARDES, 1999, p. 42).<br />
Várias teorias acerca do funcionamento psíquico afirmam que nós nascemos<br />
com uma tendência inata para a aprendizagem. O processo <strong>de</strong> aprendizagem inicia<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascimento e garantirá a sobrevivência e a humanização. Bossa (2000) diz<br />
que a aprendizagem e a construção do conhecimento são processos naturais e<br />
espontâneos na nossa espécie e, se não estão ocorrendo, certamente existe uma<br />
razão, pois uma lei da natureza está sendo contrariada.<br />
Mediante o exposto, existem muitos fatores que po<strong>de</strong>m interferir na<br />
aprendizagem, isto faz com que recriem novos contextos que se adaptem às<br />
individualida<strong>de</strong>s dos alunos, partindo do que cada um sabe, <strong>de</strong> suas potencialida<strong>de</strong>s<br />
e não <strong>de</strong> suas dificulda<strong>de</strong>s. Deve-se ter em mente que nem todos apren<strong>de</strong>m da<br />
mesma maneira, que cada um apren<strong>de</strong> a seu ritmo e em seu nível.<br />
A escola pública brasileira tem produzido altos índices <strong>de</strong> reprovação e <strong>de</strong><br />
evasão e o baixo nível <strong>de</strong> conhecimento, mesmo dos que são aprovados. A culpa na<br />
maioria das vezes cai sobre o professor, acusado <strong>de</strong> incompetência e <strong>de</strong> pouco
63<br />
empenho profissional, que em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> sua auto-estima põe a culpa no aluno<br />
acusando-o <strong>de</strong> não querer apren<strong>de</strong>r. Segundo Paro (2000), tal justificativa precisa<br />
ser combatida <strong>de</strong> forma radical porque:<br />
implica a própria renuncia da escola a uma <strong>de</strong> suas funções mais<br />
essenciais. Os equívocos a esse respeito geralmente advêm da<br />
atitu<strong>de</strong> errônea <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar a “aula” como o produto do trabalho<br />
escolar. Nessa concepção, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o professor <strong>de</strong>u uma boa aula,<br />
a escola cumpriu sua obrigação, apresentou o seu produto, tudo o<br />
mais sendo responsabilida<strong>de</strong> do aluno. Mas, se consi<strong>de</strong>rarmos o<br />
conceito <strong>de</strong> trabalho humano como “ativida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quada a um fim” a<br />
aula ou a “situação <strong>de</strong> ensino” constitui o próprio trabalho, não seu<br />
produto. Se a escola tem <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r por produtos, estes só po<strong>de</strong>m<br />
ser o resultado da apropriação do saber pelos alunos. (op cit, p. 13).<br />
A escola para exercer a sua função social <strong>de</strong> garantir a todos as condições <strong>de</strong><br />
viver plenamente a cidadania, cumprindo seus <strong>de</strong>veres e usufruindo seus direitos,<br />
precisa conscientizar-se <strong>de</strong> sua responsabilida<strong>de</strong> em propiciar a todos os seus<br />
alunos o sucesso escolar no prazo legalmente estabelecido, por meio <strong>de</strong> um<br />
envolvimento maior <strong>de</strong> todos no processo, porque como coloca Grinspun (2002, p.<br />
69): “a questão do fracasso é um problema <strong>de</strong> concepção, <strong>de</strong> estrutura, que po<strong>de</strong><br />
chegar a um bom termo se todos estiverem comprometidos no mesmo sentido em<br />
superá-lo”.<br />
É preciso <strong>de</strong>smistificar as causas geradoras do fracasso da aprendizagem<br />
<strong>de</strong>svinculada <strong>de</strong> patologias, visões distorcidas e equivocadas como justificativas que<br />
buscam omitir os envolvidos no processo educativo <strong>de</strong> suas competências em<br />
promoverem o sucesso dos alunos na escola, conseqüentemente na vida, pois “se<br />
estes não apren<strong>de</strong>ram, a escola não foi produtiva. Dizer que a escola é produtiva<br />
porque <strong>de</strong>u boa aula, mas o aluno não apren<strong>de</strong>u é o mesmo que dizer que a cirurgia<br />
foi um sucesso, mas o paciente morreu” (PARO, 2000, p. 15).
64<br />
CAPÍTULO 3<br />
A PESQUISA EMPÍRICA<br />
A revisão da literatura embasou o encaminhamento metodológico da<br />
pesquisa-ação, estratégia a<strong>de</strong>quada ao trabalho proposto. Os encaminhamentos<br />
foram facilitados, uma vez que uma pesquisadora é pedagoga da escola e a outra,<br />
educadora infantil do estabelecimento. Somos parte integrante da instituição e<br />
anteriormente <strong>de</strong>senvolvemos trabalho teórico-prático do Curso <strong>de</strong> Especialização<br />
em Desenvolvimento Pessoal e Familiar, junto às famílias cujos filhos estudam no<br />
CAIC (Anexo 2), o qual ajudou na i<strong>de</strong>ntificação do contexto familiar, para atingir-se<br />
os objetivos traçados, <strong>de</strong>talhando-se as questões e o tipo <strong>de</strong> pesquisa.<br />
Em termos gerais, o objetivo da pesquisa foi o <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r como se dá a<br />
relação entre escola e família com alunos que vêm apresentando dificulda<strong>de</strong>s na<br />
aprendizagem. Optou-se pelo estudo <strong>de</strong> duas turmas do Nível III, 2ª Fase,<br />
correspon<strong>de</strong>nte a 4ª série, num total <strong>de</strong> sessenta alunos na faixa etária <strong>de</strong> 9 a 10<br />
anos, por ser a etapa final do nível.<br />
Os objetivos específicos que embasaram o estudo formulado <strong>de</strong> acordo com<br />
as experiências docentes vivenciadas pelas pesquisadoras e a revisão da literatura<br />
foram:<br />
− Descrever e analisar quais as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem mais<br />
comuns;<br />
− I<strong>de</strong>ntificar o olhar das professoras e da escola em relação às crianças<br />
com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem;<br />
− Analisar em que contexto familiar vive o aluno que apresenta dificulda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> aprendizagem;
65<br />
− Analisar o comportamento familiar frente a essa problemática;<br />
− Descrever e analisar encaminhamentos utilizados pela escola para<br />
contribuir no <strong>de</strong>senvolvimento das crianças que apresentam dificulda<strong>de</strong>s<br />
na aprendizagem;<br />
− Apontar estratégias validadas <strong>de</strong> trabalhos com as famílias <strong>de</strong> crianças<br />
que apresentam dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem.<br />
Mediante os objetivos propostos e as questões, é possível melhorar o<br />
rendimento escolar com maior aproximação da escola com a família? Quais as<br />
estratégias mais favoráveis a essa aproximação?<br />
A investigação que mais se a<strong>de</strong>quou para a realida<strong>de</strong> foi a pesquisa-ação<br />
que, segundo Engel (2000), surgiu para superar a lacuna entre teoria e prática, pois,<br />
uma das características <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> pesquisa é que através <strong>de</strong>la se<br />
procura intervir na prática <strong>de</strong> modo inovador já no <strong>de</strong>correr do próprio<br />
processo <strong>de</strong> pesquisa e não apenas como possível conseqüência <strong>de</strong><br />
uma recomendação na etapa do processo. (op cit, p. 183).<br />
Dentre as características essenciais <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> investigação apresentada<br />
pelo autor, pontuamos:<br />
− A pesquisa-ação é situacional: procura diagnosticar um problema<br />
específico numa situação também específica, com fim <strong>de</strong> atingir<br />
uma relevância prática dos resultados.<br />
− No ensino, a pesquisa-ação tem por objeto <strong>de</strong> pesquisa as ações<br />
humanas em situações que são percebidas pelo professor como<br />
sendo inaceitáveis sob certos aspectos, que são suscetíveis <strong>de</strong><br />
mudança e que exigem resposta prática. A situação problemática<br />
é interpretada a partir do ponto <strong>de</strong> vista das pessoas envolvidas;<br />
baseando-se, portanto, sobre as representações que os diversos<br />
atores (professores, alunos, diretores etc) têm da situação.<br />
− O processo <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong>ve tornar-se um processo <strong>de</strong><br />
aprendizagem para todos os participantes, e a separação entre<br />
sujeito e objeto <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong>ve ser superada.<br />
− Como critério <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> dos resultados da pesquisa-ação<br />
sugere-se a utilida<strong>de</strong> dos dados para os clientes: as estratégias e<br />
produtos serão úteis para os envolvidos e o pesquisador neste<br />
contexto, se parece a um praticante social.
66<br />
− A pesquisa-ação é auto-avaliativa, isto é, as modificações<br />
introduzidas na prática são constantemente avaliadas no <strong>de</strong>correr<br />
do processo <strong>de</strong> intervenção e o feedback obtido do monitoramento<br />
da prática é traduzido em modificações, mudanças <strong>de</strong> direção e<br />
re<strong>de</strong>finições, conforme necessário, trazendo benefícios para o<br />
próprio processo, isto é, para a prática, sem ter em vista, em<br />
primeira linha, o benefício <strong>de</strong> situações futuras.<br />
− A pesquisa-ação é cíclica: as fases finais são usadas para<br />
aprimorar os resultados das fases anteriores.<br />
Participaram da pesquisa três professores que atuavam diretamente com os<br />
grupos, as duas pedagogas responsáveis pela coor<strong>de</strong>nação pedagógica do Nível, os<br />
<strong>de</strong>z alunos apontados que apresentavam dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem em sala <strong>de</strong><br />
aula, as três mães e dois casais, pais dos referidos alunos.<br />
3.1 Encaminhamentos Metodológicos<br />
Como procedimento inicial foi solicitado aos professores do Nível que<br />
fizessem a i<strong>de</strong>ntificação dos alunos que apresentaram dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem<br />
em sala <strong>de</strong> aula no <strong>de</strong>correr do 2º Bimestre, visto que estava iniciando o 3º Bimestre<br />
do ano letivo <strong>de</strong> 2005.<br />
Para tanto, os professores recorreram aos registros e observações diárias do<br />
<strong>de</strong>sempenho dos alunos. Posteriormente foi organizando, junto com a coor<strong>de</strong>nação<br />
pedagógica, uma seleção dos alunos, segundo seu percentual final <strong>de</strong><br />
aproveitamento, <strong>de</strong> acordo com o sistema <strong>de</strong> avaliação adotado pela escola. Os<br />
alunos que estavam no índice <strong>de</strong> 0% a 20% <strong>de</strong> aproveitamento, segundo os<br />
objetivos propostos, participariam do apoio pedagógico duas vezes na semana.<br />
Perfizeram aqui um total <strong>de</strong> <strong>de</strong>z alunos.
67<br />
Em relação aos alunos pesquisados, nenhum <strong>de</strong>les necessitou passar por<br />
avaliação <strong>de</strong> especialistas para diagnósticos, portanto, não são alunos que<br />
apresentam quadro <strong>de</strong> déficit <strong>de</strong> atenção, hiperativida<strong>de</strong>, saú<strong>de</strong> mental ou outros.<br />
Segundo dados obtidos com a coor<strong>de</strong>nação pedagógica, as crianças possuem<br />
<strong>de</strong>fasagens <strong>de</strong> conteúdos que se acumularam no <strong>de</strong>correr da escolarização.<br />
Ao analisar os dados, percebe-se que dos <strong>de</strong>z alunos selecionados, por<br />
estarem participando do apoio pedagógico, somente cinco famílias aten<strong>de</strong>ram a<br />
solicitação da escola para o trabalho a ser realizado. Para tanto, a análise dos<br />
dados, foi completa em todas as etapas da pesquisa com cinco alunos e suas<br />
respectivas famílias, e dos <strong>de</strong>mais alunos não se pô<strong>de</strong> contar com a participação da<br />
família, pois os mesmos não aten<strong>de</strong>ram as solicitações das pesquisadoras e da<br />
escola.<br />
Para não expor o nome dos envolvidos na pesquisa, optou-se pela seguinte<br />
nomenclatura:<br />
Coor<strong>de</strong>nação pedagógica – C. P.<br />
Professora do Nível III 2ª Fase A – P. A<br />
Professora do Nível III 2ª Fase B – P. B<br />
Professora integradora do Nível III 2 –P. I.<br />
Dos que participaram <strong>de</strong> todas as etapas:<br />
Alunos – A1, A2, A3, A4, A7; e Famílias: F1, F2, F3, F4, F7.<br />
Dos alunos que as famílias não participaram:<br />
Alunos: A5, A6, A8, A9, A10; e Famílias: F5, F6, F8, F9, F10.
68<br />
A ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reforço pedagógica <strong>de</strong>senvolvida pela escola tinha duração <strong>de</strong><br />
uma hora e com a inserção das pesquisadoras, passou a ser diariamente. Po<strong>de</strong>-se<br />
contar com o auxílio <strong>de</strong> um estagiário do curso <strong>de</strong> matemática, cuja função era <strong>de</strong><br />
assistir individualmente os alunos. Essa ativida<strong>de</strong> contribui com a aprendizagem das<br />
crianças que não conseguiam acompanhar as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas em sala <strong>de</strong><br />
aula. No CAIC, o aluno é sempre avaliado no sentido <strong>de</strong> que sejam percebidos seus<br />
avanços e necessida<strong>de</strong>s, como também é valorizado tendo noção das metas que<br />
precisa alcançar, procurando fazer com que se sintam bem consigo mesmo.<br />
Foram feitos acompanhamentos no ambiente escolar, bem como diretamente<br />
nas salas <strong>de</strong> aula <strong>de</strong>sses alunos, para que fossem observadas as condições em que<br />
se dava o processo <strong>de</strong> aprendizagem das crianças. Também foi possível ter contato<br />
com esses alunos na hora das refeições, momento livre, aulas <strong>de</strong> educação física,<br />
ateliês e ativida<strong>de</strong>s externas para verificar suas reações nos <strong>de</strong>mais ambientes da<br />
escola e em contato com outros professores.<br />
As salas <strong>de</strong> aula observadas, inclusive a sala <strong>de</strong> apoio pedagógico,<br />
evi<strong>de</strong>nciam essa questão, pois em suas pare<strong>de</strong>s encontravam-se vários cartazes<br />
com produções coletivas, construídas primeiro oralmente e <strong>de</strong>pois constituídas em<br />
registro escrito, cujos temas remetiam às vivências das crianças.<br />
As salas <strong>de</strong> aula eram bastante confortáveis, abastecidas <strong>de</strong> luz natural e<br />
bem arejadas. As carteiras eram individuais, mas dispostas em grupo <strong>de</strong> quatro ou<br />
<strong>de</strong> dois alunos. A mesa da professora ficava no canto esquerdo da sala e ao lado<br />
havia um espaço reservado para a realização da assembléia (ativida<strong>de</strong> diária em<br />
que as crianças e o docente utilizam-se para conversarem no início e final das<br />
ativida<strong>de</strong>s diárias). As pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cor clara, sustentavam produções coletivas e<br />
individuais das crianças, bem como cartazes e painéis. As salas contavam ainda
69<br />
com um Cantinho <strong>de</strong> Leitura, com livros que os alunos trazem no início do ano,<br />
caracterizado com <strong>de</strong>senhos na pare<strong>de</strong> e almofadas no chão e continham alguns<br />
materiais pedagógicos; como lápis <strong>de</strong> cor, giz, lápis preto, algumas cartilhas, cola,<br />
tesoura, entre outros para uso das crianças, e jogos pedagógicos à disposição dos<br />
professores e dos alunos.<br />
Nessa dinâmica dos espaços utilizados pelos alunos, mostra que os<br />
professores buscavam a todo o momento valorizar as ações das crianças,<br />
consi<strong>de</strong>rando-as construtoras <strong>de</strong> seu conhecimento, e não apenas, meras<br />
receptoras, postura essa que possibilitava trabalhar conteúdos trazidos pelos alunos<br />
<strong>de</strong> sua vivência. Assim, enquanto levava em consi<strong>de</strong>ração os conhecimentos prévios<br />
e os contextos sociais das crianças, estavam permitindo que elas significassem seus<br />
aprendizados.<br />
Os alunos exercitam a autonomia na realização das ativida<strong>de</strong>s em grupo,<br />
observada na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> situações problema, favorecendo assim, a interação<br />
social entre os alunos, <strong>de</strong>ixando que esses formulassem suas hipóteses e se<br />
ajudassem num primeiro momento sem a intervenção da professora. Foi bastante<br />
comum esse movimento em sala <strong>de</strong> aula, também em outras ativida<strong>de</strong>s, as crianças<br />
andavam livremente nos pequenos grupos, comparando respostas, construindo suas<br />
lógicas e discutindo entre si.<br />
Com esse tipo <strong>de</strong> autonomia propiciada aos alunos, as professoras<br />
<strong>de</strong>monstraram ter consciência <strong>de</strong> que a autonomia grupal tem como objetivo a<br />
in<strong>de</strong>pendência e o amadurecimento, não só do processo <strong>de</strong> aprendizagem, mas da<br />
própria formação cognitiva, estimulando-se os aspectos lógicos e racionais da<br />
criança, bem como <strong>de</strong> suas personalida<strong>de</strong>s.
70<br />
A liberda<strong>de</strong> vivenciada pelos alunos condiz também com os pressupostos<br />
espistemlógicos, filosóficos e didáticos pedagógicos da proposta pedagógica da<br />
escola e é tida como condição para o <strong>de</strong>senvolvimento e a aprendizagem, pois<br />
permite ao indivíduo vasto horizonte para pensar, sentir e agir, <strong>de</strong> forma que<br />
<strong>de</strong>sempenhe suas tarefas com espontaneida<strong>de</strong> e responsabilida<strong>de</strong>.<br />
Os alunos trabalham <strong>de</strong> forma lúdica, que é a preocupação constante das<br />
professoras, visto que os alunos passam o dia todo na escola. Várias foram as<br />
oportunida<strong>de</strong>s em que se presenciou brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> roda, músicas, parlendas,<br />
teatro <strong>de</strong> fantoches, competições. Os conteúdos eram previamente planejados pelas<br />
professoras, iam sendo criadas situações que levavam os alunos a investigarem<br />
outras possíveis soluções e a fazerem novas <strong>de</strong>scobertas. Realizando, assim, um<br />
trabalho interdisciplinar que, além <strong>de</strong> flexível, mostrou-se muito produtivo.<br />
Num grupo heterogêneo, com níveis diferentes <strong>de</strong> aprendizagem, a<br />
professora conseguia explorar as diferenças, fazendo com que essas fossem<br />
aliadas, e não entraves no processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem.<br />
Um exemplo disso era a formação dos grupos <strong>de</strong> trabalho em que alunos <strong>de</strong><br />
níveis diferentes eram colocados na mesma mesa <strong>de</strong> forma que aqueles mais<br />
adiantados mediassem o aprendizado daqueles mais atrasados. Isso era possível<br />
<strong>de</strong>vido a uma postura <strong>de</strong> muito respeito pelo <strong>de</strong>senvolvimento do aluno. Essa<br />
interação entre os alunos, juntamente com as mediações entre eles e da professora,<br />
é um gran<strong>de</strong> instrumento no processo <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
Segundo Vigotski (1989), existem dois níveis evolutivos: um nível real, que<br />
indica aquilo que o indivíduo é capaz <strong>de</strong> fazer sozinho; e um nível potencial,<br />
abrangendo tudo aquilo que o sujeito realiza ajudado ou mediado por outro. A partir<br />
<strong>de</strong>sses dois conceitos, Vigotski <strong>de</strong>fine o que chama <strong>de</strong> "zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento
71<br />
proximal – ZDP”, que vem a ser a distância entre esses dois níveis <strong>de</strong> evolução da<br />
criança. A ZPD é o potencial para uma aprendizagem posterior, mas que já está<br />
presente nesse espaço.<br />
Acreditando nesse potencial existente nas crianças, o processo ensinoaprendizagem<br />
em uma turma heterogênea se torna possível, uma vez que as<br />
diferenças po<strong>de</strong>m ser trabalhadas no grupo. Aqueles alunos que se encontram em<br />
um nível inferior po<strong>de</strong>m ser mediados por aqueles mais avançados e seus potenciais<br />
estimulados <strong>de</strong> forma que a aprendizagem se torne concreta.<br />
A valorização para os avanços pessoais também foi característica marcante<br />
na prática observada. Era comum escutar palavras <strong>de</strong> incentivo aos alunos, como:<br />
"Parabéns, que <strong>de</strong>lícia, como você está lendo bem!"; "Que coisa boa! Fico feliz <strong>de</strong><br />
todos terem cumprido a tarefa!”; "Vocês estão craques na leitura e dizem que não<br />
sabem!"; "Olhem o ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> A. como está bonito!”.<br />
É em seu seio familiar que a criança <strong>de</strong>senvolve prioritariamente suas<br />
habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> socialização, bem como conceitos que serão percebidos em todo o<br />
seu posicionamento social.<br />
Desse modo, para conhecer o olhar da família sobre a escola, os pais das<br />
crianças selecionadas para o apoio foram chamados e ouvidos nas <strong>de</strong>pendências da<br />
escola.<br />
A apuração das entrevistas (Apêndice 1) foi em forma <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong> uma<br />
síntese e posteriormente a elaboração do texto <strong>de</strong> cada família entrevistada, o qual<br />
foi <strong>de</strong>senhado ao longo do contato com os envolvidos.<br />
Os dados foram coletados junto à escola, através dos alunos do apoio,<br />
professores do Nível e os pais dos alunos envolvidos. O material dirigido aos<br />
professores (Apêndice 2) contou inicialmente com dados em relação aos alunos
72<br />
selecionados, as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, o que conheciam sobre as famílias,<br />
participação da família na escola; dados dos conselhos <strong>de</strong> avaliação do 3º e 4º<br />
Bimestres (Anexo 3); registros <strong>de</strong>scritivos do <strong>de</strong>senvolvimento escolar dos alunos<br />
do 3º e 4º Bimestres, em relação ao professor, anos <strong>de</strong> magistério, grau <strong>de</strong> instrução<br />
e sua visão frente os problemas <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
Foi possível, durante a pesquisa, acompanhar algumas ações da<br />
coor<strong>de</strong>nação como seções <strong>de</strong> orientação no grupo, planejamentos, conversas com<br />
professores, atendimento aos pais e alunos e a realização do conselho <strong>de</strong> avaliação<br />
que é um momento extraordinário que ocorre na escola pelo encaminhamento dado.<br />
Durante a pesquisa o trabalho foi sendo construído e reconstruído passo a<br />
passo com o grupo envolvido. As mudanças, os ajustes e as reformulações foram<br />
sempre discutidos, com base nas questões observadas no <strong>de</strong>correr da pesquisa, no<br />
contato com os professores, alunos e seus familiares, e sustentadas pelo suporte<br />
teórico <strong>de</strong> autores que travam sobre dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem e família. Dentre<br />
eles <strong>de</strong>stacam-se: Weisz (2002); Corinn & Smith e Strck (2001); Bossa (2000);<br />
Mainar<strong>de</strong>s (1999); Drouet (1997); Visca, Morais e Guimarães (1991); e Capra<br />
(1982).<br />
É o momento em que a teoria e a prática se travavam para iluminar o novo<br />
caminho. Evi<strong>de</strong>ntemente, não existe prática que não esteja ligada a alguma teoria.<br />
De acordo com Paulo Freire (1996), ”nada mais prático que uma boa teoria”.<br />
Mediante as reflexões que se faziam entre os professores nos encontros,<br />
sobre as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem dos alunos, percebia-se a inquietu<strong>de</strong> dos<br />
professores em estarem reorganizando suas práticas, refletindo sobre a forma com<br />
que a encaminhavam em sala <strong>de</strong> aula.
73<br />
Foi então sugerido a coor<strong>de</strong>nação pedagógica da escola, como tema para<br />
formação continuada <strong>de</strong> professores, “a construção do conhecimento”, para aten<strong>de</strong>r<br />
a necessida<strong>de</strong> dos professores em enten<strong>de</strong>r como se dava o processo <strong>de</strong> aquisição<br />
do conhecimento como um todo. Ao ser colocado ao grupo <strong>de</strong> professores, do<br />
Projeto <strong>de</strong> Formação Continuada, <strong>de</strong>senvolvido no CAIC, eles gostaram do tema e<br />
se dispuseram a participar.<br />
Nesse sentido, parte-se do pressuposto <strong>de</strong> que trabalhar a partir dos interesses<br />
dos professores, possibilita maior garantia <strong>de</strong> sucesso ao trabalho. O encontro<br />
aconteceu <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>scontraída e natural, on<strong>de</strong> todos colocaram seus pontos <strong>de</strong><br />
vista e aprofundaram seus conhecimentos. Juntamente com o referencial teórico<br />
para subsidiar o trabalho em sala <strong>de</strong> aula, os professores refletiam, apontavam os<br />
pensamentos, compartilhavam angústias, dúvidas, <strong>de</strong>scobertas; sempre<br />
socializando com o grupo os encaminhamentos adotados no dia a dia.<br />
3.2 Análise dos Dados<br />
Foram utilizados os procedimentos da pesquisa qualitativa, pois segundo<br />
Lüdke e Andre (1986), o estudo qualitativo é aquele que se <strong>de</strong>senvolve numa<br />
situação natural, é rico em dados <strong>de</strong>scritivos, tem um plano aberto e flexível e lança<br />
um olhar sobre a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma complexa e contextualizada.<br />
Na pesquisa qualitativa o pesquisador atua no meio em que <strong>de</strong>senvolve a<br />
pesquisa com o todo. E pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlar a investigação, tem um foco<br />
<strong>de</strong> estudo.
74<br />
Bogdan e Biklen (1994) apresentam cinco características básicas que<br />
configuram esse tipo <strong>de</strong> estudo: na investigação qualitativa a fonte direta <strong>de</strong> dados é<br />
o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal; a<br />
investigação qualitativa é <strong>de</strong>scritiva; os investigadores qualitativos interessam-se<br />
pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos.<br />
Como instrumento mais viável para a coleta <strong>de</strong> dados, consi<strong>de</strong>rou-se a<br />
entrevista semi-estruturada, pois como coloca Lüdke (1986, p. 34): “permite a<br />
captação imediata e corrente da informação <strong>de</strong>sejada, praticamente com qualquer<br />
tipo <strong>de</strong> informante e sobre os mais variados tópicos”.<br />
Porém, <strong>de</strong>ve-se levar em consi<strong>de</strong>ração o alerta do mesmo autor para o<br />
momento da entrevista:<br />
O entrevistador precisa estar atento não apenas (e não rigidamente,<br />
sobretudo) ao roteiro pré-estabelecido e às respostas verbais que vai<br />
obtendo ao longo da interação... e que é muito importante para a<br />
validação do que foi efetivamente dito. (LÜDKE,1986, p. 36).<br />
Assim, o entrevistador estabelece um momento <strong>de</strong> interação com o<br />
entrevistado, po<strong>de</strong>ndo ser um momento autêntico <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> informações. Para<br />
<strong>de</strong>limitação do objeto <strong>de</strong> estudo, consi<strong>de</strong>rou-se o apontamento da escola e dos<br />
professores acerca <strong>de</strong> quais seriam os casos <strong>de</strong> Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Aprendizagem em<br />
seus grupos.<br />
O material coletado exigiu uma síntese dos dados principais <strong>de</strong> cada aluno,<br />
conforme objetivos propostos para <strong>de</strong>senvolver o trabalho.<br />
Adotou-se um olhar sistêmico, on<strong>de</strong> as partes só po<strong>de</strong>m ser entendidas a<br />
partir do todo numa <strong>teia</strong> inseparável <strong>de</strong> <strong>relações</strong>.<br />
Procurou-se tecer o olhar dos professores, o olhar da família, o olhar do<br />
aluno, o olhar das pesquisadoras. As questões abordadas com os professores e
75<br />
coor<strong>de</strong>nação registram a postura do educador frente aos alunos com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
aprendizagem, bem como, a importância conferida aos mesmos na práxis<br />
pedagógica. Também a participação da família na escola, e se houve articulação<br />
entre professores e família.<br />
Nas entrevistas realizadas com as famílias, as respostas mostram se<br />
percebem os problemas <strong>de</strong> aprendizagem dos filhos e as razões que atribuem a<br />
essas dificulda<strong>de</strong>s. Como é o ambiente familiar e se esse ambiente propicia a<br />
aprendizagem em relação ao trabalho realizado pela escola, e como é a relação<br />
escola e família.<br />
As falas dos alunos esclarecem se reconhecem as suas dificulda<strong>de</strong>s e o que<br />
as causou, suas necessida<strong>de</strong>s e sugestões sobre as suas famílias, <strong>de</strong> como<br />
estudam em casa, como são na escola, como recebem a ajuda das professoras e o<br />
que foi estudar no CAIC em 2005.<br />
Mediante a pesquisa realizada, apontam-se estratégias validadas <strong>de</strong> trabalho<br />
com as famílias <strong>de</strong> crianças com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem numa abordagem <strong>de</strong><br />
relação sistêmica entendida como aquela em que todos os envolvidos no processo<br />
são co-responsáveis pelo <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem dos alunos.<br />
3.2.1 Olhar do Professor<br />
A estrutura atual do sistema educativo coloca o professor como um<br />
profissional que <strong>de</strong>ve pertencer e agir em diferentes subsistemas ao mesmo tempo.<br />
O fato <strong>de</strong> estar em uma escola pressupõe estar inserido em uma comunida<strong>de</strong> com<br />
suas características peculiares. Da mesma forma, a ação educativa da escola, não<br />
po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>svinculada das funções educativas dos pais dos alunos, e
76<br />
conseqüentemente, o professor também <strong>de</strong>ve manter contato com eles, numa ação<br />
conjunta, cada um <strong>de</strong>sempenhando sua função, auxiliando nas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
aprendizagem das crianças.<br />
As dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem i<strong>de</strong>ntificadas como as mais comuns foram:<br />
na compreensão dos conteúdos e textos na falta <strong>de</strong> concentração e atenção,<br />
dificulda<strong>de</strong> na leitura e na escrita, na lentidão e raciocínio lógico. Aspectos<br />
constatados em sala <strong>de</strong> aula e no apoio pedagógico.<br />
Pu<strong>de</strong>ram-se observar os avanços e dificulda<strong>de</strong>s dos alunos frente ao seu<br />
processo <strong>de</strong> ensino aprendizagem. Sem o intuito <strong>de</strong> julgar a prática dos professores.<br />
No quarto bimestre, em relação às dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem e avanços,<br />
registrou-se o processo:<br />
“Seu tempo <strong>de</strong> concentração é pequeno. Compreen<strong>de</strong> as mensagens dos textos<br />
lidos e escritos, somente das questões simples, necessitando <strong>de</strong> auxílio. Na<br />
matemática, seu raciocínio lógico melhorou, compreen<strong>de</strong>u as quatro operações.<br />
Necessita <strong>de</strong> acompanhamento do professor para um bom andamento <strong>de</strong> sua<br />
aprendizagem. Teve um avanço significativo no segundo semestre. Suas<br />
dificulda<strong>de</strong>s eram relevantes em todas as áreas.” (P. B –A4)<br />
“Ficou claro após a apresentação e <strong>de</strong>senvolvimento dos conteúdos que a aluna,<br />
em Língua Portuguesa lê com ritmo, fluência e baixa entonação. Produz textos<br />
sem coerência e conteúdo. Somente com o auxílio dos professores ela<br />
compreen<strong>de</strong> o sentido <strong>de</strong> mensagens orais e escritas e realiza análise gramatical<br />
<strong>de</strong> palavra e frases. Na Matemática, realiza as quatro operações com números<br />
inteiros e <strong>de</strong>cimais sob interferência das professoras, ocorrendo o mesmo com a<br />
interpretação <strong>de</strong> problemas, i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> massa, capacida<strong>de</strong> e<br />
diferença entre perímetro e área.” (P. B –A 3)<br />
“Em Língua Portuguesa lê sem ritmo, pouca fluência e baixa entonação. Seus<br />
textos têm pouca coerência e conteúdo, a compreensão <strong>de</strong> mensagens e textos<br />
só acontece em muitas vezes com a interferência das professoras, ocorrendo o<br />
mesmo com sua análise gramatical. Em matemática a aluna apresentou<br />
progressos quanto a compreensão das quatro operações e o uso <strong>de</strong> números<br />
<strong>de</strong>cimais nas mesmas, mostrando-se aquém no referente a interpretação <strong>de</strong><br />
problemas, i<strong>de</strong>ntificando parcialmente as medidas <strong>de</strong> massa e capacida<strong>de</strong> e a<br />
diferença entre perímetro e área.” (P. A –A2)<br />
“Em Língua Portuguesa melhorou o ritmo, a fluência e a entonação em suas<br />
leituras, sendo necessário ainda aprimorá-los; seus textos apresentam conteúdo,<br />
mas pouca coerência; a compreensão <strong>de</strong> mensagens orais e escritas muitas<br />
vezes ocorre com a interferência dos professores, ocorrendo o mesmo com a<br />
análise gramatical. Na matemática, a aluna apresentou progressos quanto a<br />
compreensão das quatro operações e o uso <strong>de</strong> números <strong>de</strong>cimais nas mesmas,<br />
necessitando do auxílio dos professores quanto a interpretação <strong>de</strong> alguns
77<br />
problemas. I<strong>de</strong>ntificando as medidas <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> e massa e compreen<strong>de</strong>ndo<br />
parcialmente a diferença entre perímetro e área.” (P. A – A1)<br />
“Em Língua Portuguesa lê sem ritmo, fluência e entonação. Produz textos<br />
coerentes e <strong>de</strong> pouco conteúdo. Interpreta o sentido <strong>de</strong> mensagens orais,<br />
necessitando <strong>de</strong> auxílio do professor quanto à escrita, ocorrendo o mesmo com<br />
sua análise gramatical e <strong>de</strong> palavras e frases. Em matemática realiza as quatro<br />
operações com números inteiros e fracionários, necessitando por vezes da<br />
interferência dos professores quanto a interpretação dos problemas.” (P. A – A 7)<br />
“Em Língua Portuguesa lê com ritmo, pouca fluência e baixa entonação. Produz<br />
textos por vezes coerentes, sendo impossível fazer um diagnóstico mais preciso<br />
uma vez que os mesmos nunca são concluídos em tempos além dos<br />
<strong>de</strong>terminados. Compreen<strong>de</strong> mensagens orais e escritas e realiza parcialmente a<br />
análise gramatical <strong>de</strong> palavras e frases. Na matemática, resolve as quatro<br />
operações com números inteiros e fracionários mediante o auxílio direto dos<br />
professores, ocorrendo o mesmo com problemas, i<strong>de</strong>ntificação das medidas <strong>de</strong><br />
massa e capacida<strong>de</strong> e diferença <strong>de</strong> área e perímetro.” (P. A – A 6)<br />
“Em Língua Portuguesa lê sem ritmo, tem pouca fluência e baixa entonação,<br />
produz textos com pouca coerência e conteúdo; a compreensão <strong>de</strong> mensagens<br />
orais e escritas por vezes só acontece mediante interferência dos professores,<br />
ocorrendo o mesmo com sua análise gramatical. Na matemática, a aluna<br />
apresentou progressos quanto a compreensão das quatro operações e o uso <strong>de</strong><br />
números <strong>de</strong>cimais nas mesmas, no entanto <strong>de</strong>ixou a <strong>de</strong>sejar no referente a<br />
interpretação <strong>de</strong> problemas. I<strong>de</strong>ntificando parcialmente as medidas <strong>de</strong> massa e<br />
capacida<strong>de</strong> e a diferença entre perímetro e área.” (P. A – A 5)<br />
“Em Língua Portuguesa lê com pouca fluência, ritmo e entonação, apresentando<br />
textos fracos <strong>de</strong> conteúdo e sem coerência. Compreen<strong>de</strong> o sentido <strong>de</strong> mensagens<br />
orais e escritas somente com interferência dos professores o mesmo com a<br />
interferência dos professores o mesmo com análise gramatical <strong>de</strong> frases.Na<br />
Matemática resolve as quatro operações com números inteiros e <strong>de</strong>cimais, com<br />
interferência dos professores. O mesmo se proce<strong>de</strong>ndo com a interpretação dos<br />
problemas, a i<strong>de</strong>ntificação das medidas <strong>de</strong> massa e capacida<strong>de</strong> e a diferença<br />
entre perímetro e área.” (P. B- A 8)<br />
“Em Língua Portuguesa lê sem ritmo, pouca fluência e baixa entonação, não<br />
<strong>de</strong>monstrando interesse pela leitura. Fato esse que interfere nas suas produções<br />
<strong>de</strong> textos, as quais são ricas <strong>de</strong> vocabulário, coerência e conteúdo, estando<br />
aquém no referente à gramática e ortografia. Compreen<strong>de</strong> parcialmente o sentido<br />
<strong>de</strong> mensagens orais e escritas, ocorrendo o mesmo com análise gramatical das<br />
palavras e frases. Na Matemática só resolve as quatro operações com auxílio das<br />
professoras, ocorrendo o mesmo com sua interpretação <strong>de</strong> texto. I<strong>de</strong>ntifica<br />
parcialmente as medidas <strong>de</strong> massa e capacida<strong>de</strong> e diferencia área <strong>de</strong> perímetro.”<br />
(P. B – A 9)<br />
“Em Língua Portuguesa lê com pouca fluência, ritmo e entonação, apresentando<br />
textos Coerentes mas com pouco conteúdo, interpreta o sentido <strong>de</strong> mensagens<br />
orais e escritas na maioria das vezes com auxílio dos professores,ocorrendo o<br />
mesmo com análise gramatical das palavras. Em matemática melhorou o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento das quatro operações, necessitando por vezes da interferência<br />
dos professores quando as mesmas envolvem números <strong>de</strong>cimais e situações<br />
problema. Não sendo diferente quanto a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> massa e<br />
capacida<strong>de</strong> e a diferença entre perímetro e área.” (P. B – A 10)
78<br />
As queixas sobre os alunos que participaram do apoio pedagógico são várias.<br />
Não conseguem parar quietos e nem acabar as ativida<strong>de</strong>s, não têm concentração,<br />
não conseguem pren<strong>de</strong>r a atenção em <strong>de</strong>terminada ativida<strong>de</strong> por muito tempo e<br />
recusam-se a fazer, interferindo assim na apropriação do conhecimento. Como<br />
expressam a seguir os professores sobre os seus alunos:<br />
“É uma aluna difícil <strong>de</strong> se trabalhar, não pára quieta. No início do ano não aceitava<br />
a interferência das professoras.” (P. B – A2)<br />
“A maior dificulda<strong>de</strong> que encontro é na atenção e produção <strong>de</strong> textos com relação<br />
a responsabilida<strong>de</strong> e conclusão das ativida<strong>de</strong>s.” (P. B –A1)<br />
O trabalho realizado com essas crianças exige um esforço coor<strong>de</strong>nado entre<br />
os profissionais da escola que po<strong>de</strong>m contar com a ajuda da família, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong><br />
uma boa orientação, a todos os envolvidos.<br />
Nesse contexto, faz-se necessário que a escola esteja preparada para<br />
trabalhar com essas crianças e orientar os professores, pois, nas palavras <strong>de</strong><br />
McLaren (1977, p. 253): “a voz dos professores reflete valores, i<strong>de</strong>ologias e<br />
princípios estruturais, que os professores usam para enten<strong>de</strong>r e mediar histórias<br />
culturas e subjetivida<strong>de</strong>s dos estudantes”.<br />
Para que os alunos tenham aprendizado proveitoso, os professores precisam<br />
compreen<strong>de</strong>r as várias maneiras que eles dispõem para constituir suas percepções<br />
e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. Ou seja, os professores precisam enten<strong>de</strong>r como as experiências<br />
produzidas nos vários domínios da vida cotidiana produzem, por sua vez, as<br />
diferentes vozes que os alunos empregam para dar sentido ao seu mundo e,<br />
conseqüentemente, a sua existência na socieda<strong>de</strong>. É crucial que os professores<br />
consi<strong>de</strong>rem como o ambiente em que estão inseridos, é experienciado, mediado e<br />
produzido pelos alunos, uma falha nesse ponto impedirá não apenas que os<br />
professores penetrem nas motivações, emoções e interesses que constituem a
79<br />
singularida<strong>de</strong> da voz dos alunos, mas também dificultará a criação do próprio<br />
momento <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
Ser professor, portanto, tem um novo significado. Exige ter consciência da<br />
intencionalida<strong>de</strong> do ato <strong>de</strong> ensinar, para planejar uma intervenção eficiente e eficaz<br />
no nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento em que o aluno se encontra, <strong>de</strong>safiando-o a superar<br />
seus próprios limites. É saber do contexto familiar do aluno. É ser capaz <strong>de</strong><br />
organizar situações <strong>de</strong> aprendizagem que envolvam a todos os alunos, sem se<br />
<strong>de</strong>scuidar daqueles que apresentam qualquer tipo <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong><br />
que os impeçam <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r. É ter coragem <strong>de</strong> tomar <strong>de</strong>cisões conscientes no<br />
sentido <strong>de</strong> comprometer-se com todos e com cada um.<br />
A integração das famílias e dos professores ocorreu durante as reuniões<br />
pedagógicas bimestrais, e nos momentos em que foram chamados pela<br />
coor<strong>de</strong>nação on<strong>de</strong> os professores participam da conversa, como no <strong>de</strong>poimento<br />
abaixo:<br />
“Eram nas reuniões pedagógicas que tínhamos contato com as famílias. Em<br />
outros momentos o contato quase não ocorreu.” (P. B)<br />
“Não conheço a maioria das famílias dos alunos, não tinha essa visão.” (P. I.)<br />
Constatou-se pelos relatos, que os professores não conheciam aspectos<br />
relevantes da vida familiar dos alunos e evi<strong>de</strong>nciaram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer<br />
essa relação com a família, porque esperam que os pais colaborem nos estudos em<br />
casa:<br />
“É <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para a aprendizagem, os pais que tomam consciência<br />
das dificulda<strong>de</strong>s procuram juntos com os professores uma maneira <strong>de</strong> ajudar seus<br />
filhos em casa.” (P. B)
80<br />
As dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem po<strong>de</strong>m aparecer quando se exige que a<br />
criança realize ativida<strong>de</strong>s para as quais ainda não está capacitada, apresentando-se<br />
lentas para respon<strong>de</strong>r às solicitações dos professores. Porém, quando recebem<br />
atenções pedagógicas a<strong>de</strong>quadas, essas dificulda<strong>de</strong>s ten<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>saparecer, ou<br />
mesmo seus efeitos.<br />
As dificulda<strong>de</strong>s mais comuns citadas pelos professores são também as<br />
dificulda<strong>de</strong>s encontradas na maioria das vezes em todas as salas <strong>de</strong> aula. Portanto<br />
o professor <strong>de</strong>ve estar sempre atento para conhecer o seu aluno, <strong>de</strong>tectar as<br />
dificulda<strong>de</strong>s, investigar as causas; enfim, ter conhecimento <strong>de</strong>ssas dificulda<strong>de</strong>s, o<br />
que facilitará o avanço da criança na aprendizagem.<br />
Após diagnosticado, a real dificulda<strong>de</strong> do aluno, todos passaram a estar<br />
cientes do seu papel, buscando subsídios teóricos metodológicos, refletindo em<br />
conjunto com a coor<strong>de</strong>nação para a utilização <strong>de</strong> estratégias que pu<strong>de</strong>ssem<br />
melhorar o ensino aprendizagem das crianças com dificulda<strong>de</strong>s.<br />
Observa-se que as professoras procuraram dar atendimento individual, dando<br />
atenção maior aos alunos que necessitavam. Sentiam-se integradas com o trabalho<br />
<strong>de</strong>senvolvido na sala <strong>de</strong> aula e no apoio pedagógico proporcionado pela escola.<br />
Estavam em contato constantemente com as pesquisadoras para <strong>de</strong>senvolver ações<br />
que possibilitassem o crescimento dos alunos, afirmando quando em encontros para<br />
avaliação que:<br />
“Possibilito bastante diálogo, valorização do trabalho, atendimento das<br />
necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada aluno.” (P. A)<br />
“Valorizo a relação com o aluno, assim passam a ser seguros e participativos.” (P.<br />
B)<br />
“Procuro <strong>de</strong>spertar o interesse dos alunos pelos estudos, partindo <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ele<br />
sabe.” (P. I)
81<br />
Sobre os encaminhamentos adotados parecem estar seguras, pois enquanto<br />
refletem sobre a questão explicitam:<br />
“O professor que aten<strong>de</strong> melhor os alunos com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem é<br />
aquele que busca <strong>de</strong>senvolver o potencial <strong>de</strong> cada um, perceber os pontos fortes<br />
e superar os pontos fracos.” (P. B)<br />
“Deve ter disponibilida<strong>de</strong> e boa vonta<strong>de</strong> para discutir, pesquisar, buscar<br />
estratégias, trabalhar em equipe, estar sempre em contato com a família e a<br />
coor<strong>de</strong>nação pedagógica.” (P. B)<br />
Nessas falas percebe-se o envolvimento dos professores com as questões <strong>de</strong><br />
ensino aprendizagem.<br />
Ao serem questionadas sobre os pontos fortes dos alunos, alvo da ação<br />
intensiva, os professores reconheceram a complexida<strong>de</strong> do apren<strong>de</strong>r, suas<br />
qualida<strong>de</strong>s, seu esforço, a forma que cada um tem para apren<strong>de</strong>r; o respeito pelos<br />
professores, o interesse e <strong>de</strong>sejo em apren<strong>de</strong>r e caprichar, a afetivida<strong>de</strong> que<br />
<strong>de</strong>monstram e a alegria ao apren<strong>de</strong>r. Expondo assim, a visão sobre a aprendizagem.<br />
Nessa situação, Perrenoud (2001, p. 24) coloca:<br />
Apren<strong>de</strong>r é uma ativida<strong>de</strong> complexa, frágil, que mobiliza a imagem<br />
<strong>de</strong> si mesmo, o fantasma, a confiança, a criativida<strong>de</strong>, o gosto pelo<br />
risco, e pela exploração, a angústia, o <strong>de</strong>sejo, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, aspectos<br />
fundamentais no âmbito pessoal e cultural.<br />
Isto po<strong>de</strong> ser percebido nas falas dos professores:<br />
“A aluna apesar <strong>de</strong> suas dificulda<strong>de</strong>s que são muitas, <strong>de</strong>monstra atenção e<br />
interesse pelos estudos, motiva-se com os <strong>de</strong>safios nas ativida<strong>de</strong>s.” (P. I.)<br />
“As dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste aluno não o impe<strong>de</strong>m <strong>de</strong> ser caprichoso com seu material<br />
ele é muito afetivo, é uma criança que busca pelo esforço a construção do<br />
conhecimento.” (P. A)<br />
“Quando conseguem terminar as ativida<strong>de</strong>s correm mostrar, ficam alegres pelo<br />
avanço, e eu fico feliz junto com eles, às vezes uns auxiliam os outros.” (P. B)
82<br />
Nesse contexto é preciso consi<strong>de</strong>rar que essas crianças possuem atenção<br />
especial, um atendimento individualizado. É trabalho da escola, ou <strong>de</strong>veria ser,<br />
exatamente, <strong>de</strong>spertar seus alunos a apreciarem as alegrias do conhecimento e a<br />
curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> querer conhecer, pois é o conhecimento que permite uma melhor<br />
compreensão dos diversos aspectos do ambiente, favorecendo a curiosida<strong>de</strong><br />
intelectual, estimulando o senso crítico, o que é fundamental para a aquisição da<br />
autonomia e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão. Como afirma Delors (2001, p. 90):<br />
“Este tipo <strong>de</strong> aprendizagem que visa não tanto a aquisição <strong>de</strong> um repertório <strong>de</strong><br />
saberes codificados, mas antes o domínio dos próprios instrumentos do<br />
conhecimento po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado, simultaneamente, como meio e como uma<br />
finalida<strong>de</strong> da vida humana”.<br />
Faz-se necessário um professor que tenha um olhar insistentemente ético e<br />
responsável sobre o seu fazer e sobre o que <strong>de</strong>vem conhecer e fazer seus alunos.<br />
Com trabalhos que tenham significado, sem ignorar o que a criança já sabe, aspecto<br />
que fica evi<strong>de</strong>nte na fala dos professores ao serem questionadas sobre o<br />
encaminhamento metodológico para fechar os objetivos:<br />
"O meu objetivo, o objetivo principal... a partir <strong>de</strong> suas realida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um<br />
contexto significativo para eles.” (P. B)<br />
O professor estará insistindo na aprendizagem <strong>de</strong> seus alunos e vibrando<br />
com suas conquistas, porque também são suas. Investindo assim, no que acredita<br />
que seus alunos são capazes <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r e transformar a realida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> estão<br />
inseridos.<br />
Um momento essencial que ocorre na escola e po<strong>de</strong> colaborar com o<br />
encaminhamento dos professores, sendo muito valorizado na fala das professoras, é
83<br />
a formação continuada, on<strong>de</strong> se trabalhou com todos os professores e coor<strong>de</strong>nação<br />
pedagógica sobre a construção do conhecimento:<br />
“Eu acredito no trabalho que eu faço, eu gosto do que eu faço, porque, às vezes,<br />
as pessoas estão professoras, mas não são professoras por vonta<strong>de</strong> só, porque é<br />
a oportunida<strong>de</strong>. No meu caso, não. Des<strong>de</strong> pequenina, eu brincava era <strong>de</strong><br />
professora, me encontro na profissão. Busco significar o ensino para meu aluno...<br />
este espaço <strong>de</strong> formação que temos me ajuda a crescer.” (P. A)<br />
Por esse <strong>de</strong>poimento, é possível verificar a ligação que a professora faz entre<br />
a profissão e a realização pessoal, confirmando o que dizem vários teóricos que<br />
quanto mais uma pessoa gostar <strong>de</strong> seu trabalho, maior será sua satisfação pessoal<br />
e maior será seu empenho para realizá-lo da melhor maneira possível. Ao dizer que<br />
"se encontra na profissão", indica o quanto está envolvida na docência ao ponto <strong>de</strong><br />
se refletir e se i<strong>de</strong>ntificar como pessoa quando está trabalhando.<br />
3.2.2 Olhar da Família<br />
O encontro dos pais com a escola se <strong>de</strong>u em momentos <strong>de</strong> reuniões ou<br />
quando foram chamados pela coor<strong>de</strong>nação. Os encontros eram agradáveis e os<br />
pais eram atraídos <strong>de</strong> forma simpática para eles. Na semana que antecedia a<br />
reunião os alunos levavam para casa avisos, recadinhos, bilhetes e carinhos para os<br />
pais e combinavam on<strong>de</strong> colocariam tais avisos. Uns eram colocados na gela<strong>de</strong>ira,<br />
outros <strong>de</strong> baixo do prato antes das refeições e teve até a sugestão <strong>de</strong> ser colocado<br />
no sapato dos pais antes <strong>de</strong> saírem para o trabalho.<br />
A respeito do comparecimento dos pais às reuniões, observou-se presença<br />
bem elevada; acontecem <strong>de</strong> forma amistosa, todos se respeitam, os pais tem vez e
84<br />
voz. As reuniões pedagógicas prece<strong>de</strong>m <strong>de</strong> uma pauta pré-estabelecida, uma<br />
mensagem e assuntos levantados pelos pais. Acontecem bimestralmente, sendo<br />
que no terceiro bimestre foi por agendamento. Os grupos são divididos em três subgrupos<br />
<strong>de</strong> acordo com as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>tectadas no <strong>de</strong>correr do bimestre, tendo<br />
assim pautas e dinâmicas específicas para serem tratadas na reunião com os pais.<br />
No quarto bimestre a reunião, foi geral, on<strong>de</strong> todos os pais participam nos primeiros<br />
momentos juntos. Posteriormente, seguem para as salas <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> seus filhos para<br />
tratarem questões específicas.<br />
O que se percebe é que são poucos os pais que faltam às reuniões. Sendo<br />
que segundo a coor<strong>de</strong>nação, são precisamente aqueles pais que <strong>de</strong>veriam estar<br />
presentes porque seus filhos estão com problemas nos estudos. Esses pais, só vêm<br />
se convocados. É que a escola faz após as reuniões. Acontecendo uma segunda<br />
chamada aos que não compareceram. Existe um incentivo aos pais, o que faz a<br />
diferença.<br />
Para perceber o contexto familiar on<strong>de</strong> o aluno vive, realizou-se a<br />
caracterização das famílias, sua situação sócio-econômica, composição, religião,<br />
relacionamentos, os objetivos da família, a interação, como acontece a autorida<strong>de</strong>, o<br />
respeito, a comunicação, a afetivida<strong>de</strong>, os conflitos e fortalezas, pois,<br />
ao analisarmos a família como um todo, estamos valorizando o<br />
aspecto da globalida<strong>de</strong> do sistema que difere do somatório das<br />
partes (teoria geral dos sistemas) e o aspecto <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong>, em<br />
que cada membro influencia e é influenciado pelo comportamento do<br />
outro. (POLITY, 2004, p. 98).<br />
Dos <strong>de</strong>z alunos que participavam do apoio pedagógico, os quais foram foco<br />
da pesquisa somente cinco famílias aten<strong>de</strong>ram a solicitação, sendo que, em duas<br />
famílias compareceu o casal e nas <strong>de</strong>mais somente a mãe. Os dados levantados<br />
com essas famílias serão abordados primeiramente. E em seguida, abordar-se-á, os
85<br />
dados das famílias que não compareceram à escola, os quais foram obtidos através<br />
<strong>de</strong> análise documental e com a coor<strong>de</strong>nação pedagógica.<br />
A – Pais que aten<strong>de</strong>ram as solicitações da escola<br />
Os pais entrevistados são católicos e todos se casaram muito jovens, com<br />
ida<strong>de</strong> entre quinze e vinte anos. O tempo <strong>de</strong> casamento varia <strong>de</strong> onze a trinta e um<br />
anos. O relacionamento em família é valorizado, buscam um no outro a força para<br />
continuar em frente, o que esteve muito presente nas falas:<br />
“Nosso relacionamento <strong>de</strong> confiança é mutuo, um não faz nada sem o outro saber,<br />
nosso alicerce é a nossa união” (F4)<br />
“O vinculo existente em nossa relação é muito forte. Um sente a falta do outro para<br />
realizar o que já é <strong>de</strong> costume durante muitos anos <strong>de</strong> convivência.” (F3)<br />
O número <strong>de</strong> filhos na família varia <strong>de</strong> um a oito. O nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> é<br />
bastante diversificado e a maioria possui o ensino fundamental incompleto. Uma<br />
família é analfabeta e outra os pais voltaram a estudar para completar o ensino<br />
médio. A renda familiar é baixa, varia <strong>de</strong> um a dois salários mínimos provenientes <strong>de</strong><br />
aposentadorias, empregos como enfermeiro, mecânico, mensalista e diarista e<br />
serviços gerais. A maioria das famílias possui casa própria financiada pelo governo e<br />
prefeitura, apenas uma paga aluguel. O lazer e os passeios não são presentes nas<br />
famílias. Possuem como objetivos uma boa educação, investir na espiritualida<strong>de</strong>,<br />
convivência harmoniosa, sucesso nos estudos, assegurar um futuro melhor aos<br />
filhos e empregos fixos, revelados em falas do tipo:<br />
“Ver os filhos crescerem educados com formação, porque o mundo está difícil<br />
(drogas, violência) porque cada vez mais está difícil conviver com os outros<br />
(precisa saber o que fala e para quem fala e escolher muito bem as amiza<strong>de</strong>s),<br />
para que meus filhos sejam felizes e que tenham orgulho da família para dizer<br />
“valeu a pena.” (F1)
86<br />
“Conseguir terminar meus estudos para acompanhar o filho e também para<br />
garantir emprego melhor. Sem estudo não tem emprego, ter emprego fixo,<br />
terminar <strong>de</strong> pagar a casa. E ter mais tempo para cuidar da educação do filho.” (F7)<br />
Percebe-se que a interação entre os membros familiares acontece pelo<br />
vínculo conseguido pelas famílias, mediante o diálogo, pois se auto-afirmam nos<br />
princípios estipulados na mesma. E, nas palavras <strong>de</strong> Polity (2004, p. 183), “nas<br />
famílias em que existe uma maior circulação do conhecimento, há um estímulo e<br />
uma autorização na busca do apren<strong>de</strong>r”.<br />
A autorida<strong>de</strong> está voltada na figura da mãe, sendo a comunicação mediada<br />
por elas. Não <strong>de</strong>monstraram dificulda<strong>de</strong>s em estar estabelecendo limites, porém,<br />
reconhecem a necessida<strong>de</strong> do maior envolvimento do pai. Os filhos são obedientes<br />
e a i<strong>de</strong>ntificação e o respeito pelos pais parece existir. Em relação às fortalezas, fica<br />
explícito, que as encontram no convívio familiar, pela união, nos pais pelo exemplo,<br />
na fé em Deus e no amor. Como transparece nas falas a seguir:<br />
“Converso muito com o meu esposo para que entenda a importância <strong>de</strong> ser mais<br />
firme com nosso filho pois acredito ser necessário estabelecer limites <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo<br />
para que consiga resolver conflitos mais tar<strong>de</strong>... Procuramos <strong>de</strong>sfrutar os<br />
momentos juntos. O amor é a base que une nossa família. Quando temos tempo,<br />
procuramos estar juntos estimulando os nossos filhos o respeito pelas pessoas,<br />
procuramos divertimento sadio passeando e convivendo em família. Transmitimos<br />
a importância <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> confiança, aberta espontânea com muita<br />
sincerida<strong>de</strong>.” (F7)<br />
”A comunicação acontece lá em casa, mas tem que saber a hora para conversar<br />
sobre problemas, é que as vezes o “seu Luiz” se estressa por pouca coisa.” (F1)<br />
“Nossos filhos participam das <strong>de</strong>cisões familiares, <strong>de</strong>ixando bem claro como são<br />
as coisas, cobram a boa educação, preferem ficar calados à brigar. Não proibimos<br />
nada, mas eles sabem das regras se aprontar não vão mais.” (F2)<br />
“Os filhos i<strong>de</strong>ntificam-se com o pai vendo nele o exemplo para o trabalho.” (F4)<br />
“Só po<strong>de</strong>mos educar nossos filhos pelo nosso exemplo, um conversando e<br />
respeitando o outro e quando há brigas tentamos se resolver, o que não po<strong>de</strong> é<br />
ficar <strong>de</strong> mal, com muita fé em Deus nos fortalecemos para viver.” (F3)
87<br />
As imagens das famílias precisavam ser tecidas para olhá-las mais <strong>de</strong> perto.<br />
Aproximando-se das questões familiares que possam interferir no <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da aprendizagem. O ser humano é gerado numa união, mas para reconhecer-se<br />
como indivíduo precisa-se <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> porque “a família é o contexto natural para<br />
crescer e receber auxílio, ela cumpre o seu papel <strong>de</strong> garantir a pertença e, ao<br />
mesmo tempo promove a individuação do sujeito” (POLITY, 2004, p. 37).<br />
Os papéis da família precisam estar bem <strong>de</strong>finidos para não interferir na<br />
elaboração da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> que se dá pela conquista da autonomia e individualida<strong>de</strong>.<br />
Des<strong>de</strong> muito cedo a família coloca expectativas em relação à criança. Os pais<br />
inquietam-se com o <strong>de</strong>sempenho dos filhos na escola. Essas situações <strong>de</strong><br />
expectativas po<strong>de</strong>m marcar profundamente o <strong>de</strong>senvolvimento futuro da criança,<br />
exigindo o que não está ao alcance <strong>de</strong> suas capacida<strong>de</strong>s, aptidões ou <strong>de</strong>sejos.<br />
No sistema familiar, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proporcionar um continente seguro para<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento intelectual está primariamente ligada à habilida<strong>de</strong> dos membros<br />
da família (em especial os pais) <strong>de</strong> separarem seus próprios conflitos às realizações<br />
das expectativas e conflitos dos filhos (POLITY 2004). Essa capacida<strong>de</strong>,<br />
evi<strong>de</strong>ntemente, está intrinsecamente enraizada no grau <strong>de</strong> satisfação, ou pelo<br />
menos <strong>de</strong> resolução, nas questões intelectuais/profissionais que afetam os próprios<br />
pais.<br />
A importância da participação dos pais na vida escolar dos filhos tem<br />
apresentado um papel significativo no <strong>de</strong>sempenho escolar. O diálogo entre a<br />
família e a escola, ten<strong>de</strong> a colaborar para um equilíbrio no <strong>de</strong>sempenho dos alunos.<br />
A relação familia e escola são mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa para a criança. Possuem a<br />
função essencial, <strong>de</strong> oferecer segurança nessa interação; caminham para a<br />
construção <strong>de</strong>sse vínculo, pois, “em ambos os casos, lidamos com processos a
88<br />
serem construídos e, portanto, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir no início aquilo que se po<strong>de</strong><br />
ocorrer no fim” (POLITY, 2004, p. 125).<br />
Observa-se que existe um discurso dos pais em relação à qualida<strong>de</strong> da<br />
escola, o tempo integral que possibilita o <strong>de</strong>senvolvimento integral da criança e a<br />
segurança no sentido <strong>de</strong> passarem o dia todo na escola, que parece constituir-se um<br />
ponto <strong>de</strong> referência no ensino aprendizagem.<br />
Os pais participam e colaboraram com a escola, quando solicitados e quando<br />
sentem necessida<strong>de</strong>. Fazem referências da importância, das vantagens nessa<br />
colaboração, valorizaram o fato <strong>de</strong> terem percebido que os filhos gostam muito <strong>de</strong><br />
estar na escola e <strong>de</strong> estar apren<strong>de</strong>ndo. O envolvimento dos filhos com a escola é<br />
explicitado claramente pelos pais:<br />
“Está em uma escola boa, <strong>de</strong>vido ao tempo integral, aproveita o máximo do tempo<br />
em que ele está na escola para ter oportunida<strong>de</strong> melhor para ter um bom<br />
emprego.” (F4)<br />
“As crianças se criaram aqui se alimentaram aqui, espero que continuem cuidando<br />
da minha filha.” (F3)<br />
“Em vista <strong>de</strong> outra é excelente, que continuem assim, exigente. Por ser período<br />
integral, ele gosta da escola.” (F7)<br />
“A escola é excelente, ensino e horário que favorece a família, ensino bom, chega<br />
em casa <strong>de</strong>scansa.” (F2)<br />
“A escola é excelente todos os filhos estudaram aqui. É a melhor que conheço.<br />
Estuda para ser alguém na vida. Porque o estudo é importante. A diferença está<br />
em quem estuda consegue ter mais clareza das coisas.” (F1)<br />
Em relação à percepção dos problemas <strong>de</strong> aprendizagem, observou-se que<br />
reconhecem a dificulda<strong>de</strong> que os filhos apresentam para apren<strong>de</strong>r, principalmente<br />
em Português e Matemática. Em relação ao que venha a ser dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
aprendizagem, os pais <strong>de</strong>monstram estar um pouco confusos. Revelam que não<br />
sabem ou sabem muito pouco como <strong>de</strong>finir a questão, e que após contato com a<br />
escola pu<strong>de</strong>ram estar acompanhando o que possibilitou melhoras. Em relação às
89<br />
razões das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, colocam que é <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> atenção,<br />
<strong>de</strong> interesse, por passarem muito tempo longe dos pais, coisas da ida<strong>de</strong> e às vezes<br />
seus filhos parecem não escutar. Como colocam nos <strong>de</strong>poimentos abaixo:<br />
“Melhorou bastante <strong>de</strong>pois do contato do pai com a escola. Agora está mais ligado<br />
em suas responsabilida<strong>de</strong>s por que sabemos o que cobrar, É muito <strong>de</strong>sligado, fica<br />
sozinho só assistindo TV não estudava.” (F4)<br />
“Deduzimos que seja falta <strong>de</strong> atenção, hoje enten<strong>de</strong>mos essas dificulda<strong>de</strong>s, antes<br />
pensávamos que era o trabalho da professora, foi preciso ter a noção <strong>de</strong> que é<br />
necessário os encaminhamentos adotados pela escola. Suas dificulda<strong>de</strong>s são em<br />
português.” (F7)<br />
“Falta <strong>de</strong> interesse por causa da ida<strong>de</strong> não presta atenção gosta da escola e das<br />
professoras.” (F2)<br />
Quando os pais tomam conhecimento das reais dificulda<strong>de</strong>s dos filhos<br />
divi<strong>de</strong>m as ansieda<strong>de</strong>s e responsabilida<strong>de</strong>s:<br />
Pensando na aprendizagem e consi<strong>de</strong>rando-a sob perspectivas das<br />
<strong>relações</strong> familiares, contanto que muitas vezes, a compreensão<br />
<strong>de</strong>sses problemas não torna a criança mais inteligente mas permite<br />
que ela utilize melhor seu potencial pois tira <strong>de</strong> seu ombro, toda a<br />
carga <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e a distribui por todos aqueles envolvidos:<br />
família, professores, comunida<strong>de</strong> escolar, meio social, etc...<br />
(POLITY, 2004, p. 135).<br />
A história escolar está voltada para a relação que as crianças fazem entre o<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, o <strong>de</strong>sempenho escolar satisfatório. A maioria dos alunos conta<br />
com o auxílio dos pais nas tarefas escolares. As mães são mais presentes no auxílio<br />
às ativida<strong>de</strong>s, apresentam um cuidado maior, dão mais atenção e se mostram mais<br />
participativas na realização das tarefas <strong>de</strong> casa.<br />
Os pais <strong>de</strong>monstram conhecer o <strong>de</strong>sempenho escolar, mas não o<br />
compreen<strong>de</strong> e nem conseguem <strong>de</strong>fini-lo. A maioria <strong>de</strong>sses pais parece ter<br />
uma visão bastante realista da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem do filho, inclusive,<br />
<strong>de</strong>screvendo estratégias e saídas para solucionar o problema. A participação da
90<br />
família nas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem resgata aos pais a função <strong>de</strong> ensinar e<br />
cuidar:<br />
Esse aspecto não apenas abrevia o tempo <strong>de</strong> tratamento como<br />
produz resultados mais afetivos e duradouros, na medida que<br />
possibilita a familia <strong>de</strong>senvolver novos recursos para resolver seus<br />
impasses. (POLITY, 2004, p. 183).<br />
A presença dos pais nas tarefas escolares é bastante ativa, mas permeada<br />
por dificulda<strong>de</strong>s, ou seja, os pais tentam auxiliar, buscam estratégias, mas não<br />
conseguem atingir os objetivos, muitas vezes por falta <strong>de</strong> entendimento pedagógico<br />
ou mesmo orientações específicas. Além disso, auxiliam e acompanham as tarefas<br />
com base no nível escolar que tiveram, o que na maioria é baixo ou até mesmo<br />
ausente, o que torna difícil o auxílio. Dentro <strong>de</strong>ssa perspectiva, os pais se<br />
prontificam a auxiliar e participar das explicações das tarefas, utilizando recursos<br />
tradicionais da sua própria vida escolar trazidos pela memória, mas parece evi<strong>de</strong>nte<br />
a dificulda<strong>de</strong> dos pais diante dos problemas <strong>de</strong> aprendizagem. Enquanto algumas<br />
famílias se sentem perdidas diante das dificulda<strong>de</strong>s dos filhos, outras utilizam várias<br />
tentativas, esperando conseguir atingir os objetivos do <strong>de</strong>sempenho bem sucedido,<br />
persistindo na questão do acompanhamento do filho com o pouco tempo que<br />
possuem, como mencionam nos relatos:<br />
“A mãe ajuda na medida do possível à noite, o pai fala da dificulda<strong>de</strong> e orienta<br />
para estudar realizar mais vezes, aproveitar a escola.” (F4)<br />
“Somente as vezes ela é ajudada. Ultimamente ninguém está ajudando ela é<br />
sozinha.” (F3)<br />
“Há participação durante a noite tomamos texto, não temos preparo para trabalhar<br />
com isso.” (F2)<br />
“Todos colaboram, com o pouco que sabem auxiliando com exemplos, auxiliando<br />
nas pesquisas.” (F1)
91<br />
Em geral os pais valorizam o <strong>de</strong>sempenho do professor e como esse, realiza<br />
as ativida<strong>de</strong>s pedagógicas na medida do que conhecem, também valorizando o<br />
<strong>de</strong>sempenho dos seus filhos. Esses pais parecem perceber que estar<br />
acompanhando o processo ensino aprendizagem é uma forma <strong>de</strong> estarem vigilantes<br />
no <strong>de</strong>sempenho, e acreditam na idéia <strong>de</strong> que sua participação favorece<br />
<strong>de</strong>senvolvimento escolar. Algumas famílias relatam sobre as dificulda<strong>de</strong>s que<br />
possuem para propiciar um ambiente familiar com condições necessárias para a<br />
aprendizagem, outras <strong>de</strong>monstram interesse em ajudar:<br />
“Não auxilia, não temos jornal nem revistas, livros e não po<strong>de</strong>mos auxiliar muito.”<br />
(F3)<br />
“Temos interesse com que ele aprenda, mas não tem muitas condições nem<br />
materiais para pesquisa.” (F4)<br />
“Temos interesse em ajudar nossa filha, pois convive com muitos adolescentes ela<br />
se interessa, as irmãs brincam <strong>de</strong> escolinha. A avó conversa bastante passa<br />
bastante exercícios.” (F2)<br />
Os pais percebem a importância <strong>de</strong> um ambiente que favoreça a<br />
aprendizagem, porém essa questão não é muito clara a eles.<br />
Acredita-se que o papel da escola não é só esclarecer sobre dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
aprendizagem das crianças, como chamar a atenção dos pais no sentido <strong>de</strong> estarem<br />
trabalhando juntos, imbuídos na construção do mesmo bem comum, o aluno.<br />
Permitindo, assim, que a família amplie seu olhar em relação à escola, po<strong>de</strong>ndo<br />
transformar sua realida<strong>de</strong>, interferindo em sua forma <strong>de</strong> atuar na construção da<br />
aprendizagem <strong>de</strong> seu filho.<br />
Em relação às cinco famílias que não aten<strong>de</strong>ram às solicitações das<br />
pesquisadoras e nem da escola, a pedagoga relatou que as mesmas só<br />
comparecem à escola, quando são convocadas e com muita insistência, às vezes,<br />
com a interferência da assistente social da instituição.
92<br />
B – Pais que não aten<strong>de</strong>ram as solicitações da escola<br />
O quadro familiar foi completado com auxílio da coor<strong>de</strong>nação pedagógica,<br />
com base em registros feitos em fichas próprias e entrevistas no momento da<br />
matrícula. Far-se-á um relato geral dos dados obtidos em relação aos referidos<br />
alunos.<br />
“Os pais são separados e não possuem um bom relacionamento. Um culpa o outro<br />
pela separação. A mãe do aluno não é muito aceita pelos familiares do marido. O<br />
aluno às vezes fica os finais <strong>de</strong> semana na casa dos avós paternos, e é ai<br />
segundo a pedagoga que o caos se instala. Algo ocorre porque é perceptível na<br />
escola a mudança <strong>de</strong> comportamento quando passa o final <strong>de</strong> semana longe da<br />
mãe. A avó paterna esteve na escola e teceu comentários sobre o neto que <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
pequeno <strong>de</strong>monstra sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão. Recusa-se a tudo e a todos. Chegando<br />
em muitas vezes escon<strong>de</strong>r-se <strong>de</strong> baixo da mesa para não se aproximar <strong>de</strong><br />
pessoas. É muito resistente as colocações dos professores e da equipe. É uma<br />
criança que dorme muito tar<strong>de</strong> o que prejudica seu <strong>de</strong>sempenho pois a escola é<br />
<strong>de</strong> período integral. Vive com a mãe e uma irmã. Ultimamente estava revoltado<br />
pois a mãe tem um novo namorado.” (A 9)<br />
“Os pais nem chegaram a se conhecer. Ora está com a mãe que tem autorida<strong>de</strong><br />
sobre ela, ora está com a avó que <strong>de</strong>ixa ficar direto brincando na rua. Mora com<br />
várias pessoas, a casa é tipo uma república <strong>de</strong> parentes. A mãe aten<strong>de</strong> as<br />
solicitações da escola, mas <strong>de</strong>monstra dificulda<strong>de</strong>s em administrar as questões<br />
familiares. Quando acontecem dificulda<strong>de</strong>s os filhos vão para a casa da avó. A<br />
mãe está no terceiro relacionamento e teve filhos em cada um <strong>de</strong>sses<br />
relacionamentos.” (A 8)<br />
“Os pais são <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> é uma filha temporona que convive com tias sobrinhos e<br />
irmãs mais velhas. O pai trabalha e a mãe é doente com vários problemas <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>. A familia tem pouca escolarização, sendo que os pais são analfabetos, não<br />
po<strong>de</strong>ndo auxiliar a filha em casa em seus compromissos. Os pais aparentam ter<br />
uma união estável.” (A 5)<br />
“Os pais após muitas crises e idas e vindas em seu casamento se separaram<br />
<strong>de</strong>finitivamente neste ano. Quando o aluno fica com o pai dorme muito tar<strong>de</strong><br />
porque o pai é dono <strong>de</strong> um comércio. A nova esposa do pai está grávida. O aluno<br />
mora com a mãe e uma irmã.” (A 6)<br />
“A mãe dificilmente vem à escola <strong>de</strong>vido ao seu horário <strong>de</strong> trabalho. Trabalha em<br />
dois locais. A aluna não tem contato com o pai.” (A10)<br />
Mediante a caracterização <strong>de</strong>ssas famílias, observa-se que das cinco,<br />
somente uma é constituída pelo casal on<strong>de</strong> o filho po<strong>de</strong> contar com a presença do<br />
pai e da mãe. Nas <strong>de</strong>mais, a <strong>de</strong>sestrutura familiar impera, esquecem-se <strong>de</strong> que
93<br />
mesmo com o rompimento da união os filhos, precisam ser levados em<br />
consi<strong>de</strong>ração; pois o modo como os pais enfrentam a vida, tem influência <strong>de</strong>cisiva<br />
na formação dos filhos.<br />
3.2.3 Olhar do Aluno<br />
Até o momento <strong>de</strong> entrar na escola, a criança é reconhecida socialmente a<br />
partir <strong>de</strong> seu pertencimento a uma família, se reconhece como membro da mesma.<br />
Ao freqüentar a escola, a criança é o referencial da família para a escola, e nessa<br />
relação vincula-se a instituição. A criança passa a ser o elo <strong>de</strong> ligação entre ambas,<br />
como protagonista <strong>de</strong> uma experiência que não é conhecida por nenhuma das<br />
instâncias, e assim: “a criança po<strong>de</strong> colocar-se no lugar <strong>de</strong> ensinante frente a sua<br />
familia sobre o acontecido na escola e, por sua vez, como ensinante frente à escola<br />
sobre a história ou experiências familiares“ (FERNANDEZ, 2001, p. 105).<br />
Quando a criança está na escola precisa ter espaço para expor sua história<br />
<strong>de</strong> vida num processo interativo <strong>de</strong> ressignificação e autoria. Ao situar-se como<br />
apren<strong>de</strong>nte em relação às experiências e a história da criança, o professor permitirá<br />
ao aluno que se situe como ensinante. A voz do aluno não é um reflexo do mundo, é<br />
uma força que exerce o papel <strong>de</strong> mediadora, dando forma a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do<br />
contexto on<strong>de</strong> está inserido. Cada aluno tem sua voz individual construída<br />
historicamente: ”a voz, então, sugere os sentidos que os alunos têm a seu dispor<br />
para se ‘fazerem ouvir’ e para <strong>de</strong>finirem-se como participantes ativos no mundo”<br />
(MCLAREN, 1977, p. 252).<br />
Assim, na ação <strong>de</strong> se fazerem ouvir, percebeu-se no contato com os alunos<br />
que todos os que participam do apoio pedagógico tem noção <strong>de</strong> suas dificulda<strong>de</strong>s, e
94<br />
o porquê <strong>de</strong> estarem participando <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>. Isso <strong>de</strong>monstra que reconhecem<br />
suas diferenças, percebem que necessitam <strong>de</strong> auxílio para apren<strong>de</strong>r e do que é<br />
necessário para apren<strong>de</strong>r. Nesse sentido as respostas foram:<br />
“Eu não sei fazer contas nem ler direito. As contas não acerto porque não sei a<br />
tabuada... Minha mãe não po<strong>de</strong> me ajudar porque não lê.” (A3)<br />
“Matemática que era legal <strong>de</strong> fazer.” (A1)<br />
“Eu quero fazer, só que eu não consigo. Você me ensina? (falou para a<br />
pesquisadora).”(A10)<br />
“Essas aulas foram muito importantes para mim.” (A2)<br />
“Não consigo acabar as ativida<strong>de</strong>s quando a professora pe<strong>de</strong>, acho que sou muito<br />
lento, só gosto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar, meu ca<strong>de</strong>rno é cheio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos.” (A6)<br />
“Eu vou vencer todos os objetivos até o final do ano, e vou passar, estou<br />
apren<strong>de</strong>ndo.” (A9)<br />
Em relação à maneira como a professora ajuda a apren<strong>de</strong>r, os alunos<br />
respon<strong>de</strong>ram:<br />
“A professora ensina muito bem.” (A7)<br />
“É bom ficar no apoio, tem bastante materiais e poucos alunos.” (A4)<br />
“Eu gosto quando vocês (as pesquisadoras) vêm aqui, tem mais professores.” (A5)<br />
Mediante o exposto, percebe-se o quanto as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem<br />
po<strong>de</strong>m influenciar no <strong>de</strong>senvolvimento da vida da criança. Se não forem feitas as<br />
<strong>de</strong>vidas intervenções, se a escola ignorar, discriminar, <strong>de</strong>sprezar esses alunos; eles<br />
po<strong>de</strong>m se convencer <strong>de</strong> que não têm capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> que são menos<br />
que os outros e serão, sem dúvidas, adultos revoltados ou submissos. Assim,<br />
salienta-se a necessida<strong>de</strong> das intervenções dos professores envolvidos sem ignorar,<br />
discriminar ou <strong>de</strong>sprezar os alunos, investindo na prática pedagógica com atitu<strong>de</strong><br />
consciente <strong>de</strong> todos.
95<br />
As respostas dos alunos trazem à tona as questões cruciais no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do processo ensino aprendizagem. Ao aluno sentir-se visto e<br />
ouvido pelo professor é primordial para a aprendizagem. O aluno que se sente<br />
ignorado pelo professor, fecha-se, torna-se ausente, ou exige por meio da<br />
indisciplina a atenção que lhe foi negada. A disciplina é fator importante para a<br />
prática em sala <strong>de</strong> aula, porém consegui-la não é tarefa fácil. Relacionamento<br />
afetivo, baseado no respeito mútuo torna o andamento das aulas mais prazeroso,<br />
tanto para o aluno quanto para o professor.<br />
Quando solicitado aos alunos sugestões que pu<strong>de</strong>ssem colaborar com a<br />
aprendizagem <strong>de</strong>les, expressaram o seguinte:<br />
“A professora dar mais atenção aos alunos.” (A2)<br />
“Que a professora trouxesse mais coisas novas.” (A7)<br />
“Que os alunos não fizessem barulho.” (A1)<br />
“Que a aula fosse na quadra.” (A9)<br />
Está nestas falas um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio ao educador. De nada adianta saber das<br />
dificulda<strong>de</strong>s dos alunos, atendê-lo individualmente, se as ativida<strong>de</strong>s trabalhadas são<br />
sempre as mesmas. Ativida<strong>de</strong>s chatas, repetitivas e sem sentido. Não há progresso<br />
em repetir inúmeras vezes a mesma explicação, a mesma ativida<strong>de</strong>. O evoluir está<br />
justamente na inovação, no surpreen<strong>de</strong>nte, na <strong>de</strong>scoberta, na exposição <strong>de</strong> vários<br />
caminhos para que o aluno possa escolher qual é melhor e torna-se um construtor<br />
<strong>de</strong> seu conhecimento.<br />
Quando na sala do apoio no início do terceiro bimestre, num momento<br />
coletivo, dirigido pelas pesquisadoras, em uma assembléia com os alunos, foram<br />
elencadas as dificulda<strong>de</strong>s e o que po<strong>de</strong>riam fazer para melhorá-las. Em outro
96<br />
momento, realizou-se a avaliação e o que melhoraram como <strong>de</strong>monstra no quadro a<br />
seguir.<br />
Quadro 1 – Assembléia com Alunos do Apoio Pedagógico – 3º Bimestre<br />
DIFICULDADES<br />
COMO MELHORAR<br />
• Leitura • Ler mais<br />
• Armar as contas • Treinar<br />
• Divisão e multiplicação • Estudar a tabuada<br />
• Tabuada • Decorar<br />
• Prestar atenção • Parar <strong>de</strong> conversar<br />
• Resolver problemas • Prestar atenção ao ler<br />
• Criar textos • Ler mais<br />
• Terminar as ativida<strong>de</strong>s • Ser mais rápido<br />
• Fazer os compromissos • Ter mais responsabilida<strong>de</strong><br />
Mediante as colocações expostas pelo grupo, traçaram-se as metas para o<br />
encaminhamento metodológico, aten<strong>de</strong>ndo às necessida<strong>de</strong>s específicas <strong>de</strong> cada<br />
aluno no apoio pedagógico. As normas disciplinares foram retomadas na sala <strong>de</strong><br />
apoio e na sala <strong>de</strong> aula, investindo no contrato didático para o cumprimento dos<br />
compromissos a efetivação das ativida<strong>de</strong>s, realizando-as com maior atenção e<br />
responsabilida<strong>de</strong> no tempo previsto.<br />
Detectou-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma maior compreensão do valor posicional<br />
dos números, para que as contas fossem armadas corretamente. Fez-se uso <strong>de</strong><br />
material concreto como: caixa valor e lugar (unida<strong>de</strong>-<strong>de</strong>zena-centena), ábaco,<br />
material dourado individual e coletivo. Para compreensão do processo <strong>de</strong> construção<br />
da tabuada, afim <strong>de</strong> que conseguissem solucionar as divisões e multiplicações, fezse<br />
a construção da tábua operatória junto com os alunos, como também, jogos que<br />
os estimulassem estudarem, para saber brincar.
97<br />
A interpretação e resolução <strong>de</strong> situações problemas, envolvendo as quatro<br />
operações foram trabalhadas partindo <strong>de</strong> situações reais trazidas pelos próprios<br />
alunos, facilitando a compreensão e a interpretação. Para as produções escritas,<br />
priorizaram-se ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> compreensão e interpretação <strong>de</strong> textos, leituras <strong>de</strong><br />
vários gêneros; possibilitando unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentido e criativida<strong>de</strong> ao escrever.<br />
Com a mediação das pesquisadoras e dos envolvidos no processo, foi<br />
possível o direcionamento às dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>tectadas, à sistematização e o<br />
atendimento individual aos alunos, possibilitando medidas educacionais<br />
significativas e motivadoras, estimulando o trabalho e a alegria <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r,<br />
melhorando assim a auto-estima, o que refletiu diretamente no potencial <strong>de</strong><br />
aprendizagem.<br />
No final do quarto bimestre, realizou-se uma assembléia avaliativa com os<br />
<strong>de</strong>z alunos pesquisados para verificar em que melhoraram. Como <strong>de</strong>monstram as<br />
falas a seguir:
98<br />
Quadro 2 – Assembléia Avaliativa com Alunos do Apoio Pedagógico – 4º Bimestre<br />
O QUE EU MELHOREI<br />
• Acabamos as ativida<strong>de</strong>s no tempo previsto;<br />
• Prestamos mais atenção;<br />
• Resolvemos as divisões simples sozinhos;<br />
• Diminuímos as conversas;<br />
• Lemos mais;<br />
• Nossos textos estão mais criativos;<br />
• Fechamos a tabuada;<br />
• Fazemos os compromissos.<br />
Qualquer que seja o potencial da criança, quanto mais se trabalha no sucesso<br />
da aprendizagem, quanto mais apren<strong>de</strong>, ela não se sente isolada; a criança ganha<br />
reconhecimento, maturida<strong>de</strong>, respeito, amor, sentimento <strong>de</strong> pertencimento e<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> positiva. Sendo assim, é possível o <strong>de</strong>senvolvimento da responsabilida<strong>de</strong><br />
e da auto-valorização com auto confiança necessária para superar as exigências<br />
escolares contando ou não com a família.<br />
Porém, as crianças que po<strong>de</strong>m contar com a família segundo Fonseca (1995,<br />
p. 356), ”Num envolvimento familiar a<strong>de</strong>quado e qualitativamente estimulador<br />
<strong>de</strong>senvolvem aptidões que terão um papel imprescindível na aprendizagem”. Em<br />
relação à família dos alunos que os pais participaram da pesquisa, registram:<br />
“Quase não vejo o meu pai, mas é ele que vem às reuniões, ele quase não vê<br />
meus ca<strong>de</strong>rnos.” (A4)<br />
“Fico com minha tia à noite, porque minha mãe e meu pai estudam. Faço as tarefa<br />
na oficina <strong>de</strong> meu pai.” (A7)
99<br />
“Minha mãe disse que sou muito inteligente e esforçada, ela me ajuda nas<br />
ativida<strong>de</strong>s em casa e lê para mim.” (A1)<br />
“Tenho ajuda só quando minhas irmãs vão na minha casa, ninguém sabe ler lá em<br />
casa.” (A3)<br />
Já os alunos que os pais não participaram da pesquisa colocam:<br />
“Meu pai agora tem outra família, vou ter um irmãozinho. Minha mãe trabalha à<br />
noite, quem me ajuda é minha irmã.” (A 6)<br />
“Minha mãe trabalha em dois lugares. Meu pai, nem sei <strong>de</strong>le, nunca mais vi. Faço<br />
sozinha meus compromissos.” (A 10)<br />
“Só tenho meu tio, minhas irmãs e minha mãe para me ajudar.” (A 8)<br />
“Eu moro com meu pai e minha mãe, mas ninguém me ajuda, ninguém sabe.” (A<br />
5)<br />
“Moro com minha mãe e minha irmã. Mas queria ficar com a avó, mas minha mãe<br />
não <strong>de</strong>ixa.” (A 9)<br />
Percebe-se que os alunos não po<strong>de</strong>m contar muito com o auxílio dos pais,<br />
nem os alunos cujas famílias participaram da pesquisa, nem os que as famílias não<br />
participaram. Fica evi<strong>de</strong>nte que os motivos são vários, às vezes <strong>de</strong>vido ao trabalho,<br />
outras vezes <strong>de</strong>vido a questões culturais. No segundo grupo <strong>de</strong> alunos, percebe-se<br />
que a <strong>de</strong>sestrutura familiar é peculiar a quase todos, somente um dos alunos tem<br />
pais que vivem juntos. Segundo Fonseca (1995), crianças que não po<strong>de</strong>m contar<br />
com a família, em envolvimento sócio familiar ina<strong>de</strong>quado e frustrado, com pouca<br />
estimulação e interação sociolingüística, as aptidões das crianças po<strong>de</strong>m não atingir<br />
a maturação exigida para superar as situações problemas da escolarida<strong>de</strong>.<br />
Mediante o exposto, ensinar o aluno a ter uma postura positiva e recobrar-se<br />
diante <strong>de</strong> situações difíceis talvez seja um dos objetivos mais importantes da escola.<br />
Principalmente quando ela aten<strong>de</strong>, como é o caso da escola pública brasileira, a<br />
alunos que por sua origem pobre po<strong>de</strong>rão encontrar mais dificulda<strong>de</strong>s para realizar<br />
um projeto <strong>de</strong> vida. Essa meta será alcançada mais facilmente se a escola for capaz
100<br />
<strong>de</strong> proporcionar a todos, experiências bem sucedidas <strong>de</strong> aprendizagem. É fazer bem<br />
o que tem <strong>de</strong> fazer: ensinar a todos, em clima <strong>de</strong> acolhimento e confiança,<br />
educando-os para a resiliência 13 , sem ser necessário a criação <strong>de</strong> programas,<br />
projetos especiais ou assistenciais.<br />
Quando perguntado aos alunos como estão na escola e o que foi estudar no<br />
CAIC em 2005 foram expressivos em se colocar:<br />
“Eu sou muito bom em matemática, quero ser professor <strong>de</strong> matemática... Estudar<br />
no CAIC foi muito legal, principalmente a semana dos jogos que teve na escola, as<br />
professoras são muito legais, não gosto <strong>de</strong> Português.” (A7)<br />
“Eu estou muito fraca nas matérias, mas vou melhorar estou me<br />
esforçando...Estudar no CAIC foi muito bom, eu pu<strong>de</strong> ser aluna com a professora<br />
P. A e fiquei muito feliz.” (A.2)<br />
“Eu aprendi bastante, consegui melhorar em tudo...Esse ano foi muito bom, a<br />
gente apren<strong>de</strong>u muitas coisas, mas a parte <strong>de</strong> Educação Física e Ciências foram<br />
as mais legais. A professora foi muito legal com a gente.” (A4)<br />
“Eu melhorei em tudo, acho que vou passar <strong>de</strong> ano, já sei fazer as contas, quero<br />
apren<strong>de</strong>r mais...Eu gosto do CAIC porque fiz bastante amiza<strong>de</strong>s e aprendi muito<br />
com as professoras.” (A1)<br />
“Eu estou bem, consigo copiar e terminar as ativida<strong>de</strong>s...Estudar no CAIC foi bom,<br />
gosto muito <strong>de</strong> ficar aqui o dia inteiro, gosto da comida e dos lanches.” (A 3)<br />
“Eu cumpro todas as ativida<strong>de</strong>s do meu jeito, mas cumpro...Estudar no CAIC é<br />
bom, gosto dos jogos e do momento livre (ativida<strong>de</strong> livre após o almoço).” (A 9)<br />
“Esse ano fizemos muita Matemática, eu fui legal. É bom ficar no apoio, a<br />
professora ensina muito bem.” (A10)<br />
“Eu estou bem, mas acho que vou reprovar. Gosto dos jogos do CAIC.” (A 6)<br />
“Foi muito bom, a gente apren<strong>de</strong>u muita coisa. A professora foi muito legal, apesar<br />
das brigas esse ano foi melhor.” (A 5)<br />
“Achei massa, melhor que a escola on<strong>de</strong> eu estudava que era muito fraca, por isso<br />
que eu não fecho objetivo.” (A 8)<br />
Observa-se mediante as falas que os alunos interagem com os colegas <strong>de</strong><br />
sala, gostam muito do ambiente escolar e respon<strong>de</strong>m às solicitações dos<br />
professores na medida em que conseguem resolver as ativida<strong>de</strong>s. Evi<strong>de</strong>ncia-se a<br />
13 Resiliência é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recuperar e se superar, ou ser imune psicologicamente quando se é<br />
submetido à violência <strong>de</strong> outros seres humanos ou a estresses das catástrofes da natureza<br />
(GRÜNSPUN, 2003).
101<br />
questão do período integral, pelo tempo <strong>de</strong> permanência na escola, bem como as<br />
refeições que fazem no colégio. A afetivida<strong>de</strong> dos alunos pelos professores é<br />
expressiva, o que é um fator <strong>de</strong>terminante na aprendizagem. São crianças que<br />
<strong>de</strong>monstram ser felizes e que estão na busca da construção do conhecimento.<br />
3.2.4 Olhar das Pesquisadoras<br />
Quando se iniciou este trabalho, algumas noções sobre a importância do<br />
estudo das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, principalmente no que diz respeito ao<br />
processo ensino-aprendizagem e a inter-relação contínua da escola e da família, já<br />
faziam parte da essência das pesquisadoras, que vivenciam a prática <strong>de</strong> ensinar e<br />
apren<strong>de</strong>r nas suas contradições, nas suas dificulda<strong>de</strong>s, mas também no seu prazer,<br />
com o entusiasmo experiente <strong>de</strong> quem, há muito tempo, está construindo um<br />
caminho que era sonho e hoje vem se tornando realida<strong>de</strong>.<br />
... a minha, que é a prática docente, exige <strong>de</strong> mim um alto nível <strong>de</strong><br />
responsabilida<strong>de</strong> ética <strong>de</strong> que a minha própria capacitação científica<br />
faz parte. É que lido com gente. Lido, por isso mesmo,<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do discurso i<strong>de</strong>ológico negador dos sonhos e<br />
das utopias, com os sonhos, as esperanças tímidas, às vezes, mas<br />
às vezes, fortes dos educandos. Se não posso, <strong>de</strong> um lado, estimular<br />
os sonhos impossíveis, não <strong>de</strong>vo, <strong>de</strong> outro, negar a quem sonha o<br />
direito <strong>de</strong> sonhar. Lido com gente e não com coisas. (FREIRE, 1996,<br />
p. 163).<br />
Entretanto, educar é uma prática humana, por isso exige sonhos, utopias,<br />
sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado a realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma que promova a realização da pessoa em<br />
sua totalida<strong>de</strong>.<br />
As reflexões acerca da família e da escola trazem indicadores que po<strong>de</strong>m<br />
auxiliar outras práticas <strong>de</strong> ensino aprendizagem com possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interação
102<br />
<strong>de</strong>sses sujeitos na ação pedagógica. Ao inserir-se no contexto sócio-cultural dos<br />
envolvidos na pesquisa, se consi<strong>de</strong>ra as representações <strong>de</strong> cada esfera,<br />
aproveitando seus conhecimentos para <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um processo significativo.<br />
Posiciona-se neste contexto como mediadores, utilizando-se da relação escola e<br />
família como espaço <strong>de</strong> construção do conhecimento.<br />
Para aten<strong>de</strong>r os objetivos elencados, verificou-se as representações <strong>de</strong> cada<br />
esfera investigada, a família, a escola e o aluno; registrando o olhar <strong>de</strong> cada um<br />
sobre os aspectos que envolvem essa relação.<br />
Dos alunos citados com dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem, percebe-se pelo<br />
histórico analisado, que apresentam <strong>de</strong>fasagem <strong>de</strong> conteúdo que foram<br />
acumulando-se no <strong>de</strong>correr da escolarida<strong>de</strong>. Das dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem<br />
i<strong>de</strong>ntificadas, constatou-se que as mais comuns são: a compreensão dos conteúdos<br />
e textos, falta <strong>de</strong> concentração e atenção, dificulda<strong>de</strong> na leitura e na escrita, lentidão<br />
e raciocínio lógico. Pu<strong>de</strong>ram-se observar os avanços e dificulda<strong>de</strong>s dos alunos<br />
frente ao seu processo <strong>de</strong> ensino aprendizagem. Em relação à percepção dos<br />
problemas <strong>de</strong> aprendizagem, observou-se que os alunos percebem e reconhecem<br />
suas dificulda<strong>de</strong>s.<br />
Sobre o olhar do professor e da escola às crianças com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
aprendizagem, percebe-se que as dificulda<strong>de</strong>s mais comuns citadas pelos<br />
professores, são também as dificulda<strong>de</strong>s encontradas na maioria das vezes nas<br />
salas <strong>de</strong> aula. Observa-se que as professoras procuram dar atendimento individual,<br />
dando atenção maior aos alunos que necessitam. Trabalham juntas em sala <strong>de</strong> aula<br />
e no apoio pedagógico sob orientação da coor<strong>de</strong>nação. Parecem estar seguras dos<br />
encaminhamentos adotados e envolvidas com as questões <strong>de</strong> ensino aprendizagem.<br />
Sobre os pontos fortes dos alunos, os professores reconhecem suas qualida<strong>de</strong>s, seu
103<br />
esforço, a forma que cada um tem para apren<strong>de</strong>r, o respeito pelos professores, o<br />
interesse e <strong>de</strong>sejo em apren<strong>de</strong>r e caprichar, a afetivida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>monstram e a<br />
alegria ao apren<strong>de</strong>r.<br />
Verificou-se que as crianças com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem possuem<br />
atenção especial e atendimento individualizado, on<strong>de</strong> a afetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrou-se<br />
presente em um ritmo próprio.<br />
A análise obtida na caracterização do contexto familiar do aluno com<br />
dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem, (Anexo 2), revela que em geral possui casa própria,<br />
renda baixa. O contexto familiar é harmonioso, possuem interação entre os membros<br />
familiares, com objetivos claros e concisos em relação à educação dos filhos; a<br />
escolarida<strong>de</strong> é diversificada. O lazer e os passeios não são presentes nas famílias.<br />
A autorida<strong>de</strong> familiar está voltada na figura da mãe. Não <strong>de</strong>monstraram dificulda<strong>de</strong>s<br />
em estar estabelecendo limites, porém reconhece a necessida<strong>de</strong> do maior<br />
envolvimento do pai.<br />
A concepção do saber, da construção do conhecimento, tanto da escola<br />
quanto das famílias, tem na maioria das vezes conotação utilitária, somente os<br />
professores apresentam o saber como um valor em si, que vale a pena apropriar-se<br />
<strong>de</strong>le. Ficou evi<strong>de</strong>nte que a justificativa para apren<strong>de</strong>r e adquirir conhecimento está<br />
associado à aquisição <strong>de</strong> um bom emprego.<br />
Dos <strong>de</strong>z alunos que fizeram parte da pesquisa, somente cinco das famílias<br />
participaram do processo aten<strong>de</strong>ndo a solicitação da escola para comparecerem aos<br />
encontros. Os <strong>de</strong>mais não estiveram presentes. Evi<strong>de</strong>nciou-se que os alunos não<br />
po<strong>de</strong>m contar muito com o auxílio dos pais, pois o comportamento familiar frente às<br />
dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem fica a <strong>de</strong>sejar; às vezes <strong>de</strong>vido ao trabalho, outras
104<br />
vezes, <strong>de</strong>vido à questões culturais, por não terem condições <strong>de</strong> auxiliar os filhos. Os<br />
pais que participaram, <strong>de</strong>monstram-se esforçados e querem auxiliar os filhos.<br />
Mediante as situações analisadas, o que permeou a pesquisa foi<br />
compreen<strong>de</strong>r como se dá a relação entre escola e família com alunos que vêm<br />
apresentando dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem. Observa-se que existe um discurso dos<br />
pais em relação à qualida<strong>de</strong> da escola, o tempo integral que possibilita o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento integral da criança e a segurança no sentido <strong>de</strong> passarem o dia<br />
todo na escola, e que parece constituir-se um ponto <strong>de</strong> referência no ensino<br />
aprendizagem. A participação e colaboração dos pais estão presentes nessa<br />
relação. Constatou-se que os professores não conheciam aspectos relevantes da<br />
vida familiar dos alunos, pois a integração das famílias e dos professores ocorre<br />
somente nas reuniões pedagógicas bimestrais ou quando são chamadas pela<br />
coor<strong>de</strong>nação para tratarem <strong>de</strong> questões específicas. O <strong>de</strong>sempenho do professor é<br />
valorizado pelos pais, por mais que não compreendam muito bem os<br />
encaminhamentos adotados.<br />
Os encaminhamentos utilizados pela escola para contribuir no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento das crianças com dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem possuem um<br />
enfoque crítico e contextualizado, reconhecedor das diferenças existentes entre os<br />
alunos e busca levá-los à apropriação <strong>de</strong> conhecimentos essenciais ao exercício da<br />
cidadania.<br />
O trabalho crítico e contextualizado tem significado, o professor <strong>de</strong>monstra<br />
não ignorar aquilo que a criança traz consigo, aspecto que fica evi<strong>de</strong>nte na fala dos<br />
professores ao serem questionadas sobre os encaminhamentos em sala <strong>de</strong> aula.
105<br />
Na dinâmica dos espaços utilizados pelos alunos, mostra que os professores<br />
buscavam a todo o momento valorizar as ações das crianças, postura que se<br />
observou ao ser trabalhado conteúdos trazidos pelos alunos <strong>de</strong> suas vivências.<br />
A liberda<strong>de</strong> vivenciada pelos alunos é tida como condição para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento e a aprendizagem, condiz também, com os pressupostos<br />
espistemlógicos, filosóficos e didáticos pedagógicos da proposta pedagógica da<br />
escola; pois permite ao aluno pensar, sentir e ser, <strong>de</strong> forma que <strong>de</strong>sempenhe suas<br />
tarefas com espontaneida<strong>de</strong> e responsabilida<strong>de</strong>.<br />
Os professores colocam que po<strong>de</strong>m contar com a coor<strong>de</strong>nação pedagógica<br />
para a realização do trabalho frente às dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seus alunos. Afirmaram que<br />
estão sempre em diálogo. Em sala <strong>de</strong> aula, alguns fazem o que po<strong>de</strong>m para ver<br />
seus alunos <strong>de</strong>senvolverem-se. Algumas professoras <strong>de</strong>monstram carinho e afeto<br />
por seus alunos. Procuram agir sempre com bom senso e conversando muito,<br />
promovem ativida<strong>de</strong>s diferentes para o grupo, são dinâmicas em seus<br />
encaminhamentos. A escola <strong>de</strong>monstra um clima <strong>de</strong> envolvimento dos professores<br />
com seu trabalho e uma relação <strong>de</strong> cordialida<strong>de</strong> com seus alunos, professores,<br />
funcionários e comunida<strong>de</strong> em geral. Demonstram-se interessados na participação<br />
<strong>de</strong> pais e mães na escola, não só como usuários a um serviço público, mas como<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar contando com a colaboração dos mesmos numa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
abertura e <strong>de</strong> apoio aos filhos nos estudos. O animador na escola não é só que a<br />
participação dos pais na escola seja generalizada, mas que o envolvimento que já<br />
existe é resultado <strong>de</strong> efetiva abertura para a participação.<br />
Os dados evi<strong>de</strong>nciaram que a escola po<strong>de</strong> ter fortes aliados das dificulda<strong>de</strong>s<br />
na aprendizagem se investir na relação família e escola. É um processo que precisa<br />
ser construído, aprimorado com a participação <strong>de</strong> todos os envolvidos no contexto
106<br />
on<strong>de</strong> o aluno está inserido. Acredita-se que a permanência <strong>de</strong> um clima favorável à<br />
participação dos pais possa colaborar para a concretização positiva <strong>de</strong> uma<br />
experiência e criar uma cultura <strong>de</strong> participação favorável a um processo escolar <strong>de</strong><br />
maior qualida<strong>de</strong> e proveito para os objetivos do ensino. A mediação docente<br />
caracteriza-se como um dos elementos fundamentais para o estreitamento entre<br />
escola e família e a superação problemática das dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem.<br />
Nesse processo, o papel da família e da escola se <strong>de</strong>fine à medida que ambos<br />
executam seus papéis <strong>de</strong>ntro do ambiente escolar.<br />
Quanto às estratégias validadas <strong>de</strong> trabalhos com as famílias <strong>de</strong> crianças que<br />
apresentam dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem, aponta-se um novo olhar na efetivação<br />
da relação família e escola on<strong>de</strong> todos se tornam co-responsáveis na construção<br />
<strong>de</strong>ssa caminhada. É uma busca compartilhada pelas alternativas <strong>de</strong> intervenção<br />
para essa realida<strong>de</strong>. O aluno que apresenta dificulda<strong>de</strong> na aprendizagem influencia<br />
e é influenciado nas <strong>relações</strong> do contexto on<strong>de</strong> está inserido, tanto na escola como<br />
na família. Quando a família é chamada a discutir as dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem,<br />
há a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma flexibilização da dinâmica familiar, abrindo novos<br />
horizontes; <strong>ressignificando</strong> questões do grupo com ênfase nos processos relacionais<br />
e com a aprendizagem, favorecendo ajuda <strong>de</strong> todo o sistema familiar. Outro fator<br />
importante é a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontros periódicos e sistematizados com os pais,<br />
abordando questões específicas sobre os alunos, com os professores e<br />
coor<strong>de</strong>nação pedagógica em formação continuada, e com os alunos na busca <strong>de</strong><br />
novas estratégias para o crescimento <strong>de</strong> todos. Adotar sistemáticas para ter os pais<br />
participando da escola, seja em preparativos para festas ou como colaboradores<br />
facilitando a interação, é o que ajudará agir coletivamente para possibilitar o<br />
planejamento <strong>de</strong> mudanças em conjunto.
107<br />
Tentar mostrar aos professores encaminhamentos metodológicos<br />
diferenciados, estratégias diferentes que façam a diferença no processo e tornem o<br />
ensino cada vez mais significativo ao aluno e à escola, para que cumpra sua função<br />
fazendo com que o aluno se aproprie do conhecimento.<br />
Para enten<strong>de</strong>r o processo educativo é necessário dominar os conteúdos, as<br />
teorias educacionais e uma gama <strong>de</strong> informações que se acumulam durante a<br />
história da vida das pessoas. Para tanto, a formação continuada dos profissionais é<br />
fundamental, buscando compreen<strong>de</strong>r o que permeia essas informações para tornálas<br />
em conhecimento, adquirindo uma visão crítica que possibilite analisar o<br />
cotidiano da escola como espaço inclusivo.<br />
É preciso compreen<strong>de</strong>r o processo educativo como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />
restaurar a autenticida<strong>de</strong>, a afetivida<strong>de</strong> e a humilda<strong>de</strong> das <strong>relações</strong> humanas. O<br />
papel da escola <strong>de</strong>ve ser o <strong>de</strong> organizar propostas que privilegiem o acesso ao<br />
conhecimento e sua reelaboração através <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s diferentes, <strong>de</strong> acordo<br />
com as diferenças individuais e sociais dos alunos revelados no cotidiano <strong>de</strong> sala <strong>de</strong><br />
aula para evitar o fracasso escolar. Quando a escola homogeneiza a construção do<br />
conhecimento, ocorre o processo <strong>de</strong> exclusão, visto que, o que se constata no<br />
cotidiano é a diversida<strong>de</strong>, e a mesma, não está preparada para aten<strong>de</strong>r o diferente,<br />
o que pensa diferente e o que apren<strong>de</strong> diferente.<br />
Na escola a criança <strong>de</strong>ve ser estimada, amada, pois só assim se consi<strong>de</strong>rará<br />
útil. Fonseca (1995) coloca que professores e alunos <strong>de</strong>vem apren<strong>de</strong>r a se<br />
respeitarem e se ajudarem mutuamente, combatendo antagonismos, no sentido <strong>de</strong><br />
resolverem cooperativamente os inúmeros problemas sociais e educacionais que se<br />
lhes <strong>de</strong>param. Os alunos que falham na escola ten<strong>de</strong>m a ser isolados na socieda<strong>de</strong>.<br />
Através do insucesso encobrem-se <strong>de</strong> angústias, frustrações, sofrimento. A escola e
108<br />
os professores <strong>de</strong>vem, portanto, transformar-se pedagógica e humanamente, até ao<br />
ponto, <strong>de</strong> permitirem as crianças à i<strong>de</strong>ntificação com os valores culturais e os<br />
valores humanos que lhes são inerentes.<br />
As crianças quando chegam à escola, encontram-se receptivas à<br />
aprendizagem, quer venham <strong>de</strong> envolvimento familiar favorecido ou <strong>de</strong>sfavorecidos.<br />
Para muitas crianças, e fundamentalmente para as mais <strong>de</strong>sfavorecidas econômica<br />
e familiarmente, a escola é um mundo <strong>de</strong> primeira importância. Deve-se lembrar que<br />
a criança ao perceber e assumir que não sabe, que falhou; po<strong>de</strong>rá levá-la a<br />
impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se afirmar em termos <strong>de</strong> pessoa. Se, ao contrário basearmos o<br />
ensino na otimização das áreas fortes da criança ganhamos sua a<strong>de</strong>são e não se<br />
per<strong>de</strong> nada do seu potencial.<br />
A educação <strong>de</strong>ve e tem que levar as crianças a pensar em sucesso e não em<br />
insucesso, mas só se po<strong>de</strong> atingir esse objetivo, segundo Fonseca (1995), se <strong>de</strong>ixar<br />
<strong>de</strong> usar encaminhamentos profundamente <strong>de</strong>spersonalizantes e <strong>de</strong>scoletivizantes.<br />
A função da escola é garantir apoio inestimável a todos os alunos,<br />
principalmente àqueles que só po<strong>de</strong>m contar com a escola. A razão da escola<br />
justifica-se pela transformação das crianças em seres humanos autônomos,<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e pensadores, ou sejam capazes <strong>de</strong> iniciarem, elaborarem idéias.<br />
Pesquisas <strong>de</strong>monstram que, quando se tem apoio <strong>de</strong> alguém significativo,<br />
nesse caso po<strong>de</strong>ndo ser a escola, conseguem sobrepor-se à adversida<strong>de</strong>,<br />
construindo-se em adultas com possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> futuro. Desenvolver nas crianças<br />
condições para resistir e ter imunida<strong>de</strong> aos estressores, não se tornando vítima e<br />
sim resiliente, tendo como base para o êxito, o afeto e o amor sentido das pessoas<br />
que estão a sua volta.
109<br />
Resiliência é a habilida<strong>de</strong> para ressurgir da adversida<strong>de</strong>, adaptar-se,<br />
participar <strong>de</strong> uma vida ativa e significativa. De acordo com Grünspun (2003, p. 51),<br />
“é uma combinação <strong>de</strong> fatores que permite a uma criança enfrentar e superar<br />
problemas e a adversida<strong>de</strong> da vida e ser capaz <strong>de</strong> construir com isso”.<br />
As crianças resilientes à diversida<strong>de</strong> são reconhecidas como atores sociais,<br />
com estratégias, habilida<strong>de</strong>s válidas e competência para enfrentar as situações<br />
difíceis do dia a dia.<br />
É partindo <strong>de</strong>ssa analogia que se percebe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> também educar<br />
os seres humanos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> crianças a terem maior resistência e capacida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> não<br />
cair em estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão e ansieda<strong>de</strong> exagerados. É condição essencial à<br />
sobrevivência <strong>de</strong> maneira saudável, sem tornar a personalida<strong>de</strong> e a vida em<br />
verda<strong>de</strong>iras couraças para agüentar a pressão dos tempos mo<strong>de</strong>rnos.<br />
É indispensável que as famílias e as escolas se preparem. Segundo Valle<br />
(2003, p. 31), “para exercer função corretiva e educativa no sentido <strong>de</strong>sta resistência<br />
que não esmorece e sabe confiar nos outros seres humanos e em sua capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> construir um futuro diferente”.<br />
Mediante o exposto e pela pesquisa realizada, acredita-se ser possível<br />
melhorar o rendimento escolar com uma maior aproximação da escola com a família.<br />
A inovação po<strong>de</strong> ser dada, entretanto, ao nível da postura diante do ensino e<br />
da aprendizagem, que moverá novas <strong>relações</strong> no tratamento dispensado aos pais,<br />
ao professores, aos alunos e às responsabilida<strong>de</strong>s da escola.
110<br />
CONCLUSÃO<br />
O objetivo <strong>de</strong>sse estudo foi compreen<strong>de</strong>r como se dá a relação entre escola e<br />
família com alunos que vêm apresentando dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem partindo-se<br />
do pressuposto <strong>de</strong> que a família é parte integrante do <strong>de</strong>senvolvimento da criança. A<br />
investigação sob a forma <strong>de</strong> pesquisa-ação levou a constantes reflexões,<br />
observações, questionamentos e encaminhamentos envolvendo os partícipes<br />
visando à superação das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagens existentes. Essas<br />
dificulda<strong>de</strong>s caracterizaram-se como lacunas que foram se acumulando no <strong>de</strong>correr<br />
da escolarida<strong>de</strong> por serem básicas para que os alunos ingressem no IV ciclo<br />
correspon<strong>de</strong>nte a quinta série do ensino fundamental. Todos os profissionais do<br />
nível on<strong>de</strong> foi <strong>de</strong>senvolvida a pesquisa mobilizaram-se juntamente com as<br />
pesquisadoras e as famílias a<strong>de</strong>rindo a proposta <strong>de</strong> trabalho com os alunos com<br />
dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem.<br />
Tal processo reflexivo <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou a formulação <strong>de</strong> hipóteses: é possível<br />
melhorar o rendimento escolar com uma maior aproximação da escola e a família?<br />
Quais as estratégias mais favoráveis a essa aproximação?<br />
Inicialmente, buscou-se explicitar as questões teóricas e práticas relacionadas<br />
às dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem. As pesquisas nesse campo mostram que a<br />
terminologia e o conceito <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem sofreu influências <strong>de</strong><br />
várias áreas <strong>de</strong> conhecimento o que acabou, muitas vezes, por dificultar uma<br />
unanimida<strong>de</strong> ou unificação na <strong>de</strong>finição.<br />
Todavia, apesar dos estudos evi<strong>de</strong>nciarem diferentes enfoques para o tema,<br />
percebe-se que a gran<strong>de</strong> questão que <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada pelos educadores é se
111<br />
as dificulda<strong>de</strong>s dos seus alunos po<strong>de</strong>m, e até que ponto, ser superadas e quais as<br />
formas <strong>de</strong> intervenção que os docentes <strong>de</strong>vem utilizar.<br />
Esse é o gran<strong>de</strong> mérito da perspectiva construtivista, que não coloca somente<br />
nos sujeitos a responsabilida<strong>de</strong> do fracasso mas analisa as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
interação <strong>de</strong>sses sujeitos e as responsabilida<strong>de</strong>s do meio, que abre ou fecha tais<br />
possibilida<strong>de</strong>s. Isso, sem dúvida, evi<strong>de</strong>ncia o papel do professor e da escola quando<br />
os alunos apresentam dificulda<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>ndo ter como aliada à família.<br />
Viu-se que há várias possíveis explicações para os alunos que não apren<strong>de</strong>m<br />
e que diferentes formas <strong>de</strong> atuação po<strong>de</strong>m ser pensadas. Nesse sentido, o trabalho<br />
do coor<strong>de</strong>nador pedagógico torna-se bastante importante do ponto <strong>de</strong> vista do<br />
atendimento e orientação para o aluno e do assessoramento aos professores e as<br />
famílias.<br />
Salienta-se que atualmente se vê gran<strong>de</strong> ênfase em estudos sobre técnicas e<br />
procedimentos pedagógicos voltados para uma melhor atuação docente. Acredita-se<br />
que estes instrumentos são interessantes na medida em que se relacionam com o<br />
que tratamos no trabalho, tornando-se meios e não fins. Não seria útil buscar dicas e<br />
instruções sobre o fazer docente sem antes se consi<strong>de</strong>rar a real dificulda<strong>de</strong> do<br />
aluno. Assim, os professores precisam conhecer como seus alunos apren<strong>de</strong>m, como<br />
assimilam as informações a fim <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rem, a partir <strong>de</strong>sse conhecimento, direcionar<br />
sua prática pedagógica.<br />
Através da pesquisa bibliográfica e das experiências vivenciadas é possível<br />
pontuar alguns meios <strong>de</strong> contribuir para que novas estratégias <strong>de</strong> trabalho com<br />
crianças com dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem na escola, atitu<strong>de</strong>s simples tem<br />
funcionado com crianças cuja experiência na escola tem sido apenas fracasso. O<br />
sentimento <strong>de</strong> pertença <strong>de</strong>ve ser estimulado, alguém acuado, jamais vai <strong>de</strong>monstrar
112<br />
as potencialida<strong>de</strong>s que possui. Tornando o ambiente escolar acolhedor, aceitando a<br />
criança como ela é, oferecendo meios para que se <strong>de</strong>senvolva, já é uma garantia <strong>de</strong><br />
dar certo o trabalho em sala <strong>de</strong> aula. Conhecer o aluno e sua família po<strong>de</strong> ajudar a<br />
dar pistas sobre a maneira <strong>de</strong> agir com a criança diante <strong>de</strong> algumas dificulda<strong>de</strong>s na<br />
aprendizagem. A escola <strong>de</strong>veria comunicar-se mais com a família, insistir neste<br />
contato que po<strong>de</strong> esclarecer o porquê <strong>de</strong> certas atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alunos que não<br />
necessariamente tem dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem, mas po<strong>de</strong>m estar passando por<br />
momentos difíceis. A atenção às crianças, a motivação para apren<strong>de</strong>r está<br />
diretamente ligada com as emoções e a superação <strong>de</strong> barreiras.<br />
Ao final do processo, dos <strong>de</strong>z alunos envolvidos na pesquisa, três<br />
conseguiram fechar os objetivos básicos avançando para o nível seguinte. Dos<br />
alunos que avançaram, duas famílias a<strong>de</strong>riram a proposta <strong>de</strong> trabalho da pesquisa e<br />
uma não. Os <strong>de</strong>mais alunos <strong>de</strong>monstraram avanços significativos verificados no final<br />
do quarto bimestre, porém não fecharam os objetivos básicos permanecendo no<br />
nível. Pô<strong>de</strong>-se constatar, que os cinco alunos, cujas famílias envolveram-se no<br />
processo participando da vida escolar <strong>de</strong> seus filhos, <strong>de</strong>monstraram progresso<br />
<strong>de</strong>stacando-se dos <strong>de</strong>mais.<br />
Em relação aos alunos envolvidos na pesquisa verificou-se junto à escola no<br />
início do ano letivo <strong>de</strong> 2006, que os que passaram para o nível III, quinta série,<br />
conseguiram atingir a média estabelecida pela escola e dois contaram com a<br />
presença dos pais na reunião pedagógica e um não. E dos <strong>de</strong>mais que ficaram no<br />
nível III final, quarta série, todos contaram com a participação dos pais na reunião do<br />
primeiro bimestre. Cinco alunos estão acompanhando e avançando com o grupo e<br />
dois continuam no apoio pedagógico por ainda apresentarem dificulda<strong>de</strong>s na<br />
aprendizagem.
113<br />
Desses resultados qualitativos e quantitativos, infere-se indicadores:<br />
• A escola <strong>de</strong> tempo integral favorece o acompanhamento individual aos alunos<br />
oportunizando encaminhamentos que propiciam a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> lacunas na<br />
aprendizagem po<strong>de</strong>ndo contar com trabalho pedagógico específico.<br />
• Um clima favorável e comprometido em prol do ensino e aprendizagem que é<br />
construído no dia-a-dia on<strong>de</strong> professores e alunos são respeitados em sua<br />
individualida<strong>de</strong>.<br />
• A proposta pedagógica claramente <strong>de</strong>finida, com avaliações criteriosas <strong>de</strong><br />
todo o processo <strong>de</strong> ensino aprendizagem vivenciado favorece o engajamento<br />
<strong>de</strong> todos os profissionais e a a<strong>de</strong>são dos pais.<br />
• O ambiente favorável à pesquisa possibilita a ressignificação das práticas<br />
pedagógicas.<br />
• Espaço para a formação continuada reflete no encaminhamento metodológico<br />
para um ensino atraente.<br />
• O olhar diferenciado ao aluno com ritmo próprio favorece a auto-estima e a<br />
vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r.<br />
• O olhar sistêmico da família possibilita aos pais o entendimento dos<br />
relacionamentos, do processo acadêmico dos filhos e suas implicações.<br />
• A valorização da coletivida<strong>de</strong> num clima <strong>de</strong> respeito on<strong>de</strong> o companheirismo<br />
dos alunos melhorou permeando a afetivida<strong>de</strong>.<br />
• O apoio dado pela escola nas situações <strong>de</strong> adversida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> os alunos,<br />
mesmo sem a colaboração <strong>de</strong> suas famílias, conseguem a superação, não<br />
<strong>de</strong>ixando afetar-se pelas questões do dia a dia.<br />
• Um projeto como esse tem uma metodologia central baseada no diálogo que<br />
<strong>de</strong>verá ser aprimorado esten<strong>de</strong>ndo-se a todos os níveis.<br />
Assim, mediante os dados da pesquisa é fundamental traçar estratégias para<br />
a efetivação da participação da família na escola, visto que os pais participam em<br />
gran<strong>de</strong> número nas reuniões em final <strong>de</strong> bimestre. A formação contínua, a discussão<br />
conjunta, o aprofundamento teórico são formas <strong>de</strong> ajudar na aproximação <strong>de</strong> todos<br />
os envolvidos no processo. Por isso, cabe a coor<strong>de</strong>nação da escola, preocupadas e<br />
comprometidas com o processo <strong>de</strong> mudança, promover <strong>de</strong>ntro da instituição <strong>de</strong><br />
ensino maneiras <strong>de</strong> refletir sobre o tema. Só assim, através <strong>de</strong> uma reflexão sobre a
114<br />
realida<strong>de</strong> e embasada em referenciais teóricos sobre o assunto é que se<br />
transformará a realida<strong>de</strong> que se apresenta.<br />
Mediante o estudo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-se que a relação escola-família, vivenciada pela<br />
instituição pesquisada, caminha para uma relação <strong>de</strong> co-responsabilida<strong>de</strong> no<br />
processo ensino aprendizagem, on<strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>sempenha o seu papel.
115<br />
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WEISZ, T. O diálogo entre ensino e aprendizagem. São Paulo: Ática, 2002.
A N E X O S<br />
117
118<br />
Anexo 1 – Fotos do CAIC<br />
Fonte: Fotos produzidas pelas autoras.
119<br />
Anexo 2 – Ficha Utilizada na Caracterização das Famílias<br />
Estratégias <strong>de</strong> Diagnóstico e Intervenção na Família – Prática I e II<br />
FAMÍLIA : _______________________________________________________________________<br />
1. Descrição da família, dados <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação:<br />
NOMES PARENTESCO IDADE SEXO ESTADO CIVIL ESCOLARIDADE OCUPAÇÃO<br />
2. Nome do(s) entrevistado(s): ________________________________________________________<br />
3. En<strong>de</strong>reço: ______________________________________________________________________<br />
4.Nome dos familiares do entrevistado:<br />
a) Paternos: ____________________________ b) Maternos: _____________________________<br />
c) Número <strong>de</strong> irmãos paternos e maternos: ______________________________________________<br />
5. A família pratica alguma religião? ____________________________________________________<br />
6. Como é o relacionamento conjugal?(intimida<strong>de</strong>, comunicação,vínculo, confiança)<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
7. Renda Familiar: (melhorou após o casamento?) ________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
8. Características <strong>de</strong> cada membro familiar: (<strong>de</strong> todos que moram no lar)<br />
Membros da Família Características Interação<br />
9. Objetivos da família: ______________________________________________________________<br />
10. Como a família exerce a autorida<strong>de</strong>? (respeito, obediência, flexibilida<strong>de</strong>)<br />
________________________________________________________________________________
120<br />
11. Que virtu<strong>de</strong>s conseguem <strong>de</strong>senvolver na família?<br />
SIM NÁO SIM NÁO SIM NÁO<br />
Generosida<strong>de</strong> Humilda<strong>de</strong> Paciência<br />
Fortaleza Perseverança Justiça<br />
Otimismo Or<strong>de</strong>m Obediência<br />
Pudor Responsabilida<strong>de</strong> Sociabilida<strong>de</strong><br />
Sobrieda<strong>de</strong> Respeito Amiza<strong>de</strong><br />
Flexibilida<strong>de</strong> Sincerida<strong>de</strong> Compreensão<br />
Prudência Lealda<strong>de</strong> Resiliencia<br />
Audácia Laboriosida<strong>de</strong> Sencilez<br />
12. Quais objetivos educativos que propõe como pais?<br />
________________________________________________________________________________<br />
13. Como é trabalhada a educação da afetivida<strong>de</strong> na família?<br />
________________________________________________________________________________<br />
14. Como acontece a comunicação, a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, como dirigem a família?<br />
________________________________________________________________________________<br />
15. Cite 3 razões da importância da educação <strong>de</strong> seus filhos para o trabalho frente a uma socieda<strong>de</strong><br />
que <strong>de</strong>svirtua seu sentido:<br />
________________________________________________________________________________<br />
16. Quais são as fortalezas na família?<br />
________________________________________________________________________________<br />
17. Já vivenciaram um momento <strong>de</strong> dor na família? Quando? Como tiveram forças para vivenciá-la?<br />
________________________________________________________________________________<br />
18. O que gostaria <strong>de</strong> melhorar em sua família?<br />
________________________________________________________________________________<br />
19. Como ocorre a interação familiar? (comunicação, <strong>relações</strong> familiares, família centro educativo,<br />
ponto <strong>de</strong> apoio, todos expressam suas necessida<strong>de</strong>s, há liberda<strong>de</strong>?)<br />
________________________________________________________________________________<br />
20. Como é o relacionamento dos pais com os filhos?<br />
________________________________________________________________________________<br />
21. Como é a atitu<strong>de</strong> dos pais perante os filhos? Mediante dificulda<strong>de</strong>s conflitos. É igual com todos?<br />
________________________________________________________________________________<br />
22. Como trabalha as situações <strong>de</strong> conflito na família?<br />
________________________________________________________________________________
121<br />
Anexo 3 – Ficha Utilizada no Conselho <strong>de</strong> Avaliação da Escola<br />
“A prática <strong>de</strong> pensar a prática é a melhor maneira <strong>de</strong> pensar o certo” (Paulo Freire)<br />
É na emersão, no surgimento da consciência que nos tornamos sujeitos. É o sujeito, tomando<br />
consciência <strong>de</strong> si e <strong>de</strong> sua circunstância (a realida<strong>de</strong> que está a sua volta e na qual está inserido,<br />
camuflada, velada ou claramente), se situa historicamente, e a partir daí po<strong>de</strong> comprometer-se com a<br />
transformação <strong>de</strong>sta realida<strong>de</strong>.<br />
Conselho <strong>de</strong> Avaliação: ______________________________________ Data: __________________<br />
Grupo: ________________________________ Professores: _______________ e _______________<br />
1. Parecer em relação ao trabalho realizado.<br />
Quais as sugestões dadas pela equipe que<br />
foram colocadas em prática? E sua?<br />
Quais<br />
resultados?<br />
Teve dificulda<strong>de</strong>s?<br />
Quais?<br />
Quais linhas<br />
<strong>de</strong> ação?<br />
2. Parecer geral do grupo.<br />
Avanços Dificulda<strong>de</strong>s Necessida<strong>de</strong>s<br />
Linhas <strong>de</strong><br />
ação<br />
3. Sugestões.<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
4. Parecer <strong>de</strong> todos os alunos (especificar dificulda<strong>de</strong>s e avanços na aprendizagem e não somente a<br />
área <strong>de</strong> conhecimento).<br />
Alunos Comentários Dificulda<strong>de</strong>s O que foi trabalhado<br />
com o aluno<br />
Avanços<br />
Linhas <strong>de</strong><br />
ação
A P Ê N D I C E S<br />
122
123<br />
Apêndice 1 – Roteiro da Entrevista com as Famílias<br />
Família e escola<br />
Visão da escola<br />
Ambiente familiar<br />
Ambiente familiar para o aprendizado<br />
O aluno em casa<br />
Solicitações da escola<br />
Participação a escola<br />
Importância da participação<br />
Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem dos filhos<br />
Participação da familia nos compromissos e dificulda<strong>de</strong>s
124<br />
Apêndice 2 – Parecer dos Professores – Início e Final da Pesquisa<br />
PARECER DOS PROFESSORES INÍCIO DA PESQUISA<br />
ALUNOS<br />
Filiação/breve histórico<br />
(o que é importante saber)<br />
Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
aprendizagem<br />
Participação<br />
da família<br />
PARECER FINAL DOS PROFESSORES DA PESQUISA<br />
ALUNOS<br />
Como você<br />
viu a família<br />
do aluno?<br />
O que você<br />
fez <strong>de</strong>u<br />
resultado?<br />
Como você<br />
viu a escola?<br />
Pontos<br />
positivos do<br />
aluno?<br />
Qual é a<br />
maior<br />
dificulda<strong>de</strong>?<br />
Pelo esforço<br />
do aluno o que<br />
ele melhorou?<br />
Como percebe<br />
a relação<br />
professor e<br />
aluno?<br />
Responda as questões:<br />
1. Como percebe a relação pais e alunos?<br />
2. Como percebe a relação família e escola?